COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
LIBERTOS DO PECADO PARA UMA NOVA
VIDA EM CRISTO
O capítulo 2 de Efésios mostra o
processo de libertação do pecador para uma nova vida em Cristo. Assim, a
presente lição procura revelar a graça salvadora de Jesus Cristo que nos garante
a vida eterna. A libertação do pecado só foi possível por causa dessa
graça.
Para mostrar esse processo de
libertação do pecado, reflita com a classe sobre a natureza pecaminosa do
homem, morta em delitos e pecados; em seguida, explique que a graça de Deus
vivificou-nos, transformando a nossa natureza para agora sermos inclinados às
coisas celestiais; e, finalmente, afirme que a nossa salvação não vem de obras,
mas de Deus pela sua graça salvadora.
Resumo da lição
A graça salvadora de Cristo nos
garante a vida eterna. Esse ponto é central em nossa lição. Por esse motivo, o
primeiro tópico faz uma reflexão acerca da antiga natureza humana morta em
delitos e pecados. Ele mostra que a nossa condição diante de Deus era caótica,
éramos escravos e estávamos condenados à perdição e morte eterna. Isso
significa que o pecado não consiste apenas em atos isolados, mas numa realidade
que se revela na natureza má dentro da pessoa.
Entretanto, Deus não ficou
passivo diante de morte do ser humano em ofensas e pecados. O segundo tópico
explica que fomos vivificados pela graça divina. O pecador passou da morte para
a vida por meio da graça de Deus, que nos foi concedida por obra da misericórdia
e do grande amor de Deus. Tudo isso foi possível pela graça mediante a fé (Ef
2.8). Nesse caso, não há salvação se o homem não crer no Filho de Deus (Jo
3.16), pois sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11.6).
Assim, se a salvação é pela
graça por meio da fé, o terceiro tópico afirmará que ela não vem pelas obras,
pois estas não são o meio, mas o resultado da salvação pela graça.
Aplicação
Deixe claro para a classe que
não há qualquer esforço próprio ou ritual que nos garanta a salvação. Somos salvos
pela graça mediante a fé somente (Ef 2.8). Essa graça se revelou em Cristo
Jesus, conforme a sua obra completa. Na ação da graça de Deus leva-se em conta
o chamado ao arrependimento e à fé. Quem torna possível a resposta a esse
chamado é a obra do Espírito Santo que convence o mundo do pecado, e da justiça
e do juízo (Jo 16.8). Assim, regenerados pelo Espírito Santo, estamos
habilitados a produzir boas obras (Ef 2.10).
Subsídio extraído da Revista Ensinador Cristão -
Ano 21 nº81 (Jan/Fev/Mar)
COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Nesta lição iremos estudar sobre a natureza pecaminosa que passou a
existir na humanidade após a queda de Adão, no Éden. Veremos também o poder
regenerador da Graça de Deus para o homem caído. Por fim, elencaremos as
bençãos da nova vida em Cristo para todo aquele que aceita Jesus como Salvador.
I – A NATUREZA PECAMINOSA DO HOMEM
A queda do primeiro homem no Éden legou uma natureza pecaminosa que
escravizou não somente Adão, mas toda humanidade. O ser humano passou a ser
escravo e precisa de libertação da parte de Deus. Mesmo nessa terrível
condição, a palavra do Senhor demonstra que se o homem responder positivamente
a Deus, alcança libertação e uma nova vida em Cristo. Notemos:
1.1 A natureza pecaminosa foi herdada. Quando Adão pecou toda humanidade pecou nele (Rm 5.12), pois ele
era o representante de toda raça humana (Rm 3.23; 5.12-19). Logo, a herança que
recebemos de nossos primeiros pais foi a natureza pecaminosa, de forma que
todos somos pecadores e culpados diante de Deus (Sl 51.5; Rm 6.6,12, 19; 7.5,18;
2Co 1.17; Gl 5.13; Ef 2.3; Cl 2.11,18). O que se entende por natureza no
contexto desse estudo? É aquilo que é inato em cada pessoa, isto é, nasce com
ela [...]. Portanto, não há criatura humana neste mundo que não tenha nascido
com uma “natureza corrompida”. Por isso, toda criatura constitui-se pecadora
diante de Deus, visto que o pecado em si é herança comum de todas as criaturas
sobre a terra (GILBERTO, 2008, p. 319). Até um bebê recém-nascido (Sl 51.5),
antes mesmo de cometer o seu primeiro pecado, já é pecador (Sl 58.3; Pv 22.15);
no entanto, as crianças apesar de nascerem com natureza pecaminosa ainda não
conhecem experimentalmente o pecado. Elas não são responsabilizadas por seus
atos antes de terem condições morais e intelectuais para discernir entre o bem
e o mal, o certo e o errado (Is 7.15; Jn 4.11; Rm 9.11). O sacrifício de Jesus
proveu salvação a todas as pessoas, até mesmo às crianças que falecerem na fase
da inocência (SOARES, 2017, p. 92 – grifo nosso).
