Foto (montagem) em comemoração ao aniversário do município de Vitória do Mearim que será neste dia 19 de Abril 2021. |
O atual município de Vitória de Mearim já teve diversos nomes, a saber:
Baixo Mearim, Vitória do Baixo Mearim, Sítio velho e Curral da Igreja, sendo
este ao que se sabe, o mais antigo, originado no fato de, por volta de 1723,
terem sido doados meia légua de terras e um curral de gado bovino, por parte do
fidalgo da Casa Real Portuguesa, padre José Gama d`Eça, que tentou construir,
sob a invocação de Nossa Senhora de Nazaré, uma igreja à margem direita do rio
Mearim. Ainda em fase de construção, quando apenas estavam feitas as suas
bases, não foi possível prosseguir, pois, chegado o inverno, verificou-se a
impropriedade do terreno, campo baixo e alagadiço. Este lugar, que até hoje
conserva o nome Curral da Igreja, pertence, agora, ao município de Arari.
Em 1728, o mesmo padre resolveu mudar o povoado para local mais sólido e
consistente, e, partindo de Curral da Igreja, rio acima, veio ter a um terreno,
hoje denominado Sítio, o qual com o anterior, pertencem atualmente ao município
de Arari.
Mais uma vez, diante da impropriedade do terreno, marginal ao rio
Mearim, muito sedimentoso, e porque na ocasião das grandes enchentes, as águas
do rio inundavam ruas inteiras, arrastando casas, causando devastações e
enormes prejuízos, resolveu o governo transferir a povoação para outro terreno
mais elevado e firme.
Foi em 1750 que se deu a última mudança. Desta vez, à procura de terreno
alto e isento de quaisquer das inconveniências encontradas a cabeceira das matas, onde tudo indicava ser
terreno firme e fora do alcance de inundações. Ali se instalaram, edificando
suas casas e a atual igreja de Nossa Senhora de Nazaré, passando a denominar-se
o lugar Mearim, talvez em homenagem ao rio que lhe regava as terras e através
do qual faziam seus transportes.
Formação Administrativa
Elevado à categoria de vila e distrito com a denominação de Mearim, pela
resolução de 19-04-1833, confirmado pela lei provincial nº 7, de 29-04-1835.
Sede na atual vila de Mearim. Não temos a data instalação.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, a vila é constituído
de 3 distritos: Vitória do Mearim, Lapela e São Benedito.
Nos quadros de apuração do Recenseamento Geral de 1-IX-1920, o município
aparece constituído do distrito sede. Não figurando os distritos de Lapela e
São Benedito.
Elevado à condição de cidade com a denominação de Mearim, pela lei
municipal nº 1129, de 15-03-1924.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1933 o município se
denomina Mearim, e é constituído do distrito sede.
Pela lei estadual nº 159, de 06-12-1938, o município de Vitória do
Mearim passou a denominar-se Baixo Mearim.
No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o município já
denominado Baixo do Mearim é constituído do distrito sede.
Pela lei estadual nº 271, de 31-12-1948, o município de Baixo Mearim
passou a denominar-se Vitória do Mearim.
Pela lei estadual nº 269, de 31-12-1948, são criados os distritos de
Mata Boi, Jejuí e Lapela anexados ao município de Vitória do Mearim ex-Baixo
Mearim.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1950, o município já denominado
Vitória do Mearim é constituído de 4 distritos: Vitória do Mearim, Jejuí,
Lapela e Mata Boi.
Pela lei estadual nº 770, de 02-10-1952, desmembra do município de
Vitória do Mearim o distrito de Jejuí. Elevado à categoria de município com a
denominação de Lago de Pedra. Em divisão territorial datada de 1-VII-1955, o
município é constituído de 3 distritos: Vitória do Mearim, Lapela e Mata Boi.
Pela lei estadual nº 1730, de 26-01-1959, é extinto o distrito de Mata Boi,
sendo seu território passado a construir o novo município de Pio XII. Em
divisão territorial datada de1-VII-1960, o município é constituído de 2
distritos: Vitória do Mearim e Lapela. Assim permanecendo em divisão
territorial datada de 1-VI-1995. Em divisão territorial datada de 15-VII-1997,
o município é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em divisão
territorial datada de 2005.
Bernardo
Pereira de Berredo e Castro, governador do Maranhão e fazendeiro na ribeira do
Mearim (1º quartel do Século XVIII).
Barão
do Mearim (José Teodoro Correa de Azevedo Coutinho), fazendeiro e militar na
região, filho de Alcântara (1ª metade do Séc. XIX).
