sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

LIÇÃO 9: AS HISTÓRIAS E AS POESIAS FALAM AO CORAÇÃO

 

LIÇÃO 9  – AS HISTÓRIAS E AS POESIAS FALAM AO CORAÇÃO

INTRODUÇÃO

A Bíblia Sagrada faz uso de gêneros literários para expressar a revelação divina. Para contar as histórias do povo de Deus, os livros históricos servem-se da literatura chamada de “narrativa”. As experiências do povo de Deus na conquista e posse da Terra Prometida apontam para a soberania divina. Os livros poéticos e de sabedoria recorrem ao “texto lírico” com o propósito de despertar sentimentos. Os escritos bíblicos em prosa e poesia revelam a sabedoria divina, que deve ser aplicada em nosso viver diário. Essas mensagens servem de bom remédio e conservam saudável o nosso espírito, alma e corpo (Pv 17.22). Em vista disso, neste capítulo, estudaremos as experiências e as instruções relatadas nesses livros, cujas verdades produzem fé e esperança em nossos corações.

I – AS HISTÓRIAS DO ANTIGO TESTAMENTO

1. Os Livros Históricos. A narrativa é um tipo literário que abrange mais de 40% do Antigo Testamento. O termo narrativa é preferido no uso técnico para o registro da história. Toda a narrativa é constituída de enredo, trama e personagens. Contudo, ao contrário das narrativas humanas que, por questões ideológicas, tendem a impor o falso como verdadeiro, a narrativa bíblica é divinamente inspirada, totalmente verídica, Deus é o autor e personagem principal. Gordon Fee enfatiza que elas não são meramente histórias das pessoas que viveram no período da Antiga Aliança. As narrativas “são, antes de tudo, histórias acerca daquilo que Deus fez para aquelas pessoas e através delas”.

Na estrutura e classificação literária da Bíblia Sagrada, os registros da experiência dessas pessoas com Deus, e da posse da Terra Prometida, são chamados de “livros históricos”. Refere-se à segunda seção do Antigo Testamento, imediatamente após o encerramento do Pentateuco. São um total de 12 volumes, que retratam a história de Israel desde a entrada em Canaã (cerca de 1400 a.C.) até o tempo de Esdras e Neemias (cerca de 400 a.C.). Após a morte de Moisés, Deus chamou Josué para liderar o povo na conquista da Terra Prometida (Js 1.1,2). Desse modo, o livro de Josué faz abertura do grupo dos “livros históricos”.

Josué pertencia ao grupo dos doze líderes escolhidos para espiar a Terra Prometida. Ele era da tribo de Efraim e, juntamente com Calebe, exortou o povo a confiar nas promessas (Nm 13.8,16; 14.6- 9). Josué foi comissionado para ser o general do Exército de Israel (Êx 17.8,9); esteve junto no Sinai quando Moisés recebeu as tábuas da Lei (Êx 24.13; 32.17); quando jovem foi encarregado do Tabernáculo (Êx 33.11); e, era o aprendiz e o servidor leal de Moisés (Êx 24.13; Nm 11.28). Foi um oficial comandante vitorioso (Êx 17.13), e um exemplo de fé, confiança, ousadia e coragem (Nm 14.36-38; Nm 32.11,12). Em sua trajetória, Josué foi forjado e aprovado, e, assim, tornou-se o legítimo sucessor de Moisés (Dt 31.23; 34.9)

A narrativa de seu livro relata a história da nação, desde a travessia do Jordão (Js 3.14-17) até a sua morte aos 110 anos de idade (Js 24.29). Durante os 30 anos de sua liderança, Josué alocou uma porção de terra para as tribos de Israel, exceto aos levitas (Js 13.14; 21.43). Contudo, ainda muitíssima terra ficou para possuir (Js 13.1-7). As gerações seguintes, para assegurar a herança, disputaram o espaço com outras nações. Nesse período, Israel experimentou, dentre outros, a fidelidade divina ao desfrutar da promessa feita aos patriarcas (Gn 17.3-8; Êx 3.13-17); a providência divina como na travessia do Jordão e na queda de Jericó (Js 4.7; Js 6.20), a repreensão e o juízo como no caso do anátema (Js 7.5;11;24-25), a proteção e a vitória sobre os inimigos (Js 24.1). Tais relatos demonstram que Deus controla o curso da história (Js 21.45).

