LIÇÃO 8 – A LEI E OS EVANGELHOS REVELAM JESUS
INTRODUÇÃO
Significa que a Lei não salva, mas esboça o plano da
redenção em Cristo confirmado nos Evangelhos. A obra expiatória do Senhor Jesus
nos libertou da condenação da Lei (Gl 3.10-13). Nesse sentido, todo o sistema
mosaico foi abolido. Nos Evangelhos, as boas-novas dessa salvação estão
reveladas. Em suma, as obras da Lei não justificam, mas pela graça somos
salvos, por meio do arrependimento e da fé em Jesus Cristo. Neste capítulo,
estudaremos a relação entre o Pentateuco e a mensagem de Cristo.
I – O PENTATEUCO: A LEI DE DEUS
1. Os Cinco Livros da Lei. Pentateuco é uma
palavra que deriva de dois termos gregos, penta (cinco) e teuchos (estojo para
o rolo de papiro). A junção desses termos tradicionalmente significa “cinco
volumes”. Stanley Ellisen informa que “os livros antigos eram escritos em
rolos, geralmente de nove metros de comprimento, mais ou menos o tamanho
necessário para acomodar de Gênesis até Deuteronômio”. Portanto, a expressão
“pentateuco” corresponde ao conjunto formado pelos cinco primeiros livros do
Antigo Testamento.
O título desses livros corresponde à primeira
palavra do texto hebraico, e na língua portuguesa obedece à tradução do grego
da Septuaginta: Gênesis (“começo”), versão do hebraico bereshit (“no
princípio”); Êxodo (“saída”), versão do hebraico Shemôt (“os nomes de”);
Levítico (“aquilo que é dos levitas”), versão do hebraico wayyiqrã (“E Ele
chamou”); Números (“aritmética, números, estatística”) versão do hebraico
“Bemidbãr” (“no deserto de”); Deuteronômio (“segunda promulgação da lei”),
versão do hebraico “Debãrim” (“palavras”).
No texto hebraico, e pelos judeus ainda hoje, esses
volumes são denominados de “Torá” com o sentido de “instrução, ensino, direção,
orientação”. A Torá assume o significado genérico de “livro da lei”, com
abrangência de todas as normas (Dt 4.44; 17.18; 31.9) e está associado ao nome
de Moisés (Js 8.31,32; 23.6; 2 Rs 14.6).
O historiador judeu do século I Flávio Josefo
menciona, centenas de vezes, Moisés como o autor do livro de Gênesis. Dentre
elas, cita-se: “Moisés fala ainda mais particularmente da criação do homem
[...]”, “Moisés narra em seguida como Deus plantou do lado do oriente um jardim
muito delicioso [...]”.
Quanto aos outros livros do Pentateuco, Josefo
relata: “Assim falou Moisés a todos os israelitas e deu-lhes um livro, no qual
estavam escritas as leis e a maneira de viver que deveriam observar”. 4 E, no
comentário de Deuteronômio 22, Josefo escreve: “essas foram as leis que Moisés
deixou à nossa nação. Ele deu também as que havia escrito quarenta anos antes,
das quais falar-se-á em outro lugar”.
Com essas evidências, em resposta à alta crítica que
questiona a concepção do Pentateuco, Stanley Elissen avalia que “rejeitar a
autoria de Moisés é rejeitar o testemunho universal dos escritores bíblicos e
solapar a credibilidade do Pentateuco e do resto da Bíblia. É da autoria de
Moisés, e não apenas um ‘mosaico’ de diferentes autores”. Em vista disso, o
melhor é permitir que a Escritura fale por si mesma.
Nas páginas da Bíblia Sagrada, a totalidade do
Pentateuco é identificada como: a “Lei” (Êx 24.12; Mt 5.17); o “livro de
Moisés” (Mc 12.26); a “Lei de Moisés” (Js 8.31,32; Lc 2.22; At 13.39); a “Lei
de Deus” (Ne 8.8; Rm 7.22); a “Lei do Senhor” (Ne 10.29) ou simplesmente
“Moisés” (Lc 24.27); e a todo o Antigo Testamento como “Moisés e os profetas”
(Lc 16.29). Por fim, o próprio Senhor Jesus ratificou a autoria do Pentateuco
quando disse: “convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na
Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos” (Lc 24.44).
