sábado, 2 de maio de 2020

LIÇÃO 5: LIBERTOS DO PECADO PARA UMA NOVA VIDA EM CRISTO


  

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
LIBERTOS DO PECADO PARA UMA NOVA VIDA EM CRISTO

O capítulo 2 de Efésios mostra o processo de libertação do pecador para uma nova vida em Cristo. Assim, a presente lição procura revelar a graça salvadora de Jesus Cristo que nos garante a vida eterna. A libertação do pecado só foi possível por causa dessa graça. 
Para mostrar esse processo de libertação do pecado, reflita com a classe sobre a natureza pecaminosa do homem, morta em delitos e pecados; em seguida, explique que a graça de Deus vivificou-nos, transformando a nossa natureza para agora sermos inclinados às coisas celestiais; e, finalmente, afirme que a nossa salvação não vem de obras, mas de Deus pela sua graça salvadora. 

Resumo da lição

A graça salvadora de Cristo nos garante a vida eterna. Esse ponto é central em nossa lição. Por esse motivo, o primeiro tópico faz uma reflexão acerca da antiga natureza humana morta em delitos e pecados. Ele mostra que a nossa condição diante de Deus era caótica, éramos escravos e estávamos condenados à perdição e morte eterna. Isso significa que o pecado não consiste apenas em atos isolados, mas numa realidade que se revela na natureza má dentro da pessoa.
Entretanto, Deus não ficou passivo diante de morte do ser humano em ofensas e pecados. O segundo tópico explica que fomos vivificados pela graça divina. O pecador passou da morte para a vida por meio da graça de Deus, que nos foi concedida por obra da misericórdia e do grande amor de Deus. Tudo isso foi possível pela graça mediante a fé (Ef 2.8). Nesse caso, não há salvação se o homem não crer no Filho de Deus (Jo 3.16), pois sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11.6).
Assim, se a salvação é pela graça por meio da fé, o terceiro tópico afirmará que ela não vem pelas obras, pois estas não são o meio, mas o resultado da salvação pela graça. 

Aplicação

Deixe claro para a classe que não há qualquer esforço próprio ou ritual que nos garanta a salvação. Somos salvos pela graça mediante a fé somente (Ef 2.8). Essa graça se revelou em Cristo Jesus, conforme a sua obra completa. Na ação da graça de Deus leva-se em conta o chamado ao arrependimento e à fé. Quem torna possível a resposta a esse chamado é a obra do Espírito Santo que convence o mundo do pecado, e da justiça e do juízo (Jo 16.8). Assim, regenerados pelo Espírito Santo, estamos habilitados a produzir boas obras (Ef 2.10).

Subsídio extraído da Revista Ensinador Cristão - Ano 21 nº81 (Jan/Fev/Mar)

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Nesta lição iremos estudar sobre a natureza pecaminosa que passou a existir na humanidade após a queda de Adão, no Éden. Veremos também o poder regenerador da Graça de Deus para o homem caído. Por fim, elencaremos as bençãos da nova vida em Cristo para todo aquele que aceita Jesus como Salvador.
I – A NATUREZA PECAMINOSA DO HOMEM
A queda do primeiro homem no Éden legou uma natureza pecaminosa que escravizou não somente Adão, mas toda humanidade. O ser humano passou a ser escravo e precisa de libertação da parte de Deus. Mesmo nessa terrível condição, a palavra do Senhor demonstra que se o homem responder positivamente a Deus, alcança libertação e uma nova vida em Cristo. Notemos:
1.1 A natureza pecaminosa foi herdada. Quando Adão pecou toda humanidade pecou nele (Rm 5.12), pois ele era o representante de toda raça humana (Rm 3.23; 5.12-19). Logo, a herança que recebemos de nossos primeiros pais foi a natureza pecaminosa, de forma que todos somos pecadores e culpados diante de Deus (Sl 51.5; Rm 6.6,12, 19; 7.5,18; 2Co 1.17; Gl 5.13; Ef 2.3; Cl 2.11,18). O que se entende por natureza no contexto desse estudo? É aquilo que é inato em cada pessoa, isto é, nasce com ela [...]. Portanto, não há criatura humana neste mundo que não tenha nascido com uma “natureza corrompida”. Por isso, toda criatura constitui-se pecadora diante de Deus, visto que o pecado em si é herança comum de todas as criaturas sobre a terra (GILBERTO, 2008, p. 319). Até um bebê recém-nascido (Sl 51.5), antes mesmo de cometer o seu primeiro pecado, já é pecador (Sl 58.3; Pv 22.15); no entanto, as crianças apesar de nascerem com natureza pecaminosa ainda não conhecem experimentalmente o pecado. Elas não são responsabilizadas por seus atos antes de terem condições morais e intelectuais para discernir entre o bem e o mal, o certo e o errado (Is 7.15; Jn 4.11; Rm 9.11). O sacrifício de Jesus proveu salvação a todas as pessoas, até mesmo às crianças que falecerem na fase da inocência (SOARES, 2017, p. 92 – grifo nosso).
