sexta-feira, 23 de julho de 2021

LIÇÃO 4: ELIAS E OS PROFETAS DE ASERÁ E BAAL

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO

 INTRODUÇÃO 

O profeta Elias é um dos mais relevantes personagens da Bíblia. Foi ele que apareceu com Moisés no Monte da Transfiguração conversando com Jesus. Este destacado profeta é, sem dúvida, um modelo de servo perseverante e fiel para todo cristão. Nesta lição, veremos como Elias desafiou corajosamente a idolatria em Israel; como orava de modo simples, mas cheio de confiança; e como, apesar de tudo o que fez, expôs sua humanidade ao cair em desânimo. – O profeta Elias é o maior dos profetas orais – aqueles que não deixaram escritos –, tanto que, no episódio do monte da transfiguração, é ele quem aparece conversando com Jesus. Nesta lição, veremos o profeta enfrentando o maior desafio da sua vida: os 850 profetas das divindades falsas, lançando-lhes o desafio do fogo. Veremos como ele corajosamente desafiou os idólatras, como a sua oração foi simples, porém, profunda e cheia de confiança e, apesar disso, como ele manifestou a sua humanidade quando entrou em desânimo. O homem que reparou o altar do Senhor que estava quebrado agora está emocionalmente quebrado diante da grandeza da tarefa executada, a qual lhe esvaiu as forças. Deus, no entanto, age com ele tirando-o desse lugar emocional de desânimo e depressão por meio da brisa suave, que muda radicalmente a vida de Elias e dá a ele novas missões a serem desempenhadas.

 I. O DESAFIO NO MONTE CARMELO

1. O zelo de Elias o pôs diante de um confronto. Devido à apostasia do povo e à falta de liderança espiritual do rei Acabe, e de outros que lhe antecederam, Elias, como alguém que conhece muito bem o Deus que serve, viu-se na condição de lançar um grande desafio diante de todos. Mandou chamar os profetas de Baal e lhes incitou dizendo: “o deus que responder por fogo esse será Deus” (1 Rs 18.24).  O profeta foi levado a fazer isso em função da pergunta, sem resposta, que lançou antes do confronto: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; e, se Baal, segui-o” (1 Rs 18.21). O povo não tinha resposta para esta pergunta porque estava em dúvida sobre quem, de fato, era o verdadeiro Deus.

2. O problema de não saber a quem adorar. Este triste dilema espiritual se faz presente todas as vezes que o povo de Deus se envolve com a idolatria, pois os que adoram ídolos não conseguem enxergar o verdadeiro amor e cuidado divinos, uma vez que, a despeito de terem todas as características de divindade, esses pretensos deuses não passam de ilusão inventada pelo homem. Entretanto, mesmo sendo falsos, esses ídolos exercem muita força e influência sobre o coração do homem, tornando-o tão ignorante quanto eles próprios (Sl 135.18).

Vale destacar que os ídolos não precisam necessariamente ser físicos, pois podem estar camuflados no coração humano a fim de controlarem as decisões e toda a vida de uma pessoa. Jesus nos alertou sobre isso (Mt 6.24).

3. O desafio do fogo. Elias tinha certeza de que Deus era com ele e, por isso, propôs o desafio: o Deus que respondesse com fogo deveria ser adorado. Os que andam com Deus não precisam desafiá-lo para testarem sua lealdade e seu amor. Tais pessoas são tão íntimas de Deus que são impelidas, guiadas, conduzidas em seu coração para aquilo que o Senhor quer fazer. Portanto, não foi a vontade de Elias lançar o desafio, mas a do próprio Deus para, mais uma vez, mostrar ao povo de Israel que Ele era, sempre foi e sempre será o único Deus verdadeiro, a quem deveria servir.

Jesus afirmou que onde estivesse o tesouro de alguém ali estaria o seu coração (Mt 6.21); ou seja, o coração pode seguir as ações de alguém e vice-versa. Qualquer coisa que tome o lugar do Senhor como prioridade em nossa vida torna-se um ídolo. Este sempre é opaco, ou seja, ofusca aquilo que se quer buscar, passando a apontar para si mesmo. O ídolo serve como um substituto muito fútil para Deus. Até mesmo a religiosidade e as denominações religiosas podem tornar-se um ídolo quando passam a manipular o povo para obter vantagens próprias e adquirir poder (não do Espírito Santo, mas de forças humanas), ou quando elas tornam-se um fim em si mesmas. O povo de Israel nos tempos de Elias dobrara-se diante da loucura dos povos pagãos e ajoelhara-se diante de ídolos feitos por mãos humanas. Assim, a arrogância e o desprezo para com o Deus verdadeiro fez com que se instalasse a degradação moral, social e religiosa, muito semelhante aos dias atuais (Is 2.8).

