sábado, 15 de maio de 2021

LIÇÃO 7: O MINISTÉRIO DE PROFETA

 

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

 INTRODUÇÃO

A lição desta semana versa sobre o dom ministerial de profeta. Estudaremos alguns aspectos deste dom à luz da Bíblia, mas também considerando o contexto histórico e cultural do Antigo e do Novo Testamento. O ministério de profeta é altamente importante para os nossos dias, pois de acordo com o ensino dos apóstolos, tal ministério tem um valor excelso para a igreja de qualquer tempo e lugar.  – O dom ministerial de profeta, na igreja cristã. É um assunto que envolve dificuldades de interpretação, tendo em vista alguns aspectos que parecem não estar bem claros, no texto neotestamentário. Quando se estuda a missão dos profetas, no Antigo Testamento, normalmente, não há grandes questionamentos. Mas, no âmbito do Novo Testamento, persistem algumas indagações. Há dúvidas acerca da correlação entre o dom de “profeta” e o dom espiritual de “profecia”. O profeta, na igreja atual é um dom ou é um ofício? E um cargo ministerial, como alguém utiliza, acima dos demais? Já existem igrejas em que seu titular já foi pastor, bispo, apóstolo e, atualmente, é chamado de “o profeta”! Os profetas eram tidos como representantes de Deus. Eles serviam de elo vital na questão das revelações, bem como veículos do conhecimento espiritual. As revelações por eles recebidas, por ordem do Senhor em alguns casos tomaram-se concretas nos livros que escreveram. Esses livros, por sua vez, foram canonizados, com a passagem do tempo, sendo então aceitos como Escrituras Sagradas. O caráter do profeta e da profecia neotestamentários é um pouco diferente daquele do Antigo Testamento. Algumas pessoas têm dificuldades em aceitar a ideia de profetas contemporâneos, porque estão olhando pela ótica do Antigo Testamento. Vivemos em uma nova era, e nossa relação com Deus está debaixo da Nova Aliança. Isso significa que devemos reformular nossos conceitos do ministério profético na Nova Aliança. Não há apenas um ou dois profetas para uma nação, mas o dom de profecia, o ministério profético e a palavra do Senhor estão difusos e distribuídos por todo o corpo de Cristo.

 I. O PROFETA DO ANTIGO TESTAMENTO

1. Conceito. O profeta do Antigo Testamento era a pessoa incumbida para falar em nome de Deus. O Altíssimo fazia dele o seu porta-voz, um embaixador que representava os interesses do reino divino na Terra. Quando Deus levantava um profeta, designava-o a falar para toda a nação israelita, e até mesmo a povos ou nações estranhas (Jr 1.5). Ao longo de toda a história veterotestamentária o Senhor levantou homens e mulheres para profetizarem em seu nome: Samuel, o último dos juízes e o primeiro dos profetas para a nação de Israel (1Sm 3.19,20), Elias e Eliseu (1Rs 18.18-46; 2Rs 2.1-25), a profetisa Hulda (2Rs 22.14-20) e muitos outros, como os profetas literários Isaías, Jeremias e Daniel. 

2. O ofício. Através da inspiração divina o profeta recebia uma revelação que desvendava o oculto, anunciava juízos, emitia conselhos e advertências divinas. Expressões como “veio a mim a palavra do Senhor” e “assim diz o Senhor” eram fórmulas usuais para o profeta começar a mensagem divina (Jr 1.4; Is 45.1). Símbolos e visões também eram formas de Deus falar através dos profetas ao seu povo (Jr 31.28; Dn 7.1). Num primeiro momento, o profeta exercia um importante papel de conselheiro no palácio real (Natã, cf. 2Sm 12.1; 1Rs 1.8,10,11). Contudo, após a divisão do reino de Israel, o profeta passou a ser perseguido, pois sua profecia confrontava diretamente a prepotência da nobreza, a dissimulação dos sacerdotes e a injustiça social (Jr 1.18,19; 5.30,31; Is 58.1-12).

