sábado, 5 de março de 2022

LIÇÃO 10: AS PROFECIAS DESPERTAM E TRAZEM ESPERANÇA

INTRODUÇÃO

Os livros proféticos do Antigo Testamento se dividem em “Profetas Maiores” e “Profetas Menores”. A designação serve para diferenciar o tamanho dos livros, e não o grau de importância de seus autores. Os profetas maiores são Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel, e os outros doze livros, de Oseias a Malaquias, são os profetas menores. No Novo Testamento, apenas o livro de Apocalipse é classificado como profético. A mensagem dos profetas é de suma importância para despertar o cristão. Nos livros proféticos, a soberania, a justiça e a misericórdia divina estão claramente reveladas. Os fatos narrados comprovam o poder, a autoridade e o controle divino sobre todas as coisas. Eles nos servem de experiência de fé e produzem esperança ao povo de Deus (Rm 5.4).

I – OS PROFETAS MAIORES

1. Os Profetas e a Profecia. A palavra grega prophetes significa proclamador e intérprete da revelação divina. No hebraico, a palavra mais frequente é nãbi, como sendo aquele que declara uma mensagem em nome de Deus. Gordon Fee conceitua os profetas como sendo “os mediadores, ou porta-vozes de Deus, no tocante à aliança. Através deles, Deus relembra às pessoas nas gerações depois de Moisés que, se a Lei for guardada, haverá bênçãos como resultado; senão, seguir-se-á o castigo”. Em vista disso, os profetas tinham acesso à presença dos reis, ofereciam-lhes assessoramento e, quando necessário, até censuravam os seus atos (Is 37.5-7; 2 Sm 12.7ss). Os profetas são identificados como servos do SENHOR (1 Rs 14.18; 2 Rs 9.7; 17.13; Jr 7.25). A Bíblia registra que Deus falou muitas vezes e de várias maneiras por meio dos profetas (Hb 1.1).

O termo grego empregado para profecia é propheteia, com o significado de “a declaração da mente e do conselho de Deus”. O Dicionário Vine enfatiza que “a profecia não é necessariamente, nem mesmo primariamente vaticinadora [...] é a descrição antecipada da vontade de Deus, quer com referência ao passado, presente ou futuro (Gn 20.7; Ap 1.19)”. A atividade profética na Bíblia tem a sua origem em Deus e a difere do “profetismo” das demais religiões. A profecia nas Escrituras é a manifestação do Espírito com o propósito de proclamar os desígnios divinos, exortar e levar o seu povo à obediência e à fidelidade com Deus e a sua Palavra.

O desenvolvimento da história profética em Israel é usualmente dividido como “profetas não escritores” e “profetas escritores”, ou “não literários” e “literários”. Essa divisão abrange os profetas do período pré-mosaico, mosaico, período de Samuel, do reino unido e do reino divido. Nesse aspecto, nossa abordagem enfoca os “livros proféticos” do período literário, a composição e a data aproximada  das profecias dos denominados “profetas maiores” e “profetas menores”. Como já visto no capítulo 4, essa classificação difere da coletânea hebraica, porém, sem prejuízo de conteúdo, autenticidade e canonicidade.

2. Os Profetas Isaías e Jeremias. Isaías profetizou no reino de Judá. Seu ministério ocorreu nos dias dos reis Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias (Is 1.1 ss). Esse período equivale a mais de 60 anos de atividade profética. Isaías significa “salvação do Senhor”, e salvação é o tema central de seu livro. Ele denunciou a rebeldia do povo e apontou o cativeiro como juízo divino. O julgamento incluía fome, sede, morte, humilhação e vergonha (Is 5.13-17). Também predisse o retorno de Judá do exílio. Apesar dos pecados, a promessa a Davi se cumpriria, Deus iria livrar o seu povo, porém, os incrédulos não fariam parte desse livramento (Is 48.20-22). Ainda profetizou a respeito de Cristo, tal como seu nascimento de uma virgem (Is 7.14); sua descendência de Davi (Is 11.1); e seu ministério libertador (Is 61.1,2).