Quem era Baal – Baal era um deus dos cananeus; logo, era adorado no território de Israel antes mesmo de eles ocuparem a terra e continuou sendo adorado na vizinhança de Israel exercendo influência negativa sobre o povo de Deus. Esse é um dos motivos pelos quais o Senhor mandou aniquilar todos os povos vizinhos, pois eles levariam o povo de Deus a adorar os falsos deuses com as suas influências sociais e comerciais, além das alianças políticas que seriam feitas. Os textos antigos e também o Antigo Testamento mencionam que tanto homens (os Kadeshim) quanto mulheres (as Kadeshot) eram consagradas para entregarem-se à prostituição (Dt 23.18; 1 Rs 14.23s.; 2 Rs 23.7) no templo de Baal. O deus Baal, adorado por Acabe e Jezabel, era oriundo de Tiro e chamavam-lhe Baal-Melcarte. A sua adoração envolvia mergulhos extáticos com ativação sensorial e intensa atividade sexual na prostituição sagrada.

Baal é o deus do tempo, que domina sobre o vento, as nuvens e a chuva e se manifesta através do trovão e do relâmpago. Com isso ele é ao mesmo tempo, deus da vegetação, que dá à terra fertilidade. Sua presença decide sobre morte e vida das pessoas. Pois a natureza morria quando Baal descia ao mundo inferior e renascia quando ele retornava à terra. Assim, na polêmica do profeta Oséias (2,7,10s.) Baal pode aparecer como o doador do trigo e do azeite, da lã e do linho. Nos mitos ugaríticos, ele se chama “o forte, todo-poderoso” (Aliyan), “príncipe” (Zebul) ou “juiz, soberanos” (Shofet); ilustrações e representações plásticas mostram-no em posição de combate, p. ex., com uma clava na mão direita e um relâmpago qual lança na mão esquerda. O deus juvenil e vitorioso reivindica e tem poder.

Essas representações de Baal demonstram como esse falso deus supostamente tinha imensos poderes, o que revela o motivo da forte atração à sua veneração pelo povo de Israel. Além disso, num certo momento histórico, a palavra “baal” representava qualquer divindade, como sendo uma designação para qualquer deus, inclusive para Jeová. Essa medida causou muita confusão na mente do povo de Deus, enfraquecida pela falta de zelo dos reis e pela falta de observância e conhecimento (Os 4.6) do que estava dito na sua Palavra. Até mesmo um completo esquecimento de que havia uma Escritura Sagrada veio a acontecer, como prova do relaxamento espiritual da liderança, como ficou bem claro na reforma de Josias (2 Rs 22.8), quando nem mesmo o sumo sacerdote sabia onde estava o livro da Lei. – A grande atração que o povo tinha por Baal pode ter vindo do fato de que, em uma sociedade agropastoril, a fé numa divindade que manda a chuva é bem-vinda. Israel, durante boa parte da sua história, era henoteísta, ou seja, acreditava em Javé, porém não negava a realidade de outros deuses. Sendo assim, Baal era uma divindade real para os israelitas. Além disso, para os judeus antigos, Javé era o Deus do êxodo, da libertação, mas não havia clareza quanto à sua condição de provedor da chuva e do seu poder de fertilizar a terra. Soma-se a isso a preocupação dos israelitas de garantir boas colheitas e o poderoso apelo que os cultos de fertilidade, que eram regados a orgias sexuais, exerciam, sobretudo, sobre os homens do antigo Israel. Assim, temos a mistura de preocupações econômicas, má teologia, frouxidão espiritual e promiscuidade sexual. Enfim, a receita pronta para o fracasso da nação.

Quem era Aserá – Aserá também é grafada como Astarte (Jz 3.7; 10.6; 1 Sm 7.3), em babilônico como Ishtar ou, ainda, como Ashera (Jz 3.7; 1 Rs 18.19) e é representada por um símbolo cultual de madeira (poste-ídolo), por uma árvore ou estaca (1 Rs 15.13; 2 Rs 21.3,7; Dt 16.21; Is 17.8). Era a deusa da fertilidade, do amor e da guerra e foi introduzida em Israel pela primeira vez logo após chegarem à Terra Prometida (Jz 2.13; 10.6); era comum no tempo de Samuel (1 Sm 7.3,4; 12.10) e recebeu sanção real por Salomão (1 Rs 11.5) por meio dos cananeus com quem ele fez alianças. Sendo Aserá a deusa da fertilidade, no seu templo praticava-se a prostituição sagrada com várias orgias e rituais que o Senhor, o Deus de Israel, nunca pediu para o seu povo fazer, pois tais coisas atentavam contra a dignidade humana. Portanto, a adoração a esses falsos deuses incentivava a degradação humana e toda sorte de abominações detestáveis.