3. O profetismo. De acordo com o Dicionário Teológico (CPAD), o profetismo foi um movimento que surgiu no período aproximado do século VIII a.C. tanto em Israel quanto em Judá. O objetivo desse movimento era “restaurar o monoteísmo hebreu”, “combater a idolatria”, “denunciar as injustiças sociais”, “proclamar o Dia do Senhor” e “reavivar a esperança messiânica”. Foi nesse tempo que os verdadeiros profetas em Israel foram cruelmente surrados, presos e mortos.

No Antigo Testamento o ofício do profeta era de âmbito nacional. Quando Deus levantava um profeta, conferia-lhe a missão de falar em seu nome para toda a nação e até para povos estranhos. A palavra Ro’eh, traduzido por “vidente” em português, indica a capacidade especial de se ver na dimensão espiritual e prever eventos futuros. O título sugere que o profeta não era enganado pela aparência das coisas, mas que as via conforme realmente eram – da perspectiva do próprio Deus. Como vidente, o profeta recebia sonhos, visões e revelações, da parte de Deus, que o capacitava a transmitir suas realidades ao povo. A palavra ‘Nabi’, a principal palavra hebraica para “profeta”, ocorre 316 vezes no Antigo Testamento. Nabi’im é sua forma no plural. Embora a origem da palavra não seja clara, o significado do verbo hebraico “profetizar” é: “emitir palavras abundantemente da parte de Deus, por meio do Espírito de Deus” (Gesenius, Hebrew Lexicon). Sendo assim, o ‘nabi’ era o porta-voz que emitia palavras sob o poder impulsionador do Espírito de Deus. A palavra grega priophetes, da qual se deriva a palavra “profeta” em português, significa “aquele que fala em lugar de outrem”. Os profetas falavam, em lugar de Deus, ao povo do concerto, baseados naquilo que ouviam, viam e recebiam da parte dEle. No Antigo Testamento, o profeta também era conhecido como “homem de Deus” (2Rs 4.21), “servo de Deus” (Is 20.3; Dn 6.20), homem que tem o Espírito de Deus sobre si (Is 61.1-3), “atalaia” (Ez 3.17), e “mensageiro do Senhor” (Ag 1.13). Os profetas também interpretavam sonhos (José, Daniel) e interpretavam a história – presente e futura – sob a perspectiva divina.

