SUBSÍDIO I
A nova vida em Cristo
Aplicando a mensagem
Chegamos
à seção bíblica em que o apóstolo Paulo passa a tratar sobre a aplicabilidade
da doutrina. Os capítulos 12 a 16 de Romanos é a aplicação da mensagem que o apóstolo
desenvolveu ao longo de toda a epístola (Rm 1 – 11).
Vivemos
num tempo em que tudo o que se conhece o ser humano deseja aplicar na vida
prática sem fazer uma reflexão sobre as implicações da aplicabilidade desse
conhecimento. O tema das doutrinas bíblicas não foge desta ordem. É natural,
após de havermos estudado, que se pergunte: qual o efeito prático que a
doutrina da justificação pela fé tem para a vida?
O
apóstolo começa a responder a pergunta a partir do assunto da santificação: “Mas
transformai-vos pela renovação do vosso entendimento” (Rm 12.2). Ora, a base da
santificação do crente é a sua união com Cristo, pois a partir dessa união foi
que o crente rompeu com o pecado e andou em novidade devida conforme a eficácia
da ressurreição do nosso Senhor (Rm 6.4,10-11). Como o Espírito Santo é aquele
com quem nós andamos; por intermédio dEle, somos instados a viver somente para Deus
segundo a sua imperiosa vontade. Aqui, ocorre a vocação e o chamado para
vivermos uma vida de santidade.
No culto racional e nas virtudes
cristãs
Deste
modo, o crente nascido de novo tem uma ética fundamentada na obra da redenção.
A partir desta, somos chamados a cultuar o nosso Deus com entendimento e sabedoria
(Rm 12.1), sendo instrumento disponível de Deus para abençoar a vida dos nossos
irmãos por intermédio do uso dos dons (Rm 12.6-8). De modo que o amor suplanta e
se torna a grande medida dessa instrumentalidade. Ou seja, fomos separados para
amar sem fingimento; amar cordialmente uns aos outros; sermos intensos no
cuidado com o outro e fervorosos no espírito; alegrando-se na esperança, sendo
paciente na tribulação e perseverando em oração; comunicando a nossa
necessidade ao outro; sendo unânime naquilo que importa; não ambicionando as
coisas altas; não desejando o mal do outro; dando de comer e de beber ao
inimigo; não devolvendo o mal com o mal, mas com o bem (Rm 12.9-21).
Viver
esta santidade do amor não é fácil. Isto requer anular o nosso orgulho, soberba
e prepotência. Fomos justificados gratuitamente pela fé em Jesus Cristo. Deus
nos amou, apesar de nós. Então, não podemos pagar o mal na mesma moeda.
Em
Cristo, somos chamados e convocados a ser amorosamente santos!
Fonte: Revista Ensinador
Cristão, Ano 17 - nº 66 – abr/mai/jun de 2016.
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
A partir do capítulo 12, o apóstolo Paulo passa a
tratar não apenas do “crer”, como vinha fazendo até agora, e passa, então, ao
ético, isto é, ao “fazer” da vida cristã. Inicialmente, ele faz um apelo para
que os crentes tenham uma vida consagrada a Deus, e em seguida, apresenta
algumas recomendações a respeito do uso dos dons espirituais na igreja, o corpo
de Cristo. As orientações do Apóstolo nessa seção da Epístola demonstra sua
preocupação não apenas com a ortodoxia, mas também com a ortopraxia.
