COMENTÁRIO E SUBSÍDIO
I
INTRODUÇÃO
A partir da lição desta semana estudaremos os Dons
Ministeriais distribuídos por Deus à sua Igreja, objetivando desenvolver o
caráter cristão da comunidade dos santos, tornando-o semelhante ao de Cristo
(Ef 4.13). De acordo com as epístolas aos Efésios e aos Coríntios, são cinco os
dons ministeriais concedidos por Deus à Igreja: apóstolos, profetas,
evangelistas, pastores e doutores (1Co 12.27-29). Veremos o quanto esses
ministérios são necessários à vida da igreja local para cumprir a missão
ordenada pelo Senhor ante o mundo e, simultaneamente, crescer “na graça e
conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18). Mostrando a
sequência de Efésios 4.11, iniciaremos o estudo pelo dom ministerial de
apóstolo. – Os dons
espirituais são voltados para a igreja em seu ambiente interno, congregacional,
com manifestações sobrenaturais, no falar línguas estranhas, profecia,
interpretarão, dons de curar e outros carismas, os dons ministeriais ampliam a
ação do Espírito Santo, com sua ação poderosa e sobrenatural, tanto no âmbito
interno como externo, da missão da Igreja, na Terra. Já temos aprendido na primeira lição deste
trimestre que os dons ministeriais são dádivas concedidas por Cristo com a
finalidade de aperfeiçoar os santos, para a obra do ministério, para edificação
do corpo de Cristo, a fim de que os crentes atinjam a unidade da fé, o
conhecimento do Filho de Deus, o nível de varões perfeitos, a medida da
estatura completa de Cristo (Ef.4.12,13). Com esta lição, iniciamos o segundo
bloco deste trimestre, dedicado ao estudo dos dons ministeriais. O primeiro dom
ministerial que estudaremos é o de apóstolo, aqueles que foram enviados
diretamente por Jesus para dar início à Igreja.
I. O COLÉGIO APOSTÓLICO
1. O termo “apóstolo”. O Dicionário Bíblico Wycliffe informa
que o termo grego apostolos origina-se do verbo apostellein, que significa
“enviar”, “remeter”. A palavra apóstolo, portanto, significa “aquele que é
enviado”, “mensageiro”, “oficialmente comissionado por Cristo”. Ao longo do
Novo Testamento, o verdadeiro apóstolo é enviado por Cristo igualmente como o
Filho foi enviado pelo Pai com a missão de salvar o pecador com autoridade,
poder, graça e amor. O verdadeiro apostolado baseia-se na pessoa e obra de
Jesus, o Apóstolo por excelência (Hb 3.1).
2. O colégio
apostólico. Entende-se
por colégio apostólico o grupo dos doze primeiros discípulos de Jesus
convidados por Ele a auxiliarem o seu ministério terreno. O Salvador os separou
e nomeou. Os primeiros escolhidos não eram homens perfeitos, mas foram
vocacionados a levar a mensagem do Evangelho a todo o mundo (Mt 28.19,20; Mc
16.15-20). De acordo com Stanley Horton, eles foram habilitados a exercer “o
ministério quando do estabelecimento da Igreja” (At 1.20,25,26). Em outras
palavras, os doze apóstolos constituíram a base ministerial para o
desenvolvimento e a expansão da Igreja no mundo. Mas antes, como nos mostra a
Palavra de Deus, receberam o batismo com o Espírito Santo (Lc 24.49; At 1.8;
2.1-46).
3. A singularidade
dos doze. Aqui é
importante ressaltar que o apostolado dos doze tem uma conotação bem singular
em relação aos demais encontrados em Atos e também nas epístolas paulinas.
a) Eles foram
convocados pessoalmente pelo Senhor. Multidões seguiam Jesus por onde Ele
passava (Mt 4.25), e muitos se tornavam seguidores do Mestre. Mas para iniciar
o trabalho da Grande Comissão, apenas doze foram convocados pessoalmente por
Ele (Mt 10.1; Lc 6.13).
b) Andaram com
Jesus durante todo o seu ministério. Desde o batismo do Senhor até a
crucificação, os doze andaram com o Mestre, aprenderam e conviveram com Ele (Mc
6.7; Jo 6.66-71; At 1.21-23).
c) Receberam
autoridade do Senhor (Jo 20.21-23). Os doze receberam de Jesus um mandato
especial para prosseguirem com a obra de evangelização. Eles foram revestidos
de autoridade de Deus para expulsar os demônios, curar os enfermos e pregar o
Evangelho à humanidade (Mc 16.17,18; cf. At 2.4).
