INTRODUÇÃO
Lucas-Atos são dois volumes de autoria do médico
amado (Cl 4.14). Os relatos são escritos a partir de premissas históricas e
teológicas. Roger Stronstad anota que “apesar da particularidade histórica de
cada livro, eles têm uma perspectiva teológica homogeneamente comum”. Assim
sendo, Lucas é tanto historiador como teólogo. Desse modo, além da dimensão
histórica, a obra lucana tem também uma dimensão didática. Essas narrativas
servem de modelo para o comportamento cristão e a vida da Igreja em todos os
tempos.
Lucas descreve a capacitação do Espírito Santo no
ministério de Jesus e no ministério da Igreja. A unção do Espírito que
repousava em Jesus também foi concedida à Igreja (At 2.33). Esse revestimento
de poder na vida do crente não é apresentado como dom para salvação, mas como a
unção dos salvos para o testemunho e o serviço cristão. Esse é o padrão bíblico
adotado pelo pentecostal submisso ao ensino das Escrituras Sagradas. Desde o
Pentecostes, o derramar do Espírito Santo permanece como modelo para a Igreja
de Cristo.
I – O EVANGELHO DE LUCAS: O ESPÍRITO SANTO NO
MINISTÉRIO DE CRISTO
1. O Espírito Santo no Evangelho. Lucas
registra os fatos acerca da vida e obra de Cristo (Lc 1.1-3). A narrativa do
Evangelho compreende o nascimento, ministério, morte e ressurreição de Jesus,
bem como a promessa do derramamento do Espírito Santo. O evangelista enfatiza o
papel e a importância do Espírito no advento do Messias. Nossa Declaração de Fé
professa que o Espírito Santo não é apenas um atributo da divindade, mas possui
a mesma essência do Deus Pai e do Deus Filho; Ele é a terceira pessoa da
Trindade e foi enviado ao mundo pelo Pai e pelo Filho; Ele é “o Espírito que
provém de Deus” (1 Co 2.12).
A ação do Espírito no Evangelho de Lucas é percebida
em diversos eventos. De modo introdutório, destacamos os seguintes: na vida de
João Batista, o precursor de Cristo, quando do anúncio do anjo de que ele seria
“cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe” (Lc 1.15); na vida de
Isabel e Zacarias — os pais de João Batista, quando, no sexto mês da gravidez,
ao receber a visita de Maria, “a criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi
cheia do Espírito Santo” (Lc 1.41); após o nascimento de João Batista, quando
Zacarias “foi cheio do Espírito Santo e profetizou” (Lc 1.67).
E, no anúncio da concepção virginal de Maria, Lucas
associa o Espírito Santo com o poder e a presença de Deus. No vocabulário
empregado, percebe-se o conceito de Trindade: “Descerá sobre ti o Espírito
Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o
Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35). Lucas
também registra que após o nascimento de Jesus, Simeão, impulsionado pelo
Espírito, foi ao Templo a fim de conhecer o Messias antes de morrer (Lc
2.25-32). O Evangelho ainda ressalta o poder e autoridade de Cristo em batizar
no Espírito Santo e fogo (Lc 3.16).
2. O Espírito Santo e o Batismo de Cristo.
Jesus foi batizado em águas por João Batista com a idade de “quase trinta anos”
(Lc 3.23), a mesma com que os levitas iniciavam o ministério (Nm 4.3, 35).
Jesus não precisava arrepender-se de pecado algum (1 Pe 2.22), mas submeteu-se
ao batismo em águas para “cumprir toda a justiça” (Mt 3.15). Nossa Declaração
de Fé ensina que a palavra “batismo” significa “mergulho, imersão” e que o
batismo simboliza a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, deixando
claro que se trata de uma prática realizada por meio da imersão do corpo
inteiro (Mt 3.16; At 8.38-39; Rm 6.4).