2. As Histórias dos Juízes. O título hebraico desse livro em hebraico é “shõphetim” e “kritai” em grego, ambos os termos têm o significado de “juízes”. Refere-se ao modelo de governo adotado pelos israelitas no interlúdio da morte do líder Josué e a coroação de Saul como primeiro rei da nação. Gleason Archer anota que “o tema básico do livro é a falha de Israel como teocracia, no sentido de não ter conseguido lealdade à aliança mesmo sob a liderança de homens escolhidos por Deus, os quais libertavam a nação da opressão do mundo pagão ao derredor”. Séculos depois, as sucessivas falhas em manter fidelidade a Deus e a Lei de Moisés conduziram Israel a instituir um governo monárquico.

Após Josué, os juízes governaram Israel até ao profeta Samuel (At 13.20). Esse período abrange cerca de 400 anos de história com a atuação de doze líderes (Jz 3.11–16.30). Josué, antes de falecer, exortou a nação para não servirem outros deuses, mas cumprir a aliança com Deus (Js 24.14,15). Em resposta, o povo jurou solenemente: “Nunca nos aconteça que deixemos o Senhor para servirmos a outros deuses” (Js 24.16). Esse juramento foi cumprido enquanto viveram os anciãos conterrâneos de Josué (Js 24.31). Passada essa geração, por rebeldia e pela inexistência de uma liderança forte (Jz 18.1), cada um fazia o que achava reto a seus próprios olhos (Jz 21.25).

Por essas razões, a nação entrou em declínio espiritual. Os israelitas não expulsaram todos os povos da terra de Canaã e passaram a coabitar com eles (Js 3.5); em desobediência à Lei, realizavam casamentos mistos com os estrangeiros e serviam os seus deuses pagãos (Js 3.6). A narrativa do livro informa que se esqueceram do seu Deus e “fizeram o que parecia mal aos olhos do Senhor” (Jz 3.7). Como resultado da rebelião, a mistura com os ímpios e a idolatria, os israelitas eram subjugados pelas nações vizinhas (Jz 3.8,12; 6.1; 10.7). Porém, mediante o arrependimento do povo, Deus levantava libertadores para resgatar a Israel da opressão (Jz 3.9,15; 6.7; 10.10).

William Lasor avalia que existe um padrão de comportamento do povo que pode ser observado na história de todos os juízes: “o povo faz o que é mau, servindo a outros deuses. Javé envia uma nação para oprimi-lo. O povo clama a Javé. Javé levanta um libertador. O opressor é derrotado. O povo tem descanso”. Esse padrão é como um círculo vicioso em Israel. A terra sossegava por um determinado tempo, e depois “os filhos de Israel [tornavam] a fazer o que parecia mal aos olhos do Senhor” (Jz 3.12) e todo o processo começava novamente. Essas histórias apontam para a fidelidade e a misericórdia divina; embora o povo fosse infiel, Deus permanecia fiel (2 Tm 2.13).

3. As Histórias dos Reis. Passado o período dos juízes, ocorreu a transição para a monarquia. A história da era dos reis é narrada nos livros de 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas. Os livros de Samuel, dentre outros relatos, mostram a ascensão de Saul e de Davi ao trono de Israel. Os livros de Reis registram o reinado de Salomão, e os reis que se sucederam tanto no Reino do Norte como no Reino do Sul. Os livros das Crônicas, escritos após o retorno de Judá do exílio babilônico, retratam especialmente os sucessivos reis de Judá, mencionando os reis de Israel esporadicamente. Essas narrativas enfatizam que apenas os reis obedientes a Deus eram por Ele abençoados.

A monarquia tem seu início por volta do ano 1050 a.C., quando Deus constituiu a Saul como rei em Israel (1 Sm 8.5; 9.17). Até esse tempo, Israel tinha sido governado diretamente por Deus por meio de seus porta-vozes: Moisés, Josué e os juízes. O último porta-voz do governo teocrático foi Samuel (1 Sm 8.7). A partir da instituição do governo monárquico, os reis passaram a liderar Israel. A designação de um rei não encerrava a aliança de Deus com Israel, embora a motivação do povo estivesse errada (1 Sm 8.20). Contudo, Deus já tinha feito provisão para a monarquia na Lei de Moisés e, assim, manteve o pacto com a nação. Os reis deveriam obedecer à Lei, sujeitar-se à palavra profética de Deus e reinar com justiça (Dt 17.14-20).  