1.2 O estado pecaminoso do homem. O homem foi criado reto (Ec. 7.29), porém o pecado maculou essa natureza criada por Deus de maneira que a “corrupção do gênero humano atingiu o homem em toda a sua composição: corpo (Rm 8.10), alma (Rm 2.9) e espírito (2Co 7.1). Isso prejudicou todas as suas faculdades, quais sejam: intelecto (Is 1.3), emoção (Jr 17.9), vontade (Ef 4.18), consciência (1Co 8.7), razão (Tt 1.15) e liberdade (Tt 3.3)” (SOARES, 2017, p. 101). Por isso, a Bíblia descreve o estado do ser humano como: (a) mortos em ofensas e pecados (Ef.2.1); (b) andando segundo o curso perverso de mundo (Ef. 2.2); (c) entenebrecidos no entendimento (Ef. 4.18); (d) cegos (2 Co 4.4); (e) preso pelos laços do Diabo (2Tm 2.26); e, (f) impossibilitado de salva-se pelos seus próprios esforços (Jo 8.34; Rm 6.16), pois tornou-se escravo do pecado. Esse triste estado espiritual é retratado pelo profeta Isaías como um corpo todo ferido (Is.1.6) e reafirmado pelo apóstolo Paulo quando escreveu aos Romanos (Rm 3.11 -18). Essa é a razão da palavra do Senhor dizer que não há nenhum justo sobre a Terra (Sl 14.2,3), e que todas as nossas justiças humanas são consideradas como trapos de imundícias (Is 64.6). Somente o Senhor Jesus pode retirar o homem desse estado caído e degradante (Mt 18.11; Mt 20.28; Lc 19.10; 26.26-28; Jo 3.16,17; 15.13).
1.3 A natureza pecaminosa não exclui o livre arbítrio. Mesmo afastado de Deus (Rm 3.23), com uma natureza humana maculada pelo pecado, e escravo do pecado (Rm 6.20; Gl 5.19 -21) o homem não é impedido de ouvir a voz de Deus. Quando Adão pecou Deus teve a iniciativa de procurá-lo (Gn 3.9), de interrogá-lo e oferecer vestes novas (Gn 3.21). O Senhor disse a Caim: “...o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”. (Gn 4:7; 8-14). Isso demonstra que mesmo o homem tendo sua volição (vontade) afetada pelo pecado, não foi anulada (Dt 30.19; Js 24.15; Rm 1.18-20; 2.14,15). O texto bíblico deixa muito claro que o homem ainda tem livre-arbítrio para rejeitar esta graça, quando diz: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1.11). Podemos encontrar várias referências que demonstra-nos a existência do livre-arbítrio após a queda de Adão (Dt 30.15,19; Mt 3.2; 4.17; 16.24; 23.37; Mc 8.35; Lc 7.30; Jo 5.40; 6.37; 7.17; 15.7; At 3.19; 17.30; Rm 10.13; 1Tm 1.19; 1Co 10.12; 2Co 8.3,4; 1Jo 3.23; Ap 3.20). Cabe ao homem, portanto, cooperar com Deus, cooperar com esta graça, uma vez que o primeiro passo já foi dado: “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós” (Tg 4.8). Por pior que seja o estado do pecador ele pode responder, por seu livre-arbítrio, positiva ou negativamente ao chamado de Deus.
II – O PODER REGENERADOR DA GRAÇA DE DEUS
Deus é a fonte da graça, um favor imerecido concedido ao homem, por isso que somente o Senhor tem poder de regenerar o ser humano caído dando-lhe uma nova vida em Cristo Jesus (2Co 5.17). Notemos então:
2.1 Deus a fonte da graça. A graça procede soberanamente de Deus, isto porque o favor lhe pertence e vem dEle, como sua fonte originária (1Co 15.10; Tt 2.11; 1Pd 5.10). A graça de Deus brilhou sobre os que estavam nas trevas e na sombra da morte (Mt 4.2; Lc 1.79; At 27.20; Tt 3.4). “A graça divina é, então, Deus mesmo renunciando ao exercício do justo castigo por sua livre e soberana decisão” (ALMEIDA, 1996, p. 28).
2.2 A salvação é pela graça. O Homem pelos próprios méritos não pode obter jamais o perdão de seus pecados e por conseguinte a salvação. Somente Deus tem esse poder de perdoar (Is 1.18; 43.25; 55.7; Mq 7.18-19; Mc 2.10). Por isso, que no ato da salvação a iniciativa primeira é sempre a Deus: “Por que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho...” (Jo 3.16). Disto resulta a Graça, um favor imerecido ao pecador (Rm 3.24; 11.6; Ef 2.5.7-8). O apóstolo Paulo argumenta aos romanos que a salvação é concedida sem o homem merecer (Rm 4.4,5). Na epístola aos efésios o Apóstolo declara: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef.2.8). Não há nada que o homem faça para o tornar digno de ser salvo, pois a graça aniquila qualquer obra que visa receber a salvação por mérito (Ef 2.9). Porém, mesmo assim, o homem não estar isento de responsabilidade perante Deus, pois a graça pode ser resistida pelo pecador (Mt 23.37; At 7.51; 13.46; 17,4; 18.5,6; Hb 3.7,8; 4.7).
2.3 A regeneração é um ato da graça. A regeneração é um dos aspectos da salvação (Tt 3.5) e consiste em ser “um ato divino que concede ao pecador que se arrepende e que crê uma vida nova e mais elevada, mediante a união pessoal com Cristo” (PEARLMAN, 2009, p. 242). E por ser um ato divino, se constitui em um ato resultante da graça de Deus. A regeneração é o milagre que se dá na vida de quem aceita a Cristo, tornando-o participante da vida e natureza divina (1Pd 1.3,23; 2Pd 1.4; 1Jo 3.9; 5.18). Através da regeneração, conhecida também como conversão e novo nascimento, o homem passa a desfrutar de uma nova realidade espiritual” (ANDRADE, 2006, p. 317). Dessa forma, somente Deus pode gerar uma nova vida espiritual no homem; porém, a fé (Mc 16.16; Jo 3.16; Jo 5.14; At 16.31; Rm 1.16; 10.9) e o arrependimento (Mt 3.2; Mc 1.15; Lc 24.47; At 2.38; 3.19; 17.30) são elementos essenciais e que precedem, vem antes, do novo nascimento, e não o contrário.
