segunda-feira, 5 de abril de 2021

APOLOGÉTICA CRISTÃ NA PÓS-MODERNIDADE

 

Quais são os maiores desafios do pregador do evangelho na atualidade? Um dos seus maiores desafios, sem dúvida, é o de defender a verdade. Vivemos na pós-modernidade, termo cujo prefixo “pós” não indica somente substituição da era moderna ou sublevação contra ela. Além de opor-se à modernidade, a pós-modernidade é uma era pós-cristã em que não apenas ocorre uma insurgência contra o Iluminismo, que deu origem a era moderna, mas principalmente uma ferrenha oposição ao cristianismo.

Na Renascença ainda na pré-modernidade, não houve a entronização da razão, porém a autoridade da Igreja foi enfraquecida. E os iluministas, bebendo da fonte da filosofia renascentista, elevaram o ser humano ao centro do mundo, substituindo Deus pela humanidade e colocando-a no palco da História.

O Iluminismo rompeu a comosvisão teísta, que fora apurada pela Reforma Protestante, de maneira permanente e radical, transformando a razão em fonte primária de autoridade, acima das “superstições” proclamadas pelos cristãos. Já na modernidade – que teve seu ápice na Revolução Industrial –, os apologistas de então tinham o desafio de opor-se ao pensamento de John Locke (1632-1704), Voltaire (1694-1778), Jean-Jacques Rousseau (1712-78), Montesquieu (1689-1755), Denis Diderot (1713-84), David Hume (1711-76), Immanuel Kant (1724-1804), etc., os quais associavam a verdade à racionalidade, fazendo da razão o único árbitro da crença correta.

Com a publicação de Assim Falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche (1844-1900), em 1883, assinalou-se o começo do fim da era moderna e o início da gestação da pós-modernidade. Na década de 1970, o ataque da pós-modernidade às Escrituras começou a ter maior intensidade com o surgimento do movimento pós-modernista, cujos ideólogos principais, além de Nietzsche, são: Foucault, Marx, Gramsci, Darwin, etc. Estes substituem o otimismo e o positivismo do século XIX por um pessimismo corrosivo, visando a desconstruir dialeticamente o discurso filosófico ocidental.

Embora rejeitem o Iluminismo, os pós-modernistas adotam o naturalismo como cosmovisão dominante, uma excrescência iluminista que abarca materialismo, ateísmo, antropocentrismo e evolucionismo. O principal argumento pós-moderno contrário ao cristianismo é o de que não existe verdade absoluta nem lugar para conceitos absolutos de dignidade, moral, ética e fé em Deus.

Nietzsche notabilizou-se por atacar a moralidade e dizer que ela é simplesmente um costume local ou uma expressão de sentimentos duvidosos. Foucault, por sua vez, afirma que verdade é uma fabricação ou ficção. Um filme que mostra a importância de opormo-nos a essas influências filosóficas anticristãs é Deus não está Morto (em três partes), que conta com a participação de apologistas renomados como Rice Brooks e Gary R. Habermas.

Uma das influências filosóficas da pós-modernidade é o pluralismo, que se manifesta principalmente como a diversidade que há numa sociedade multicultural e relativista. Cada grupo tem a “sua verdade”; a mentalidade pós-moderna é eclética e compreende mais do que simplesmente a tolerância a outros pontos de vista.

Como todas as culturas são consideradas moralmente equivalentes e como são muitas as comunidades humanas, são também inúmeras as diferentes “verdades”, que podem existir umas ao lado das outras. A verdade tem sido substituída pela imparcialidade e é definida como “a minha opinião”, não havendo, pois, espaço para o primado das Escrituras.  

As famílias nunca mais foram as mesmas depois da Revolução Industrial, que alienou a maioria das suas funções. Na pós-modernidade, entretanto, em razão do aumento desenfreado do consumismo, do hedonismo, bem como das mutações e convulsões sociais (cf. Rm 1.18-32), têm surgido novos estilos de “família”. O conceito bíblico de união familiar vem sendo substituído pela diversidade, e a “família” pode ser nuclear, expandida, multigeracional, formada por recasados, por pessoas do mesmo sexo e até poligâmicas.

Questões de gênero têm sido usadas contra o evangelho, e já há setores do evangelicalismo cedendo à pressão de perniciosos movimentos como, por exemplo, o feminismo e o elegebetismo, que é formado por ativistas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros. Cabe ao apologista, ao discorrer sobre o papel de homem e mulher na família, atacar o pecado da homossexualidade, e não a pessoa do homossexual (Rm 1.27; 1 Co 6.10). Ele deve ensinar sem medo “que, no princípio, o Criador os fez macho e fêmea” (Mt 19.4).

Na pós-modernidade, vigora a ideia pragmática de que tudo o que é cultural pode fazer parte do culto evangélico. Os apologistas devem ser firmes na defesa da proeminência do Reino de Deus sobre a cultura humana. Lembremo-nos de que a porta e o caminho para a salvação são estreitos (Mt 7.13,14) e de que a Igreja foi estabelecida por Jesus para pregar o evangelho, e não para contextualizá-lo, a fim de agradar o ser humano. Atentemos para as palavras do nosso Mestre em Mateus 28.19,20: “ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado”.

Outras verdades que o apologista deve defender são: a encarnação sobrenatural do Verbo e sua morte como nosso substituto penal, a realidade do Inferno e o reconhecimento de que Satanás e os demônios

são reais e estão ativos no mundo. O apologista deve reafirmar que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14; 1 Tm 3.16) e que, graças a isso, o Deus-Homem provou a morte por toda a humanidade para livrar-nos da condenação e das garras do Inimigo (At 20.28; 2 Co 5.14; Cl 2.14,15).

Evocando o pensamento dos reformadores, devemos afirmar a ideia da substituição penal para declarar que o Senhor Jesus suportou em lugar da humanidade a penalidade que ela deveria pagar (Hb 2.9-15). As filosofias pós-modernas contrárias à Palavra de Deus são muitas e têm influenciado o evangelicalismo de tal modo que, a cada dia cresce o número de “cristãos não salvos” em busca de autoajuda, ignorando que, por causa da sua natureza pecadora (Rm 3.23; 5.12), todos precisam ser envolvidos pela graça de Deus e entrar pelo único caminho para a salvação (Tt 2.11; Jo 10.9; 14.6).

Extraído do Livro: ZIBORDI, Ciro Sanches. Estevão, o primeiro apologista do Evangelho. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, pp. 112-115.

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