Porém, Saul não observou esses preceitos e o seu reinado fracassou (1 Sm 13.13; 16.1). Então, Deus o substituiu por “um homem segundo o seu coração” (1 Sm 13.14). Davi foi escolhido e recebeu a promessa de um reino que não teria fim (2 Sm 7.16). Essa promessa é conhecida como aliança davídica. Salomão lhe sucedeu no trono e, após a sua morte, o reino se dividiu: Israel no Norte; e Judá no Sul (1 Rs 12.16,17). As histórias do reino dividido enfatizam a atitude de cada rei em seu relacionamento com Deus e sua postura dentro da aliança mosaica. A frase “fez o que era reto” ou o seu oposto “fez o que era mau” é empregada para avaliar o reinado e diferenciar os bons reis dos reis ímpios.

Por fim, ambos os reinos quebraram a aliança com Deus. A lista de pecados cometidos é enorme: idolatria, sincretismo religioso, imoralidade sexual, violência, litígio, injustiça social e jurídica dentre tantos. Como consequência, os dois reinos foram levados para o exílio. Em 722 a.C., Israel foi conquistado pelos assírios. Em 586 a.C., Judá caiu diante da Babilônia. Contudo, em 539 a.C., cumprindo sua promessa, Deus restaurou o trono de Davi. E, do reino de Judá, a esperança messiânica se cumpriu em Jesus (Lc 1.32,33). Essas narrativas mostram que os planos do Senhor não podem ser frustrados (Jó 42.2) e que o bem-estar de uma nação depende da fidelidade com Deus (Sl 33.12).

II – OS LIVROS POÉTICOS (E DE SABEDORIA) DO ANTIGO TESTAMENTO

1. Os Livros Sapienciais e Poéticos. Os livros sapienciais são conhecidos como “livros de sabedoria”. Os livros poéticos são conhecidos como “livros de poesia”. Trata-se de estilo literário empregado na redação do terceiro grupo dos livros do Antigo Testamento. Nesse aspecto, convém esclarecer que essa composição literária não desqualifica a inspiração divina, nem a autoridade ou canonicidade desses escritos bíblicos. A mensagem poética traz sabedoria para o relacionamento com Deus e o viver diário em qualquer época.

Stanley Ellisen informa que “os hebreus identificavam três grandes livros poéticos: Jó, Salmos e Provérbios. Na classificação da Vulgata estão também incluídos os livros didáticos, Eclesiastes e Cantares, perfazendo um total de cinco livros”. Quanto aos livros sapienciais, Jó, Provérbios e Eclesiastes são considerados tanto poéticos como de sabedoria. A poesia veterotestamentária abrange também grande parte dos ditos proféticos ou da literatura sapiencial.

Em relação à importância desses livros, transcrevemos o seguinte:

Esses livros continuam sendo importantes para os cristãos hoje. Seus principais temas — louvor e oração, orientação para uma vida santa, nosso relacionamento com Deus e com as pessoas ao nosso redor — e sua linguagem forte, evocativa, continuam a moldar o coração e a mente do povo de Deus. Ao lermos Salmos, meditarmos em Provérbios, nos comovermos com a beleza de Cantares de Salomão e nos esforçarmos para entender tópicos difíceis de Jó e Eclesiastes, o Espírito Santo transforma e renova nosso coração e nossa mente.

Em suma, esses escritos ensinam a sabedoria por meio da poesia ou da prosa. Eclesiastes foi escrito quase todo em prosa, e os outros livros foram redigidos, em sua maioria, em forma de poesia. De modo geral, a prosa retrata o modo como normalmente falamos. E a poesia expressa sentimentos e pensamentos mediante versos que atingem o intelecto e as emoções. Na Bíblia, esse gênero literário trata da aplicação da verdade divina à experiência humana, refere-se à sabedoria prática mais do que teórica (Jó 28.28; Sl 19.7; Pv 23.12; Ec 7.12, Ct 8.7).

2. Eclesiastes, Provérbios e Jó O título de Eclesiastes é uma tradução grega do hebraico qôhelet, significando “aquele que convoca uma congregação” a fim de pregar para ela. Por isso, a expressão “pregador” usada por alguns é perfeitamente adequada (Ec 1.1). O livro afirma “que sua sabedoria vem do ‘único pastor’, e que ao ultrapassar os limites de tal sabedoria, o pretendente a sábio deve exercer o máximo de cuidado (Ec 12.11ss)”. Essa declaração reivindica sua inspiração divina. A expressão “único pastor” é referência a um dos títulos divinos. O tema de Eclesiastes está na frase “é tudo vaidade” (Ec 1.2). Indica a efemeridade e a futilidade da vida humana. O pregador convida seus leitores a abandonar a confiança na visão secular da vida. Por isso, ao final, o autor declara que o sentido e o verdadeiro significado da vida é “teme a Deus e guarda os seus mandamentos” (Ec 12.13).

