COMENTÁRIO E SUBSÍDIO
INTRODUÇÃO
Após a morte de Salomão em 931 a.C., seu filho
Roboão subiu ao trono (1 Rs 11.43). Ele foi o
principal responsável pela divisão do reino em duas partes: o reino do Norte
(Israel) e o reino do Sul (Judá). A fatídica história de insensatez desse
rei nos mostrará as consequências de uma má decisão. Essa história nos ensina a
dependermos cada vez mais de Deus em momentos que tomamos decisões importantes
na vida. – Observamos que toda a
majestade, pompa e riqueza do reinado de Salomão, que tanto orgulho e soberania
nacional haviam trazido para os israelitas, estavam prestes a desmoronar com a
morte dele. A sua ruína havia sido anunciada por Deus (1 Rs 11.9-13), que disse
a ele que, pelo fato de não ter guardado o pacto estabelecido, rasgaria o seu
reino e entregá-lo-ia a um servo de Salomão, apesar de Deus ter-lhe aparecido
duas vezes e apesar das orações sinceras e bonitas que fizera outrora. O
profeta Aías também predisse a ruína do reinado de Salomão ao rasgar a sua capa
de profeta e dar dez pedaços a Jeroboão e vaticinar que Deus rasgaria o reino
da mão de Salomão, justamente pelo fato de este se ter curvado aos deuses
falsos e ter-se desviado dos caminhos do Senhor (1 Rs 11.29-39). Seria
simplista dizer que a culpa da divisão do reino é exclusiva de Salomão ou da
insensatez de Roboão, o seu filho. Os sinais de insatisfação do povo
mostraram-se presentes no reinado de Salomão, mas já remontavam à época de
Davi, como veremos adiante. Após a morte de Salomão em 931 a.C., o seu filho
Roboão subiu ao trono, o qual foi igualmente responsável pela divisão do reino
em duas partes, o Reino do Norte (Israel) e o Reino do Sul (Judá). A fatídica
história de insensatez desse rei irá mostrar-nos as consequências de uma má
decisão. Essa história auxilia-nos a dependermos cada vez mais de Deus em momentos
em que tomamos decisões importantes na vida. O Reino do Norte ficou com a maior
parte das tribos — dez no total — e teve 19 monarcas que reinaram por quase 200
anos até 722 a.C., momento do primeiro grande cativeiro protagonizado pelos assírios
e que exterminou a nação do Norte (2 Rs 17.22,23). O Reino do Sul ficou com
apenas duas tribos, Judá e Benjamim, e teve 20 monarcas que reinaram por pouco
mais de 200 anos até 586 a.C., data do segundo cativeiro, quando foram
dizimados pela Babilônia. Na ocasião, os babilônicos destruíram o Templo,
queimaram as casas e os muros da cidade e levaram o povo, que permaneceu em cativeiro
por 70 anos (Jr 25.11).
I. AS PRINCIPAIS CAUSAS DA CISÃO
1. A carga pesada de
Salomão. Devido às alianças
externas feitas por Salomão, ele não precisou se dedicar às guerras. Seu
reinado foi marcado, em parte, pela paz; seu trabalho era proteger, ampliar o
Estado e conservá-lo uno. Seus investimentos eram direcionados para construções
e projetos arquitetônicos grandiosos, tais como templos, palácios, e tantos
outros que marcaram seu governo (1 Rs 5.3-5). Contudo, para que todas essas idealizações se tornassem
realidade, a população pagava impostos muito pesados (1 Rs 12.4). Além disso, com o objetivo de colocar em prática os
projetos do rei, havia a obrigação do uso da mão de obra de trabalhadores de
quase todas as tribos.
2. A divisão do reino. O autoritarismo do rei Salomão culminou no descontentamento
das dez tribos do Norte, em contrapartida, as tribos de Judá e Benjamim, que
ficavam ao sul de Israel, participavam ativamente do governo e faziam parte de
sua corte. Quando Salomão morreu em 931 a.C., seu filho Roboão foi questionado
pelos líderes de Israel, sob o comando de Jeroboão, sobre o aperto vivido por
eles. O povo pediu para que Roboão diminuísse sua carga de trabalho (1 Rs 12.4), mas, ao contrário, seguindo o conselho dos jovens (v.10)
e não dos anciãos (v.6), Roboão tornou o fardo ainda mais pesado para os
trabalhadores (v.11). As dez tribos do norte, sob a liderança de Jeroboão, se
rebelaram contra essa decisão e formaram um novo reino, o reino do Norte (1 Rs 12.16-20).