1.2 O estado pecaminoso do homem. O homem foi criado reto (Ec. 7.29), porém o pecado maculou essa
natureza criada por Deus de maneira que a “corrupção do gênero humano atingiu o
homem em toda a sua composição: corpo (Rm 8.10), alma (Rm 2.9) e espírito (2Co
7.1). Isso prejudicou todas as suas faculdades, quais sejam: intelecto (Is
1.3), emoção (Jr 17.9), vontade (Ef 4.18), consciência (1Co 8.7), razão (Tt
1.15) e liberdade (Tt 3.3)” (SOARES, 2017, p. 101). Por isso, a Bíblia descreve
o estado do ser humano como: (a) mortos em ofensas e pecados (Ef.2.1); (b)
andando segundo o curso perverso de mundo (Ef. 2.2); (c) entenebrecidos no
entendimento (Ef. 4.18); (d) cegos (2 Co 4.4); (e) preso pelos laços do Diabo
(2Tm 2.26); e, (f) impossibilitado de salva-se pelos seus próprios esforços (Jo
8.34; Rm 6.16), pois tornou-se escravo do pecado. Esse triste estado espiritual
é retratado pelo profeta Isaías como um corpo todo ferido (Is.1.6) e reafirmado
pelo apóstolo Paulo quando escreveu aos Romanos (Rm 3.11 -18). Essa é a razão
da palavra do Senhor dizer que não há nenhum justo sobre a Terra (Sl 14.2,3), e
que todas as nossas justiças humanas são consideradas como trapos de imundícias
(Is 64.6). Somente o Senhor Jesus pode retirar o homem desse estado caído e
degradante (Mt 18.11; Mt 20.28; Lc 19.10; 26.26-28; Jo 3.16,17; 15.13).
1.3 A natureza pecaminosa não exclui o livre arbítrio. Mesmo afastado de Deus (Rm 3.23), com uma
natureza humana maculada pelo pecado, e escravo do pecado (Rm 6.20; Gl 5.19
-21) o homem não é impedido de ouvir a voz de Deus. Quando Adão pecou Deus teve
a iniciativa de procurá-lo (Gn 3.9), de interrogá-lo e oferecer vestes novas
(Gn 3.21). O Senhor disse a Caim: “...o pecado jaz à porta, e sobre ti será o
seu desejo, mas sobre ele deves dominar”. (Gn 4:7; 8-14). Isso demonstra que mesmo
o homem tendo sua volição (vontade) afetada pelo pecado, não foi anulada (Dt
30.19; Js 24.15; Rm 1.18-20; 2.14,15). O texto bíblico deixa muito claro que o
homem ainda tem livre-arbítrio para rejeitar esta graça, quando diz: “Veio para
o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1.11). Podemos encontrar várias
referências que demonstra-nos a existência do livre-arbítrio após a queda de
Adão (Dt 30.15,19; Mt 3.2; 4.17; 16.24; 23.37; Mc 8.35; Lc 7.30; Jo 5.40; 6.37;
7.17; 15.7; At 3.19; 17.30; Rm 10.13; 1Tm 1.19; 1Co 10.12; 2Co 8.3,4; 1Jo 3.23;
Ap 3.20). Cabe ao homem, portanto, cooperar com Deus, cooperar com esta graça,
uma vez que o primeiro passo já foi dado: “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a
vós” (Tg 4.8). Por pior que seja o estado do pecador ele pode responder, por
seu livre-arbítrio, positiva ou negativamente ao chamado de Deus.
II – O PODER REGENERADOR DA GRAÇA DE DEUS
Deus é a fonte da graça, um favor imerecido concedido ao homem, por isso
que somente o Senhor tem poder de regenerar o ser humano caído dando-lhe uma
nova vida em Cristo Jesus (2Co 5.17). Notemos então:
2.1 Deus a fonte da graça. A graça procede soberanamente de Deus, isto porque o favor lhe
pertence e vem dEle, como sua fonte originária (1Co 15.10; Tt 2.11; 1Pd 5.10).
A graça de Deus brilhou sobre os que estavam nas trevas e na sombra da morte
(Mt 4.2; Lc 1.79; At 27.20; Tt 3.4). “A graça divina é, então, Deus mesmo
renunciando ao exercício do justo castigo por sua livre e soberana decisão”
(ALMEIDA, 1996, p. 28).
2.2 A salvação é pela graça. O Homem pelos próprios méritos não pode obter jamais o perdão de
seus pecados e por conseguinte a salvação. Somente Deus tem esse poder de
perdoar (Is 1.18; 43.25; 55.7; Mq 7.18-19; Mc 2.10). Por isso, que no ato da
salvação a iniciativa primeira é sempre a Deus: “Por que Deus amou o mundo de
tal maneira que deu o seu filho...” (Jo 3.16). Disto resulta a Graça, um favor
imerecido ao pecador (Rm 3.24; 11.6; Ef 2.5.7-8). O apóstolo Paulo argumenta
aos romanos que a salvação é concedida sem o homem merecer (Rm 4.4,5). Na
epístola aos efésios o Apóstolo declara: “Porque pela graça sois salvos, por
meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef.2.8). Não há nada que o
homem faça para o tornar digno de ser salvo, pois a graça aniquila qualquer
obra que visa receber a salvação por mérito (Ef 2.9). Porém, mesmo assim, o
homem não estar isento de responsabilidade perante Deus, pois a graça pode ser
resistida pelo pecador (Mt 23.37; At 7.51; 13.46; 17,4; 18.5,6; Hb 3.7,8; 4.7).
2.3 A regeneração é um ato da graça. A regeneração é um dos aspectos da salvação (Tt 3.5) e consiste em
ser “um ato divino que concede ao pecador que se arrepende e que crê uma vida
nova e mais elevada, mediante a união pessoal com Cristo” (PEARLMAN, 2009, p.
242). E por ser um ato divino, se constitui em um ato resultante da graça de
Deus. A regeneração é o milagre que se dá na vida de quem aceita a Cristo,
tornando-o participante da vida e natureza divina (1Pd 1.3,23; 2Pd 1.4; 1Jo
3.9; 5.18). Através da regeneração, conhecida também como conversão e novo
nascimento, o homem passa a desfrutar de uma nova realidade espiritual”
(ANDRADE, 2006, p. 317). Dessa forma, somente Deus pode gerar uma nova vida
espiritual no homem; porém, a fé (Mc 16.16; Jo 3.16; Jo 5.14; At 16.31; Rm
1.16; 10.9) e o arrependimento (Mt 3.2; Mc 1.15; Lc 24.47; At 2.38; 3.19;
17.30) são elementos essenciais e que precedem, vem antes, do novo nascimento,
e não o contrário.
