LIÇÃO 9 – AS HISTÓRIAS E AS
POESIAS FALAM AO CORAÇÃO
INTRODUÇÃO
A Bíblia Sagrada faz uso de gêneros literários para
expressar a revelação divina. Para contar as histórias do povo de Deus, os
livros históricos servem-se da literatura chamada de “narrativa”. As
experiências do povo de Deus na conquista e posse da Terra Prometida apontam
para a soberania divina. Os livros poéticos e de sabedoria recorrem ao “texto
lírico” com o propósito de despertar sentimentos. Os escritos bíblicos em prosa
e poesia revelam a sabedoria divina, que deve ser aplicada em nosso viver
diário. Essas mensagens servem de bom remédio e conservam saudável o nosso
espírito, alma e corpo (Pv 17.22). Em vista disso, neste capítulo, estudaremos
as experiências e as instruções relatadas nesses livros, cujas verdades
produzem fé e esperança em nossos corações.
I – AS HISTÓRIAS DO ANTIGO TESTAMENTO
1. Os Livros Históricos. A narrativa é um
tipo literário que abrange mais de 40% do Antigo Testamento. O termo narrativa
é preferido no uso técnico para o registro da história. Toda a narrativa é
constituída de enredo, trama e personagens. Contudo, ao contrário das
narrativas humanas que, por questões ideológicas, tendem a impor o falso como
verdadeiro, a narrativa bíblica é divinamente inspirada, totalmente verídica,
Deus é o autor e personagem principal. Gordon Fee enfatiza que elas não são
meramente histórias das pessoas que viveram no período da Antiga Aliança. As
narrativas “são, antes de tudo, histórias acerca daquilo que Deus fez para
aquelas pessoas e através delas”.
Na estrutura e classificação literária da Bíblia
Sagrada, os registros da experiência dessas pessoas com Deus, e da posse da
Terra Prometida, são chamados de “livros históricos”. Refere-se à segunda seção
do Antigo Testamento, imediatamente após o encerramento do Pentateuco. São um
total de 12 volumes, que retratam a história de Israel desde a entrada em Canaã
(cerca de 1400 a.C.) até o tempo de Esdras e Neemias (cerca de 400 a.C.). Após
a morte de Moisés, Deus chamou Josué para liderar o povo na conquista da Terra
Prometida (Js 1.1,2). Desse modo, o livro de Josué faz abertura do grupo dos
“livros históricos”.
Josué pertencia ao grupo dos doze líderes escolhidos
para espiar a Terra Prometida. Ele era da tribo de Efraim e, juntamente com
Calebe, exortou o povo a confiar nas promessas (Nm 13.8,16; 14.6- 9). Josué foi
comissionado para ser o general do Exército de Israel (Êx 17.8,9); esteve junto
no Sinai quando Moisés recebeu as tábuas da Lei (Êx 24.13; 32.17); quando jovem
foi encarregado do Tabernáculo (Êx 33.11); e, era o aprendiz e o servidor leal
de Moisés (Êx 24.13; Nm 11.28). Foi um oficial comandante vitorioso (Êx 17.13),
e um exemplo de fé, confiança, ousadia e coragem (Nm 14.36-38; Nm 32.11,12). Em
sua trajetória, Josué foi forjado e aprovado, e, assim, tornou-se o legítimo
sucessor de Moisés (Dt 31.23; 34.9)
A narrativa de seu livro relata a história da nação,
desde a travessia do Jordão (Js 3.14-17) até a sua morte aos 110 anos de idade
(Js 24.29). Durante os 30 anos de sua liderança, Josué alocou uma porção de
terra para as tribos de Israel, exceto aos levitas (Js 13.14; 21.43). Contudo,
ainda muitíssima terra ficou para possuir (Js 13.1-7). As gerações seguintes,
para assegurar a herança, disputaram o espaço com outras nações. Nesse período,
Israel experimentou, dentre outros, a fidelidade divina ao desfrutar da
promessa feita aos patriarcas (Gn 17.3-8; Êx 3.13-17); a providência divina
como na travessia do Jordão e na queda de Jericó (Js 4.7; Js 6.20), a
repreensão e o juízo como no caso do anátema (Js 7.5;11;24-25), a proteção e a
vitória sobre os inimigos (Js 24.1). Tais relatos demonstram que Deus controla
o curso da história (Js 21.45).