O Zelo de Elias Leva a um Confronto – Neste episódio, embora Elias tivesse pedido para congregar os profetas de Aserá também, o texto omite qualquer menção a essa deusa daí em diante, certamente porque o problema maior de Israel era em relação a Baal, cuja veneração estava mais enraizada no povo. – Lançado o desafio, coube aos profetas de Baal iniciarem a proposta de Elias, clamando ao seu deus quase um dia inteiro, sem, contudo, obter resposta. Os profetas de Baal fizeram invocações, orações, clamores em alta voz, retalharam-se com facas e lanças no seu transe idólatra até sangrarem. A dança que faziam era manquejando, pois se alternavam nos seus joelhos enquanto rodeavam o altar. Além disso, ainda profetizavam falsamente (1 Rs 18.26-29).

O abismo existente entre o povo e Deus é banido por meio de rituais de participação. A majestade aterradora de Deus, sua alteridade, é diluída num fervor religioso por parte dos devotos. Desejos que inflamam a alma são ativados por danças, gritos e sacerdotes em sangria desatada. A transcendência da divindade é reduzida ao êxtase das emoções manipuladas.

Foi uma cena esquisita e cômica; tanto que Elias começou a rir da ignorância deles depois de horas de tentativas frustradas e disse a eles que Baal poderia estar dormindo ou ocupado com outra atividade dos deuses. Obviamente, não houve resposta de Baal, o que deu a Elias a chance de provar quem realmente era o Senhor Deus. A falsa adoração e a falsa profecia confundem-se com as verdadeiras, porque nelas existem o mesmo bezerro, as mesmas orações, o mesmo altar e pessoas que são comprometidas com a religião, mas o deus adorado é falso, e a maioria estava errada.

Os profetas que “comiam da mesa de Jezabel” eram aqueles aos quais ela havia alugado. Eram profetas comprados, profetizavam somente o que ela e seu marido gostavam de ouvir. O verdadeiro profeta não se vende porque nenhuma profecia parte da vontade humana (2 Pe 1.20). Nenhum sistema é profético e nenhum profeta se rende ao sistema. Os profetas do Senhor geralmente dizem coisas que não queremos ouvir, mas que precisamos ouvir. Eles não satisfazem vontades, mas necessidades. É um perigo quando nos cercamos de “profetas

particulares” que estão sempre amaciando o nosso ego.

Elias, zeloso pela observação da Palavra de Deus, quer colocar um fim a esse festival de falsa religiosidade no meio do povo.

A Duplicidade da Adoração – A pergunta de Elias (“até quando?”) quanto à duplicidade da adoração pode estar presente ainda hoje quando o povo de Deus perde o seu tesouro principal, que é Cristo, dividindo o coração com outras coisas, conforme relatado anteriormente. Essa triste realidade espiritual está presente sempre que o povo de Deus envolve-se com ídolos, pois os que os adoram tornam-se pessoas cegas ao verdadeiro amor e cuidado de Deus, pois os ídolos têm toda a característica de um deus, mas não passam de uma fantasia inventada. Entretanto, mesmo sendo fantasia, assumem forças no coração humano, levando as pessoas a tornarem-se tão estúpidas quanto o próprio ídolo (Sl 135.18). Mas os ídolos não precisam ser necessariamente feitos de material físico; eles podem estar escondidos no coração humano, como Jesus mesmo falou (Mt 6.24), e ali se camuflam e controlam toda a vida e decisões que a pessoa toma.

O Desafio do Fogo – E lias tinha certeza de que Deus era com ele; por isso, propôs o desafio de que deus que respondesse com fogo seria adorado. Os que andam com o Senhor não precisam fazer desafios com Ele para testar a sua lealdade e o seu amor. O desafio era para os incrédulos, e Elias tinha certeza de quem era Deus. Homens como Elias são tão íntimos de Deus que são impelidos (guiados, levados, conduzidos) no seu coração por aquilo que o Senhor quer fazer. Portanto, não foi a vontade de Elias lançar o desafio, mas a própria vontade de Deus para, mais uma vez, mostrar ao povo que Ele era o Deus verdadeiro a quem deveriam servir.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Em sentido amplo a idolatria pode indicar a veneração ou adoração a qualquer objeto, pessoa, instituição ou ambição que tome o lugar de Deus, ou que diminua a honra que lhe devemos. Deus nunca admitiu outro além dEle. O Todo-Poderoso não divide seu louvor com quem quer que seja: Ele é o único. O Senhor é Deus zeloso e requer exclusividade. Jamais repartiria seu povo com um suposto rival. Por esta razão assevera enfaticamente: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3).