 O Antigo Testamento foi marcado pela atividade e testemunho dos profetas. Quando Jesus se despedia dos seus discípulos, lhes disse: “São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos” (Lc 24.44). Os escritos dos profetas faziam parte da tríplice divisão da Bíblia hebraica. Nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, vemos a presença de Abraão, o pai da nação Israelita, que foi considerado um profeta (Gn 20.7); quando Moisés, o líder do Êxodo, estava em aperto, na sua chamada para tirar o povo do Egito, Deus lhe disse que Arão, seu irmão, seria seu profeta (Êx 7.1); os 70 homens, levantados por Deus para ajudar Moisés profetizaram só uma vez; dois israelitas, Eldade e Medade, que ficaram na tenda, também profetizaram, provocando ciúmes em Josué (Nm 11.24-29). Em Números, Deus diz como usaria um profeta, em visão ou sonhos (Nm 12.6). Em Deuteronômio, vemos Deus ensinando ao povo como distinguir os verdadeiros e os falsos profetas (Dt 13.1-5). Aqueles homens não tinham um ministério profético. Foram usados por Deus em mensagens ou missões de caráter profético. Seus nomes não fazem parte dos “Profetas”, na divisão da Bíblia hebraica, porque a profecia não era a sua missão principal. Nos livros históricos, o papel dos profetas foi muito relevante. Os livros de 1 e 2 Samuel foram escritos pelo último dos juízes e o primeiro dos profetas, realmente dedicados à missão de falar ao povo mensagens da parte de Deus de modo marcante e consequente (1 Sm 8.10-17); ele também era vidente (1 Sm 9.15, 19,20; 10.1-5). Foi usado para ungir Saul, o primeiro rei de Israel e Davi, seu sucessor (1 Sm 10.24; 16.13). Nos livros de 1 e 2 Reis, houve profetas de destaque, como Natã, que ungiu Salomão (1 Rs 1.39) e revelou o pecado de adultério de seu pai Davi antes, depois falou sobre a construção do templo pelo mesmo Salomão que havia de ungir como rei; o profeta Aias, que profetizou a divisão do Reino de Israel (1 Rs 11.31, 32); houve um profeta desconhecido, que vaticinou o nascimento de Josias, e foi enganado por um “profeta velho”, que mentiu, e, mesmo assim, foi usado por Deus (1 Rs 13.1-3; 11-26). Quando Deus quer, usa a quem Ele quer. Dentre os profetas de 1 Reis, destacou-se o profeta Elias, que denunciou os pecados do rei Acabe e sua mulher ímpia, Jezabel (1 Rs 17.1; 18.1) e confrontou os profetas de Baal e Asera, cultuados pelo casal real (1 Rs 18.18-46). Seu sucessor foi o profeta Eliseu, que foi usado com grande poder (2 Rs 2.9-11), com grandes sinais e maravilhas (2 Rs 2.19-25). Isaías foi profeta de grande valor em 2 Reis (2 Rs 19.2, 6,7, 20-37), conhecido como o profeta messiânico devido à grande parte de suas profecias se referirem o Messias, no futuro. Naquele tempo, a profetiza Hulda foi usada por DEUS para exortar o povo em sua desobediência (2 Rs 22.14-20). Esdras, líder da reconstrução do Templo em Jerusalém, após o cativeiro babilônico, foi ajudado por profetas (Ed 5.2). Na reconstrução dos muros, por Neemias, levantou-se a falsa profetisa Noadias, que, juntamente com outros profetas conluiaram-se contra Neemias, o líder da reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne 6.4).

O profetismo em Israel foi o fenômeno que marcou esta nação de forma peculiar, chegando a formar escola de profetismo, culminando na vasta literatura profética que hoje faz parte da Bíblia. Estes profetas possuíam vida nômade. As escolas de profetas marcaram a primeira época da profecia em Israel (Is 8.16;30.8; Jr 36). Pregavam a Benção e a Salvação e seu tema principal era "a eleição do povo conduz os indivíduos a Deus, ainda que pela punição". Outro tema importante era a exaltação de Israel: "Os inimigos sempre serão aniquilados e Israel será salvo (Jr 14:13). Eles dividiam-se em profetas reais, ou da corte e profetas por vocação e chamado, independentes (Jr 28.1-17; 14.13-16; 23.9-40; 28.9; Ez 33.30-33; Jr 17.15; 12.1). Em Israel, quando a política se desviou dos planos de Deus, a profecia mudou seu discurso e passou a criticar o rei, tornaram-se inimigos perigosos e foram perseguidos por isso (1Rs 21.20; 18.17; 1Rs 18.13; 19.10; Jr 18.18; 26.11).

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Ao introduzir este primeiro tópico, fale que, no Antigo Testamento, o ministério de Profeta era um ofício que envolvia:

1. Revelação que desvendava o oculto;

2. Anúncio de juízos;

3. Emissões de conselhos e advertências.

Esse ofício representava um ideal divino de restauração da verdadeira espiritualidade que provinha da obediência a Leia de Deus.

II. O PROFETA NO NOVO TESTAMENTO  

1. A importância do termo “profeta” em o Novo Testamento. Como já vimos, em Efésios 4.11 são mencionados cinco ministérios que exerciam papéis fundamentais na liderança da Igreja Antiga: apóstolo, profeta, evangelista, pastor e doutor. Não por acaso, o termo “profeta” aparece na segunda posição da lista apresentada em 1 Coríntios 12.28; Efésios 4.11. O profeta é identificado três vezes na epístola aos Efésios como alguém que acompanhava os apóstolos (2.20; 3.5; 4.11). A Bíblia afirma que os “concidadãos dos Santos e da família de Deus estão edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas [...]” (Ef 2.19,20). Aqui, a Bíblia denota a importância do ministério de profeta na liderança da Igreja do primeiro século. 