O título de Provérbios é uma tradução grega do hebraico mãshãl, que deriva de uma raiz que significa “ser como” ou “comparado com”. Desse modo, entende-se que o propósito do autor é apresentar o contraste existente em uma vida de sabedoria e uma vida de insensatez. Corrobora com essa compreensão a introdução do livro quando o autor estabelece seu objetivo: “para se conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem as palavras da prudência” (Pv 1.2). Provérbios oferece aos seus leitores a oportunidade de fazer a escolha pela sabedoria. Em vista disso, o tema de Provérbios afiança que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9.10). Ensina que observar os princípios divinos nos faz pessoas sábias. Portanto, ao concluir, o escritor enfatiza que uma pessoa temente a Deus é digna de ser honrada (Pv 31.30).

O título de Jó é tradução do hebraico `iyyôb, que parece significar “onde está meu pai?”. O livro narra a experiência de um personagem real. O escritor registra que Jó alcançou o testemunho de ser um servo “íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal” (Jó 1.8, NAA). Apesar de sua vida justa, Jó experimentou muita dor e sofrimento. Inexplicavelmente, ele perdeu todas as suas posses (Jó 1.13-17); tragicamente perdeu todos os seus filhos (Jó 1.18,19) e inesperadamente foi atingido por uma dolorosa doença (Jó 2.7,8). Portanto, o tema de Jó é o sofrimento do justo (Jó 1.21). Mostra que a dor não é racional, que o sofrimento nem sempre é resultado de algum pecado. Por isso, se faz necessário sempre confiar na sabedoria do Senhor. Em última instância, Jó reconheceu que a aflição o aproximou de Deus (Jó 42.5).

3. Salmos e Cantares de Salomão. O título de Salmos reflete o grego Psalmoi, que designa o nome do livro na Septuaginta (LXX). Outro título grego por vezes empregado é Psalterion, que, na forma aportuguesada, é transliterado como “Saltério”. Ambos os termos entraram em nossas Bíblias pela Vulgata latina, que transliterou o grego. O termo Psalmoi descreve “um cântico ou um louvor”, e o Psalterion indica “uma coleção de cânticos ou louvores”. No Novo Testamento, o evangelista e historiador Lucas utiliza o título grego completo — “livro de Salmos” (Lc 20.42; At 1.20). A obra completa é uma coletânea de 150 poemas distribuídos em cinco livros: Livro 1 (Sl 1–41); Livro 2 (Sl 42–72); Livro 3 (Sl 73–89); Livro 4 (Sl 90–106); Livro 5 (Sl 107–150).

A autoria dos salmos é atribuída a vários escritores distintos. Dentre eles, citam-se os setenta e três salmos que são reputados ao rei Davi, o que equivale a quase metade deles; dois salmos são de autoria do rei Salomão (Sl 72 e 127); ao menos um salmo é de Moisés (Sl 90); doze salmos são atribuídos a Asafe (Sl 50; 73–83); dez salmos são dos filhos de Coré (Sl 42; 44–45; 47–49; 84–85; 87– 88). Os tradutores da LXX atribuíram a profetas a autoria de alguns dos Salmos, tais como Jeremias (Sl 137), Ageu (Sl 146), Zacarias (Sl 147), e outros salmos são de ilustres anônimos chamados de “salmos órfãos”. Não obstante, reitera-se que a diversidade de autores não invalida a autoridade dos ensinos e nem a inspiração divina da totalidade do livro de Salmos.

Outro aspecto a frisar é que o título hebraico para “Salmos” é tehillim, com o significado de “louvores” ou “cânticos de louvor”. E era com essa finalidade utilizado pelos israelitas em suas liturgias. O cântico sempre esteve presente na história de Israel. A nação cantava em todas as situações, por vezes acompanhada por algum instrumento musical (Êx 5.20; Nm 21.17, 27; Jz 5.1; 2 Sm 1.17; Am 5.23). Assim sendo, a mensagem principal dos Salmos é o louvor, a oração e a adoração. Também é um livro de instrução, porque nos mostra como servir ao Senhor. E ainda fala profeticamente acerca do Messias. Nesses aspectos, considera-se como verso-chave Salmo 29.2: “Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome; adorai o Senhor na beleza da sua santidade”.