2. A Grandeza da Lei. Estuda-se a Lei, de
modo didático, sob três aspectos: (a) morais, que possuem validade permanente
para todos os povos porque “tratam dos princípios básicos morais sem
concessão”; (b) cerimoniais, que tratam da liturgia dos judeus e compreendem as
“festividades religiosas, o sistema de sacrifício e da adoração no santuário,
os alimentos limpos e imundos e as instruções sobre a pureza ritual, entre
outros preceitos”; e, (c) civis, que dizem respeito à responsabilidade do
israelita como cidadão, tais como os “regulamentos jurídicos e instruções que
regiam a nação de Israel”. Contudo, na verdade, essas três partes integram uma
mesma Lei, isto é, a Lei de Moisés — o Pentateuco.
Henrietta Mears resume cada livro do Pentateuco em
uma frase, a saber: “em Gênesis o mundo foi feito, em Êxodo se narra a marcha,
Levítico contém a Lei, em Números as tribos são contadas, em Deuteronômio a Lei
é repetida”. Em concordância com essas sentenças, a Declaração de Fé das
Assembleias de Deus ensina que “a Lei de Moisés” é o mais importante código de
leis da antiguidade por sua santidade, por seu caráter espiritual e por sua
autoridade divina: “a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom [...] a
lei é espiritual” (Rm 7.12,14). Contudo, enfatiza o documento doutrinário que a
grandeza da Lei vai além de tudo isso, pois nela Deus esboça o plano da
redenção humana em Cristo: “Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo
aquele que crê” (Rm 10.4).
3. A Lei e a Fé Cristã. A Escritura afirma
que a função da Lei era transitória (Hb 10.1). O texto de Hebreus descreve que
a Lei não passava de uma sombra, e não a imagem exata das coisas, e que a
necessidade de oferecer sacrifícios ano após ano demonstra a ineficácia do
ritual levítico. O autor da Epístola já tinha declarado que a Lei nada
aperfeiçoou (Hb 7.19). Essa é uma declaração que atesta a insuficiência da
antiga aliança para efetuar a redenção da humanidade. Por isso, pela Lei
ninguém será justificado diante de Deus (Gl 3.11).
Donald Hagner destaca que “a lei era apenas um
estágio antecipatório dos bens futuros, não possuía em si mesma significado
duradouro, ou final”. Martinho Lutero ensinou que “a função primária da lei de
Moisés consistia em fazer com que as pessoas se sentissem culpadas, para que
reconhecessem sua pecaminosidade e aceitassem que mereciam a ira de Deus”. O
apóstolo Paulo assevera que a Lei era uma medida temporária, ela foi dada para
revelar e punir o pecado, e assim demonstrar a necessidade da graça (Gl 3.19).
Nessa perspectiva, a Lei encerrou a toda a
humanidade debaixo do pecado (Gl 3.22,23). Assim sendo, ninguém pode ser salvo
pelas obras da Lei (Gl 2.16). Não obstante, a Lei também serviu de “aio” para
nos conduzir à redenção em Cristo (Gl 3.24). Rudolf Gwalther pondera que a Lei
“não se opõe a Cristo, antes nos leva a Ele e incentiva a nos voltarmos para
Ele”. Desse modo, a Lei nos faz conscientes do pecado e nos leva a buscar
refúgio e misericórdia em Deus.
Nesse aspecto, a obra de Cristo nos resgatou da
maldição da Lei (Gl 3.13), e nos deu vida mediante o Evangelho (2 Tm 1.10).
Somente quando Cristo veio, a Lei finalmente foi cumprida (Mt 5.17- 20). A
revelação divina se consumou em Cristo (Hb 1.1,2). Cristo, o único sem pecado é
mediador de um melhor concerto, de uma Nova Aliança: a dispensação da graça (Ef
3.2; Hb 4.15; 8.6; 12.24). Agora, livres do jugo da Lei, vivemos debaixo da
graça divina (Rm 6.14). E, todo aquele que permanece em Cristo não vive
pecando, porque é nascido de Deus (1 Jo 3.6,9).