Ao descrever o batismo no Jordão, Lucas informa que,
estando o Senhor em oração, ocorreram três eventos extraordinários: (a) o céu
se abriu (Lc 3.21); (b) o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma de pomba (Lc
3.22a); e (c) ouviu-se uma voz vindo do céu que estava aberto (Lc 3.22b). A abertura
do céu significa que se segue uma revelação da parte de Deus. A expressão
“forma corpórea, como pomba” enfatiza que a descida do Espírito Santo foi uma
coisa real, não ilusão visionária. E, todos testemunharam a voz do céu que
dizia a Jesus: “Tu és meu Filho amado” (Lc 3.22b).
O céu aberto, o evento da descida do Espírito e a
voz que o identificava como Filho de Deus tinham como propósito marcar o início
do ministério público de Jesus (Lc 4.1,14,18). O relato não indica que Jesus
não tivesse o Espírito, isso porque Ele já tinha o Espírito desde a concepção
(Lc 1.35). Esse evento simbolizava a unção real da messianidade de Jesus (Is
11.2; 42.1). Também serviram como sinal para João Batista confirmar que Jesus
era de fato o Cristo (Jo 1.32,33). Percebe-se, também, na narrativa a presença
e atuação da Santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
3. O Espírito Santo e a Tentação de Cristo.
Após o batismo nas águas e cheio do Espírito Santo (Lc 4.1a), Jesus foi
impelido pelo Espírito ao deserto, e lá foi tentado pelo Diabo durante quarenta
dias (Lc 4.1b; 4.2a). Depois de receber a unção do Espírito para o exercício
público de sua messianidade, Jesus foi submetido a um severo teste de
fidelidade para com o Pai. A articulação das trevas focou na frase dita por
Deus a Jesus: “Tu és meu Filho amado” (Lc 3.22). Não somente uma vez, mas duas
vezes o Diabo desafiou Jesus com respeito a essa declaração: “Se tu és o Filho
de Deus [faz isso... faz aquilo]” (Lc 4.3,9).
Em todos os desafios da tentação, Jesus contra-ataca
por meio das Escrituras. O Diabo sugeriu que Jesus provasse a sua filiação
divina transformando pedra em pão (Lc 4.3), Cristo revidou citando Deuteronômio
8.3, e reafirmou que o homem não vive só de pão, mas de toda palavra que
procede de Deus (Lc 4.4). O Adversário, para instigar o Senhor, distorce o
livro de Salmos 91.11-12 e sugere que Jesus teste a sua condição de Filho de
Deus atirando-se do pináculo do Templo (Lc 4.9-11). O Senhor o repele e
ratifica o verdadeiro sentido das Escrituras: “não tentarás o Senhor, teu Deus”
(Dt 6.16; Lc 4.12).
O Maligno também ofereceu todos os reinos do mundo
em troca de ser adorado por Jesus (Lc 4.5-7). Porém, o Senhor cita Deuteronômio
6.13 e com firmeza lhe retruca: “Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está
escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás” (Lc 4.8, ACF). A
postura adotada por Jesus sinaliza que Ele manteve a comunhão com o Pai
fortalecido pela oração e o jejum (Lc 4.2b). A vitória do Senhor sobre a
tentação demonstra que Ele estava capacitado para cumprir o seu ministério.
Cristo venceu o Diabo pelo poder do Espírito e da Palavra de Deus (Lc
4.4,8,12,13).
4. O Espírito Santo e a Missão de Cristo.
Vencida a tentação no deserto, Jesus voltou à Galileia, conduzido pelo Espírito
(Lc 4.14). Aqui é importante pontuar a ação do Espírito Santo no ministério de
Jesus. Ele foi conduzido ao deserto e de lá retornou, sempre no poder do
Espírito. Lucas informa que, após ministrar em alguns lugares, o Espírito
dirigiu o Senhor para Nazaré (Lc 4.15,16). Nazaré era uma aldeia situada a 24
quilômetros do mar da Galileia. Era um lugar depreciado pelos judeus (Jo
1.45,46), porém, foi ali que o anjo anunciou o nascimento de Jesus (Lc 1.26), o
local onde Ele foi criado, e por isso chamado de Nazareno (Mt 2.23).