Etimologicamente o termo grego
Apostellein “Apóstolo” significa aquele que é enviado, mensageiro ou
embaixador. Aquele que representa a quem o enviou. A palavra é usada acerca do
Senhor Jesus para descrever a Sua relação com Deus (Hb 3.1; Jo 17.3). Os doze
discípulos escolhidos pelo Senhor para treinamento especial foram chamados
assim (Lc 6.13; 9.10). Paulo, embora tivesse visto o Senhor Jesus (I Co 9.1;
15.8), não tinha acompanhado os doze todo o tempo do Seu ministério terrestre,
e, consequentemente, não era elegível para um lugar entre eles, de acordo com a
descrição de Pedro sobre as qualificações necessárias (At 1.22). Paulo foi
comissionado diretamente pelo próprio Senhor, depois de sua ascensão, para
levar o evangelho aos gentios” (At 9.1-15) (VINE, 2002, p.407). O título
“apóstolo” se aplica a certos líderes cristãos no NT. O verbo “apostello”
significa “enviar alguém em missão especial como mensageiro e representante
pessoal de quem o envia. O título é usado para Cristo (Hb 3.1), os doze
discípulos escolhidos por Jesus (Mt 10.2), o apóstolo Paulo (Rm 1.1; II Co 1.1;
Gl 1.1) e outros (At 14.4,14; Rm 16.7; Gl 1.19; 2.8,9; I Ts 2.6,7). A Bíblia de
Estudo Pentecostal (STAMPS, 2012, p. 1814). A Bíblia de Estudo Pentecostal
classifica “apóstolos” num sentido geral, como um ministério que ainda continua
sendo necessário para o propósito de Deus na igreja, fazendo uma conexão direta
com o trabalho missionário. Dessa forma, o termo “missionário” teria o mesmo
sentido de “apóstolo”, ou seja, um representante designado por uma igreja, e
cita como referências bíblicas Atos 14.4, 14 (Barnabé e Paulo), Rm 16.7
(Andrônico e Júnia), 2 Coríntios 8.23 (Embaixadores, traduzido do grego
apóstoloi).
O nome de Colégio Apostólico é
dado ao grupo de doze homens que foram chamados pelo próprio Senhor Jesus para
segui-lo durante o seu ministério terreno (Mt 10.2; Mc 6.30; Lc 6.13). “Foram
três anos aproximadamente, em que eles aprenderam as verdades de Deus com o
maior Mestre da história. Após o seu discipulado, aos pés de Cristo, e o
recebimento do batismo com o Espírito Santo (Lc 24.49; At 1.8), aqueles 12
foram enviados para proclamar o evangelho, ou as Boas Novas de salvação (Lc
6.13). Eles constituíram a base ministerial para o crescimento, o
desenvolvimento e a expansão do Reino de Deus e da Igreja de Cristo, por todo o
mundo” (RENOVATO, 2014, p. 72).
A característica fundamental do
apóstolo é ser alguém que tem uma missão a cumprir, enviado por quem tem
autoridade espiritual para fazê-lo. Em seu discipulado, os doze apóstolos foram
preparados para o cumprimento da missão mais importante que um mortal poderia
receber. Serem embaixadores do Reino de Deus. Não poderiam ser pessoas
desprovidas de qualificações especiais. Eram homens comuns, humanamente
detentores de virtudes e defeitos, mas tiveram um treinamento aos pés do Mestre
dos mestres. E demonstraram possuir algumas qualidades especiais.
a) Foram chamados por Jesus. Em seu ministério, Jesus teve muitos discípulos (Mt 8.21; 9.57-62).
Mas, para cumprir a grande missão, Jesus selecionou apenas 12, e lhes deu
credenciais e poder para se tornarem apóstolos. “E, chamando a si os seus doze
discípulos...” (Mt 10.1a). Lucas anotou a eleição dos 12 dentre muitos outros.