1. UM APELO
À CONSAGRAÇÃO PESSOAL (Rm 12.1,2)
Interessante que Paulo não ordena, mas apenas
“roga”, isto é, “admoesta, solicita, encoraja”, que é o sentido de parakaleo,
em grego. O apelo do apóstolo tem como base a grande misericórdia de Deus, não
os princípios legalistas dos judaizantes. O amor de Deus por nós nos motiva a
viver em total consagração a Ele, esse é o sacrifício que O agrada, não mais o
sangue de animais, como no Antigo Pacto (Hb. 13.15-19), esses sacrifícios são
denominados por Pedro, de “espirituais” (I Pe. 2.5), equivaleria ao que Paulo
denominou de “culto racional”. Para que isso se efetive, não mais podemos nos
conformar, ou seja, “entrar na forma” desse mundo. O mundo, aqui, é perverso ou
mal (Gl. 1.4) e dominado por Satanás, o seu príncipe, que cega a mente dos
incrédulos (II Co. 4.4). Não podemos mais pactuar com esse sistema anti-Deus
que prevalece no presente século, haja visto que “as coisas antigas se passaram
e eis que tudo se fez novo” (II Co. 5.17). Somos instruídos, portanto, a sermos
transformados, literalmente, transfigurados (ver Mt. 17.2; II Co. 3.18), pela
renovação da nossa mente. Essa renovação somente pode acontecer na medida em
que passamos a pensar com a mente de Cristo, e não com a nossa natureza
pecaminosa (II Co. 11.3; Ef. 1.18; I Co. 2.16). Assim, experimentaremos quão
boa, agradável e perfeita é a vontade de Deus, não apenas para Ele, mas também
para nós, assim, reconheceremos que não vale a pena pecar.
2. A IGREJA
COMO CORPO DE CRISTO (Ef. 1.22,23; 1 Co 12.12-23)
A igreja é o
corpo, do qual, Cristo é o cabeça (Ef. 1.22; Cl. 1.18,24). Como corpo, a igreja
tem muitos membros, mas continua sendo um só corpo (I Co. 12.12). Com essa
analogia, o Apóstolo pretende ressaltar o aspecto de unidade (não de
uniformidade) da igreja. Isso demonstra a necessidade da dependência mútua
entre os membros do corpo, sendo eles diferentes e ocupando lugares distintos,
todos são nobres, tanto a mão quanto o pé - os mais ativos, tanto a orelha
quanto o olho – os mais contemplativos (I Co.12.15,16). É preciso, todavia,
considerar que Deus colocou os membros no corpo como quis (I Co. 12.18). Isso
quer dizer que o próprio Deus dispôs, no corpo de Cristo, a diversidade de dons
- tanto espirituais quanto ministeriais (sobre esses ver Ef. 4.11) - com
objetivo de “guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef. 4.3),
“querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para
edificação do corpo de Cristo; Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao
conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa
de Cristo” (Ef. 4.12,13).
3. O USO DOS
DONS ESPIRITUAIS
É comum os
cristãos pensarem que os dons espirituais se restringem aqueles de I Co.
12.8-10, no entanto, Paulo nos apresenta outra lista, essa se encontra em
Rm. 12.6-8. Existem, de fato, algumas diferenças entres essas duas listas, no
entanto, em se tratando de dons ambos são espirituais, ou seja, partem do
sobrenatural ainda que se considere, especialmente em relação aos de Romanos,
uma participação mais efetiva do lado humano, e, menor, no de I Coríntios. Além
dessa diferença, os dons de I Co parecem ter uma atuação mais temporária, e
porque não dizer, instantânea, enquanto que os de Romanos, é mais duradoura.
I Coríntios
12.8-10
1) Palavra da Sabedoria – este dom, geralmente, transmite uma palavra de sabedoria para
orientar a igreja, assim como em Jo. 4.17,18; At. 6.10; 15.13-22.
2) Palavra do Conhecimento – esse dom vem da revelação de um conhecimento antecipado de uma
determinada verdade espiritual, como aconteceu em Jo. 4.23,24; At. 5.1-10; I
Co. 14.24,25.
3) Fé – esse dom
tem como objetivo a operação de milagres, não se trata, portanto da fé para a
salvação (Ef. 2.8,9), e muito menos da fé como aspecto do fruto do Espírito
(Gl. 5.22). Essa é a fé dada instantaneamente por Deus para a realização de
curas e milagres (Mt. 17.20; Mc. 11.22-24; Lc. 17.6).
4) Curas – no
plural, são concedido para à restauração da saúde física, por meios divinos e
sobrenaturais (At. 3.6-8; 4.30). O plural (dons) indica curas de diferentes
enfermidades e sugere que cada ato de cura vem de um dom especial de Deus.