III – AS BENÇÃOS DA NOVA VIDA EM CRISTO
Quando um homem é transformado pelo poder do Evangelho (Rm 1.16) aquela
vida velha fica para traz e tudo se faz novo (2Co 5.17). É uma nova realidade
diante de Deus e dos homens. E as bençãos espirituais que acompanham essa nova
vida são:
3.1 Paz com Deus. Em
pecado o homem encontra-se na condição de inimigo de Deus: “Porquanto a
inclinação da carne é inimizade contra Deus [...]” (Rm 8.7); mas através da fé
na morte de Cristo, temos paz com Deus, como resultado da justificação: “[...]
justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm
5.1; ver Ef 2.14-17).
3.2 Acesso ao Pai. O
homem caído em pecado encontra-se distante de Deus (Ef 2.13-a), devido a parede
de separação que é resultado da transgressão humana: “Mas as vossas iniquidades
fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu
rosto de vós, para que não vos ouça” (Is 59.2). Mas Cristo, ao se oferecer como
sacrífico expiatório, nos garante acesso a presença de Deus (Jo 14.6; Ef 2.18;
Hb 10.19-22).
3.3 Filiação divina. Após
a queda, todos por natureza são filhos da ira (Ef 2.3), sob a influência do
mundo e escravos dos desejos da carne (Ef 2.2), tendo como pai o diabo (Jo
8.40,41,44). No entanto, no momento em que cremos no Evangelho e confessamos a
Cristo como Senhor das nossas vidas, fomos selados com o Espírito Santo (Ef
1.13,14), e esse nos introduziu à família de Deus (Ef 2.19), testificando com
nosso espírito que somos filhos de Deus e co herdeiro com Cristo (Rm 8.14-17).
3.4 Glorificação. É
o ato ou efeito de glorificar. No plano da salvação, a glorificação é a etapa
final a ser atingida por aquele que recebe a Cristo como salvador e Senhor de
sua alma (Rm 8.17). No plano da salvação, a glorificação é a etapa final a ser
atingida por aquele que recebe a Cristo como Salvador e Senhor de sua alma. O
texto de ouro de nossa glorificação encontra-se em I Jo 3.2, que diz: “Amados,
agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas
sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim
como é o veremos”.
CONCLUSÃO
Nesta lição, aprendemos que o homem tem uma natureza pecaminosa que foi
recebida por herança do pecado dos nossos primeiros pais. Porém, mesmo afastado
de Deus o ser humano pode ouvir a voz do Criador, e atender positivamente. Se
assim o fizer, o Senhor gera no pecador arrependido uma nova vida em Cristo
Jesus.
Ev. Caramuru
Afonso Francisco. Disponível em: https://www.portalebd.org.br
COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
A presente seção
da Epístola aos Efésios apresenta relevantes aspectos doutrinários da salvação
(2.1-10). Nela, o apóstolo descreve a libertação dos pecados como um favor
imerecido dado por Deus aos salvos, a fim de que eles desfrutassem de uma nova
vida em Cristo. [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
O primeiro capítulo de
Efésios acentua o amplo alcance do plano de Deus, o qual inclui o Universo todo
e se estende de eternidade a eternidade. O capítulo dois mostra a
historificação desse plano na vida de seu povo, por meio da ressurreição
espiritual dos crentes. Tendo descrito nossa possessão espiritual em Cristo,
Paulo volta-se, agora, para nossa posição em Cristo. Fomos tirados da sepultura
e conduzidos ao trono. São quatro grandes obras realizadas na vida do homem que
saiu da sepultura para o trono: a obra do pecado contra nós, a obra de Deus por
nós, a obra de Deus em nós e a obra de Deus por nosso intermédio. O texto de
Efésios em apreço é esclarecedor de quem nós éramos e de quem nós somos depois
de Cristo e sua obra redentora em nós!
I. A ANTIGA NATUREZA MORTA
EM OFENSAS E PECADOS
No início da
Epístola, o apóstolo Paulo lembra que antes da regeneração estávamos mortos em
ofensas, pecados e éramos por natureza “filhos da ira” (2.1-3).
Aqui, Paulo afirma que
a Igreja é o povo de Deus chamado da sepultura para o trono!
1. Nossa condição
anterior. “E vos vivificou, estando
vós mortos em ofensas e pecados” diz o primeiro versículo. A palavra “ofensa”,
do grego paraptoma, tem o sentido de “passo em falso de forma deliberada”. O
termo para pecado é hamartia, o qual descreve como “aquele que erra o alvo”. Em
vista disso, o homem em sua natureza decaída é diagnosticado como “morto”
(2.1), ou seja, uma declaração da real condição das pessoas sem Deus. O
conceito é de morte moral e espiritual provocada pelo pecado, que
inevitavelmente separa o homem de Deus (Is 59.2; Tg 1.15). Tal qual um
corpo inerte, a natureza pecaminosa impede o homem de ouvir e obedecer à voz de
Deus. Quem assim vive está morto enquanto “vive” (1Tm 5.6). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º
Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
A palavra grega
paraptoma, “transgressão”, quer dizer queda, dar um passo em falso que envolve
ultrapassar uma fronteira conhecida ou desviar do caminho certo.
Hamartia, “pecado”,
quer dizer errar o alvo, ou seja, ficar aquém de um padrão.
William Barclay afirma
que, no Novo Testamento, hamartia não descreve um ato definido de pecado, mas
um estado de pecado, do qual dimanam as ações pecaminosas. (Barclay, William.