Promova um pequeno debate em sua turma fazendo uma simples pergunta: “O que é idolatria hoje?”

Todas as imagens, esculturas ou quaisquer outras inovações com o objetivo de tornar o culto mais atraente pelo seu visual divergem do sincero propósito de cultuar a Deus em espírito e verdade e, por isso, constituem um tropeço para uma verdadeira adoração.

II A ORAÇÃO DE ELIAS 

1. Os preparativos de Elias. Diante da impossibilidade de resposta de Baal aos apelos de seus adoradores, Elias começou os preparativos para a operação do milagre (1 Rs 18.23). A primeira coisa que fez foi reparar o altar do Senhor, que estava quebrado; consequência imediata da idolatria (1 Rs18.30). A seguir,  juntou doze pedras que simbolizavam as doze tribos de Israel, cavou um rego em volta do altar, colocou a lenha, dividiu o bezerro em pedaços sobre a lenha e pediu para que se derramasse doze cântaros de água sobre o altar, de tal modo que ficasse totalmente encharcado; o que estava nele, e o rego em sua volta (1 Rs 18.31-35).

2. Uma oração confiante. A oração de Elias foi simples e curta, contrastando com as súplicas dos profetas de Baal (1 Rs 18.36,37).  Elias queria mostrar que, para Deus responder, não são necessárias cerimônias especiais, sacrifícios ou mutilações. Basta o exercício da fé no verdadeiro Deus.

É relevante ressaltar que o profeta Elias, em sua oração, declarou, diante do povo, que o Deus a quem ele orava era o mesmo Deus dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, e que, pelo fato de também ser um servo de Deus e estar cumprindo a vontade dEle, tinha direito à manifestação divina como resposta.

Nesta oração, o profeta expõe o verdadeiro motivo de ter erigido aquele altar, e da necessidade de Deus responder com fogo: “para que este povo conheça que tu, Senhor, és Deus e que tu fizeste tornar o seu coração para trás” (1 Rs 18.37).

3. A misericórdia de Deus. Na oração de Elias está claro que o desejo de Deus era que seu povo se voltasse para Ele através daquela demonstração de poder. A descida do fogo que consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, o pó e ainda secou toda a água que estava ao redor do altar (1 Rs 18.38) é uma exata comprovação, não apenas de que Ele é Deus e está acima de tudo e de todos, mas de que Ele estava dando a Israel uma nova oportunidade de comunhão. A reação do povo foi unânime em reconhecer que o Eterno é o Deus verdadeiro (1 Rs 18.39). Com isso, a seca que já durava três anos e meio terminou (1 Rs 18.41,44). Elias subiu ao cume do monte Carmelo, orou a Deus e caiu uma abundante chuva (1 Rs 18.45).

Os preparativos de Elias – Diante da negativa óbvia do falso deus em responder, Elias congregou o povo, consertou o altar do Senhor que estava quebrado (uma consequência lógica da idolatria), juntou 12 pedras que simbolizavam as 12 tribos, cavou um rego em volta do altar, colocou a lenha, dividiu o bezerro em pedaços sobre a lenha e pediu para que derramassem 12 cântaros de água, de tal forma que molhou todo o altar e o que estava nele e ainda encheu o rego em volta do altar. Fazendo assim, Elias eliminaria qualquer dúvida que fosse levantada quanto à veracidade do evento milagroso, pois quem adora falsos deuses pode facilmente inventar histórias falsas também.