Barão
de Itapari (José Joaquim Seguins de Oliveira), fazendeiro na Baixada Maranhense
e no Mearim (final do Sec. XIX).
Coronel
Manoel Lourenço Bogea, oficial da Guarda Nacional, chefe político na Vila do
Mearim, e Manoel Bogea Duarte do Vale, ambos deputados provinciais no Século XIX
(décadas de 40 e 70, respectivamente).
Arthur
Macário Lopes Gonçalves (vitoriense) e Leocádio Zeferino Bogea, deputados
estaduais, representando o Baixo Mearim, em fins do Século XIX.
Major
Cutrim (Pedro Nunes Cutrim), oficial da Guarda Nacional, chefe político na Vila
do Mearim e deputado estadual no início do Século XX.
Antenor
Américo Mourão Bogea, promotor público, deputado federal e jurista de escol
(anos 1940 e 1950), e seu primo Raimundo Rodrigues Bogea (Manduca Bogea),
deputado estadual (anos 1950 e 1960), ambos filhos de Grajaú, mas com raízes
familiares em Vitória do Mearim, onde residiu o primeiro quando criança e onde
os dois sempre tiveram grande prestígio político.
Pedro
Braga Filho, médico, alto funcionário público e deputado federal nas décadas de
1950 e 1960, que, embora filho de Barra do Corda, associou seu nome à história
de Vitória do Mearim após casar-se com uma das filhas de Antonio Nilo da Costa,
chefe político local com quem realizou exitosa parceira política.
Leocádio
de Andrade Pessoa, Arthur Bezerra de Menezes Lira e Manoel Lopes da Cunha,
juízes de direito da Comarca do Baixo Mearim (entre 1875 e 1893) que chegaram a
ser desembargadores do tribunal maranhense, tendo os dois últimos sido
presidentes da Corte e tendo o último exercido o cargo de governador do Estado.
Luiz
Cortez Vieira da Silva (vitoriense), juiz de direito do Baixo Mearim (1946) que
chegou a ser desembargador.
Theodoro
Gonçalves Neto (vitoriense), promotor público, juiz de direito, procurador
geral do estado e membro, como juiz convocado, do Superior Tribunal de Justiça,
no Amazonas, na 1ª metade do Séc. XX.
Urbano
Santos da Costa Araújo, promotor público da Comarca do Baixo Mearim (1882) que
foi governador do Estado do Maranhão, senador da República e vice-presidente da
República por duas vezes, chegando a assumir a Presidência por um mês.
Benedito
Ricardo Salazar, Ives Miguel Azar e José Joaquim Ramos Filgueiras, promotores
públicos do Baixo Mearim (1ª metade do Séc. XX) que chegaram a ser desembargadores
do tribunal maranhense, tendo o último sido presidente da Corte.
Arcelina
Rodrigues Mochel, promotora pública (1940), que depois se destacou, no Rio de
Janeiro, como líder feminista, membro do comitê central do Partido Comunista
Brasileiro e vereadora do Distrito Federal.
César
Augusto Marques, médico de profissão, historiador por vocação, que, a serviço,
esteve na Vila do Mearim por duas vezes, nos anos 1860, ocasiões em que colheu
preciosas informações sobre a história local, publicando-as pioneiramente a
partir de 1870.
Manoel Correa do Lago e Dehork de Paula Gonçalves, generais do Exército Brasileiro (1ª metade do Sec. XX), vitorienses que se radicaram, respectivamente, no Rio de Janeiro e Manaus.
Trajano Galvão, o primeiro poeta negreiro do
país, anterior a Castro Alves; Artur Lopes Gonçalves, sacerdote; Ana Bogéa
Gonçalves, primeira professora normalista do município; Bartolomeu do Santos, o
notável “Coxinho”, cantador de toadas de bumba-meu-boi, dentre outros.
Hodiernamente, Vitória continua revelando
grandes personalidades e intelectuais. Podemos citar Washington Cantanhêde,
promotor de justiça, historiador e escritor, o maior intelectual daquela gleba;
Airton Marinho, artista plástico de renome no Maranhão; Agnor Lincoln da Costa,
poeta e advogado; Paulo de Tarso Barros, escritor e poeta; Arimatéia Coelho,
professor e poeta, dentre outros notáveis.
NO ANIVERSÁRIO DE VITÓRIA DO MEARIM, UMA MEMÓRIA SOBRE OS SÍMBOLOS MUNICIPAIS, 30 ANOS DEPOIS
Há trinta anos, em solenidade realizada pela
Câmara Municipal de Vitória do Mearim, então presidida por mim, eram
apresentados os símbolos oficiais do Município.
