INTRODUÇÃO
A vida cristã não pode ser vivida somente por meio de atos litúrgicos, não se constitui somente
de pregação e louvores. Mais do
que isso, ela precisa ser demarcada por
verdadeiros frutos de arrependimento (Mt 3.8), necessita evidenciar uma justiça
superior e uma pureza de coração que possa expressar a real
transformação (Mt 5.17-20), de modo que se comprove na prática o que Jesus
falou: “Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?” (Mt 7.16, ARA).
A partir de Mateus 5.33-37,
tem-se o quarto ensino dentre as seis ilustrações de Cristo, e é sobre isso que falaremos. Seguindo a propositura bíblica,
é dito que a boca fala do que o coração está cheio (Lc 6.45), ou seja, o que falamos revela
o que somos, de modo que o apóstolo Paulo nos ensina que de nossa boca não pode sair
nenhuma palavra torpe (Ef 4.29), que do grego trata-se do adjetivo
saprós, fala de algo podre, ruim, sem valor,
impróprio para o uso.
Do coração de quem já foi transformado por Cristo, jamais brotará o que é ruim, ou seja, palavras mentirosas, inverdades, pois, em essência, pela transformação que aconteceu em sua vida, agora caminha na verdade e sinceridade, sem embuste e engodo. Vivemos hoje em um mundo pós-moderno, onde se ensina que a verdade depende do ponto de vista de cada pessoa. Isso faz com que tudo seja muito relativo, todavia, o servo que tem a justiça de Cristo implantada no seu interior procura ser o que Jesus é, andando e falando a verdade, jamais andando na mentira (Ef 4.25).
Devemos ser conscientes de que tudo o que fazemos tem grande impacto para um mundo que vive nas trevas e que tem como seu pai o Diabo, o qual é o pai da mentira e que não se importa com a verdade (Jo 8.44), porém, o mundo não tira os olhos dos que são luz nesta terra, daí a relevância de procedermos corretamente em tudo. Nas missivas de Paulo, as doutrinas quanto ao cristão andar e viver na verdade são altissonantes, pois como já foi transportado das trevas para luz e despido do velho homem, não mente para os outros (Cl 3.9).
NÃO DEVEMOS JURAR NEM PELOS CÉUS NEM PELA TERRA
A lei do juramento
– Mais uma vez Jesus vai bater forte contra os escribas e os fariseus no que tange à questão do juramento, isso porque procediam com bonitas palavras, todavia, em seu âmago estavam envenenados pela falsidade
e pela inverdade. Antes de prosseguirmos com a exploração do tema, nos apropriaremos da
compreensão do que seja o juramento para depois prosseguirmos. Nos tempos antigos,
fazia-se uso dos juramentos exatamente com reforço de
certas maldições. O que se pretendia com isso era apoiar as ordens (1Sm 14.24), e, nos
tratados e alianças, esse reforço era algo bem característico (Gn
26.28; Ez 17.13). A maldição que se fazia nesses juramentos não era
irrevogável (1Sm 14.45), mas ficava
dependendo da decisão soberana e livre do Senhor (1Rs 18.31).
Historicamente, sabe-se que a prática do juramento era algo
bem antigo e anterior à Lei. Ele será posteriormente
incorporado ou adotado pela lei civil, pois se considerava imprescindível
(Êx 22.11). Quando nos deparamos
com Êxodo 20.7 e Levítico
19.12, compreendemos que há da parte da Lei mosaica uma ênfase
forte sobre a gravidade dos juramentos (Lv 6.1).
O posicionamento de Jesus sobre o juramento não é contrário à Lei, mas se opõe à forma como os seus opositores desprezam o princípio nele estabelecido, cometendo grandes abusos, conforme os outros casos anteriormente expostos. Por isso nosso Mestre foi bem categórico e disse: “De modo nenhum jureis...”.
No que diz respeito à lei do juramento, os escribas buscavam consubstanciar seus ensinos nas porções veterotestamentárias. Podemos dizer que eles recorriam aos seguintes textos: Êx 20.7; Dt 6.13; Lv 19.12. Mas o que se pode entender é que, com o passar do tempo, houve da parte dos escribas adulteração de tais palavras, de modo que o Senhor Jesus procurou fazer a correção e mostrar o real propósito da Lei: levar em consideração a honra da glória do nome de Deus.
O propósito da lei do juramento – Talvez o querido leitor possa interpelar: por que é necessária um a lei de juramento? Entendemos que desde que o pecado entrou no mundo a natureza humana carnal e decaída sempre pende para aquilo que não é verdadeiro, diante disso podemos crer que essa ordenança divina surgiu da parte de Deus como um tipo de freio para as mentiras dos homens.