II – OS EVANGELHOS: A MENSAGEM DE CRISTO
1. O Conceito de Evangelho. O termo
“evangelho” tem origem no grego evangelion com o significado de “boas novas”.
Refere-se à mensagem do Reino de Deus e da salvação por meio de Cristo (At
15.7; 20.24). Seus autores são chamados de evangelistas, que significa
“portadores de boas-novas”. Benito Marconcini sublinha que os evangelistas
“empregam um gênero literário novo e único que os distingue de qualquer obra
daquela época e até mesmo dos outros escritos neotestamentários”.
De fato, os Evangelhos se destacam entre as
Escrituras como o principal testemunho sobre a vida, morte e ressurreição de
Jesus. Philip Comfort enfatiza que os Evangelhos “mantêm consistentemente o
foco das atenções em Jesus, sendo o propósito óbvio da narrativa contar a história
dos ensinamentos e obras dEle [...] Mais de um quarto dos relatos é tributado
ao julgamento, crucificação e ressurreição de Jesus”.
Os três primeiros, Mateus, Marcos e Lucas, são
chamados de Evangelhos “Sinóticos”. Esse adjetivo, “sinótico”, vem do termo
grego “synopsis”, que significa “ver em conjunto”. A designação passou a ser
utilizada a partir do século XVIII em razão do alto grau de semelhança desses
evangelistas nas narrativas do ministério de Jesus. Os Sinóticos registram,
especialmente, o ministério de Jesus na Galileia e se concentram nas curas,
exorcismos e o ensino por parábolas.
D. A. Carson oferece uma sequência geográfica geral
comum, a saber: ministério na Galileia, retirada para o norte, ministério na
Judeia e Pereia, e o ministério final em Jerusalém. O quarto Evangelho, João,
tem peculiaridades próprias e enfatiza o ministério de Cristo na Judeia,
especialmente nas visitas periódicas de Jesus a Jerusalém. O discípulo amado
registra algumas curas significativas, mas não faz referência aos exorcismos e
às parábolas. João destaca os discursos mais profundos do Senhor Jesus.
Ressalta-se que, embora retratada de modo distinto,
a mensagem do evangelho é única (Gl 1.8). Há somente um evangelho, apresentado
de quatro maneiras. É indispensável lembrar que os Evangelhos não têm o
propósito de fornecer um diário detalhado com o registro de todas as ações e
ensinos de Jesus.
O evangelista João afirmou que havia “muitas outras
coisas que Jesus fez; e, se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem
ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem” (Jo 21.25),
reiterou que muitos sinais de que Jesus fez não estavam escritos no seu
Evangelho (Jo 20.30), mas que os que estavam registrados serviam para despertar
a fé: “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31). O Guia Cristão de Leitura da
Bíblia ratifica que os Evangelhos “não são biografia de Jesus e não nos
fornecem todas as informações que poderíamos desejar ter. Entretanto, contêm
tudo que precisamos saber a fim de compreender a relevância de Jesus e do que
Ele fez por nós”.
2. A Mensagem do Reino de Deus. Em Mateus, o
Senhor Jesus, após o batismo nas águas (Mt 3.16) e sua vitória na tentação do
deserto (Mt 4.11), deu início ao seu ministério público e passou a pregar a
chegada do “Reino dos céus” (Mt 4.17). A expressão “Reino dos céus” aparece 32
vezes no Evangelho de Mateus, em contrapartida a expressão “Reino de Deus” é
usada apenas 5 vezes (Mt 6.33; 12.28; 19.24; 21.31,43).
Alguns estudiosos do Novo testamento tentaram
estabelecer uma diferença entre essas duas expressões, porém, Warren Wiersbe
anota que “por uma questão de reverência ao nome santo do Senhor, os judeus não
pronunciavam o nome Deus, substituindo-o por céus”. David Stern salienta que “a
palavra céus era utilizada numa tentativa de evitar a palavra Deus; e até os
dias de hoje, a expressão o reino dos céus na religião substitui na literatura
religiosa judaica reino de Deus”. Em suma, a expressão “Reino dos céus” é
reverente substituição para “Reino de Deus”.