Após passar uma noite inteira em oração a Deus, “chamou a si os seus
discípulos, e escolheu doze deles a quem deu nome de apóstolos” (Lc 6.12 —
grifo nosso).
b) Receberam autoridade espiritual. Jesus “deu-lhes autoridade sobre os espíritos
imundos, para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades”
(Mt 10.1; Mc 3.15). Inicialmente, essa autoridade foi concedida aos doze. E, na
Grande Comissão, além de mandar que seus discípulos pregassem o evangelho por
todo o mundo, a toda a criatura, disse que os sinais e maravilhas haveriam de
seguir a todos os que nEle cressem. Não apenas aos doze, mas “aos que crerem”,
ou seja, a todos os seus discípulos (Mc 16.17, 18). E importante destacar que
os doze receberam dons sobrenaturais, antes que o Espírito Santo os colocasse à
disposição da Igreja.
c) Tinham delegação de Cristo. Os 12 apóstolos não foram apenas “enviados”, mas
tiveram um mandato especial. Jesus lhes disse; “Disse-lhes, pois, JESUS outra
vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.
E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito
Santo. A autoridade delegada aos apóstolos foi tão grande, que eles tinham
poder para perdoar pecados ou retê-los. JESUS os enviou, do mesmo modo como Ele
fora enviado pelo Pai (Jo 20.21-23). Podemos imaginar o que os doze sentiram,
ao ouvir aquelas palavras! Serem enviados por Cristo, e como Cristo o fora por
seu Pai! Os que entenderam bem a missão devem ter sentido o grande peso de sua
responsabilidade. Os que haviam sido pescadores, antes, podiam guardar as redes
e suspender a pescaria. Mas, uma vez feitos “pescadores de homens” (Mt 4.19; Mc
1.17), não poderiam suspender a missão. Os que outrora tinham outras atividades
não tinham como voltar atrás. O mundo nunca mais foi o mesmo depois de Cristo,
e depois que seus apóstolos começaram a cumprir a Grande Comissão (Mc 16.15).
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor, para introduzir
a lição de forma dinâmica, faça a seguinte indagação: "Quais são os dons
ministeriais?" Ouça os alunos com atenção e em seguida leia a relação
descrita em Efésios 4.11. Depois, utilizando o quadro da página seguinte,
explique a respeito do termo apóstolo e faça um pequeno resumo a
respeito deste dom. Enfatize que Deus continua levantando apóstolos em nosso
tempo. Conclua orando para que o Senhor distribua este dom entre os seus alunos.
II. O APÓSTOLO PAULO
1. Saulo e sua conversão. Saulo foi um judeu de cidadania romana, educado “aos pés de
Gamaliel”, e também um importante mestre do judaísmo (At 22.3,25). Ele era
intelectual, fariseu e foi perseguidor dos cristãos. Entretanto, a caminho de
Damasco, em busca dos cristãos que haviam fugido devido à perseguição em
Jerusalém, e com carta de autorização para prendê-los, Saulo teve uma
experiência com o Cristo ressurreto (At 9.1-22). A sua vida foi inteiramente
transformada a partir desse encontro pessoal com Jesus. De perseguidor, passou
a perseguido; de Saulo, o fariseu, a Paulo, o apóstolo dos gentios.
2. Um homem
preparado para servir. Dos vinte e sete livros do Novo Testamento, treze foram escritos
pelo apóstolo Paulo. Quão grande tratado teológico encontramos em sua Epístola
aos Romanos! O seu legado teológico foi grandioso para o cristianismo. Mas para
além da intelectualidade teológica, o apóstolo dos gentios levou uma vida de
sofrimento por causa da pregação do Cristo ressurreto. Eis a declaração
apostólica que denota tal verdade: “Combati o bom combate, acabei a carreira,
guardei a fé” (2Tm 4.7).
3. “O menor dos
apóstolos”. O apóstolo
Paulo não pertencia ao colégio dos doze. Ele não andou com Jesus em seu
ministério terreno nem testemunhou a ressurreição do Senhor – requisitos
indispensáveis para o grupo dos doze (At 1.21-23). Humildemente, o apóstolo
reconheceu que não merecia ser assim chamado, pois considerava-se um
“abortivo”, como que nascido fora de tempo, o menor de todos (1Co 15.8,9).
Entretanto, o Senhor se revelou a ele ressurreto (At 9.4,5) e ensinou-lhe todas
as coisas. O apóstolo recebeu o Evangelho diretamente do Senhor (Gl 1.6-24; 1Co
11.23). Embora o colégio apostólico tenha reconhecido o apostolado paulino (Gl
2.6-10; 2Pe 3.14-16), as igrejas plantadas por ele eram o selo do seu
ministério apostólico (1Co 9.2).