Palabras Griegas Del Nuevo Testamento, p. 91). Diante de Deus somos tanto
rebeldes como fracassados. Como resultado disso, estamos mortos.
A afirmativa Tal
qual um corpo inerte, a natureza pecaminosa impede o homem de ouvir e obedecer
à voz de Deus. Quem assim vive está morto enquanto “vive” (1Tm 5.6) se
aproxima da definição calvinista da Depravação Total, a primeira doutrina dos
cinco pontos calvinistas e uma das principais doutrinas da graça. Ela afirma
que o homem caído é totalmente depravado, ou seja, que o pecado afetou o homem
em sua totalidade. Isso significa que cada parte do homem está contaminado pelo
pecado (mente, emoção e vontade). Depravação Total não significa que o homem é
tão mal quanto poderia ser, mas que o homem não regenerado é incapaz de
buscar a Deus ou de praticar qualquer bem espiritual, isto é o que afirma
Paulo em Efésios 2.1 com o termo ‘mortos nos vossos delitos e pecados’,
um lembrete a respeito da total pecaminosidade e perdição das quais os crentes
tanto de Éfeso quanto os demais, foram redimidos. "Nos" indica o
domínio ou a esfera onde vivem os pecadores não regenerados. Eles não estão
mortos por causa dos atos pecaminosos que foram cometidos, mas por causa da
natureza pecaminosa deles (Mt 12.35; 15.18-19). A condição do homem é
desesperadora sem Deus.
O diagnóstico que Paulo
faz se refere ao homem caído em uma sociedade caída em todos os tempos e em
todos os lugares. Esse é um retrato da condição humana universal.
Essa morte espiritual
não quer dizer que o homem que está morto em seus pecados não possa fazer
coisas boas; o homem sem Deus pode levar uma vida moralmente aprovada,
civilmente decente e familiarmente responsável, pode ser um bom cidadão, um bom
pai, uma boa mãe, um bom filho. Os pecadores podem fazer o bem àqueles que lhes
fazem bem (Lc 6.33). Às vezes, os bárbaros revelam “muita bondade” (At 28.2).
Paulo está falando de uma morte espiritual. Antes de Cristo, o homem está vivo
para as atrações do pecado, mas morto para Deus. O homem é incapaz de
entender e apreciar as coisas espirituais. Ele não possui vida espiritual nem
pode fazer nada que possa agradar a Deus. Da mesma maneira que a pessoa morta
fisicamente não responde a estímulos físicos, também a pessoa morta
espiritualmente é incapaz de responder a estímulos espirituais.
2. Nossas ofensas
e pecados. A má conduta “em que,
noutro tempo, andastes” é descrita por Paulo por meio da metáfora do ato de
“andar” (2.2a). Refere-se às atitudes erradas adotadas na vida passada do salvo
antes da regeneração:
2.1. “Andastes,
segundo o curso deste mundo” (2.2b). Os
costumes eram praticados conforme o sistema mundano da época, tais como: a
imoralidade, o furto e a mentira (4.22-32). Uma constatação de que o salvo não
deve tomar a forma do mundo, relativizar o pecado e muito menos ajustar-se à
maneira de viver de seu tempo (Rm 12.2).
2.2. “Andastes,
[…] segundo o príncipe da potestade do ar” (2.2c). Uma alusão a Satanás que exerce autoridade sobre os poderes do
mal (Jo 12.31). Indica que os agentes malignos têm a capacidade de influenciar
os homens desobedientes e incrédulos (2Co 4.4). Mais adiante na Carta, Paulo
alerta que a nossa luta é contra tais seres do mal (6.12). Contudo, não é
necessário temer, pois Deus exaltou Cristo acima de todos eles (1.21).
2.3. “Andávamos
fazendo a vontade da carne e dos pensamentos” (2.3). Refere-se à inclinação para fazer o mal, algo
inerente à natureza humana (Gn 6.5). Estão incluídos aqui os pensamentos
pervertidos e a prática de todos os desejos desordenados da carne. Como
resultado, éramos “filhos da ira”, isto é, condenados e desprovidos do favor
divino. Paulo sublinha que essa era a nossa condição (4.18). Entretanto,
aprouve ao Pai nos eleger e nos predestinar para “filhos de adoção” (1.5). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º
Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
“Nos quais andastes
no passado, no caminho deste mundo, segundo o príncipe do poderio do ar, do
espírito que agora age nos filhos da desobediência, entre os quais todos nós
também antes andávamos. Há três forças que cada pessoa para se
conformar aos seus valores (Rm 12.2). O apóstolo João é enfático ao dizer que
quem ama o mundo não pode amar a Deus (IJo 2.15-17). Tiago declara com a mesma
ênfase que quem é amigo do mundo é inimigo de Deus (Tg 4.4). Sempre que os homens
são de- sumanizados – pela opressão política, econômica, moral e social, vemos
a ação do mundo. Trata-se de uma escravidão cultural. As pessoas são escravas
desse sistema do mesmo modo que os súditos eram arrastados pelos generais
romanos por grossas correntes amarradas no pescoço depois de uma conquista.
John Stott esclarece esse ponto com as seguintes palavras:
Sempre que os seres
humanos são desumanizados – pela opressão política ou pela tirania burocrática,
por um ponto de vista secular (repudiando a Deus), ou amoral (repudiando
absolutos), ou materiaJista (glorificando o mercado consumidor), pela pobreza,
pela fome ou pelo desemprego, pela discriminação racial ou por qualquer forma
de injustiça – aí podemos detectar os valores subumanos do “presente século” e
“deste mundo”.
