COMENTÁRIO E SUBSÍDIO
INTRODUÇÃO
A cura da lepra de Naamã nos revela que os
métodos de Deus nem sempre são fáceis de compreender. Naamã, o comandante do
exército da Síria, precisou exercitar sua obediência e fé ao mergulhar no rio
Jordão, pois tal ato era demasiadamente humilhante para um homem de sua
posição. Porém, ao deixar de lado o orgulho e cumprir a rigor o que Eliseu lhe
dissera, Naamã alcançou a cura. – O milagre da cura de Naamã é uma demonstração de
como as realidades de Deus são muitas vezes contrárias à realidade humana: uma
criada orientou o seu mestre, invertendo os papéis; o rei de Israel,
supostamente conhecedor de Deus, ficou desesperado diante de alguém que queria
conhecer ao Senhor; um leproso foi purificado; um são foi punido com a lepra do
outro; e um pagão passou a adorar a Deus.
I. NAAMÃ, O CHEFE DO EXÉRCITO
SÍRIO
1. Naamã, um comandante
honrado. Naamã era um
ministro do alto escalão do governo da Síria, cuja capital era Damasco. A Síria havia atacado Israel várias vezes (1 Rs 11.25; 20.1,22; 22.31). Naamã era um comandante admirado e respeitado por todos
devido às suas muitas vitórias em batalhas. Mas era leproso; e essa doença
afetava sua integridade e o deixava vulnerável.
2. A escrava, uma testemunha de
Deus. Em uma de suas incursões de
guerra contra Israel, Naamã fez uma menina de escrava (2 Rs 5.2). Esta passou a morar na sua casa e, vendo o sofrimento do
seu senhor, sugeriu à esposa de Naamã que fosse falar com o profeta Eliseu (2 Rs 5.3). A escrava se tornou uma agente de Deus na casa de Naamã,
ainda que na condição de serva. Não importa onde estejamos e nem as nossas
condições, sempre haverá uma oportunidade para falarmos de Deus às pessoas.
3. A caravana de Naamã. Naamã acreditou na palavra da escrava e foi até o seu rei a
fim de lhe contar o que ela lhe dissera. O rei sírio preparou uma carta ao rei
de Israel, recomendando a cura de seu comandante, bem como enviou presentes (2 Rs 5.5). O rei de Israel, ao saber do que se tratava a visita de
Naamã, ficou atemorizado e rasgou as suas vestes, pois acreditava ser essa
visita, um pretexto do rei sírio para atacá-lo (2 Rs 5.7).
Naamã,
cujo nome significa “benevolente”, era um ministro do alto escalão do governo
sírio, cuja capital era Damasco. Ele atacara várias vezes a Israel (ver 1 Rs
11.25; 20.1,22; 22.31), era valoroso, importante e respeitado pelas tantas
vitórias que havia conquistado para os sírios; entretanto, havia uma grande
dificuldade na sua vida bem-sucedida: ele era leproso. Foi essa dificuldade na
sua vida que o Senhor Deus usou para mostrar-lhe a sua glória. Numa das suas incursões
de guerra contra Israel, ele fez escrava uma menina que passou a morar na sua
casa. Esta, vendo o sofrimento do seu amo, sugeriu à sua esposa que Naamã fosse
falar com o profeta Eliseu. Isso demonstra como o ministério de Eliseu era
amplamente conhecido entre os israelitas — tão conhecido a ponto de uma menina
escrava ter ouvido falar dele. O reconhecimento do homem de Deus não depende de
redes sociais ou mídias, mas, sim, da profundidade e seriedade do seu
ministério, desde que feito em total dependência de Deus.