2. As Histórias dos Juízes. O título hebraico
desse livro em hebraico é “shõphetim” e “kritai” em grego, ambos os termos têm
o significado de “juízes”. Refere-se ao modelo de governo adotado pelos
israelitas no interlúdio da morte do líder Josué e a coroação de Saul como
primeiro rei da nação. Gleason Archer anota que “o tema básico do livro é a
falha de Israel como teocracia, no sentido de não ter conseguido lealdade à
aliança mesmo sob a liderança de homens escolhidos por Deus, os quais
libertavam a nação da opressão do mundo pagão ao derredor”. Séculos depois, as sucessivas falhas em manter
fidelidade a Deus e a Lei de Moisés conduziram Israel a instituir um governo
monárquico.
Após Josué, os juízes governaram Israel até ao
profeta Samuel (At 13.20). Esse período abrange cerca de 400 anos de história
com a atuação de doze líderes (Jz 3.11–16.30). Josué, antes de falecer, exortou
a nação para não servirem outros deuses, mas cumprir a aliança com Deus (Js 24.14,15).
Em resposta, o povo jurou solenemente: “Nunca nos aconteça que deixemos o
Senhor para servirmos a outros deuses” (Js 24.16). Esse juramento foi cumprido
enquanto viveram os anciãos conterrâneos de Josué (Js 24.31). Passada essa
geração, por rebeldia e pela inexistência de uma liderança forte (Jz 18.1),
cada um fazia o que achava reto a seus próprios olhos (Jz 21.25).
Por essas razões, a nação entrou em declínio
espiritual. Os israelitas não expulsaram todos os povos da terra de Canaã e
passaram a coabitar com eles (Js 3.5); em desobediência à Lei, realizavam
casamentos mistos com os estrangeiros e serviam os seus deuses pagãos (Js 3.6).
A narrativa do livro informa que se esqueceram do seu Deus e “fizeram o que
parecia mal aos olhos do Senhor” (Jz 3.7). Como resultado da rebelião, a
mistura com os ímpios e a idolatria, os israelitas eram subjugados pelas nações
vizinhas (Jz 3.8,12; 6.1; 10.7). Porém, mediante o arrependimento do povo, Deus
levantava libertadores para resgatar a Israel da opressão (Jz 3.9,15; 6.7;
10.10).
William Lasor avalia que existe um padrão de
comportamento do povo que pode ser observado na história de todos os juízes: “o
povo faz o que é mau, servindo a outros deuses. Javé envia uma nação para
oprimi-lo. O povo clama a Javé. Javé levanta um libertador. O opressor é
derrotado. O povo tem descanso”. Esse padrão é como um círculo vicioso em
Israel. A terra sossegava por um determinado tempo, e depois “os filhos de
Israel [tornavam] a fazer o que parecia mal aos olhos do Senhor” (Jz 3.12) e
todo o processo começava novamente. Essas histórias apontam para a fidelidade e
a misericórdia divina; embora o povo fosse infiel, Deus permanecia fiel (2 Tm
2.13).
3. As Histórias dos Reis. Passado o período
dos juízes, ocorreu a transição para a monarquia. A história da era dos reis é
narrada nos livros de 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas. Os livros de
Samuel, dentre outros relatos, mostram a ascensão de Saul e de Davi ao trono de
Israel. Os livros de Reis registram o reinado de Salomão, e os reis que se
sucederam tanto no Reino do Norte como no Reino do Sul. Os livros das Crônicas,
escritos após o retorno de Judá do exílio babilônico, retratam especialmente os
sucessivos reis de Judá, mencionando os reis de Israel esporadicamente. Essas
narrativas enfatizam que apenas os reis obedientes a Deus eram por Ele
abençoados.