5) Operação de milagres – atos sobrenaturais de poder que intervêm nas leis da natureza com o
objetivo de glorificar a Deus (At. 9.40; 13.9-11; 20.10; 27.43; 28.5).
6) Profecia – capacita
o crente a transmitir uma mensagem uma palavra ou revelação diretamente de
Deus, sob o impulso do Espírito Santo (I Co. 14.24-31), a igreja não pode ter
essas mensagens como infalíveis, pois há falsos-profetas (I Jo. 4.1), por isso,
toda profecia deve ser julgada (I Co. 14.29,32; I Ts. 5.20,21).
7) Discernimento de espíritos – para discernir e julgar corretametne as profecias e distinguir se uma
mensagem provém do Espírito Santo ou não. Esse dom é fundamental na medida em
que existem muitas distorções dos ensinos cristãos (I Tm. 4.1), eis alguns
exemplos: At. 5.3; 8.20-23; 16.16-18.
8) Variedade de línguas – não se trata de uma língua aprendida, e, geralmente, não é entendida
nem pelo que fala (I Co. 14.14) nem pelo que a ouve (I Co. 14.16). Quem fala em
línguas edifica-se a si mesmo, por isso, quem fala línguas ore para que haja
interpretação (I Co. 14.3,27,28).
9) Interpretação de línguas – capacidade concedida pelo Espírito Santo, não através do conhecimento
prévio de determinado idioma, para que o portador do dom compreenda e transmita
o significado de uma mensagem dada em línguas (I Co. 14.6,13,16).
Romanos
12.6-8
10) Serviço
– disposição, capacidade e poder, dados por Deus, para alguém prestar
assistência prática ao membros e aos líderes da igreja, a fim de ajuda-los a
cumprir suas responsabilidades para com Deus (At. 6.2,3).
11) Ensinar –
disposição, capacidade e poder, dados por Deus, para o crente examinar e
estudar a Palavra de Deus, e de esclarecer, expor, defender e proclamar suas
verdades para que as pessoas cresçam em graça e piedade (I Co. 2.10-16). É
preciso que haja dedicação para o desenvolvimento desse dom (Rm. 12.7; I Tm.
4.14-16).
12) Exortar –
disposição, capacidade e poder, dados por Deus, para que, através da
proclamação da Palavra de Deus, as pessoas sejam estimuladas a se dedicaram
mais a Deus e se separarem do mundo (At. 11.23; 14.22; 15.30-32).
13) Repartir –
disposição, capacidade e poder, dados por Deus, para que o crente contribua
livremente a fim de suprir as necessidades da obra ou do povo de Deus (II Co.
8.1-8; Ef. 4.28; At. 2.44,45; 4.34,37).
14) Presidir (Governar)
– disposição, capacidade e poder, dados por Deus, para o crente conduzir e
administrar as várias atividades da igreja, visando o bem espiritual de todos
(Ef. 4.11,12: I Tm. 3.1-7: Hb. 13.7,17,24).
15) Misericórdia –
disposição, capacidade e poder, dados por Deus, para o crente ajudar e consolar
os necessitados e aflitos, não levando em conta o merecimento (Ef. 2.4; At.
9.36-39).
CONCLUSÃO
Os dons espirituais, conforme nos instrui o
apóstolo, são dados para “cada um para o que for útil” (I Co. 12.7) e visam,
sobretudo, a edificação e a santificação da igreja (I Co. 12.7). Tantos os dons
de I Co. 12.8-10 quanto os de Rm. 12-6-8 são espirituais, contudo, esses
últimos se diferenciam dos primeiros pelo fato de terem um caráter mais
permanente, como também acontece com os dons ministeriais de Ef. 4.11, enquanto
que os de I Co. 12.8-10 são dados instantaneamente, de acordo com a vontade do
Espírito (I Co. 12.11) para satisfazer os anelos dos crentes em consonância com
as necessidades da igreja (I Co. 12.31; 14.1).