Vejamos acerca do
diabo. Trata-se do espírito que atua nos filhos da desobediência. O diabo é o
patrono dos desobedientes. Ele rebelou-se contra Deus e deseja que os homens
também desobedeçam a Deus. Ele tentou Eva no Éden com a mentira e levou nossos
pais à desobediência. O diabo é um inimigo invisível, porém real. Ele não dorme
nem tira férias. Ele é violento como um dragão e venenoso como uma serpente.
Ele ruge como leão e se apresenta travestido até de anjo de luz. Não podemos
subestimar seus desígnios; antes, devemos nos acautelar, sabendo que esse
arqui-inimigo veio para roubar, matar e destruir.
Vejamos a respeito da
carne. A carne não é o nosso corpo, mas a nossa natureza caída com a qual
nascemos (SI 51.5; 58.3) e que deseja controlar a nossa mente e o nosso corpo,
levando-nos a desobedecer a Deus. Há um impulso em nosso interior para fazer o
mal. O mal não está apenas nas estruturas exteriores a nós, mas, sobretudo,
procede do interior do nosso próprio coração. A inclinação da nossa natureza é
a inimizade contra Deus. Praticamos o mal porque a inclinação do nosso coração
é toda para o mal. O homem não pode mudar sua natureza. O profeta Jeremias
pergunta: “Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas pintas? Poderíeis
vós fazer o bem, estando treinados para fazer o mal?” (Jr 13.23).
Em terceiro lugar, o
homem é depravado (2:3b). “Seguindo os desejos carnais, fazendo a vontade da
carne e da mente.” O homem não convertido vive para agradar a vontade da carne
e os desejos do pensamento. Suas ações são pecaminosas porque seus desejos são
pecaminosos. O homem é escravo do pecado. Ele anda com o pescoço na coleira do
diabo e no cabresto do pecado. O homem está em estado de depravação total.
Todas as áreas da sua vida foram afetadas pelo pecado: razão, emoção e volição.
Isso não quer dizer que o incrédulo não possa fazer o bem natural, social e
moral. Ele sensibiliza-se com as causas sociais. Ele compadece-se. Ele ajuda as
pessoas. Mas ele não pratica obras com o reconhecimento de que são para a
glória de Deus nem com gratidão pela salvação.
John Stott conclui esse
ponto dizendo que, antes de Jesus Cristo nos libertar, estávamos sujeitos a
influências opressoras tanto internas como externas. No exterior, estava o
mundo (a cultura secular prevalecente); no interior, estava a carne (nossa
natureza caída); e, além desses dois, operando ativamente por meio dessas
influências, havia aquele espírito maligno, o diabo, o príncipe do reino das
trevas, que nos mantinha em cativeiro.
Em quarto lugar, o
homem está condenado (2.3c). “E éramos por natureza filhos da ira, assim como
os demais.” O homem não convertido, por natureza, é filho da ira e, pelas
obras, é filho da desobediência. A pessoa incrédula, não salva, já está
condenada (Jo 3.18). À parte de Cristo, o homem está morto por causa do pecado,
escravizado pelo mundo, pela carne e pelo diabo, além de condenado sob a ira de
Deus.112 A ira de Deus é sua reação pessoal frente a qualquer pecado, qualquer
rebelião contra ele.113 É sua santa repulsa a tudo aquilo que conspira contra
sua santidade. A ira de Deus não é apenas para esta vida, mas também para a era
vindoura. Aqueles que vivem debaixo da ira de Deus são entregues a si mesmos
pela escolha deliberada que fizeram de rejeitar o conhecimento de Deus e de se
entregar a toda sorte de idolatria e devassidão; além disso, terão de suportar
por toda a eternidade a manifestação plena do furor do Deus Todo-Poderoso”. (LOPES. Hernandes Dias.
Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São
Paulo: Hagnos, 2009. p. 52)
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Ao expor este tópico,
faça uma reflexão a respeito da necessidade do novo nascimento como
substituição à velha natureza. Para isso, tome por base o seguinte fragmento
textual: “O pecado não consiste apenas de ações isoladas, mas também é uma
realidade, ou natureza, dentro da pessoa (ver Ef 2.3). O pecado, como natureza,
indica a ‘sede’ ou a sua ‘localização’ no interior da pessoa, como a origem
imediata dos pecados. Inversamente, é visto na necessidade do novo nascimento, de
uma nova natureza a substituir a velha, pecaminosa (Jo 3.3-7; At 3.19; 1 Pe
1.23). Esse fato é revelado na ideia de que regeneração só pode acontecer de
fora para dentro da pessoa (Jr 24.7; Ez 11.19; 36.26,27; 37.1-14; 1 Pe 1.3)” (HORTON,
Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio
de Janeiro: CPAD, 2018, p.286).
II. VIVIFICADOS
PELA GRAÇA
Por ato de bondade
e misericórdia, estando nós ainda mortos em pecados, Deus imensamente nos amou
e, por isso, nos vivificou por meio de sua graça.
1. Alcançados pela
misericórdia e pelo amor divino. Após
constatar a situação da humanidade “sob a ira de Deus” (2.3), Paulo passa a
descrever os atos divinos de amor e de misericórdia que alteraram o quadro
caótico da raça humana. Começando com uma conjunção adversativa, o apóstolo
declara exultante: “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito
amor com que nos amou” (2.4). O ato de misericórdia implica compaixão e
simpatia para com os indignos (Rm 11.30-32). A Carta aos Efésios ensina que, ao
prover à humanidade o meio de escape da merecida ira (cf. 1.7), Deus não se
mostra apenas misericordioso, mas “abundante em misericórdia”. E essa
riquíssima misericórdia procede do “seu muito amor com que nos amou”. A Bíblia
enfatiza que foi a magnitude desse amor que motivou a nossa salvação (Jo 3.16;
1Jo 4.9). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
Na afirmativa “Paulo
passa a descrever os atos divinos de amor e de misericórdia que alteraram
o quadro caótico da raça humana”, há necessidade de se esclarecer o ponto
de que Deus altera o quadro caótico da raça humana. Isso porque o
homem irregenerado permanece debaixo da ira de Deus! Se permanece, seu quadro
não mudou! A mudança de estado ocorre somente na vida daquele que crê, os
demais, permanecem sujeitos a danação eterna se não depositarem fé em Cristo
Jesus - “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e
praticam abominação; já não há quem faça o bem. Do céu olha o Senhor para os
filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. Todos
se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem
um sequer.” Salmo 14.1-3.