2. O ofício do profeta neotestamentário. Seu ministério no Novo Testamento não consistia em predizer o futuro, adivinhar o presente ou ficar fora de si. Não! De acordo com o Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, o profeta neotestamentário era dotado por Deus para receber e mediar diretamente a Palavra do Altíssimo. Apesar de ele algumas vezes predizer o futuro, conforme instrui-nos a Bíblia de Estudo Pentecostal, seu ofício consiste em proclamar e interpretar a Palavra de Deus, por vocação divina, com vistas à admoestação, exortação, ânimo, consolação e edificação da igreja (At 3.12-26; 1Co 14.3). “Era dever do profeta do NT, assim como para o do AT, desmascarar o pecado, proclamar a justiça, advertir do juízo vindouro e combater o mundanismo e frieza espiritual entre o povo de Deus (Lc 1.14-17)”. Por causa da mensagem de justiça que o profeta apresenta em tempos de apostasia e confusão espiritual, inclusive na igreja, não há outro jeito: ele fatalmente será rejeitado e perseguido por muitos.

3. O objetivo do dom ministerial de profeta. A função do profeta do Novo Testamento é apresentada por Paulo no mesmo bloco de versículos em que ele menciona os cinco ministérios em Efésios (4.11-16). Ou seja, o profeta é chamado por Deus a levar a igreja de Cristo a uma plena maturidade cristã, pois como um organismo vivo, a Igreja, o Corpo de Cristo, deve desenvolver-se para a edificação em amor (v.16). Para que tal seja uma realidade, os profetas do Senhor devem desempenhar suas funções, capacitados e dirigidos pelo Espírito Santo. 

Temos somente um livro profético no Novo Testamento que é o de Apocalipse. Nenhum personagem neotestamentário, além de João, o Evangelista, escreveu outro livro com esse caráter. Mas, ao longo de seus livros, encontramos referências a profetas, que tiveram papel relevante. O apóstolo Paulo fala da importância do corpo de Cristo, enfatizando que os crentes são “seus membros em particular” (1 Co 12.27). E o faz, depois de demonstrar a necessidade da unidade do corpo de Cristo, fazendo uma analogia com o corpo humano, mostrando que nenhum membro do corpo pode dispensar a função do outro. “Mas, agora, Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Agora, pois, há muitos membros, mas um corpo” (1 Co 12.18-20). Daí, porque nenhum dom ministerial é maior que o outro. A ordem dos dons, no texto, é questão de prioridade. Com essa visão, da unidade do corpo de Cristo, que é a Igreja, o apóstolo apresenta uma lista de dupla referência. Primeiro, fala de homens a quem Ele põe na igreja, ao que tudo indica, numa ordem de prioridade. São “homens-dons”, por assim dizer. Nessa lista, os “profetas” aparecem em segundo lugar. Sem dúvida, não é por acaso, mas segundo o entendimento do Espírito Santo. Os profetas eram os homens usados por Deus para transmitir mensagens divinas para a comunidade dos que eram ganhos para Cristo. Eram mensagens sobrenaturais. Os doutores eram os que cuidavam do ensino ou do discipulado, estudando, interpretando e ensinando os fundamentos da fé cristã com profundidade.