A solenidade foi o cumprimento de uma obrigação
imposta pela Lei Municipal Nº 7-A, de 1º de dezembro de 1990, que instituiu
tais símbolos, cujo projeto tinha sido de minha iniciativa antes de ser eleito
presidente da Câmara, em parceria com João Batista Jardim Borges (João
Macário), que na Casa representava a região do LagoDr. Washington Luiz Cantanhede
Açu, ainda pertencente ao
Município.
Decidiu-se pela data de 19 de abril de 1991
para a referida apresentação porque então se completariam os 160 anos de um
movimento dos moradores mais destacados de Vitória do Mearim, em abril de 1831,
traduzido por uma representação pela sua emancipação política, encaminhada à
Câmara de São Luís, considerando que a região em que habitavam preenchia os
requisitos legais para obter autonomia, pois, “dando sete eleitores, tinha
maior número de fogos dos que os exigidos para a criação de qualquer vila”. A
emancipação viria somente dois anos depois, por decisão do Conselho Geral da
Província do Maranhão, adotada em sessão realizada no dia 19 de abril de 1833,
mas a iniciativa dos vitorienses, dois anos antes, foi deveras importante para
isso, pois verbalizara com sólidos argumentos o desejo de autonomia.
Se não tinha sido fácil, em 1990, obter a
aprovação do projeto de lei instituindo os símbolos e sua efetiva conversão em
lei (eu e meu colega João Macário éramos da bancada de oposição, minoritária; e
a lei não recebeu sanção expressa do prefeito municipal, precisando ser
promulgada pelo presidente da Câmara, vereador José Aguiar, depois de muita
insistência minha), melhor sorte também não teve a sessão solene do Poder
Legislativo para sua apresentação: foi boicotada pelos membros do Executivo,
que não compareceram ao ato e ainda realizaram festividades paralelas,
descumprindo a lei municipal que previu uma realização conjunta dos dois
poderes locais para marcar o transcurso do aniversário do Município e dos 160
anos do movimento pela sua emancipação (artigo 19).
Embora parcialmente prejudicada, também, pela
forte chuva que caiu sobre a cidade na tarde de 19 de abril de 1991, o
comparecimento popular à solenidade não decepcionou. Em meio aos discursos
proferidos pelos vereadores do grupo de oposição, pois os que apoiavam o
prefeito e seu governo também não compareceram, ao som dos dobrados executados
pela Banda Paroquial e com a presença do autor da letra e da música do hino
municipal, Sr. José de Ribamar Duarte, vitoriense nascido no povoado Lapela,
conhecido em São Luís como Tio Zeca, os símbolos foram apresentados.
O povo recuperou, então, a emoção e o fascínio
que lhe causava aquela bandeira multicor utilizada com entusiasmo nos atos
oficiais a partir de 1971, mas que, de meados dos anos 1980 até aquele momento
(abril de 1991), não passava de uma pálida lembrança. Pálida, decrépita e
distante, por sinal. É que remanescia um dos dois exemplares que foram
confeccionados em 1971, mas estava desbotado, puído e com paradeiro ignorado.
O povo passou, desde então, a conviver
diariamente com a evocação de sua própria história, representada pelo brasão
emoldurado posto em local de destaque na Câmara Municipal; e também passou a
ter um hino para cantar, do qual podia orgulhar-se, intitulado Soberano,
composição de um conterrâneo em homenagem ao Rio Mearim e sua ribeira de
histórias mil.
A bandeira começara a ser utilizada em 1971,
quando era prefeito municipal o Sr. Cristóvão Dutra Martins, que mandou confeccioná-la
em São Paulo, a cargo do heraldista Arcinoé Antônio Peixoto de Faria, e que
obteve sua aprovação pela Câmara Municipal, em agosto daquele ano, embora sem
apresentar, para isto, um projeto de lei, como era exigido. Esse símbolo,
portanto, não fora instituído oficialmente. E, com o tempo e o descaso, acabou
relegado ao esquecimento.