A monarquia tem seu início por volta do ano 1050
a.C., quando Deus constituiu a Saul como rei em Israel (1 Sm 8.5; 9.17). Até
esse tempo, Israel tinha sido governado diretamente por Deus por meio de seus
porta-vozes: Moisés, Josué e os juízes. O último porta-voz do governo
teocrático foi Samuel (1 Sm 8.7). A partir da instituição do governo
monárquico, os reis passaram a liderar Israel. A designação de um rei não
encerrava a aliança de Deus com Israel, embora a motivação do povo estivesse
errada (1 Sm 8.20). Contudo, Deus já tinha feito provisão para a monarquia na
Lei de Moisés e, assim, manteve o pacto com a nação. Os reis deveriam obedecer
à Lei, sujeitar-se à palavra profética de Deus e reinar com justiça (Dt
17.14-20).
Porém, Saul não observou esses preceitos e o seu
reinado fracassou (1 Sm 13.13; 16.1). Então, Deus o substituiu por “um homem
segundo o seu coração” (1 Sm 13.14). Davi foi escolhido e recebeu a promessa de
um reino que não teria fim (2 Sm 7.16). Essa promessa é conhecida como aliança
davídica. Salomão lhe sucedeu no trono e, após a sua morte, o reino se dividiu:
Israel no Norte; e Judá no Sul (1 Rs 12.16,17). As histórias do reino dividido
enfatizam a atitude de cada rei em seu relacionamento com Deus e sua postura
dentro da aliança mosaica. A frase “fez o que era reto” ou o seu oposto “fez o
que era mau” é empregada para avaliar o reinado e diferenciar os bons reis dos
reis ímpios.
Por fim, ambos os reinos quebraram a aliança com
Deus. A lista de pecados cometidos é enorme: idolatria, sincretismo religioso,
imoralidade sexual, violência, litígio, injustiça social e jurídica dentre
tantos. Como consequência, os dois reinos foram levados para o exílio. Em 722
a.C., Israel foi conquistado pelos assírios. Em 586 a.C., Judá caiu diante da
Babilônia. Contudo, em 539 a.C., cumprindo sua promessa, Deus restaurou o trono
de Davi. E, do reino de Judá, a esperança messiânica se cumpriu em Jesus (Lc
1.32,33). Essas narrativas mostram que os planos do Senhor não podem ser
frustrados (Jó 42.2) e que o bem-estar de uma nação depende da fidelidade com
Deus (Sl 33.12).
II – OS LIVROS POÉTICOS (E DE SABEDORIA) DO
ANTIGO TESTAMENTO
1. Os Livros Sapienciais e Poéticos. Os
livros sapienciais são conhecidos como “livros de sabedoria”. Os livros
poéticos são conhecidos como “livros de poesia”. Trata-se de estilo literário
empregado na redação do terceiro grupo dos livros do Antigo Testamento. Nesse
aspecto, convém esclarecer que essa composição literária não desqualifica a
inspiração divina, nem a autoridade ou canonicidade desses escritos bíblicos. A
mensagem poética traz sabedoria para o relacionamento com Deus e o viver diário
em qualquer época.
Stanley Ellisen informa que “os hebreus identificavam
três grandes livros poéticos: Jó, Salmos e Provérbios. Na classificação da
Vulgata estão também incluídos os livros didáticos, Eclesiastes e Cantares,
perfazendo um total de cinco livros”. Quanto aos livros sapienciais, Jó,
Provérbios e Eclesiastes são considerados tanto poéticos como de sabedoria. A
poesia veterotestamentária abrange também grande parte dos ditos proféticos ou
da literatura sapiencial.
