COMENTÁRIO E SUBSÍDIO
INTRODUÇÃO
O profeta Elias é um dos mais relevantes personagens da Bíblia. Foi ele que apareceu com Moisés no Monte da Transfiguração conversando com Jesus. Este destacado profeta é, sem dúvida, um modelo de servo perseverante e fiel para todo cristão. Nesta lição, veremos como Elias desafiou corajosamente a idolatria em Israel; como orava de modo simples, mas cheio de confiança; e como, apesar de tudo o que fez, expôs sua humanidade ao cair em desânimo. – O profeta Elias é o maior dos profetas orais – aqueles que não deixaram escritos –, tanto que, no episódio do monte da transfiguração, é ele quem aparece conversando com Jesus. Nesta lição, veremos o profeta enfrentando o maior desafio da sua vida: os 850 profetas das divindades falsas, lançando-lhes o desafio do fogo. Veremos como ele corajosamente desafiou os idólatras, como a sua oração foi simples, porém, profunda e cheia de confiança e, apesar disso, como ele manifestou a sua humanidade quando entrou em desânimo. O homem que reparou o altar do Senhor que estava quebrado agora está emocionalmente quebrado diante da grandeza da tarefa executada, a qual lhe esvaiu as forças. Deus, no entanto, age com ele tirando-o desse lugar emocional de desânimo e depressão por meio da brisa suave, que muda radicalmente a vida de Elias e dá a ele novas missões a serem desempenhadas.
I. O DESAFIO NO MONTE CARMELO
1. O zelo de Elias o pôs diante
de um confronto. Devido à apostasia
do povo e à falta de liderança espiritual do rei Acabe, e de outros que lhe
antecederam, Elias, como alguém que conhece muito bem o Deus que serve, viu-se
na condição de lançar um grande desafio diante de todos. Mandou chamar os
profetas de Baal e lhes incitou dizendo: “o deus que responder por fogo esse
será Deus” (1 Rs 18.24). O profeta
foi levado a fazer isso em função da pergunta, sem resposta, que lançou antes
do confronto: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus,
segui-o; e, se Baal, segui-o” (1 Rs 18.21). O povo não tinha resposta para esta pergunta porque
estava em dúvida sobre quem, de fato, era o verdadeiro Deus.
2. O problema de não saber a
quem adorar. Este triste dilema
espiritual se faz presente todas as vezes que o povo de Deus se envolve com a
idolatria, pois os que adoram ídolos não conseguem enxergar o verdadeiro amor e
cuidado divinos, uma vez que, a despeito de terem todas as características de
divindade, esses pretensos deuses não passam de ilusão inventada pelo homem.
Entretanto, mesmo sendo falsos, esses ídolos exercem muita força e influência
sobre o coração do homem, tornando-o tão ignorante quanto eles próprios (Sl 135.18).
Vale destacar que os ídolos não precisam
necessariamente ser físicos, pois podem estar camuflados no coração humano a
fim de controlarem as decisões e toda a vida de uma pessoa. Jesus nos alertou
sobre isso (Mt 6.24).
3. O desafio do fogo. Elias tinha certeza de que Deus era com ele e, por isso,
propôs o desafio: o Deus que respondesse com fogo deveria ser adorado. Os que
andam com Deus não precisam desafiá-lo para testarem sua lealdade e seu amor.
Tais pessoas são tão íntimas de Deus que são impelidas, guiadas, conduzidas em
seu coração para aquilo que o Senhor quer fazer. Portanto, não foi a vontade de
Elias lançar o desafio, mas a do próprio Deus para, mais uma vez, mostrar ao
povo de Israel que Ele era, sempre foi e sempre será o único Deus verdadeiro, a
quem deveria servir.
Jesus afirmou que onde
estivesse o tesouro de alguém ali estaria o seu coração (Mt 6.21); ou seja, o
coração pode seguir as ações de alguém e vice-versa. Qualquer coisa que tome o
lugar do Senhor como prioridade em nossa vida torna-se um ídolo. Este sempre é opaco,
ou seja, ofusca aquilo que se quer buscar, passando a apontar para si mesmo. O
ídolo serve como um substituto muito fútil para Deus. Até mesmo a religiosidade
e as denominações religiosas podem tornar-se um ídolo quando passam a manipular
o povo para obter vantagens próprias e adquirir poder (não do Espírito Santo, mas
de forças humanas), ou quando elas tornam-se um fim em si mesmas. O povo de
Israel nos tempos de Elias dobrara-se diante da loucura dos povos pagãos e
ajoelhara-se diante de ídolos feitos por mãos humanas. Assim, a arrogância e o
desprezo para com o Deus verdadeiro fez com que se instalasse a degradação
moral, social e religiosa, muito semelhante aos dias atuais (Is 2.8).