Na sinagoga de Nazaré, em um dia de sábado, Jesus
levantou-se para ler (Lc 4.16). O rito litúrgico na sinagoga obedecia à leitura
da Lei e dos profetas. A. T. Robertson esclarece que “sete pessoas eram
convidadas a ler pequenos trechos da Lei. Essa primeira lição era seguida por
uma leitura dos profetas e um sermão, a segunda lição”. Nesse dia, coube a
Jesus fazer a leitura de um dos profetas e proferir o sermão. Não sabemos se o
oficiante lhe entregou aleatoriamente o livro de Isaías ou se era a lição fixa
do dia (Lc 4.17), mas sabemos que era ação providencial do Espírito de Deus.
Ao desenrolar o rolo de Isaías, Jesus leu a passagem
que dizia: “O Espírito do Senhor é sobre mim” (Lc 4.18; cf. Is 61.1,2). Ao
terminar a leitura, Jesus assentou-se no lugar do orador e a congregação fixou
os olhos nEle (Lc 4.20). Então, o Senhor passou a explicar o texto e afirmou:
“Hoje se cumpriu esta Escritura” (Lc 4.21). Aqui, Jesus declara que a unção do
Espírito qualificava seu ministério para evangelizar os pobres, curar os
quebrantados de coração, libertar os cativos e oprimidos, restaurar os cegos e
anunciar aos pecadores o ano aceitável do Senhor (Lc 4.18,19).
II – ATOS DOS APÓSTOLOS: O ESPÍRITO SANTO NO
MINISTÉRIO DA IGREJA
1. O Espírito Santo em Atos. Ao concluir o
Evangelho, Lucas anota que Jesus instruiu os discípulos a esperar o
revestimento de poder do alto (Lc 24.49). A promessa tem conexão com a palavra
profética de Isaías direcionada a Israel — “derramarei o meu Espírito sobre a
tua posteridade” (Is 44.3); de Ezequiel — “derramarei o meu Espírito sobre a
casa de Israel” (Ez 39.29); e, mais precisamente, com a profecia de Joel que
estende a promessa para todos os crentes — “E há de ser que, depois, derramarei
o meu Espírito sobre toda a carne” (Jl 2.28). Após o Senhor ter sido elevado
aos céus, o livro de Atos dá prosseguimento à narrativa da promessa do Espírito
à Igreja (At 1.1-4).
O autor ratifica que o derramamento do Espírito era
a capacitação necessária para a evangelização dos povos: “recebereis a virtude
do Espírito Santo [...] e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em
toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). A palavra
“virtude” ou “poder” significa “ser capaz” ou “ter força”. A promessa não era
de poder político, mas de poder que procede da parte de Deus. A atribuição de
testemunhar de Jesus não poderia ser executada por esforços humanos, os
seguidores de Cristo deveriam aguardar o derramamento do poder do Espírito.
O livro de Atos relata que o Senhor apresentou aos
discípulos muitas e infalíveis provas de sua ressurreição (At 1.3). Eles
desfrutaram da companhia do Cristo ressurreto por 40 dias, tinham elementos
suficientes para testemunhar do Filho de Deus, mas não deveriam fazer sem o
poder de Deus. Assim, cerca de 120 discípulos voltaram a Jerusalém e, em
oração, aguardaram o Espírito Santo (At 1.12-15). Portanto, Atos registra a
ação do Espírito na inauguração histórica da Igreja como agência de Cristo.
Trata-se da continuação da obra de Jesus por meio dos discípulos capacitados
pelo Espírito Santo (At 2.38).
2. A Promessa Cumprida no Pentecostes Como já
visto, a promessa do batismo no Espírito Santo remonta às profecias de Isaías,
Ezequiel e Joel (Is 44.3; Ez 39.29; Jl 2.28). No Novo Testamento, João Batista,
o precursor do Messias, confirma essa promessa que é registrada por todos os
evangelistas (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.32,33; At 11.16). Em Lucas-Atos,
Cristo a avalizou como sendo “a promessa do Pai” (Lc 24.49; At 1.4), isto é,
feita pelo Pai por meio de seus santos profetas. Nossa Declaração de Fé
ratifica que “o batismo no Espírito Santo é um revestimento de poder do alto,
uma promessa divina aos salvos, uma experiência espiritual”.