Uma Oração Confiante – Após fazer os preparativos do altar e encharcar de água, Elias orou. A oração foi simples e curta, contrastando com as longas e sacrificais orações dos profetas de Baal. Tudo isso para mostrar que, para o Senhor responder, não são necessárias cerimônias especiais, muito menos sacrifícios e mutilações; basta exercitar a fé no Deus verdadeiro. Elias, na sua oração, lembrou-se dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, da nação de Israel e, especialmente, que ele era servo do Senhor; logo, ele tinha méritos para fazer essa oração. Percebe-se que o desafio lançado por Elias não partiu do desejo dele — e isso é exposto na sua oração —, mas que ele obedientemente estava ali naquele momento. José Gonçalves afirma que a oração do profeta Elias revela ao menos três fatos que são cruciais no contexto do livro de 1 Reis: (1) Uma teologia correta sobre a divindade — “Tu és Deus”; (2) Uma correta antropologia — “Eu sou teu servo”; e (3) Uma correta bibliologia — “Conforme a tua Palavra fiz essas coisas”. Na oração, Elias expôs o verdadeiro motivo daquele altar e da necessidade de Deus responder com fogo: “[...] para que este povo conheça que tu, Senhor, és Deus e que tu fizeste tornar o seu coração para trás.” (1 Rs 18.37). A partir daquele momento, ficou claro para o povo: Baal não é nada, e Jeová é tudo; Baal é uma ilusão, Jeová é a realidade. Baal foi completamente humilhado e derrotado por Jeová. Mas, para Jezabel, tal demonstração de forças e de poder absoluto de Deus não a impressionou e nem a abalou positivamente ao arrependimento; muito pelo contrário, isso acendeu ainda mais a sua perversidade, o que a fez decretar o assassinato de Elias em 24 horas.

A Morte dos Profetas de Baal – Elias convocou o povo para não deixar escapar os profetas de Baal, que, assustados diante da resposta inequívoca de quem era o Deus de Israel, tentaram fugir, escapando pelas suas vidas. O profeta sabia que não poderia deixar vivos os falsos profetas, pois eles influenciariam novamente o povo de Deus a pecar. Era uma questão de honra dar condições ao povo para continuar firme no seu propósito. O povo de Deus estava sendo destruído espiritualmente. Somente uma ação drástica para impedir que a destruição continuasse. Alguém pode perguntar: “Como um Deus de amor permitiria uma matança tão grande?” A resposta está no fato de que a revelação de Deus foi progressiva para o povo de Deus, tornando-se completa em Cristo, em quem não há mais espaço para derramamento de sangue, nem de animais, muito menos de pessoas. Além do mais, na época de Elias, matar alguém era algo muito normal — a maioria das disputas era resolvida com a morte de alguém. Portanto, dentro da revelação progressiva de Deus e da normalidade da morte dos opositores é que se dá a morte dos falsos profetas. Jesus, assim como Elias, manifestou atitudes severas contra os religiosos e falsos mestres, que rejeitavam em parte a Palavra de Deus, substituindo a riqueza da revelação divina pelos seus acréscimos e as suas próprias ideias e interpretações. A denúncia de Jesus contra eles foi forte: “[...] em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mt 15.9). Jesus chamou-os de raça de víboras e de guias cegos que invertiam os reais valores da Lei, pois queriam ser justos em coisas desnecessárias em detrimento da justiça, da misericórdia e da fé. Ele também os comparou a sepulcros bem pintados, mas que estavam cheios de carniça por dentro; que honravam os verdadeiros profetas do passado, adornando os seus túmulos, mas estavam impedindo o povo de conhecer Jesus e a sua liberdade, chegando ao ponto de matá-lo (ver Mt 23.23-33). Jesus descreveu o caráter desses falsos mestres e pregadores, assim como os dos ministros que buscam popularidade, imponência e atenção das pessoas; que amam honrarias, cargos, títulos e posições, mas que impedem as pessoas de entrar no Céu com o evangelho distorcido que pregam e as práticas legalistas (Mt 23.2-13). São religiosos profissionais que, na aparência, são espirituais e santos, mas que, na realidade, já estão condenados (Mt 23.33). Essa lógica segue o modelo adotado por Elias no monte Carmelo quando aniquilou os homens “santos” que estavam desviando o povo de Deus do caminho.

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“Elias rapidamente obtém do seu Deus uma resposta por fogo. Os profetas de Baal são forçados a desistir de sua causa e, agora, é a vez de Elias apresentar a sua. Vejamos se ele se dá bem:

1. Ele reparou o altar. Ele jamais usaria o deles, que tinha sido contaminado com as orações a Baal, mas, encontrando em ruínas um altar ali, que anteriormente tinha sido usado no culto ao Senhor, ele escolheu reparar aquele (v.30) para insinuar a eles que ele não estava ali para introduzir nenhuma nova religião, mas reviver a fé e a adoração ao Deus de seus pais e convertê-los ao primeiro amor que tiveram e às primeiras obras que praticaram. Ele não podia levá-los ao altar em Jerusalém a menos que pudesse unir dos dois reinos novamente (o que, para a correção de ambos, Deus determinou que agora isso não devia ser feito), por isso, pela sua autoridade profética, ele constrói um altar no monte Carmelo e assim reconhece aquele que anteriormente tinha sido edificado ali. […]