A carga pesada de
Salomão – A carga tributária
imposta por Salomão foi pesada tanto para dar conta das despesas normais do
reino quanto para sustentar o harém de mil mulheres juntamente com os seus
vassalos. Setecentas eram princesas, e cada uma delas requeria funcionárias ao
seu dispor, com locais de moradia, alimentação, roupas caras e sustento tanto
para as princesas quanto para os funcionários. Além disso, Salomão empreendeu
duas grandes obras, o Templo e o seu próprio palácio, bem como palácios para
algumas das suas esposas. Tudo isso era uma máquina governamental e palaciana
pesada e cara para sustentar, que exigia meticulosos controles, funcionários e
gastos para funcionar corretamente. – A insatisfação das dez tribos com Judá e
Benjamim tinham outras e várias causas. Uma delas era a supremacia de Judá e a
inveja de Efraim (Gn 48). Outras foram as controvérsias quanto às pelejas (Jz 8.1-3;
12.1-6). Quando da coroação de Davi, ela deu-se apenas na tribo de Judá
inicialmente. Na rebelião de Seba, iniciou-se outra divergência entre as tribos
do Norte e de Judá e a decisão de levar o rei Davi para Jerusalém (2 Sm
19.41-20.22). A principal causa da divisão do reino de Israel eclodiu no
reinado de Salomão, que, além da pesada carga de tributos imposta ao povo, permitiu
corromper o seu coração com as alianças políticas e todas as articulações e
tribulações delas decorrentes, despertando um imenso desejo de poder e ostentação,
mesmo com as lindas orações que Salomão fez no início do reinado e na
consagração do Templo. As lealdades dos súditos seriam comprometidas e,
especialmente, o rei comprometeu o seu perfeito e sincero relacionamento com
Deus suscitando ausência de paz interior.
A divisão do reino – A atitude de Roboão de endurecer
ainda mais o peso de impostos e trabalhos forçados que Salomão impusera foi o
estopim de uma série de eventos que já se vinham acumulando, como demonstrado anteriormente.
Ele não levou em conta que a verdadeira liderança do povo é feita servindo-o, e
não o explorando ainda mais; é feita com atitudes de humildade e sensibilidade
para com aquilo que são as demandas que o povo traz. Não é atitude de
rebaixamento ouvir e atender quando as reivindicações são justas, pois a carga
tributária estava excessivamente alta. A solução que Roboão poderia ter tomado
seria reduzir a máquina governamental, com corte de gastos e dispensa de boa
parte do luxo a que estava acostumado. No entanto, abrir mão dos luxos
tornou-se mais difícil do que o alto preço que o rei pagou para mantê-los.
Certamente, o povo agora tinha menos gente pagando impostos, pois foi reduzido
à Judá e Benjamim. Os altos custos, portanto, tiveram que ser obrigatoriamente
cortados.
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
É possível que alguns de seus alunos encontrem
dificuldades no estudo da Bíblia por falta de orientação ou de um método
determinado para o estudo. Às vezes estudamos muito e retemos pouco ou quase
nada. Isso, em parte, acontece pelo fato de estudarmos sem ordem e método. Dê a
eles as seguintes orientações:
1. Ore ao Senhor dando-lhe graças e suplicando
direção e iluminação do alto.
2. Tenha à mão todo o material de estudo: Bíblia,
revista, dicionário bíblico, atlas geográfico, concordância, caderno para
apontamentos etc.
3. Leia toda a unidade ou seção indicada pelo
professor. Procure obter uma visão global dela; o propósito do escritor.
4. Leia outra vez a mesma unidade. À medida que for
estudando, sublinhe palavras, frases e trechos-chave. Faça anotações nas
margens do caderno ou revista.
5. Feche a revista e tente recompor de memória as
divisões principais da unidade de estudo. Não conseguindo, abra a revista e
veja.