III – AS BENÇÃOS DA NOVA VIDA EM CRISTO
Quando um homem é transformado pelo poder do Evangelho (Rm 1.16) aquela vida velha fica para traz e tudo se faz novo (2Co 5.17). É uma nova realidade diante de Deus e dos homens. E as bençãos espirituais que acompanham essa nova vida são:
3.1 Paz com Deus. Em pecado o homem encontra-se na condição de inimigo de Deus: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus [...]” (Rm 8.7); mas através da fé na morte de Cristo, temos paz com Deus, como resultado da justificação: “[...] justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1; ver Ef 2.14-17).
3.2 Acesso ao Pai. O homem caído em pecado encontra-se distante de Deus (Ef 2.13-a), devido a parede de separação que é resultado da transgressão humana: “Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça” (Is 59.2). Mas Cristo, ao se oferecer como sacrífico expiatório, nos garante acesso a presença de Deus (Jo 14.6; Ef 2.18; Hb 10.19-22).
3.3 Filiação divina. Após a queda, todos por natureza são filhos da ira (Ef 2.3), sob a influência do mundo e escravos dos desejos da carne (Ef 2.2), tendo como pai o diabo (Jo 8.40,41,44). No entanto, no momento em que cremos no Evangelho e confessamos a Cristo como Senhor das nossas vidas, fomos selados com o Espírito Santo (Ef 1.13,14), e esse nos introduziu à família de Deus (Ef 2.19), testificando com nosso espírito que somos filhos de Deus e co herdeiro com Cristo (Rm 8.14-17).
3.4 Glorificação. É o ato ou efeito de glorificar. No plano da salvação, a glorificação é a etapa final a ser atingida por aquele que recebe a Cristo como salvador e Senhor de sua alma (Rm 8.17). No plano da salvação, a glorificação é a etapa final a ser atingida por aquele que recebe a Cristo como Salvador e Senhor de sua alma. O texto de ouro de nossa glorificação encontra-se em I Jo 3.2, que diz: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos”.
CONCLUSÃO
Nesta lição, aprendemos que o homem tem uma natureza pecaminosa que foi recebida por herança do pecado dos nossos primeiros pais. Porém, mesmo afastado de Deus o ser humano pode ouvir a voz do Criador, e atender positivamente. Se assim o fizer, o Senhor gera no pecador arrependido uma nova vida em Cristo Jesus.

Ev. Caramuru Afonso Francisco. Disponível em: https://www.portalebd.org.br
COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

   INTRODUÇÃO
A presente seção da Epístola aos Efésios apresenta relevantes aspectos doutrinários da salvação (2.1-10). Nela, o apóstolo descreve a libertação dos pecados como um favor imerecido dado por Deus aos salvos, a fim de que eles desfrutassem de uma nova vida em Cristo. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
O primeiro capítulo de Efésios acentua o amplo alcance do plano de Deus, o qual inclui o Universo todo e se estende de eternidade a eternidade. O capítulo dois mostra a historificação desse plano na vida de seu povo, por meio da ressurreição espiritual dos crentes. Tendo descrito nossa possessão espiritual em Cristo, Paulo volta-se, agora, para nossa posição em Cristo. Fomos tirados da sepultura e conduzidos ao trono. São quatro grandes obras realizadas na vida do homem que saiu da sepultura para o trono: a obra do pecado contra nós, a obra de Deus por nós, a obra de Deus em nós e a obra de Deus por nosso intermédio. O texto de Efésios em apreço é esclarecedor de quem nós éramos e de quem nós somos depois de Cristo e sua obra redentora em nós!
   I. A ANTIGA NATUREZA MORTA EM OFENSAS E PECADOS
No início da Epístola, o apóstolo Paulo lembra que antes da regeneração estávamos mortos em ofensas, pecados e éramos por natureza “filhos da ira” (2.1-3).
Aqui, Paulo afirma que a Igreja é o povo de Deus chamado da sepultura para o trono!
1. Nossa condição anterior. “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados” diz o primeiro versículo. A palavra “ofensa”, do grego paraptoma, tem o sentido de “passo em falso de forma deliberada”. O termo para pecado é hamartia, o qual descreve como “aquele que erra o alvo”. Em vista disso, o homem em sua natureza decaída é diagnosticado como “morto” (2.1), ou seja, uma declaração da real condição das pessoas sem Deus. O conceito é de morte moral e espiritual provocada pelo pecado, que inevitavelmente separa o homem de Deus (Is 59.2; Tg 1.15). Tal qual um corpo inerte, a natureza pecaminosa impede o homem de ouvir e obedecer à voz de Deus. Quem assim vive está morto enquanto “vive” (1Tm 5.6). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
A palavra grega paraptoma, “transgressão”, quer dizer queda, dar um passo em falso que envolve ultrapassar uma fronteira conhecida ou desviar do caminho certo.
Hamartia, “pecado”, quer dizer errar o alvo, ou seja, ficar aquém de um padrão.
