COMENTÁRIO E SUBSÍDIO
INTRODUÇÃO
O ministério de Eliseu foi marcado por
acontecimentos extraordinários. Nesta lição estudaremos sobre três deles: o
milagre das águas que alagaram um vale, sem que houvesse chuva; a multiplicação
do azeite da viúva; e a aniquilação da morte presente na panela de ensopado
servido por um dos servos do profeta. Nos três eventos estão evidentes a fé, a
obediência e a poderosa unção de Deus sobre o profeta Eliseu. Eliseu foi um dos profetas que mais
realizou prodígios, mais até do que Elias, o seu mestre. Listaremos alguns
deles: (1) dividiu o rio Jordão em duas partes para passar a seco (2 Rs 2.14);
(2) sarou as águas de Jericó (2.22,23); (3) quarenta e dois adolescentes foram
despedaçados por duas ursas (2.23,24); (4) providenciou água a três reis e aos
seus exércitos (3.15,16,20); (5) previu a vitória desses reis (3.19); (6) aumentou
o azeite da viúva de um dos filhos dos profetas (4.6,7); (7) profetizou que a
sunamita teria um filho (4.16); (8) mais tarde, ressuscitou o filho da sunamita
quando este havia ficado doente e morreu (4.19,35); (9) tirou a morte da panela
(4.41); (10) multiplicou pães (4.42-44); (11) curou Naamã de lepra (5.14); (12)
colocou a lepra de Naamã em Geazi, o seu auxiliar (5.27); (13) fez flutuar um machado
(6.6,7); (14) cegou os homens do exército siro (6.18); (15) devolveu-lhes a
visão (6.20); (16) profetizou o fim da fome e do cerco da Síria (7.1); (17)
predisse a morte do capitão do rei (7.2); (18) profetizou a morte de Ben-Hadade
e o reinado de Hazael (8.10,13); (9) e, depois de morto, ressuscitou um defunto
(13.21). – Eliseu, assim como Elias, era de um temperamento forte. Assim que
Elias foi tomado dele, talvez pela dor da ausência do seu mentor, ele bateu nas
águas do rio Jordão com a capa de Elias e questionou: “Onde está o Senhor, Deus
de Elias?” (2 Rs 2.14). Ele irritou-se com os meninos que caçoaram da sua
calvície (2.23,24), foi irônico com o rei idólatra Jorão (3.13) e castigou a
Geazi com a lepra de Naamã por causa da sua ganância e mentira (5.27). Esses episódios
demonstram que Eliseu não escondia os seus sentimentos de ninguém, bem como
apontam para a sua honestidade e verdade nas palavras e ações. – A
personalidade de Eliseu é muito bela quando da sua rejeição à espetacularização
ministerial. No caso de Naamã, numa conversa com esse alto oficial do rei,
Eliseu trata-o como qualquer outra pessoa, apenas lhe enviando um recado. Já na
ressurreição do filho da mulher que havia sido estéril, ele tranca-se num
quarto sozinho com o menino e ressuscita-o sem que ninguém o veja. Ele poderia
ter usado esses episódios para promover-se diante da opinião pública ou de
pessoas importantes, pois o primeiro personagem era um político influente, e a
mulher era rica; ele, porém, preferiu deixar que a glória fosse de Deus nos
milagres que realizou. – Outras qualidades de Eliseu ficam em
evidência diante de alguns episódios da sua vida. Por exemplo, ele não aceitou
presentes em troca do milagre de Naamã. Esse desprendimento já havia sido
mostrado quando do seu chamado, em que abandonou tudo o que possuía para seguir
Elias. Depois, ele teve a oportunidade de matar um exército inteiro da Síria,
que era inimigo de Israel, mas, ao invés disso, pediu que lhes servissem comida
e que os liberassem vivos. Eliseu também chorou de compaixão ao entregar uma
profecia a Hazael, pois percebeu o sofrimento que este infligiria sobre Israel.