Mesmo considerando-se “o menor
dos apóstolos” Paulo revelou-se um grande servo de Deus. O chamado de Paulo foi
bem diferente. A caminho de Damasco, com ordens dos sacerdotes para prender os
cristãos, foi interrompido por Jesus, de maneira sobrenatural e impactante. No
chão, Paulo teve o chamado de Deus de forma tão dramática, que caiu, ouvindo a
potente voz do Senhor, que o abatera em seu orgulho e presunção, quando julgava
estar fazendo a vontade de Deus no zelo do judaísmo (At 9.4; 22.7; At 9.10-19).
Deus tem seus caminhos e suas maneiras de agir, às vezes muito estranhas (cf.
Is 28.21). Diante de um chamado tão singular e diferente dos demais apóstolos,
Paulo tinha razão em dizer que era chamado pela vontade de Deus e não dos
homens. Até seu nome foi mudado, de Saulo (hb. Sha'ul, o que foi pedido) para
Paulo (gr. Paulus, baixo, pequeno, humilde), após ser convocado pelo Espírito
Santo para ser enviado para a missão (At 13.8). A conversão de Saulo ocorreu
após a morte e ressurreição do Senhor Jesus (At 9.1-18). Logo, ele não tinha as
“credenciais” que eram comuns aos demais apóstolos (At 1.21,22). Mas, o Senhor
o chamou para este ministério, embora ele se considerasse indigno como dizendo
ser “o menor dos apóstolos” (I Co 15.8,9). Paulo enfrentou muitas oposições por
parte dos falsos mestres que questionavam sua autoridade apostólica. Por essa
razão, em suas epístolas, era comum ele identificar-se como apóstolo: “Paulo,
servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de
Deus” (Rm 1.1); “Paulo, chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus,
e o irmão Sóstenes” (I Co 1.1); “Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem
por homem algum, mas por Jesus Cristo (Gl 1.1). Além disso, em suas cartas, ele
ressalta repetidas vezes que foi chamado para ser o “apóstolo dos gentios” (Rm
11.13; 15.15,16; Gl 1.16;2.7,8).
A vida de Paulo, seu fervor
missionário e seu zelo pela Igreja de Deus demonstram claramente o seu chamado
para o ministério apostólico. Sua preocupação não era apenas evangelizar, mas
também, visitar os irmãos pelas cidades onde havia anunciado o Evangelho, para
exortá-los a permanecer na fé e encorajá-los em meio às perseguições e ao
sofrimento (At 14.21,22; 15.36). Um verdadeiro apóstolo é homem que deve ter
comunhão e experiência com Deus. Paulo, não obstante não ter convivido com
JESUS como os demais apóstolos, teve experiências espirituais que os outros não
tiveram. E essas experiências fortaleceram sua vida espiritual e solidificaram
o seu relacionamento com Cristo. Ele diz que teve “visões e revelações do
Senhor” (1 Co 12.1); com bastante modéstia, falando na terceira pessoa, diz que
“foi arrebatado ao terceiro céu”... “e ouviu palavras inefáveis, que ao homem
não é lícito falar” (1 Co 12.2,4). Que palavras foram essas, só Deus e Paulo
sabem.
Paulo era um homem de grande
cultura. Desmistificando a crença ou “doutrina” de que Deus só usa pessoas de
pouca instrução, o exemplo de Paulo é bem marcante. Era homem de alto
conhecimento bíblico e teológico, discípulo de Gamaliel, um dos mestres do judaísmo
(At 22.3). Paulo era um intelectual poliglota. Falava hebraico, por ser judeu e
fariseu (At 22.2); por ser cidadão romano (At 22.25), falava latim; suas
epístolas foram escritas em grego, o que dá a entender que, sendo um homem
culto de sua época, falava a língua helénica; e, como judeu zeloso, certamente,
falava o aramaico, que era língua usual, nos meios intelectuais de sua época.