Em relação à importância desses livros,
transcrevemos o seguinte:
Esses livros continuam sendo importantes para os
cristãos hoje. Seus principais temas — louvor e oração, orientação para uma
vida santa, nosso relacionamento com Deus e com as pessoas ao nosso redor — e
sua linguagem forte, evocativa, continuam a moldar o coração e a mente do povo
de Deus. Ao lermos Salmos, meditarmos em Provérbios, nos comovermos com a
beleza de Cantares de Salomão e nos esforçarmos para entender tópicos difíceis
de Jó e Eclesiastes, o Espírito Santo transforma e renova nosso coração e nossa
mente.
Em suma, esses escritos ensinam a sabedoria por meio
da poesia ou da prosa. Eclesiastes foi escrito quase todo em prosa, e os outros
livros foram redigidos, em sua maioria, em forma de poesia. De modo geral, a
prosa retrata o modo como normalmente falamos. E a poesia expressa sentimentos
e pensamentos mediante versos que atingem o intelecto e as emoções. Na Bíblia,
esse gênero literário trata da aplicação da verdade divina à experiência
humana, refere-se à sabedoria prática mais do que teórica (Jó 28.28; Sl 19.7; Pv
23.12; Ec 7.12, Ct 8.7).
2. Eclesiastes, Provérbios e Jó O título de
Eclesiastes é uma tradução grega do hebraico qôhelet, significando “aquele que
convoca uma congregação” a fim de pregar para ela. Por isso, a expressão
“pregador” usada por alguns é perfeitamente adequada (Ec 1.1). O livro afirma
“que sua sabedoria vem do ‘único pastor’, e que ao ultrapassar os limites de
tal sabedoria, o pretendente a sábio deve exercer o máximo de cuidado (Ec
12.11ss)”. Essa declaração reivindica sua inspiração divina. A expressão “único
pastor” é referência a um dos títulos divinos. O tema de Eclesiastes está na
frase “é tudo vaidade” (Ec 1.2). Indica a efemeridade e a futilidade da vida
humana. O pregador convida seus leitores a abandonar a confiança na visão secular
da vida. Por isso, ao final, o autor declara que o sentido e o verdadeiro
significado da vida é “teme a Deus e guarda os seus mandamentos” (Ec 12.13).
O título de Provérbios é uma tradução grega do
hebraico mãshãl, que deriva de uma raiz que significa “ser como” ou “comparado
com”. Desse modo, entende-se que o propósito do autor é apresentar o contraste
existente em uma vida de sabedoria e uma vida de insensatez. Corrobora com essa
compreensão a introdução do livro quando o autor estabelece seu objetivo: “para
se conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem as palavras da
prudência” (Pv 1.2). Provérbios oferece aos seus leitores a oportunidade de
fazer a escolha pela sabedoria. Em vista disso, o tema de Provérbios afiança
que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9.10). Ensina que
observar os princípios divinos nos faz pessoas sábias. Portanto, ao concluir, o
escritor enfatiza que uma pessoa temente a Deus é digna de ser honrada (Pv
31.30).
O título de Jó é tradução do hebraico `iyyôb, que
parece significar “onde está meu pai?”. O livro narra a experiência de um
personagem real. O escritor registra que Jó alcançou o testemunho de ser um
servo “íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal” (Jó 1.8, NAA).
Apesar de sua vida justa, Jó experimentou muita dor e sofrimento.
Inexplicavelmente, ele perdeu todas as suas posses (Jó 1.13-17); tragicamente
perdeu todos os seus filhos (Jó 1.18,19) e inesperadamente foi atingido por uma
dolorosa doença (Jó 2.7,8). Portanto, o tema de Jó é o sofrimento do justo (Jó
1.21). Mostra que a dor não é racional, que o sofrimento nem sempre é resultado
de algum pecado. Por isso, se faz necessário sempre confiar na sabedoria do
Senhor. Em última instância, Jó reconheceu que a aflição o aproximou de Deus (Jó
42.5).
