sábado, 7 de agosto de 2021

LIÇÃO 6: O PROFETA ELIAS E ELISEU, SEU SUCESSOR

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO

 INTRODUÇÃO 

O ministério de Elias estava terminando quando Deus o ordenou que ungisse seu sucessor. O escolhido foi Eliseu (1 Rs 19.16). Eliseu era muito próximo e leal a Elias. Antes de ser levado aos céus pelo Senhor, Elias perguntou a Eliseu sobre o que ele gostaria de receber de sua parte. E Eliseu mais que depressa pediu porção dobrada do espírito de Elias sobre ele (2 Rs 2.9). E assim foi. O fim do ministério de Elias e o início do de Eliseu são os assuntos desta lição. – Eliseu continuou a obra que Elias iniciara, porém existem diferenças marcantes entre um ministério e outro. Embora ambos tivessem uma grande consagração e compromisso com o Senhor, Elias vivia isolado, enquanto Eliseu estava no meio das pessoas. Não consta que Elias tivesse posses; já Eliseu, antes de seguir o seu chamado, tinha 12 juntas de bois, o que denota que tinha terras. Elias denunciou e advertiu severamente muitos reis; já Eliseu foi amigo e conselheiro de reis. Alguns milagres de Elias causaram mortes e prejuízos; já Eliseu, na maioria das vezes, praticou milagres de misericórdia e promoção da vida. Elias é comparado a João Batista, e Eliseu, pelos seus milagres de cura, faz lembrar a obra de Cristo. – O ministério de Eliseu foi extraordinário e durou aproximadamente 50 anos, somente superado, no Antigo Testamento, pelos milagres de Moisés em número e variedade. Incluindo a ressurreição ocorrida após a morte do profeta, quando o cadáver encostou-se à sepultura, somam-se aproximadamente 20 milagres, que chamam atenção por evidenciar a importância da vida e da provisão para a vida.

 I. A DESPEDIDA DE ELIAS

1. O ministério de Elias termina. Elias realizou grandes feitos em seu ministério profético: foi vitorioso diante dos profetas de Baal e Aserá (1 Rs 18.40); foi ousado e perspicaz para repreender, aconselhar e direcionar os reis (1 Rs 17.1); foi alimentado de forma milagrosa por Deus em tempos de adversidades (1 Rs 19.4-6). No entanto, mesmo diante de tamanhas realizações, chegou a hora de o profeta encerrar sua missão na terra.

2. Um profeta com grandeza de alma. Embora Elias seja considerado um dos maiores profetas do Antigo Testamento, a ponto de aparecer no monte da transfiguração ao lado de Jesus e Moisés (Mt 17.3), ele não proferiu nenhuma profecia de longo prazo e, provavelmente, não escreveu nenhum livro. Isso nos ensina que a grandeza de um profeta não é medida somente pelo tempo do cumprimento de suas profecias, mas, principalmente, pela integridade e grandeza de sua alma.

3. Gilgal, um lugar de boas recordações. Elias estava em Gilgal quando iniciou os preparativos para o seu arrebatamento. Esse lugar foi cenário de grandes e marcantes acontecimentos: Em Gilgal foi estabelecido o memorial da travessia do Jordão realizada por Josué (Js 4.19,20); ali, também, os israelitas foram circuncidados (Js 5.1-9) e celebraram a primeira páscoa na Terra Prometida (Js 5.10). Foi em Gilgal que Elias tomou ciência do término do seu ministério profético.

O ministério de Elias termina – O fim do ministério de Elias é anunciado com antecedência pelo próprio profeta, quando este pediu a Deus que lhe tirasse a vida. Portanto, os preparativos para a partida começaram cedo. Todavia, entre o pedido e a concretização do desaparecimento de Elias, passaram-se de oito a treze anos aproximadamente, tempo este suficiente para preparar um bom sucessor, pois, logo após esta conversa franca com Deus sobre a morte, Elias foi orientado a ungir Eliseu no seu lugar (1 Rs 19.16). – A partir desse momento, Eliseu passou a andar com Elias e a servir-lhe como serviçal, aprendendo de Elias e, especialmente, admirando-o como homem de Deus. É por isso que Eliseu pediu a ele porção dobrada, pois reconheceu que Elias era, de fato, um homem de Deus. Algumas vezes, basta a aproximação de alguém que se admira para, logo em seguida, perceber-se que, na verdade, na intimidade, essa pessoa não condiz com a realidade espiritual que ostenta. Mas com Elias é diferente. Aquilo que ele era no público também o era no privado. – Após os grandes feitos de Elias, a sua esplêndida vitória diante dos profetas de Baal e Aserá, a sua ousadia e perspicácia para repreender, aconselhar e direcionar vários reis; após ter sido alimentado milagrosamente por Deus várias vezes e de diferentes formas; após também o seu cansaço e subsequente desânimo, como é natural a todo ser humano, o seu ministério começou a chegar ao fim. Todo ser humano usado por Deus entra na história e tem um fim, só que esse fim depende das escolhas que a pessoa fez enquanto exercia o seu ministério. – Portanto, com vistas a ter um substituto à altura, Elias passa a ser o mentor de Eliseu, assumindo a sua paternidade espiritual e permitindo que o futuro profeta tivesse as suas experiências com Deus. Nas atuais crises ministeriais e de referenciais de liderança bíblica e espiritual, faz-se necessário que Deus levante novos Elias para assumirem a paternidade espiritual desta geração. Não nos referimos a lideranças que se impõem pela força do poder e nem do liderado que se submete pela força de uma folha de pagamento mensal, ou porque aspira lugares de honra como títulos e posições eclesiásticas. Refiro-me a líderes e liderados que, apesar da linha sutil que separa uma coisa da outra, assumem uma relação de pai/filho, mentor/discípulo e que seguem o modelo deixado por Elias e Eliseu, em que o compromisso com Deus e a fidelidade à sua Palavra está em primeiro lugar, sem comprometer-se com conluios políticos com os poderosos, como Elias o fez muito bem. – A paternidade espiritual é muitas vezes necessária num mundo confuso, violento e individualista como o nosso. Portanto, mentoria trata-se de uma relação informal de cuidador da alma do mentoreado, levando-o a prestar atenção ao falar de Deus ao seu coração, com uma viva sensibilidade pastoral, gerando uma fé viva e responsável diante de Deus e dos homens, como um testemunho vivo do evangelho de Cristo. Isso é feito levando-se em conta os paradoxos e fronteiras entre a orientação espiritual sugestiva e o domínio da mente e da espiritualidade do mentoreado, entre o respeito à individualidade e a necessidade concreta de intervir a contra gosto do mentoreado e entre o discernimento espiritual já presente no discípulo e o possível equívoco orientativo do mentor.

Um profeta com grandeza de alma – Elias nunca se comprometeu com alianças políticas ou com as benesses da mesa do rei, embora tivesse inúmeras oportunidades para corromper-se. Ele vivia uma vida simples como todo servo de Deus deve viver (2 Rs 1.8), não vivia em palácios reais e nem recebia salários de reis, mas foi cuidado pelo próprio Deus. Elias foi severo e zeloso para com a Lei de Deus e exigiu o seu cumprimento por parte do povo e dos reis, mas ele cuidou do seu ministério até o fim, para que não se deixasse levar pela fama e nem pelo orgulho. Ele não se desviou da sua fé e preservou-se confiante naquele em quem cria. Nunca negociou os valores do seu ministério nem mesmo com reis poderosos e ameaçadores, nem se deixou intimidar nem mesmo com ameaças de morte. Elias, portanto, terminou o seu ministério sendo honrado pelas pessoas que temiam a Deus e respeitado pelos inimigos de Deus e dos adoradores de falsos deuses. Ninguém conseguiu tocar no ungido do Senhor, nem conseguiu pará-lo porque o Ele assim o preservou. Logicamente que Elias teve muitos problemas e enfrentamentos, mas estes apenas confirmaram que Deus era com ele, pois o guardou em todas as perseguições que sofreu. – Elias é um exemplo de líder capaz de suportar grandes pressões, contrariedade e perseguições sem perder de vista os seus ideais. Ao mesmo tempo, ele é seguramente humano a tal ponto de, em toda sinceridade, conversar com Deus quando não suportava mais as pressões e ameaças, deixando que o Senhor tomasse conta dele, apesar do seu cansaço. Nesses momentos, Deus assume o controle e cuida dos seus filhos, dando a medida exata da provisão física, emocional e espiritual.

Gilgal, um lugar de boas recordações – Em Gilgal, havia um memorial da travessia do Jordão efetuada por Josué (Js 4.19,20). Lá foi o lugar onde os israelitas foram circuncidados (Js 5.1-9), celebraram a primeira páscoa na Terra Prometida (Js 5.10), onde o maná que alimentou o povo dezenas de anos cessou (Js 5.9-10), onde se começou a dividir o território de Israel (Js 14.6). Samuel passava por Gilgal (1 Sm 7.16). Nesse lugar, Saul foi confirmado rei, e foi lá também onde ele perdeu a promessa do seu reinado (1 Sm 11.14-18; 13.8-14). Portanto, representava a presença de Deus e importantes eventos históricos para o povo de Deus; e é nesse lugar que Elias estava quando se apercebeu de que a sua hora final havia chegado. Assim, ele partiu com o seu servo Eliseu para Betel, depois para Jericó e, por último, atravessou o Jordão. Que o Senhor encontre os seus servos esperando a sua volta em Gilgal, o lugar da sua presença.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Utilizando uma técnica didática denominada “Tempestade Cerebral”, proponha à classe a seguinte questão: O que significa “porção dobrada do espírito de Elias”?

Como funciona a técnica? O professor fará a pergunta e cada aluno, um após o outro, deverá respondê-la imediatamente sem ter o tempo suficiente para estruturar ou ordenar logicamente a resposta. As ideias serão captadas em estado nascente. A partir do uso desta técnica o professor avaliará o nível de conhecimento da classe acerca do assunto. A seguir, coloque no quadro a resposta abaixo, avaliando-a com eles.

No contexto do Antigo Testamento, geralmente, o sucessor das funções familiares era o primogênito. O sucessor tinha direito a porção dobrada da herança deixada aos outros filhos (Dt 21.17). O que Eliseu estava pedindo a Elias era para ser seu sucessor no ministério profético.

II. O PEDIDO OUSADO DE ELISEU

1. A fidelidade de Eliseu. Antes de Deus levar Elias “num redemoinho ao céu” (2 Rs 2.1b), ele mandou o profeta fazer uma viagem da cidade de Gilgal à Betel. Elias disse a Eliseu que ele não precisava ir, mas Eliseu respondeu: “Não te deixarei.” Durante a viagem, Elias disse duas vezes para Eliseu voltar, mas ele se recusou (2 Rs 2.1-6). Para Eliseu, era uma honra servir Elias porque esse era o trabalho que Deus lhe tinha dado para fazer.

2. A porção dobrada. Quando Elias percebeu que Eliseu realmente não o deixaria, em razão de sua lealdade e companheirismo, lhe deu o direito de pedir qualquer coisa que desejasse. Eliseu então disse: “Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim” (2 Rs 2.9b). O que realmente Eliseu estava pedindo? Em Israel, duas partes de uma herança eram para o filho primogênito (Dt 21.15-17). Assim, Eliseu estava pedindo para ser herdeiro de Elias, ou seja, para ficar no lugar dele como profeta. Ele também pediu para ter o espírito ou atitude de Elias porque queria a mesma coragem e zelo pela verdadeira adoração (1 Rs 19.13,14).

3. Elias, a inspiração de Eliseu. Para receber o que pediu, Eliseu não poderia retirar os olhos de Elias (2 Rs 2.10). Isso para ele não era difícil, pois tinha o profeta como sua fonte de inspiração e estava sempre atento a tudo o que Elias fazia. As melhores oportunidades para aprender e crescer ministerialmente acontecem quando podemos nos espelhar em alguém que realmente serve a Deus com amor e fidelidade.

A fidelidade de Eliseu A lealdade de Eliseu foi colocada à prova por Elias e pelos profetas que eles encontraram nesta caminhada final. Eliseu não se deixou levar pelas sugestões de Elias e nem pela dos profetas, mas foi leal e submeteu-se à liderança de Elias até o fim, mesmo contrariando o profeta na sua insistência em estar junto dele. Muitas vezes, a submissão é medida não pela obediência cega, mas pela decisão mais sábia a ser tomada no momento, e essa foi a opção de Eliseu: uma desobediência sábia com vistas a um legado espiritual sem precedentes comprometida com a lealdade colocada acima da subserviência. – O processo de mentoria espiritual somente se completa quando o discípulo submete-se à liderança do homem de Deus, não como subserviência, mas como uma submissão honrada em reconhecimento à elevada liderança espiritual do mentor. Não uma liderança espiritual como as lideranças do mundo fazem, pois Jesus disse: “mas entre vós não será assim; antes, qualquer que, entre vós, quiser ser grande será vosso serviçal” (Mc 10.43), mas, sim, uma liderança que conhece as suas próprias fragilidades e os seus próprios limites de intervenção na vida do discípulo.

A porção dobrada – “Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim.” (2 Rs 2.9). Foi um pedido difícil, pois como Elias poderia dar a Eliseu além do que ele mesmo tinha? Com a unção de Deus sobre ele, qualquer coisa seria possível. Nesse momento, Elias mudou o seu discurso após testada a lealdade de Eliseu e solicitou que permanecesse com ele para que o seu pedido pudesse ser atendido. – Aqui se percebe o propósito puro de Eliseu. Ele não quis a porção dobrada para exibir-se diante dos outros, mas queria a porção dobrada porque sabia que os desafios que o esperavam eram muito maiores do que a sua capacidade de enfrentá-los. Portanto, a porção dobrada era uma forma de Eliseu vencer as suas próprias limitações para exercer um ministério eficaz. Essa mesma lógica está presente no revestimento de poder ocasionado pelo derramamento de poder sobre os discípulos em Atos dos Apóstolos e, ainda hoje, está disponível a todo cristão sincero que quer fazer a obra de Deus sob o poder do Espírito Santo, que compensa as debilidades humanas.

Elias, a inspiração de Eliseu – Eliseu teria que permanecer atento em Elias, não podendo retirar os olhos dele. Os maiores momentos de aprendizado e crescimento espiritual e ministerial acontecem quando podemos olhar para alguém que realmente é um servo fiel a Deus como Elias e podemos imitar os seus feitos. Paulo pôde, como um apóstolo fiel ao Senhor, dizer: “Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo” (1 Co 11.1). Que Deus nos dê discernimento para escolher alguém para imitarmos, mas, ainda mais, que sejamos, apesar das fraquezas, como Elias também as tinha, pessoas que os outros possam imitar na sua fidelidade ao Senhor, numa sociedade pobre de bons referenciais. – Existem muitos bons líderes que podem ser imitados nos dias atuais, mas, ao mesmo tempo, há um vácuo de lideranças a serem imitadas, e uma crise instala-se em muitos jovens que aspiram ao ministério por não terem bons modelos, o que muitas vezes acaba com o jovem líder espelhando-se e imitando o modelo distorcido, o que compromete a perpetuidade de bons líderes. Eliseu pôde beneficiar-se do bom legado deixado por Elias. Que esse mimetismo saudável esteja presente em nossos ministérios. – No seu livro Porção Dobrada, José Gonçalves aponta para o fato de a crise de liderança da época de Elias ser a mesma crise contemporânea, em que havia crises: de modelos de referência; no ministério sacerdotal, com sacerdotes corruptos e mancomunados com a liderança civil; de propósitos; ético-moral dos sacerdotes controlados pelas leis de mercado e, ainda, determinados pela posição de poder, e não pela unção.

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

“Os filhos dos profetas (ver 1 Rs 20.35) pelo que parece, concentravam-se em três locais principais: Gilgal, Betel e Jericó (2.3,5,15; 4.38). Deus, por certo, enviou Elias a esses locais a fim de encorajá-los pela última vez e lhes anunciar que Eliseu seria o seu novo dirigente (vv. 1,15). – A amizade sincera e a comunhão na igreja sempre resulta em bênçãos extraordinárias para a obra de Deus. – […] O termo ‘porção dobrada’ não significa terminantemente o dobro do poder espiritual de Elias; refere-se, antes, ao relacionamento entre pai e filho, em que o filho primogênito recebia o dobro da herança que os demais (Dt 21.17). Eliseu estava pedindo que seu pai espiritual lhe conferisse uma medida abundante do seu espírito profético, para, deste modo, ele executar a missão de Elias. Deus atendeu ao pedido de Eliseu, sabendo que o jovem profeta estava disposto a permanecer fiel a Ele, apesar de toda a apostasia espiritual, moral e doutrinária a seu redor” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 574).

III. ELISEU TOMA A CAPA DE ELIAS

1. A comunhão de Elias e Eliseu. Enquanto Elias e Eliseu caminhavam juntos e conversavam, o que denota intimidade e comunhão entre os dois, Elias foi separado de Eliseu por um carro de fogo que o elevou num redemoinho (2 Rs 2.11). A amizade sincera e a comunhão na igreja, entre irmãos que se amam e se respeitam, sempre resulta em bênçãos extraordinárias para a obra de Deus.

2. A capa de Elias. Elias deixou sua capa cair quando foi elevado ao céu. Essa capa foi herança que o profeta deixou para seu servo Eliseu (2 Rs 2.13). Ela legitimou o ministério dele publicamente, ao tocar nas águas do Jordão e dividi-las para uma e outra banda (2 Rs 2.14). Esse episódio foi visto pelos filhos dos profetas de Jericó que imediatamente reconheceram que a unção de Elias estava sobre Eliseu (2 Rs 2.15).

A comunhão de Elias e Eliseu - A amizade entre mentor e discípulo é um presente de Deus e, sendo íntima: empresta os seus ouvidos nos momentos difíceis, sendo para o outro aquilo que ele não tem, suprindo as suas carências, embora de forma precária; pode ficar em silêncio diante do mistério da amizade e da presença de Cristo presente na amizade; enriquece e engrandece o outro com a sua sensibilidade e presença; pode celebrar e fazer festa em grandes momentos; pode chorar em momentos de dor e angústia; desenvolve o que há de melhor no outro, sem concorrência ou competições; pode criticar positivamente sem ressentimentos; tem a capacidade de aproximar o outro de Deus; experimentam o Reino de Deus nos cuidados recíprocos; pode tornar-se inútil em alguns momentos, mas a amizade continua; suporta fraquezas, ranços e esquisitices; e, no fim, acabam juntos na hora da morte, desfrutando do legado que o outro deixou, assim como Eliseu desfrutou do legado de Elias.

A capa de Elias – A expressão “filhos dos profetas” (hb. benê hannebî’îm) era utilizada nas línguas semíticas para indicar a pertença a um grupo ou corporação. Portanto, essa expressão refere-se ao grupo de profetas, possivelmente orientados por Eliseu ou algum outro profeta de destaque (1 Sm 10.10; 19.20), e tinham uma estrutura hierárquica ordenada. O grupo era coordenado por um líder que recebia o título de “pai” (daí a expressão “filhos dos profetas”), que, após a morte deste líder principal, passava para outro profeta respeitado no grupo (2 Rs 2.12; 6.21; 13.14). Provavelmente se expressavam de forma extática e utilizavam-se da oralidade e da expressão corpórea, conforme se depreende da maneira como os filhos dos profetas avisaram Eliseu do desaparecimento de Elias. Essa seria a maneira como posteriormente se expressariam aqueles que seriam batizados no Espírito Santo. – A capa que Elias deixou para Eliseu foi a mesma que ele usou para fazer o chamado profético de Eliseu (1 Rs 19.19), portanto estava carregada de significados e boas lembranças. Naquela época, a capa era um objeto muito importante e carregado de significados. Ela representava e identificava a pessoa (Mc 10.50). A capa para Eliseu significava que, imaginariamente, a virtude de Elias estava nela. O ministério de Elias demonstra alguém que sabe que o seu fim chegará, que ele não é insubstituível, que não se agarra veementemente ao cargo ou ao título, mas que permite que lideranças jovens surjam e surpreendentemente superem o seu antecedente, sem necessidade de ciúmes ou ocultamentos. Sem nenhum problema, Elias outorgou a Eliseu a solicitada porção dobrada. Ele sabia a quem estava deixando o legado, pois Eliseu foi forjado sob a sua liderança responsável e indicativa do projeto de Deus para Eliseu. – Líderes inspiradores e comprometidos com a Palavra de Deus são o maior legado de uma nação, instituição ou denominação. Eles são um presente de Deus que permite que haja equidade, projetos e decisões sábias. Além de serem presentes de Deus, esse surgimento de lideranças depende do compromisso desses homens em construir um caráter sóbrio e desenvolver habilidades espirituais, emocionais e sociais que reflitam a vontade de Deus para o seu povo.

SUBSÍDIO DEVOCIONAL

“[…] Elias foi levado ao céu assim como Enoque (Gn 5.24), sem experimentar a morte. (1) O traslado milagroso de Elias ao céu foi o selo divino da aprovação com destaque, da obra, do caráter e ministério desse profeta. Elias permanecera em tudo fiel à palavra de Deus no decurso de todo o seu ministério. Até ao último momento, vivera em prol da honra de Deus, tomara posição firme contra o pecado e a idolatria de um povo apóstata e despertara o remanescente fiel de Israel. Teve uma comitiva magnífica para conduzi-lo em triunfo ao céu. (2) A trasladação de Enoque e Elias assemelha-se ao arrebatamento futuro do povo fiel de Deus, à segunda vinda de Cristo (1 Ts 4.16,17)” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.574).

“2 Rs 2.9 Deus concedeu o pedido de Eliseu porque os motivos de Eliseu eram puros. O objetivo principal de Eliseu não era ser melhor ou mais poderoso do que Elias, mas realizar mais para Deus. Se nossos motivos forem puros, não teremos que ter medo de pedir grandes coisas a Deus; pelo contrário, devemos estar dispostos a pedi-las. E quando pedirmos que Deus no dê grande poder ou habilidade, precisamos examinar nossos desejos e nos livrar de qualquer egoísmo que encontrarmos.

2 Rs 2.11 Elias foi levado para o céu sem morrer. Ele é a segunda pessoa mencionada nas Escrituras a ter essa honra. Enoque foi a primeira (Gn 5.21-24). Pode ser que os demais profetas não tenham visto Deus tomar Elias porque poderiam ter dificuldades em acreditar no que veriam. Seja qual for o caso, eles quiseram procurar Elias (2 Rs 16-18). A falta de qualquer traço físico do profeta iria confirmar o que havia acontecido e fortalecer a fé destes homens. A única pessoa levada ao céu em forma corpórea foi o Senhor Jesus, depois de sua ressureição (At 1.9)” (Bíblia de Estudo Cronológica Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p.753).

CONCLUSÃO 

O que identifica um profeta de Deus atualmente não é o uso de uma capa, mas o modo de viver, suas virtudes e comportamento. A exemplo de Eliseu, devemos nos espelhar em homens e mulheres de Deus que sejam genuínos imitadores de Cristo. E não apenas isso: precisamos também ser exemplo para os outros, refletindo a imagem do Senhor, não somente nas palavras, mas, principalmente, nas ações. – O profeta Elias estava chegando ao final do seu ministério, e o próprio Deus encarregou-lhe de providenciar um sucessor (1 Rs 19.16), que, por sua vez, seria Eliseu, sobre o qual Elias jogou a sua capa como sinal da chamada. Eliseu foi muito leal e próximo de Elias a tal ponto de receber espírito dobrado de Elias quando este lhe deixou cair a sua capa, quando subia ao Céu. O episódio das capas assume grande importância, porque a capa era a própria identificação da pessoa na história antiga de Israel. Por esse motivo, Eliseu, ao ser separado de Elias, rasgou a sua capa e passou a usar a capa de Elias, numa clara demonstração da perpetuidade profética de Elias na vida de Eliseu. Dessa forma, o profeta Elias tornou-se um baluarte e um modelo de fidelidade a ser seguido por um pouco de lideranças sadias que restaram.

REFERÊNCIAS

GONÇALVES, José. Porção Dobrada. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

LIÇÕES BÍBLICAS. 3º Trimestre 2021 - Lição 6. Rio de Janeiro: CPAD, 08, ago. 2021. 

POMMERENING, Claiton Ivan. O plano de Deus para Israel em meio à infidelidade da nação. Rio de Janeiro: CPAD, 2021. 

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997. 

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, v. II Históricos, p. 449. Santo André: Geográfica, 2010. 

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