Em sua soberania, e segundo seus propósitos divinos, JESUS resolveu contrariar
a lógica humana, e chamar um perseguidor do evangelho para ser salvo e fazer
dele um apóstolo dos mais destacados entre os que quis escolher. Enquanto
alguns de seus primeiros discípulos, do grupo dos Doze, eram humildes
pescadores, de menor grau de instrução, Paulo era um homem intelectual, que haveria
de levar o evangelho aos gentios, ou gentes de todas as nações, fora de Israel,
inclusive aos “reis” ou governantes de povos estrangeiros. Além dessa
característica marcante, em seu ministério, Paulo foi o grande teólogo e
intérprete dos evangelhos de Cristo. Dos 27 livros do Novo Testamento, 13 foram
escritos por ele. E ainda resta dúvida se a epístola aos hebreus também foi de
sua autoria. Não foi por acaso que Paulo foi o primeiro apóstolo a levar o
evangelho de Cristo à Europa. Ele foi o grande evangelizador do Império Romano
(Rm 15.24,28). Em suas viagens missionárias, levou o evangelho de Cristo a
cidades de Israel, passou pela Turquia, pela Ásia Menor; pregou na Macedônia,
na Acaia, na Grécia, centro cultural da Europa, à época; e, em sua última
viagem missionária, reviu discípulos nas igrejas que fundara, e terminou em
Roma, para onde foi levado preso, e pregou na capital do Império mundial da
época. Concluiu sua extraordinária missão, declarando solenemente: “Combati o
bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7).
O Apóstolo Paulo (I Cor 15.8-11).
Paulo se inclui entre aqueles que viram Jesus ressuscitado: E, por derradeiro
de todos, me apareceu também a mim (8). Paulo não acreditava que tivesse visto
Cristo somente numa visão. Ele considerava sua experiência na estrada de
Damasco uma válida aparição da pessoa do Senhor ressuscitado. Ele não conhecia
nenhuma aparição posterior de Cristo a qualquer pessoa - pois a aparição de
Cristo a João na ilha de Patmos aconteceu depois da morte de Paulo. O apóstolo
refere aqui a si mesmo como um abortivo (ektroma). Essa estranha frase
significa um aborto, ou nascimento fora do tempo, e “denota um filho nascido de
forma violenta e prematura”. Esta referência à conversão de Paulo é a descrição
“da rapidez e violência da transição... enquanto ele ainda estava num estado de
imaturidade”. Fazendo um contraste, os 12 discípulos haviam sido escolhidos,
alimentados, treinados e depois comissionados. Haviam sido aprendizes, antes de
se tornarem apóstolos. A mudança de Paulo foi dramática e excepcional. No
entanto, ele havia visto o Senhor de forma tão real como eles. Paulo não só
havia visto o Senhor, como a experiência havia revolucionado completamente a
sua vida. Ele estava bastante ciente de ser o menor dos apóstolos e indigno de
ter esse nome, por causa da intensa perseguição que havia feito à igreja. Mas,
apesar da sua falta de mérito e aptidão, a graça de Deus o havia tornado
semelhante aos apóstolos para essa tarefa. A abundante graça que foi concedida
a Paulo não foi vã, pois deu frutos e era valiosa. Sobre os outros apóstolos,
Paulo declara: Trabalhei muito mais que todos eles. Isso pode querer dizer que
Paulo viveu mais tempo, portanto trabalhou mais, ou pode significar que ele
teve mais sucesso que os outros na fundação das igrejas. Embora Paulo seja
suficientemente humano para apreciar seu sucesso como servo do Senhor, ele
reconhecia que as suas realizações não eram o resultado de seus talentos, mas
da graça de Deus que estava em sua vida. A conclusão é que todos os líderes
apostólicos e várias centenas de crentes da Igreja Primitiva aceitavam o fato
da ressurreição de Cristo. Além disso, esse fato havia sido pregado aos
coríntios e eles o haviam aceitado. Cheio de propósito, Paulo podia declarar em
relação à ressurreição: Então, ou seja, eu ou sejam eles, assim pregamos, e
assim haveis crido.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
"Jesus é o supremo
Sumo Sacerdote e Apóstolo (Hb 3.1). A palavra apóstolo era usada, no entanto,
para qualquer mensageiro nomeado e comissionado a algum propósito. Epafrodito
foi um mensageiro (apóstolo) nomeado pela igreja em Filipos e enviado a Paulo
(Fp 2.25). Os companheiros de Paulo eram os mensageiros (apóstolos) enviados
pelas igrejas e por elas comissionados (2 Co 8.23).