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog subsidioebd
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
A
conexão entre tudo o que Paulo escreveu anteriormente (capítulos 1 a 11) e o
capítulo 12 de Romanos é feita por intermédio do uso da partícula grega oun,
traduzida em português como portanto, pois. Nesse contexto, o uso
dessa partícula pode se referir a tudo aquilo que o apóstolo havia escrito
anteriormente ou pode também se referir àquilo que ele escreveu na seção que
compreende somente os capítulos 9 a 11. O fato é que esse texto não está fora
de lugar. Paulo havia tratado em detalhes sobre a justificação pela fé e como
Deus, em sua soberania, tratou com os gentios e judeus nesse processo. Agora
ele quer que os crentes tomem consciência de que tudo isso tem implicações
práticas na nova vida em Cristo. [Comentário: O capítulo 12 é iniciado com uma exortação para que os
crentes apresentem seus corpos a Deus como um “culto racional” (v.1). Qual o
significado desta expressão? Culto (grego latreia) é o serviço de
obediência a Deus em geral, ou atos específicos de louvor dirigidos a Deus;Racional (grego logikos) lógica, raciocínio; a
ideia principal tem a ver com discurso e raciocínio. Uma vez que entendemos o
que Deus tem feito por nós, faz sentido nos dedicar a ele em obediência e
serviço. O uso da palavra “oun” (pois) no v. 1 mostra que este
serviço razoável se baseia nas doutrinas estabelecidas anteriores. Paulo acabou
de falar sobre a profundidade da riqueza de Deus, que nos criou e nos deu a
salvação de graça (Rm 11.33-36). Por isso, devemos nos dedicar ao Senhor. Romanos
12.1 frisa um fato importante no estudo da palavra de Deus: O conhecimento da
palavra de Deus exige uma aplicação prática! Aprendeu, tem que viver! Depois de
estabelecer a base doutrinária, o capítulo 12 contém uma série de aplicações
práticas. Na linguagem de Tiago: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra, e
não somente ouvintes” (Tg 1.22), este é o nosso culto racional! A misericórdia
de Deus em salvar pecadores exige uma resposta de gratidão. O cristão deve se
apresentar a Deus como sacrifício vivo. Não deve se conformar com o mundo, pois
se transforma pela vontade de Deus.]
I. EM RELAÇÃO À MORDOMIA DA ADORAÇÃO (Rm 12.1,2)
1.
Uma exortação em forma de apelo. “Rogo-vos", conforme aparece na
versão Almeida Revista e Corrigida, traduz
o verbo grego parakaleo. Essa palavra tem, no original, o sentido de admoestar,
encorajar e exortar. Os léxicos destacam que esse termo era usado no
contexto militar quando um oficial queria exortar as tropas. As palavras
introdutórias de Paulo são, portanto, um apelo exortativo. Os crentes deveriam
levar em conta tudo o que ele havia ensinado até então e procurarem se ajustar
à nova vida em Cristo. As doutrinas bíblicas, mesmo aquelas mais complexas, não
devem promover apenas especulações teológicas, mas fomentar no crente a piedade
cristã. [Comentário: Rogar significa pedir com instância alguma coisa a alguém,
querendo encarecidamente recebê-la. Rogar é mais que pedir. Rogar é uma
súplica. Assim, Paulo está pedindo com fervor de sentimento alguma coisa aos
crentes de Roma. O que ele pede? E como pede? O crente deve ter uma paixão
sincera por agradar a Deus, no amor, na devoção, no louvor, na santidade e no
servir. Nosso maior desejo deve ser uma vida de santidade, uma vida que
glorifique a Deus. Para isso, precisamos separar-nos do mundo e aproximar-nos
cada vez mais de Deus (v. 2). Devemos viver para Deus, adorá-lo, obedecer-lhe; opor-nos
ao pecado e apegar-nos à justiça; resistir e repudiar o mal, ser generosos com
o próximo na prática de boas obras, imitar a Cristo, segui-lo, servi-lo, andar
na direção do Espírito Santo e ser cheio dEle.]