Apóstolos e profetas mencionados em Efésios 2.20 devem ser distinguidos dos da referência 4.11. Aqui, a referência é aos apóstolos fundadores, como em Ap 21.14, enquanto que no texto do capitulo 4.11, é sobre a missão contínua dos apóstolos, que servem a Igreja de Cristo de uma maneira mais geral. Estes versículos expõem quatro aspectos da metáfora. Primeiro, os apóstolos e profetas são as pedras da fundação do templo (20a). Recebem esta designação, porque sua função é proclamar a Palavra do Senhor. Wesley observa que “a palavra do Senhor, declarada pelos apóstolos e profetas, sustenta a fé de todos os crentes”. Certos estudiosos veem uma contradição no pensamento de Paulo ao usar esta metáfora aqui e em 1 Coríntios 3.11. Lá, Cristo é o fundamento. O problema se resolve quando nos damos conta de que ele emprega a metáfora em sentidos diferentes. Na passagem coríntia, o pensamento gira em torno de si mesmo e de outros como construtores. Na relação aqui está claro que Cristo é o fundamento sobre o qual eles constroem. Paulo está enfatizando as pedras usadas na construção. Nesta relação, Cristo é a pedra da esquina. Todos os outros são pedras de menor significação. Mas, mesmo sendo de menor importância, os apóstolos e outros ministros na igreja são pedras de fundação no edifício de Deus. Nos versículos 4 a 22, temos o assunto: “A Igreja, a Morada de Deus”. A unidade da Igreja Invisível é o tema de fundo. 1) A fundação da Igreja, 20; 2) A construção da Igreja: inclusiva, 11-19; exclusiva, 4-11; de projeto simétrico – bem ajustado; cresce até à conclusão – cresce para templo santo no Senhor, 21; 3) “Em Cristo”, a Igreja é a morada de Deus no Espírito.

A profecia é uma manifestação do Espírito de Deus e não da mente do homem, e é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso: 1 Co 12.7. A vida da Igreja no Novo Testamento deveria ser abençoada pela presença do dom de profecia. Como Paulo declara aqui ao colocar o amor como nossa busca primária, a profecia deve ser bem acolhida para a edificação, consolação e exortação da congregação, corporal e individualmente. Tal estímulo mutuo é profecia, não palavras, no sentido da Bíblia que usa as próprias palavras de Deus, mas no sentido de palavras humanas que somente o Espírito Santo leva à mente. A prática do dom de profecia é um propósito da plenitude do Espírito Santo (At 2.17). Ela também cumpre a profecia de Joel (Jl 2.28) e a esperança expressa por Moisés (Nm 11.29).

