COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
A CONDIÇÃO DOS
GENTIOS SEM DEUS
Até a graça de Deus se
manifestar aos gentios, eles estavam completamente alienados dos grandes pactos
divinos: O “pacto abraâmico” (Gn 12.1-3); o “pacto mosaico” (Dt 28.1-14); o
“pacto davídico” (2 Sm 7.13-16). Esses pactos traziam a promessa messiânica e
os gentios encontravam-se completamente alheios às promessas e separados da
comunidade de Israel. Nesse sentido, a presente lição busca esclarecer de que
modo os gentios estiveram privados dessa promessa. Em primeiro lugar, para
explicar essa condição, explique o conceito espiritual de circuncisão e
incircuncisão. Esses dois conceitos são importantíssimos, pois espiritualmente,
eles constituem a separação entre judeus e gentios. Em segundo lugar, explicite
a antiga condição dos gentios sem Deus e sem Cristo. E, finalmente, no terceiro
tópico, afirme que desprovidos de Deus os gentios marchavam para a perdição
eterna.
Resumo da lição
O que desfez a situação caótica
dos gentios é que em Cristo, pela graça de Deus mediante a fé, eles tornaram-se
descendência de Abraão e herdeiros das promessas. Mas até chegar a esse
estágio, as Escrituras mostram a condição em que os gentios se encontravam.
Assim, o primeiro tópico da
lição conceitua “circuncisão” e “incircuncisão”, mostrando que espiritualmente
os gentios eram incircuncisos e, por isso, eles não faziam parte do pacto da
circuncisão e, consequentemente, estavam excluídos da aliança com Deus.
O segundo tópico mostra o quanto
os gentios estavam estranhos ao Concerto da Promessa. A antiga condição dos
gentios era desoladora: viviam sem Cristo e estavam separados de Israel. O que
significava que os gentios estavam sem Cristo e não possuíam esperança alguma.
Era uma tragédia existencial.
O terceiro tópico aprofunda a
desesperança gentílica e sua alienação de Deus. Viver sem esperança revela uma
destruição moral e espiritual. Os gentios eram “engolidos” por uma perspectiva
sombria, preocupante e incerta do mundo antigo; diferentemente da esperança de
um triunfo de justiça e de amor revelada no Evangelho.
Aplicação
Para concluir a lição, você pode
refletir com a classe acerca do que significa viver uma vida sem esperança e
sem Deus. Que sentido ela teria sem esses sustentáculos existenciais? Faça essa
reflexão a partir do texto bíblico de 1 Coríntios 15.12-19.
Subsídio extraído
da Revista Ensinador Cristão - Ano 21 nº 82 (abr/mai/jun)
COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Em continuidade ao estudo da
carta de Paulo aos efésios, analisaremos o trecho de Ef 2:11-13.
Os gentios são um povo sem
esperança e sem Deus no mundo.
I – QUEM SÃO OS GENTIOS
O apóstolo acabou de nos mostrar
que Deus nos vivificou, por Sua riquíssima misericórdia, salvando-nos pela
graça, para que para sempre O glorifiquemos, a partir desta dimensão terrena,
fazendo boas obras aqui.
Esta glorificação a Deus não
deve apenas se dar pela prática de boas obras nesta dimensão terrena, mas Paulo
nos mostra que devemos nos lembrar da nossa condição pecaminosa, pois advirá
daí uma imensa gratidão, que nos fará glorificar cada vez mais ao Senhor. É
preciso que tenhamos uma “grata memória”.
Como afirma João Crisóstomo
(347-407): “…É costume de todos nós, quando fomos levantados de uma profunda
humilhação, ou promovidos ainda mais alto, perder até a memória do nosso estado
anterior, à medida que nos acostumamos à nossa glória atual. Daí as seguintes
palavras: "Portanto, lembrai-vos". - "Portanto", entenda,
pois, que fomos criados para boas obras. Não é preciso mais nos convencer a
praticar a virtude. "Lembre-se". Basta esta memória para nos inspirar
com gratidão a nosso Benfeitor.…” (Sobre Efésios – Homilia 5 – Ef 2:11-16. Cit.
Ef 2:11-22, n. 500. Disponível em:
http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 19 fev. 2020)
(tradução pelo Google alterada por nós de texto em francês).
Paulo afirma que,
antes, éramos gentios na carne (Ef 2:11). Paulo lembra aqui o fato de
que os gentios se distinguiam dos judeus pela circuncisão, este sinal que Deus
estabelecera na carne com Abraão, a fim de que todos se lembrassem que os
filhos de Abraão, haviam sido formados para ser um povo especial de Deus, para
que, por este povo, viesse o Messias que salvaria a humanidade.
Num primeiro
instante, parece que Paulo está aqui trazendo a lume algum resquício de seu
antigo farisaísmo (At 23:6; 26:5), querendo mostrar uma eventual superioridade
dos judeus em relação aos gentios, gentios que compunham a igreja de Éfeso.
Afinal de contas,
como afirma o pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes: “…Dois fatos
importantes acerca dos gentios são destacados pelo apóstolo Paulo: Em primeiro
lugar, os gentios eram objeto de desprezo pelos judeus (2:11) (…) Em segundo
lugar, os gentios eram espiritualmente falidos (2:12).…” (Efésios – Igreja, a
noiva gloriosa de Cristo, p. 61).
No entanto, não há
aqui qualquer resquício farisaico, nem atitude nacionalista. Bem ao contrário,
o apóstolo quer aqui mostrar como a gratidão devida ao Senhor pela salvação
alcança, entre os gentios, uma intensidade toda especial, porque os gentios
haviam sido rebeldes contra o Senhor, mas o Senhor chegou a formar uma nação,
de forma sobrenatural, precisamente para alcançar estes gentios.
Para bem
entendermos a profundidade desta afirmação do apóstolo, torna-se necessário
lembrarmos quem são os gentios, quem são as “nações”, tantas vezes mencionadas
nas Escrituras.
Sabemos que,
expulsos do jardim do Éden, o primeiro casal passou a lavrar a terra e a
cumprir a ordem de multiplicação e enchimento da Terra (Gn 1:28). Entretanto, a
natureza pecaminosa do homem levou à destruição de toda aquela geração com o
dilúvio, tendo o Senhor poupado apenas Noé e a sua família.
Quando Noé saiu da
arca com sua família, o Senhor repetiu aos sobreviventes a mesma ordem dada ao
primeiro casal (Gn 9:1). Assim, houve a devida multiplicação, vivendo todos
numa mesma comunidade, como, aliás, ocorria antes do dilúvio.
Após o dilúvio,
houve uma novidade na organização social. Deus estabeleceu o governo humano, determinando que o homem tomasse medidas para que o mal
fosse reprimido, a fim de que não se tivesse a situação anárquica que havia
levado à destruição da geração antediluviana (Gn 9:1-6).
Entretanto, a
natureza pecaminosa do homem uma vez mais se revelou nesta comunidade única pós-diluviana.
Quando já se estava na quarta geração depois de Noé, Ninrode, bisneto de Noé,
assumiu o comando desta comunidade (Gn 10:8-12) e os levou a se rebelar contra
o Senhor.
O episódio da
torre de Babel nada mais é que rebelião contra o Senhor, porquanto a decisão de construir uma torre em Babel era
recusa à ordem divina de se espalhar pela Terra, de enchê-la.