I. ELISEU SALVA TRÊS REIS E SEUS
EXÉRCITOS
1. Reis bons e maus. No período do reino dividido houve a alternância de reis
bons e maus. Esta distinção entre bons e maus não leva em conta apenas o modo
como esses reis administravam o reino ou lideravam o povo, mas a forma como
eles se relacionavam com Deus. Portanto, ao se referir a um determinado rei
como mau, o autor do livro de Reis está dizendo que esse monarca além de
desobedecer e desprezar a Deus em seu culto, promovia a adoração de ídolos.
2. Três reis vão à guerra contra
os moabitas. Jorão, rei de
Israel, que como seu pai Acabe, fora reprovado pelo Senhor; Josafá, rei de
Judá, considerado um excelente monarca, em razão de promover a adoração ao
verdadeiro Deus; e o rei de Edom, que era vassalo de Judá (2 Rs 3.9). O que motivou a guerra foi a rebelião dos moabitas que,
à época, pagavam pesados impostos ao rei de Israel (2 Rs 3.5).
3. A predição de Eliseu se
cumpriu. Em respeito a
Josafá, Eliseu, cheio do poder de Deus, previu que águas em abundância
alagariam, milagrosamente, toda aquela região, sem a ação dos ventos e sem
chuva (2 Rs 3.17). O Senhor não
apenas realizaria este milagre, mas também lhes entregaria a vitória sobre os
moabitas (2 Rs 3.18).
Na
linha sucessória dos reis de Israel e Judá, durante o reino dividido,
sucederam-se bons e maus reis. O Reino do Norte, Israel, geralmente com reis
maus, e, no Reino do Sul, Judá, geralmente com bons reis. A classificação em
bons e maus não leva muito em conta a administração e liderança de tal rei,
mas, sim, como teologicamente esse rei relacionava-se com Deus; portanto,
quando se fala de um mau rei, o autor do livro de Reis refere-se ao fato de que
esse rei desprezava ao Senhor na sua adoração e promovia a adoração a ídolos. –
Com a morte de Acabe, quem assumiu o reino de Israel foi o seu filho Acazias,
mas este logo morreu, e Jorão, o seu irmão, assumiu o seu lugar. O seu reinado
foi marcado pela continuidade, embora mais branda, da adoração aos deuses falsos
que foram promovidos por Acabe e Jezabel. Quando o rei de Moabe, que era
vassalo do reino de Israel, soube da morte de Acabe e do curto reinado do seu filho
Acazias, aproveitou a oportunidade da fragilidade de Israel para rebelar-se e
não enviou mais os impostos que foram exigidos como reino vassalo de Israel.
Esse foi o motivo pelo qual o rei Jorão convidou o rei de Judá, Josafá, e o rei
de Edom para guerrearem contra Moabe e reaverem o domínio sobre esse reino. – O
episódio em que Eliseu salva os três reis acontece quando eles vão à guerra
contra Mesa, rei dos moabitas, que, nessa época, era vassalo de Israel e
pagava-lhe impostos. O rei de Israel era Jorão e, como visto anteriormente, foi
um mau rei. O rei de Judá era Josafá, e este foi classificado como um bom rei,
pois promovia a adoração a Deus. O outro rei era de Edom, e o texto não cita o
seu nome. Josafá foi um bom rei em Judá, porque instituiu reformas
administrativas, religiosas e jurídicas importantes para a organização e melhor
funcionamento do povo de Deus, além de ter dado instruções para que os juízes
agissem de forma justa e equânime em todos os julgamentos e questões. Para que
isso acontecesse, ele percorreu pessoalmente várias regiões de Judá para
organizar essas questões. Ele também cuidou para que terminasse a longa
inimizade dos seus predecessores com o reinado de Israel. Para tal, casou o seu
filho Jorão com Atalia, filha de Acabe. Josafá também se aliançou com Acabe,
rei idólatra e rebelde contra Deus, para guerrear. Essas alianças foram uma
falha contra a fidelidade de Deus, ao que foi repreendido pelo profeta Jeú:
“Devias tu ajudar ao ímpio e amar aqueles que ao Senhor aborrecem? Por isso,
virá sobre ti grande ira de diante do Senhor” (2 Cr 19.2,3). A sua aliança com
Acabe quase lhe custou a vida. Mais adiante, ele também fez aliança com Jorão,
o filho de Acabe, para lutar contra Moabe, como visto neste texto.