Nos demais Evangelhos Sinóticos, a pregação do Reino
também aparece como tema central da mensagem de Cristo. Em diversos textos em
que Mateus emprega a frase “Reino dos céus”, Marcos e Lucas usam “Reino de
Deus” (Mc 1.15; Lc 4.43). Todos os Sinóticos registram que a condição de
entrada no Reino é o arrependimento: “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino
dos céus” (Mt 4.17); “arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15); “eu não vim
chamar os justos, mas sim os pecadores, ao arrependimento” (Lc 5.32).
João Batista, o percursor de Jesus, já exortava o
povo ao arrependimento em vista do Reino de Deus que chegava (Mt 3.2; Mc 1.4;
Lc 3.3). O Senhor Jesus, durante o seu ministério, constantemente alertava a
seus ouvintes acerca da necessidade do arrependimento (Mt 9.13; 11.21; 21.32;
Mc 6.12; Lc 13.3,5; 15.7). Robert Mounce elucida que, “para participar do Reino
de Deus, o arrepender-se não era apenas sentir tristeza por causa de alguma coisa,
mas envolvia uma real mudança de direção”.
No seu Evangelho, João usa a expressão “Reino de
Deus” (Jo 3.3,5). Em seus registros, o evangelista esclarece que o Reino de
Deus não é deste mundo (Jo 18.36). Cristo ensinou que a natureza desse Reino não
é terrena. Esse Reino está estabelecido no interior das pessoas (Lc 16.20,21).
A riqueza, a autoridade e a glória desse Reino são espirituais (Mt 26.53).
Contudo, os judeus esperavam um líder político que os libertasse do jugo
romano, mas Jesus veio exercer soberania espiritual no coração do povo para os
libertar do jugo do pecado (Mt 18.11; Mc 8.36; Lc 19.10; Jo 6.15). Não
obstante, essa verdade não nega a realidade do Reino vindouro (Lc 22.30).
O anúncio da chegada do Reino constatava que as
profecias messiânicas se cumpriram em Cristo (Lc 4.18-21). Os Evangelhos
apresentam Jesus com os títulos messiânicos, tais como Filho de Davi, Rei dos
Judeus, Filho de Deus, Cristo, Salvador e Senhor (Mt 1.1; 2.2; Mc 1.1; Lc 2.11;
Jo 1.41). Sua vinda inaugura o começo do Reino e requer a conversão dos
pecadores (Jo 3.5). O Reino abrange a obra Redentora de Cristo e a sua promessa
de voltar (Jo 8.28; 14.3). O Reino aponta para a soberania de Deus sobre todas
as coisas, agora no presente (Lc 17.21) e igualmente no Reino futuro, que será
tanto temporal quanto espiritual (Lc 1.33).
3. A Mensagem da Salvação. Como já observado,
Jesus é identificado por vários títulos messiânicos. Nesse ponto, destacamos as
expressões contidas no anúncio angelical: Salvador, Cristo e Senhor (Lc 2.11).
Ao se dirigir aos pastores no campo, o anjo enfatiza a obra salvífica de Jesus.
Em diversas outras passagens, essa mensagem de Jesus como o Salvador do pecado
é repetida nos Evangelhos (Mt 1.21; 4.15,16; 12.21; 20.28; Mc 10.45; Lc
1.78,79; 19.10; 11.19,20; Jo 3.16,17; 4.10,14; 5.25; 6.50,51; 7.37,38). A
expressão Cristo significa “ungido”. Jesus é anunciado como o Messias e
libertador de Israel (Jo 1.41; 4.25). O termo Senhor não é meramente pronome de
tratamento; refere-se a um título divino. Por isso, para o cristão existe um só
Senhor, Jesus Cristo (1 Co 8.6).
O evangelista Mateus registra que Jesus veio para
salvar o povo de seus pecados (Mt 1.21). Aqui convém lembrar que o nome “Jesus”
é oriundo da expressão hebraica “Iavé salva” ou “Iavé é salvação” e aponta para
a sua nobre missão. O propósito da vinda de Jesus se revela no nome que lhe foi
dado, isto é, Ele veio salvar os pecadores (1 Tm 1.15). O evangelista Marcos
afirma que é preciso crer em Cristo para ser salvo (Mc 16.16). Nossa Declaração
de Fé ensina que “somente a fé na morte expiatória de Jesus e o arrependimento
podem remir o pecador e levá-lo ao Criador. Essa salvação é um ato da graça
soberana de Deus pelo mérito de Jesus Cristo e não vem das obras (Ef 2.8,9)”. Dessa
forma, reitera-se que a salvação está disponível a todos os que creem, estando
condicionada à fé e ao arrependimento em Cristo Jesus.