“Somos redimidos por
quatro atividades que Deus realizou em nosso favor, salvando-nos das
consequências dos nossos pecados. Deus oferece vida aos mortos, libertação aos
cativos e perdão aos condenados. Paulo, agora, contrasta o que somos por
natureza com o que somos pela graça, a condição humana com a compaixão divina,
a ira de Deus com o amor de Deus. Curtis Vaughan afirma com acerto que, nesse
parágrafo, Paulo, admiravelmente, mostra-nos o contraste entre a condição atual
dos crentes e sua condição anterior. Antes, eles eram objeto da ira de Deus;
agora, são beneficiários de sua misericórdia (2.4). Antes, eles estavam presos
pelas garras da morte espiritual; agora, ressuscitaram para uma vida nova
(2.5,6). Antes, eles eram escravos do pecado; agora, são salvos pela graça de
Deus (2.5). Antes, eles caminhavam pela estrada dos desobedientes; agora,
usufruem da companhia de Deus (2.5,6)” (LOPES. Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de
Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009. p. 53)
2. Vivificados por
sua graça. Descrevendo as dádivas
divinamente concedidas aos salvos, o apóstolo enfatiza que o amor de Deus nos
alcançou “estando nós ainda mortos em nossas ofensas” (2.5a). Isso significa
que não éramos merecedores desse amor, mas que, mesmo assim, Deus “nos
vivificou juntamente com Cristo” (2.5b). Essa frase quer dizer que nascemos de
novo (Jo 3.3). Não estamos mais mortos, pois Cristo nos deu vida outra vez.
Fomos vivificados sem mérito algum, tudo foi efetivado por meio da sua graça, o
favor imerecido (2.8,9). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
Mais do que qualquer
outra coisa, uma pessoa morta espiritualmente precisa ser vivificada por Deus.
A salvação traz vida espiritual ao morto, O poder que ressuscita os cristãos da
morte e os vivifica (Rm 6.1-7) é o mesmo poder que energiza todos os aspectos
da vida cristã (Rm 6.11-13). Deus tirou-nos da sepultura espiritual em que o
pecado nos havia posto. Deus realizou uma poderosa ressurreição espiritual em
nós por meio do poder do Espírito Santo. Quando cremos em Cristo, passamos da
morte para a vida (Jo 5.24). Recebemos vida nova: a vida de Deus em nós.
3. Exaltados por
sua graça. O apóstolo dos gentios
ainda destaca que o poder de Deus “nos ressuscitou juntamente com ele, e nos
fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo” (2.6). Observe que a palavra
“juntamente” indica que Deus concede ao homem os mesmos benefícios alcançados
por Cristo: a ressurreição, a vida eterna e o galardão nos céus (1Co
15.3-8,20-25). Assim, ao conceder tais bênçãos aos homens, Deus mostrou as
“abundantes riquezas da sua graça” (2.7). Desse modo, ratificamos que a
salvação e seus privilégios são conferidos pela imensurável graça de Deus, o
favor divino imerecido. [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
O tempo verbal de
"ressuscitou" e "fez" indica serem esses os
resultados imediatos e diretos da salvação. O cristão não só está morto para o
pecado e vivo para a justiça por meio da ressurreição de Cristo, mas ele também
desfruta da exaltação do Senhor e compartilha de sua glória preeminente. Não só
saímos da sepultura e fomos ressuscitados, mas também fomos exaltados. Porque
estamos unidos a Cristo, somos exaltados com ele. Agora, assentamo-nos com ele
nas regiões celestiais, acima de todo principado e potestade. As três fases da
exaltação de Cristo — ressurreição, ascensão e assentar-se no trono — agora são
repetidas na vida dos salvos — em Cristo, Deus deu-nos vida (2.5),
ressuscitou-nos (2.6a) e fez-nos assentar nas regiões celestiais (2.6b). Esses
três eventos históricos — “deu-nos vida”, “ressuscitou-nos” e “fez-nos
assentar” — são os degraus da exaltação!
O último propósito de
Deus em nossa salvação é que por toda a eternidade a igreja possa glorificar
sua graça (Ef 1.6,12,14). A meta principal de Deus na nossa salvação é sua
própria glória. O Pr Americano John Stott em seu livro “A mensagem de Efésios”,
diz que “não podemos empertigar-nos no céu como pavões. O céu está cheio das
façanhas de Cristo e dos louvores de Deus. Realmente, haverá uma demonstração
no céu. Não uma demonstração de nós mesmos, mas, sim, uma demonstração da
incomparável riqueza da graça, da misericórdia e da bondade de Deus por meio de
Jesus Cristo” (Stott, John. A mensagem de Efésios, p. 56).
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Somos salvos pela graça mediante a
fé (Ef 2.8). Crer no Filho de Deus leva à vida eterna (Jo 3.16). Sem fé, não poderemos
agradar a Deus (Hb 11.6). A fé, portanto, é a atitude da nossa dependência confiante
e obediente em Deus e na sua fidelidade. Essa fé caracteriza todo filho de Deus
fiel. É o nosso sangue espiritual (Gl 2.20).