O livro de Cantares de Salomão ou “Cântico dos Cânticos” significa o cântico que supera todos os outros cânticos. O Guia Cristão de Leitura da Bíblia o considera como “um comovente e dramático poema sobre o desenvolvimento de um relacionamento”. Ilustra o compromisso, a intimidade e o amor que deve existir no casamento. Refere-se ao plano original de Deus acerca do relacionamento conjugal. O versículo-chave sintetiza o ideal da fidelidade entre o marido e a sua mulher: “Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu” (Ct 6.3). Teologicamente, esse amor é entendido “como uma tipificação do caloroso relacionamento pessoal que Deus deseja ter com a sua noiva espiritual, composta de todos os crentes redimidos que deram o seu coração a Ele”.

III – UMA MENSAGEM AO CORAÇÃO

1. Uma Mensagem de Soberania. A soberania indica o domínio absoluto de Deus sobre todas as obras criadas: a terra, os céus, a vastidão do universo, os seres espirituais, os animais, os homens, e sobre todo o curso da história: “Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Sl 24.1); “o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens” (Dn 4.25). A soberania é demonstrada, dentre outros atributos, pela sua Onipotência que executa o plano eterno e opera no controle de tudo e de todos (Rm 9.15-19).

As Escrituras apresentam o Senhor como “El-Shadday”, que significa o Deus Todo-Poderoso (Gn 17.1). Seu poder é ilimitado e jamais poderá ser resistido, impedido ou anulado, seja pelo ser humano, seja pela natureza ou por seres angelicais (Jó 42.2). Somente Ele pode realizar ou fazer tudo, conforme o seu entendimento e o beneplácito da sua vontade. Contudo, Ele não faz nada que contrarie a sua natureza (Hb 6.18). A soberania divina é exercida para abençoar os piedosos e punir os rebeldes (Rm 11.22).

Lewis Chafer anota que a soberania divina “é discernida de maneira absoluta pela qual todas as coisas receberam os seus devidos lugares na criação, no assinalar aos homens sobre o dia deles e sobre a geração deles assim como os limites da habitação deles, e no exercício da graça salvadora”. Porém, a soberania não é arbitrária a ponto de tolher o livre-arbítrio. Todavia, a ação humana é limitada aos desígnios divinos. Dessa forma, a paciência de Deus renova ao homem oportunidades de arrependimento para mantê-lo no centro da vontade divina (2 Pe 3.9).

Nesse sentido, ratifica-se que Deus controla o curso dos acontecimentos, remove e estabelece governos, a um abate, e a outro exalta visando a um fim auspicioso (Sl 75.7; Dn 2.21; 4.25; Jr 29.11). Por exemplo, Deus conduziu Josué de forma miraculosa na travessia do Jordão (Js 3.13). Esse feito extraordinário favoreceu o acesso à Terra Prometida (Js 5.1). Mais tarde, Deus levantou nações para punir a rebeldia de seu povo e ainda proveu o meio de escape, a fim de evitar a extinção da nação eleita (Rm 9.29).

Ele proveu o resgate do exílio babilônico ao remanescente, conforme a promessa feita a Davi (Ed 9.13). Foi Deus quem conservou a nação de Judá e assim preparou o caminho para a vinda do Messias prometido (At 13.17-23). Assim sendo, nosso coração deve se aquietar, Ele age na história e nada acontece fora da sua vontade (Mt 10.29,30). A soberania divina impede que a insensatez humana ou a malignidade de Satanás exerçam o controle. Deus é soberano, Ele é a base da paz e da confiança de todo o seu povo.  

2. Uma Mensagem de Sabedoria. Como já visto nesta obra, a sabedoria é a habilidade de aplicar o conhecimento para fazer escolhas certas no momento oportuno. Refere-se à prática da prudência que ultrapassa o mero conhecimento intelectual ou acadêmico. A Bíblia Sagrada ensina que temer ao Senhor e observar os seus preceitos nos fazem viver como pessoas sábias (Ef 5.15) e os que rejeitam ao Senhor e sua Palavra vivem na ignorância (Sl 14.1). Nos chamados livros “sapienciais” ou ‘poéticos”, Deus inspirou seus autores para nos agraciar com uma mensagem de sabedoria a ser executada em nosso viver diário.