O evangelista Lucas assevera que Jesus veio salvar o
que estava perdido (Lc 19.10). Esse ensinamento ocorreu em casa de Zaqueu, o corrupto
cobrador de impostos. Depois de crer no Salvador, o publicano demonstrou sua fé
ao prometer indenizar as pessoas que tinha defraudado (Lc 19.8). A fé salvadora
transformou o caráter daquele homem que outrora era ganancioso e materialista.
Diante dessa mudança, disse-lhe Jesus: “Hoje, veio a salvação a esta casa” (Lc
19.9). Em passagens similares, Cristo ensinou que seu principal ofício era
curar os doentes e buscar os pecadores (Mt 9.12; Mc 2.17; Lc 5.31). Craig Evans
sublinha que “Jesus chama a todos ao arrependimento: religiosos e irreligiosos,
sadios e doentes, ricos e pobres”.
O evangelista João esclarece que Jesus é o salvador
do mundo (Jo 4.42). O contexto dessa declaração envolvia os samaritanos que
creram nEle por causa da sua Palavra (Jo 4.41). Significa que a graça salvífica
está disponível para todos os homens (Tt 2.11). Por isso, a mensagem da
salvação é um ato do amor e da graça divina pelos méritos de Cristo, que foi
enviado pelo Pai “para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3.16,17). Em vista
disso, ratifica-se que os elementos dessa salvação incluem fé no sacrifício de
Cristo, arrependimento de pecados e novo nascimento (Jo 3.3,15). Nesse sentido,
Cristo declarou: “aquele que crê em mim tem a vida eterna” (Jo 6.47).
III – UMA MENSAGEM TRANSFORMADORA
1. A Transformação do Caráter. O caráter é
definido como “a maneira própria de cada pessoa agir e expressar-se”. Nicola
Abbagnano define o caráter como “o modo de ser ou de comportar-se habitual e
constante de uma pessoa, na medida que individualiza e distingue a mesma
pessoa.
O caráter é a marca distintiva de cada pessoa que
regula a sua forma de pensar, de sentir, de desejar, de proceder e reagir de
forma habitual. Em vista disso, a pessoa dotada de um caráter firme mantém sua
postura, persegue o mesmo ideal e não se move facilmente de seus princípios. De
outro lado, a pessoa de um caráter volúvel frequentemente oscila na forma de
agir, sua postura muda de acordo com as circunstâncias. Essa atitude demonstra
a fraqueza e a hipocrisia de um caráter malformado.
Antonio Gilberto pondera que “o caráter é um
componente da personalidade. É adquirido e não herdado. Resulta da adaptação
progressiva do temperamento às condições do meio-ambiente: o lar, a escola, a
igreja, a comunidade e o estado socioeconômico”. Portanto, o caráter pode ser
forjado, mudado e transformado.
Na Lei de Moisés, o Decálogo, ou os Dez Mandamentos,
apresenta as orientações básicas para o modo de viver e agir dos israelitas (Êx
20.1-17). Os três primeiros mandamentos dizem respeito à teologia e os demais
se referem a ética. A ética são os fundamentos da moral. A ética e a moral
referem-se ao conjunto de costumes, valores e obrigações adotados em uma
sociedade. Os princípios éticos e morais do Decálogo também são aplicados nos
Evangelhos (Mc 10.19), exceto a guarda do sábado (Mt 12.2-4). Contudo, a mera
observância de códigos não pode salvar a ninguém (Lc 18.18-24).