Quem era Baal – Baal era um deus dos cananeus; logo,
era adorado no território de Israel antes mesmo de eles ocuparem a terra e
continuou sendo adorado na vizinhança de Israel exercendo influência negativa
sobre o povo de Deus. Esse é um dos motivos pelos quais o Senhor mandou
aniquilar todos os povos vizinhos, pois eles levariam o povo de Deus a adorar
os falsos deuses com as suas influências sociais e comerciais, além das
alianças políticas que seriam feitas. Os textos antigos e também o Antigo
Testamento mencionam que tanto homens (os Kadeshim) quanto mulheres (as
Kadeshot) eram consagradas para entregarem-se à prostituição (Dt 23.18; 1 Rs
14.23s.; 2 Rs 23.7) no templo de Baal. O deus Baal, adorado por Acabe e Jezabel,
era oriundo de Tiro e chamavam-lhe Baal-Melcarte. A sua adoração envolvia
mergulhos extáticos com ativação sensorial e intensa atividade sexual na
prostituição sagrada.
Baal é o deus do tempo, que domina sobre o vento, as
nuvens e a chuva e se manifesta através do trovão e do relâmpago. Com isso ele
é ao mesmo tempo, deus da vegetação, que dá à terra fertilidade. Sua presença
decide sobre morte e vida das pessoas. Pois a natureza morria quando Baal
descia ao mundo inferior e renascia quando ele retornava à terra. Assim, na
polêmica do profeta Oséias (2,7,10s.) Baal pode aparecer como o doador do trigo
e do azeite, da lã e do linho. Nos mitos ugaríticos, ele se chama “o forte,
todo-poderoso” (Aliyan), “príncipe” (Zebul) ou “juiz, soberanos” (Shofet);
ilustrações e representações plásticas mostram-no em posição de combate, p.
ex., com uma clava na mão direita e um relâmpago qual lança na mão esquerda. O deus
juvenil e vitorioso reivindica e tem poder.
Essas representações de
Baal demonstram como esse falso deus supostamente tinha imensos poderes, o que
revela o motivo da forte atração à sua veneração pelo povo de Israel. Além
disso, num certo momento histórico, a palavra “baal” representava qualquer divindade,
como sendo uma designação para qualquer deus, inclusive para Jeová. Essa medida
causou muita confusão na mente do povo de Deus, enfraquecida pela falta de zelo
dos reis e pela falta de observância e conhecimento (Os 4.6) do que estava dito
na sua Palavra. Até mesmo um completo esquecimento de que havia uma Escritura
Sagrada veio a acontecer, como prova do relaxamento espiritual da liderança,
como ficou bem claro na reforma de Josias (2 Rs 22.8), quando nem mesmo o sumo
sacerdote sabia onde estava o livro da Lei. – A grande atração que o povo tinha
por Baal pode ter vindo do fato de que, em uma sociedade agropastoril, a fé
numa divindade que manda a chuva é bem-vinda. Israel, durante boa parte da sua história,
era henoteísta, ou seja, acreditava em Javé, porém não negava a realidade de
outros deuses. Sendo assim, Baal era uma divindade real para os israelitas.
Além disso, para os judeus antigos, Javé era o Deus do êxodo, da libertação,
mas não havia clareza quanto à sua condição de provedor da chuva e do seu poder
de fertilizar a terra. Soma-se a isso a preocupação dos israelitas de garantir
boas colheitas e o poderoso apelo que os cultos de fertilidade, que eram
regados a orgias sexuais, exerciam, sobretudo, sobre os homens do antigo
Israel. Assim, temos a mistura de preocupações econômicas, má teologia,
frouxidão espiritual e promiscuidade sexual. Enfim, a receita pronta para o
fracasso da nação.
Quem era Aserá – Aserá também é grafada como Astarte
(Jz 3.7; 10.6; 1 Sm 7.3), em babilônico como Ishtar ou, ainda, como Ashera (Jz
3.7; 1 Rs 18.19) e é representada por um símbolo cultual de madeira
(poste-ídolo), por uma árvore ou estaca (1 Rs 15.13; 2 Rs 21.3,7; Dt 16.21; Is
17.8). Era a deusa da fertilidade, do amor e da guerra e foi introduzida em
Israel pela primeira vez logo após chegarem à Terra Prometida (Jz 2.13; 10.6);
era comum no tempo de Samuel (1 Sm 7.3,4; 12.10) e recebeu sanção real por
Salomão (1 Rs 11.5) por meio dos cananeus com quem ele fez alianças. Sendo
Aserá a deusa da fertilidade, no seu templo praticava-se a prostituição sagrada
com várias orgias e rituais que o Senhor, o Deus de Israel, nunca pediu para o
seu povo fazer, pois tais coisas atentavam contra a dignidade humana. Portanto,
a adoração a esses falsos deuses incentivava a degradação humana e toda sorte
de abominações detestáveis.