Jeremias atuou durante o reinado de Josias, Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias, reis de Judá (Jr 1.2ss). Seu ministério se estendeu por mais de quarenta anos. Seu nome significa “Yahweh estabelece”. O propósito predominante no livro é de conclamar o povo de Judá ao arrependimento. Ele profetizou 60 anos após a morte de Isaías. Judá permanecia em declínio espiritual. Enquanto os falsos profetas prediziam o bem, Jeremias vaticinou a queda da nação por causa do pecado, principalmente a rebeldia e a idolatria (Jr 1.14-16). Contudo, o profeta anunciou a restauração do remanescente. A maldade seria perdoada e o povo retornaria do cativeiro ao seu país nativo (Jr 50.19,20). Jeremias também profetizou a chegada de Cristo como um Renovo de justiça (Jr 33.15).

No livro das Lamentações, temos o registro do clamor de Judá pelo perdão divino (Lm 1.2; 5.1). As deportações da nação de Judá tiveram início em 597 a.C., não obstante, o povo permaneceu negligente e confiado nos falsos profetas (Jr 27.5). Então, no ano 586 a.C., após dezoito meses sitiada, Jerusalém caiu diante do exército de Nabucodonosor. Seus muros foram queimados, o Templo foi destruído, e o restante do povo foi deportado para a Babilônia (Jr 21.13,14; 52.28-20; Lm 2.7,8).

Mediante o cenário caótico, cinco poemas integram o livro das Lamentações. Os primeiros são canções de tristeza e o quinto se assemelha a uma oração. O Comentário Bíblico Beacon sublinha que “os poemas permitem ao povo confessar que Deus o havia tratado com justiça, e, ao fazê-lo, encontrariam forças para suportar o peso indescritível da angústia sem desesperar-se [...] apontavam o caminho para o arrependimento e fé e, deste modo, estimulavam esperança na misericórdia de Deus”. Nesse sentido, Isaias e Jeremias, além de juízo, anunciaram despertamento e esperança.

3. Os Profetas Ezequiel e Daniel. Ezequiel é um profeta do cativeiro que foi conduzido ao exílio na deportação promovida por Nabucodonosor em 597 a.C. (2 Rs 24.14- 16). Ele tinha sido sacerdote em Jerusalém (Ez 1.3) e na Babilônia foi chamado para ser profeta do Altíssimo (Ez 1.2). Seu ministério profético desenvolveu-se por cerca de 22 anos. O nome Ezequiel significa “aquele que Deus sustenta”. Embora Judá estivesse no exílio, o coração do povo era obstinado. Estavam seguindo o mesmo caminho de rebeldia de seus pais (Ez 2.3,4), mas Deus não desistiu de seu povo.

Ezequiel foi levantado para os admoestar: “quer ouçam quer deixem de ouvir” (Ez 2.5). A mensagem lembrava a todos de que a restauração requeria arrependimento. Sua função era advertir a nação para deixar a maldade, seguir a justiça e persistir no caminho da retidão (Ez 3.20,21). Ele também profetizou a restauração da nação (Ez 34.1-39.29), prenunciou a Cristo como pastor e rei (Ez 34.23,24) e como fonte de águas vivas (Ez 47.1,2). O tema preponderante no livro engloba a justiça e a misericórdia divina, a responsabilidade individual e a esperança para o futuro.

Daniel pertencia à alta nobreza judaica (Dn 1.3). Ainda muito jovem, foi enviado para a Babilônia por volta do ano 605 a.C., e tornou-se um dos oficiais da corte (Dn 5.29). O profeta exerceu seu ministério por aproximadamente 70 anos (605 a.C.-535 a.C.), desde o primeiro ano de Nabucodonosor (Dn 1.1) até o terceiro ano de Ciro (Dn 10.1). Seu nome significa “Deus é o meu juiz”. O livro denota que o Juiz dos judeus, embora tivesse permitido o cativeiro, iria restaurar o seu povo por obra de seu grande amor e compaixão.