4. Então ele solenemente dirigiu-se a Deus em oração diante do seu altar, suplicando-lhe humildemente: lembre-se de todas as suas ofertas e aceite os teus holocaustos (Sl 20.3), e parta comprovar a sua aceitação dela. A sua oração não foi longa, pois ele não usou vãs repetições nem pensou que por muito falar seria ouvido; mas ela foi muito séria e serena, e mostrou que a sua mente estava calma e tranquila, e longe do ardor e das desordens em que se encontravam os profetas de Baal (vv. 36,37). Embora ele não estivesse no lugar designado, escolheu a hora prescrita da oferta de manjares, para testificar com isso sua comunhão com o altar em Jerusalém. Embora ele esperasse uma resposta por fogo, ainda assim aproximou-se do altar com coragem, e não temeu aquele fogo” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 519,20).

III ELIAS EM HOREBE 

1. Os feitos e a exaustão do profeta. Elias chegou à exaustão diante de tantos embates que enfrentou para fazer o povo de Deus retornar ao caminho (1 Rs 19.5). Isso mostra que até mesmo os crentes mais fiéis podem vir a sofrer depressão e desânimo na sua caminhada, mesmo depois de serem usados pelo Senhor de forma extraordinária, como foi Elias.

Isso significa que aqueles que ascendem em posição na obra de Deus também podem descer em proporções iguais. Vejamos os grandes feitos de Elias em sequência: conseguiu reunir o povo no Carmelo através de Acabe, seu inimigo; fez descer fogo do céu no altar molhado; fez o povo, mesmo em rebeldia, se dobrar diante do Senhor; eliminou cerca de 850 profetas de Baal e Aserá, que recebiam apoio do rei; fez chover após grande período de seca; correu mais depressa que a carruagem de Acabe; e foi sustentado por um anjo.

2. O pedido para morrer. A despeito das portentosas obras que fez, Elias foi terrivelmente perseguido e ameaçado por Jezabel, a rainha. A opressão foi tanta que o profeta, tomado de um sentimento de autopiedade, mesmo fugindo para não morrer, desejou a morte em seu íntimo (1 Rs 19.4). Por isso, a Bíblia afirma que “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós” (Tg 5.17).

3. A resposta de Deus. Deus interveio de forma miraculosa, enviando até Elias um anjo que lhe trouxe pão e água, tirando-o daquela situação de intenso desânimo (1 Rs 19.5-7). Nisto depreendemos que a comunhão e a palavra estavam à disposição do profeta. A partir de então, ele se deixou levar pelo mover de Deus através do vento, do terremoto, do fogo, da voz mansa e delicada (1 Rs 19.11,12). Elias teve oportunidade de confessar seu estado de desespero, e Deus lhe deu novos sentidos para continuar seu ministério: ungir Hazael como rei da Síria, Jeú como rei de Israel e Eliseu para lhe suceder como profeta (1 Rs 19.15,16).

Os efeitos da exaustão do profeta: Embora Elias fosse esse grande homem de Deus, deixou brotar no seu coração alguns sentimentos diante de todas as dificuldades que enfrentou, pois “era homem sujeito às mesmas paixões que nós” (Tg 5.17), que o levaram a momentos de profunda tristeza, o que é perfeitamente normal a todo ser humano. Até agora, ele havia imposto temor e reverência para com Jeová, havia lutado ferrenhamente desgastando as suas forças e, em seguida, foi tragado pela sua alma autopiedosa. Escapando de Jezabel e tendo de lidar com todos esses sentimentos profundos e verdadeiros, Elias fugiu completamente sozinho para o deserto. O caso de Elias demonstra que o mais santo e fiel homem ou mulher de Deus sobre a terra está sujeito a desfalecimentos e debilidades, mesmo depois de feitos extraordinários como foi com Elias. 