3. Salmos e Cantares de Salomão. O título de
Salmos reflete o grego Psalmoi, que designa o nome do livro na Septuaginta
(LXX). Outro título grego por vezes empregado é Psalterion, que, na forma
aportuguesada, é transliterado como “Saltério”. Ambos os termos entraram em
nossas Bíblias pela Vulgata latina, que transliterou o grego. O termo Psalmoi
descreve “um cântico ou um louvor”, e o Psalterion indica “uma coleção de
cânticos ou louvores”. No Novo Testamento, o evangelista e historiador Lucas utiliza
o título grego completo — “livro de Salmos” (Lc 20.42; At 1.20). A obra
completa é uma coletânea de 150 poemas distribuídos em cinco livros: Livro 1
(Sl 1–41); Livro 2 (Sl 42–72); Livro 3 (Sl 73–89); Livro 4 (Sl 90–106); Livro 5
(Sl 107–150).
A autoria dos salmos é atribuída a vários escritores
distintos. Dentre eles, citam-se os setenta e três salmos que são reputados ao
rei Davi, o que equivale a quase metade deles; dois salmos são de autoria do
rei Salomão (Sl 72 e 127); ao menos um salmo é de Moisés (Sl 90); doze salmos
são atribuídos a Asafe (Sl 50; 73–83); dez salmos são dos filhos de Coré (Sl
42; 44–45; 47–49; 84–85; 87– 88). Os tradutores da LXX atribuíram a profetas a
autoria de alguns dos Salmos, tais como Jeremias (Sl 137), Ageu (Sl 146), Zacarias
(Sl 147), e outros salmos são de ilustres anônimos chamados de “salmos órfãos”.
Não obstante, reitera-se que a diversidade de autores não invalida a autoridade
dos ensinos e nem a inspiração divina da totalidade do livro de Salmos.
Outro aspecto a frisar é que o título hebraico para
“Salmos” é tehillim, com o significado de “louvores” ou “cânticos de louvor”. E
era com essa finalidade utilizado pelos israelitas em suas liturgias. O cântico
sempre esteve presente na história de Israel. A nação cantava em todas as
situações, por vezes acompanhada por algum instrumento musical (Êx 5.20; Nm
21.17, 27; Jz 5.1; 2 Sm 1.17; Am 5.23). Assim sendo, a mensagem principal dos
Salmos é o louvor, a oração e a adoração. Também é um livro de instrução,
porque nos mostra como servir ao Senhor. E ainda fala profeticamente acerca do
Messias. Nesses aspectos, considera-se como verso-chave Salmo 29.2: “Dai ao
Senhor a glória devida ao seu nome; adorai o Senhor na beleza da sua
santidade”.
O livro de Cantares de Salomão ou “Cântico dos
Cânticos” significa o cântico que supera todos os outros cânticos. O Guia
Cristão de Leitura da Bíblia o considera como “um comovente e dramático poema
sobre o desenvolvimento de um relacionamento”. Ilustra o compromisso, a
intimidade e o amor que deve existir no casamento. Refere-se ao plano original
de Deus acerca do relacionamento conjugal. O versículo-chave sintetiza o ideal
da fidelidade entre o marido e a sua mulher: “Eu sou do meu amado, e o meu
amado é meu” (Ct 6.3). Teologicamente, esse amor é entendido “como uma
tipificação do caloroso relacionamento pessoal que Deus deseja ter com a sua
noiva espiritual, composta de todos os crentes redimidos que deram o seu
coração a Ele”.
III – UMA MENSAGEM AO CORAÇÃO
1. Uma Mensagem de Soberania. A soberania
indica o domínio absoluto de Deus sobre todas as obras criadas: a terra, os
céus, a vastidão do universo, os seres espirituais, os animais, os homens, e
sobre todo o curso da história: “Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo
e aqueles que nele habitam” (Sl 24.1); “o Altíssimo tem domínio sobre o reino
dos homens” (Dn 4.25). A soberania é demonstrada, dentre outros atributos, pela
sua Onipotência que executa o plano eterno e opera no controle de tudo e de
todos (Rm 9.15-19).