Somente a graça divina é capaz de transformar o
caráter humano. A mudança de caráter implica mudança de comportamento. Como já
visto, quando o caráter de Zaqueu foi curado, ele mudou radicalmente de postura
(Lc 19.8; cf. Ef 4.28-31). Hebreus nos adverte que, sem mudança de vida,
ninguém verá a Deus (Hb 12.14). Paulo descreve que o poder transformador do
evangelho opera em nós de glória em glória (2 Co 3.18). Por meio da ação do
Espírito Santo, e da obediência ao evangelho, o homem pode compartilhar a
natureza do caráter de Deus (Mt 5.48). Desse modo, a mensagem do evangelho de
Cristo produz substancial mudança no caráter do cristão (Lc 19.8,9).
2. A Restauração da Família. A Constituição
Federal do Brasil prescreve que “para efeito da proteção do Estado, é
reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”. Assim, o conceito
constitucional de família tem sua base compreensiva nas relações monogâmicas e
heterossexuais.
No livro de Gênesis, Deus instituiu a família com
princípios reguladores da monogamia e da heterossexualidade (Gn 1.27; 2.24).
Porém, desde cedo, parte dos homens negligenciaram essa ordenança divina.
Lameque instituiu a poligamia (Gn 4.19). As cidades de Sodoma e Gomorra
praticavam promiscuidade sexual, incluindo a homossexualidade, e, por isso,
foram destruídas para servir de exemplo aos que vivem de modo desordenado (Gn
19.24; 2 Pe 2.6).
Somada a essas práticas, a dissolução do casamento
por qualquer motivo era autorizada pela Lei Mosaica (Dt 24.1-4). Essas
concessões banalizavam a união conjugal, e provocava rupturas na família. Nos
Evangelhos, Cristo restaura o propósito divino para o casamento: a união
monogâmica e indissolúvel entre um homem e uma mulher (Gn 1.27; 2.24; Mt
19.4,5). Nesse aspecto, nossa Declaração de Fé rejeita “qualquer configuração
social que se denomina família, cuja existência é fundamentada em prática,
união ou qualquer conduta que atenta contra a monogamia e a heterossexualidade,
consoante o modelo estabelecido pelo criador e ensinado por Jesus”.
No ensino ratificado por Cristo, a indissolubilidade
do casamento é enfatizada com as seguintes palavras: “o que Deus ajuntou não
separe o homem” (Mt 19.6). Por essa razão, nossa Declaração de Fé não reconhece
a união conjugal realizada entre pessoas divorciadas, em desacordo com o
preconizado pelo Senhor Jesus. As exceções são justificadas em casos de morte
(Rm 7.2), infidelidade (Mt 5.32) e deserção do lar pelo descrente (1 Co 7.15).
E, mesmo nas situações de traição e abandono, a mensagem cristã apresenta o
perdão e a reconciliação como atitudes preferíveis (Mt 5.9,44; 18.21,22).
3. A Regeneração da Sociedade. Nossa
Declaração de Fé afirma que “a estrutura dos Dez Mandamentos se resume no amor
a Deus e ao próximo, diz respeito a Deus e à sociedade e envolve pensamento,
palavras e obras”. Desse modo, todo o sistema mosaico — a Lei e os Profetas —
está resumido em duas ações: “amar a Deus e amar ao próximo como a si mesmo”
(Mt 22.37-40). O amor a Deus deve ser pleno. Deus requer um amor que envolve a
pessoa toda: “coração, alma e entendimento” (Dt 6.5; Mc 12.30; Lc 10.27). O
amor ao próximo se estende a todas as pessoas, inclusive ao inimigo (Lv 19.18;
Mt 5.44; Lc 10.29-37).
Os Evangelhos asseguram que o amor de Deus para com
a humanidade é a base da salvação (Jo 3.16; 15.13). Por conseguinte, a virtude
do amor é o princípio basilar de todas as ações do crente salvo por Cristo,
entre tantas: “o amor não faz mal ao próximo” (Rm 13.10); “o amor não se conduz
de forma inconveniente” (1 Co 13.5, NAA); “o amor não se alegra com a
injustiça” (1 Co 13.6, NAA). Em vista disso, os cristãos receberam a missão de
proclamar a mensagem do amor de Cristo às nações (Mt 28.19). Esse amor perdoa,
salva, cura, liberta e regenera a sociedade. Assim sendo, a Igreja fiel e
guiada pelo Espírito, ao pregar e viver o evangelho, torna-se em sal da terra e
luz do mundo (Mt 5.13,14).
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