Essa
menina tornou-se uma agente do Senhor na casa de Naamã. Ela não se deixou
influenciar pela cultura pagã da Síria, mas continuou sendo temente ao Senhor a
tal ponto de lembrar-se de que havia um homem de Deus em Israel. Pode-se
afirmar que ela foi um arauto, ou uma evangelista, de Deus entre um povo pagão
a ponto de convencer o comandante sírio a dar as costas para os seus deuses e
pedir a cura ao Deus de Israel por meio do profeta Eliseu. Todos podem ser
arautos do Senhor em qualquer lugar em que forem e estiverem, ainda que sejam
lugares indesejados e opressivos, como o caso dessa menina.
A
menina falou claramente aos seus amos quem era o profeta e a quem eles deveriam
procurar, mas, equivocadamente, foram procurar o rei com uma carta e presentes.
O rei de Israel entendeu aquilo como uma provocação e pretexto para uma nova
guerra — por isso, a reação dele de rasgar as vestes (2 Rs 5.7). Na antiguidade
oriental, esse gesto do rei era muito usado quando se recebiam notícias ruins
ou quando se estava diante de uma situação fora de controle para demonstrar
profunda angústia e pesar — nesse caso, em reconhecimento da sua
impossibilidade em atender o general Naamã e o medo de uma provocação de guerra
em tempos de paz. Para compensar a humilhação do general de ter de buscar ajuda
no país com o qual travaram tantas guerras — pois tanto o rei da Síria quanto
Naamã eram orgulhosos e haviam tido muitas vitórias bélicas sobre Israel —,
levaram muitos presentes para entregar, porém, não procuraram o profeta Eliseu,
mas o rei de Israel, que ficou apavorado. Eliseu ficou sabendo da história e
teve que interferir diante do desespero do rei de Israel. O profeta solicitou que
encaminhassem o caso a ele com uma afirmação de confiança em Deus e, sobretudo,
ciente do seu ministério e da graciosidade do Senhor sobre a sua vida: “Deixa-o
vir a mim, e saberá que há profeta em Israel” (2 Rs 5.8b).
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
A verdadeira aula é um diálogo entre o professor e
os alunos; o ideal seria que toda aula fosse como a resposta de uma pergunta
dos alunos. Não é bom que somente o professor crie e fale, mas que ouça o aluno
falar por sua vez.
Não é aconselhável transformar a aula num simples
monólogo do professor para uma plateia de ouvintes receptivos e inertes, com o
falso pressuposto, mais ou menos generalizado, de que a obrigação do aluno é
ouvir, calar e reter. O verdadeiro ensino não consiste apenas na transferência
de conhecimentos de uma cabeça para outra. Ensinar é fazer pensar, é estimular
para a identificação e resolução de problemas; é ajudar a criar novos hábitos
de pensamento e de ação. O professor deve ser um comunicador dialogal e não um
transmissor unilateral de informações.
II. O MERGULHO NO RIO JORDÃO
1. Eliseu não se impressionou
com a pompa. Ao saber sobre o
que estava acontecendo e o porquê de o rei de Israel ter rasgado as suas
vestes, Eliseu disse: “Por que rasgaste as tuas vestes? Deixa-o vir a mim, e
saberá que há profeta em Israel.” (2 Rs 5.8b). Então o comandante Naamã foi até a casa de Eliseu.
Porém, ele não o recebeu, mas mandou um mensageiro com as instruções do que ele
haveria de fazer para ser curado (2 Rs 5.10).
2. A decepção e a cura de
Naamã. O comandante sírio
esperava que o profeta o recebesse com honras e que lhe tocasse com as mãos,
mas a ordem foi de mergulhar sete vezes no rio Jordão. A decepção de Naamã foi
evidente (2 Rs 5.11,12). Foi preciso a
intervenção de seus empregados para que a ordem fosse cumprida. Contrariado, o
comandante mergulhou sete vezes no rio Jordão e sua pele ficou como a de uma
criança; ele estava purificado de sua lepra (2 Rs 5.14).
3. Deus ainda opera milagres, e
não misticismos. O número sete, que
Eliseu usou, representa a perfeição de Deus na simbologia hebraica. Entretanto,
o episódio em 2 Reis 5 é o único que relata o uso desse número pelo profeta.