O Zelo de Elias Leva a
um Confronto – Neste episódio, embora
Elias tivesse pedido para congregar os profetas de Aserá também, o texto omite qualquer
menção a essa deusa daí em diante, certamente porque o problema maior de Israel
era em relação a Baal, cuja veneração estava mais enraizada no povo. – Lançado
o desafio, coube aos profetas de Baal iniciarem a proposta de Elias, clamando
ao seu deus quase um dia inteiro, sem, contudo, obter resposta. Os profetas de
Baal fizeram invocações, orações, clamores em alta voz, retalharam-se com facas
e lanças no seu transe idólatra até sangrarem. A dança que faziam era
manquejando, pois se alternavam nos seus joelhos enquanto rodeavam o altar.
Além disso, ainda profetizavam falsamente (1 Rs 18.26-29).
O abismo existente entre o povo e Deus é banido por
meio de rituais de participação. A majestade aterradora de Deus, sua alteridade,
é diluída num fervor religioso por parte dos devotos. Desejos que inflamam a
alma são ativados por danças, gritos e sacerdotes em sangria desatada. A
transcendência da divindade é reduzida ao êxtase das emoções manipuladas.
Foi uma cena esquisita
e cômica; tanto que Elias começou a rir da ignorância deles depois de horas de
tentativas frustradas e disse a eles que Baal poderia estar dormindo ou ocupado
com outra atividade dos deuses. Obviamente, não houve resposta de Baal, o que
deu a Elias a chance de provar quem realmente era o Senhor Deus. A falsa
adoração e a falsa profecia confundem-se com as verdadeiras, porque nelas
existem o mesmo bezerro, as mesmas orações, o mesmo altar e pessoas que são
comprometidas com a religião, mas o deus adorado é falso, e a maioria estava
errada.
Os profetas que “comiam da mesa de Jezabel” eram
aqueles aos quais ela havia alugado. Eram profetas comprados, profetizavam
somente o que ela e seu marido gostavam de ouvir. O verdadeiro profeta não se
vende porque nenhuma profecia parte da vontade humana (2 Pe 1.20). Nenhum
sistema é profético e nenhum profeta se rende ao sistema. Os profetas do Senhor
geralmente dizem coisas que não queremos ouvir, mas que precisamos ouvir. Eles
não satisfazem vontades, mas necessidades. É um perigo quando nos cercamos de
“profetas
particulares” que estão sempre
amaciando o nosso ego.
Elias, zeloso pela observação da Palavra de Deus, quer
colocar um fim a esse festival de falsa religiosidade no meio do povo.
A Duplicidade da Adoração – A pergunta de Elias (“até quando?”)
quanto à duplicidade da adoração pode estar presente ainda hoje quando o povo
de Deus perde o seu tesouro principal, que é Cristo, dividindo o coração com outras
coisas, conforme relatado anteriormente. Essa triste realidade espiritual está
presente sempre que o povo de Deus envolve-se com ídolos, pois os que os adoram
tornam-se pessoas cegas ao verdadeiro amor e cuidado de Deus, pois os ídolos
têm toda a característica de um deus, mas não passam de uma fantasia inventada.
Entretanto, mesmo sendo fantasia, assumem forças no coração humano, levando as
pessoas a tornarem-se tão estúpidas quanto o próprio ídolo (Sl 135.18). Mas os
ídolos não precisam ser necessariamente feitos de material físico; eles podem
estar escondidos no coração humano, como Jesus mesmo falou (Mt 6.24), e ali se
camuflam e controlam toda a vida e decisões que a pessoa toma.
O Desafio do Fogo – E lias tinha certeza de que Deus era
com ele; por isso, propôs o desafio de que deus que respondesse com fogo seria
adorado. Os que andam com o Senhor não precisam fazer desafios com Ele para testar
a sua lealdade e o seu amor. O desafio era para os incrédulos, e Elias tinha
certeza de quem era Deus. Homens como Elias são tão íntimos de Deus que são
impelidos (guiados, levados, conduzidos) no seu coração por aquilo que o Senhor
quer fazer. Portanto, não foi a vontade de Elias lançar o desafio, mas a
própria vontade de Deus para, mais uma vez, mostrar ao povo que Ele era o Deus
verdadeiro a quem deveriam servir.
