INTRODUÇÃO
O termo grego epistole, traduzido para o português
como “epístola”, indica uma comunicação escrita, uma carta ou missiva de
natureza formal. As Epístolas da Bíblia apresentam instruções vitais para a
compreensão da doutrina cristã, bem como para a formação dos cristãos. Elas
correspondem 21 dos 27 livros do Novo Testamento. As treze escritas por Paulo
são denominadas de “paulinas”. As oito epístolas restantes são de outros
autores e designadas de “gerais”.
Esses livros são divinamente inspirados e
representam quase 80% do cânon do Novo Testamento. Apenas os quatro Evangelhos,
Atos e Apocalipse não são considerados Epístolas. O conjunto de doutrina dessas
Epístolas, revelado aos seus diversos autores, continua a instruir o povo de
Deus, a formar o caráter do crente salvo em Jesus e a preparar a Igreja para a
vinda do Senhor. Neste capítulo, agrupamos as Epístolas por temas e autoria, e
destacamos alguns de seus aspectos doutrinários.
I – COMO AS EPÍSTOLAS PAULINAS NOS INSTRUEM
1. Instruções Salvíficas Nesse grupo, enfatizamos
os aspectos da doutrina da salvação. Em Romanos, destaca-se o texto: “Porque
nele [Cristo] se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas
o justo viverá da fé” (Rm 1.17). Paulo ensina que, pela fé em Cristo que nos
libertou do pecado mediante seu sacrifício remidor, somos declarados justos
diante de Deus (Rm 3.23-25). A sentença “o justo viverá pela fé” remonta ao
profeta Habacuque (Hb 2.4b) e aparece em Gálatas 3.11 e Hebreus 10.38, o que
faz da declaração um preceito antigo que se cumpre na Nova Aliança. Essa
expressão significa que “os cristãos viverão por causa da fidelidade de Deus, e
por causa de sua resposta de fé a Deus: como resultado, eles terão vida eterna
e experimentarão a plenitude de vida”.
Em Gálatas, ressalta-se que “o homem não é
justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo [...] porquanto
pelas obras da lei nenhuma carne será justificada” (Gl 2.16). Na construção da
última parte desse versículo, Paulo faz alusão a Salmos 143.2 e explica que a justificação
do crente não vem por observar a Lei. A condição de ser declarado “não culpado”
diante de Deus vem por meio da fé na obra redentora de Cristo. O apóstolo
reitera que somente a fé em Cristo nos liberta do jugo da Lei (Gl 5.1). O
ensino ratifica que pela fé em Cristo “o crente é colocado em um relacionamento
direto com todos os requisitos da Lei, absolvido de todas as penalidades da Lei
e consequentemente liberto da maldição da Lei”.
Em 1 Coríntios sublinha-se a mensagem do “Cristo
crucificado” (1 Co 1.23). O texto informa que os judeus buscavam “sinais” e os
gregos buscavam “sabedoria” (1 Co 1.22). Portanto, a mensagem de salvação por
meio da cruz de Cristo era escândalo para os judeus e loucura para os gregos.
Não obstante, Paulo lhes assevera que Cristo é o “poder de Deus” e a “sabedoria
de Deus” (1 Co 1.24), que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou ao terceiro
dia (1 Co 15.3-4). Em 2 Coríntios, frisa-se o “ministério da reconciliação” (2
Co 5.18). Por causa do pecado, o homem vivia em inimizade com Deus. No entanto,
Deus estava disposto a perdoar as ofensas e enviou um Mediador. Assim, Cristo
levou os nossos pecados na cruz e nos reconciliou com Deus (2 Co 5.19-21).
2. Instruções a Respeito de Cristo. Nesse
enfoque, o destaque são os aspectos da doutrina de Cristo. Em Efésios,
observam-se dois polos: Cristo e a Igreja — ambos representados pela imagem
simétrica de “Cristo, a cabeça” (Ef 1.22; 4.15; 5.23) e “Igreja, o corpo” (Ef
1.23; 4.12; 5.30). Paulo ensina que é exclusivamente em conexão com Cristo que
somos abençoados com todas as bênçãos espirituais. Nesse sentido, a Igreja foi
eleita em Cristo (Ef 1.4), redimida em Cristo (Ef 1.7) e para a glória de
Cristo (Ef 1.12). Em Cristo passamos da morte para a vida (Ef 2.1) e, em
Cristo, fomos libertos das concupiscências (Ef 4.22). Assim, a nova vida do
crente é caracterizada pela salvação “em Cristo”.