As Escrituras apresentam o Senhor como “El-Shadday”,
que significa o Deus Todo-Poderoso (Gn 17.1). Seu poder é ilimitado e jamais
poderá ser resistido, impedido ou anulado, seja pelo ser humano, seja pela
natureza ou por seres angelicais (Jó 42.2). Somente Ele pode realizar ou fazer
tudo, conforme o seu entendimento e o beneplácito da sua vontade. Contudo, Ele
não faz nada que contrarie a sua natureza (Hb 6.18). A soberania divina é
exercida para abençoar os piedosos e punir os rebeldes (Rm 11.22).
Lewis Chafer anota que a soberania divina “é
discernida de maneira absoluta pela qual todas as coisas receberam os seus
devidos lugares na criação, no assinalar aos homens sobre o dia deles e sobre a
geração deles assim como os limites da habitação deles, e no exercício da graça
salvadora”. Porém, a soberania não é arbitrária a ponto de tolher o
livre-arbítrio. Todavia, a ação humana é limitada aos desígnios divinos. Dessa
forma, a paciência de Deus renova ao homem oportunidades de arrependimento para
mantê-lo no centro da vontade divina (2 Pe 3.9).
Nesse sentido, ratifica-se que Deus controla o curso
dos acontecimentos, remove e estabelece governos, a um abate, e a outro exalta
visando a um fim auspicioso (Sl 75.7; Dn 2.21; 4.25; Jr 29.11). Por exemplo,
Deus conduziu Josué de forma miraculosa na travessia do Jordão (Js 3.13). Esse
feito extraordinário favoreceu o acesso à Terra Prometida (Js 5.1). Mais tarde,
Deus levantou nações para punir a rebeldia de seu povo e ainda proveu o meio de
escape, a fim de evitar a extinção da nação eleita (Rm 9.29).
Ele proveu o resgate do exílio babilônico ao
remanescente, conforme a promessa feita a Davi (Ed 9.13). Foi Deus quem
conservou a nação de Judá e assim preparou o caminho para a vinda do Messias
prometido (At 13.17-23). Assim sendo, nosso coração deve se aquietar, Ele age
na história e nada acontece fora da sua vontade (Mt 10.29,30). A soberania
divina impede que a insensatez humana ou a malignidade de Satanás exerçam o
controle. Deus é soberano, Ele é a base da paz e da confiança de todo o seu
povo.
2. Uma Mensagem de Sabedoria. Como já visto
nesta obra, a sabedoria é a habilidade de aplicar o conhecimento para fazer
escolhas certas no momento oportuno. Refere-se à prática da prudência que
ultrapassa o mero conhecimento intelectual ou acadêmico. A Bíblia Sagrada
ensina que temer ao Senhor e observar os seus preceitos nos fazem viver como
pessoas sábias (Ef 5.15) e os que rejeitam ao Senhor e sua Palavra vivem na
ignorância (Sl 14.1). Nos chamados livros “sapienciais” ou ‘poéticos”, Deus
inspirou seus autores para nos agraciar com uma mensagem de sabedoria a ser
executada em nosso viver diário.
A fonte dessa sabedoria é o próprio Deus, portanto,
a sabedoria é dada por Ele. Significa que quando alguém recebe a sabedoria foi
porque Deus lhe deu (Pv 2.5,6). O propósito da sabedoria é agradar a Deus e
confiar nEle (Pv 3.5). Os sábios não confiam em si mesmos, antes confiam no
Senhor e na sua soberania que controla o Universo. Dessa forma, todo o conselho
prático está subordinado à sabedoria divina. Dentre eles, citamos: andar
retamente de modo ético e irrepreensível (Pv 2.7); fugir da luxúria e se
conservar puro (Pv 2.16); não ser preguiçoso (Pv 6.6); e, manter boa reputação
(Pv 22.1).