Elias enfrentou vários fatores externos desgastantes que lhe causaram desânimo. Dentre alguns, podemos citar: (1) oposição ferrenha ao seu ministério e às causas que defendia; (2) desapontamento nas suas tentativas de êxito, como no caso do monte Carmelo, pois nem sempre nossos ideais dão certo; (3) experimentou carência de simpatia na resposta que deu a Deus: “e eu fiquei só” (1 Rs 19.10,14); (4) deixou-se desanimar pela situação espiritual do povo, porque sabia que a declaração de obediência obtida no Carmelo era apenas momentânea; (5) ele era um herói da fé (Tg 5.17), mas também um vaso de barro (ver 2 Co 4.7). Geralmente, um estado depressivo acontece depois de um grande triunfo (no caso de Elias) ou de uma grande derrota. – Mas o profeta também teve que lidar com fatores internos, com as suas próprias fraquezas e decisões tomadas, como: (1) o seu isolamento (1 Rs 19.3b; 14b); (2) assentou-se debaixo do zimbro, demonstrando um estado emocional de desânimo (19.4); (3) dormiu, o que pode demonstrar uma situação de fuga da imensa dor de estar sendo perseguido (19.5); (4) colocou-se num lugar de falta de ocupação; (5) deixou-se envolver por sentimentos de autocomiseração e autopiedade, “e eu fiquei só” e, na segunda vez que Deus pergunta, ele responde que tinha sido “em extremo zeloso” (19.14), quase que rancoroso. Na fuga, ele também demonstra uma incoerência, pois estava fugindo da morte, porém pedindo a morte (19.4,10). Ele senta-se embaixo da árvore em total decepção e exaustão ministerial, mas o que lhe salva é a sua sinceridade diante de Deus e a coragem de expor o seu coração diante daquEle que tudo pode. Elias sabe que a sinceridade é tudo para Deus e que dEle não se esconde nada.

O pedido para morrer – Elias, tomado de um sentimento de pena de si mesmo (1 Rs 19.4), diante da intensa oposição e perseguição, desencadeou esse efeito negativo, chegando ao ponto de pedir a morte, e o seu destino foi fugir para o deserto. O principal motivo da depressão de Elias foi o seu envolvimento religioso e as frustrações dele decorrentes, pois a religião oficial estava corrompida. Contextos eclesiásticos adoecidos e idólatras, como esse de Elias, são fonte de malefícios para o mais honrado e fiel servo de Deus. Reis e líderes que absolutizam o poder e dominam sobre o povo tornam-se eles mesmos um ídolo a ser venerado e obedecido de forma subserviente a todo custo. Contextos eclesiásticos marcados pela competitividade, isolamento e ostentação também favorecem a depressão. – Foi fugindo dessas situações todas (reais, mas também emocionais) que Elias foi para o deserto. Ele viu-se obrigado a ir para o deserto por uma questão de sobrevivência física, mas também de sobrevivência espiritual. Muitas vezes, o crente fiel é empurrado para o deserto pelas circunstâncias da vida, mas ele pode voluntariamente optar pelo deserto, que sempre é um encontro consigo mesmo, como foi com Elias e com as realidades pessoais e circunstanciais, na maioria das vezes difíceis de admitir e organizar, porém extremamente necessárias, pois é no deserto que o Senhor mandou o anjo alimentar Elias, que, com a força de Deus, caminhou 40 dias até o monte Sinai (Horebe). – Para o cristão, o deserto é o lugar do desnudamento da alma, da abertura do coração e da exposição dos recônditos mais secretos da interioridade humana para aquEle que tudo vê. Lá é onde se abandonam ilusões, especialmente as de si mesmo, e onde se percebe a falência de conceitos e ideologias que tornam Deus diminuto ou que tentam determinar as suas ações. Portanto, o deserto é um lugar, não necessariamente geográfico, de estar inteiro diante de Deus; é um lugar “onde tudo que nos ilude ou engana é desmascarado e coloca-nos face a face com Deus”. O deserto é um estado de coração e de espírito. Pode ser um lugar de dor, mas também de conhecimento e transformação. É o lugar onde os ídolos são quebrados e as falsas proteções desaparecem, onde os títulos e as posições não representam nada. É o lugar da nudez total e do abandono completo em Deus e do encontro pleno com Ele. O deserto é o lugar de ruptura, de recomeço, de autoconhecimento, de desencantamento das ilusões, de encontro com Deus, assim como foi com Elias. Não precisamos de profundas crises, mas, como Elias, podemos ir para o deserto em atitude de solitude e disponibilidade para ouvir a voz do Senhor com frequência.