William Barclay afirma que, no Novo Testamento, hamartia não descreve um ato definido de pecado, mas um estado de pecado, do qual dimanam as ações pecaminosas. (Barclay, William. Palabras Griegas Del Nuevo Testamento, p. 91). Diante de Deus somos tanto rebeldes como fracassados. Como resultado disso, estamos mortos.
A afirmativa Tal qual um corpo inerte, a natureza pecaminosa impede o homem de ouvir e obedecer à voz de Deus. Quem assim vive está morto enquanto “vive” (1Tm 5.6) se aproxima da definição calvinista da Depravação Total, a primeira doutrina dos cinco pontos calvinistas e uma das principais doutrinas da graça. Ela afirma que o homem caído é totalmente depravado, ou seja, que o pecado afetou o homem em sua totalidade. Isso significa que cada parte do homem está contaminado pelo pecado (mente, emoção e vontade). Depravação Total não significa que o homem é tão mal quanto poderia ser, mas que o homem não regenerado é incapaz de buscar a Deus ou de praticar qualquer bem espiritual, isto é o que afirma Paulo em Efésios 2.1 com o termo ‘mortos nos vossos delitos e pecados, um lembrete a respeito da total pecaminosidade e perdição das quais os crentes tanto de Éfeso quanto os demais, foram redimidos. "Nos" indica o domínio ou a esfera onde vivem os pecadores não regenerados. Eles não estão mortos por causa dos atos pecaminosos que foram cometidos, mas por causa da natureza pecaminosa deles (Mt 12.35; 15.18-19). A condição do homem é desesperadora sem Deus.
O diagnóstico que Paulo faz se refere ao homem caído em uma sociedade caída em todos os tempos e em todos os lugares. Esse é um retrato da condição humana universal.
Essa morte espiritual não quer dizer que o homem que está morto em seus pecados não possa fazer coisas boas; o homem sem Deus pode levar uma vida moralmente aprovada, civilmente decente e familiarmente responsável, pode ser um bom cidadão, um bom pai, uma boa mãe, um bom filho. Os pecadores podem fazer o bem àqueles que lhes fazem bem (Lc 6.33). Às vezes, os bárbaros revelam “muita bondade” (At 28.2). Paulo está falando de uma morte espiritual. Antes de Cristo, o homem está vivo para as atrações do pecado, mas morto para Deus. O homem é incapaz de entender e apreciar as coisas espirituais. Ele não possui vida espiritual nem pode fazer nada que possa agradar a Deus. Da mesma maneira que a pessoa morta fisicamente não responde a estímulos físicos, também a pessoa morta espiritualmente é incapaz de responder a estímulos espirituais.
2. Nossas ofensas e pecados. A má conduta “em que, noutro tempo, andastes” é descrita por Paulo por meio da metáfora do ato de “andar” (2.2a). Refere-se às atitudes erradas adotadas na vida passada do salvo antes da regeneração:
2.1. “Andastes, segundo o curso deste mundo” (2.2b). Os costumes eram praticados conforme o sistema mundano da época, tais como: a imoralidade, o furto e a mentira (4.22-32). Uma constatação de que o salvo não deve tomar a forma do mundo, relativizar o pecado e muito menos ajustar-se à maneira de viver de seu tempo (Rm 12.2).
2.2. “Andastes, […] segundo o príncipe da potestade do ar” (2.2c). Uma alusão a Satanás que exerce autoridade sobre os poderes do mal (Jo 12.31). Indica que os agentes malignos têm a capacidade de influenciar os homens desobedientes e incrédulos (2Co 4.4). Mais adiante na Carta, Paulo alerta que a nossa luta é contra tais seres do mal (6.12). Contudo, não é necessário temer, pois Deus exaltou Cristo acima de todos eles (1.21).
2.3. “Andávamos fazendo a vontade da carne e dos pensamentos” (2.3). Refere-se à inclinação para fazer o mal, algo inerente à natureza humana (Gn 6.5). Estão incluídos aqui os pensamentos pervertidos e a prática de todos os desejos desordenados da carne. Como resultado, éramos “filhos da ira”, isto é, condenados e desprovidos do favor divino. Paulo sublinha que essa era a nossa condição (4.18). Entretanto, aprouve ao Pai nos eleger e nos predestinar para “filhos de adoção” (1.5). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
Nos quais andastes no passado, no caminho deste mundo, segundo o príncipe do poderio do ar, do espírito que agora age nos filhos da desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamosHá três forças que cada pessoa para se conformar aos seus valores (Rm 12.2). O apóstolo João é enfático ao dizer que quem ama o mundo não pode amar a Deus (IJo 2.15-17). Tiago declara com a mesma ênfase que quem é amigo do mundo é inimigo de Deus (Tg 4.4). Sempre que os homens são de- sumanizados – pela opressão política, econômica, moral e social, vemos a ação do mundo. Trata-se de uma escravidão cultural. As pessoas são escravas desse sistema do mesmo modo que os súditos eram arrastados pelos generais romanos por grossas correntes amarradas no pescoço depois de uma conquista. John Stott esclarece esse ponto com as seguintes palavras:
Sempre que os seres humanos são desumanizados – pela opressão política ou pela tirania burocrática, por um ponto de vista secular (repudiando a Deus), ou amoral (repudiando absolutos), ou materiaJista (glorificando o mercado consumidor), pela pobreza, pela fome ou pelo desemprego, pela discriminação racial ou por qualquer forma de injustiça – aí podemos detectar os valores subumanos do “presente século” e “deste mundo”.