Os doze, apenas, eram
apóstolos específicos. Depois de uma noite em oração, Jesus os escolheu do meio de um grupo de discípulos
e os chamou apóstolos (Lc 6.13). Pedro recomendou que os doze tinham um
ministério e supervisão especiais (At 2. 20,25,26), provavelmente tendo em
mente a promessa de que eles futuramente julgariam (governariam) as 12 tribos
de Israel (Mt 19.28). Sendo assim, nenhum apóstolo foi escolhido, depois de Matias,
para estar entre os doze. Nem foram nomeados substitutos, quando estes foram
martirizados. Na Nova Jerusalém há apenas 12 alicerces, com os nomes dos 12
apóstolos inscritos neles (Ap 21.14). Os doze, portanto, eram um grupo
limitado, e realizavam uma função especial na pregação, no ensino e no
estabelecimento da Igreja, além de testificar da ressurreição de Cristo, com
poder. Ninguém mais pode ser um apóstolo no sentido em que eles foram" (HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo
no Antigo e Novo Testamento. 12. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 287).
III. APOSTOLICIDADE
ATUAL (Ef 4.11)
1. Ainda há
apóstolos? No sentido estrito do termo, e de acordo com a sua singularidade,
apóstolos como os doze não mais existem. A Palavra de Deus diz que durante o
milênio, os doze se assentarão sobre tronos para julgar as doze tribos de
Israel (Mt 19.28). Os seus nomes também estarão registrados nos doze
fundamentos da cidade santa (Ap 21.12-14). Logo, o colégio apostólico foi
formado por um grupo limitado de discípulos, não havendo, portanto, uma
sucessão apostólica.
2. Apóstolos fora
dos doze. A carta aos Efésios apresenta a vigência do dom ministerial de apóstolo.
O teólogo Stanley Horton informa-nos que “o Novo Testamento indica que havia
outros apóstolos que também haviam sido dados como dons à Igreja. Entre estes
se acham Paulo e Barnabé (At 14.4,14), bem como os parentes de Paulo, Andrônico
e Júnia (Rm 16.7)”. Ao longo do Novo Testamento, e no primeiro século da
Igreja, o termo apóstolo recebeu um significado mais amplo, de um dom
ministerial distribuído à igreja local (Dicionário Vine).
3. O ministério
apostólico atual. Não há sucessão apostólica. Esta é uma doutrina formada pela
igreja romana e, infelizmente, copiada por algumas evangélicas para justificar
a existência do poder papal. O ministério dos doze não se repete mais. O que há
é o ministério de caráter apostólico. Atualmente, missionários enviados para
evangelizar povos não alcançados pelo Evangelho são dignos de serem
reconhecidos como verdadeiros apóstolos de Cristo. Homens como John Wesley,
William Carey (cognominado “pai das missões modernas”), Hudson Taylor, D. L.
Moody, Gunnar Vingren, Daniel Berg, “irmão André” e tantos outros, em tempos
recentes, foram verdadeiros desbravadores apostólicos. Cidades e até países
foram impactados pela instrumentalidade desses servos de Deus.
Ainda há apóstolos? Aplicamos
este termo ao que já vimos no item 1.1, ao “Colégio Apostólico”, ou aos Doze
discípulos que foram selecionados por JESUS, e enviados como apóstolos para dar
início à Grande Comissão (Mc 16.15). Apóstolos como eles, não existem mais.