SUBSÍDIO
DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Em sentido amplo a idolatria pode indicar a
veneração ou adoração a qualquer objeto, pessoa, instituição ou ambição que
tome o lugar de Deus, ou que diminua a honra que lhe devemos. Deus nunca
admitiu outro além dEle. O Todo-Poderoso não divide seu louvor com quem quer
que seja: Ele é o único. O Senhor é Deus zeloso e requer exclusividade. Jamais
repartiria seu povo com um suposto rival. Por esta razão assevera
enfaticamente: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3).
Promova um pequeno debate em sua turma fazendo uma
simples pergunta: “O que é idolatria hoje?”
Todas as imagens, esculturas ou quaisquer outras
inovações com o objetivo de tornar o culto mais atraente pelo seu visual
divergem do sincero propósito de cultuar a Deus em espírito e verdade e, por
isso, constituem um tropeço para uma verdadeira adoração.
II A ORAÇÃO DE ELIAS
1. Os preparativos de
Elias. Diante da impossibilidade de
resposta de Baal aos apelos de seus adoradores, Elias começou os preparativos
para a operação do milagre (1 Rs 18.23). A primeira coisa que fez foi reparar o altar do Senhor,
que estava quebrado; consequência imediata da idolatria (1 Rs18.30). A seguir, juntou doze pedras que simbolizavam as
doze tribos de Israel, cavou um rego em volta do altar, colocou a lenha,
dividiu o bezerro em pedaços sobre a lenha e pediu para que se derramasse doze
cântaros de água sobre o altar, de tal modo que ficasse totalmente encharcado;
o que estava nele, e o rego em sua volta (1 Rs 18.31-35).
2. Uma oração confiante. A oração de Elias foi simples e curta, contrastando com as súplicas
dos profetas de Baal (1 Rs 18.36,37). Elias
queria mostrar que, para Deus responder, não são necessárias cerimônias
especiais, sacrifícios ou mutilações. Basta o exercício da fé no verdadeiro
Deus.
É relevante ressaltar que o profeta Elias, em
sua oração, declarou, diante do povo, que o Deus a quem ele orava era o mesmo
Deus dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, e
que, pelo fato de também ser um servo de Deus e estar cumprindo a vontade dEle,
tinha direito à manifestação divina como resposta.
Nesta oração, o profeta expõe o verdadeiro
motivo de ter erigido aquele altar, e da necessidade de Deus responder com
fogo: “para que este povo conheça que tu, Senhor, és Deus e que tu fizeste
tornar o seu coração para trás” (1 Rs 18.37).
3. A misericórdia de Deus. Na oração de Elias está claro que o desejo de Deus era que
seu povo se voltasse para Ele através daquela demonstração de poder. A descida
do fogo que consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, o pó e ainda secou toda
a água que estava ao redor do altar (1 Rs 18.38) é uma exata comprovação, não apenas de que Ele é Deus e
está acima de tudo e de todos, mas de que Ele estava dando a Israel uma nova
oportunidade de comunhão. A reação do povo foi unânime em reconhecer que o
Eterno é o Deus verdadeiro (1 Rs 18.39). Com isso, a seca que já durava três anos e meio terminou
(1 Rs 18.41,44). Elias subiu ao
cume do monte Carmelo, orou a Deus e caiu uma abundante chuva (1 Rs 18.45).
Os preparativos de Elias – Diante da negativa óbvia do falso deus em responder, Elias congregou o povo, consertou o altar do Senhor que estava quebrado (uma consequência lógica da idolatria), juntou 12 pedras que simbolizavam as 12 tribos, cavou um rego em volta do altar, colocou a lenha, dividiu o bezerro em pedaços sobre a lenha e pediu para que derramassem 12 cântaros de água, de tal forma que molhou todo o altar e o que estava nele e ainda encheu o rego em volta do altar. Fazendo assim, Elias eliminaria qualquer dúvida que fosse levantada quanto à veracidade do evento milagroso, pois quem adora falsos deuses pode facilmente inventar histórias falsas também.