Vejamos acerca do diabo. Trata-se do espírito que atua nos filhos da desobediência. O diabo é o patrono dos desobedientes. Ele rebelou-se contra Deus e deseja que os homens também desobedeçam a Deus. Ele tentou Eva no Éden com a mentira e levou nossos pais à desobediência. O diabo é um inimigo invisível, porém real. Ele não dorme nem tira férias. Ele é violento como um dragão e venenoso como uma serpente. Ele ruge como leão e se apresenta travestido até de anjo de luz. Não podemos subestimar seus desígnios; antes, devemos nos acautelar, sabendo que esse arqui-inimigo veio para roubar, matar e destruir.
Vejamos a respeito da carne. A carne não é o nosso corpo, mas a nossa natureza caída com a qual nascemos (SI 51.5; 58.3) e que deseja controlar a nossa mente e o nosso corpo, levando-nos a desobedecer a Deus. Há um impulso em nosso interior para fazer o mal. O mal não está apenas nas estruturas exteriores a nós, mas, sobretudo, procede do interior do nosso próprio coração. A inclinação da nossa natureza é a inimizade contra Deus. Praticamos o mal porque a inclinação do nosso coração é toda para o mal. O homem não pode mudar sua natureza. O profeta Jeremias pergunta: “Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas pintas? Poderíeis vós fazer o bem, estando treinados para fazer o mal?” (Jr 13.23).
Em terceiro lugar, o homem é depravado (2:3b). “Seguindo os desejos carnais, fazendo a vontade da carne e da mente.” O homem não convertido vive para agradar a vontade da carne e os desejos do pensamento. Suas ações são pecaminosas porque seus desejos são pecaminosos. O homem é escravo do pecado. Ele anda com o pescoço na coleira do diabo e no cabresto do pecado. O homem está em estado de depravação total. Todas as áreas da sua vida foram afetadas pelo pecado: razão, emoção e volição. Isso não quer dizer que o incrédulo não possa fazer o bem natural, social e moral. Ele sensibiliza-se com as causas sociais. Ele compadece-se. Ele ajuda as pessoas. Mas ele não pratica obras com o reconhecimento de que são para a glória de Deus nem com gratidão pela salvação.
John Stott conclui esse ponto dizendo que, antes de Jesus Cristo nos libertar, estávamos sujeitos a influências opressoras tanto internas como externas. No exterior, estava o mundo (a cultura secular prevalecente); no interior, estava a carne (nossa natureza caída); e, além desses dois, operando ativamente por meio dessas influências, havia aquele espírito maligno, o diabo, o príncipe do reino das trevas, que nos mantinha em cativeiro.
Em quarto lugar, o homem está condenado (2.3c). “E éramos por natureza filhos da ira, assim como os demais.” O homem não convertido, por natureza, é filho da ira e, pelas obras, é filho da desobediência. A pessoa incrédula, não salva, já está condenada (Jo 3.18). À parte de Cristo, o homem está morto por causa do pecado, escravizado pelo mundo, pela carne e pelo diabo, além de condenado sob a ira de Deus.112 A ira de Deus é sua reação pessoal frente a qualquer pecado, qualquer rebelião contra ele.113 É sua santa repulsa a tudo aquilo que conspira contra sua santidade. A ira de Deus não é apenas para esta vida, mas também para a era vindoura. Aqueles que vivem debaixo da ira de Deus são entregues a si mesmos pela escolha deliberada que fizeram de rejeitar o conhecimento de Deus e de se entregar a toda sorte de idolatria e devassidão; além disso, terão de suportar por toda a eternidade a manifestação plena do furor do Deus Todo-Poderoso”. (LOPES. Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009. p. 52)
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Ao expor este tópico, faça uma reflexão a respeito da necessidade do novo nascimento como substituição à velha natureza. Para isso, tome por base o seguinte fragmento textual: “O pecado não consiste apenas de ações isoladas, mas também é uma realidade, ou natureza, dentro da pessoa (ver Ef 2.3). O pecado, como natureza, indica a ‘sede’ ou a sua ‘localização’ no interior da pessoa, como a origem imediata dos pecados. Inversamente, é visto na necessidade do novo nascimento, de uma nova natureza a substituir a velha, pecaminosa (Jo 3.3-7; At 3.19; 1 Pe 1.23). Esse fato é revelado na ideia de que regeneração só pode acontecer de fora para dentro da pessoa (Jr 24.7; Ez 11.19; 36.26,27; 37.1-14; 1 Pe 1.3)” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p.286).
  II. VIVIFICADOS PELA GRAÇA
Por ato de bondade e misericórdia, estando nós ainda mortos em pecados, Deus imensamente nos amou e, por isso, nos vivificou por meio de sua graça.
1. Alcançados pela misericórdia e pelo amor divino. Após constatar a situação da humanidade “sob a ira de Deus” (2.3), Paulo passa a descrever os atos divinos de amor e de misericórdia que alteraram o quadro caótico da raça humana. Começando com uma conjunção adversativa, o apóstolo declara exultante: “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou” (2.4). O ato de misericórdia implica compaixão e simpatia para com os indignos (Rm 11.30-32). A Carta aos Efésios ensina que, ao prover à humanidade o meio de escape da merecida ira (cf. 1.7), Deus não se mostra apenas misericordioso, mas “abundante em misericórdia”. E essa riquíssima misericórdia procede do “seu muito amor com que nos amou”. A Bíblia enfatiza que foi a magnitude desse amor que motivou a nossa salvação (Jo 3.16; 1Jo 4.9). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
Na afirmativa “Paulo passa a descrever os atos divinos de amor e de misericórdia que alteraram o quadro caótico da raça humana”, há necessidade de se esclarecer o ponto de que Deus altera o quadro caótico da raça humana. Isso porque o homem irregenerado permanece debaixo da ira de Deus! Se permanece, seu quadro não mudou! A mudança de estado ocorre somente na vida daquele que crê, os demais, permanecem sujeitos a danação eterna se não depositarem fé em Cristo Jesus - “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem. Do céu olha o Senhor para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.” Salmo 14.1-3.