Um segundo propósito da lei era limitar os juramentos que envolviam as questões sérias, pois muitos, querendo legalizar suas verdades em alguns negócios importantes do dia a dia, procuravam fazer isso usando o nome de Deus para jurar. Tal prática os levaria a procedimentos inconsistentes, é claro. Em momentos solenes e reservados, o nome de Deus poderia ser usado, contudo, cada israelita deveria entender que as demandas que envolvem o viver diário são vistas por Deus e devem ser feitas por aqueles que o servem com verdade, sinceridade, porque seus olhos a tudo e a todos contemplam, como bem disse o escritor aos Hebreus: “E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hb 4.13, ARA).
Não jureis nem pelo céu nem pela terra
– O grande
problema dos escribas e dos fariseus é que eles desprezaram o real espírito da Lei para criarem suas manobras
legalistas, e fizeram isso distorcendo realmente o que foi dito da parte de Moisés. Assim, por meio de suas novas interpretações,
flexibilizaram
a Lei, possibilitando a prática
de muitas coisas
sem que fossem
considerados culpados, ou melhor, não estariam quebrando a lei.
Na interpretação dos escribas, o perjurar, ou seja, o falso
juramento, estaria totalmente isolado, restrito somente
a essa questão da Lei, sendo
visto por eles como algo pecaminoso e terrível, e de imediato denunciavam quem os praticava. Para os judeus, alguém poderia fazer qualquer tipo de juramento
sem quebrar a Lei, desde que não houvesse
perjúrio.
Jesus entra com sua interpretação e diz: “Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus” (Mt
5.34, ARA). Um juramento não seria errado quando alguém o fizesse com verdade e buscando reverência para com o nome de
Deus. Seu erro consistira na mera superficialidade, o que era feito pelos judeus em quase todas as situações. Jesus esclarece que,
vivendo a nova política do seu Reino, o cristão não precisava ficar
confirmando suas palavras por meio de juramentos em qualquer situação.
Antes mostra que os que vivem em Deus e são dominados pelo seu Espírito Santo não precisam
jurar por nada, pois, como bem ensina Tiago, os que fazem isso caem
em condenação (Tg 5.12). Um simples sim ou não seria suficiente.
Na artimanha dos judeus, na forma como interpretavam a Lei,
eles faziam classificações dos mandamentos, tendo uns como mais importantes do que outros. Isso envolvia o objeto sobre o qual tal juramento seria feito.
A prática dos juramentos envolvia
o céu, a terra, Jerusalém, a cabeça do corpo,
o Templo, a sinagoga e o mais elevado:
o nome de Deus.
Na verdade, Jesus confronta os judeus sobre a maneira como
a maioria deles fazia esses
juramentos, os quais eram marcados pela falsidade,
hipocrisia e profanação, visando apenas impressionar e chamar a atenção
dos outros, e, para ratificarem suas palavras, recorriam
ao Santo Nome e aos lugares que tinham relação com Ele, como acima foi mencionado. Quando se usava o nome de Deus com palavras falsas, já estavam cometendo
a profanação.
NOSSAS PALAVRAS DEVEM SER “SIM” E “NÃO”
Como deve ser o nosso falar
– Não precisamos
fazer muito rodeio para dizer como devem ser
nossas palavras. Vivendo em Cristo a nova vida,
o cristão é sincero no que diz, por isso um simples sim ou não é o suficiente em
tudo o que faz, dado que tem consciência de que não pode ser de outra maneira, o que contrariaria seu procedimento
verdadeiro e santo. Um viver sincero e honesto não parte da base de um juramento, mas resulta de sua
comunhão com Deus, pois, ciente de que Jesus vive em seu ser, jamais será um mentiroso, no demais, dizer sim e não é o recomendável por meio da Palavra
(Tg 5.12; 2Co 1.17,18).
Não é preciso
juramento no seu falar, porque
quando isso acontece já é quase um sinal de que a fala não é verdadeira. Ainda
podemos dizer que um juramento feito por uma pessoa que não seja transformada não valerá de nada, já que não vem marcado pela verdade. Dizer um sim ou um não é questão de coração, não de juramento, pois, caso o indivíduo não seja realmente transformado, sempre a inverdade prevalecerá, em destaque o falso testemunho (Mt 15.19).