Eles eram apóstolos no sentido estrito da palavra, e nas circunstâncias em que
foram chamados e enviados por JESUS. 1) Estiveram com CRISTO, durante todo o
seu ministério terreno. Enquanto Paulo aprendeu “aos pés de Gamaliel”, os Doze
aprenderam aos pés de JESUS, o Mestre dos mestres, no mais perfeito curso de
evangelização e discipulado que alguém poderia realizar. Próximo à sua morte,
JESUS lhes disse: “E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas
tentações” (Lc 22.28). O fato de ter visto a CRISTO não é condição exclusiva,
pois Paulo também o viu (1 Co 9.1,2). Mas o terem aceito seu chamado
diretamente de sua parte; de terem caminhado durante cerca de três anos, ao seu
lado, ouvindo sua palavra, e vendo seus milagres; de terem comido e dormido ao
seu lado, muitas vezes sem ter “onde reclinar a cabeça” (Mt 8.20); só os Doze
compartilharam momentos tão expressivos da humanidade, bem como da divindade de
CRISTO. 2) Eles estiveram com JESUS, após a sua ressurreição. Outros discípulos
também estiveram com JESUS, como os do Caminho de Emaús (Lc 24.13-31). Mas os
que compartilharam da companhia do Senhor, de modo privado e especial, foram os
11, visto que Judas traiu o Mestre e foi para o seu destino trágico. “Chegada,
pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os
discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou JESUS, e pôs-se no
meio, e disse-lhes: Paz seja convosco! E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e
o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor. Disse-lhes,
pois, JESUS outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também eu
vos envio a vós” (Jo 20.19-21). 3) Receberam a Grande Comissão. O mandato para
evangelizar o mundo é destinado a todos os crentes em JESUS, a toda a Igreja do
Senhor. Mas os Doze receberam a ordem missionária, diretamente da boca de JESUS
(Mc 16.15). JESUS não disse aos Doze que eles fizessem apóstolos, mas sim,
discípulos em todas as nações (Mt 28.18-20). 4) Os Doze terão seus nomes nos
fundamentos da Nova Jerusalém. Esse importante detalhe, registrado no
Apocalipse, certamente, constitui argumento mais que suficiente para se
entender, que o apostolado especial dos Doze, que constituíam o Colégio
Apostólico, não é repetido em nenhuma fase da História da Igreja. João viu esse
singular privilégio, concedido unicamente aos que seguiram JESUS, durante o seu
ministério terreno (Ap 21.12-14). Wayne Grudem afirma que o ofício de apóstolo
estava limitado ao tempo quando a igreja primitiva foi fundada. Grudem
argumenta que: Embora alguns hoje usem a palavra “apóstolo” para referir-se a
fundadores de igrejas e evangelistas, isso não parece apropriado e proveitoso,
porque simplesmente confunde quem lê o Novo Testamento e vê a grande autoridade
ali atribuída ao ofício de “apóstolo”. É digno de nota que nenhum dos grandes
nomes na história da igreja – Atanásio, Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley e
Whitefield – assumiu o título de “apóstolo” ou permitiu que o chamassem
apóstolo. Se alguns, nos tempos modernos, querem atribuir a si o título de
“apóstolo”, logo levantam a suspeita de que são motivados por um orgulho
impróprio e por desejos de auto-exaltação, além de excessiva ambição e desejo
de ter na igreja mais autoridade do que qualquer outra pessoa deve corretamente
ter.
Além dos Doze, o Novo Testamento
também cita outros exemplos de apóstolos, como Paulo, que se considerou a si
mesmo “o menor dos apóstolos” por ter perseguido “a igreja de Deus” (1 Co.15.9;
Rm 1.1; 2 Co 1.1); ele viu a Jesus Cristo (1 Co 9.1). Barnabé também foi reconhecido
como apóstolo (At 14.14). Havia “outros apóstolos”, a que Paulo se referia em
sua carta aos romanos (Rm 16.7) e em outras epístolas (G1 1.19; 1 Ts 2.6,7).
Como demonstrado, o ministério
dos Doze, ou do colégio apostólico, não se repete. Nenhum dos Setenta, nem
qualquer dos apóstolos da Igreja Primitiva; ou dos tempos antigos, modernos,
atuais, ou futuros, jamais terá seu nome nos fundamentos da Nova Jerusalém.