Somos redimidos por quatro atividades que Deus realizou em nosso favor, salvando-nos das consequências dos nossos pecados. Deus oferece vida aos mortos, libertação aos cativos e perdão aos condenados. Paulo, agora, contrasta o que somos por natureza com o que somos pela graça, a condição humana com a compaixão divina, a ira de Deus com o amor de Deus. Curtis Vaughan afirma com acerto que, nesse parágrafo, Paulo, admiravelmente, mostra-nos o contraste entre a condição atual dos crentes e sua condição anterior. Antes, eles eram objeto da ira de Deus; agora, são beneficiários de sua misericórdia (2.4). Antes, eles estavam presos pelas garras da morte espiritual; agora, ressuscitaram para uma vida nova (2.5,6). Antes, eles eram escravos do pecado; agora, são salvos pela graça de Deus (2.5). Antes, eles caminhavam pela estrada dos desobedientes; agora, usufruem da companhia de Deus (2.5,6)” (LOPES. Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009. p. 53)
2. Vivificados por sua graça. Descrevendo as dádivas divinamente concedidas aos salvos, o apóstolo enfatiza que o amor de Deus nos alcançou “estando nós ainda mortos em nossas ofensas” (2.5a). Isso significa que não éramos merecedores desse amor, mas que, mesmo assim, Deus “nos vivificou juntamente com Cristo” (2.5b). Essa frase quer dizer que nascemos de novo (Jo 3.3). Não estamos mais mortos, pois Cristo nos deu vida outra vez. Fomos vivificados sem mérito algum, tudo foi efetivado por meio da sua graça, o favor imerecido (2.8,9). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
Mais do que qualquer outra coisa, uma pessoa morta espiritualmente precisa ser vivificada por Deus. A salvação traz vida espiritual ao morto, O poder que ressuscita os cristãos da morte e os vivifica (Rm 6.1-7) é o mesmo poder que energiza todos os aspectos da vida cristã (Rm 6.11-13). Deus tirou-nos da sepultura espiritual em que o pecado nos havia posto. Deus realizou uma poderosa ressurreição espiritual em nós por meio do poder do Espírito Santo. Quando cremos em Cristo, passamos da morte para a vida (Jo 5.24). Recebemos vida nova: a vida de Deus em nós.
3. Exaltados por sua graça. O apóstolo dos gentios ainda destaca que o poder de Deus “nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo” (2.6). Observe que a palavra “juntamente” indica que Deus concede ao homem os mesmos benefícios alcançados por Cristo: a ressurreição, a vida eterna e o galardão nos céus (1Co 15.3-8,20-25). Assim, ao conceder tais bênçãos aos homens, Deus mostrou as “abundantes riquezas da sua graça” (2.7). Desse modo, ratificamos que a salvação e seus privilégios são conferidos pela imensurável graça de Deus, o favor divino imerecido. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
O tempo verbal de "ressuscitou" e "fez" indica serem esses os resultados imediatos e diretos da salvação. O cristão não só está morto para o pecado e vivo para a justiça por meio da ressurreição de Cristo, mas ele também desfruta da exaltação do Senhor e compartilha de sua glória preeminente. Não só saímos da sepultura e fomos ressuscitados, mas também fomos exaltados. Porque estamos unidos a Cristo, somos exaltados com ele. Agora, assentamo-nos com ele nas regiões celestiais, acima de todo principado e potestade. As três fases da exaltação de Cristo — ressurreição, ascensão e assentar-se no trono — agora são repetidas na vida dos salvos — em Cristo, Deus deu-nos vida (2.5), ressuscitou-nos (2.6a) e fez-nos assentar nas regiões celestiais (2.6b). Esses três eventos históricos — “deu-nos vida”, “ressuscitou-nos” e “fez-nos assentar” — são os degraus da exaltação!
O último propósito de Deus em nossa salvação é que por toda a eternidade a igreja possa glorificar sua graça (Ef 1.6,12,14). A meta principal de Deus na nossa salvação é sua própria glória. O Pr Americano John Stott em seu livro “A mensagem de Efésios”, diz que “não podemos empertigar-nos no céu como pavões. O céu está cheio das façanhas de Cristo e dos louvores de Deus. Realmente, haverá uma demonstração no céu. Não uma demonstração de nós mesmos, mas, sim, uma demonstração da incomparável riqueza da graça, da misericórdia e da bondade de Deus por meio de Jesus Cristo” (Stott, John. A mensagem de Efésios, p. 56).
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Somos salvos pela graça mediante a fé (Ef 2.8). Crer no Filho de Deus leva à vida eterna (Jo 3.16). Sem fé, não poderemos agradar a Deus (Hb 11.6). A fé, portanto, é a atitude da nossa dependência confiante e obediente em Deus e na sua fidelidade. Essa fé caracteriza todo filho de Deus fiel. É o nosso sangue espiritual (Gl 2.20).