2.
Uma palavra concernente ao corpo. 0 apóstolo solicita aos crentes romanos
[...] “que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, que é o vosso culto racional" (Rm 12.1). Três coisas são ditas aqui
sobre o corpo como instrumento de adoração. Em primeiro lugar, o corpo deve ser
oferecido em sacrifício. A palavra grega usada aqui pelo apóstolo é thüsia,
que significa sacrifício ou oferta. O paralelo é feito com o
sistema de sacrifícios levítico do Antigo Testamento. Em segundo lugar, esse
sacrifício, ao contrário daquele da Antiga Aliança, deve ser apresentado vivo e
não morto. Em terceiro lugar, esse sacrifício deve ser santo. A ideia de
algo que foi separado exclusivamente para o serviço de Deus. Assim fazendo, o crente
terá a garantia que estará agradando a Deus na sua adoração. [Comentário: Sacrifício vivo - A nova ordem tem os
seus sacrifícios, que não consistem nas vidas de outrem, como os antigos
sacrifícios de animais (Hb 13.15; lPe2.5). Uma aparente contradição de termos;
contraste com sacrifício de animais mortos do Antigo Testamento; oferecer a
própria vida em adoração a Deus; Sacrifício
santo: o corpo oferecido em sacrifício santo é o templo do Espírito Santo
(1Co 6.19; Ef 2.21; 1Ts 4.4). O termo logikên
latreian - ocorre apenas em
Rm 12.1, mas era popular entre os filósofos gregos. Como um sacrifício vivo
pode ser percebido, no sentido prático? O versículo que se segue nos ajuda a
compreender: Somos um sacrifício a Deus ao não nos conformarmos com este mundo.
Como podem os crentes não se conformarem com o mundo? Por serem
"transformados pela renovação do vosso entendimento." (Rm 12.2). Veja
6.13,19; o verbo grego aqui é o mesmo que ali é traduzido por "oferecer".
Agora Paulo expõe com mais pormenores aquilo que está envolvido em
apresentar-se os cristãos a Deus para serem usados no Seu serviço.]
3.
Uma palavra concernente à mente. Assim como o nosso corpo deve ser
ofertado em sacrifício vivo a Deus, da mesma forma a nossa mente também precisa
ser (Rm 12.2). Para que a adoração seja verdadeira ela precisa ser realizada
por pessoas com a mente transformada. Essa transformação, como mostra o
original metamorphousthe, de onde vem o vocábulo metamorfose, significa
ser transformado em nossa mais profunda natureza interior. [Comentário: O vosso culto racional. – “O vosso serviço racional” ou “razoável”, isto é, o culto oferecido
pela mente e pelo coração, este é o culto que os crentes, como criaturas
racionais, devem oferecer. O serviço prestado por vidas obedientes é a única
resposta razoável ou lógica à graça de Deus. O não conformismo com o mundo só é
possível através da renovação da mente (v. 2). O verbo grego é metamorphoõ, traduzido
por “transfigurar-se” nas narrativas da transfiguração em Mateus 17.2; Marcos
9.2. O único outro lugar onde aparece no Novo Testamento é 2 Coríntios 3.18,
referindo-se aos crentes "transformados" na imagem do Filho “de
glória em glória” (ou “de um grau de glória a outro”) pela operação do
"Senhor, o Espírito". Paulo evoca a figura do serviço religioso do
templo e acrescenta uma qualificação - racional, ou seja, espiritual, integral;
o sacerdócio cristão não há a oferta de alguma coisa, em certo tempo e espaço,
mas a oferta de si mesmo à Deus o tempo todo e em todo lugar (Ver Jo 4.21-24).
Finalizando este tópico, é digno de nota que o nosso sacrifício é vivo pela
vida de Cristo, santo pela santidade de Cristo e aceitável pela perfeição de
Cristo.]
II. EM RELAÇÃO À DO EXERCÍCIO DOS DONS (Rm 12.3-8)
1.