Em Filipenses, a mensagem enfatiza que para o
cristão “o viver é Cristo” (Fp 1.21). Matthew Henry descreve que “a glória de
Cristo deve ser a finalidade da nossa vida, a graça de Cristo, o princípio
dela, e a Palavra de Cristo, a regra dela. A vida cristã é derivada de Cristo e
dirigida a Ele. Ele é o princípio, a regra e o fim dela”. Em vista disso,
Cristo é o modelo de vida para o salvo. Assim sendo, o crente deve regozijar-se
em Cristo diante de todas as circunstâncias (Fp 1.18; 2.2; 3.1; 4.4-13); por
amor a Cristo, fugir de contendas e manter a comunhão com os irmãos (Fp 2,1-4);
e andar nos mesmos passos de humildade de Cristo Jesus (Fp 2.5-11).
Em Colossenses, Paulo sublinha que a “vossa vida
está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3.3). Indica que Cristo é a vida do
crente, e que essa nova vida é de Cristo. O Comentário Bíblico Beacon avalia
que “trata-se de uma realidade para o crente e é realizada numa nova
consciência e poder éticos para a justiça”. Quem recebe essa graça deve
despojar-se do velho homem e das suas más obras, e revestir-se da nova natureza
em Cristo (Cl 3.5-10). E, dessa forma, a igreja está unida com Cristo em Deus,
morta para os pecados e para o mundo, e ressuscitada com Cristo (Cl 2.13-15;
3.1,2). Em suma, Cristo é tudo em todos, Ele é a suficiência para todo cristão
(Cl 3.11).
3. Instruções sobre as Últimas Coisas. Essas
orientações enfatizam os aspectos da segunda vinda de Jesus. Em 1
Tessalonicenses, Paulo ensina que, no retorno de Cristo, “os que ficarmos
vivos, seremos arrebatados” (1 Ts 4.17). Quanto à vinda de Cristo, nossa
Declaração de Fé professa que é um evento a ser realizado em duas fases:
A primeira é o arrebatamento da Igreja antes da Grande
Tribulação (1Ts 1.10; 4.17; 5.9); a segunda fase é a sua vinda em glória depois
da Grande Tribulação e visível aos olhos humanos (Ap 1.7). Nessa vinda
gloriosa, Jesus retornará com os santos arrebatados da terra: “na vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo, com todos os seus santos” (1 Ts 3.13).
O arrebatamento é um termo que designa o rapto da
Igreja da face da terra para o encontro com o Senhor nos ares. Nesse evento, os
mortos em Cristo e os santos do Antigo Testamento ressuscitarão primeiro (1 Ts
4.16), seguindo-se a transformação dos salvos vivos e o simultâneo encontro de
ambos os grupos com o Senhor nos ares (1 Ts 4.17). Acontecerá em fração de
segundos, e nosso corpo será transformado num corpo glorioso, que estará revestido
de incorruptibilidade e imortalidade (Fp 3.21; 1 Co 15.51,53). Será um evento
repentino e secreto (Mt 24.36,44,50; 25.13). A condição para fazer parte desse
glorioso evento é estar em Cristo. Enquanto
aguarda o arrebatamento, o crente deve conservar irrepreensível o espírito, a
alma e o corpo (1 Ts 5.23).
Em 2 Tessalonicenses, Paulo corrige o falso ensino
de que Cristo já tinha vindo (2 Ts 2.1,2). Esclarece que somente após o
arrebatamento da Igreja é que o “Dia do SENHOR” terá início com a manifestação
do Anticristo (2 Ts 2.3,8). A expressão “Dia do SENHOR” também é designação
para a Grande Tribulação (Is 13.6-9; 1 Ts 5.2,3), ocasião em que a ira de Deus
será derramada sobre os moradores da terra. Após a Grande Tribulação se dará a
segunda fase da Segunda Vinda de Cristo, que será visível e corporal com a sua
Igreja glorificada (Lc 21.27). Enquanto o salvo aguarda, deve orar para que o
evangelho tenha livre curso, e vigiar para não viver desordenadamente (2 Ts
3.1,11,12).