Pode-se argumentar que a fé salvífica é um dom de Deus, até mesmo dizer que a presença de anseios religiosos, inclusive entre os pagãos, nada tem a ver com a presença ou exercício da fé. A maioria dos evangélicos, no entanto, afirma semelhantes anseios, universalmente presentes, constituem-se evidências favoráveis à existência de um Deus, a quem se dirigem. Seriam tais anseios inválidos em si mesmos, à parte da atividade divina direta?” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p.370).
  III. A SALVAÇÃO NÃO VEM DAS OBRAS
Em Efésios 2.8-10, Paulo revela que a salvação não depende de obras humanas, “porque pela graça sois salvos, por meio da fé” (2.8a). Porém, uma vez salvo, o crente deve praticar as boas obras.
As boas obras não podem gerar a salvação, mas são subsequentes e resultam dos frutos concedidos por Deus e evidências deles (Jo 15.8; Fp 2.12-13; 2Tm 3.17; Tt 2.14; Tg 2.16-26).
1. Graça como meio de salvação. A “salvação” inclui a libertação da morte, da escravidão do pecado e da ira vindoura; ao mesmo tempo permite ao salvo desfrutar de todas as bênçãos espirituais descritas em Efésios 2.1-7. Portanto, a salvação é o livramento do poder da maldição do pecado e da morte; e a restituição do homem à comunhão com Deus, uma bênção concedida a todos que recebem Cristo como Salvador (Hb 2.15; 2Co 5.19). A palavra “graça” é a tradução do grego charis, que significa “favor imerecido” (Rm 3.24). Ela mostra que a iniciativa para tornar possível a salvação veio da parte Deus. É por meio da graça que Deus ativa o livre-arbítrio e capacita o pecador para que responda com fé ao chamado do Evangelho (Rm 11.6). Todavia, ainda assim o ser humano é livre para escolher entre dois caminhos (salvação e perdição); sua liberdade não foi eliminada e a graça pode ser resistida (Jo 7.17). A “fé” deve ser considerada como a aceitação da obra realizada por Cristo em nosso favor. Ela é a resposta à graça de Deus através da qual recebemos a salvação. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
O Artigo IV da Remonstrância repudia o conceito calvinista de graça irresistível, alegando que a humanidade tem livre-arbítrio para resistir à graça de Deus.
A salvação é um presente, não uma recompensa. Ela é pela graça, mas também “por meio da fé”. É a graça que nos salva pela instrumentalidade da fé. É muito importante ressaltar que Paulo não está falando de qualquer tipo de fé. A questão não é a fé, mas o objeto da fé. Não é fé na fé. Não é fé nos ídolos. Não é fé nos ancestrais. Não é fé na confissão positiva. Não é fé nos méritos. E fé em Cristo, o Salvador!
2. Obras como evidência de salvação. Aqui Paulo usa duas negações para endossar a origem da salvação: a primeira expressão “isso não vem de vós” (2.8b) trata da salvação pela graça que provém de Deus; a segunda ratifica que a salvação “não vem das obras”, o que indica não se tratar de recompensa de algum ato humano. Essas afirmações excluem a possibilidade de alguém ser salvo por esforço pessoal. Como a salvação é uma realização divina, agora “somos feitura sua, criados em Cristo para as boas obras” (2.10). Uma transformação ocorreu: Agora em Cristo somos uma nova criatura e as coisas velhas passaram (2Co 5.17). Por isso, se antes o apóstolo usou a metáfora do andar numa perspectiva negativa — “outrora andávamos fazendo obras más” (2.2-3) — agora, por meio de uma perspectiva positiva, somos instados a “andar fazendo boas obras”, não como meio para ser salvo, mas como a evidência da salvação (2.10c). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
A salvação não pode ser pelas obras, porque a obra da salvação já foi plenamente realizada por Cristo na cruz (Jo 19.30). Não podemos acrescentar mais nada à obra completa de Cristo. Agora não existe mais necessidade de sacrifícios e rituais. Fomos reconciliados com Deus. O véu do templo foi rasgado. Pela graça, somos salvos. Tanto a fé como a salvação são dádivas de Deus.
Segundo os ensinos de Paulo, ini­cialmente quem justifica o homem é Deus, através de seus meios, a sa­ber: a graça, o sangue e a ressurrei­ção de Cristo. Portanto, o pecador é justificado pela fé na obra redentora de Cristo (Rm 3.23,24). Na aborda­gem de Tiago, as obras, consequências da fé, servem para evidenciar o processo de justificação do homem. Ou seja, destacar o aspecto visível. A fé coopera com as obras e estas aperfeiçoam a fé (v.24):
Há quem veja, nas Escrituras, um provável conflito entre os escritos de Paulo e os de Tiago, com relação à justificação - se somente pela fé ou também pelas obras. Como veremos no estudo desta lição, a Bíblia não tem discrepâncias. As possíveis divergên­cias são aparentes, e se desfazem sob o estudo cuidadoso dos textos.” (Extraído de: http://www.ebdareiabranca.com/EpistolaTiago/tlicao06Ajuda02.htm).