Uma Oração
Confiante – Após
fazer os preparativos do altar e encharcar de água, Elias orou. A oração foi
simples e curta, contrastando com as longas e sacrificais orações dos profetas
de Baal. Tudo isso para mostrar que, para o Senhor responder, não são
necessárias cerimônias especiais, muito menos sacrifícios e mutilações; basta
exercitar a fé no Deus verdadeiro. Elias, na sua oração, lembrou-se dos
patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, da nação de Israel e, especialmente, que ele
era servo do Senhor; logo, ele tinha méritos para fazer essa oração. Percebe-se
que o desafio lançado por Elias não partiu do desejo dele — e isso é exposto na
sua oração —, mas que ele obedientemente estava ali naquele momento. José
Gonçalves afirma que a oração do profeta Elias revela ao menos três fatos que
são cruciais no contexto do livro de 1 Reis: (1) Uma teologia correta sobre a
divindade — “Tu és Deus”; (2) Uma correta antropologia — “Eu sou teu servo”; e
(3) Uma correta bibliologia — “Conforme a tua Palavra fiz essas coisas”. Na
oração, Elias expôs o verdadeiro motivo daquele altar e da necessidade de Deus
responder com fogo: “[...] para que este povo conheça que tu, Senhor, és Deus e
que tu fizeste tornar o seu coração para trás.” (1 Rs 18.37). A partir daquele
momento, ficou claro para o povo: Baal não é nada, e Jeová é tudo; Baal é uma
ilusão, Jeová é a realidade. Baal foi completamente humilhado e derrotado por
Jeová. Mas, para Jezabel, tal demonstração de forças e de poder absoluto de Deus
não a impressionou e nem a abalou positivamente ao arrependimento; muito pelo
contrário, isso acendeu ainda mais a sua perversidade, o que a fez decretar o
assassinato de Elias em 24 horas.
A Morte dos
Profetas de Baal – Elias
convocou o povo para não deixar escapar os profetas de Baal, que, assustados diante
da resposta inequívoca de quem era o Deus de Israel, tentaram fugir, escapando
pelas suas vidas. O profeta sabia que não poderia deixar vivos os falsos
profetas, pois eles influenciariam novamente o povo de Deus a pecar. Era uma
questão de honra dar condições ao povo para continuar firme no seu propósito. O
povo de Deus estava sendo destruído espiritualmente. Somente uma ação drástica
para impedir que a destruição continuasse. Alguém pode perguntar: “Como um Deus
de amor permitiria uma matança tão grande?” A resposta está no fato de que a
revelação de Deus foi progressiva para o povo de Deus, tornando-se completa em Cristo,
em quem não há mais espaço para derramamento de sangue, nem de animais, muito
menos de pessoas. Além do mais, na época de Elias, matar alguém era algo muito
normal — a maioria das disputas era resolvida com a morte de alguém. Portanto,
dentro da revelação progressiva de Deus e da normalidade da morte dos opositores
é que se dá a morte dos falsos profetas. Jesus, assim como Elias, manifestou
atitudes severas contra os religiosos e falsos mestres, que rejeitavam em parte
a Palavra de Deus, substituindo a riqueza da revelação divina pelos seus acréscimos
e as suas próprias ideias e interpretações. A denúncia de Jesus contra eles foi
forte: “[...] em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos
homens” (Mt 15.9). Jesus chamou-os de raça de víboras e de guias cegos que
invertiam os reais valores da Lei, pois queriam ser justos em coisas
desnecessárias em detrimento da justiça, da misericórdia e da fé. Ele também os
comparou a sepulcros bem pintados, mas que estavam cheios de carniça por dentro;
que honravam os verdadeiros profetas do passado, adornando os seus túmulos, mas
estavam impedindo o povo de conhecer Jesus e a sua liberdade, chegando ao ponto
de matá-lo (ver Mt 23.23-33). Jesus descreveu o caráter desses falsos mestres e
pregadores, assim como os dos ministros que buscam popularidade, imponência e atenção
das pessoas; que amam honrarias, cargos, títulos e posições, mas que impedem as
pessoas de entrar no Céu com o evangelho distorcido que pregam e as práticas
legalistas (Mt 23.2-13). São religiosos profissionais que, na aparência, são
espirituais e santos, mas que, na realidade, já estão condenados (Mt 23.33).
Essa lógica segue o modelo adotado por Elias no monte Carmelo quando aniquilou
os homens “santos” que estavam desviando o povo de Deus do caminho.