A finalidade dos dons ministeriais é “o aperfeiçoamento dos santos” (1 Pe 1.15), ou seja, dos crentes fiéis, santificados e comprometidos com o Reino de Deus, “para a obra do ministério”. Os profetas falam sob o impulso direto do Espírito Santo, cuja motivação e interesse principal é a vida espiritual e pureza da igreja. Sob o novo concerto, foram levantados pelo Espírito Santo e revestidos pelo seu poder para trazerem uma mensagem da parte de Deus ao seu povo (At 2.17; 4.8; 21.4). (1) O ministério profético do AT ajuda-nos a compreender o do NT. A missão principal dos profetas do AT era transmitir a mensagem divina através do Espírito, para encorajar o povo de Deus a permanecer fiel, conforme os preceitos da antiga aliança. Às vezes eles também prediziam o futuro conforme o Espírito lhes revelava Cristo e os apóstolos são um exemplo do ideal do AT (At 3.22,23; 13.1,2). (2) A função do profeta na igreja incluía o seguinte: (a) Proclamava e interpretava, cheio do Espírito Santo, a Palavra de Deus, por chamada divina. Sua mensagem visava admoestar, exortar, animar, consolar e edificar (At 2.14-36; 3.12-26; 1 Co 12.10; 14.3). (b) Devia exercer o dom de profecia  (c) Às vezes, ele era vidente (cf. 1 Cr 29.29), predizendo o futuro (At 11.28; 21.10,11). (d) Era dever do profeta do NT, assim como para o do AT, desmascarar o pecado, proclamar a justiça, advertir do juízo vindouro e combater o mundanismo e frieza espiritual entre o povo de Deus (Lc 1.14-17). Por causa da sua mensagem de justiça, o profeta pode esperar ser rejeitado por muitos nas igrejas, em tempos de mornidão e apostasia. (3) O caráter, a solicitude espiritual, o desejo e a capacidade do profeta incluem: (a) zelo pela pureza da igreja (Jo 17.15-17; 1Co 6.9-11; Gl 5.22-25); (b) profunda sensibilidade diante do mal e a capacidade de identificar e detestar a iniquidade (Rm 12.9; Hb 1.9); (c) profunda compreensão do perigo dos falsos ensinos (Mt 7.15; 24.11,24; Gl 1.9; 2 Co 11.12-15); (d) dependência contínua da Palavra de Deus para validar sua mensagem (Lc 4.17-19; 1 Co 15.3,4; 2 Tm 3.16; 1 Pe 4.11); (e) interesse pelo sucesso espiritual do reino de Deus e identificação com os sentimentos de Deus (cf. Mt 21.11-13; 23.37; Lc 13.34; Jo 2.14-17; At 20.27-31). (4) A mensagem do profeta atual não deve ser considerada infalível. Ela está sujeita ao julgamento da igreja, doutros profetas e da Palavra de Deus. A congregação tem o dever de discernir e julgar o conteúdo da mensagem profética, se ela é de Deus (1Co 14.29-33; 1Jo 4.1). (5) Os profetas continuam sendo imprescindíveis ao propósito de Deus para a igreja. A igreja que rejeitar os profetas de Deus caminhará para a decadência, desviando-se para o mundanismo e o liberalismo quanto aos ensinos da Bíblia (1 Co 14.3; cf. Mt 23.31-38; Lc 11.49; At 7.51,52). Se ao profeta não for permitido trazer a mensagem de repreensão e de advertência denunciando o pecado e a injustiça (Jo 16.8-11), então a igreja já não será o lugar onde se possa ouvir a voz do Espírito. A política eclesiástica e a direção humana tomarão o lugar do Espírito (2Tm 3.1-9; 4.3-5; 2Pe 2.1-3,12-22). Por outro lado, a igreja com os seus dirigentes, tendo a mensagem dos profetas de Deus, será impulsionada à renovação espiritual. O pecado será abandonado, a presença e a santidade do Espírito serão evidentes entre os fiéis (1Co 14.3; 1Ts 5.19-21; Ap 3.20-22). 

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

"Os profetas pertenciam à Igreja apostólica, e tinham um ministério específico de declarações inspiradas. Enquanto os apóstolos e evangelistas levavam o Evangelho ao mundo não- -regenerado, os profetas tinham como missão consolar, edificar e exortar as várias igrejas: 'Judas e Silas, que também eram profetas, exortaram e confirmaram os irmãos com muitas palavras' (At 15.32). Sua mensagem, porém, não deveria ser tomada como infalível, mas julgada e avaliada por outros profetas da igreja local" (HORTON, Stanley M.; MENZIES, William W. Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da Nossa Fé. Rio de Janeiro: CPAD, p. 149).

III. DISCERNINDO O VERDADEIRO PROFETA DO FALSO

1. Simplicidade x arrogância. Duas características do verdadeiro profeta são a simplicidade e o amor. Ainda que a Palavra seja de juízo, o coração do profeta transborda de amor e a sua conduta simples demonstra a quem ele está servindo: o Deus de amor. Lembremo-nos de Jeremias (38.14-27), Oseias (8.12) e do próprio Senhor Jesus (Mt 23.37). Já o falso profeta só pensa em si, em seu status e benefícios. Profetiza objetivando a autopromoção. Ele mente, ilude e engana. Lembremo-nos de Hananias, o profeta mentiroso que enfrentou Jeremias (Jr 28.10-12).

2. Pelos frutos os conhecereis. Uma advertência séria de Jesus para os seus discípulos foi acerca da precaução com os falsos profetas. Como reconhecê-los? Jesus disse que os reconheceríamos “pelos seus frutos” (Mt 7.15,20), pois o resultado, ou “fruto”, do que o profeta “diz” e “faz”, revela o seu caráter. Logo você conhecerá de onde procede a “árvore” (o profeta). Lembre-se de que não devemos diferençar o verdadeiro profeta do falso pela “performance” ou pelo “espetáculo”, mas pelos frutos que eles produzem. 