É o que deixa bem
claro o historiador Flávio Josefo ao comentar esta passagem bíblica, em trecho
que vale a pena transcrever: “Deus ordenou que mandassem colônias a outros
lugares, a fim de que, multiplicando-se e estendendo-se, pudessem cultivar mais
terras, colher frutos com maior abundância e evitar as desinteligências que de
outro modo poderiam ser suscitadas entre eles. Mas esses homens rudes e
indóceis não obedeceram e foram castigados pelo seu pecado, com os males que
lhes sucederam (…). Ninrode, neto de Cão, um dos filhos de Noé, foi quem os
levou a desprezar a Deus, desta maneira. Ao mesmo tempo valente e corajosos,
ele os persuadiu de que deviam unicamente ao seu valor, e não a Deus, toda a
sua boa fortuna. E como ele aspirava ao governo e queria levá-los a escolhê-lo
para seu chefe e deixar a Deus, ofereceu-se para protege-los contra Ele (se Ele
ameaçasse a terra com outro dilúvio), construindo uma torre para esse fim, tão
alta que não somente as águas para esse fim, tão alta que não somente as águas
não poderiam chegar-lhe ao cimo, mas que ainda ele vingaria a morte dos seus
antepassados. O povo insensato deixou-se dominar por essa estulta persuasão, de
que lhe seria vergonhoso ceder a Deus e começou a trabalhar nessa obra, com
ardor incrível…” (Antiguidades Judaicas, I, 4. In: História dos hebreus. Trad.
de Vicente Pedroso, v. 1, p. 28).
Toda a comunidade,
portanto, posicionou-se contra o Senhor e o resultado disto foi a confusão das
línguas, medida tomada por Deus para
destruir esta comunidade sem que se destruísse o homem. Esta comunidade
espalhou-se pela Terra, dando origem às diversas nações, que, a propósito,
foram elencadas na chamada “tabela das nações”, que se encontra em Gênesis 10.
São estes
integrantes da comunidade única pós-diluviana, que foi desfeita pela confusão
das línguas, dando origem às nações mencionadas em Gênesis 10 e que geraram
ainda outras nações ao longo da história, que são chamados de “gentios”, porque pertencem às “gentes” ou “nações”.
De pronto, vemos
que os gentios constituem um grupo que é rebelde contra o Senhor. Ao contrário
do que acontecera antes do dilúvio, em que Noé e sua família acharam graça
diante de Deus, no episódio da torre de Babel ninguém agradou ao Senhor, todos
se rebelaram, como se diz no Sl 14:1-3, texto que bem ilustra a condição dos
gentios.
A rebeldia foi
tanta e generalizada que o Senhor teve de criar um povo para que dele viesse o
Salvador, ante a rebelião dos gentios.
Foi por isso que chamou Abrão e prometeu que dele, de Seu descendente, viria a bênção
sobre todas as famílias da Terra (Gn 12:3,7; Gl 3:16).
Esta rebelião só
fez aumentar, como, por exemplo, nos povos que viviam primitivamente na terra
de Canaã, aludindo o Senhor às “abominações dos gentios” como sendo as práticas
horrendas existentes entre eles (II Rs 16:3; 21:2; II Cr 28:3; 33:2; 36:14; Ez 23:30).
Os gentios eram o
contramodelo para o povo de Israel, tanto que os israelitas deveriam fazer
exatamente o contrário que faziam os gentios para se manterem um povo santo (Lv
18:24).
Eis a razão porque
o gentio é tomado, no texto sagrado, como uma figura do impenitente,
daquele que não obedece ao Senhor. Por isso, no Sl 10:16, é dito que os gentios
serão desarraigados da Terra, expressão que significa que os que desobedeceram
a Deus não herdarão a vida eterna, não terão como destino senão o lago de fogo
e enxofre.
Nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo também usou os gentios como figura daqueles que não
servem a Deus, ao dizer que são os gentios que têm como foco na vida apenas a
satisfação das necessidades terrenas, como comer, beber e vestir, desprezando o
reino de Deus e a sua justiça (Mt 6:31-34; Lc 12:29-31).
Nosso Senhor
também considerou aquele que peca contra o seu irmão e que não se arrepende,
mesmo depois de admoestado particularmente, por dois ou três e, por fim, pela
igreja, como um “gentio e publicano” (Mt 18:17), ou seja, o gentio é a figura
daquele que está apartado da comunhão com o povo de Deus, daquele que não
pertence ao povo do Senhor.
No entanto, apesar
de o gentio ser tomado como figura do rebelde contra Deus, daquele que não O
serve, desde o princípio, desde o surgimento dele, vê-se que Deus estava
interessado em salvá-lo, vez que, a uma, não os destruiu, mas apenas confundiu
suas línguas para que se espalhassem sobre a Terra e, a duas, já no chamado de
Abrão, disse que um dos objetivos deste chamado era fazer benditas “todas as
famílias da Terra”.
Por isso mesmo, já
nas profecias messiânicas, constava que o Messias seria o Salvador também dos
gentios, como em passagens como Is 42:1,6; 49:6, que foram confirmadas em o
Novo Testamento em textos como Mt 12:18,21 e At 13:47; 26:23 e que foi
confirmado quando se iniciou a evangelização, que também se estendeu aos
gentios (At 10:45; 11:1,18; 13:46,47; 14:27; 15:3,7,12; 21:19).
Assim, embora os
gentios tenham se originado de uma rebelião contra o Senhor, rebelião que os
fez serem como que símbolo da impenitência, jamais o Senhor deixou de amá-los e
de querer salvá-los, tendo, mesmo, formado uma nação para que este propósito pudesse
ser atingido.
II – A CONDIÇÃO DOS
GENTIOS
Paulo começa
lembrando os gentios de que eles já ostentavam esta condição na própria carne,
visto que não eram circuncidados (Ef 2:11). Eram “incircuncisos”, ou seja, não
tinham qualquer aliança ou compromisso com o Senhor, não eram o Seu povo, a Sua
propriedade peculiar, condição que era a de Israel (Ex 19:5,6).
Quando Deus mudou
o nome do patriarca, a fim de que ele pudesse ser considerado o pai de uma
nação, confirmando assim a formação de um povo novo, do qual viria o Salvador
da humanidade, também estabeleceu um pacto com ele, pacto este materializado na
circuncisão. Todo macho deveria ser circuncidado no oitavo dia, como sinal do
concerto perpétuo que havia entre Deus e Abraão e sua descendência, entre Deus
e o povo que se formaria de Abraão, que era o povo de Israel (Gn 17:1-14).
O apóstolo,
portanto, começa lembrando os crentes de Éfeso de que eles não faziam parte
daquele povo formado por Deus e que tinha como sinal de sua aliança com o
Senhor a circuncisão. Os gentios eram “incircuncisos”, ou seja, não havia, da
parte de Deus, qualquer pacto, qualquer aliança que comprometesse Deus para com
eles.
No pacto da circuncisão,
o Senhor havia prometido dar a terra de Canaã à descendência de Abraão, como
também ser o Deus dela e que tal pacto seria perpétuo. Ao contrário dos
israelitas, não tinham os gentios qualquer promessa da parte de Deus, nem de
terem a bênção divina, muito menos de terem um lugar certo neste planeta para
viver.
Assim, já num
aspecto físico (tanto que Paulo insiste em dizer que a circuncisão era feita
pela mão dos homens – Ef 2:11), os gentios estavam em nítida desvantagem com
relação aos israelitas, visto que a circuncisão revelava um comprometimento
divino para com os israelitas.
Esta incircuncisão
da carne revelava que os gentios estavam sem comunhão com Deus, não tinham o
Cristo, até porque Israel tinha sido
formado precisamente para que, em seu seio, nascesse o Salvador, que,
primeiramente pregando a Israel, pudesse ser anunciado aos gentios (Is 49:6,7;
Jo 1:12,13; At 18:6; 26:20; Rm 1:16). Como o Cristo vinha dos judeus (Jo 4:22),
a incircuncisão é um sinal físico de que os gentios não tinham o Cristo.