Tal fato não nos dá o direito de usar uma forma de numerologia em nossos cultos
ou campanhas intermináveis. Podemos e devemos invocar as bênçãos de Deus, pois
esperamos o seu agir milagroso. Onde Ele age não é preciso numerologia ou
superstição, pois o poder de Deus está acima de tudo isso. E mesmo que não haja
um milagre visível, Ele está agindo, pois a fé é confiar nEle mesmo quando as
coisas não acontecem do nosso jeito (Hb 11.13). Não por acaso, Jesus disse que “muitos leprosos havia em
Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã,
o siro” (Lc 4.27).
Eliseu não se impressionava com aquilo que a maioria
das pessoas acharia uma grande honra, pois o profeta tinha compromisso com Deus,
a quem ele realmente temia. Eliseu não foi até onde o poderoso general
encontrava-se, mas fez o general vir até ele. Isso aponta para o fato de que o
verdadeiro profeta de Deus não precisa correr atrás de poderosos ou cobiçar os
seus presentes, pois é o Senhor quem cuida da sua vida. – O cortejo de soldados
com o seu comandante estacionou em frente à casa de Eliseu, mas ele, que não se
impressionava com títulos, cargos e posições, pois era um fiel servo do Deus
altíssimo, nem foi recebê-lo, o que feriu ainda mais o orgulho do poderoso
comandante Naamã. Ele simplesmente mandou o seu empregado dar-lhe o recado:
“Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne te tornará, e ficarás
purificado” (2 Rs 5.10). – Tanto a forma como Eliseu recebeu Naamã quanto a
ordem que lhe deu para ser curado foram humilhantes para o comandante sírio tão
acostumado com honras reais. Ele imaginava ser recebido com pompas de um grande
homem, mas não existem títulos nem cargos diante de Deus que deem margem para
tratamentos diferenciados.
A decepção de Naamã foi evidente. Ele saiu dali
reclamando do profeta e resmungando contra a ordem recebida, porque o profeta não
lhe recomendou os rios da Síria, que eram bem melhores, mas o insignificante
rio Jordão. O general considerava os rios de Damasco melhores do que os de
Israel. Foi preciso a intervenção dos seus empregados para que a ordem fosse
cumprida. Contrariado, o comandante mergulhou sete vezes no rio Jordão, e a sua
pele ficou como a de uma criança, e ele ficou purificado da sua lepra. Para Naamã,
a cura foi possível porque ele, embora contrariado, agiu com obediência em fé
ao que o profeta havia-lhe falado. Eliseu discerniu a necessidade do comandante
para além da cura física. Ele precisava ir ao rio Jordão e dar um mergulho de
humildade em obediência e fé. Tanto que, após a cura, ele prometeu que nunca
mais ofereceria culto a nenhum outro deus, senão ao Senhor Todo-poderoso (2 Rs
5.17).
A humildade é uma grande virtude a ser aprendida,
porém uma das mais difíceis, pois o orgulhoso dificilmente admitirá que não é humilde,
e o humilde dificilmente sabe que é humilde. A humildade abre portas que o
orgulho jamais será capaz de abrir, pois o orgulhoso sempre fere, oprime e
machuca aqueles que são mais fracos do que ele, enquanto a humildade sempre
considera o próximo como um ser igual, o que facilita o diálogo e a proximidade,
possibilitando, também, a prática do cuidado sempre que necessário. Naamã, no
alto das suas posições hierárquicas, quis comprar aquilo que Eliseu poderia dar
a ele, pois ele não quis submeter-se a determinações simples como mergulhar no
Jordão. Esse é o orgulho de quem exige fazer escolhas ao invés de submeter-se
àquilo que o outro tem a oferecer-lhe. Ser humilde é reconhecer que as coisas
nem sempre acontecem da maneira como imaginamos ou queremos. Muitas vezes, é
preciso submeter-se à vontade do outro para que as possibilidades da vida sejam
alargadas e, no caso de Naamã, para que a bênção de Deus viesse sobre a vida
dele.
A cura da lepra de Naamã mostra-nos que os métodos de
Deus nem sempre são nossos métodos. Eliseu mandou o comandante exercitar a sua
obediência em fé mergulhando no rio Jordão, o que certamente foi humilhante
para Naamã, porém necessário, pois, além da cura física, ele também precisava
da cura do seu orgulho e da idolatria, e todas essas bênçãos foram alcançadas
na sua vida.
SUBSÍDIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO
“Deus cura Naamã (5.8-14). Os detalhes descrevem o cenário externo que, entretanto, era
apenas incidental em relação ao milagre da cura que Deus realizou através de
Eliseu. Ele representava um outro episódio significativo no ministério de
Eliseu, e tinha o propósito de demonstrar que só o Senhor é Deus, e que os
deuses de outras nações nada representavam. O rio Abana (12), atual Barada,
começa nas montanhas do Líbano e corre através de Damasco, e torna possível a
existência dessa cidade por causa do oásis formado em seu percurso. O rio
Farpar (ou Farfar) não foi identificado tão facilmente como o Abana. É possível
que a Bíblia se refira a um rio que começa nas montanhas do Líbano e corre
cerca de 16 quilômetros em direção à região sudoeste de Damasco e que, nesse
caso, seria chamado de rio de Damasco. Outra sugestão é que o rio Farpar seja
uma referência a um afluente do Barada, o Nahr Taura.
[…] O registro da cura de Naamã representa um
cativante relato da ‘cura do leproso’. Existe aqui um retrato notável sobre:
(1) A grandeza que não leva a coisa alguma – um grande homem… porém leproso, 1;
(2) O testemunho da fé de uma escrava, 2-4; (3) Um pedido inesperado e humilde,
9-11; (4) Alternativas mais atraentes, 12; (5) A obediência e a cura completa,
13,14” (Comentário Bíblico
Beacon: Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.349).
III. GEAZI É
ACOMETIDO DA LEPRA
1. A rejeição dos presentes. Após a sua cura física e sentimental, Naamã estava disposto
a voltar a Eliseu, a fim de lhe presentear (2 Rs 5.15). A Bíblia não deixa claro se esse presente foi o mesmo
enviado pelo rei sírio anteriormente; pode ser que o primeiro presente tenha
ficado com o rei de Israel. Porém se for o mesmo, a quantia era composta de
trezentos e cinquenta quilos de prata, e uns setenta quilos de ouro, e dez
mudas de roupas finas; um valor muito grande para ser rejeitado. Mas, mesmo
assim, Eliseu rejeitou o presente (2 Rs 5.16).
2. Homens de Deus não se deixam
vender. A atitude de Eliseu ao recusar o
presente de Naamã revela um comportamento de quem não vende a si mesmo ou as
bênçãos de Deus (2 Rs 5.16). Tanto Elias
quanto Eliseu eram honestos consigo mesmos e com Deus.
3. Por ganância Geazi é
acometido da lepra. Depois de visitar
Eliseu, Naamã partiu para a Síria. Quando Naamã iniciava sua viagem, Geazi,
cheio de ganância em seu coração, foi até ele e, mentindo, se apoderou dos
presentes oferecidos a Eliseu (2 Rs 5.21-24). Tal atitude nos revela o caráter distorcido de Geazi.
Visando o bem material ele mentiu ao comandante sírio, traiu Eliseu e desonrou
a Deus. Por isso, o jovem foi acometido de lepra e saiu diante do profeta,
“branco como a neve” (2 Rs 5.27).
Com a
cura física concretizada na vida de Naamã, concretizou-se também a cura do seu
orgulho. Ele agora estava disposto a voltar e presentear Eliseu. Não se diz o
que era, pois parece que a primeira leva de presentes pode ter ficado com o rei
de Israel, mas, se eram os mesmos presentes, era composto de 350 quilos de
prata, e uns 70 quilos de ouro, além de dez mudas de roupas finas — um valor muito
grande para ser rejeitado. Mesmo assim, Eliseu rejeitou o presente, pois não
queria deixar Naamã com a ideia pagã de que o Deus de Israel é comprado com
ofertas e que os seus profetas são interesseiros dos bens terrestres em troca
dos bens divinos ofertados. Além do caráter nobre de Eliseu ao rejeitar os
presentes, havia uma lição para Naamã e toda a corte síria embutida na negativa
de Eliseu: Jeová cura gratuitamente; assim, não era necessário oferecer presentes
caríssimos e ofertas valiosas para que a bênção do Senhor acontecesse —
contrariamente aos ídolos pagãos da Síria, cuja ganância nunca era alcançada, e
cuja resposta nunca chegava. A presença do Senhor na vida de Eliseu valia muito
mais do que aquela prata e ouro. Se ele aceitasse o presente, estaria trocando
a glória de Deus na sua vida pela riqueza dos presentes de Naamã, mas o profeta
sabia o que realmente era valioso na sua vida e, por isso, não trocou por nada.
O profeta perderia os presentes, mas não perderia a presença de Deus na sua
vida, pois essa presença era a garantia de que o seu ministério era abençoado e
frutífero.
Mais
uma vez, fica em evidência o caráter do homem de Deus, Eliseu, que não aceitou
os presentes de Naamã em troca da bênção que lhe dera. Essa é a atitude de quem
não vende as bênçãos do Senhor e também de quem não se vende a si mesmo, pois
aceitar presentes de pessoas importantes tirar-lhe-ia a autoridade profética sobre
eles. Tanto Elias quanto Eliseu eram honestos consigo mesmos e com Deus para
não se deixarem vender. – O exemplo de Eliseu é uma denúncia à ganância de
muitas pessoas hoje em dia que mercadejam os seus ministérios e aquilo que o Senhor
gratuitamente oferece ao povo. Eliseu adverte que Deus não é uma mercadoria que
se pode manipular em benefício próprio para ganhar dinheiro, ficar famoso ou
ter prestígio. – Geralmente, quando se procura o dinheiro, a fama ou o
prestígio, ficam de lado a ética e o respeito, pois, para atingi-los, torna-se aceitável
ferir, lograr e manipular. “Atrás da fama vem o poder e o orgulho, e estes
destroem relacionamentos, a confiança, o diálogo e a integridade.”
Infelizmente, essa é a realidade de muitos líderes religiosos no Brasil, que
manipulam a religiosidade e a simplicidade do povo para obterem favores
pessoais. Os seus discursos operam no sentido de trabalharem com o medo e a
ganância, presentes no coração humano, para obterem o seu desejado sucesso.
Claro que essas características são subjetivas, e nem sempre o líder consegue discerni-las,
pois estão enraizadas e tornaram-se um hábito no seu coração.
A cura
e a bênção de uma pessoa podem resultar em maldição para outra, assim como foi
com Geazi, que não entendeu o grande propósito de Deus na vida de Naamã e, por
isso, deixou-se levar pela ganância. - Os pensamentos de Geazi, ajudante de
Eliseu, prenderam-se nos presentes de tal forma que ele não resistiu e,
inventando uma mentira, foi atrás de Naamã e usurpou dele 60 quilos de prata.
Isso mostrou o caráter distorcido de Geazi, que, além de ganancioso, também
inventou uma mentira, demonstrando com isso que esses tipos de pecados não
acontecem sozinhos, mas são acompanhados de vários outros pecados. Ele mentiu
para Naamã e também tentou mentir para Eliseu, só que o Espírito Santo, que não
se deixa zombar, já tinha discernido para Eliseu o que estava acontecendo, ao
que a lepra de Naamã passou para Geazi. – A prata e o ouro de Naamã estavam
contaminados com a lepra do pecado e da idolatria, que foi outro dos motivos de
Eliseu rejeitá-los; mas, para Geazi, tornaram-se uma tentação desastrosa. Ao
querer o tesouro, Geazi recebeu embutido nele a lepra. Essa triste realidade aponta
para o fato de que as bênçãos e os dons de Deus são inegociáveis, podendo até
mesmo tornar-se maldição quando manipulados de forma errada e com interesses
espúrios, como fez Geazi.