Aqueles Doze foram únicos. Não há sucessão apostólica, como entende a Igreja
Católica. Referindo-se aos apóstolos de Jesus, no sentido especial, a Bíblia de
Estudo Pentecostal diz: “O ministério de apóstolo nesse sentido restrito é
exclusivo, e dele não há repetição. Os apóstolos originais do Novo Testamento
não têm sucessores”. Atualmente, o que podemos ver como ministério de caráter
apostólico, é o trabalho dos missionários, quando são enviados para desbravar
campos, em países de povos não alcançados pelo evangelho de Cristo. Se um
missionário vai assumir um trabalho que já está estabelecido, cujas bases e
desenvolvimento deveram-se ao esforço de outros companheiros, não pode dizer
que faz um trabalho de apóstolo, e sim, de pastor ou evangelista. Paulo ensina
que Jesus, depois de subir ao alto e levar “cativo o cativeiro”, “deu dons aos
homens”. Observando o texto bíblico, de Efésios 4.11, lemos: “E ele mesmo deu
uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e
outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a
obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.11,12). Esses
“homens-dons”, concedidos por Deus e seus ofícios ou ministérios, têm por
finalidade alcançar a “unidade do Espírito” (Ef 4.3), visando “o
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério” e a “edificação do corpo
de Cristo”. Dessa forma, se existe atualidade para os ofícios de “profetas”,
“evangelistas” e “doutores” ou “mestres”, por que não deveria haver atualidade do
ofício do apóstolo? Sem dúvida alguma, o ministério de caráter apostólico deve
ser desenvolvido, na atualidade, ao lado dos demais ministérios, indispensáveis
à unidade e à edificação do corpo de Cristo. Homens como John Wesley, William
Carey, cognominado “pai das missões modernas”; Adoniran Judson, Hudson Taylor,
D. L. Moody, Jorge Müller, Smith Wigglesworth, Gunnar Vingren, Daniel Berg,
Richard Wurmbrand, e tantos outros, em tempos mais recentes, podem ser
considerados verdadeiros apóstolos de Jesus. São homens que expuseram suas
vidas para levar a mensagem do evangelho aos mais longínquos lugares do mundo.
Patzia afirma: “Visto que a Igreja de hoje não tem lugar para o cargo de
apóstolo, por exemplo, a tentação é encontrar-se uma contrapartida contemporânea
nos líderes eclesiásticos, como superintendentes ou supervisores”. Há
realmente, essa “tentação”, de se buscar aplicação para o termo “apóstolo”, a
funções que pouco ou nada têm de apostólicas.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
APÓSTOLO Os apóstolos foram
testemunhas oculares das atividades de Jesus na terra e consequentemente
testificaram que Jesus era o Senhor ressurreto (Lc 24.45-48; 1 Jo 1.1-3). Os
pré-requisitos para a substituição apostólica nesta função única são dados em
At 1.21,22. A lista de apóstolos de Lucas (Lc 6.14- 16; At 1.13) corresponde à
lista dos doze dadas em Mateus 10.2-4 e Marcos 3.16-19. Mateus lista os
discípulos aos pares, supostamente como enviados por Jesus. Tadeu (em Mateus e
Marcos) era idêntico a Judas o filho de Tiago (em Lucas). Pedro, Tiago e João
formavam um círculo íntimo dentre os doze, e estavam presentes no episódio da
transfiguração (Mt 17.1-9; Mc 9.2-10; Lc 9.28-36) e no Getsêmani (Mt 26.36- 46;
Mc 14.32-42; Lc 22.39-46). Os doze foram selecionados para ser os companheiros
de Jesus e proclamar o Evangelho (Mc 3.14). Durante o ministério de Jesus, os
doze serviram como seus representantes, uma função compartilhada por outros (Lc
10.1)" (PFEIFFER, Charles F.;
REA, John; VOS, Howard F. (Eds.). Dicionário Bíblico Wycliffe. 1 ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2009, p. 162).
CONCLUSÃO
Nos moldes do colégio dos doze, o ministério apostólico não existe atualmente. Entretanto, o dom ministerial de apóstolo citado por Paulo em Efésios 4.11 está em plena vigência. Pastores experimentados, evangelistas e missionários que desbravaram os rincões do nosso país ou em países inimigos do Evangelho, são pessoas portadoras desse dom ministerial. São os verdadeiros apóstolos da Igreja de Cristo hoje. – Pode-se afirmar com bastante fundamento escriturístico, que o ministério apostólico, nos moldes do Colégio Apostólico não existe mais, porém, o ministério de caráter apostólico, desenvolvido por missionários e evangelizadores, com finalidade de estabelecer igrejas, em diversos lugares, é perfeitamente atual. Pois existem homens e mulheres de Deus, arriscando suas vidas, em países inimigos do evangelho, esses são verdadeiros apóstolos de Igreja de Jesus Cristo.
REFERÊNCIAS
DICIONÁRIO VINE - W. E. Vine, Merril F. Unger &
William White Jr. CPAD, Rio de Janeiro, 2002, p. 648.
LIÇÕES BÍBLICAS. 2º Trimestre 2021 - Lição 6. Rio de
Janeiro: CPAD, 09, abr. 2021.
LIMA, Elinaldo Renovado de. Dons Espirituais e Ministeriais:
servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD,
2021.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de
Janeiro: CPAD, 1997.
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