A
viagem que os três exércitos empreenderam para subjugar Moabe durou sete dias,
e faltou água para o exército, o que comprometeu a campanha de guerra. Assim, o
rei Josafá, temente a Deus, solicitou um profeta do Senhor para resolver o
problema. Um súdito lembrou-se de que Eliseu estava nas proximidades, e mandaram
chamá-lo. Eliseu pediu que lhe trouxessem um músico para profetizar aquilo que
seria a vontade de Deus para aquele momento. Isso demonstra que algumas
profecias de Eliseu foram proferidas estando o profeta em um estado de êxtase
espiritual. A profecia de Eliseu foi estranha. Ele ordenou que cavassem muitos poços,
pois se encheriam de água, mas sem que houvesse chuva. Em respeito a Josafá,
Eliseu predisse a abundância de água que, milagrosamente, haveria no dia
seguinte e ainda predisse a vitória dos três reis sobre os moabitas.
SUBSÍDIO
DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Mais uma vez, estimule em seus alunos o estudo das
lições bíblicas. Copie no quadro o seguinte esquema:
• Ore ao Senhor dando-lhe graças e suplicando sua
direção e iluminação.
• Tenha à mão todo o material de estudo: Bíblia,
revista, dicionário bíblico, atlas geográfico, concordância, caderno para
apontamentos etc.
• Leia toda a unidade ou seção indicada pelo
professor. Procure obter uma visão global da mesma e o propósito do escritor.
• Leia outra vez a mesma unidade. À medida que for
estudando, sublinhe palavras, frases e trechos-chave. Faça anotações nas
margens do caderno ou revista.
• Feche a revista e tente recompor de memória as
divisões principais da unidade de estudo. Não conseguindo, abra a revista e
veja.
• Repita o passo acima.
• Sem consultar a revista, responda todas as perguntas do questionário. Em seguida consulte a matéria para ver se as respostas estão completas e corretas
II. ELISEU AUMENTA O
AZEITE DA VIÚVA
1. A situação das viúvas em
Israel. A vida das viúvas nos tempos
bíblicos era bem difícil, pois as mulheres daquela época dependiam dos seus
maridos para prover-lhes o sustento. É o caso da viúva de um dos discípulos dos
profetas de Israel. Após a morte do marido, a mulher ficou numa situação
complicada: falta de suprimentos, dívidas e a ameaça de seus filhos serem
vendidos como escravos (2 Rs 4.1,2). Deus ouviu o
clamor daquela viúva e supriu suas necessidades (2 Rs 4.3-7).
2. Uma única botija de azeite foi
suficiente para Deus operar o milagre. Após ouvir da mulher que não tinha nada além de uma vasilha de azeite, o
profeta disse a ela que tomasse vasilhas emprestadas com os vizinhos, e que ao
entrar em casa com os filhos, fechasse a porta. A ordem era derramar, em cada
vasilha disponível, o pouco de azeite que possuía, e pô-las à parte à medida
que ficassem cheias (2 Rs 4.2-4). E foi
justamente o que ela fez. Quando acabaram as vasilhas, o azeite cessou. Ela
vendeu o azeite, pagou a dívida e ainda pôde manter o sustento da família com o
que sobrou (2 Rs 4.6,7).
3. Fé, obediência e família
unida. Neste episódio da multiplicação
do azeite, percebe-se que a fé e a obediência são os ingredientes necessários
para que as bênçãos divinas sejam abundantes na vida de quem crê (Hb 11.6a). Às vezes,
o milagre que buscamos não acontece a partir de coisas extraordinárias. Basta
trabalharmos com o que Deus já nos deu, e exercer a fé em sua Palavra. Ao pedir
à mulher para fechar a porta, o profeta indicou que o milagre deveria acontecer
na intimidade da família (2 Rs 4.4,5). Isso significa que Deus se agrada de uma família unida
em torno de um ideal sagrado.
Embora
o hábito de escravizar pessoas em troca de dívidas fosse uma prática comum no
Antigo Oriente, a Lei Mosaica era mais branda a respeito, estipulando um prazo
para o pagamento da dívida para que ninguém se tornasse escravo para sempre de
alguém. Bentho salienta que se caso o marido deixasse alguma dívida, a viúva
era obrigada a assumir os compromissos financeiros do faltoso, o que implicava,
às vezes, a venda dos bens, na entrega dos filhos à servidão, e a todo tipo de
exploração da parte dos credores. Em Deuteronômio 10.18 o estado de inópia
(penúria) da viúva é declarado: falta pão e vestido — elementos básicos à vida
e à dignidade humana, enquanto em Jó é denunciado o pecado de se levar da viúva
o único boi como penhor (Jó 24.3). – Essa viúva foi afligida pelo seu credor,
que exigia o pagamento da dívida ou, então, a escravização dos seus filhos,
muito embora a Lei Mosaica previsse a assistência à viúva: “A nenhuma viúva nem
órfão afligireis. Se de alguma maneira os afligirdes, e eles clamarem a mim, eu
certamente ouvirei o seu clamor” (Êx 22.22,23). Deus, que está
sempre atento ao clamor do oprimido, ouviu a angústia da viúva e o seu risco de
ficar sem os filhos e, consequentemente, o fato de ela estar sem nenhum amparo
e sustento.
Eliseu, como um profeta do Senhor e exercendo um
ministério ainda mais extraordinário que o de Elias, pôde mostrar grande coragem
e ousadia para confrontar reis poderosos. Todavia, ele também foi sensível à necessidade
de uma pobre e insignificante viúva. Eliseu pediu à viúva que disponibilizasse
o que tinha em casa: apenas uma botija de azeite. Isso, porém, foi o suficiente
para o milagre acontecer. Uma pequena quantidade de azeite foi o suficiente
para ela e os seus filhos pagarem a dívida e ainda sobreviverem do resto, mesmo
em tempos de escassez. – Aquela mulher, num gesto de fé em Deus e confiança na
palavra do homem de Deus, tomou emprestado todas as vasilhas que encontrou
entre os vizinhos e, em obediência à palavra do profeta, começou a derramar o
azeite da botija nas vasilhas, ao que, milagrosamente, se encheram várias
vasilhas de azeite, que ela vendeu. O milagre foi do tamanho exato para que a
necessidade da viúva fosse suprida. Quando as vasilhas acabaram, também acabou de
correr o azeite da botija. – Essa experiência demonstra o cuidado de Deus nos
momentos de crise mais profunda, provendo meios de onde não poderiam vir naturalmente,
mas que, ao mesmo tempo, demonstram que o milagre provém daquilo que se tem nas
mãos, ainda que seja pouco.
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Situação das viúvas no Antigo Testamento. (a)
Pobreza e vulnerabilidade (1 Rs 17.8-15 [A viúva de Sarepta]. Na sociedade
patriarcal israelita, a condição de viúva era um risco social à mulher,
deixando-a vulnerável econômica e socialmente. Em Êxodo 22.21-24, a viúva é
classificada juntamente com o órfão e os estrangeiros. Elas são frágeis e
vulneráveis, razão pela qual necessitam de proteção legal e profética (Is
1.16-23; Jr 22.3). Além da angústia que acompanhava a viuvez, a perda da
proteção legal do esposo colocava a viúva em situação de pobreza e penúria.
Caso o marido deixasse alguma dívida, a viúva era
obrigada a assumir os compromissos financeiros do faltoso, o que implicava, às
vezes, na venda dos bens, da entrega dos filhos à servidão, e a todo tipo de
exploração da parte dos credores” (BENTHO, Esdras Costa & PLÁCIDO, Reginaldo Leandro. Introdução ao
Estudo do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p.255).
III. A MORTE QUE
HAVIA NA PANELA
1. A escola de profetas. Os filhos, ou discípulos, dos profetas estavam radicados
em Betel, Jericó e Gilgal (2 Rs 2.3,5,7,15; 4.38). Nessas escolas, os alunos eram encorajados a buscar uma
melhor compreensão da Palavra de Deus, desenvolviam um relacionamento com o
Senhor e contribuíam na manutenção da resistência contra a apostasia e a
idolatria que imperavam em Israel. Por isso eles eram perseguidos por alguns
reis (1 Rs 18.4).
2. A morte na panela. Foi na escola de profetas de Gilgal que Eliseu ordenou ao
seu servo que fizesse um ensopado para alimentar os discípulos (2 Rs 4.38). Provavelmente pela falta de conhecimento sobre plantas e
diante da escassez de alimentos, o rapaz pegou junto com os legumes uma espécie
de pepinos silvestres que continham veneno (2 Rs 4.39). A comida foi servida aos homens, mas logo que a
provaram, gritaram: “Há morte na panela!” (2 Rs 4.40). Eliseu pediu um pouco de farinha, colocou no caldeirão e
declarou que não havia mais perigo algum. Deus havia realizado o milagre!
Havia
uma escola de profetas em Gilgal, provavelmente estabelecida por Samuel e agora
dirigida por Eliseu. Este realizou três dos seus milagres em favor da escola de
profetas: (1) tirou o veneno que havia na panela; (2) multiplicou os pães e (3)
fez o machado que havia afundado na água flutuar. Os alunos eram chamados de
filhos de profetas porque eram como que adotados pelos seus mestres para
aprenderem com eles. – Nessa escola, os alunos aprendiam as leis de Deus,
desenvolviam um relacionamento com o Senhor da mesma forma como os profetas e,
especialmente, contribuíam como uma forma de manter a resistência contra a
apostasia e a idolatria que imperavam em Israel. – Eles também eram como uma
espécie de reserva moral e espiritual, pois os sacerdotes, que deveriam ser
responsáveis pelo ofício de ensinar o povo, haviam-se corrompido na tentativa
de manter o poder das instituições e com as benesses das ofertas dos reis. Por isso,
os profetas foram perseguidos por alguns reis (1 Rs 18.4) e tiveram que ser
protegidos. – Em todo tempo e lugar, os profetas verdadeiros são perseguidos, pois
estes “se intrometem” nas causas que os poderosos acham corretas e justas.
Profetas intrometem-se na injustiça, no pecado e no sofrimento desnecessário
que vêm sobre todas as criaturas por causa da negligência dos homens poderosos.
Profetas são comprometidos com a justiça e a compaixão. Esse chamado profético
de intrometermo-nos na injustiça vale para todos nós. Como Jesus mesmo disse:
“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é
o Reino dos céus” (Mt 5.10).
Eliseu,
através do Senhor retirou a morte que havia na panela. Aprendemos que a
alimentação espiritual deve ser feita com muito cuidado, pois facilmente se dão
alimentos contaminados por falsas doutrinas, muitas vezes até mesmo levados
pela ignorância, mas com bons motivos, só que esses bons motivos podem conter
palavras envenenadas pela inexperiência dos que se propõem a ensinar e pela escassez
de alimento saudável, que é a genuína Palavra de Deus. – Alimentação estragada
na escola de profetas aponta para o fato de que muito facilmente se podem
inserir doutrinas estranhas na mente de pessoas que ainda estão em fase de
crescimento espiritual, o que pode levá-las à morte espiritual. Portanto, é
preciso ter discernimento e rapidez na ação, como o fez Eliseu, para conter qualquer
indício de morte em nossas escolas, seminários e estudos bíblicos. Isso não
significa que se deve tolher e proibir a liberdade de pensamento e de
criatividade que o Espírito Santo concede àqueles que se debruçam sobre novos
aprendizados. Muito pelo contrário! Tirar a morte da panela igualmente
significa conter aquilo que vai trazer morte, estagnação ou mesmice, que também
leva à morte.
SUBSÍDIO HISTÓRICO
“Eliseu tornou-se discípulo e aprendeu com seu
mestre para, mais tarde, substituí-lo no ministério. Em algum ponto, outros
jovens profetas também se associaram a Elias e Eliseu e, quando Elias foi
levado para o céu, eles já existiam como uma comunidade de número considerável,
cuja base de ação eram as cidades de Betel e Jericó. Não há dúvida de que esses
homens viviam em um regime de internato, bem próximo ao sistema monástico. Isto
é evidente pelo fato de se multiplicarem em Jericó a ponto de o lugar tornar-se
pequeno. Então Eliseu os encorajou a construir alojamentos apropriados (2 Rs
6.1,2).
Antes de Elias ser transladado para o céu, foi
considerado em sua comunidade como o grande mestre. A transferência de seu
manto para o discípulo Eliseu significava indubitavelmente que este agora
substituía o mestre; e prontamente foi reconhecido pelos jovens profetas.
O termo que utilizavam para referir-se aos seus
mentores era ‘pai’, o que esclarece não apenas a forma como se sentiam a
respeito de seus líderes, mas também a significação da frase ‘filhos de
profetas’.
[…] Geralmente se faz uma distinção entre os
profetas canônicos que escreveram suas profecias e aqueles que, como Elias e
Eliseu, não deixaram nenhum registro (com exceção da breve carta de Elias em 2
Cr 21.12-15). Algumas vezes conclui-se, baseado nos escritos preservados, que
os profetas canônicos foram de alguma forma superiores ou mais teológicos que
os demais. Mas isso é uma proposição sem base, pois dois dos maiores profetas –
Moisés e Samuel – não são contados entre os canônicos […]” (MERRILL, Eugene H. História de Israel no Antigo
Testamento: O reino de sacerdotes que Deus colocou entre as nações. 6.ed.
Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p.403,04).
CONCLUSÃO
Nos três milagres apresentados na lição, percebe-se
que aconteceram mediante alguma iniciativa ou trabalho humano. Isto significa
que os milagres operados por Deus, na vida dos seus servos, acontecem em
cooperação com algum tipo de trabalho ou atitude humana. Deus tem compromisso
com pessoas de fé, mas que também sejam operantes e diligentes. – Nesses três milagres de Eliseu — a salvação do
exército com o provimento de água, a multiplicação do azeite da viúva e a
extinção da morte que havia na panela —, percebe-se que eles acontecem após
trabalhos que precisavam ser feitos para que ocorressem: na água para o
exército, foi preciso cavar muitas covas; no milagre da multiplicação do azeite
da viúva, foi preciso buscar vasilhas e derramar o azeite da botija dentro
delas; no episódio da morte na panela, mandou-se colocar farinha. Isso
demonstra que os milagres que Deus opera na vida dos seus servos acontecem
muitas vezes em cooperação com a operosidade humana, pois o Senhor tem compromisso
com pessoas que têm fé, mas também com aqueles que são diligentes e
trabalhadores. Não se pode ficar sentado esperando um milagre. Eles acontecem
no dia a dia, na operosidade, no estar andando e na ação cotidiana. Pode até
haver interrupções momentâneas no fluxo normal do andamento da vida diante das grandes
dificuldades, mas o passo seguinte é a ação que prepara o ambiente para o
acontecimento do milagre, que é antecedido pela ação humana em fé na promessa
do cuidado divino.
REFERÊNCIAS
BENTHO, Esdras Costa; PLÁCIDO, Reginaldo Leandro. Introdução ao
estudo do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.
LIÇÕES BÍBLICAS. 3º Trimestre
2021 - Lição 7. Rio de Janeiro: CPAD, 15, ago. 2021.
POMMERENING, Claiton Ivan. O
plano de Deus para Israel em meio à infidelidade da nação. Rio de Janeiro:
CPAD, 2021.
STAMPS, Donald C. Bíblia de
Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.
WIERSBE, Warren W. Comentário
Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, v. II Históricos,
p. 449. Santo André: Geográfica, 2010.
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