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“O pecado de Geazi. Foi um pecado
complicado. 1. O amor ao dinheiro, aquela raiz de
todos os males, estava na base do pecado. Seu senhor desprezou os tesouros de
Naamã, mas ele os cobiçou (v.20). Seu coração estava guardado nas bagagens de
Naamã e Geazi devia correr atrás dele para pegá-lo. Multidões, por cobiçarem as
riquezas do mundo, se transpassaram a si mesmos com muitas dores.
2. Ele
censurou a seu senhor por recusar presente de Naamã, condenou-o como
tolo por não receber ouro quando podia tê-lo feito, cobiçou e invejou a sua
bondade e generosidade a esse estrangeiro, embora fosse para o bem da alma
dele. Resumindo, ele se achou mais sábio do que o seu senhor.
3. Quando
Naamã, como uma pessoa de maneiras polidas, desceu de sua carruagem
para encontrá-lo (v.21), Geazi lhe disse uma mentira deliberada, que o seu
senhor o enviara até ele, e assim recebeu, para si mesmo, aquele presente que
Naamã pretendia dar ao seu senhor.
4. Ele
abusou de seu senhor, e de maneira vil o representou diante de Naamã
como alguém que tinha se arrependido de sua generosidade, que era inconstante
como quem não sabe o que quer, que dizia e voltava atrás, que não fazia uma
coisa honrável, mas que logo devia desfazer novamente. A sua história dos dois
filhos dos profetas era tão tola quanto falsa. Se ele tivesse implorado uma
oferta para os dois jovens estudantes, com certeza menos do que um talento de
prata seria o bastante.
5. Havia o perigo de ele desviar
Naamã daquela santa religião à qual acabara de aderir, e diminuir a boa opinião que tinha a respeito dela.
Ele poderia então dizer, como os inimigos de Paulo insinuaram a respeito dele
(2 Co 12.16,17), que, embora o próprio Eliseu não tivesse sido um peso, ainda sendo
astuto, ele o apanhou com fraude, enviando aquele que o cobrava” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo
Testamento: Josué a Ester Edição Completa. Rio de Janeiro: CPAD, 2010,
p.566).
CONCLUSÃO
A cura de Naamã nos mostra que Deus está
disposto a perdoar e salvar a todos, independentemente de posição social ou
nacionalidade. E, apesar de muitas vezes não compreendermos, o Senhor opera
maravilhas de formas diferenciadas (2 Rs 5.11,12). Naamã, a princípio, não havia entendido o caminho para a
cura, mas assim que a recebeu, reconheceu o Senhor como único e verdadeiro
Deus. – Esse
milagre que Deus realizou através de Eliseu foi ratificado por Jesus num dos
seus discursos, quando explicou por que não faria milagres na sua terra. Diante
dos olhos estupefatos das autoridades religiosas que duvidavam da sua
messianidade, Jesus disse: “E muitos leprosos havia em Israel no tempo do
profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro” (Lc 4.27).
REFERÊNCIAS
LIÇÕES BÍBLICAS. 3º
Trimestre 2021 - Lição 8. Rio de Janeiro: CPAD, 21, ago. 2021.
POMMERENING, Claiton Ivan. O
plano de Deus para Israel em meio à infidelidade da nação. Rio de Janeiro:
CPAD, 2021.
STAMPS, Donald C. Bíblia
de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.
WIERSBE, Warren W. Comentário
Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, v. II Históricos,
p. 449. Santo André: Geográfica, 2010.
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