A restauração do brasão e da bandeira, esta
contendo aquele, foi trabalho individual meu em um primeiro momento,
socorrendo-me de algumas fotografias onde a bandeira aparecia parcialmente, de
um texto com sua descrição heráldica (cedido por Dr. José de Ribamar de Matos,
ex-prefeito) e de pesquisa em várias fontes, inclusive obras raras de
referência, como a Grande Enciclopédia Luso-Brasileira. Ao final, e já com o auxílio
artístico e o empenho característico do conterrâneo Airton Marinho, que
elaborou o brasão em xilogravura e contratou experientes profissionais do
bairro Madre Deus, em São Luís, foram confeccionados três exemplares bordados
da bandeira. Um deles, com esmerado acabamento, que durante muito tempo ficou
na Sala das Sessões da Câmara Municipal, dali foi depois retirado a pedido de
um prefeito, a pretexto de mandar fazer outro igual, para nunca mais ser
devolvido nem visto, tampouco saber-se aonde foi parar.
O hino, composto por Tio Zeca em dezembro de
1981 sob encomenda da administração municipal, não recebeu a importância
devida. Instado por meu colega João Macário, que me propôs a apresentação de um
projeto de lei criando o hino municipal, eu, que também já alimentava a ideia,
sabedor da composição de autoria de Tio Zeca, procurei contactá-lo para obter
uma cópia do trabalho, o que consegui mediante a ajuda de meu pai, Antônio
Duarte Cantanhede, também músico e conhecido dele. A partitura obtida foi adaptada
para cada instrumento musical pelo maestro Vicente Antônio Gonçalves (Vicente
Braga), que, à frente da Banda Paroquial, já o executava naquele tempo. Sua
letra é simples, de forte apelo popular – o que é muito bom.
A instituição dos símbolos era não só o
cumprimento de uma determinação da Lei Orgânica do Município (artigo 5º), mas a
restauração de um bem cultural menosprezado (bandeira e brasão nela contido) e
um caso de justiça para com o conterrâneo Tio Zeca.
Apresentados esses símbolos, publicamente, na
tarde do dia 19 de abril de 1991, o que se seguiu foi a generalização do seu
uso até hoje, apesar da tentativa de eclipsá-los naquela ocasião, ou de
eclipsar os responsáveis pela sua instituição. Já no dia 7 de setembro de 1991,
presenciava-se em frente à Prefeitura Municipal, ao fim do tradicional desfile
estudantil alusivo ao Dia da Pátria, o hasteamento da bandeira do Município
simultaneamente à execução do seu hino, da forma como foram instituídos. Nas
camisas do fardamento escolar, no timbre dos documentos oficiais locais, nos
desfiles, nos jogos de futebol, nos feriados cívicos, nos cortejos fúnebres de
autoridades ou ex-mandatários etc., é uma constante a presença do brasão ou da
bandeira municipais e, dependendo do caráter festivo que o ato tenha, a
execução do hino, do qual sobressai o refrão: Óh, gleba querida!/Teu nome é
Vitória./És minha vida, és meu amor/E minha glória.” Há 30 anos, sem
interrupção...
Estou muito feliz hoje, apesar do momento
difícil que atravessamos. Em meio à pandemia de covid-19, que manifesta a sua
face mais cruel no Brasil destes dois últimos meses, acabei de assistir, no
facebook, a uma interessante releitura do hino, em ritmo de samba, cantado pelo
nosso artista popular Edivaldo Brito, com acompanhamento de outros músicos da
terra.
Vitória completa: trinta anos depois, os símbolos vitorienses são, definitivamente, do povo de Vitória do Mearim!
Washington Luiz Maciel Cantanhêde
HINO OFICIAL - O SOBERANO
"Vamos minha gente,
Alegres a cantar,
Todos de uma só vez,
passo a passo a caminhar
Vitoria do Mearim, teus filhos tem poder de te
exaltar (Bis)
Ó gleba querida teu nome é VITÓRIA,
És minha vida, és meu amor e minha gloria (Bis)
Cidade Santa, Teu céu é cor d anil
És ribeirinha e tão admirada
Nos encanta este elo do Brasil
Rio Mearim soberano da baixada
Vitoria, Ó que terra abençoada.
Ó gleba querida teu nome é VITORIA,
És minha vida, és meu amor e minha gloria (Bis)
Tua a floresta é sempre verdejante
Tua paisagem é linda e faz sucesso
Tua bandeira desfraldada fulgurante
Teu lema é desenvolver o progresso
Vitoria do Mearim, teu hino cantaremos assim
Ó gleba querida teu nome é VITORIA,
És minha vida, és meu amor e minha gloria(Bis)
(Letra: José
de Ribamar Duarte – *1924- +2005). Hino oficializado em 1991 através de
Projeto de Lei do vereador Washington Cantanhêde. O autor, de apelido Tio
Zeca, foi membro da Academia Arariense-vitoriense de Letras-AVL
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