Quais são os maiores desafios do
pregador do evangelho na atualidade? Um dos seus maiores desafios, sem dúvida,
é o de defender a verdade. Vivemos na pós-modernidade, termo cujo prefixo “pós”
não indica somente substituição da era moderna ou sublevação contra ela. Além
de opor-se à modernidade, a pós-modernidade é uma era pós-cristã em que não
apenas ocorre uma insurgência contra o Iluminismo, que deu origem a era moderna,
mas principalmente uma ferrenha oposição ao cristianismo.
Na Renascença ainda na
pré-modernidade, não houve a entronização da razão, porém a autoridade da Igreja
foi enfraquecida. E os iluministas, bebendo da fonte da filosofia renascentista,
elevaram o ser humano ao centro do mundo, substituindo Deus pela humanidade e
colocando-a no palco da História.
O Iluminismo rompeu a comosvisão
teísta, que fora apurada pela Reforma Protestante, de maneira permanente e
radical, transformando a razão em fonte primária de autoridade, acima das
“superstições” proclamadas pelos cristãos. Já na modernidade – que teve seu
ápice na Revolução Industrial –, os apologistas de então tinham o desafio de
opor-se ao pensamento de John Locke (1632-1704), Voltaire (1694-1778),
Jean-Jacques Rousseau (1712-78), Montesquieu (1689-1755), Denis Diderot
(1713-84), David Hume (1711-76), Immanuel Kant (1724-1804), etc., os quais
associavam a verdade à racionalidade, fazendo da razão o único árbitro da
crença correta.
Com a publicação de Assim Falou
Zaratustra, de Friedrich Nietzsche (1844-1900), em 1883, assinalou-se o começo
do fim da era moderna e o início da gestação da pós-modernidade. Na década de
1970, o ataque da pós-modernidade às Escrituras começou a ter maior intensidade
com o surgimento do movimento pós-modernista, cujos ideólogos principais, além de
Nietzsche, são: Foucault, Marx, Gramsci, Darwin, etc. Estes substituem o
otimismo e o positivismo do século XIX por um pessimismo corrosivo, visando a
desconstruir dialeticamente o discurso filosófico ocidental.
Embora rejeitem o Iluminismo, os
pós-modernistas adotam o naturalismo como cosmovisão dominante, uma
excrescência iluminista que abarca materialismo, ateísmo, antropocentrismo e
evolucionismo. O principal argumento pós-moderno contrário ao cristianismo é o
de que não existe verdade absoluta nem lugar para conceitos absolutos de
dignidade, moral, ética e fé em Deus.
Nietzsche notabilizou-se por
atacar a moralidade e dizer que ela é simplesmente um costume local ou uma
expressão de sentimentos duvidosos. Foucault, por sua vez, afirma que verdade é
uma fabricação ou ficção. Um filme que mostra a importância de opormo-nos a
essas influências filosóficas anticristãs é Deus não está Morto (em três
partes), que conta com a participação de apologistas renomados como Rice Brooks
e Gary R. Habermas.
Uma das influências filosóficas da
pós-modernidade é o pluralismo, que se manifesta principalmente como a
diversidade que há numa sociedade multicultural e relativista. Cada grupo tem a
“sua verdade”; a mentalidade pós-moderna é eclética e compreende mais do que
simplesmente a tolerância a outros pontos de vista.
Como todas as culturas são
consideradas moralmente equivalentes e como são muitas as comunidades humanas,
são também inúmeras as diferentes “verdades”, que podem existir umas ao lado
das outras. A verdade tem sido substituída pela imparcialidade e é definida
como “a minha opinião”, não havendo, pois, espaço para o primado das
Escrituras.
As famílias nunca mais foram as
mesmas depois da Revolução Industrial, que alienou a maioria das suas funções. Na
pós-modernidade, entretanto, em razão do aumento desenfreado do consumismo, do
hedonismo, bem como das mutações e convulsões sociais (cf. Rm 1.18-32), têm
surgido novos estilos de “família”. O conceito bíblico de união familiar vem
sendo substituído pela diversidade, e a “família” pode ser nuclear, expandida,
multigeracional, formada por recasados, por pessoas do mesmo sexo e até
poligâmicas.
Questões de gênero têm sido usadas
contra o evangelho, e já há setores do evangelicalismo cedendo à pressão de
perniciosos movimentos como, por exemplo, o feminismo e o elegebetismo, que é
formado por ativistas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros.
Cabe ao apologista, ao discorrer sobre o papel de homem e mulher na família,
atacar o pecado da homossexualidade, e não a pessoa do homossexual (Rm 1.27; 1
Co 6.10). Ele deve ensinar sem medo “que, no princípio, o Criador os fez macho
e fêmea” (Mt 19.4).
Na pós-modernidade, vigora a ideia
pragmática de que tudo o que é cultural pode fazer parte do culto evangélico. Os
apologistas devem ser firmes na defesa da proeminência do Reino de Deus sobre a
cultura humana. Lembremo-nos de que a porta e o caminho para a salvação são
estreitos (Mt 7.13,14) e de que a Igreja foi estabelecida por Jesus para pregar
o evangelho, e não para contextualizá-lo, a fim de agradar o ser humano. Atentemos
para as palavras do nosso Mestre em Mateus 28.19,20: “ide, ensinai todas as
nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado”.
Outras verdades que o apologista
deve defender são: a encarnação sobrenatural do Verbo e sua morte como nosso
substituto penal, a realidade do Inferno e o reconhecimento de que Satanás e os
demônios
são reais e estão ativos no mundo. O apologista deve reafirmar que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14; 1 Tm 3.16) e que, graças a isso, o Deus-Homem provou a morte por toda a humanidade para livrar-nos da condenação e das garras do Inimigo (At 20.28; 2 Co 5.14; Cl 2.14,15).
são reais e estão ativos no mundo. O apologista deve reafirmar que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14; 1 Tm 3.16) e que, graças a isso, o Deus-Homem provou a morte por toda a humanidade para livrar-nos da condenação e das garras do Inimigo (At 20.28; 2 Co 5.14; Cl 2.14,15).
Evocando o pensamento dos
reformadores, devemos afirmar a ideia da substituição penal para declarar que o
Senhor Jesus suportou em lugar da humanidade a penalidade que ela deveria pagar
(Hb 2.9-15). As filosofias pós-modernas contrárias à Palavra de Deus são muitas
e têm influenciado o evangelicalismo de tal modo que, a cada dia cresce o
número de “cristãos não salvos” em busca de autoajuda, ignorando que, por causa
da sua natureza pecadora (Rm 3.23; 5.12), todos precisam ser envolvidos pela
graça de Deus e entrar pelo único caminho para a salvação (Tt 2.11; Jo 10.9; 14.6).
Extraído do Livro: ZIBORDI,
Ciro Sanches. Estevão, o primeiro apologista do Evangelho. Rio de
Janeiro: CPAD, 2018, pp. 112-115.
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