Amados irmãos, Jesus requer de cada um de nós sinceridade,
tanto em nossos atos como em nossas
palavras. Não podemos em conversas diárias levar as pessoas a crerem no que estamos dizendo
fazendo juramento; o simples sim e
não é o suficiente, posto que temos uma nova vida em Cristo Jesus, o dono da verdade (Jo 14.6).
O sim e o não na vida de Paulo – Quando lemos 2
Coríntios 1.12-24, pelas expressões contidas nessa seção, nota-se um Paulo humano, com
sentimentos, pois, diante das acusações que
lhe foram feitas, sentiu-se profundamente abalado, isso porque sua sinceridade foi atacada, razão
pela qual prontamente teve de reagir. A questão surge por causa dos planos de viagem
que o apóstolo havia feito (2Co
1.15-24), porém, Paulo fala aos irmãos de Corinto que seu ministério tinha como base a nova aliança e todos os sofrimentos que vivia por causa da obra de Cristo eram suas credenciais.
Paulo era um obreiro sincero, verdadeiro, isso ele não
somente deixa claro para os
coríntios, mas perante Deus, por isso invoca sua própria consciência como prova do que estava
falando. O que motivava Paulo a desempenhar bem seu ministério era o
chamado que o Senhor lhe fizera
e a autoridade recebida dEle. Além disso, vivia plenamente em santidade, o que se confirmaria na sua
prática ministerial como um apóstolo. Por meio de seu ministério entre os coríntios, todos poderiam confirmar as verdades que esse
apóstolo estava falando, porque vivia
para eles (1Co 4.15; 9.2). No demais, esses
crentes eram a própria carta de Paulo (2Co 3.3). Quanto às outras coisas, na eternidade tudo
revelaria o real motivo que levava esse obreiro a fazer a obra, é isso que diz Paulo (1Co 1.31).
Os que fizeram
acusações contra Paulo por causa da mudança de
planos na viagem fizeram com que o apóstolo se sentisse extremamente triste e decepcionado, isso porque enfraqueceram a sua imagem de líder perante os irmãos de
Corinto. Sendo assim, ele busca se justificar
diante de todos sobre essas mudanças de planos. Segundo alguns estudiosos bíblicos, a viagem projetada não aconteceu. Paulo narra tudo o que ocorreu desde o início em
relação aos seus planos e
quais fatos levaram a modificá-los. Ele fez isso para que não se fizesse
julgamento precipitado quanto ao seu caráter,
especificamente para que não achassem que ele era um mentiroso.
Era propósito do apóstolo Paulo estar em Corinto por duas
vezes. A primeira seria quando
estivesse de passagem
a caminho da Macedônia, e quando voltasse ficaria
lá por mais um tempo (1Co 16.6,7). Isso faria antes que prosseguisse de viagem pela
Judeia. As acusações que fizeram ao apóstolo machucaram-no
grandiosamente, pois era um homem fiel em sua
palavra; a final, um verdadeiro homem
de Deus só tem sim, sim, e não, não, no que diz. É bem possível que desse modo estivesse fazendo
menção da injunção de Cristo de não se fazer juramento, mas ser sincero no que diz.
Paulo queria que os irmãos de Corinto tivessem entendimento para não se abalarem com as acusações de
seus opositores, que procuravam
atingir sua honra e desmoralizá-lo perante todos como um mentiroso, e que eles mesmos fossem conscientes de que um homem de Deus não procede dois tipos de
conversa. No demais, tanto Silvano
como Timóteo, que eram seus cooperados, sabiam de sua sinceridade e verdade quanto à pregação e
ao ensino do evangelho de Cristo, e
foi com esse ensino e pregação que os coríntios também foram ensinados. Portanto, não havia
motivo algum para esses crentes não acreditarem em Paulo.
Além de ser um homem sincero, um apóstolo verdadeiro, sem engodo,
mentira, inverdades, os irmãos de Corinto puderam confirmar seu apostolado (1Co 9.2). Tanto ele como os
demais irmãos que viviam em Cristo diziam amém no culto (1Co 14.16), não
poderia Paulo ser falso, por isso que tais acusações
machucaram-no, mas ele esperava uma reconciliação com todos.
Por meio dos esclarecimentos feitos pelo apóstolo, ficou claro que sua palavra era digna de confiança, e as mudanças que
aconteceram foram por amor aos próprios irmãos de Corinto. Paulo disse para sermos seus imitadores, como ele foi de
Cristo (1Co 11.1). Como ele era um líder sincero, honesto em suas
palavras, não tendo sim e não ao
mesmo tempo, também devemos proceder de modo semelhante. É triste dizer, mas muitos homens que se
dizem servos de Deus, obreiros,
apóstolos, mas faltam com a verdade, com isso comprometem sua vida e a mensagem
que pregam. Fujamos de tal procedimento.