Exercitá-los com moderação e humildade. A palavra dons
(gr. cha- rismata) que aparece no versículo 6, é a mesma palavra usada por
Paulo em 1 Coríntios 12.4 em referência aos dons espirituais. 0 mesmo amor de 1
Coríntios 13, que regulamentou o uso dos dons, deve ser aqui praticado. Paulo
já havia falado muito sobre a graça (gr. charis) e é em nome
dessa graça, que a ele foi dada, que pede moderação e humildade na mordomia dos
dons espirituais. Ninguém que exercitasse os dons espirituais deveria achar que
era alguma coisa independente da graça. É exatamente isso o que significa o
vocábulo grego yperphroneo, traduzido aqui como "pensar de si mesmo
além do que convém". [Comentário: Os dons espirituais são uma dotação sobrenatural concedida
pelo Espírito Santo ao crente, para o serviço e execução dos propósitos de Deus
na igreja e através dela. Os dons espirituais, portanto, não são qualidades
humanas aprimoradas e abençoadas por Deus. São sete as principais passagens que
tratam sobre os dons espirituais: 1 Co 12.1-11,28-31; 13; 14; Rm 12.6-8; Ef
4.7-16; Hb 2.4; 1 Pe 4.10,11. Além destas, há muitos outros textos da Bíblia
sobre o assunto. A marca das obras das mãos de Deus é a diversidade, não a
uniformidade. Assim é com a natureza; é assim também com a graça, e em nenhum
lugar mais do que na comunidade cristã. Nesta há muitos homens e mulheres das
mais diversas espécies de origem, ambiente, temperamento e capacidade. E não só
isso, mas, desde que se tornaram cristãos, são também dotados por Deus de uma
grande variedade de dons espirituais. Entretanto, graças a essa diversidade e
por meio dela, todos podem cooperar para o bem do todo. Seja qual for a espécie
de serviço que se deva prestar na igreja, que seja feito de coração e com
fidelidade pelos que são qualificados por Deus, quer seja a profecia, o ensino,
a exortação, a administração, as contribuições materiais, a visitação aos
enfermos, quer a realização de qualquer outra classe de ministério. Para
ilustrar suas palavras, Paulo usa a figura do corpo humano, como já fizera em 1
Coríntios 12.12-27. Cada parte do corpo tem sua função característica a
desempenhar e contudo, num corpo sadio, todas as partes funcionam harmoniosa e
Ínterdependentemente para o bem do corpo todo. Assim deve ser na igreja, que é
o corpo de Cristo.]
2.
Exercitá-los respeitando sua diversidade. Paulo lembra
aos romanos que a moderação e a humildade são indispensáveis no exercício dos
dons. Ele também os faz recordar que Deus não quer exclusivismo no exercício
dos dons (Rm 12.4). A individualidade deve ser respeitada, porque o Espírito
usa pessoas, mas o individualismo deve ser rejeitado. Os dons são diversos,
assim como diversos são os membros do corpo (Rm 12.5). Não existe um corpo
formado somente por um membro, da mesma forma o Senhor não quer que os dons
operem através de uma única pessoa (Rm 12.6). Todos têm seu lugar no corpo de
Cristo. [Comentário: Pela graça que me foi dada - isto é, a "graça" ou o dom do apostolado (ver
1.5, 15.15). Conforme o versículo 6, cada membro da igreja recebeu uma
"graça" especial neste sentido, a qual deve ser exercida para o
benefício de todos. Tal como 1Co 12, Paulo lança mão da analogia do corpo, com
suas várias partes, para ilustrar a natureza da igreja. Ele salienta sua
unidade (v. 5), sua diversidade (v.6) e a necessidade de reconhecer os próprios
dons e fazer apropriado dos mesmos (v. 6-8).]
3.