4. Instruções Pastorais e Pessoais. As
Epístolas particulares abrangem instruções de natureza prática. Duas delas
foram dirigidas a Timóteo, um jovem pastor em Éfeso, natural de Listra, filho
de pai gentio e de mãe cristã judia (At 16.1). Após sua conversão, tornou-se um
auxiliar de confiança na obra missionária. Paulo se refere a ele como “irmão” e
“cooperador” (1 Ts 3.2); “filho amado” e “fiel no Senhor” (1 Co 4.17);
“verdadeiro filho na fé” (1 Tm 1.2). As orientações são pessoais, mas servem
para aplicação na vida espiritual e gestão da Igreja.
Dentre outros temas, em 1 Timóteo, Paulo orienta o
combate às heresias por meio da “sã doutrina” (1 Tm 1.3,9,10). Timóteo deveria
coibir o ensino de “outra doutrina” que minava a fé da Igreja, esmerando-se em
ensinar a ortodoxia cristã (doutrina correta). Para tanto, precisava combater
as inovações, tais como, “fábulas ou a genealogias intermináveis” (1 Tm 1.4).
Refere-se a doutrinas espúrias permeadas de mitos, ficções, lendas e revelações
falsas em contraste com a verdade do Evangelho. Em vista disso, depreende-se
que o líder deve ser apto para ensinar (1 Tm 3.2; 4.13,16).
Em 2 Timóteo, destaca-se que o obreiro deve ser
aprovado diante de Deus e manejar “bem a Palavra da verdade” (2 Tm 2.15). Paulo
orienta o líder a esforçar-se para receber a aprovação divina, e não dos
homens. O apóstolo aconselha tanto Timóteo como a Igreja a não participarem de
falatórios vazios e profanos como faziam os hereges (2 Tm 2.14,16). Para isso,
deveria estudar com zelo as Escrituras para não ser um obreiro despreparado, a
fim de instruir aos que resistiam a sã doutrina (2 Tm 2.25).
As outras duas missivas pessoais de Paulo foram
endereças a Tito e a Filemom. Tito era um grego convertido (Gl 2.3), que se
tornou cooperador de confiança de Paulo, com as mesmas virtudes de Timóteo (Tt
1.4; 2 Co 2.13; 8.23; 12.18). Ele foi comissionado pelo apóstolo para pastorear
em Creta (Tt 1.5). Na Epístola a Tito, enfatiza-se que o pastor deve contrapor
os falsos ensinos (Tt 1.5,10,11) e, para tanto, é exortado a falar “o que convém
à sã doutrina” (Tt 2.1). Nessa tarefa, cabe ao ministro reafirmar a autoridade
da Palavra de Deus e manter-se fiel às doutrinas bíblicas.
Em Filemom, a mensagem enfatiza o perdão. O
destinatário principal é Filemom e a Igreja em sua casa (Fm 1,2). Esse detalhe
indica que a casa de Filemom era o lugar de cultos dos crentes de Colossos (Cl
4.8,9). O assunto gira em torno de Onésimo, um escravo fugitivo que Paulo
converteu ao evangelho na prisão (Fm 10). Paulo aconselha Filemom a acolher
Onésimo com brandura e apreço, e ainda se dispõe a pagar todo o prejuízo
causado (Fm 17,18). O apóstolo ensina que o transgressor arrependido deve ser
recebido não como servo, mas como irmão amado (Fm 16).
II – COMO AS EPÍSTOLAS GERAIS NOS FORMAM
1. As Epístolas de Pedro A 1ª Epístola de
Pedro foi escrita aos irmãos dispersos no “Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e
Bitínia” (1 Pe 1.1). Refere-se aos judeus convertidos a Cristo, mas
principalmente aos gentios cristãos que habitavam em uma dessas cinco
províncias romanas. Eles eram minoria em uma sociedade pagã, idólatra, injusta,
pervertida e imoral. Estavam sofrendo pressões e perseguições por causa da sua
fé em Cristo e de seu modo de viver e agir contrário a cultura predominante.