A incircuncisão
também revelava a separação que havia entre os gentios e os judeus. Desde os tempos patriarcais, como no episódio que
envolveu a grande matança dos siquemitas por parte de Simeão e Levi (Gn 34), os
israelitas recusavam misturar-se com os outros povos, exigindo que qualquer
estrangeiro que com eles quisesse conviver, passasse a pertencer ao povo de
Israel, circuncidando-se, o que, inclusive, foi reafirmado quando da entrega da
lei, quando, por exemplo, vedou-se a participação de estrangeiro incircunciso
na refeição da Páscoa (Ex 12:48).
Os gentios eram
separados da comunidade de Israel, não podiam ter
comunhão com os filhos de Israel, e esta condição se revelava na incircuncisão
dos estrangeiros, no fato de os estrangeiros não serem circuncidados Não havia
aliança entre Deus e eles.
A separação da
comunidade de Israel representava, ainda, a privação das promessas que o Senhor
havia dado aos israelitas, bem como o
impedimento para que pudessem os gentios ser “a propriedade peculiar de Deus
dentre os povos”, “povo santo” e “nação sacerdotal”. Tudo isto não estava ao
alcance do gentio, porque não havia comunhão entre ele e o Senhor Deus de
Israel.
O apóstolo
assinala, portanto, como era difícil a situação dos gentios, que ficavam
completamente à margem de todas as promessas e de todo o cuidado de Deus para
com Israel.
Por isso mesmo, o
apóstolo afirma que os gentios eram “estranhos aos concertos da promessa”, ou
seja, não tinham direito algum a todos os pactos que o Senhor havia feito com
Israel ao longo da história.
O primeiro pacto, já mencionado por Paulo, era o pacto abraâmico,
que tinha por sinal a circuncisão. Por serem estranhos a este pacto, não
gozavam os gentios do direito de possuir a Terra de Canaã, que foi dada aos
israelitas. Não foi por outro motivo que os povos que a ocupavam foram dali
retirados, salvo aqueles que foram indevidamente poupados pelos próprios
israelitas, povos estes, aliás, que não mais existem em nossos dias, exatamente
porque estavam estranhos ao pacto abraâmico, que não só prometeu dar esta terra
aos israelitas (e seu retorno a esta Terra a partir do início do século XX e a
criação do Estado de Israel não a prova de que Deus continua a velar pela Sua
Palavra para a cumprir), como também dá-la em caráter perpétuo, o que significa
afirmar que a nação de Israel jamais se extinguiria.
O segundo pacto firmado entre Deus e Israel foi o pacto sinaítico,
ou seja, o pacto firmado no monte Sinai, pelo qual Israel recebeu a lei com
seus 613 mandamentos (Ex 19,20). A lei foi dada a Israel e os gentios, por
serem estranhos aos concertos, não estão submetidos a lei, como, aliás, decidiu
o Concílio de Jerusalém (At 15). Jesus, por ser israelita, nasceu sob a lei (Gl
4:4) e teve de cumpri-la (Mt 5:17), tendo sido o único que conseguiu cumpri-la.
O terceiro pacto firmado entre Deus e Israel foi o pacto palestiniano,
ou seja, o pacto firmado nos montes Gerizim e Ebal, segundo o qual o povo
israelita condicionou sua permanência na terra de Canaã à obediência à lei (Dt 27;
Js 8:30-35). Por terem quebrado este pacto, os israelitas foram para o
cativeiro e que permitiu que os gentios não só pisassem a Terra de Canaã, como
a ocupassem e dominassem sobre os israelitas (Ne 9:33-37).
O quarto pacto firmado entre Deus e Israel foi o pacto davídico,
segundo o qual o Senhor prometia a Davi que reinaria para sempre sobre Israel
e, por conseguinte, o Messias seria seu descendente (II Sm 7:8- 16). Aqui se
confirmou o pacto abraâmico de que seria em Israel que viria o Salvador e que a
salvação partiria dos judeus para todos os gentios. Os gentios, para obterem a
salvação, teriam de se voltar a este Salvador.
É interessante
observar que o apóstolo fala em “concertos da promessa”, ou seja, a uma, havia
mais de um pacto (quatro como pudemos observar); a duas, todos estes pactos
estavam relacionados com uma só promessa, que é a promessa de redenção da
humanidade, tornada pública no dia mesmo da queda ao primeiro casal e que se
referia a todos os homens, tanto judeus quanto gentios.
Os gentios, porém,
eram estranhos a tudo isto, ante a sua rebelião e recusa a glorificação do
Senhor e, por conseguinte, não tinham esperança nem Deus no mundo.
Paulo já falara
desta distinção entre judeus e gentios na epístola aos romanos. Ali, o apóstolo
afirmou que dos israelitas era a adoção de filhos, a glória, os concertos, a
lei, o culto e as promessas (Rm 9:4).
Os israelitas
receberam a adoção de filhos, porquanto descendiam de patriarcas que foram
miraculosamente concebidos. Isaque e Jacó eram resultado de milagres de Deus,
porquanto suas mães eram estéreis (Gn 11:30; 21:1,2; 25:21), a demonstrar que
esta nação foi formada pelo Senhor, por Sua vontade, sem qualquer concurso
humano.
Os israelitas eram
filhos de Deus por adoção porque voluntariamente Deus os quis ter como filhos e
eles, também, aceitaram se submeter ao senhorio divino. Verdade é que quebraram
tal concerto, mas os gentios haviam se rebelado contra o Senhor,
desobedeceram-Lhe e se aprofundaram na sua vida pecaminosa, de modo que não
poderiam ser senão filhos por criação e nada mais.
Os israelitas
haviam contemplado a manifestação da glória de Deus. No Sinai, Deus desceu ao monte mostrando toda a Sua
glória (Ex 20:18-21), glória esta que se manifestou ainda outras vezes ao longo
da história, como reflexo no rosto de Moisés quando ele retorna da sua segunda
quarentena sobre o monte Sinai (Ex 34:29-35), na inauguração do tabernáculo (Ex
40:34,35; Lv 9:23), na repreensão aos espias incrédulos (Nm 14:10), na rebelião
de Datã, Abirão e Coré (Nm 16:19), nas águas de Meribá (Nm 20:6) e na
inauguração do templo (I Rs 8:11; II Cr 5:14; 7:1-3).
Quanto aos
concertos, a lei, o culto e as promessas, já mencionamos tais dádivas que Deus
reservou a Israel.
Os gentios de nada
disso participaram, não tinham direito a qualquer destes compartilhamentos
feitos entre Deus e o Seu povo, que, como “propriedade peculiar dentre os
povos”, tinha um tratamento especial da parte do Senhor; como “povo santo”, era
separado dos demais povos precisamente para ter tais compartilhamentos e, por
fim, era “nação sacerdotal”, porque tinha como se apresentar diante de Deus,
até para interceder pelas demais nações, o que, aliás, nunca fizeram já que,
pelo episódio do bezerro de ouro, ficaram privados do exercício sacerdotal pela
sua incredulidade.
João Crisóstomo
entende que o apóstolo, ao se utilizar das expressões “separados da comunidade
de Israel” e “estranhos aos concertos da promessa”, empregou “expressões muitos
fortes”, para indicar que os gentios sofriam de uma “separação completa” das
coisas do céu.
Por isso mesmo, os
gentios não podiam ter esperança. Haviam se rebelado contra Deus e se
mantiveram d’Ele separados. Não havia como reatarem tal comunhão e não podiam
esperar a salvação. A salvação vinha dos judeus e é este o motivo porque a
esperança messiânica era particular aos israelitas e, nos dias do nascimento de
Nosso Senhor e Salvador, estava sobremaneira aguçada.