As orientações incluem tomar cuidado no falar. As
palavras precipitadas e descuidadas são um erro a ser corrigido. O sábio pesa o
que fala, mas o tolo se compromete na multidão das palavras (Ec 5.2,3). Uma
pessoa sábia não deve amar ou confiar no dinheiro e nem depositar a sua
esperança nas riquezas materiais (Ec 5.10-12). Ser sábio também denota viver em
contentamento e não em murmuração. Em virtude da brevidade da vida, o homem
deve se alegrar com o fruto de seu trabalho como parte da dádiva divina, (Ec
9.7-10). Igualmente somos aconselhados a remir o tempo, e lembrar-se de Deus
antes de ser chamado para se encontrar com Ele (Ec 12.1-7).
A mensagem bíblica também enaltece a integridade. A
integridade se relaciona com firmeza de caráter e conduta ilibada. Os ensinos
no livro de Jó sobrepujam os padrões de integridade do mundo. O manter-se
íntegro independe das circunstâncias (Jó 1.22). O sofrimento e a dor são uma
realidade, mas Deus provê os meios de cura (Jó 5.17,18). Por conseguinte, somos
exortados a confiar sempre no Senhor (Jó 19.25); e a desfrutar do verdadeiro
amor (Ct 8.7). No entanto, essas ações não devem ser observadas de forma
legalista para evitar o castigo; ao contrário, elas devem ser o resultado do
toque divino no coração humano (Pv 4.23).
3. Uma Mensagem de Adoração. As Escrituras
ensinam que somente o Deus único e verdadeiro deve ser adorado (Êx 20.1-5). A
adoração faz parte do culto prestado a Deus tanto individual como coletivo. Em
geral, os elementos da adoração compreendem a oração, o louvor, os cânticos, o
meditar na Palavra de Deus, dentre outros. O Dicionário Vine esclarece que a
palavra hebraica sãhãh ocorre mais de 170 vezes no Antigo Testamento sendo
“usada como termo comum para se referir a ir diante de Deus em adoração (Jr
7.2)”. No Novo Testamento, o verbo grego proskuneõ é empregado 59 vezes com o
significado de adorar (cf. Mt 2.2,8,11; 4.10; Jo 4.21-24; 9.38; 1 Co 14.25; Hb
1.6; Ap 4.10; 5.14; etc.).
Moisés recebeu o modelo de adoração com ofertas e
sacrifícios (cf. Nm 28.3-8; Lv 23.1ss). Desenvolveu um sistema de adoração
pública com vários elementos: sacrifícios especiais (2 Cr 7.5ss); cerimoniais
específicos (1 Rs 8.14); ministrações de louvor (2 Cr 5.13); oração pública (Dt
26.15); e discursos públicos (Ne 9.3-38). Na Nova Aliança, esses sacrifícios e
ofertas foram abolidos (Hb 20.26), uma vez que Cristo tirou os pecados do mundo
(Jo 1.29). No modelo cristão, a adoração pública envolve: salmos, doutrina,
revelação, língua e interpretação (1 Co 14.26). Porém, exige-se que a adoração
seja em espírito e em verdade (Jo 4.23). A verdadeira adoração é aquela que
procede do interior, a que é do coração (Rm 2.29; Ef 3.16).
Nesse aspecto, os Salmos possuem a peculiaridade de
expressar as mais profundas emoções do coração humano, tais como: medo,
angústia e tristeza (Sl 116.3); força, segurança e alegria (Sl 118.14). Assim,
eles refletem o ideal divino da espiritualidade e da adoração. Entre outros
retratos da vida espiritual, destacam-se: o coração que confia (Sl 3.3); o
coração contrito (Sl 6.1); o coração que glorifica (Sl 8.1); o coração
agradecido (Sl 30.1); e o coração arrependido (Sl 51.1). A fim de manter a
verdadeira adoração em todas as circunstâncias da vida, o salmista descreveu a
conduta por ele adotada: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não
pecar contra ti” (Sl 119.11).
Fonte: BAPTISTA, Douglas. A supremacia das Escrituras: a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p. 103-114.
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