Nesse contexto, ressalta-se que em 1 Pedro a abordagem enfatiza o sofrimento
cristão (1 Pe 1.6).
O apóstolo ensina que as provações fortalecem a fé.
Afirma que a fé é testada no fogo das adversidades (1 Pe 1.7). Exorta os
cristãos a não ceder às concupiscências, mas manter uma vida de santidade (1 Pe
1.15). Orienta os crentes a suportar os agravos para a glória de Deus (1 Pe
2.19) e alegrar-se por serem participantes das aflições de Cristo (1 Pe 4.13).
Assegura que o próprio Deus é quem aperfeiçoa, confirma, fortifica e estabelece
o crente fiel (1 Pe 5.10). Essas verdades devem nos dar a confiança, paciência
e esperança para perseverar, mesmo quando formos perseguidos.
A 2ª Epístola de Pedro foi destinada aos leitores da
primeira missiva (2 Pe 3.1) e provavelmente a um grupo maior de cristãos. A
ocasião da escrita revela um quadro bem desolador para os servos de Cristo.
Nero, o imperador de Roma (54 d.C.-68 d.C.), promovia crescente perseguição à
Igreja. Como já visto na primeira Epístola, Pedro advertiu e encorajou os
crentes a manter a fidelidade e a esperança em meio ao sofrimento. Nessa
segunda Carta, antes de morrer, Pedro escreve suas últimas orientações aos
irmãos. Em 2 Pedro, a mensagem faz alerta aos ensinos dos falsos mestres (2 Pe
1.12-14).
O apóstolo exorta acerca das heresias que perturbavam
a fé da Igreja, tais como a negação da divindade de Jesus e a negação da
Segunda Vinda de Cristo (2 Pe 2.1; 3.4). Pedro vaticina que muitos seriam
enganados (2 Pe 2.2), e que os hereges por avareza fariam da igreja um negócio
para ganhar dinheiro (2 Pe 2.3). Para combater esses males, Pedro ratifica que
Jesus é o Filho de Deus (2 Pe 1.16,17) e anima a Igreja a manter-se fiel e
imaculada até a volta do Senhor (2 Pe 3.9-14). Assim, os escritos de Pedro
estimulam as virtudes do discernimento, santidade e perseverança.
2. As Epístolas de João. A 1ª Epístola de
João adverte sobre o falso ensino que negava a encarnação de Jesus (1 Jo 1.1;
4.2,3) e as demais heresias gnósticas (1 Jo 5.13-21). Os hereges ensinavam que
Cristo só tinha a aparência de ser humano. Essa heresia é chamada de
“docetismo” (do grego dokeo, “parecer”). O gnosticismo ligava a salvação a uma
experiência de revelação esotérica (do grego gnosis, “conhecimento”). João
esclarece que ele próprio era testemunha da encarnação (1 Jo 1. 1-4). Explica que
o salvo deve viver em comunhão com os irmãos (1 Jo 1.6,7); afastar-se da
prática do pecado (1 Jo 2.1; 3.7); amar uns aos outros (1 Jo 4.11); vencer o
mundo por meio da fé (1 Jo 5.4); e permanecer no que é verdadeiro: Jesus Cristo
(1 Jo 5.20).
Em 2 João, o apóstolo reitera a prática do amor como
mandamento divino (2 Jo 1.5,6) e novamente refuta as heresias do docetismo e
gnosticismo. João assegura que todo aquele que não confessa que Cristo veio em
carne é enganador e anticristo (2 Jo 1.7). Portanto, a Igreja é exortada a não
se deixar enganar, nunca ir além daquilo que está escrito, mas perseverar na
doutrina de Cristo (2 Jo 1.9). A Epístola orienta os cristãos a não receber
pessoas com falsos ensinos em casa (2 Jo 1.10). Nesse quesito, João declara que
aquele que escuta um herege tem parte nas suas más obras (2 Jo 1.11).