Não devemos
esquecer que a promessa da redenção fora dada a toda a humanidade e que, sem
dúvida alguma, os gentios também a tinham e que, vez por outra, alguns dentre
eles realçavam tal esperança, como é o caso de Jó (Jó 13:15; 19:25-27), mas é
inegável que, enquanto em Israel, o ensino da lei mantinha viva tal esperança,
entre os gentios tal esperança empalidecia cada vez mais, obscurecida que
estava pela insensatez decorrente da recusa em glorificar a Deus, da rebeldia,
que havia criado a idolatria, primeiro passo para a degradação generalizada da
humanidade, muito bem descrita por Paulo em Rm 1:18-32.
A falta de
esperança era consequência da falta de Deus. Os gentios haviam se rebelado contra o Senhor, haviam se recusado a
servi-lO e, deste modo, construído, a exemplo de Caim, uma civilização sem a
presença do Senhor (Gn 4:16-24).
Este é o sistema
gentílico até os dias hodiernos, sistema que, por ter origem em Babel, é
chamado de Babilônia pelo apóstolo João no livro do Apocalipse, cujas duas
vertentes, a mística ou religiosa e a comercial, têm seu fim descrito nos
capítulos 17 e 18 do livro profético do Novo Testamento.
Trata-se de um
sistema secularista, ou seja, que não
admite qualquer dimensão além da terrena, que procura construir um mundo sem
Deus, que tenta, de todas as maneiras, tornar realidade a mentira satânica de
que podemos ser iguais a Deus, sabendo o bem e o mal, e, portanto, podendo ter
uma vida independente de Deus.
Esta recusa em
glorificar a Deus, em considerá-lO existente e de se submeter a Ele é que faz
com que todo o sistema seja dominado por Satanás e que o homem se veja
escravizado pelo pecado, sem condição alguma de se libertar deste “império da
morte” (Hb 2:14).
Simultaneamente,
este secularismo, por mais paradoxal que seja, acaba por fomentar uma falsa
religiosidade, uma adoração a falsos deuses, pois o homem, por mais que tente, não consegue fugir da realidade de que
existe algo além do material, algo além do terreno.
Eis porque, ao
mesmo tempo que se recusa a glorificar a Deus, acaba criando “deuses” a quem
possa adorar e servir, criando um sem-número de religiões e de crenças e superstições,
aprofundando o estado de desobediência.
Não é de se
admirar, por exemplo, que, nos países comunistas, que defendem o ateísmo e a
antirreligião como princípios norteadores da vida social, haja uma explícita
adoração das lideranças, a quem constroem estátuas e, inclusive, mantêm seus
corpos embalsamados para visitação…
Tomás de Aquino
diz que, na descrição desta condição, Paulo nos remete a três males da condição
gentílica e a três privações de benefícios decorrentes deste estado. Eis o que
afirma o Aquinate: “…Atualiza-os primeiro a memória de sua condição no estado
passado e depois contrapõe os benefícios que eles receberam no estado atual.
Quanto ao primeiro, após uma exortação, declara-lhes a condição de seu estado
passado. Ele diz: "Portanto", isto é, para que você possa perceber
que Deus nos deu toda a sua bela graça "lembre-se" (Dt 9,16);
"de que em outro tempo" lembra a condição de seu estado anterior: a)
quanto aos males que eles tinham; b) quanto aos bens de que foram privados. Os
males foram três: 1) o crime de gentilidade, pelo qual eles adoravam ídolos:
"vocês, que eram gentios de origem" (1Co 12); 2) sua vida carnal:
"in carne", isto é, vivendo na jurisdição da carne, pela qual eles
não podiam agradar a Deus (Rm 8); 3) a difamação e desprezo com que os judeus
os colocaram debaixo dos pés: "o chamado prepúcio", isto é, a
incircuncisão "por aquele, a saber, circuncisão, feita na carne pela mão
do homem ", isto é, pelos judeus circuncidados por tal circuncisão. E diz
"pela mão do homem", para distingui-la da circuncisão espiritual, que
é dita em Cl. 2:11: "na qual você também foi circuncidado com circuncisão
não carnal ou feita à mão que corta a carne do corpo, mas com a circuncisão de
Cristo; sendo sepultado com Ele pelo batismo "; e logo depois:" de
fato, quando você estava morto por seus pecados e pela incircuncisão de sua
carne, então Ele fez você reviver com Ele, perdoando todos os pecados". Em
seguida, os bens dos quais eles foram privados: "você que não teve parte
com Jesus Cristo"; e 1 de participar dos sacramentos; 2 do conhecimento de
Deus: "sem Deus neste mundo". Os sacramentos, cuja participação foi
impedida, eram três: 1) a dignidade de Cristo; onde ele diz: "você que não
teve parte com Jesus Cristo então", isto é, sem a promessa de Cristo feita
aos judeus (Jr. 23; Zc 9); 2) a companhia dos santos, que se viram privados
enquanto permaneceram na gentilidade, diz: "separados da comunidade de
Israel", pois não era lícito aos judeus lidar com os gentios (Dt 7), como
São João diz que samaritanos e judeus não se comunicam; 3) Quanto aos que foram
recebidos no judaísmo, tornando-se prosélitos, foram tratados com desprezo. É
por isso que ele acrescenta: "estrangeiros em relação a alianças",
como se dissesse: esses prosélitos, ao se converterem ao judaísmo e se tornarem
prosélitos, eram recebidos não como cidadãos, mas como convidados, para
participar das alianças divinas. Diz "de alianças" no plural, porque
se deu aos judeus o Antigo Testamento e se lhes prometeu o Novo (…). Ele o deu
àqueles "de quem é a adoção dos filhos de Deus, e a glória, e a aliança, e
a legislação, e a adoração, e as promessas", como se diz em Romanos
9,4.39; a esperança de bens futuros: "sem esperança de promessa";
porque, como declarado em Gálatas 3, as promessas foram feitas a Abraão e sua
descendência. Para piorar a situação, o pior de tudo, devido à ignorância de
Deus, é: "sem Deus neste mundo", isto é, sem conhecimento de Deus.
"Deus se fez conhecido em Judá" (Sl 76.1), não tanto para os gentios,
conforme alude I Ts 4: "não com paixão libidinosa, como fazem os gentios,
que não conhecem a Deus"; texto, no entanto, que pode ser entendido a
partir do conhecimento pela fé; por causa do conhecimento natural, é dito em Rm
1:21: "porque, tendo conhecido a Deus, eles não o glorificaram como Deus".…” (Lição 4 – Efésios 2:11-13. Cit. Ef 2:11-22,
n. 13. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm
Acesso em 19 fev. 2020) (traduzido do Google com alterações nossas de texto em
espanhol).
Era esta a triste
condição que estavam os gentios antes de serem alcançados pela salvação em
Cristo Jesus, condição que deve ser, sim, lembrada para que demos o devido
valor ao que Deus, em Cristo, fez por nós.
III – A GRATA MEMÓRIA
Retomando o que
Paulo dissera na epístola aos romanos, os gentios são o zambujeiro, que, por
causa da quebra dos ramos da oliveira, foram enxertados (Rm 11:17-21).
Ao lembrar os
efésios a respeito de sua condição, o apóstolo tem, como propósito, gerar neles
uma “grata memória”, ou seja, fazer-lhes conscientes da imensa graça e
misericórdia que Deus lhes proporcionou ao salvá-los na pessoa de Nosso Senhor
e Salvador Jesus Cristo, cuja obra irá ele descrever no trecho seguinte da
epístola.
Esta “grata
memória”, por primeiro, quer nos mostrar que não tínhamos qualquer participação
nas promessas e dádivas divinas, mas que, apesar de todas as nossas
imperfeições, Cristo nos deu acesso a tudo isto.