SUBSÍDIO
BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Elias rapidamente obtém do seu Deus uma resposta
por fogo. Os profetas de Baal são forçados a desistir de sua causa e, agora, é
a vez de Elias apresentar a sua. Vejamos se ele se dá bem:
1. Ele reparou o altar. Ele jamais usaria o
deles, que tinha sido contaminado com as orações a Baal, mas, encontrando em
ruínas um altar ali, que anteriormente tinha sido usado no culto ao Senhor, ele
escolheu reparar aquele (v.30) para insinuar a eles que ele não estava ali para
introduzir nenhuma nova religião, mas reviver a fé e a adoração ao Deus de seus
pais e convertê-los ao primeiro amor que tiveram e às primeiras obras que
praticaram. Ele não podia levá-los ao altar em Jerusalém a menos que pudesse
unir dos dois reinos novamente (o que, para a correção de ambos, Deus
determinou que agora isso não devia ser feito), por isso, pela sua autoridade
profética, ele constrói um altar no monte Carmelo e assim reconhece aquele que
anteriormente tinha sido edificado ali. […]
4. Então ele solenemente dirigiu-se a Deus em oração
diante do seu altar, suplicando-lhe humildemente: lembre-se de todas as suas
ofertas e aceite os teus holocaustos (Sl 20.3), e parta comprovar a sua
aceitação dela. A sua oração não foi longa, pois ele não usou vãs repetições
nem pensou que por muito falar seria ouvido; mas ela foi muito séria e serena,
e mostrou que a sua mente estava calma e tranquila, e longe do ardor e das
desordens em que se encontravam os profetas de Baal (vv. 36,37). Embora ele não
estivesse no lugar designado, escolheu a hora prescrita da oferta de manjares,
para testificar com isso sua comunhão com o altar em Jerusalém. Embora ele
esperasse uma resposta por fogo, ainda assim aproximou-se do altar com coragem,
e não temeu aquele fogo” (HENRY, Matthew. Comentário
Bíblico Antigo Testamento: Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 519,20).
III ELIAS EM HOREBE
1. Os feitos e a exaustão do
profeta. Elias chegou à
exaustão diante de tantos embates que enfrentou para fazer o povo de Deus
retornar ao caminho (1 Rs 19.5). Isso mostra que
até mesmo os crentes mais fiéis podem vir a sofrer depressão e desânimo na sua
caminhada, mesmo depois de serem usados pelo Senhor de forma extraordinária,
como foi Elias.
Isso significa que aqueles que ascendem em
posição na obra de Deus também podem descer em proporções iguais. Vejamos os
grandes feitos de Elias em sequência: conseguiu reunir o povo no Carmelo
através de Acabe, seu inimigo; fez descer fogo do céu no altar molhado; fez o
povo, mesmo em rebeldia, se dobrar diante do Senhor; eliminou cerca de 850
profetas de Baal e Aserá, que recebiam apoio do rei; fez chover após grande
período de seca; correu mais depressa que a carruagem de Acabe; e foi
sustentado por um anjo.
2. O pedido para morrer. A despeito das portentosas obras que fez, Elias foi
terrivelmente perseguido e ameaçado por Jezabel, a rainha. A opressão foi tanta
que o profeta, tomado de um sentimento de autopiedade, mesmo fugindo para não
morrer, desejou a morte em seu íntimo (1 Rs 19.4). Por isso, a Bíblia afirma que “Elias era homem sujeito
às mesmas paixões que nós” (Tg 5.17).
3. A resposta de Deus. Deus interveio de forma miraculosa, enviando até Elias um
anjo que lhe trouxe pão e água, tirando-o daquela situação de intenso desânimo
(1 Rs 19.5-7). Nisto
depreendemos que a comunhão e a palavra estavam à disposição do profeta. A
partir de então, ele se deixou levar pelo mover de Deus através do vento, do
terremoto, do fogo, da voz mansa e delicada (1 Rs 19.11,12). Elias teve oportunidade de confessar seu estado de
desespero, e Deus lhe deu novos sentidos para continuar seu ministério: ungir
Hazael como rei da Síria, Jeú como rei de Israel e Eliseu para lhe suceder como
profeta (1 Rs 19.15,16).
Os efeitos da
exaustão do profeta: Embora
Elias fosse esse grande homem de Deus, deixou brotar no seu coração alguns
sentimentos diante de todas as dificuldades que enfrentou, pois “era homem
sujeito às mesmas paixões que nós” (Tg 5.17), que o levaram a momentos de
profunda tristeza, o que é perfeitamente normal a todo ser humano. Até agora,
ele havia imposto temor e reverência para com Jeová, havia lutado ferrenhamente
desgastando as suas forças e, em seguida, foi tragado pela sua alma
autopiedosa. Escapando de Jezabel e tendo de lidar com todos esses sentimentos
profundos e verdadeiros, Elias fugiu completamente sozinho para o deserto. O
caso de Elias demonstra que o mais santo e fiel homem ou mulher de Deus sobre a
terra está sujeito a desfalecimentos e debilidades, mesmo depois de feitos extraordinários
como foi com Elias.