Em 3 João, destaca-se em posições opostas a
fidelidade e a infidelidade. A Epístola condena a soberba e a rivalidade
mesquinha que coloca cristãos uns contra os outros. O apóstolo aprova o
comportamento de Gaio e Demétrio, cujas virtudes são: “andar na verdade”,
“proceder fielmente”, “exercitar o amor” e “dar verdadeiro testemunho” (3 Jo
1.4-8,12). De outro lado, Diótrefes é reprovado por “desejar a primazia”,
“desprezar os líderes”, “ser maledicente” e “causar escândalos” (3 Jo 1.9,10).
Nessa missiva, somos exortados a seguir o bom exemplo dos servos que são fiéis
a Deus, a sua obra e a seus líderes.
3. As outras Gerais. A Epístola aos Hebreus
foi provavelmente escrita aos judeus cristãos helenistas que são instados a
manter firme a fé em Cristo (Hb 3.6,14; 4.14; 10.23). A ênfase da mensagem
repousa na supremacia de Cristo: Ele é superior aos Pais e aos Profetas (Hb
1.1); superior aos anjos (Hb 1.4); superior a Moisés (Hb 3.3); e superior ao sacerdócio
levítico (Hb 4.14). Ele é Mediador de uma melhor aliança (Hb 8.6); Ele é o Sumo
Sacerdote de um maior e mais perfeito tabernáculo (Hb 9.11) e por seu próprio
sangue executou uma eterna redenção (Hb 9.11,12). Desse modo, o crente é
estimulado a olhar para Cristo, o “autor e consumador da fé” (Hb 12.2).
Tiago foi destinada aos judeus cristãos que tinham
deixado a Palestina (Tg 1.1). O autor é meio-irmão de Jesus (Mc 6.3). Seus
leitores estavam enfrentando pressão a respeito de seus valores e crenças (Tg
1.2-4). Em vista disso, entre outros conselhos, Tiago adverte que “a ira do
homem não opera a justiça de Deus” (Tg 1.20); esclarece que “a fé sem obras é
morta” (Tg 2.26); acentua que a fé deve ser mostrada em ações (Tg 2.14);
enfatiza a importância de controlar a língua (Tg 3.2), e estimula os crentes a
orar e ajudar uns aos outros (Tg 5.16-20). Para tanto, o texto adverte o
cristão a ser praticante da Palavra, e não somente ouvinte (Tg 1.22).
Judas foi endereçada aos cristãos judeus espalhados
pelo mundo (Jd 1b). O autor é também meio-irmão de Jesus (Jd 1a). Judas exorta
o salvo a “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3). Isso por
causa dos hereges infiltrados na igreja (Jd 4). Eles diziam que a liberdade em
Cristo os isentava das regras morais; eram insubmissos aos líderes; e
desprezavam o mundo espiritual (Jd 8). Em suma, ensinavam concupiscências e
licenciosidade (Jd 18,19). Em vista disso, o crente é instruído a se firmar na
fé, orar e a preservar a esperança da vida eterna (Jd 20,21).
III – AS EPÍSTOLAS CONTINUAM A FALAR
1. A Doutrina da Justificação. A doutrina da
justificação pela fé ensina, em termos gerais, que o pecador é justificado
(absolvido da punição e da condenação do pecado) unicamente pela fé na graça
divina (Rm 5.1,2). Assevera que a salvação é dom gratuito e imerecido de Deus
aos pecadores e que só pode ser recebida por meio da fé (Ef 2.8,9). Significa
dizer que as obras humanas não podem salvar, mas apenas a fé em Cristo por meio
da recepção da graça de Deus (Gl 2.16). Lutero afirmava que “a doutrina da
justificação não é apenas mais uma doutrina; é o artigo fundamental da fé, pelo
qual a igreja se firmará ou cairá e do qual depende toda a doutrina”. Desse
modo, a doutrina da justificação pela fé é considerada como a grande verdade
que a Reforma Protestante restituiu à Igreja.