Éramos o
zambujeiro, ou seja, a oliveira-brava,
também conhecida como “oliveira-da-rocha”. “…O zambujeiro é uma oliveira, uma
variedade silvestre desta árvore, que cresceu na natureza sem nenhum controlo
humano. É uma espécie selvagem que não tem sido cultivada para nenhum fim
concreto. Na atualidade, esta oliveira silvestre forma parte da nossa paisagem,
sobretudo nas regiões mediterrânicas. É habitual encontrá-lo ao abrigo de
azinheiras, alfarrobeiras ou sobreiros. Selvagem, mas uma oliveira, ao fim e ao
cabo. É habitual confundi-lo com a “Oliveira comum” pois tem características
similares. No entanto, têm frutos, folhas e portes diferentes. O zambujeiro é
uma espécie de crescimento lento com porte arbustivo. Tem ramos intrincados e
um tronco pouco definido. Pode chegar a alcançar vários metros de altura se se
desenvolver longe de animais (serve de alimento para o gado). Na atualidade,
foi popularizado o seu uso como bonsai, mas disto falaremos mais à frente. Uma
das partes mais características do zambujeiro são as suas folhas. Ao contrário
das da oliveira, estas são pequenas e delgadas, de cor verde muito escura.
Mantêm-se no arbusto durante todo o amo, mesmo na época de seca (são perenes,
portanto). As flores carecem de qualquer interesse, pois são pequenas, crescem
em cachos axilares e têm uma tonalidade verde-amarelada. Os frutos do
zambujeiro, como os da oliveira, são conhecidos como azeitonas. São de menor
tamanho, pouco carnosas e não têm tanto óleo como as variedades que são
cultivadas (de maior tamanho). O zambujeiro frutifica no verão.…” (Conheça o zambujeiro. Disponível em:
https://tudohusqvarna.com/blog/fichas/zambujeiro/ Acesso em 19 fev. 2020).
Como se pode
perceber, ao nos comparar com o zambujeiro, o apóstolo Paulo mostra que éramos
marginais ao plano de Deus, estávamos, como o zambujeiro, ao largo do cultivo
controlado, da qualidade e da quantidade de frutos e do crescimento rápido.
Assim, devemos sempre ser gratos ao Senhor por nos ter inserido na oliveira,
por nos ter inserido no Seu povo.
Paulo, porém,
deixa claro, no texto de Romanos, que o fato de ramos da oliveira terem sido
quebrados, o que representava a rejeição dos israelitas ao Senhor Jesus, era
também uma advertência a todos nós, para que tomemos cuidado para sermos
obedientes ao Senhor, para que não venhamos, nós também, a ser quebrados e
lançados fora.
O Senhor Jesus, em
Suas últimas instruções, disse claramente que, como ramos da videira, que é Ele
próprio, não podemos, de modo algum, deixar de dar fruto, para que não venhamos
a ser cortados, lançados fora, secados e, por fim, queimados (Jo 15:6).
Mas como evitar de
ser cortado? Diz o Nosso Salvador: mantendo-nos unidos a Ele, estando n’Ele e
Ele em nós, ou seja, fazendo a Sua vontade, pois quem quer servir ao Senhor,
segui-l’O, indispensável que negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga ao
Senhor. Foi para construir esta comunhão, esta unidade que o Senhor veio a este
mundo (Jo 17:21) e é preciso mantermos esta unidade para que usufruamos
plenamente da vida eterna que já nos é dada pelo Senhor Jesus.
Nesta “grata
memória”, Paulo dá-nos uma grande lição, qual seja, a de mostra a nossa
condição antes da salvação, mas sem descrever ou se lembrar dos pecados, mas apenas mostrar a situação de miséria espiritual em
que nos encontrávamos. O apóstolo limita-se a dizer que éramos incircuncisos,
sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da
promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.
Não houve uma
apologia do que fazíamos nesta condição, como observamos em muitos “tristemunhos”, em que as pessoas descrevem
minuciosamente seus pecados anteriormente cometidos, como tendo prazer em tal
recordação, pouco valor dando a seu atual estado de graça, a sua condição após
a redenção, como que fazendo propaganda do velho homem que está crucificado com
Cristo.
O apóstolo também
nos ensina que a separação que começava já no físico, com a incircuncisão, é
coisa do passado e, como tal, não pode, de forma alguma, voltar a existir.
Estamos lembrando do nosso estado anterior à salvação e, deste modo, não se
trata de algo que possa ser verificado, observado no presente.
Agora temos
esperança e temos Deus, embora ainda estejamos no mundo e, portanto, não só
não pode haver nostalgia do estado pecaminoso anterior, como também não pode
este estado reaparecer como algo presente e constante em nossa existência,
sob pena de termos perdido a salvação e não mais podermos, de modo algum, gozar
das bênçãos divinas.
É interessante ver
que o apóstolo fala que não tínhamos esperança nem Deus no mundo, ou
seja, faz questão de mostrar que, antes da salvação, éramos do mundo, mas
agora, estamos nos “lugares celestiais em Cristo” (Ef 1:3).
Quem está “em
Cristo” é nova criatura, as coisas velhas passaram, eis que tudo se fez novo
(II Co 5:17) e, desta forma, não podemos ser como éramos, temos de ter mudado,
temos de ter nos transformado. É esta a nossa condição? Pensemos nisto!
Colaboração para o Portal Escola Dominical
Ev. Caramuru
Afonso Francisco. Disponível em: https://www.portalebd.org.br
COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
Na presente lição, veremos que o
autor de Efésios lembra aos gentios de que, antes da regeneração, eles eram
incircuncisos e haviam experimentado cinco formas de privação: estavam sem
Cristo, separados de Israel, alienados quanto à promessa, sem esperança e sem
Deus no mundo (2.11,12). Logo, estudaremos cada um desses aspectos. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º
Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
O mundo vive em constante
beligerância, muitos tem tentado firmar um pacto de paz, no entanto, essa paz
não é duradoura ou apenas é usada como meio de esconder reais planos de
conflito. O único pacto de paz verdadeiro e eficaz foi o que Deus fez em Jesus.
Essa é a maior missão de paz da história. Deus reconciliou judeus e gentios num
único corpo e reconciliou o mundo consigo mesmo por meio de Jesus (2Co 5.18).
I. CHAMADOS INCIRCUNCISÃO
Na era antes de
Cristo, além de mortos espiritualmente, os gentios eram desprezados pelos
judeus e identificados como incircuncisos (2.11).
1. O conceito de
circuncisão. Circuncisão é a remoção
cirúrgica do prepúcio do órgão sexual masculino. Era prescrito na lei como o
sinal externo de quem pertencia ao povo da aliança com Deus (Gn 17.10,11). O
procedimento era realizado no oitavo dia de vida dos nascidos em Israel ou
estrangeiros comprados a dinheiro (Gn 17.12). Quem não era circuncidado era
tido como “incircunciso” e, portanto, excluído da aliança (Gn 17.14). A
circuncisão tornou-se um sinal que distinguia os judeus dos demais povos
gentílicos. [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
Os gentios (a
"incircuncisão") experimentaram dois tipos de separação. A primeira
era social, resultando da animosidade que havia existido entre judeus e gentios
por milhares de anos. Os judeus consideravam os gentios como excluídos, objetos
de escárnio e repreensão. O segundo e mais significativo tipo de separação era
a espiritual porque os gentios, como um povo, estavam separados de Deus de
cinco maneiras diferentes:
1) eles estavam
"sem Cristo", o Messias não tendo um salvador e libertador, e sem
propósito ou destino divino;
2) Eles estavam
"separados da comunidade de Israel". O povo escolhido de Deus, os
judeus, era uma nação cujo supremo Rei e Senhor era o próprio Deus, e de cuja
bênção exclusiva e proteção eles se beneficiavam;
3) Os gentios eram
"estranhos às alianças da promessa"; não podiam partilhar das
alianças divinas de Deus nas quais ele prometeu dar ao seu povo uma terra, um
sacerdócio, um povo, uma nação e um rei — e para aqueles que cressem nele a
vida eterna e o céu;
4) Eles não tinham
"esperança" porque não haviam recebido nenhuma promessa divina, e
5) Eles estavam
"sem Deus no mundo". Embora os gentios tivessem muitos deuses, não
reconheciam o verdadeiro Deus porque não o queriam (Rm 1.18-26).
O desprezo que os
judeus sentiam pelos gentios era tão grande que não era lícito a um judeu
assistir a uma mulher gentia dar à luz. O casamento de um judeu com uma gentia
correspondia à morte dele, e, imediatamente, celebrava-se o ritual do enterro
do moço ou da moça. Entrar numa casa gentia tornava um judeu impuro e o deixava
inapto para participar do culto público. Para os judeus, os gentios eram apenas
combustível para o fogo do inferno. Quando Deus chamou a Abraão e lhe deu um
sinal na carne (a circuncisão), não era para que os judeus se gloriassem disso,
mas para que fossem uma bênção para os gentios. Mas Israel falhou em
testemunhar para os gentios. Israel corrompeu-se como e com as nações gentílicas. p. 62.
2. O significado
religioso da circuncisão. Seu
significado religioso apontava para a santificação (Êx 19.5,6). Como a
corrupção e as práticas idólatras estavam fortemente relacionadas com a
sexualidade depravada, a circuncisão simbolizava a aliança de purificação
requerida ao povo escolhido (Jr 5.7; Os 4.14; Gl 5.19). Era algo tão sério que
os judeus recusavam-se até mesmo a comer com os incircuncisos (At 11.3). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º
Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
- A circuncisão era uma
pequena cirurgia feita em todos os meninos judeus, que representava sua
pertença ao povo judeu e à aliança de Deus. Quem não fosse circuncidado não era
considerado judeu. A circuncisão foi um sinal estabelecido por Deus para o povo
judeu. Não era algo totalmente novo naquele período da História, quando Deus o
instituiu como sinal da aliança com Abraão (Gn 17.11), mas o significado
religioso teocrático especial então aplicado a ela foi inteiramente novo, desse
modo identificando os circuncisos como pertencentes à linhagem física e étnica
de Abraão (At 7.8; Rm 4.11). Sem divina revelação, o rito não teria tido esse
significado distintivo. Porém, a partir de então ficou como distintivo
teocrático de Israel (leia Gn 17.13).
- Também havia um benefício
à saúde com essa prática porque doenças poderiam ficar depositadas nas dobras
do prepúcio. Retirando-o, isso era evitado. Historicamente, as mulheres judias
tiveram menor índice de câncer cervical. Mas o simbolismo tinha a ver com a
necessidade de eliminar o pecado e ser purificado. O órgão masculino é que mais
claramente demonstrava a profundidade da depravação porque carregava a semente
que produzia pecadores depravados. Assim, a circuncisão simbolizava a
necessidade de profunda purificação a fim de reverter os efeitos da depravação. Leia mais sobre acessando este link: GOSPELPRIME)
3. A circuncisão
do coração. O apóstolo reconhece que
os gentios não faziam parte da circuncisão, mas com uma ressalva: o sinal dos
judeus era apenas físico e realizado por mãos humanas (2.11b). A boa nova que
Paulo traz é a de que a verdadeira circuncisão não se tratava de uma operação
externa na carne realizada pelos homens, mas a que foi feita “no interior, a
que é do coração [...] cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm
2.29). Assim, em Cristo, o sinal de quem pertence a Deus não é a circuncisão
nem a incircuncisão, mas sim “o ser uma nova criatura” (Gl 6.15). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º
Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
No verso 11, Paulo
explica que um verdadeiro filho de Deus, e que a verdadeira semente espiritual
de Abraão é aquela que circuncidou o coração. O rito exterior só tem valor
quando reflete a realidade interior de um coração separado do pecado para Deus
(Dt 10.16; 30.6). Fica muito claro que, para Paulo, a salvação é o resultado da
atuação do Espírito de Deus no coração, e não, meramente, dos esforços
exteriores para se conformar a essa lei. justiça completa e perfeita que virá
na glorificação (Rm 8.18,21). Nada que se faz ou se deixa de fazer na carne,
nem mesmo a cerimônia religiosa, faz qualquer diferença no relacionamento de
uma pessoa com Deus. O que é externo é irrelevante e sem valor, a menos que
reflita uma justiça interior genuína (Rm 2.25-29). É exatamente isso que o
apóstolo escreve em Gálatas 5.6, afirmando que ‘nem a circuncisão, nem a
incircuncisão têm valor algum’, mas sim, a ‘fé que atua pelo amor’; A fé
salvadora prova o seu caráter genuíno pelas obras do amor. Aquele que vive pela
fé é motivado, no seu interior, pelo amor por Deus e por Cristo (Mt 22.37-40),
o qual se revela, de modo sobrenatural, na adoração reverente, na obediência
genuína e o amor altruísta pelos outros. Assim, circuncisos de coração são
aqueles que experimentaram o novo nascimento, à luz de Gálatas 6.15!
4. A circuncisão
na Nova Aliança. O assunto da
circuncisão gerou discussões acaloradas entre judeus e gentios (Gl 5.2,3; Fp
3.2). Em Antioquia a questão ganhou muita dimensão, provocou intensos debates e
culminou na convocação do Primeiro Concílio da Igreja em Jerusalém (At
15.1,2,5,6). A deliberação dos apóstolos sobre o assunto, sob a orientação do
Espírito Santo (At 15.28,29), passou a enfatizar que na nova aliança “a
circuncisão somos nós, que servimos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em
Jesus Cristo, e não confiamos na carne” (Fp 3.3). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º
Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
O maior álibi dos
opositores de Paulo era justamente o fato de Paulo não ensinar a circuncisão. O
tema central de Gálatas é a justificação pela fé, onde aparece uma forte defesa
dessa doutrina, tanto teológica (caps. 3-4) quanto prática (caps. 5-6). Os
falsos mestres – os judaizantes que Paulo chama de ‘maus obreiros’ - ensinavam
que era necessário ao convertido passar por alguns ritos e observar preceitos
da Lei, e como Paulo não pregava esse evangelho falso, foi duramente perseguido
e caluniado.
Aqueles judaizantes
orgulhavam-se de ser obreiros da justiça. Não obstante, Paulo descreveu suas
obras como más, visto que o pior tipo de iniquidade é qualquer tentativa de
agradar a Deus por meio de esforços próprios e desviar a atenção da redenção
consumada de Cristo. Eles, de fato, eram portadores de uma falsa circuncisão.
Ironicamente, a circuncisão dos judaizantes não era um símbolo espiritual;
tratava-se, meramente, de uma mutilação física (Cl 5.12). O verdadeiro povo de
Deus não possui, meramente, um símbolo da necessidade de um coração limpo (Gn
17.11); eles, na verdade, foram purificados do pecado por Deus (Rm 2.25-29).
A primeira
característica usada por Paulo para definir um verdadeiro cristão é que nós ‘adoramos
a Deus no Espírito’ (Fp 3.3). O verdadeiro cristão confere todo crédito pelo
que ele é a Cristo (Rm 15.17; ICo 1.31; 2Co 10.17), e não confia na carne; Por
"carne", Paulo está se referindo à humanidade não redimida do ser
humano, às suas próprias habilidades e realizações à parte de Deus (Rm 7.5). Os
judeus colocavam a sua confiança no fato de serem circuncidados, em serem
descendentes de Abraão e na realização de cerimônias exteriores e obrigações da
lei mosaica – coisas que não poderiam salvá-los (Rm 3.20; Cl 5.1-12). O
verdadeiro cristão vê sua carne (natureza) como pecaminosa, sem qualquer
capacidade de merecer a salvação ou de agradar a Deus.
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
O primeiro tópico deve
atingir o objetivo didático básico de deixar bem embasado dois conceitos que
aparecem na Epístola: “Circuncisão” e “Incircuncisão”. A ideia aqui é explicar
o conceito espiritual que tais termos apresentam na Epístola. Nesse sentido, ao
explicá-lo, atente para o seguinte texto: “No verso 11, Paulo lembra aos seus
leitores gentios a condição desvantajosa de seu estado anterior ao evangelho.
Gênesis 1–2 revela a unidade fundamental da raça humana em seu início. Após a
queda (Gn 3) e o grande dilúvio (Gn 6–8), ocorreu a desintegração e a
humanidade foi dividida em diferentes nações, Deus escolheu Abraão e seus
descendentes judeus para serem o povo do pacto divino (Gn 12–50). A circuncisão
dos homens judeus tornou-se um sinal exterior para lembrá-los de sua identidade
e das responsabilidades que tinham neste pacto” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário
Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol.2. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 414).
II. ESTRANHOS
AO CONCERTO DA PROMESSA
Nessa parte, o apóstolo Paulo
aponta a situação dos gentios: “Naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da
comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa” (2.12).
1. Uma vida sem Cristo. Ao descrever a história passada dos gentios, o apóstolo traz
à memória que “naquele tempo”, isto é, antes da regeneração, eles viviam
imersos no paganismo e, portanto, “sem Cristo”. Isso indica que a religiosidade
dos gentios era incapaz de inseri-los na promessa messiânica de salvação (Jo
4.22). Também significa que eles desconheciam a Cristo, como também eram indiferentes
às promessas acerca dEle e de sua obra (Hb 8.8-10). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º
Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
Ao comentar esse subtópico,
faz-se necessário esclarecer ‘a história passada dos gentios’ se refere aos gentios
convertidos, como está escrito, pode induzir ao entendimento de que se refira
aos gentios em geral. Essa ainda é a situação daqueles que não foram alcançados
pela salvação por meio da fé em Cristo Jesus.
Dos dois tipos de separação que
os gentios experimentaram, a primeira era social, e a outra, a mais
significativa separação, era a espiritual porque os gentios, como um povo,
estavam separados de Deus.
“Agora, Paulo resume essa
falência espiritual dos gentios em cinco frases descritivas e negativas.
Eles estavam sem Cristo. Eles
estavam separados de Cristo, sem nenhuma relação com o Messias. Enquanto os
judeus aguardavam o Messias, eles não o aguardavam nem sabiam nada sobre ele.
Os efésios adoravam a Diana em vez de adorar a Cristo. Eles viviam imersos numa
imensa escuridão espiritual.” (LOPES.
Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo / Hernandes Dias
Lopes. São Paulo: Hagnos, 2009. p. 63)
2. Separados da comunidade de
Israel. Ainda no versículo 12 o apóstolo salienta a desvantagem
de os gentios não pertencerem à comunidade de Israel (2.12). Eles estavam
excluídos não só dos símbolos externos, mas também não faziam parte do povo
escolhido, e, consequentemente, não podiam usufruir dos privilégios da aliança
de Abraão (Rm 9.4). A constatação cruel era a de que Deus não havia se revelado
aos gentios, pois a chamada divina fora feita somente a Abraão e a sua
descendência (Gn 17.17). Nessa perspectiva, a lei e as promessas pertenciam
somente aos judeus e, desse modo, os gentios estavam fora do alcance das
bênçãos prometidas a Abraão, a Isaque e a Jacó (Mt 22.32). Entretanto, o que os
gentios precisavam saber era que por meio de Cristo, eles também se tornariam
descendência de Abraão (Gl 3.29). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10
Maio, 2020]
Eles estavam separados da
comunidade de Israel. Os gentios permaneciam fora do círculo daqueles que
adoravam o Deus verdadeiro. Deus havia chamado a Israel e lhe dado sua lei e
suas bênçãos. O que deve ficar claro aqui é que as promessas de Deus não eram
exclusivas de Israel somente, mas todos poderiam se achegar ao Deus único e
verdadeiro que se autorrevelou a Israel. Então, havia uma maneira pela qual os
gentios poderiam experimentar as promessas da Aliança: se fazer um prosélito.
Os gentios eram estranhos às alianças da promessa por que essas alianças foram
os acordos relativos à promessa do Messias feitas a Abraão e aos seus
descendentes. Os gentios eram estranhos e estrangeiros. Não havia alianças com
eles.
3. Alienados aos pactos das
promessas. Uma vez separados da comunidade de Israel, os
gentios desconheciam totalmente os vários pactos que Deus estabelecera com os
patriarcas israelitas. Esses pactos giravam em torno da grande promessa do
advento do Messias (At 13.32-37). Dentre eles: o “pacto abraâmico” (Gn 12.1-3),
o “pacto mosaico” (Dt 28.1-14) e o “pacto davídico” (2 Sm 7.13-16). Esses
pactos eram reiterações da promessa messiânica. Os gentios não tinham noção
deles e, por conseguinte, estavam alienados de qualquer promessa ou esperança
messiânica. Agora, uma vez regenerados em Cristo, é revelada a grandeza do amor
divino. De alienados da promessa, por meio do sangue de Jesus, os gentios
tornaram-se herdeiros da maravilhosa promessa (Gl 3.29). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º
Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
Este gentios estavam sem os
privilégios e promessas que Deus tinha revelado a Israel (Is 55.11; Jr 32.42).
No entanto, é bom frisar que, como Paulo explicou em Romanos 9.6, ‘nem todos os
de Israel são... israelitas’, isto é, nem todos os descendentes naturais de
Abraão são verdadeiros, herdeiros da promessa. Para ilustrar esta verdade,
Paulo lembra a seus leitores que até mesmo as promessas de raça e nação feitas
a Abraão não foram feitas a todos os descendentes naturais dele, mas apenas
para aqueles vindos por intermédio de Isaque (Gn 21.12). Somente os
descendentes de Isaque podem, verdadeiramente, ser chamados de filhos de
Abraão, herdeiros das promessas de raça e nação (Gn 17,19-21). O que Paulo está
ensinando é que assim como nem todos os descendentes de Abraão pertenciam ao
povo natural de Deus — ou ao Israel nacional — nem todos aqueles que são filhos
verdadeiros de Abraão, por intermédio de Isaque, são o povo espiritual de Deus
e desfrutam das promessas feitas aos filhos espirituais de Abraão (Rm 4.6,11;
11.3-4). A exemplo disso, os outros filhos de Abraão com Agar e Quetura não
foram escolhidos para receber as promessas quanto à nação feitas a ele (Gn
17.19-21).
“Os gentios não tinham esperança
de uma vitória sobre a morte (ITs 4.13-18). O futuro dos gentios era como uma
noite sem estrelas. O mundo gentio entregava-se ao prazer desbragado, ora por
não crer na eternidade (Epicureus), ora por viver esmagado pelo fatalismo
(estoicos). Os gentios viviam sem Deus no mundo. Quem não tem Deus não tem
esperança. Embora Paulo tenha usado a palavra grega atheoi, não devemos
concluir que os gentios eram ateus. Eles tinham muitos deuses (Atos 17.16-23;
ICo 8.5), mas não conheciam o Deus verdadeiro nem tinham relação alguma com ele
(ICo 8.4-6).127 Seus deuses eram vingativos e caprichosos. Eles viviam sob o
tacão das ameaças e debaixo da ditadura do medo. Eles não conheciam o Deus
criador, sustentador, redentor e consolador. Curtis Vaughan diz corretamente
que olhar para o futuro sem esperança já é algo terrível; mas não ter no
coração a fé em Deus é inexprimivelmente trágico.” (LOPES. Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva
gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009. P. 64)
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Falando mais
especificamente sobre a alienação dos gentios, o apóstolo enumera as tragédias
espirituais envolvidas neste estado. Primeiramente, estes efésios estavam sem
Cristo (12; ‘separados de Cristo’, NTLH). Antes de ouvirem e responderem à
palavra da graça, eles não tinham ‘parte ou parcela no povo messiânico’, fato
que significava que eles não possuíam a esperança do Messias ou qualquer
benefício que viesse junto com isto. Sua história era sem Cristo. Não há
tragédia maior para o ser humano. Em segundo lugar, eles estavam separados da
comunidade de Israel (12). A alienação é expressa aqui por apallotrousthai,
que significa essencialmente ‘excluído da’ (BJ) e não mero afastamento
temporário de uma agregação anterior. Comunidade (politeia) tem dois
sentidos: 1) estado ou nação; e, 2) ‘cidadania’, ou direitos de cidadão. O primeiro
significado está de acordo com a exclusividade nacional dos judeus. Os gentios
estavam fora da comunidade do povo de Deus, com exceção de alguns prosélitos” (HOWARD, R. E.; TAYLOR, Willard H.; KNIGHT, John A.
(et al). Comentário Bíblico Bacon: Gálatas a Filemom. Rio de Janeiro:
CPAD, 2006, p. 139).
III. SEM ESPERANÇA E SEM DEUS
Agora Paulo passa a descrever a
situação dos gentios que viviam “não tendo esperança e sem Deus no mundo”
(2.12).
1. Desprovidos de esperança. A palavra esperança traz a ideia de “confiança” e, nas Escrituras,
o seu principal uso está ligado à confiança nas promessas divinas (Sl 130.5; Jr
17.7). Podemos afirmar que os gentios eram desprovidos dessa esperança por
causa de parte da filosofia grega, que descartava a possibilidade de uma vida
além-túmulo (At 17.18,32), e que, consequentemente, pudesse ser ditosa. Além
dessa questão, embora Deus tivesse decretado incluir os gentios no plano da
salvação, eles mesmos ignoravam essa promessa, e, por isso, não tinham em que
sustentar qualquer esperança (1 Co 9.10). Como a esperança é a âncora para a
alma, os gentios desprovidos dela padeciam de medo e incertezas (Hb 6.18,19; 2
Co 7.10). Por conseguinte, a falta de esperança e de paz revelava a ausência de
Deus. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos,
2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
Eles não tinham
"esperança" porque não haviam recebido nenhuma promessa divina. Eles
estavam "sem Deus no mundo". Embora os gentios tivessem muitos
deuses, não reconheciam o verdadeiro Deus porque não o queriam (Rm 1.18-26).
“Os gentios estavam sem esperança
e sem Deus no mundo. A gente fala frequentemente dos gregos como do povo mais
esplendoroso da história; mas no fundo de tudo havia uma melancolia grega e se
vivia uma espécie de desespero essencial. Isto era assim dos longínquos tempos
do Homero. Na Ilíada (6:146-143) quando Glauco e Diomedes se enfrentam em
combate singular, antes de trançar-se em luta Diomedes quer conhecer a linhagem
de Glauco, quem responde: "Por que me pergunta sobre minha geração? Tal
como as gerações das folhas são as gerações humanas; as folhas que foram
arrastadas sobre a terra pelos ventos e os bosques voltem a brotar ao
aproximar-se a primavera. Assim são as gerações humanas: uma nasce e outra
termina". É verdade que os gentios viviam sem esperança porque estavam sem
Deus. Israel pelo contrário manteve sempre uma esperança luminosa e radiante em
Deus, que brilhou com claridade e em forma inextinguível até nos dias mais
terríveis e escuros. O gentio enquanto isso experimentava em seu coração o desespero
antes que Cristo viesse para dar-lhe esperança em sua desesperança.” Efésios
(William Barclay), p. 59, 60.
2. Sem Deus no mundo. A expressão “sem Deus” não significa que os gentios não serviam ou
não acreditavam numa divindade (1 Co 8.4; Gl 4.8). Ao contrário, eles eram
politeístas e idólatras, pois acreditavam e adoravam a muitos “deuses”. Assim,
por meio de seu paganismo, estavam alienados do Deus que havia se revelado a
Israel (Êx 19.1-16). Isso significa dizer que suas vidas eram regidas pela falsa
ideia de divindades pagãs que as mantinham escravizadas em densas trevas
espirituais. Trata-se de uma descrição de um quadro calamitoso. Entretanto, e
felizmente, esse quadro foi alterado pela intervenção dos desígnios eternos do
verdadeiro Deus (Jo 17.3). [Lições
Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
“Os gentios viviam sem Deus no
mundo. Quem não tem Deus não tem esperança. Embora Paulo tenha usado a palavra
grega atheoi, não devemos concluir que os gentios eram ateus. Eles tinham
muitos deuses (Atos 17.16-23; ICo 8.5), mas não conheciam o Deus verdadeiro nem
tinham relação alguma com ele (ICo 8.4-6). Seus deuses eram vingativos e
caprichosos. Eles viviam sob o tacão das ameaças e debaixo da ditadura do medo.
Eles não conheciam o Deus criador, sustentador, redentor e consolador. Curtis
Vaughan diz corretamente que olhar para o futuro sem esperança já é algo
terrível; mas não ter no coração a fé em Deus é inexprimivelmente trágico” (LOPES. Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva
gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009. p. 63 e
64)
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“A quarta tragédia
espiritual, em consequência da anterior, é que estes efésios não possuíam
esperança e estavam sem Deus (12). A ruína moral e espiritual de
tais gentios era completa. Eles não tinham esperança do ‘triunfo final da
justiça e amor divino; para eles, as questões finais da história do mundo eram
sombrias, preocupantes e incertas. A época de ouro deles estava no passado e
irremediavelmente perdida, ao passo que a época de ouro do povo judeu estava no
futuro’. Alguém observou que precisamos de uma esperança infinita, que só a fé
em Deus pode dar. Westcott repara no patético da estranha combinação sem
Deus (atheoi, ‘ateus’) e sem esperança. Eles enfrentavam a
natureza e a vida sem esperança, porque não tinham relação com o Intérprete da
natureza e da vida. Wescott afirma que ‘os gentios tinham ‘muitos deuses’ e
‘muitos senhores’, e um Deus como ‘causa primeira’ nas teorias filosóficas, mas
nenhum Deus que amasse os homens e a quem os homens pudessem amar” (HOWARD, R. E.; TAYLOR, Willard H.; KNIGHT, John A.
(et al). Comentário Bíblico Bacon: Gálatas a Filemom. Rio
de Janeiro: CPAD, 2006, p. 139).
CONCLUSÃO
Noutro tempo éramos
incircuncisos e estávamos excluídos da aliança com Deus. Separados de Cristo e
de Israel vivíamos alienados ao concerto da promessa, desesperançados e longe
de Deus. Um dia, porém, a magnitude do amor divino circuncidou os nossos corações,
aproximou-nos de Cristo e de Israel, incluiu-nos na esperança da promessa e
revelou a nós o único e verdadeiro Deus. Bendito seja o seu santo nome para
sempre! [Lições Bíblicas CPAD, Revista
Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
Em Efésios Paulo ensina sobre a
graciosa intervenção de Deus em favor de pecadores perdidos. Somos redimidos
por quatro atividades que Deus realizou em nosso favor, salvando-nos das
consequências dos nossos pecados. Deus oferece vida aos mortos, libertação aos
cativos e perdão aos condenados. Paulo, agora, contrasta o que somos por
natureza com o que somos pela graça, a condição humana com a compaixão divina,
a ira de Deus com o amor de Deus.
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br
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