3. Cristo exaltado sobremaneira. Nesse ponto, Paulo ensina que o poder de Deus exaltou Cristo “acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia” (1.21). Significa que Ele foi exaltado acima de toda eminência do bem e do mal e de todo título que se possa conferir nessa era e também no porvir. O resultado desse triunfo traz duplo benefício para a Igreja: primeiro, que Deus fez Cristo o cabeça da Igreja (1.22); e, segundo, que Deus designou a Igreja para ser a expressão plena de Cristo (1.23). Isso significa que nenhum poder pode prevalecer contra a Igreja do Senhor (Mt 16.18). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
No texto que se inicia em 1.15 e se estende até o verso 23, Paulo ora pelos crentes, chegando no verso 21 ele expressa seu desejo de que os crentes entendessem a grandeza de Deus comparada a outros seres celestiais. "Principado, potestade, poder e domínio" eram os termos tradicionais judaicos para designar seres angelicais que tinham uma alta posição no exército de Deus. Deus está acima deles todos (Ap 20.10-15). No verso 22, Paulo faz uma citação do SI 8.6, indicando que Deus exaltou a Cristo sobre todas as coisas (Hb 2.8), incluindo a sua igreja (Cl 1.18). Cristo é, claramente, o cabeça dominante (não a "fonte") porque todas as coisas foram colocadas sob seus pés.
O poder que atua nos crentes é o poder da ressurreição. E o poder que ressuscitou a Cristo dentre os mortos, assentou-o à direita de Deus e lhe deu a soberania sobre o Universo inteiro. Esse poder é como um caudal impetuoso que arrasta com sua força os obstáculos que encontra pelo caminho. A “direita” de Deus é uma figura de linguagem indicando o lugar de supremo privilégio e autoridade. A mais alta honra e autoridade no Universo foi tributada a Cristo (Mt 28.18). Ele foi entronizado acima de todo principado e autoridade. (1.21). Cristo domina sobre todos os seres inteligentes, bons e maus, angelicais e demoníacos. Em segundo lugar, o domínio universal de Cristo (1.22). A exaltação de Cristo abrange o soberano domínio sobre toda a criação. A cabeça que um dia foi coroada com espinhos leva agora o diadema da soberania universal.90 Todas as coisas estão sujeitas a Cristo. Todo o joelho se dobra diante dele no céu, na terra e debaixo da terra (Fp 2.9-11). Tanto a igreja como o Universo têm em Cristo o mesmo Cabeça. Todas as coisas estão debaixo dos seus pés. Isso significa que tudo está sujeito e subordinado a ele. As palavras implicam absoluta sujeição. A mais alta honra e autoridade no Universo foi tributada a Cristo (Mt 28.18).91” (LOPES. Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009. P. 43 e 44)
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Nenhuma medida de esforço próprio ou de devoção religiosa pode realizar o que está descrito acima. Pelo contrário, ‘pela graça sois salvos por meio da fé – e isso não vem de vós; é dom de Deus’ (2.8). A ação da graça de Deus está centrada em seu Filho – sua morte, ressurreição e entronização no céu como Senhor. Em relação à demonstração de sua graça, primeiramente vem o chamado ao arrependimento e à fé (At 2.38). Através dessa convocação, o Espírito Santo torna a pessoa capaz de responder à graça de Deus através da fé. Aqueles que por meio da fé respondem ao Senhor Jesus Cristo ‘são vivificados juntamente com Cristo’ (2.5). São regenerados ou nascidos de novo por obra do Espírito Santo (Jo 3.3-8). São ressuscitados e assentados com Cristo no reino celestial e continuam a receber a graça por sua união com Ele, que é a fonte do poder. Isso os torna capazes de resistir ao pecado e de viver de acordo com o Espírito Santo (Rm 8.13,14). Os crentes, então, passam a servir a Deus e praticar ‘boas obras’ (Ef 2.10; cf. 2 Co 9.8) por causa da graça que opera em cada um (1 Co 15.10)” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol.2. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.413).
  CONCLUSÃO
Antes da regeneração éramos “filhos da ira” e condenados à perdição eterna. Por ato do amor divino, por meio de sua maravilhosa graça, nos tornamos “filhos por adoção”. Essa gloriosa salvação nos foi concedida independente de nossas obras. A partir da salvação passamos a praticar boas obras que glorificam a Deus nosso Pai (Mt 5.16). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
A Graça de Deus que nos foi ofertada envolve amor, bondade, sabedoria, misericórdia, perdão e justiça. Alcançamos Graça quando cremos, por meio da pregação do Evangelho, que Jesus é o Senhor. Ou seja, a salvação chegou pela fé e não pelos esforços humanos. Não foi por boas obras que por ventura tenhamos praticado. No entanto, Paulo afirma que, a evidência de que realmente fomos alcançados pela graça salvadora, é a produção de boas obras, colocar em prática o exercício das verdades bíblicas.
No sentido comum, obras são realizações, execuções, ações, procedimentos, atuações, hu­manas. No sentido bíblico, temos acepções como "as obras de Deus", que indicam aquilo que foi e continua sendo feito por Deus (Jo 1.3; 5.17;C11.16; Hb 1.2); "obras da carne", (Gl 5.19-21); e "obras da lei" (Rm 3.20), as quais, no sentido da lição em estudo, tratam-se de obras humanas como meio de salvação, como práticas religiosas, orações, penitência, sacrifícios, flagelações, privações, enclausuramento, filantropia, doações, etc. Tiago afirma categoricamente que "a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma" (Tg 2.17). Paulo, toma o exemplo de Abraão, destacando o aspecto visível da fé do patriarca, quando ofereceu seu filho para ser imolado (v.21), acentuando que a fé cooperou com as obras e estas aperfeiçoaram a fé, concluindo que "o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé" (Tg 2.24).

Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br

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