Pode-se argumentar que a fé salvífica
é um dom de Deus, até mesmo dizer que a presença de anseios religiosos, inclusive
entre os pagãos, nada tem a ver com a presença ou exercício da fé. A maioria
dos evangélicos, no entanto, afirma semelhantes anseios, universalmente presentes,
constituem-se evidências favoráveis à existência de um Deus, a quem se dirigem.
Seriam tais anseios inválidos em si mesmos, à parte da atividade divina
direta?” (HORTON, Stanley (Ed.).
Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de
Janeiro: CPAD, 2018, p.370).
III. A SALVAÇÃO NÃO VEM DAS OBRAS
Em Efésios 2.8-10,
Paulo revela que a salvação não depende de obras humanas, “porque pela graça
sois salvos, por meio da fé” (2.8a). Porém, uma vez salvo, o crente deve
praticar as boas obras.
As boas obras não podem
gerar a salvação, mas são subsequentes e resultam dos frutos concedidos por
Deus e evidências deles (Jo 15.8; Fp 2.12-13; 2Tm 3.17; Tt 2.14; Tg 2.16-26).
1. Graça como meio
de salvação. A “salvação” inclui a
libertação da morte, da escravidão do pecado e da ira vindoura; ao mesmo tempo
permite ao salvo desfrutar de todas as bênçãos espirituais descritas em Efésios
2.1-7. Portanto, a salvação é o livramento do poder da maldição do pecado e da
morte; e a restituição do homem à comunhão com Deus, uma bênção concedida a
todos que recebem Cristo como Salvador (Hb 2.15; 2Co 5.19). A palavra “graça” é
a tradução do grego charis, que significa “favor imerecido” (Rm 3.24). Ela
mostra que a iniciativa para tornar possível a salvação veio da parte Deus. É
por meio da graça que Deus ativa o livre-arbítrio e capacita o
pecador para que responda com fé ao chamado do Evangelho (Rm 11.6). Todavia,
ainda assim o ser humano é livre para escolher entre dois caminhos (salvação e
perdição); sua liberdade não foi eliminada e a graça pode ser resistida (Jo
7.17). A “fé” deve ser considerada como a aceitação da obra realizada por
Cristo em nosso favor. Ela é a resposta à graça de Deus através da qual
recebemos a salvação. [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
O Artigo IV da Remonstrância repudia o conceito calvinista de graça irresistível,
alegando que a humanidade tem livre-arbítrio para resistir à graça de Deus.
A salvação é um
presente, não uma recompensa. Ela é pela graça, mas também “por meio da fé”.
É a graça que nos salva pela instrumentalidade da fé. É muito importante
ressaltar que Paulo não está falando de qualquer tipo de fé. A questão não é a
fé, mas o objeto da fé. Não é fé na fé. Não é fé nos ídolos. Não é fé nos
ancestrais. Não é fé na confissão positiva. Não é fé nos méritos. E fé em
Cristo, o Salvador!
2. Obras como
evidência de salvação. Aqui Paulo
usa duas negações para endossar a origem da salvação: a primeira expressão
“isso não vem de vós” (2.8b) trata da salvação pela graça que provém de Deus; a
segunda ratifica que a salvação “não vem das obras”, o que indica não se tratar
de recompensa de algum ato humano. Essas afirmações excluem a possibilidade de
alguém ser salvo por esforço pessoal. Como a salvação é uma realização divina,
agora “somos feitura sua, criados em Cristo para as boas obras” (2.10). Uma
transformação ocorreu: Agora em Cristo somos uma nova criatura e as coisas
velhas passaram (2Co 5.17). Por isso, se antes o apóstolo usou a metáfora do
andar numa perspectiva negativa — “outrora andávamos fazendo obras más” (2.2-3)
— agora, por meio de uma perspectiva positiva, somos instados a “andar fazendo
boas obras”, não como meio para ser salvo, mas como a evidência da salvação
(2.10c). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
A salvação não pode ser
pelas obras, porque a obra da salvação já foi plenamente realizada por Cristo
na cruz (Jo 19.30). Não podemos acrescentar mais nada à obra completa de
Cristo. Agora não existe mais necessidade de sacrifícios e rituais. Fomos
reconciliados com Deus. O véu do templo foi rasgado. Pela graça, somos salvos.
Tanto a fé como a salvação são dádivas de Deus.
“Segundo os ensinos
de Paulo, inicialmente quem justifica o homem é Deus, através de seus meios, a
saber: a graça, o sangue e a ressurreição de Cristo. Portanto, o pecador é
justificado pela fé na obra redentora de Cristo (Rm 3.23,24). Na abordagem de
Tiago, as obras, consequências da fé, servem para evidenciar o processo de
justificação do homem. Ou seja, destacar o aspecto visível. A fé coopera com as
obras e estas aperfeiçoam a fé (v.24):
Há quem veja, nas Escrituras,
um provável conflito entre os escritos de Paulo e os de Tiago, com relação à
justificação - se somente pela fé ou também pelas obras. Como veremos no estudo
desta lição, a Bíblia não tem discrepâncias. As possíveis divergências são
aparentes, e se desfazem sob o estudo cuidadoso dos textos.” (Extraído de: http://www.ebdareiabranca.com/EpistolaTiago/tlicao06Ajuda02.htm).