Nossa Declaração de Fé professa crer na restauração
do homem por meio do arrependimento e fé na obra expiatória e redentora de
Cristo (Rm 3.23,24), no novo nascimento pela graça de Deus mediante a fé (Ef
2.8,9) e na justificação pela fé no sacrifício de Cristo (Rm 10.13; Hb 5.9;
7.25). Nosso documento doutrinário explica que a justificação é um ato da graça
de Deus, o Supremo Juiz, pelo qual a justiça de Cristo é imputada a todo aquele
que crê em Jesus declarando-o justo (Rm 3.24,28). O primeiro resultado da
justificação é a paz com Deus (Rm 5.1). Juntamente com a salvação e a
justificação, o pecador arrependido recebe a adoção de filho de Deus (Jo 1.12;
Gl 4.4-6). Nesse entendimento, ratifica-se que essa é uma doutrina fundamental
da fé cristã.
2. A Doutrina da Santificação.
Etimologicamente (do hebraico kadosh e do grego hagios), o significado da
palavra “Santo” é respectivamente “puro” e “separado para Deus”. Nesse sentido,
a doutrina da santificação implica uma vida separada do pecado e dedicada a
Deus (Rm 12.1,2). É um processo mediante o qual Deus purifica os que a Ele se
achegam e passam a ser orientados pelo Espírito Santo (1 Jo 3.3). A Bíblia
Sagrada ensina enfaticamente que Deus é “Santo”: Ele é o “Santo de Israel” (Is
1.4); “Deus, o Santo” (Is 5.16); o seu nome é “Santo” (Is 40.25; 57.15), dentre
outros textos. Portanto, o Deus “Santo” requer que sua criação ande em
santidade (1 Pe 1.15,16), isto é, o atributo comunicável de Deus da santidade é
concedido a todos os que verdadeiramente são regenerados.
Nossa Declaração de Fé ensina que “já salvo e
justificado, o novo crente entra de imediato no processo de santificação, pois
assim o requer a sua nova natureza em Cristo (Rm 6.22; 1 Ts 4.3)”. Porém, essa
transformação vai sendo aperfeiçoada durante a jornada do cristão (2 Co 3.18;
Fp 1.6). Nesse aspecto, a santificação “é uma continuação do que foi começado
na regeneração, quando então uma novidade de vida foi conferida ao crente e instilada
dentro dele”. 15 Desse modo, o salvo precisa ser santificado pelo Espírito
Santo (1 Pe 1.2). O fruto do Espírito nos é concedido para andarmos no mundo
conservando a nossa santidade (Gl 5.16-17, 22). Portanto, o crente deve
purificar-se tanto da carne como do espírito (2 Co 7.1), pois sem a
santificação ninguém verá o Senhor (Hb 12.14). 3. A Doutrina da Glorificação A
Escritura Sagrada diz: “se é certo que com Ele padecemos, para que também com
ele sejamos glorificados” (Rm 8.17). Acerca desse texto, o Comentário Aplicação
Pessoal sublinha que “só iremos gozar da nossa herança futura, se o nosso
relacionamento com Cristo for suficientemente autêntico para podermos enfrentar
o sofrimento em seu nome, por amor ao Senhor”. Indica que o cristão justificado
pela fé e santificado pelo Espírito Santo ao sofrer perseguição por amor a
Cristo, e suportar injustiças por causa de seus valores, está experimentando o
sofrimento de Cristo para poder compartilhar de sua glória na eternidade. Paulo
ratifica essa verdade ao declarar que aos que Deus “chamou, a esses também
justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.30).
Desse modo, a doutrina da glorificação é a última
etapa de nossa salvação. Nesse processo, o pecador é salvo pela graça, justificado
pela fé, santificado pelo Espírito e prossegue até que todos cheguemos “a homem
perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4.13, ACF). Em nossa
trajetória cristã, continuamos sendo aperfeiçoados, mas nunca chegaremos à
perfeição até chegarmos ao céu. Quer dizer que, somente ao final do processo da
salvação, a glória perdida no Éden pelo primeiro Adão será finalmente
restaurada (1 Co 15.45). Trata-se de uma promessa da futura transformação de
nosso corpo mortal em corpo glorioso (Fp 3.21), que se dará por ocasião da
vinda do Senhor (1 Co 15.52-54; 2 Co 3.18). Esse novo corpo será eterno,
imortal, imperecível.
Fonte: BAPTISTA,
Douglas. A Supremacia das Escrituras: a inspirada, inerrante e infalível
Palavra de Deus. Rio de Janeiro, 2022, p. 135-144.
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