HONESTIDADE COM NOSSAS PALAVRAS
A palavra honestidade – O apóstolo Pedro disse que o comportamento do cristão deve
ser honesto e cheio de temor (1Pe 3.2). Interessante é que para
descrever esse adjetivo ele usa a palavra grega hagnós, respeitável,
santo, puro, limpo, puro de sensualidades, casto,
recatado, em relação
ao procedimento da mulher cristã para com o esposo que não seja crente.
O salvo em Cristo sabe que tudo em sua vida como cristão precisa ser feito com honestidade e honra (At 6.3; Rm 12.17). Na definição
que se faz desse adjetivo
expressa que uma vida honesta exclui o dolo,
a mentira, o engano, tanto nos atos praticáveis
do dia a dia como no seu caráter
pessoal. Um ditado bem conhecido por todos é: aquele que mente, rouba. Quem não tem pureza de
caráter não irá se preocupar com a honestidade no cotidiano, mas os que
realmente são transformados pelo evangelho
de Jesus Cristo desenvolvem a honestidade
constantemente — primeiro, por causa da mudança que sofreu; em segundo lugar,
por ter conhecimento da Palavra de Deus, a qual com veemência alerta sobre um
proceder honesto, evitando a mentira, o roubo, a fraude comercial e tudo o que for
condenado pela Lei (Lv 19.35,36; Dt 25.13-16).
Talvez o leitor pergunte: a palavra honestidade cabe no
ensino de Cristo em Mateus 5.33-37? Sim, cabe. Ele fez isso para
mostrar que na vida pessoal envolvendo o caráter a exigência é total. Quando
proibiu o uso dos juramentos, fazendo destaque das palavras sim e
não, queria dizer que o sim deveria ser realmente sim, e o não
realmente não, sem qualquer
resquício de mentira
ou hipocrisia.
Na ética cristã o servo de Cristo não age com uma
desonestidade destruidora, querendo
ver o seu irmão destruído (Ef 4.25-28; Cl 3.9); pelo contrário, ele desenvolve atos de justiça, promove um
social fundamentado no amor e no querer bem, não na busca de reconhecimento ou popularidade.
É possível ser honesto com nossas palavras
neste mundo? – Parece
que no mundo em que vivemos os homens e as mulheres, em sua maioria, estão
esquecendo da palavra honestidade, e o mais lamentável hoje é que muitos
crentes e alguns teólogos defendem o que
é chamado de “mentiras piedosas”, em que uma pessoa pode se valer dela para o bem da família, dentre
outras áreas. Alguns, de modo
racional, tentam argumentar que as mentiras de emergências, situacionais, podem ser levadas em consideração quando se visa suprir uma determinada necessidade, porém, à luz da ética rigorosa, seguindo a verdade da Bíblia, nada disso tem fundamento. A leitura de Salmos 15.1-5 alerta sobre esse posicionamento.
Ainda que pareça impossível ser honesto com nossas palavras
nesse mundo em que a plataforma é construída com ardis mentirosos, é possível sim viver com honestidade em nossas
palavras, mas somente para os que realmente vivem em Cristo e têm a Palavra no
seu coração. As Escrituras Sagradas mostram que nosso Deus é
justo (Ap 15.3), e as três pessoas da Trindade vivem nessa verdade
(Jo 14.6; 15.26).
Dando testemunho
– No momento em
que o cristão aceita a Cristo, é chamado não
apenas para ter a verdade
na mente e no coração,
mas também para praticá-la (Jo 3.21), no demais, ele não pode mais mentir,
pois seu pai não é o Diabo, o qual é o pai da mentira
(Jo 8.44).
Devemos, portanto, ser honestos em nossas palavras
em todos os sentidos, pois como comunidade de Cristo não podemos ser obstáculos para a vida de ninguém. Lembre-se de que pela
Bíblia a maledicência é nivelada aos
pecados de adultério e roubo, quem a pratica
estará fora do seu Reino (1Co 6.10; Cl 3.8). Os que vivem na presença de Deus sabem que precisam andar em santidade, verdade, que dos seus lábios não podem sair palavras destruidoras, porque dessa forma estariam entristecendo o
Espírito Santo de Deus (Ef 4.30).
Podemos ser exemplos neste mundo onde a honestidade já está quase em extinção. Para tal precisamos proceder
como nosso modelo de
vida maior, isto é, Cristo,
do qual Pedro diz que em sua boca nunca
se achou engano
(1Pe 2.22).
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