Ao estudar as profecias de Jeremias (Jr 25.11,12; 29.10), Daniel soube que o cativeiro duraria 70 anos (Dn 9.2), reconheceu a culpa do povo e com oração, súplica, jejum e com pano de saco e cinzas, passou a clamar pela misericórdia divina (Dn 9.3,19). Como resposta, Deus lhe revelou o tempo da restauração da nação, a vinda de Cristo, o advento do anticristo e o julgamento final (Dn 9.24-27). Essas profecias ilustram que Deus está no controle de tudo e tem propósito para cada indivíduo. Portanto, promovem despertamento e esperança de reconciliação com Deus.

II – OS PROFETAS MENORES

1. Os Profetas do Reino do Norte. Dois profetas menores profetizaram para Israel: Amós e Oseias. Amós vivia em Tecoa, aldeia de Judá, mas foi chamado para profetizar em Samaria, no Reino do Norte (Am 1.1) nos dias do rei Jeroboão II (793-746 a.C.). Ele era boiadeiro e cultivador de sicômoros, a comida dos pobres. Não era membro da classe dos profetas, mas foi comissionado por Deus para o ministério profético (Am 7.14,15). Foi ameaçado por Amazias — sumo sacerdote de Betel —, e acusado pelo religioso de conspiração contra o rei Jeroboão II (Am 7.10,12,3). Amós não se intimidou e, destemido, cumpriu a sua chamada.

Ele profetizou quando Israel desfrutava paz e prosperidade econômica (Am 6.1). Esse crescimento material provocou ruptura na moralidade da nação. Deus reprovava as ações do povo, tais como: opressão aos pobres e injustiça social (Am 2.6-8; 6.3-6); o luxo e a ostentação (Am 3.10-15; 5.1-6); a idolatria e o culto a Baal (Am 4.4,5); o enriquecimento ilícito (Am 8.5); a corrupção e o suborno no sistema judiciário (Am 5.11-15). Em razão disso, Amós vaticinou o cativeiro como julgamento (Am 6.7; 7.11). Contudo, o profeta encerra suas profecias com a promessa de restauração (Am 9.11- 15).

Oseias registra que a Palavra lhe foi dirigida, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias, reis de Judá, e de Jeroboão II, rei de Israel (Os 1.1). Esse período abrange cerca de 60 anos. Conjectura-se que Oseias fora padeiro (Os 7.4ss) ou até mesmo sacerdote em virtude de seu apreço ao sacerdócio (Os 4.7-9; 5.1; 6.9). A erudição veterotestamentária reconhece que ele era nativo do Reino do Norte. Sua abordagem profética enfoca a infidelidade de Israel, que, como uma meretriz, traiu e abandonou o Senhor, representado pelo casamento do profeta com uma mulher prostituta (Os 1.2).

Seu ministério denunciou a desintegração política em Israel e as alianças com o Egito e a Assíria (Os 5.13; 7.11; 8.9; 12.1; 14.3). Condenou a prática da idolatria (Os 10.5), da prostituição (Os 6.10), da luxúria (Os 4.10), do homicídio, do roubo, do engano e da opressão (Os 5.2; 7.1; 12.7). Denunciou o fracasso dos sacerdotes que aceitavam suborno do povo (Os 6.9). Como é possível perceber, era um tempo de crime, degradação moral e licenciosidade. Em consequência, a nação seria conduzida ao cativeiro pela Assíria (Os 9.3). Apesar dos erros, o profeta anunciou a restauração do povo (Os 14.4-9).

2. Os Profetas Pré-Exílio. Joel profetizou no reino de Judá por volta do ano 835 a.C., durante o reinado de Joás (2 Cr 22–24). Ele se identifica como “filho de Petuel” (Jl 1.1). O seu nome significa “Jeová é Deus”. Ele pregou o arrependimento nacional por meio do jejum, choro, pranto e santificação (Jl 2.12,13,16,17). O profeta anunciou o derramamento do Espírito Santo (Jl 2.28) que se cumpriu no dia de Pentecostes (At 2.17-21), e vaticinou o “dia do Senhor” como dia de salvação e de juízo (Jl 1.15; 2.1,11,31). Nesse sentido, Cristo veio para salvar o mundo (Jo 3.16), e um dia voltará para julgar (At 17.31).