3. Ainda sobre o falso profeta. Apesar de o falso profeta ser arrogante e iníquo, ele fala com grande eloquência, e isso basta para que ele seja tido como verdadeiro. Na obra Assim Diz o Senhor? (CPAD), John Bevere diz que falsos profetas “são aqueles que ministram em nome de Jesus nas nossas igrejas e conferências, os que partem o coração dos justos, [e que] embora o ministério seja apresentado em nome de Jesus, não é desempenhado pelo seu Espírito”. Não tenha medo! Na autoridade do Espírito de Deus, “acautele-se” dos falsos profetas. Seja prudente! O Espírito Santo mediante o Evangelho te fará discernir a procedência desses enganadores. Não se deixe conduzir por eles! 

Existem muitos falsos profetas que fingem ser guias cristãos, mas seu verdadeiro objetivo é egoísta e destrutivo. Devemos testar aqueles que alegam profetizar por meio de seus frutos, isto é, seu estilo de vida, caráter, ensinamentos e influência. em 2 Pedro 2:1: "Assim como no meio do povo surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão dissimuladamente heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberana Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição." Para que as pessoas pudessem discernir entre profetas falsos e verdadeiros o Espírito dava a outros o dom do "discernimento de espíritos". Só o fato de existirem profetas que falavam por revelação implicava na existência de falsos profetas, como podemos verificar no Antigo e no Novo Testamentos. Os cristãos neotestamentários não deviam desprezar a profecia, mas também tinham de testar todas as coisas.

A Bíblia ensina que muitos falsos profetas e enganadores surgiriam dentro e fora da Igreja, mas que no fim dos tempos eles intensificariam suas atividades. Paulo disse: "O próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros da justiça" (2Co 11.14, 15). Centenas de líderes religiosos em todo o mundo não são Servos de Deus, mas do Anticristo. São lobos em pele de ovelha; são joio, e não trigo - talvez nem saibam que são joio. Espiritismo, ocultismo, adoração a Satanás e as atividades dos demônios têm aumentado rapidamente no mundo ocidental. Ensinos falsos (Paulo os chama de "ensinos de demônios" em 1Tm 4.1) acompanharam seu surgimento. A grande pergunta é esta: Como podemos saber quais são verdadeiros e quais não são? É por isto que os crentes precisam do dom de discernimento, ou pelo menos respeito pela opinião dos que o têm. O apóstolo João disse: "Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora" (1Jo 4.1). Em outras palavras, os crentes devem testar os vários espíritos e doutrinas que existem hoje em dia, principalmente comparando-os com o padrão da Palavra de Deus, a Bíblia. Mas Deus dá a algumas pessoas capacidade extraordinária para discernir a verdade. Lemos em 1 Coríntios 12.10: "A outro (é dado) discernimento de espíritos." Em toda a Bíblia somos alertados contra os falsos profetas e falsos mestres. No Sermão da Montanha, Jesus disse: "Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis" (Mt 7.15, 16). Torna-se difícil, às vezes até para um cristão, distinguir e desmascarar o falso profeta. Existe semelhança muito grande entre o verdadeiro e o falso profeta, e Jesus falava destes últimos, que "surgirão... operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos" (Mt 24.24). Paulo fala-nos do Anticristo vindouro, cuja atividade nos dias finais será marcado por "sinais e prodígios da mentira" (2Ts 2.9). O maior disfarce de Satanás sempre foi o aparecer aos homens como "anjo de luz" (2Co 11.14).