A resposta de Deus a Elias – Apesar do estado de desânimo de Elias, Deus interveio de forma miraculosa tirando o seu servo da situação e proporcionando-lhe pão e água trazidos pelo anjo, demonstrando que a comunhão e a palavra estavam à sua disposição. Deus deu a ele uma boa refeição (v. 6); uma boa noite de sono (v. 6); mais uma boa refeição (vv. 7 e 8); fê-lo voltar para o lugar da revelação, o monte de Deus (vv. 8-15); e depois lhe disse: “Vai, volta ao teu caminho”, ou seja, “está tudo bem, Elias, já passou. Eu estou com você, e isso basta”. Deus deu novo sentido à vida de Elias. – No monte Horebe, o profeta deixou-se levar pelo mover de Deus por meio do vento, do terremoto, do fogo, do cicio e da voz suave. – A brisa suave foi a resposta de Deus para Elias, e ele deixou-se levar por esse mover. A brisa foi o frescor que lhe tirou do lugar de medo e da autopiedade em que se encontrava. Ele havia lutado com todas as forças; havia vencido uma luta renhida contra a idolatria e contra as ameaças dos governantes de Israel; o seu espírito estava em ebulição, mas tudo o que ele precisava naquele momento era do frescor da brisa que trazia a voz de Deus e dava a ele mais 13 anos de sobrevida no ministério. – Deus fez Elias entrar num processo de cura muito interessante: (1) deu-lhe refrigério físico, providenciando-lhe descanso, comida e bebida; (2) desafiou-o mentalmente a olhar para si mesmo e a verbalizar as suas preocupações; (3) fortaleceu-lhe emocionalmente mostrando o seu poder; (4) deu-lhe uma atribuição a fazer e encorajou-o a retornar ao trabalho; e (5) providenciou para ele uma companhia para ficar ao seu lado, Eliseu. Isso mostra que, sempre e infinitamente, Deus é aquEle que nos acorda, alimenta, conforta por intermédio das suas Palavras e que nos convida a caminhar e prosseguir.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

“O compromisso sincero de Elias com Deus nos choca e nos incentiva. Ele foi enviado para confrontar — não consolar. E Elias pronunciou as palavras de Deus a um rei que, muitas vezes, rejeitava a mensagem simplesmente porque Elias a trazia. Elias decidiu exercer seu ministério apenas para Deus e pagou por essa decisão, sendo isolado de outras pessoas que também eram fiéis a Deus.”

Para que seus alunos reflitam melhor sobre quem foi Elias e como desenvolveu seu ministério profético, peça a eles que relacionem no quadro as “Qualidades e Realizações” do profeta Elias, conforme o modelo abaixo. Atenção! Somente mostre o resultado depois que eles cumprirem a tarefa.

  QUALIDADES E REALIZAÇÕES

• Foi o mais famoso e dramático profeta de Israel.

• Predisse o princípio e o fim de uma seca de três anos.

• Foi usado por Deus para ressuscitar um filho morto e devolvê-lo à sua mãe.

• Representou Deus em uma disputa com sacerdotes de Baal e Aserá.

• Estava com Moisés no episódio da transfiguração de Jesus no Novo Testamento.

(Extraído e adaptado da Bíblia de Estudo Cronológica Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p.733).

CONCLUSÃO 

A vida de Elias é um grande exemplo para todo crente que fielmente serve ao Senhor. Ainda que à sua volta quase todos estejam contaminados pela idolatria e toda forma de injustiça, o cristão não pode perder o ânimo e a vontade de lutar pela causa do Senhor. Elias é exemplo do cuidado e da fidelidade de Deus quando o crente fiel decide seguir o que a Palavra de Deus ensina e não aquilo que a maioria acha que está certo. – O zelo de Elias pela adoração verdadeira a Deus, que realizara tantos livramentos e sinais no passado e que agora estava sendo desprezado pela ignorância de reis que fizeram desviar o povo do caminho do Senhor, acendeu-se de tal forma que ele lançou um desafio humanamente impossível. O deus verdadeiro seria aquele que, dentre Jeová, Baal e Aserá, fizesse descer fogo do Céu. Quem respondesse com fogo seria digno da adoração. Dessa forma, Elias queria fazer o povo entender que o que estavam praticando era idolatria e algo extremamente abominável aos olhos do Senhor e diante do desafio, Deus honrou o seu servo enviando fogo sobre o altar o que levou o povo a clamar: Só o Senhor é Deus.

REFERÊNCIAS

LIÇÕES BÍBLICAS. 3º Trimestre 2021 - Lição 4. Rio de Janeiro: CPAD, 25, jul. 2021. 

POMMERENING, Claiton Ivan. O plano de Deus para Israel em meio à infidelidade da nação. Rio de Janeiro: CPAD, 2021. 

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997. 

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, v. II Históricos, p. 449. Santo André: Geográfica, 2010. 

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