Miqueias profetizou nos reinados de Jotão, Acaz e Ezequias (742– 687 a.C.), reis de Judá (Mq 1.1). Seu ministério durou cerca de 50 anos. Era da cidade de Moreste, um profeta humilde em Judá (Mq 1.1). Miqueias denunciou a falsa espiritualidade do povo. A nação participava dos ritos sagrados, mas sua religiosidade era meramente legalista (Mq 2.11; 3.11). Condenou a exploração dos pobres (Mq 2.1,2); lamentou a impiedade (Mq 1.9); anunciou a destruição de Jerusalém e o cativeiro babilônico (Mq 3.12). Ainda assim, Deus concederia esperança de restauração a um remanescente (Mq 2.12,13; 4.10).

Habacuque iniciou seu ministério por volta do ano 609 a.C., no governo de Jeoaquim, rei de Judá (2 Rs 23.30-34). Seu nome significa “abraço amoroso” e ainda “lutador”. Ele próprio se apresenta como sendo profeta (Hc 1.1). O texto é tecnicamente um “oráculo”. Ele recebeu orientação divina para escrever, em lugar de transmitir oralmente como era o usual (Hc 2.2). Ele reclamou da violência, do litígio e da sentença distorcida (Hc 1.1-4), e vaticinou que Deus usaria os babilônios para punir a nação (Hc 1.6). Por fim, Deus haveria de julgar os ímpios e restaurar o seu povo (Hc 3.13).

Sofonias afirma que foi chamado “nos dias de Josias, [...] rei de Judá” (Sf 1.1). A erudição bíblica concorda que o ano 632 a.C. marca o início de suas profecias. Ele condenou a degeneração religiosa que reinava em Judá: o culto a Baal, a astrologia e a profanação dos sacerdotes (Hc 1.4,5); a má conduta dos príncipes, o engano e a violência (Sf 1.8,9). Anunciou a invasão da cidade e a destruição no grande “Dia do Senhor” (Sf 1.10-11,14), e a restauração do remanescente (Sf 3.13-17). Como é possível notar, os profetas pré-exílio abordam o juízo, mas enfatizam a misericórdia divina em prover o livramento.

3. Os Profetas Pós-Exílio. Ageu era um homem idoso quando começou a profetizar (Ag 2.3). O início de seu ministério se deu no ano 520 a.C., correspondente ao “sexto mês do segundo ano do rei Dario” (Ag 1.1). Nesse tempo, após 17 anos de paralisação, a obra do Templo foi retomada. Ageu persuadiu o governador Zorobabel, o sumo sacerdote Josué, os líderes judeus e o povo a concluir a reconstrução do Templo de Jerusalém (Ag 1.2-9; 2.2,4). Deus prometeu prover os recursos da construção (Ag 2.8) e assegurou que a glória dessa casa seria maior do que a da primeira (Ag 2.9). O livro encerra com uma mensagem de esperança. Deus fará abalar céus e terra para abençoar o seu povo, e, numa referência a Cristo, estabelecerá o Reino messiânico para sempre (Ag 2.21-23).

Zacarias era membro da família sacerdotal (Ne 12.4). Foi comissionado profeta em 520 a.C., no segundo ano de Dario (Zc 1.1). Esdras registra que Zacarias e Ageu atuaram juntos para despertar o povo, Josué e Zorobabel a concluir o Templo (Ed 5.1,2; 6.14). Com a mensagem “não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito” (Zc 4.6) o profeta advertia que, embora fosse necessário o esforço humano, tanto o retorno do exílio, como a reconstrução da cidade e do Templo eram obras do poder divino. Zacarias é considerado o mais messiânico dos profetas menores. Ele anuncia a vinda do Messias como o renovo do Senhor (Zc 3.8), e, nos capítulos 1.7–6.8 apresenta uma profunda descrição acerca de Cristo.

Malaquias significa “mensageiro”, e seu ministério teve início por volta de 433 a.C. Nessa época, a reconstrução do segundo Templo de Jerusalém já estava concluída (Ml 1.10; 3.1,10). A mensagem do profeta consistia em exortar os repatriados do exílio a uma vida de adoração e santidade. Ele repreendeu o desleixo dos sacerdotes que apresentavam no altar do Senhor pão imundo e animais com defeito (Ml 1.7,8); os pecados do povo, tais como feitiçaria, adultério, falsidade, fraude, extorsão e exploração dos necessitados (Ml 3.5). Igualmente denunciou a negligência com os dízimos e ofertas (Ml 3.8,9). O livro encerra o cânon do Antigo Testamento e conclui com a promessa de que o Dia do Senhor estava vindo (Ml 4.5.6).

4. Os demais Profetas. Jonas era um profeta do Norte, mas foi enviado para pregar em Nínive, a capital da Assíria (Jn 1.2). Seu livro é datado por volta de 762 a.C., quando a Assíria ainda era dotada de poder e grandeza (Jn 1.2). A mensagem era de destruição por causa da maldade da nação (Jn 3.4). O império era inimigo implacável de Israel, e o nacionalismo de Jonas o levou a desobedecer à ordem divina (Jn 1.3; 4.1,2). No entanto, após ser punido e liberto do ventre do grande peixe (Jn 2.1,10), Jonas pregou aos ninivitas, a nação se converteu, e Deus cancelou o juízo sobre eles (Jn 3.8-10). A mensagem do livro demonstra o amor divino para com todas as nações. Ao tratar de sua morte e ressurreição, Jesus a comparou ao evento do profeta Jonas (Mt 12.39-41; Lc 11.29-32).

Naum era um profeta da vila de Elcós (Na 1.1) cuja localização é incerta, mas que provavelmente ficava em Judá. Ele profetizou a condenação de Nínive e dessa vez não houve arrependimento (Na 1.1,9). Pouco mais de um século antes, em 722 a.C., os assírios tinham deportado e torturado o reino de Israel. O reino de Judá também era atormentado pela tirania dos ninivitas. Por fim, Deus ordenou a destruição dos assírios pela insistência em praticar a crueldade (Na 3.1-4). Em 612 a.C., conforme vaticinado pelo profeta (Na 1.8), os babilônios sitiaram Nínive por três meses e a subjugaram quando o rio Tigre transbordou e destruiu os muros da cidade. Tinham se passado 150 anos desde o episódio envolvendo o profeta Jonas.

Obadias é o profeta menor com o registro da mensagem mais curta dos livros proféticos. São apenas 21 versículos com referência ao julgamento de Edom (Ob 1.1). A data do livro é muito disputada. No versículo 11, o profeta faz menção a um evento histórico envolvendo Jerusalém. A maior parte dos eruditos conservadores acredita que se trata da queda de Jerusalém em 586 a.C., assim a composição do livro teria ocorrido por volta de 585 a.C., um ano antes do exílio babilônico. Obadias denunciou a soberba e a arrogância dos edomitas (Ob 1.1-3). Eles eram descendentes de Esaú e praticavam violência contra Judá (Ob 1.8-11). Por essa razão, Deus os condenava à destruição (Ob 1.15-16), enquanto Judá recebia a promessa de restauração (Ob 1.17).

III – O LIVRO DO APOCALIPSE

1. Autoria, Propósito e Destinatários. O Dicionário Bíblico Wycliffe assevera que o termo grego apokalypsis significa “revelações especiais de Deus ao homem em Jesus Cristo” (Lc 17.30; Rm 8.18; 2 Ts 1.7; 1 Pe 1.13). A palavra é uma combinação de apo (da parte de) e kalupto (encobrir) com o sentido de “revelar algo que estava encoberto”. No versículo de abertura, o livro atesta ser a “revelação de Jesus Cristo” (Ap 1.1a), assegura que o propósito é “mostrar as coisas que brevemente devem acontecer” (Ap 1.1b). Como literatura apocalíptica, o livro “descreve a futura graça de modo a encorajar os obedientes, e descreve o futuro castigo para desencorajar os desobedientes”.