Elias enfrentou vários fatores externos desgastantes
que lhe causaram desânimo. Dentre alguns, podemos citar: (1) oposição ferrenha
ao seu ministério e às causas que defendia; (2) desapontamento nas suas
tentativas de êxito, como no caso do monte Carmelo, pois nem sempre nossos
ideais dão certo; (3) experimentou carência de simpatia na resposta que deu a
Deus: “e eu fiquei só” (1 Rs 19.10,14); (4) deixou-se desanimar pela situação espiritual
do povo, porque sabia que a declaração de obediência obtida no Carmelo era
apenas momentânea; (5) ele era um herói da fé (Tg 5.17), mas também um vaso de
barro (ver 2 Co 4.7). Geralmente, um estado depressivo acontece depois de um
grande triunfo (no caso de Elias) ou de uma grande derrota. – Mas o profeta
também teve que lidar com fatores internos, com as suas próprias fraquezas e
decisões tomadas, como: (1) o seu isolamento (1 Rs 19.3b; 14b); (2) assentou-se
debaixo do zimbro, demonstrando um estado emocional de desânimo (19.4); (3)
dormiu, o que pode demonstrar uma situação de fuga da imensa dor de estar sendo
perseguido (19.5); (4) colocou-se num lugar de falta de ocupação; (5) deixou-se
envolver por sentimentos de autocomiseração e autopiedade, “e eu fiquei só” e,
na segunda vez que Deus pergunta, ele responde que tinha sido “em extremo zeloso”
(19.14), quase que rancoroso. Na fuga, ele também demonstra uma incoerência,
pois estava fugindo da morte, porém pedindo a morte (19.4,10). Ele senta-se
embaixo da árvore em total decepção e exaustão ministerial, mas o que lhe salva
é a sua sinceridade diante de Deus e a coragem de expor o seu coração diante
daquEle que tudo pode. Elias sabe que a sinceridade é tudo para Deus e que dEle
não se esconde nada.
O pedido para morrer – Elias, tomado de um sentimento de pena de si mesmo (1 Rs 19.4), diante da intensa oposição e perseguição, desencadeou esse efeito negativo, chegando ao ponto de pedir a morte, e o seu destino foi fugir para o deserto. O principal motivo da depressão de Elias foi o seu envolvimento religioso e as frustrações dele decorrentes, pois a religião oficial estava corrompida. Contextos eclesiásticos adoecidos e idólatras, como esse de Elias, são fonte de malefícios para o mais honrado e fiel servo de Deus. Reis e líderes que absolutizam o poder e dominam sobre o povo tornam-se eles mesmos um ídolo a ser venerado e obedecido de forma subserviente a todo custo. Contextos eclesiásticos marcados pela competitividade, isolamento e ostentação também favorecem a depressão. – Foi fugindo dessas situações todas (reais, mas também emocionais) que Elias foi para o deserto. Ele viu-se obrigado a ir para o deserto por uma questão de sobrevivência física, mas também de sobrevivência espiritual. Muitas vezes, o crente fiel é empurrado para o deserto pelas circunstâncias da vida, mas ele pode voluntariamente optar pelo deserto, que sempre é um encontro consigo mesmo, como foi com Elias e com as realidades pessoais e circunstanciais, na maioria das vezes difíceis de admitir e organizar, porém extremamente necessárias, pois é no deserto que o Senhor mandou o anjo alimentar Elias, que, com a força de Deus, caminhou 40 dias até o monte Sinai (Horebe). – Para o cristão, o deserto é o lugar do desnudamento da alma, da abertura do coração e da exposição dos recônditos mais secretos da interioridade humana para aquEle que tudo vê. Lá é onde se abandonam ilusões, especialmente as de si mesmo, e onde se percebe a falência de conceitos e ideologias que tornam Deus diminuto ou que tentam determinar as suas ações. Portanto, o deserto é um lugar, não necessariamente geográfico, de estar inteiro diante de Deus; é um lugar “onde tudo que nos ilude ou engana é desmascarado e coloca-nos face a face com Deus”. O deserto é um estado de coração e de espírito. Pode ser um lugar de dor, mas também de conhecimento e transformação. É o lugar onde os ídolos são quebrados e as falsas proteções desaparecem, onde os títulos e as posições não representam nada. É o lugar da nudez total e do abandono completo em Deus e do encontro pleno com Ele. O deserto é o lugar de ruptura, de recomeço, de autoconhecimento, de desencantamento das ilusões, de encontro com Deus, assim como foi com Elias. Não precisamos de profundas crises, mas, como Elias, podemos ir para o deserto em atitude de solitude e disponibilidade para ouvir a voz do Senhor com frequência.