6. Repita o passo acima.
II. OS ERROS DE ROBOÃO
1. A repetição dos erros de
Salomão. Ao tomar conselho
com os anciãos e com os jovens, Roboão decidiu acatar o conselho dos jovens,
demonstrando total despreparo para exercer a posição em que estava (1 Rs 12.8-11). O conselho dos anciãos dizia que a solução do
problema era dar às dez tribos o que pediam. Isso significaria desacelerar o
projeto de expansão e desenvolvimento do reino, mas também abrandaria os ânimos
agitados do povo, evitando assim a ruptura (1 Rs 12.6,7).
2. Os maus conselhos dos amigos
de Roboão. Ao seguir os
conselhos dos jovens, Roboão assinou sua própria sentença: as dez tribos se
rebelaram e sob seu domínio ficaram apenas duas (Judá e Benjamim). Roboão deu
ouvidos aos maus conselheiros e isso o levou à ruína (1 Rs 12.13).
3. O cuidado com os
conselhos. Quando o orgulho
se torna o centro de nossas vidas, ficamos à mercê de nós mesmos e não
conseguimos discernir entre o bem e o mal; assim foi com Roboão (Pv 28.26). A falta de
sábios conselhos pode levar o ser humano ao declínio moral, ético e espiritual,
tornando-o empobrecido e decadente.
A
repetição dos erros de Salomão – Algumas pessoas apenas usam Deus para conseguir
atingir os seus propósitos e, quando os atingem, descartam Deus das suas vidas.
Essa atitude esteve presente na vida de Roboão, conforme o texto bíblico:
“Sucedeu, pois, que, havendo Roboão confirmado o reino e havendo-se
fortalecido, deixou a lei do Senhor, e, com ele, todo o Israel” (2 Cr 12.1).
Isso demonstra uma atitude superficial de confiança em um Deus que deve cumprir
e satisfazer nossas necessidades, que serve para atingir os objetivos pessoais
de forma egoística, sem realmente levar em conta a vontade divina e os seus preceitos.
Uma pessoa assim até aparenta certa piedade e obediência, mas, em atingindo os
seus objetivos por meio da fé que apenas espera os favores de Deus, afasta-se
assim que possível, passando a confiar na sua capacidade e prosperidade. Essa
atitude hipócrita de Roboão durou três anos (2 Cr 11.17). O problema de eleger
uma fé utilitarista é o que originou as igrejas neopentecostais, cuja ênfase está
nas bênçãos que Deus pode dar e na pouquíssima ênfase num compromisso de
fidelidade e adoração a Deus como Senhor. – As ênfases neopentecostais têm
influenciado e mudado o rosto do pentecostalismo no Brasil. Algumas igrejas,
cuja linha teológica era anteriormente chamada de Pentecostalismo Clássico, em
alguns casos, veem-se inclinadas a repetir, embora muitas vezes veladamente,
algumas das práticas neopentecostais. Numa correlação religiosa, esse fenômeno
é a repetição daquilo que algumas igrejas históricas fizeram em relação ao
pentecostalismo: pentecostalizaram-se, assimilando essa liturgia e a ênfase no
batismo no Espírito Santo e nos dons. Essa rotinização demonstra a volatilidade
religiosa presente na religiosidade brasileira e na pós-modernidade, em que as
espiritualidades encontram-se diluídas e volúveis na medida em que vão surgindo
novas formas de religiosidade.
Os maus
conselhos dos amigos de Roboão – Os conselhos dos anciãos eram muito valorizados nas
culturas antigas, como também na cultura israelita. Tanto Davi quanto Salomão
tinham vários sábios e anciãos que lhes ajudavam a tomar decisões importantes
no reino (2 Sm 15.12; 1 Cr 27.34). Roboão (1 Rs 11.43) tinha 41 anos quando
subiu ao trono e reinou 17 anos no Reino do Sul. Em idade, era um homem maduro,
mas em experiência e sensatez, não. Ao tomar conselhos com os anciãos e com os
jovens, decidiu acatar os conselhos dos jovens. Dessa forma, Roboão demonstrou
total despreparo para exercer a posição em que estava. Os conselhos dos anciãos
direcionavam para a resolução do problema. Dar às dez tribos o que eles pediam
significava parar, em boa medida, com o projeto de expansão e desenvolvimento
do reino, mas também significaria abrandar os ânimos agitados e evitar a ruptura
a qualquer custo. Certamente que os anciãos já estivessem plenamente
apercebidos do perigo que o reino corria já na época de Salomão, pelo que
queriam evitar a divisão do reino, mas os seus sábios conselhos foram
preteridos pelos dos mais jovens, que eram afoitos e inexperientes. – O
conselho que lhe deram foi baseado num dito popular: “Meu dedo mínimo é mais grosso
do que os lombos de meu pai” (1 Rs 12.10c); e ainda: “[...] meu pai vos
castigou com açoites, porém eu vos castigarei com escorpiões” (v. 11). Isso foi
uma resposta estúpida e grosseira que aprofundou ainda mais a crise e a revolta
no meio do povo, que queria ver-se livre da impiedade e sofrimento contínuos imposto
por Salomão. Se não fosse pela interferência divina por intermédio do profeta
Aías, Roboão teria até guerreado contra os seus irmãos do Norte. A decadência
do reinado não se percebe somente pela ruptura do reino, mas também pelo
incremento da idolatria, que já havia sido iniciado por Salomão e pela invasão
do rei do Egito, que levou os escudos de ouro, que foram substituídos por
escudos de bronze — um claro sinal de empobrecimento do reino.
O cuidado com
os conselhos – Deus
concede-nos a graça de podermos contar com os conselhos de nossos amigos, que é
como “o óleo e o perfume [que] alegram o coração; assim a doença do amigo, com
o conselho cordial” (Pv 27.9). Portanto, buscar conselho é um gesto de
humildade e dependência de Deus, pois é Ele que nos permite ser assim
orientados, pois nossa limitação humana não consegue organizar todas as
questões, nuances e perspectivas de um caminho a tomar ou um problema a resolver.
“Onde não há conselho os projetos saem vãos, mas, com a multidão de
conselheiros, se confirmarão” (15.22); “[...] há vitória na multidão dos
conselheiros” (24.6b). É o próprio Senhor Deus quem revela o seu conselho a nós
pessoalmente e também por meio dos amigos, como o salmista afirma: “O conselho
do Senhor é para aqueles que o temem, e ele lhes faz saber o seu pacto” (Sl
25.14, JFAA). – Devemos escolher de quem tomar conselho, pois o exemplo de Roboão
adverte-nos bem quanto a isso. Se buscamos um conselho que queremos ouvir, já
estamos num caminho perigoso: “O caminho do tolo é reto aos seus olhos, mas o
que dá ouvidos ao conselho é sábio” (Pv 12.15). O salmista ora a Deus para que
o proteja de conselhos ruins dos mal-intencionados: “Esconde-me do secreto conselho
dos maus e do tumulto dos que praticam a iniquidade” (Sl 64.2). Há uma
advertência contra os que tomam conselho dos ímpios: “Bem-aventurado o varão
que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos
pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores” (Sl 1.1). – Quando o
orgulho que pode haver em nós torna-se o centro de nossas vidas, ficamos à
mercê de nós mesmos e não conseguimos discernir entre o bem o mal, entre um bom
ou um mau conselho, como aconteceu com Roboão. Maus conselhos levam o ser
humano para a queda espiritual, para o declínio moral e ético, tornando-o empobrecido
e decadente. Quem dá conselhos insensatos ao rei, ao líder ou ao pastor, não se
importando com as consequências que ele sofrerá devido aos conselhos, é o tipo
de conselheiro que não aconselha em amor; pelo contrário, ele ama a si próprio
e está preocupado apenas em agradar e em falar o que o rei quer ouvir para,
dessa forma, garantir o seu lugar à sua mesa. Quando um líder não percebe a
astúcia, os interesses egoístas e a bajulação dos seus conselheiros e liderados,
ele está fatalmente destinado ao fracasso. Essa tem sido a atitude de muitos
líderes que perderam o seu senso de dependência de Deus e tornaram-se reféns de
artimanhas maldosas das pessoas que o cercam, preferindo a servilidade e a subserviência
de pessoas fracas e de caráter duvidoso a cercar-se de pessoas sábias,
independentes e que conseguem enxergar além para o benefício da obra de Deus ou
de algum empreendimento qualquer. O líder sábio tem ciência de que maus
conselhos podem arruiná-lo e que maus conselheiros podem provocar um estrago na
sua vida e na sua liderança e, por isso, não admite que tais conselheiros
estejam à sua volta. – Quando o crente tem Deus como o seu guia, ele não toma conselhos
com pessoas que lhe falarão o que ele quer ouvir, mas decidirá por ouvir
pessoas que lhe falem verdadeiramente o que precisa ser falado, mesmo que isso
doa e confronte as suas próprias concepções. O crente guiado por Deus não tem a
si mesmo como o fiel da balança, mas humildemente admite que, assim como qualquer
pecador, ele também pode falhar ou estar errado, reconhecendo, portanto, que o
único conselheiro confiável é Deus.
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Primeiramente, Roboão consultou aqueles que haviam
servido sob o seu Pai Salomão, provavelmente os que haviam sido relacionados
como oficiais em 1 Rs 4.1ss. O conselho que recebeu foi para aliviar a carga
dos impostos, pois aparentemente reconheciam que a queixa era justificada.
Essa é a primeira afirmação direta em relação aos
impostos que Salomão havia instituído; porém, essa taxação está implícita em
sua organização fiscal e administrativa (1 Rs 4.7-19) e em suas disseminadas
atividades de construção, industrial e comercial, entretanto, pode parecer que
muitas das despesas dessas atividades eram cobertas por impostos e taxas
coletados dos estados vassalos (1 Rs 10.14,15). Embora essa queixa tivesse
fundamento, ela também pode ter se originado do ciúme e da inveja, pois a maior
parte do dinheiro era gasta na cidade de Jerusalém e nas de Judá, ao Sul.
Os jovens da própria geração de Roboão insistiam em
medidas mais rigorosas, e sua linguagem figurada indicava uma atitude tirânica;
eles o aconselharam a exagerar (10), a colocar um certo abuso em sua
autoridade, a exceder o rigor de seu pai na medida em que seu ‘dedo mínimo’
fosse mais grosso que os ‘lombos’ (coxas) de seu pai. Escorpiões (11) é uma
referência às bordas em farpas na extremidade de um açoite. Embora tenha
procurado o conselho e outros, ele se baseou em sua própria decisão, isto é,
aumentar a carga de impostos ao invés de caminhar na trilha de um servo,
exatamente o que o rei de Israel deveria ser. Escolher entre ser um egoísta ou
um servo é uma decisão que muitos, além de Roboão, já tiveram que tomar” (Comentário Bíblico Beacon: Josué a Ester.
Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 315).
III. O REINADO E
A IDOLATRIA DE JEROBOÃO
1. A rebeldia de Jeroboão. Jeroboão, filho de Nebate, pertencia à tribo de Efraim, foi
o primeiro rei do Norte e reinou por 22 anos em Israel. Ainda jovem, Jeroboão
serviu ao rei Salomão, que se agradou de seu trabalho e o nomeou chefe dos
servos da casa de José (1 Rs 11.28). Todavia,
durante o reinado de Salomão, Jeroboão se rebelou contra ele, e Aías, o
profeta, lhe comunicou que Deus o havia escolhido para reinar sobre as dez
tribos de Israel (1 Rs 11.29-31). Sabendo disso,
Salomão tentou matá-lo, mas sem sucesso, pois ele se refugiou no Egito e lá
permaneceu até a morte de Salomão (1 Rs 11.40).
2. Jeroboão, o primeiro rei do
Norte. Após a divisão do reino,
Jeroboão foi nomeado rei pelas dez tribos de Israel e estabeleceu seu trono
em Siquém (1 Rs 12.20,25). Temendo que a peregrinação dos judeus ao Templo para
adoração pudesse promover a reunificação do reino, Jeroboão mandou erigir dois
santuários de adoração com bezerros de ouro, um ao norte, em Dã, e outro ao
sul, em Betel (1 Rs 12.28,29), a fim de evitar que o povo fosse a Jerusalém. A atitude idólatra de Jeroboão resultou no castigo divino
sobre ele e sua família (1 Rs 14.7-14).
3. Consequências da
idolatria. O pecado da
idolatria foi um dos principais motivos dos infortúnios do povo de Israel. Deus
não admite dar a sua glória a outrem (Is 42.8); por isso, o
pecado da idolatria tem como consequência a separação de Deus e a maldição (Dt 11.26-28).
A rebeldia de
Jeroboão – Ele
era um homem laborioso, de grande vigor e habilidade. Todavia, durante o
reinado de Salomão, Aías, o profeta, comunicou a Jeroboão que Deus havia-o
escolhido para reinar sobre as dez tribos de Israel e que o reino seria
dividido como consequência do pecado de idolatria cometido por Salomão (1 Rs 11.29-38).
Logo em seguida, Jeroboão rebelou-se contra o rei. Sabendo disso, Salomão tentou
matá-lo (1 Rs 11.40), mas sem sucesso, pois o mesmo se refugiou no Egito e lá
permaneceu até a morte de Salomão.
Jeroboão, o
primeiro rei do Norte – Jeroboão
tomou para si o poder absoluto em Israel, tomando decisões de um déspota (1 Rs
13.33), o que foi prova de que as pretensões do povo de livrar-se da dinastia
davídica foi um equívoco, pois os primeiros atos de Jeroboão foram tomados de decisões
que arruinaram o povo em vários sentidos: ele criou ídolos para serem cultuados
pelo povo e dizia que esses falsos deuses que tiraram Israel do Egito, pois
ficou com medo de que o povo retornasse para Jerusalém a fim de adorar a Deus,
o que facilitaria uma revolta contra ele; ele edificou altares, locais de culto
e instituiu práticas abomináveis (1 Rs 13.32; 2 Rs 17.29), desviando, assim, o povo
do verdadeiro local de culto; Jeroboão também introduziu sacerdotes que não
eram levitas, sem qualquer preparo espiritual, o que levou à fuga dos
sacerdotes verdadeiros (2 Cr 11.13,14) e impôs um novo calendário religioso
antecipando-se à Festa dos Tabernáculos para evitar que o povo fosse a
Jerusalém (1 Rs 12.32). – Apesar da terrível idolatria e rebelião, uma intensa
atividade profética ocorreu durante o reinado de Jeroboão. Isso demonstra que Deus,
apesar da desobediência do rei e do povo, nunca deixa de agir. Dois capítulos
de Reis são destinados a esses ocorridos (1 Rs 13 e 14). Enquanto o rei
sacrificava em altares pagãos, um “homem de Deus” (1 Rs 13.1) chegou a Jeroboão
e proferiu uma dura sentença contra ele. Quando, porém, o rei quis revidar e
matar o profeta, a sua mão definhou, e ele teve que rogar ao profeta para que
Deus restituísse-lhe a mão (1 Rs 13.4-6). Aqui se percebe a fidelidade do homem
de Deus, pois, apesar da oferta feita por Jeroboão para recompensar a cura da
sua mão, o profeta não aceitou (1 Rs 13.8). Porém, ao ser enganado por outro
profeta (1 Rs 13.18), aquele profeta desobedeceu a ordem do Senhor e foi morto
por um leão à beira do caminho (1 Rs 13.24). – Mais tarde, quando o filho de
Jeroboão ficou doente, Deus novamente lhe falou por intermédio do profeta Aías,
o mesmo que havia profetizado a ascensão de Jeroboão ao trono e que agora
estava velho e cego. Ele, porém, foi avisado por Deus sobre o disfarce da mulher
de Jeroboão, e deu-lhe uma dura sentença de extermínio de todo o seu reinado e,
inclusive, da sua descendência (1 Rs 14.7-16).
Consequências
da idolatria – A
idolatria vai muito além de um joelho dobrado diante de uma estátua, pois,
quando o coração humano elege e ajoelha-se diante de qualquer grandeza supostamente
maior que Deus, o pecado da idolatria está sendo cometido. Comete idolatria
todo aquele que direciona o seu culto e a sua reverência a qualquer coisa que
não seja Deus: trabalho, casamento, dinheiro, bens materiais, etc. Quando nosso
culto está direcionado às coisas, esvaziamo-nos do significado pleno da existência,
e nosso mundo torna-se do tamanho daquela coisa, daquele objeto ou sentimento
cultuado (Sl 135.15-18). Como o ídolo é abominação (do hebraico shiqquts, que
significa coisa detestável) contra Deus, o próprio idólatra torna-se uma
abominação, pois passa a identificar-se com os ídolos, conforme atestou o
profeta Oseias: “[...] se tornaram abomináveis como aquilo que amaram” (Os
9.10). Quando nosso culto está direcionado para Deus, tudo se torna do tamanho
de Deus e tem sentido pleno
SUBSÍDIO DEVOCIONAL
“Jeroboão temia que se o seu povo subisse a
Jerusalém para adorar ao Senhor, como a Lei exigia, ele pudesse buscar, com o
passar do tempo, a reunificação política. Os seus temores o levaram a
estabelecer um sistema que falsificava a religião revelada no Antigo
Testamento. Jeroboão escolheu duas cidades há muito tempo ligadas à adoração,
Betel e Dã, como centros de adoração. Ele constituiu sacerdotes que eram da
descendência de Arão, mudou as datas das festas religiosas, e ofereceu
sacrifícios sobre altares levantados em Betei e Dã”.
“Este foi um abandono proposital da religião
revelada. No entanto, isso tinha a intenção de imitar a verdade. As falsas
religiões geralmente possuem elementos em comum com a fé bíblica. Por exemplo,
muitas das grandes’ religiões do mundo pregam a moralidade. Porém, a fé
falsificada carece de um ingrediente essencial- a presença e o poder do único
Deus, que se revelou a nós” (RICHARDS,
Lawrence O. Comentário Devocional da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2013,
p. 205).
CONCLUSÃO
Enquanto Jeroboão praticou a idolatria de forma
direta, Roboão se envolveu numa espécie de veneração que, embora oculta aos
olhos humanos, produz as mesmas danosas consequências. Os desejos egoístas de
Roboão estavam acima da vontade de Deus, o ídolo dele era ele mesmo, sua
própria vontade. Quando o crente tem Deus como seu guia, ele não toma conselhos
com pessoas que lhe falarão o que ele quer ouvir, mas decidirá por ouvir
pessoas que lhe falem a verdade. – Roboao ouviu e obedeceu a mensagem de Deus
transmitida por Semaias, e o Senhor começou a lhe dar sabedoria e a abençoar sua
vida e seu trabalho, porém isso foi somente por três anos. Se ele tivesse
continuado a trilhar esse caminho, teria conduzido Judá ao temor do Senhor e a
verdadeira grandeza, mas se afastou de Deus e perdeu as bençãos que ele e seu
povo poderiam ter desfrutado. O mesmo é aplicado a Jeroboão que ouviu o recado
de Deus através do profeta Aías quando lhe disse que rasgaria o reino de Israel
e lhe daria a maior parte, mas ele preferiu desviar-se dos conselhos do Senhor
e levar a nação ao pecado. – Pelo fato de Jeroboao não crer na promessa de
Deus, transmitida pelo profeta Aias, começou a trilhar os caminhos da
incredulidade e conduzir o povo a uma falsa religião. Essa religião que
inventou era confortável, conveniente e barata, mas também não era autorizada
pelo Senhor. Ia contra a vontade de Deus revelada nas Escrituras e tinha como
proposito a unificação do reino de Jeroboão e não a salvação do povo e a glória
de Deus. Era uma religião feita por mãos humanas, e Deus a rejeitou
inteiramente. Séculos depois, Jesus disse a mulher de Samaria (o antigo reino
de Israel): "Vos adorais o que não conheceis; nós adoramos o que
conhecemos, porque a salvação vem dos judeus" (Jo 4:22).
REFERÊNCIAS
LIÇÕES BÍBLICAS. 3º
Trimestre 2021 - Lição 1. Rio de Janeiro: CPAD, 04, jul. 2021.
POMMERENING, Claiton Ivan. O
plano de Deus para Israel em meio à infidelidade da nação. Rio de Janeiro:
CPAD, 2021.
STAMPS, Donald C. Bíblia
de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo
Testamento, v. II Históricos, p. 449. Santo André: Geográfica,
2010.
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