A obra apresenta o apóstolo João como seu autor (Ap 1.1, 22.8). No século III, Dionísio de Alexandria questionou a autoria joanina alegando diferenças de linguagem, vocabulário e estilo entre o Evangelho de João e o Apocalipse. Porém, os primeiros patriarcas da Igreja confirmaram que a autoria era de João. Por exemplo, Justino de Roma em seu “Diálogo com Trifão”, escrito por volta do ano 155 d.C., assegura que João recebeu a revelação acerca do milênio, da ressurreição universal e do juízo final. A data da escrita do Apocalipse ocorreu por volta do ano 95 d.C. João recebeu a revelação exilado na ilha de Patmos durante o reinado de Domiciano (81-96 d.C.).

Os destinatários são identificados pelas cidades das sete Igrejas da Ásia Menor (atual sudoeste da Turquia). Embora a mensagem sirva para todos os crentes, em todas as partes do mundo e em todos os tempos, especificamente os primeiros leitores habitavam em: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Filadélfia, Laodiceia e Sardes (Ap 1.11). Como essas cidades estavam localizadas em uma rota bastante movimentada com estradas que formavam uma conexão entre elas, acredita-se que o livro de Apocalipse pretendia ser uma carta circular a ser lida em cada uma dessas igrejas. O livro encerra o cânon do Novo Testamento, e revela a vitória final do Reino de Deus.

2. Uma Mensagem de Esperança. Cristo disse a João: “Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer” (Ap 1.19). Significa o registro do passado, presente e futuro. No passado, João “testificou da Palavra de Deus” (Ap 1.2). O tempo verbal grego empregado aqui, o aoristo (“testificou”) provavelmente refere-se a um “aoristo epistolar”, porque a escrita “das coisas que ele viu” estaria no passado quando seus leitores a recebessem. A declaração também aponta o testemunho de João para as coisas já acontecidas, tais como a visão do Filho de Deus (Ap 1.10-17) e até mesmo o nascimento e a ascensão de Jesus (Ap 12.1.17). Ainda, a expressão indica que as “palavras desta profecia” são verdadeiras, portanto, divinamente inspiradas (Ap 22.7).

As “coisas que são” sinalizam aquilo que estava acontecendo no tempo presente do autor. Diz respeito à situação das Igrejas mostrada nos capítulos 2 e 3 do livro, mas que também se aplicam às igrejas de todas as épocas, tal como o dever de guardar as palavras da profecia (Ap 1.3, 22.14). As “coisas que hão de acontecer” revelam o futuro. Com algumas exceções de presente e passado, referem-se aos eventos narrados a partir do capítulo 4 que antecedem a volta de Jesus (Ap 1.7), e as coisas que acontecem depois, tais como a instauração do milênio (Ap 20.2,3), o julgamento final (Ap 20.13), o novo céu e a nova terra (21.1) e a nova Jerusalém (Ap 21.2).

O Comentário Bíblico Pentecostal faz o seguinte resumo dessa mensagem:

(i) Deus está no controle, não Satanás; (ii) Espere pela volta do Cordeiro, e não pela Besta; (iii) Combata todas as suas batalhas com as armas do Espírito, e não com as do mundo; (iv) Quando estiver em dúvida, adore a Deus! A adoração é a maior e mais poderosa expressão de fé; (v) Você está sendo preparado para uma colheita; (vi) A noiva está quase pronta para as bodas com o Filho; (vii) Os preparativos para o casamento já foram feitos, as festividades do final da colheita começaram, e nenhum outro sinal é necessário. Ouça... a última trombeta vai soar.

Os temas acima enumerados devem refletir na maneira como vivemos. Sua mensagem apresenta a esperança de um presente e de um futuro com Deus. Ratifica-se que o livro nos ensina a viver com Deus no presente, a fim de participar da eternidade com Ele. As revelações do futuro atestam que Deus controla a história (Ap 14.7,8); Deus triunfará sobre o mal; Satanás será derrotado (Ap 20.10); o pecado será banido; e os eleitos herdarão a Nova Jerusalém (Ap 21.2-4). Por isso, somos encorajados a clamar “Ora, vem, Senhor Jesus!” (Ap 22.20).

Fonte: BAPTISTA, Douglas. A supremacia das Escrituras: a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p. 115-124.


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