O cumprimento da promessa se deu no Dia de
Pentecostes (At 2.1). O termo “pentecostes” refere-se à festa judaica que
ocorria cinquenta dias após a Páscoa (Lv 23.15-21; Dt 16.9-12). Os judeus da
Palestina tinham sua maior celebração na festa da Páscoa, ocasião em que Cristo
foi crucificado e ressuscitou (Lc 22.1,2; 24.1,6). Porém, entre os judeus da
dispersão, a festa do Pentecostes era a mais concorrida, ocasião da descida do
Espírito Santo (At 20.16; 1 Co 16.8). Isso explica a variedade de idiomas
presentes em Jerusalém na festividade (At 2.9-11). Lucas escreveu que,
cumpindo-se o dia do Pentecostes, os discípulos reunidos no cenáculo foram
cheios do Espírito Santo e falaram noutras línguas (At 2.1, 4).
A narrativa de Atos registra dois sinais
sobrenaturais que marcaram o advento do Espírito Santo: o “som, como de um
vento” (At 2.2) e as “línguas repartidas, como que de fogo” (At 2.3). Nossa
Declaração de Fé ensina que “eram sinais particulares que não se repetiram
posteriormente nos batismos no Espírito Santo subsequentes, pois se tratava de
um evento solene e único, que marcou o início de uma nova dispensação”. 8
Somente o falar em línguas se repetiria nos demais registros de Atos. Desse
modo, a partir do Pentecostes, os discípulos começaram a pregar pelo poder do
Espírito. Muitas maravilhas e sinais eram operados e as almas eram alcançadas
(At 2.43,47).
3. A Expansão da Igreja Primitiva. Conforme
promessa do Senhor, o poder do Espírito capacitou os crentes para o serviço
cristão. Já no primeiro sermão, Pedro, que outrora se acovardou e negou o
Senhor (Lc 22.61,62), agora revestido de poder anunciou a Cristo com ousadia e
intrepidez, e quase 3.000 almas se converteram (At 2.36,38,41). No sermão do
Pentecostes, o apóstolo esclarece que os acontecimentos daquele dia são o
cumprimento da profecia de Joel (At 2.16-18) e assevera que “a promessa vos diz
respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe, a tantos quantos
Deus, nosso Senhor, chamar” (At 2.39).
Dias depois, às três da tarde, Pedro e João sobem ao
Templo para orar (At 3.1). Eles entram pela porta chamada Formosa, que era a
passagem favorita para o pátio do Templo. Junto dela estava um homem com mais
de 40 anos de idade, nascido coxo, a pedir esmolas (At 3.2). Pedro, cheio do
Espírito Santo, em nome de Jesus, ordena que o homem se levante e o milagre acontece
(At 3.6-8). A multidão se aglomera ao redor de Pedro e João, que lhes ministram
a Palavra e o Cristo ressuscitado. Como resultado, quase 5.000 vidas se
renderam ao Senhor (At 3.8,19; 4.4). Esse sinal miraculoso demonstra o poder
sobrenatural do Espírito que os discípulos receberam no Dia de Pentecostes.
O avanço do evangelho irritou as autoridades
judaicas que ameaçaram e proibiram os apóstolos de pregar em nome de Cristo (At
4.17-18). Mais tarde, lançaram os apóstolos na prisão pública, mas
miraculosamente o anjo do Senhor os libertou (At 5.18,19). Enfurecidos, os
religiosos condenaram Estêvão ao apedrejamento (At 7.59). A violência contra a
Igreja foi tão grande que, com exceção dos apóstolos, todos foram expulsos de
Jerusalém, e isso obrigou a Igreja a se tornar missionária (At 8.1).