A fonte dessa sabedoria é o próprio Deus, portanto, a sabedoria é dada por Ele. Significa que quando alguém recebe a sabedoria foi porque Deus lhe deu (Pv 2.5,6). O propósito da sabedoria é agradar a Deus e confiar nEle (Pv 3.5). Os sábios não confiam em si mesmos, antes confiam no Senhor e na sua soberania que controla o Universo. Dessa forma, todo o conselho prático está subordinado à sabedoria divina. Dentre eles, citamos: andar retamente de modo ético e irrepreensível (Pv 2.7); fugir da luxúria e se conservar puro (Pv 2.16); não ser preguiçoso (Pv 6.6); e, manter boa reputação (Pv 22.1).

As orientações incluem tomar cuidado no falar. As palavras precipitadas e descuidadas são um erro a ser corrigido. O sábio pesa o que fala, mas o tolo se compromete na multidão das palavras (Ec 5.2,3). Uma pessoa sábia não deve amar ou confiar no dinheiro e nem depositar a sua esperança nas riquezas materiais (Ec 5.10-12). Ser sábio também denota viver em contentamento e não em murmuração. Em virtude da brevidade da vida, o homem deve se alegrar com o fruto de seu trabalho como parte da dádiva divina, (Ec 9.7-10). Igualmente somos aconselhados a remir o tempo, e lembrar-se de Deus antes de ser chamado para se encontrar com Ele (Ec 12.1-7).

A mensagem bíblica também enaltece a integridade. A integridade se relaciona com firmeza de caráter e conduta ilibada. Os ensinos no livro de Jó sobrepujam os padrões de integridade do mundo. O manter-se íntegro independe das circunstâncias (Jó 1.22). O sofrimento e a dor são uma realidade, mas Deus provê os meios de cura (Jó 5.17,18). Por conseguinte, somos exortados a confiar sempre no Senhor (Jó 19.25); e a desfrutar do verdadeiro amor (Ct 8.7). No entanto, essas ações não devem ser observadas de forma legalista para evitar o castigo; ao contrário, elas devem ser o resultado do toque divino no coração humano (Pv 4.23).

3. Uma Mensagem de Adoração. As Escrituras ensinam que somente o Deus único e verdadeiro deve ser adorado (Êx 20.1-5). A adoração faz parte do culto prestado a Deus tanto individual como coletivo. Em geral, os elementos da adoração compreendem a oração, o louvor, os cânticos, o meditar na Palavra de Deus, dentre outros. O Dicionário Vine esclarece que a palavra hebraica sãhãh ocorre mais de 170 vezes no Antigo Testamento sendo “usada como termo comum para se referir a ir diante de Deus em adoração (Jr 7.2)”. No Novo Testamento, o verbo grego proskuneõ é empregado 59 vezes com o significado de adorar (cf. Mt 2.2,8,11; 4.10; Jo 4.21-24; 9.38; 1 Co 14.25; Hb 1.6; Ap 4.10; 5.14; etc.).

Moisés recebeu o modelo de adoração com ofertas e sacrifícios (cf. Nm 28.3-8; Lv 23.1ss). Desenvolveu um sistema de adoração pública com vários elementos: sacrifícios especiais (2 Cr 7.5ss); cerimoniais específicos (1 Rs 8.14); ministrações de louvor (2 Cr 5.13); oração pública (Dt 26.15); e discursos públicos (Ne 9.3-38). Na Nova Aliança, esses sacrifícios e ofertas foram abolidos (Hb 20.26), uma vez que Cristo tirou os pecados do mundo (Jo 1.29). No modelo cristão, a adoração pública envolve: salmos, doutrina, revelação, língua e interpretação (1 Co 14.26). Porém, exige-se que a adoração seja em espírito e em verdade (Jo 4.23). A verdadeira adoração é aquela que procede do interior, a que é do coração (Rm 2.29; Ef 3.16).

Nesse aspecto, os Salmos possuem a peculiaridade de expressar as mais profundas emoções do coração humano, tais como: medo, angústia e tristeza (Sl 116.3); força, segurança e alegria (Sl 118.14). Assim, eles refletem o ideal divino da espiritualidade e da adoração. Entre outros retratos da vida espiritual, destacam-se: o coração que confia (Sl 3.3); o coração contrito (Sl 6.1); o coração que glorifica (Sl 8.1); o coração agradecido (Sl 30.1); e o coração arrependido (Sl 51.1). A fim de manter a verdadeira adoração em todas as circunstâncias da vida, o salmista descreveu a conduta por ele adotada: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Sl 119.11).

Fonte: BAPTISTA, Douglas. A supremacia das Escrituras: a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p. 103-114.

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