As Escrituras ensinam claramente que devemos exercer o dom de discernimento – porque aparecerão muitos profetas falsos. Não há como deixar de ver as muitas advertências de Jesus e dos apóstolos quanto aos falsos profetas que viriam, principalmente no fim dos tempos. Muitos serão como lobos em pele de ovelha. Enganarão muitas vezes o povo de Deus. Por isso entre os cristãos deve haver os que sabem distinguir entre profetas falsos e verdadeiros. Paulo estava preocupado com os coríntios porque eles pareciam ter pouco discernimento, recebendo a qualquer um como verdadeiro profeta de Cristo. "Porque vocês suportam com alegria qualquer um que chega e anuncia um Jesus diferente, que não é o Jesus que nós anunciamos. E acenam um espírito e um evangelho completamente diferentes do Espírito de Deus e do Evangelho que receberam de nós. ... Aqueles homens são apóstolos falsos, e não verdadeiros. Eles mentem a respeito de seus trabalhos, e se disfarçam em verdadeiros apóstolos de Cristo" (2Co 11.4, 13)

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“Os verdadeiros Profetas e os Falsos Profetas (7.15-23). O Evangelho de Mateus torna o fruto dos profetas a verdadeira prova de tais ministérios. 0 caráter é essencial. 0 evangelista comenta muitas vezes o tema de árvores boas e ruins e seus frutos; seu interesse em produzir justiça o compele a repetir o tema. João Batista fala que a impenitência dos fariseus e saduceus é como árvores ruins (cf. Mt 3.8-12). Em Mateus 12.33,35 Jesus une a acusação dos fariseus (de que Ele faz o bem pelo poder do mal) com dar maus frutos e a chama de blasfêmia contra o Espírito Santo. [...] Em algumas comunidades a prova para as profecias lidava com a negação protognóstica da carne de Jesus Cristo (l Jo 4.1-3) ou com o espírito de legalismo (Gl 1.8,9). Aqui Mateus identifica que o fruto do erro é o antinomismo, chamando estas pessoas de: 'Vós que praticais a iniquidade' (Mt 7.23). Mesmo que eles [os profetas] façam milagres, a doutrina e o estilo de vida são os critérios para discernimento" (STRONSTAD, Roger; ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol. 1. 4.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp. 61-62).

CONCLUSÃO

Acabamos de estudar o exercício do ministério de profeta no Antigo e no Novo Testamento. Vimos que tal ministério, juntamente com o dos apóstolos, era um dos pilares na liderança da Igreja do primeiro século (Ef 2.20). Apesar de ao longo da história da igreja o ministério de profeta ter perdido preeminência, sabemos o quanto ele é importante para a vida espiritual da Igreja de Cristo. O profeta do Senhor, com autoridade e sabedoria divina deve desmascarar as injustiças, o falso profetismo e primar pela edificação da Igreja do Senhor Jesus. Que Deus levante os legítimos profetas!  O dom da profecia no sentido de predição, não existe mais tanto quanto no primeira século do cristianismo. Na Igreja cristã, no âmbito local, há espaço para o dom ministerial de profeta. Esse dom não é disponível para quem o busque, mas para quem é chamado por Deus, com a missão de desenvolver um ministério ou serviço, na casa do Senhor. Seu ministério não tem o mesmo caráter do profeta do Antigo Testamento. Este falava à nação. O profeta do Novo Testamento fala para a igreja local, com vistas ao aperfeiçoamento dos crentes para a obra do ministério, e para edificação da igreja. Deve haver discernimento de espírito, por parte da liderança, e no meio da igreja local, para que “lobos devoradores”, travestidos de “profeta” não causem estragos no meio do rebanho do Senhor Jesus Cristo.

REFERÊNCIAS

DICIONÁRIO VINE - W. E. Vine, Merril F. Unger & William White Jr. CPAD, Rio de Janeiro, 2002, p. 648.

GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal: Pneumatologia – a doutrina do Espírito Santo, p. 198,199.

LIÇÕES BÍBLICAS. 2º Trimestre 2021 - Lição 5. Rio de Janeiro: CPAD, 02, mai. 2021.

LIMA, Elinaldo Renovado de. Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.

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