Por conseguinte, Filipe, na virtude do Espírito,
pregou em Samaria, expulsou os espíritos imundos, curou paralíticos e coxos, e
muitas vidas foram salvas (At 8.5-13). Pelo mover do Espírito, também o gentio
Cornélio e sua casa receberam o evangelho (At 10.24-29). Anos depois, Paulo,
convertido e cheio do Espírito, alvoroçou o mundo e milhares de almas foram
salvas e curadas pela pregação do evangelho (At 9.15,17; 17.6; 19.10; 24.5).
Esses relatos e tantos outros demonstram a ação do Espírito Santo na propagação
do Reino de Deus.
III – UM MODELO PENTECOSTAL PARA A IGREJA
CONTEMPORÂNEA
1. O Revestimento de Poder do Alto. Como já
observado, em Lucas-Atos o “batismo no Espírito Santo” (At 1.5) equivale a
“revestimento de poder do alto” (Lc 24.49). Significa que o batismo no Espírito
é dado ao crente como fonte de poder para o testemunho eficaz acerca da Palavra
de Deus — as Boas-Novas da salvação. É a capacitação espiritual da parte de
Deus para operação de atos miraculosos (Mc 16.17,18). O batismo no Espírito
dinamiza a nossa vida de serviço a Cristo e a seu corpo — a Igreja. Nesse
aspecto, o papel do Espírito Santo é equipar o crente para “saber o que dizer”
em todas as situações (Lc 12.11,12; 21.15); “pisar serpentes, e escorpiões, e
toda a força do Inimigo” (Lc 10.19); fazer as mesmas obras que Cristo fez,
porém maiores (Jo 14.12); e evangelizar os povos (Mt 28.19,20).
O apóstolo Pedro ensina que essa promessa está em
vigor para todos os salvos em todas as épocas, independentemente da idade, sexo
ou classe social (At 2.38,39). Robert Menzies enfatiza que “um dos grandes
pontos fortes do movimento pentecostal é que lê a promessa de Pentecostes,
contida na citação que Pedro faz de Joel (At 2.17-21) como modelo para a missão
da Igreja”. 9 Nessa compreensão, o Pentecostes é um paradigma a ser observado
pelos crentes. A experiência do Pentecostes corresponde à unção de Jesus com o
Espírito Santo logo após o batismo em águas no Jordão (Lc 3.21, 22). Desse
modo, tendo Jesus Cristo como modelo, e como aquEle que batiza no Espírito (Mc 1.8),
após a capacitação recebida, temos o compromisso de fazer a obra do Senhor com
diligência.
A experiência do batismo no Espírito Santo pode
ocorrer junto ou após à regeneração. Entre os samaritanos, revestimento de
poder aconteceu pós-conversão (At 8.15-17). Na casa de Cornélio, a experiência
se deu durante o ato de conversão (At 10.44-46). Ressalta-se que no Pentecostes
os discípulos já tinham o Espírito Santo (Jo 20.22). Todo salvo em Jesus recebe
o Espírito Santo na conversão (Gl 3.2). Porém, o batismo no Espírito Santo é
algo distinto do novo nascimento. Significa, como já frisado, poder espiritual
para a obra de expansão do evangelho (At 1.8), para uma vida cristã vitoriosa
(At 6.8-10) e adoração mais profunda (1 Co 14.26). Em vista disso, a exemplo
dos primeiros cristãos, a igreja hodierna deve buscar o revestimento de poder
(Lc 11.13).
2. As Línguas como Evidência Inicial. No
Pentecostes, os discípulos falaram noutras línguas conforme o Espírito Santo
lhes concedia que falassem (At 2.4). A palavra “glossolalia”, de origem grega,
indica que as “línguas” concedidas pelo Espírito podem ser humanas ou
celestiais (1 Co 13.1). Os intérpretes disputam se as línguas faladas em
Jerusalém foram glossalalia (desconhecidas) ou xenolalia (conhecidas). Robert Menzies
anota que, no Pentecostes, o fenômeno foi duplo, isto é, os discípulos falaram
um idioma desconhecido e a multidão representada pelas diversas nações
milagrosamente entenderam a glossolalia dos discípulos cada um em suas próprias
línguas maternas.
Quanto ao conceito de “falar noutras línguas”,
Donald Stamps esclarece que “como sinal do batismo no Espírito Santo é uma
expressão verbal inspirada, mediante a qual o espírito do crente e o Espírito
Santo se unem no louvor e/ou profecia em uma língua nunca aprendida”.
Reitera-se que, no Pentecostes, os discípulos falaram “línguas” (At 2.4). Em
Cesareia, o centurião Cornélio e a família falaram “línguas” (At 10.46). Os
irmãos em Éfeso falaram “línguas” (At 19.6). Em Samaria, e na vida de Paulo, as
“línguas” estão implícitas (At 8.17,18; 9.17). Em vista disso, nossa Declaração
de Fé ratifica que “o derramamento do Espírito veio com um sinal específico, o
falar em línguas (At 2.4)”.
A Teologia Sistemática Pentecostal assegura que “o
batismo dos crentes no Espírito Santo é testemunhado pelo sinal físico inicial
de falar em línguas conforme o Espírito de Deus lhes concede que falem (At
2.4)”. Nessa assertiva, toda experiência desacompanhada do “falar línguas” não
se caracteriza como “batismo no Espírito Santo”. O “falar línguas” repete-se na
vida da Igreja (At 10.46; 19.6). Isso porque a experiência pentecostal não
ficou restrita ao Dia de Pentecostes; ela acontece no cotidiano da Igreja de
Cristo na terra ao longo dos séculos, conforme a promessa divina (At 2.39). As
línguas só cessarão quando Cristo voltar (1 Co 13.8-10). Por isso, a instrução
bíblica diz: “procurai, com zelo, profetizar e não proibais falar línguas” (1
Co 14.39).
3. A Plenitude do Espírito Santo. Ratifica-se
que a experiência pentecostal não ficou restrita ao tempo dos apóstolos (At
2.39). A promessa não era exclusiva dos judeus e seus descendentes, mas alcança
a todos que responderem ao chamado divino, inclusive os gentios. O emprego de
Lucas da expressão “do meu Espírito derramarei” (At 2.17) aponta para o início
da dispensação do Espírito e mostra que a efusão será contínua até “o grande e
glorioso Dia do Senhor” (At 2.20). No Antigo Testamento, apenas algumas pessoas
experimentaram o Espírito. A partir do Pentecostes, Deus tornou disponível a
todos os seus filhos a plenitude do Espírito.
Somado ao revestimento de poder, a plenitude abrange
o “fruto do Espírito” (Gl 5.22). O fruto do Espírito Santo se relaciona com o
crescimento espiritual e o desenvolvimento do caráter do cristão. Refere-se à
nova vida em Cristo, o modo de andar e proceder daqueles que pertencem a Cristo
e são cheios do Espírito (Gl 5.16- 18; Ef 5.18). Jesus ensinou que é pelo fruto
que se conhece a árvore (Mt 12.33). O Comentário de Aplicação Pessoal ensina
que “os crentes exibem o fruto do Espírito, não porque eles trabalham nele, mas
simplesmente porque o Espírito controla as suas vidas”.
A plenitude também compreende as manifestações
espirituais, tais como: as profecias, as curas, os sonhos, as visões, os
prodígios e os sinais (At 2.17,19). Assim, o Espírito permanece em ação na vida
da Igreja. Ele é quem capacita e conduz o povo de Deus (Jo 16.13,14). Em razão
disso, a Bíblia ensina: “enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18). Assim sendo,
Lucas-Atos serve de modelo para a Igreja contemporânea. Portanto, que a nossa
oração seja igual à da Igreja Primitiva: “Ó Senhor, [...] concede aos teus
servos que falem com toda a ousadia a tua palavra; enquanto estendes a mão para
curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome do teu santo Filho
Jesus” (At 4.29,30).
Fonte: BAPTISTA, Douglas. A Supremacia das
Escrituras: a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus. Rio de
Janeiro, 2022, p. 125-134.
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