A resposta de
Deus a Elias – Apesar
do estado de desânimo de Elias, Deus interveio de forma miraculosa tirando o
seu servo da situação e proporcionando-lhe pão e água trazidos pelo anjo,
demonstrando que a comunhão e a palavra estavam à sua disposição. Deus deu a
ele uma boa refeição (v. 6); uma boa noite de sono (v. 6); mais uma boa
refeição (vv. 7 e 8); fê-lo voltar para o lugar da revelação, o monte de Deus
(vv. 8-15); e depois lhe disse: “Vai, volta ao teu caminho”, ou seja, “está
tudo bem, Elias, já passou. Eu estou com você, e isso basta”. Deus deu novo
sentido à vida de Elias. – No monte Horebe, o profeta deixou-se levar pelo
mover de Deus por meio do vento, do terremoto, do fogo, do cicio e da voz
suave. – A brisa suave foi a resposta de Deus para Elias, e ele deixou-se levar
por esse mover. A brisa foi o frescor que lhe tirou do lugar de medo e da
autopiedade em que se encontrava. Ele havia lutado com todas as forças; havia
vencido uma luta renhida contra a idolatria e contra as ameaças dos governantes
de Israel; o seu espírito estava em ebulição, mas tudo o que ele precisava
naquele momento era do frescor da brisa que trazia a voz de Deus e dava a ele
mais 13 anos de sobrevida no ministério. – Deus fez Elias entrar num processo
de cura muito interessante: (1) deu-lhe refrigério físico, providenciando-lhe
descanso, comida e bebida; (2) desafiou-o mentalmente a olhar para si mesmo e a
verbalizar as suas preocupações; (3) fortaleceu-lhe emocionalmente mostrando o
seu poder; (4) deu-lhe uma atribuição a fazer e encorajou-o a retornar ao trabalho;
e (5) providenciou para ele uma companhia para ficar ao seu lado, Eliseu. Isso
mostra que, sempre e infinitamente, Deus é aquEle que nos acorda, alimenta,
conforta por intermédio das suas Palavras e que nos convida a caminhar e prosseguir.
SUBSÍDIO
DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
“O compromisso sincero de Elias com Deus nos choca e
nos incentiva. Ele foi enviado para confrontar — não consolar. E Elias
pronunciou as palavras de Deus a um rei que, muitas vezes, rejeitava a mensagem
simplesmente porque Elias a trazia. Elias decidiu exercer seu ministério apenas
para Deus e pagou por essa decisão, sendo isolado de outras pessoas que também
eram fiéis a Deus.”
Para que seus alunos reflitam melhor sobre quem foi
Elias e como desenvolveu seu ministério profético, peça a eles que relacionem
no quadro as “Qualidades e Realizações” do profeta Elias, conforme o modelo
abaixo. Atenção! Somente mostre o resultado depois que eles cumprirem a tarefa.
QUALIDADES E REALIZAÇÕES
• Foi o mais famoso e dramático profeta de Israel.
• Predisse o princípio e o fim de uma seca de três
anos.
• Foi usado por Deus para ressuscitar um filho morto
e devolvê-lo à sua mãe.
• Representou Deus em uma disputa com sacerdotes de
Baal e Aserá.
• Estava com Moisés no episódio da transfiguração de
Jesus no Novo Testamento.
(Extraído e adaptado da Bíblia de
Estudo Cronológica Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p.733).
CONCLUSÃO
A vida de Elias é um grande exemplo para todo
crente que fielmente serve ao Senhor. Ainda que à sua volta quase todos estejam
contaminados pela idolatria e toda forma de injustiça, o cristão não pode
perder o ânimo e a vontade de lutar pela causa do Senhor. Elias é exemplo do
cuidado e da fidelidade de Deus quando o crente fiel decide seguir o que a
Palavra de Deus ensina e não aquilo que a maioria acha que está certo. – O zelo de Elias pela adoração
verdadeira a Deus, que realizara tantos livramentos e sinais no passado e que
agora estava sendo desprezado pela ignorância de reis que fizeram desviar o
povo do caminho do Senhor, acendeu-se de tal forma que ele lançou um desafio
humanamente impossível. O deus verdadeiro seria aquele que, dentre Jeová, Baal
e Aserá, fizesse descer fogo do Céu. Quem respondesse com fogo seria digno da
adoração. Dessa forma, Elias queria fazer o povo entender que o que estavam
praticando era idolatria e algo extremamente abominável aos olhos do Senhor e
diante do desafio, Deus honrou o seu servo enviando fogo sobre o altar o que
levou o povo a clamar: Só o Senhor é Deus.
REFERÊNCIAS
LIÇÕES BÍBLICAS. 3º
Trimestre 2021 - Lição 4. Rio de Janeiro: CPAD, 25, jul. 2021.
POMMERENING, Claiton Ivan. O
plano de Deus para Israel em meio à infidelidade da nação. Rio de Janeiro:
CPAD, 2021.
STAMPS, Donald C. Bíblia
de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo
Testamento, v. II Históricos, p. 449. Santo André: Geográfica,
2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário