COMENTÁRIO E SUBSÍDIO
INTRODUÇÃO
O ministério de Elias estava terminando quando
Deus o ordenou que ungisse seu sucessor. O escolhido foi Eliseu (1 Rs 19.16). Eliseu era muito próximo e leal a Elias. Antes de ser
levado aos céus pelo Senhor, Elias perguntou a Eliseu sobre o que ele gostaria
de receber de sua parte. E Eliseu mais que depressa pediu porção dobrada do
espírito de Elias sobre ele (2 Rs 2.9). E assim foi. O fim do ministério de Elias e o início do
de Eliseu são os assuntos desta lição. – Eliseu continuou a obra que Elias iniciara, porém
existem diferenças marcantes entre um ministério e outro. Embora ambos tivessem
uma grande consagração e compromisso com o Senhor, Elias vivia isolado,
enquanto Eliseu estava no meio das pessoas. Não consta que Elias tivesse
posses; já Eliseu, antes de seguir o seu chamado, tinha 12 juntas de bois, o
que denota que tinha terras. Elias denunciou e advertiu severamente muitos
reis; já Eliseu foi amigo e conselheiro de reis. Alguns milagres de Elias
causaram mortes e prejuízos; já Eliseu, na maioria das vezes, praticou milagres
de misericórdia e promoção da vida. Elias é comparado a João Batista, e Eliseu,
pelos seus milagres de cura, faz lembrar a obra de Cristo. – O ministério de
Eliseu foi extraordinário e durou aproximadamente 50 anos, somente superado, no
Antigo Testamento, pelos milagres de Moisés em número e variedade. Incluindo a
ressurreição ocorrida após a morte do profeta, quando o cadáver encostou-se à
sepultura, somam-se aproximadamente 20 milagres, que chamam atenção por
evidenciar a importância da vida e da provisão para a vida.
I. A DESPEDIDA DE ELIAS
1. O ministério de Elias
termina. Elias realizou
grandes feitos em seu ministério profético: foi vitorioso diante dos profetas
de Baal e Aserá (1 Rs 18.40); foi ousado e
perspicaz para repreender, aconselhar e direcionar os reis (1 Rs 17.1); foi alimentado de forma milagrosa por Deus em tempos de
adversidades (1 Rs 19.4-6). No entanto,
mesmo diante de tamanhas realizações, chegou a hora de o profeta encerrar sua
missão na terra.
2. Um profeta com grandeza de
alma. Embora Elias seja considerado um
dos maiores profetas do Antigo Testamento, a ponto de aparecer no monte da
transfiguração ao lado de Jesus e Moisés (Mt 17.3), ele não proferiu nenhuma profecia de longo prazo e,
provavelmente, não escreveu nenhum livro. Isso nos ensina que a grandeza de um
profeta não é medida somente pelo tempo do cumprimento de suas profecias, mas,
principalmente, pela integridade e grandeza de sua alma.
3. Gilgal, um lugar de boas
recordações. Elias estava
em Gilgal quando
iniciou os preparativos para o seu arrebatamento. Esse lugar foi cenário de
grandes e marcantes acontecimentos: Em Gilgal foi estabelecido o memorial da travessia do Jordão
realizada por Josué (Js 4.19,20); ali, também, os
israelitas foram circuncidados (Js 5.1-9) e celebraram a primeira páscoa na Terra Prometida (Js 5.10). Foi em Gilgal que Elias tomou ciência do término do seu ministério
profético.
O ministério
de Elias termina – O
fim do ministério de Elias é anunciado com antecedência pelo próprio profeta,
quando este pediu a Deus que lhe tirasse a vida. Portanto, os preparativos para
a partida começaram cedo. Todavia, entre o pedido e a concretização do
desaparecimento de Elias, passaram-se de oito a treze anos aproximadamente,
tempo este suficiente para preparar um bom sucessor, pois, logo após esta conversa
franca com Deus sobre a morte, Elias foi orientado a ungir Eliseu no seu lugar
(1 Rs 19.16). – A partir desse momento, Eliseu passou a andar com Elias e a servir-lhe
como serviçal, aprendendo de Elias e, especialmente, admirando-o como homem de
Deus. É por isso que Eliseu pediu a ele porção dobrada, pois reconheceu que
Elias era, de fato, um homem de Deus. Algumas vezes, basta a aproximação de
alguém que se admira para, logo em seguida, perceber-se que, na verdade, na
intimidade, essa pessoa não condiz com a realidade espiritual que ostenta. Mas
com Elias é diferente. Aquilo que ele era no público também o era no privado. –
Após os grandes feitos de Elias, a sua esplêndida vitória diante dos profetas
de Baal e Aserá, a sua ousadia e perspicácia para repreender, aconselhar e
direcionar vários reis; após ter sido alimentado milagrosamente por Deus várias
vezes e de diferentes formas; após também o seu cansaço e subsequente desânimo,
como é natural a todo ser humano, o seu ministério começou a chegar ao fim. Todo
ser humano usado por Deus entra na história e tem um fim, só que esse fim
depende das escolhas que a pessoa fez enquanto exercia o seu ministério. – Portanto,
com vistas a ter um substituto à altura, Elias passa a ser o mentor de Eliseu,
assumindo a sua paternidade espiritual e permitindo que o futuro profeta
tivesse as suas experiências com Deus. Nas atuais crises ministeriais e de
referenciais de liderança bíblica e espiritual, faz-se necessário que Deus
levante novos Elias para assumirem a paternidade espiritual desta geração. Não
nos referimos a lideranças que se impõem pela força do poder e nem do liderado
que se submete pela força de uma folha de pagamento mensal, ou porque aspira
lugares de honra como títulos e posições eclesiásticas. Refiro-me a líderes e
liderados que, apesar da linha sutil que separa uma coisa da outra, assumem uma
relação de pai/filho, mentor/discípulo e que seguem o modelo deixado por Elias e
Eliseu, em que o compromisso com Deus e a fidelidade à sua Palavra está em
primeiro lugar, sem comprometer-se com conluios políticos com os poderosos,
como Elias o fez muito bem. – A paternidade espiritual é muitas vezes
necessária num mundo confuso, violento e individualista como o nosso. Portanto,
mentoria trata-se de uma relação informal de cuidador da alma do mentoreado,
levando-o a prestar atenção ao falar de Deus ao seu coração, com uma viva
sensibilidade pastoral, gerando uma fé viva e responsável diante de Deus e dos
homens, como um testemunho vivo do evangelho de Cristo. Isso é feito levando-se
em conta os paradoxos e fronteiras entre a orientação espiritual sugestiva e o domínio
da mente e da espiritualidade do mentoreado, entre o respeito à individualidade
e a necessidade concreta de intervir a contra gosto do mentoreado e entre o
discernimento espiritual já presente no discípulo e o possível equívoco
orientativo do mentor.
Um
profeta com grandeza de alma – Elias nunca se comprometeu com alianças políticas
ou com as benesses da mesa do rei, embora tivesse inúmeras oportunidades para
corromper-se. Ele vivia uma vida simples como todo servo de Deus deve viver (2
Rs 1.8), não vivia em palácios reais e nem recebia salários de reis, mas foi
cuidado pelo próprio Deus. Elias foi severo e zeloso para com a Lei de Deus e
exigiu o seu cumprimento por parte do povo e dos reis, mas ele cuidou do seu ministério
até o fim, para que não se deixasse levar pela fama e nem pelo orgulho. Ele não
se desviou da sua fé e preservou-se confiante naquele em quem cria. Nunca
negociou os valores do seu ministério nem mesmo com reis poderosos e ameaçadores,
nem se deixou intimidar nem mesmo com ameaças de morte. Elias, portanto, terminou
o seu ministério sendo honrado pelas pessoas que temiam a Deus e respeitado
pelos inimigos de Deus e dos adoradores de falsos deuses. Ninguém conseguiu
tocar no ungido do Senhor, nem conseguiu pará-lo porque o Ele assim o
preservou. Logicamente que Elias teve muitos problemas e enfrentamentos, mas
estes apenas confirmaram que Deus era com ele, pois o guardou em todas as perseguições
que sofreu. – Elias é um exemplo de líder capaz de suportar grandes pressões, contrariedade
e perseguições sem perder de vista os seus ideais. Ao mesmo tempo, ele é
seguramente humano a tal ponto de, em toda sinceridade, conversar com Deus
quando não suportava mais as pressões e ameaças, deixando que o Senhor tomasse
conta dele, apesar do seu cansaço. Nesses momentos, Deus assume o controle e cuida
dos seus filhos, dando a medida exata da provisão física, emocional e
espiritual.
Gilgal,
um lugar de boas recordações – Em Gilgal, havia um memorial da travessia do Jordão
efetuada por Josué (Js 4.19,20). Lá foi o lugar onde os israelitas foram
circuncidados (Js 5.1-9), celebraram a primeira páscoa na Terra Prometida (Js
5.10), onde o maná que alimentou o povo dezenas de anos cessou (Js 5.9-10),
onde se começou a dividir o território de Israel (Js 14.6). Samuel passava por Gilgal
(1 Sm 7.16). Nesse lugar, Saul foi confirmado rei, e foi lá também onde ele
perdeu a promessa do seu reinado (1 Sm 11.14-18; 13.8-14). Portanto,
representava a presença de Deus e importantes eventos históricos para o povo de
Deus; e é nesse lugar que Elias estava quando se apercebeu de que a sua hora
final havia chegado. Assim, ele partiu com o seu servo Eliseu para Betel,
depois para Jericó e, por último, atravessou o Jordão. Que o Senhor encontre os
seus servos esperando a sua volta em Gilgal, o lugar da sua presença.
SUBSÍDIO
DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Utilizando uma técnica didática denominada
“Tempestade Cerebral”, proponha à classe a seguinte questão: O que significa
“porção dobrada do espírito de Elias”?
Como funciona a técnica? O professor fará a pergunta
e cada aluno, um após o outro, deverá respondê-la imediatamente sem ter o tempo
suficiente para estruturar ou ordenar logicamente a resposta. As ideias serão
captadas em estado nascente. A partir do uso desta técnica o professor avaliará
o nível de conhecimento da classe acerca do assunto. A seguir, coloque no
quadro a resposta abaixo, avaliando-a com eles.
No contexto do Antigo Testamento, geralmente, o sucessor
das funções familiares era o primogênito. O sucessor tinha direito a porção
dobrada da herança deixada aos outros filhos (Dt 21.17). O que Eliseu estava
pedindo a Elias era para ser seu sucessor no ministério profético.
II. O PEDIDO OUSADO
DE ELISEU
1. A fidelidade de Eliseu. Antes de Deus levar Elias “num redemoinho ao céu” (2 Rs 2.1b), ele mandou o profeta fazer uma viagem da cidade de Gilgal à Betel. Elias disse a Eliseu que ele não precisava ir, mas Eliseu
respondeu: “Não te deixarei.” Durante a viagem, Elias disse duas vezes para
Eliseu voltar, mas ele se recusou (2 Rs 2.1-6). Para Eliseu, era uma honra servir Elias porque esse era
o trabalho que Deus lhe tinha dado para fazer.
2. A porção dobrada. Quando Elias percebeu que Eliseu realmente não o deixaria,
em razão de sua lealdade e companheirismo, lhe deu o direito de pedir qualquer
coisa que desejasse. Eliseu então disse: “Peço-te que haja porção dobrada de
teu espírito sobre mim” (2 Rs 2.9b). O que realmente
Eliseu estava pedindo? Em Israel, duas partes de uma herança eram para o filho
primogênito (Dt 21.15-17). Assim, Eliseu
estava pedindo para ser herdeiro de Elias, ou seja, para ficar no lugar dele
como profeta. Ele também pediu para ter o espírito ou atitude de Elias porque
queria a mesma coragem e zelo pela verdadeira adoração (1 Rs 19.13,14).
3. Elias, a inspiração de
Eliseu. Para receber o que pediu, Eliseu
não poderia retirar os olhos de Elias (2 Rs 2.10). Isso para ele não era difícil, pois tinha o profeta como
sua fonte de inspiração e estava sempre atento a tudo o que Elias fazia. As
melhores oportunidades para aprender e crescer ministerialmente acontecem
quando podemos nos espelhar em alguém que realmente serve a Deus com amor e
fidelidade.
A fidelidade de Eliseu – A lealdade de Eliseu foi colocada à prova por Elias e pelos profetas que eles encontraram nesta caminhada final. Eliseu não se deixou levar pelas sugestões de Elias e nem pela dos profetas, mas foi leal e submeteu-se à liderança de Elias até o fim, mesmo contrariando o profeta na sua insistência em estar junto dele. Muitas vezes, a submissão é medida não pela obediência cega, mas pela decisão mais sábia a ser tomada no momento, e essa foi a opção de Eliseu: uma desobediência sábia com vistas a um legado espiritual sem precedentes comprometida com a lealdade colocada acima da subserviência. – O processo de mentoria espiritual somente se completa quando o discípulo submete-se à liderança do homem de Deus, não como subserviência, mas como uma submissão honrada em reconhecimento à elevada liderança espiritual do mentor. Não uma liderança espiritual como as lideranças do mundo fazem, pois Jesus disse: “mas entre vós não será assim; antes, qualquer que, entre vós, quiser ser grande será vosso serviçal” (Mc 10.43), mas, sim, uma liderança que conhece as suas próprias fragilidades e os seus próprios limites de intervenção na vida do discípulo.
A
porção dobrada – “Peço-te
que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim.” (2 Rs 2.9). Foi um pedido
difícil, pois como Elias poderia dar a Eliseu além do que ele mesmo tinha? Com
a unção de Deus sobre ele, qualquer coisa seria possível. Nesse momento, Elias
mudou o seu discurso após testada a lealdade de Eliseu e solicitou que
permanecesse com ele para que o seu pedido pudesse ser atendido. – Aqui se
percebe o propósito puro de Eliseu. Ele não quis a porção dobrada para
exibir-se diante dos outros, mas queria a porção dobrada porque sabia que os
desafios que o esperavam eram muito maiores do que a sua capacidade de
enfrentá-los. Portanto, a porção dobrada era uma forma de Eliseu vencer as suas
próprias limitações para exercer um ministério eficaz. Essa mesma lógica está
presente no revestimento de poder ocasionado pelo derramamento de poder sobre
os discípulos em Atos dos Apóstolos e, ainda hoje, está disponível a todo
cristão sincero que quer fazer a obra de Deus sob o poder do Espírito Santo,
que compensa as debilidades humanas.
Elias,
a inspiração de Eliseu – Eliseu teria que permanecer atento em Elias, não
podendo retirar os olhos dele. Os maiores momentos de aprendizado e crescimento
espiritual e ministerial acontecem quando podemos olhar para alguém que
realmente é um servo fiel a Deus como Elias e podemos imitar os seus feitos.
Paulo pôde, como um apóstolo fiel ao Senhor, dizer: “Sede meus imitadores, como
também eu, de Cristo” (1 Co 11.1). Que Deus nos dê discernimento para escolher
alguém para imitarmos, mas, ainda mais, que sejamos, apesar das fraquezas, como
Elias também as tinha, pessoas que os outros possam imitar na sua fidelidade ao
Senhor, numa sociedade pobre de bons referenciais. – Existem muitos bons
líderes que podem ser imitados nos dias atuais, mas, ao mesmo tempo, há um
vácuo de lideranças a serem imitadas, e uma crise instala-se em muitos jovens
que aspiram ao ministério por não terem bons modelos, o que muitas vezes acaba com
o jovem líder espelhando-se e imitando o modelo distorcido, o que compromete a
perpetuidade de bons líderes. Eliseu pôde beneficiar-se do bom legado deixado
por Elias. Que esse mimetismo saudável esteja presente em nossos ministérios. –
No seu livro Porção Dobrada, José Gonçalves aponta para o fato de a
crise de liderança da época de Elias ser a mesma crise contemporânea, em que
havia crises: de modelos de referência; no ministério sacerdotal, com
sacerdotes corruptos e mancomunados com a liderança civil; de propósitos;
ético-moral dos sacerdotes controlados pelas leis de mercado e, ainda,
determinados pela posição de poder, e não pela unção.
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“Os filhos dos profetas (ver 1 Rs 20.35) pelo que
parece, concentravam-se em três locais principais: Gilgal, Betel e Jericó
(2.3,5,15; 4.38). Deus, por certo, enviou Elias a esses locais a fim de
encorajá-los pela última vez e lhes anunciar que Eliseu seria o seu novo
dirigente (vv. 1,15). – A amizade sincera e a comunhão na igreja sempre resulta
em bênçãos extraordinárias para a obra de Deus. – […] O termo ‘porção dobrada’
não significa terminantemente o dobro do poder espiritual de Elias; refere-se,
antes, ao relacionamento entre pai e filho, em que o filho primogênito recebia
o dobro da herança que os demais (Dt 21.17). Eliseu estava pedindo que seu pai
espiritual lhe conferisse uma medida abundante do seu espírito profético, para,
deste modo, ele executar a missão de Elias. Deus atendeu ao pedido de Eliseu,
sabendo que o jovem profeta estava disposto a permanecer fiel a Ele, apesar de
toda a apostasia espiritual, moral e doutrinária a seu redor” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.
574).
III. ELISEU TOMA A
CAPA DE ELIAS
1. A comunhão de Elias e
Eliseu. Enquanto Elias e Eliseu
caminhavam juntos e conversavam, o que denota intimidade e comunhão entre os
dois, Elias foi separado de Eliseu por um carro de fogo que o elevou num
redemoinho (2 Rs 2.11). A amizade
sincera e a comunhão na igreja, entre irmãos que se amam e se respeitam, sempre
resulta em bênçãos extraordinárias para a obra de Deus.
2. A capa de Elias. Elias deixou sua capa cair quando foi elevado ao céu. Essa
capa foi herança que o profeta deixou para seu servo Eliseu (2 Rs 2.13). Ela legitimou o ministério dele publicamente, ao tocar
nas águas do Jordão e dividi-las para uma e outra banda (2 Rs 2.14). Esse episódio foi visto pelos filhos dos profetas de
Jericó que imediatamente reconheceram que a unção de Elias estava sobre Eliseu
(2 Rs 2.15).
A
comunhão de Elias e Eliseu - A amizade entre mentor e discípulo é um presente de
Deus e, sendo íntima: empresta os seus ouvidos nos momentos difíceis, sendo
para o outro aquilo que ele não tem, suprindo as suas carências, embora de
forma precária; pode ficar em silêncio diante do mistério da amizade e da
presença de Cristo presente na amizade; enriquece e engrandece o outro com a
sua sensibilidade e presença; pode celebrar e fazer festa em grandes momentos;
pode chorar em momentos de dor e angústia; desenvolve o que há de melhor no outro,
sem concorrência ou competições; pode criticar positivamente sem
ressentimentos; tem a capacidade de aproximar o outro de Deus; experimentam o
Reino de Deus nos cuidados recíprocos; pode tornar-se inútil em alguns momentos,
mas a amizade continua; suporta fraquezas, ranços e esquisitices; e, no fim,
acabam juntos na hora da morte, desfrutando do legado que o outro deixou, assim
como Eliseu desfrutou do legado de Elias.
A capa
de Elias – A expressão
“filhos dos profetas” (hb. benê hannebî’îm) era utilizada nas línguas semíticas
para indicar a pertença a um grupo ou corporação. Portanto, essa expressão
refere-se ao grupo de profetas, possivelmente orientados por Eliseu ou algum
outro profeta de destaque (1 Sm 10.10; 19.20), e tinham uma estrutura hierárquica
ordenada. O grupo era coordenado por um líder que recebia o título de “pai”
(daí a expressão “filhos dos profetas”), que, após a morte deste líder
principal, passava para outro profeta respeitado no grupo (2 Rs 2.12; 6.21;
13.14). Provavelmente se expressavam de forma extática e utilizavam-se da
oralidade e da expressão corpórea, conforme se depreende da maneira como os filhos
dos profetas avisaram Eliseu do desaparecimento de Elias. Essa seria a maneira
como posteriormente se expressariam aqueles que seriam batizados no Espírito
Santo. – A capa que Elias deixou para Eliseu foi a mesma que ele usou para fazer
o chamado profético de Eliseu (1 Rs 19.19), portanto estava carregada de
significados e boas lembranças. Naquela época, a capa era um objeto muito
importante e carregado de significados. Ela representava e identificava a
pessoa (Mc 10.50). A capa para Eliseu significava que, imaginariamente, a
virtude de Elias estava nela. O ministério de Elias demonstra alguém que sabe
que o seu fim chegará, que ele não é insubstituível, que não se agarra veementemente
ao cargo ou ao título, mas que permite que lideranças jovens surjam e
surpreendentemente superem o seu antecedente, sem necessidade de ciúmes ou
ocultamentos. Sem nenhum problema, Elias outorgou a Eliseu a solicitada porção dobrada.
Ele sabia a quem estava deixando o legado, pois Eliseu foi forjado sob a sua
liderança responsável e indicativa do projeto de Deus para Eliseu. – Líderes
inspiradores e comprometidos com a Palavra de Deus são o maior legado de uma
nação, instituição ou denominação. Eles são um presente de Deus que permite que
haja equidade, projetos e decisões sábias. Além de serem presentes de Deus,
esse surgimento de lideranças depende do compromisso desses homens em construir
um caráter sóbrio e desenvolver habilidades espirituais, emocionais e sociais
que reflitam a vontade de Deus para o seu povo.
SUBSÍDIO DEVOCIONAL
“[…] Elias foi levado ao céu assim como Enoque (Gn
5.24), sem experimentar a morte. (1) O traslado milagroso de Elias ao céu foi o
selo divino da aprovação com destaque, da obra, do caráter e ministério desse
profeta. Elias permanecera em tudo fiel à palavra de Deus no decurso de todo o
seu ministério. Até ao último momento, vivera em prol da honra de Deus, tomara
posição firme contra o pecado e a idolatria de um povo apóstata e despertara o
remanescente fiel de Israel. Teve uma comitiva magnífica para conduzi-lo em
triunfo ao céu. (2) A trasladação de Enoque e Elias assemelha-se ao
arrebatamento futuro do povo fiel de Deus, à segunda vinda de Cristo (1 Ts
4.16,17)” (Bíblia de Estudo
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD,
1995, p.574).
“2 Rs 2.9 Deus concedeu o pedido de Eliseu porque os
motivos de Eliseu eram puros. O objetivo principal de Eliseu não era ser melhor
ou mais poderoso do que Elias, mas realizar mais para Deus. Se nossos motivos
forem puros, não teremos que ter medo de pedir grandes coisas a Deus; pelo
contrário, devemos estar dispostos a pedi-las. E quando pedirmos que Deus no dê
grande poder ou habilidade, precisamos examinar nossos desejos e nos livrar de
qualquer egoísmo que encontrarmos.
2 Rs 2.11 Elias foi levado para o céu sem morrer.
Ele é a segunda pessoa mencionada nas Escrituras a ter essa honra. Enoque foi a
primeira (Gn 5.21-24). Pode ser que os demais profetas não tenham visto Deus
tomar Elias porque poderiam ter dificuldades em acreditar no que veriam. Seja
qual for o caso, eles quiseram procurar Elias (2 Rs 16-18). A falta de qualquer
traço físico do profeta iria confirmar o que havia acontecido e fortalecer a fé
destes homens. A única pessoa levada ao céu em forma corpórea foi o Senhor
Jesus, depois de sua ressureição (At 1.9)” (Bíblia de Estudo Cronológica Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p.753).
CONCLUSÃO
O que identifica um profeta de Deus atualmente
não é o uso de uma capa, mas o modo de viver, suas virtudes e comportamento. A
exemplo de Eliseu, devemos nos espelhar em homens e mulheres de Deus que sejam
genuínos imitadores de Cristo. E não apenas isso: precisamos também ser exemplo
para os outros, refletindo a imagem do Senhor, não somente nas palavras, mas,
principalmente, nas ações. – O profeta Elias estava chegando ao final do seu
ministério, e o próprio Deus encarregou-lhe de providenciar um sucessor (1 Rs 19.16),
que, por sua vez, seria Eliseu, sobre o qual Elias jogou a sua capa como sinal da
chamada. Eliseu foi muito leal e próximo de Elias a tal ponto de receber
espírito dobrado de Elias quando este lhe deixou cair a sua capa, quando subia
ao Céu. O episódio das capas assume grande importância, porque a capa era a própria
identificação da pessoa na história antiga de Israel. Por esse motivo, Eliseu,
ao ser separado de Elias, rasgou a sua capa e passou a usar a capa de Elias,
numa clara demonstração da perpetuidade profética de Elias na vida de Eliseu. Dessa
forma, o profeta Elias tornou-se um baluarte e um modelo de fidelidade a ser
seguido por um pouco de lideranças sadias que restaram.
REFERÊNCIAS
GONÇALVES, José. Porção
Dobrada. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
LIÇÕES BÍBLICAS. 3º
Trimestre 2021 - Lição 6. Rio de Janeiro: CPAD, 08, ago. 2021.
POMMERENING, Claiton Ivan. O
plano de Deus para Israel em meio à infidelidade da nação. Rio de Janeiro:
CPAD, 2021.
STAMPS, Donald C. Bíblia
de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo
Testamento, v. II Históricos, p. 449. Santo André: Geográfica,
2010.
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