3. Cristo exaltado
sobremaneira. Nesse ponto, Paulo ensina
que o poder de Deus exaltou Cristo “acima de todo o principado, e poder, e
potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia” (1.21). Significa que Ele
foi exaltado acima de toda eminência do bem e do mal e de todo título que se
possa conferir nessa era e também no porvir. O resultado desse triunfo traz
duplo benefício para a Igreja: primeiro, que Deus fez Cristo o cabeça da Igreja
(1.22); e, segundo, que Deus designou a Igreja para ser a expressão plena de
Cristo (1.23). Isso significa que nenhum poder pode prevalecer contra a Igreja
do Senhor (Mt 16.18). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
No texto que se inicia
em 1.15 e se estende até o verso 23, Paulo ora pelos crentes, chegando no verso
21 ele expressa seu desejo de que os crentes entendessem a grandeza de Deus
comparada a outros seres celestiais. "Principado, potestade, poder e
domínio" eram os termos tradicionais judaicos para designar seres
angelicais que tinham uma alta posição no exército de Deus. Deus está acima
deles todos (Ap 20.10-15). No verso 22, Paulo faz uma citação do SI 8.6,
indicando que Deus exaltou a Cristo sobre todas as coisas (Hb 2.8), incluindo a
sua igreja (Cl 1.18). Cristo é, claramente, o cabeça dominante (não a
"fonte") porque todas as coisas foram colocadas sob seus pés.
“O poder que atua
nos crentes é o poder da ressurreição. E o poder que ressuscitou a Cristo
dentre os mortos, assentou-o à direita de Deus e lhe deu a soberania sobre o
Universo inteiro. Esse poder é como um caudal impetuoso que arrasta com sua
força os obstáculos que encontra pelo caminho. A “direita” de Deus é uma figura
de linguagem indicando o lugar de supremo privilégio e autoridade. A mais alta
honra e autoridade no Universo foi tributada a Cristo (Mt 28.18). Ele foi
entronizado acima de todo principado e autoridade. (1.21). Cristo domina sobre
todos os seres inteligentes, bons e maus, angelicais e demoníacos. Em segundo
lugar, o domínio universal de Cristo (1.22). A exaltação de Cristo abrange o
soberano domínio sobre toda a criação. A cabeça que um dia foi coroada com
espinhos leva agora o diadema da soberania universal.90 Todas as coisas estão
sujeitas a Cristo. Todo o joelho se dobra diante dele no céu, na terra e
debaixo da terra (Fp 2.9-11). Tanto a igreja como o Universo têm em Cristo o
mesmo Cabeça. Todas as coisas estão debaixo dos seus pés. Isso significa que
tudo está sujeito e subordinado a ele. As palavras implicam absoluta sujeição.
A mais alta honra e autoridade no Universo foi tributada a Cristo (Mt
28.18).91” (LOPES. Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa
de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009. P. 43 e 44)
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Nenhuma medida de
esforço próprio ou de devoção religiosa pode realizar o que está descrito
acima. Pelo contrário, ‘pela graça sois salvos por meio da fé – e isso não vem
de vós; é dom de Deus’ (2.8). A ação da graça de Deus está centrada em seu
Filho – sua morte, ressurreição e entronização no céu como Senhor. Em relação à
demonstração de sua graça, primeiramente vem o chamado ao arrependimento e à fé
(At 2.38). Através dessa convocação, o Espírito Santo torna a pessoa capaz de responder
à graça de Deus através da fé. Aqueles que por meio da fé respondem ao Senhor
Jesus Cristo ‘são vivificados juntamente com Cristo’ (2.5). São regenerados ou
nascidos de novo por obra do Espírito Santo (Jo 3.3-8). São ressuscitados e
assentados com Cristo no reino celestial e continuam a receber a graça por sua
união com Ele, que é a fonte do poder. Isso os torna capazes de resistir ao
pecado e de viver de acordo com o Espírito Santo (Rm 8.13,14). Os crentes,
então, passam a servir a Deus e praticar ‘boas obras’ (Ef 2.10; cf. 2 Co 9.8)
por causa da graça que opera em cada um (1 Co 15.10)” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário
Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol.2. Rio de Janeiro: CPAD, 2017,
p.413).
CONCLUSÃO
Antes da
regeneração éramos “filhos da ira” e condenados à perdição eterna. Por ato do
amor divino, por meio de sua maravilhosa graça, nos tornamos “filhos por
adoção”. Essa gloriosa salvação nos foi concedida independente de nossas obras.
A partir da salvação passamos a praticar boas obras que glorificam a Deus nosso
Pai (Mt 5.16). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
A Graça de Deus que nos
foi ofertada envolve amor, bondade, sabedoria, misericórdia, perdão e justiça.
Alcançamos Graça quando cremos, por meio da pregação do Evangelho, que Jesus é
o Senhor. Ou seja, a salvação chegou pela fé e não pelos esforços humanos. Não
foi por boas obras que por ventura tenhamos praticado. No entanto, Paulo afirma
que, a evidência de que realmente fomos alcançados pela graça salvadora, é a
produção de boas obras, colocar em prática o exercício das verdades bíblicas.
No sentido comum, obras
são realizações, execuções, ações, procedimentos, atuações, humanas. No sentido
bíblico, temos acepções como "as obras de Deus", que indicam
aquilo que foi e continua sendo feito por Deus (Jo 1.3; 5.17;C11.16; Hb 1.2);
"obras da carne", (Gl 5.19-21); e "obras da lei"
(Rm 3.20), as quais, no sentido da lição em estudo, tratam-se de obras humanas
como meio de salvação, como práticas religiosas, orações, penitência,
sacrifícios, flagelações, privações, enclausuramento, filantropia, doações,
etc. Tiago afirma categoricamente que "a fé, se não tiver as obras, é
morta em si mesma" (Tg 2.17). Paulo, toma o exemplo de Abraão,
destacando o aspecto visível da fé do patriarca, quando ofereceu seu filho para
ser imolado (v.21), acentuando que a fé cooperou com as obras e estas
aperfeiçoaram a fé, concluindo que "o homem é justificado pelas obras e
não somente pela fé" (Tg 2.24).
Francisco Barbosa
Disponível no blog:
auxilioebd.blogspot.com.br
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