Exercitá-los com esmero e regularidade. Paulo escreve
aqui no contexto de uma igreja local, e não tem a preocupação de separar os
dons espirituais dos ministeriais. Aqui, os crentes, quer sejam leigos quer
sejam clérigos, são convidados à prática dos dons espirituais (Rm 12.6-8). Os
dons, portanto, devem ser exercidos com dedicação e regularidade. Eles são
dádivas de Deus e precisam ser desempenhados no contexto da igreja. [Comentário: Paulo reconhece a grande variedade e a natureza prática
desses dons, bem como, o entrelaçamento dos dotes naturais com os dons
espirituais (1 Co 14.26,32,33,40). Toda energia e poder sem controle são
desastrosos. Deus nos concede dons, mas não é responsável pelo mau uso deles;
por desobediência do portador à doutrina bíblica ou por ignorância desta.
Portanto, os que recebem os dons devem: a) procurar saber o que a Palavra
ensina sobre o exercício daquele dom em particular; b) exercer o dom segundo a
Escritura; c) evitar desordens e confusões no uso dos dons.]
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“Paulo usou o exemplo do corpo humano para ensinar como os
cristãos devem viver e trabalhar juntos. Assim como os membros do corpo
funcionam sob o comando do cérebro, também os cristãos devem trabalhar juntos
sob o comando e a autoridade de Jesus Cristo.
Deus nos dá muitas habilidades e dons para que possamos edificar
a sua igreja. Para usá-los eficientemente, devemos: (1) entender que todas as
nossas habilidades e todos os nossos dons vêm de Deus; (2) entender que nem
todos são dotados das mesmas habilidades e dos mesmos dons; (3) saber quem
somos e o que fazemos melhor; (4) dedicar nossas habilidades e nossos dons ao
serviço de Deus, não para alcançar sucesso pessoal; (5) estar dispostos a
empregar as habilidades e os dons que temos com todo o nosso coração, colocando
tudo à disposição da obra de Deus, sem reter coisa alguma.
Os dons de Deus diferem quanto à sua natureza, poder e
eficiência, de acordo com sua sabedoria e bondade, não conforme a nossa fé
(12.6). Deus deseja conceder-nos o poder espiritual necessário para
desempenharmos cada uma de nossas responsabilidades. Mas não podemos obter mais
habilidades e dons mediante nosso esforço e nossa determinação para nos
tornarmos servos ou mestres mais eficientes. Deus concede os dons à sua igreja,
distribui a fé e o seu poder conforme a sua vontade. Nossa tarefa é sermos
fiéis e procurarmos formas de servir aos outros com aquilo que Cristo nos
dá" (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD,
p.1572).
III. EM RELAÇÃO À MORDOMIA DA PRÁTICA DAS VIRTUDES CRISTÃS (Rm 12.9-21)
1.
Exercitar o amor. Socialmente a palavra amor está
muito desgastada e quase sempre é associada apenas a sentimentos. Todavia, não
é esse o significado de ágape no Novo Testamento. O amor cristão é algo
que brota de dentro, do caráter de uma pessoa regenerada e passa a moldar o seu
comportamento (Rm 12.9,10). Dessa forma, o amor jamais pode ser algo fingido,
isto é, praticado com hipocrisia. Ele é algo autêntico. Vê o outro antes de si
mesmo. [Comentário: A palavra Agape é uma das palavras traduzidas por “amor” da
língua grega para o português. Na língua portuguesa, usamos a palavra amor para
descrever alguns sentimentos e atitudes distintas. Por exemplo, usa-se “amor”
tanto para o amor entre irmãos como para o amor entre um casal, apesar de serem
tipos de amor diferentes. Agape significa aquele amor fraterno, tipo o amor de
irmão, que cultiva afeição, boa vontade, bondade. É o tipo de amor que mais
exercitamos, ou que deveríamos exercitar no dia-a-dia. Este é o amor mais
sublime, mais alto, é a palavra usada para expressar o amor de Deus (Jo 3.16).
Este é o amor descrito em 1Co 13. Quando fala sobre o amor de Cristo usa-se a
palavra ágape, não fileo. Agape descreve um amor desinteressado, de alguém que
se dispõe a dar de si mesmo sem esperar receber nada em troca. É o amor que
leva alguém a oferecer a sua própria vida para salvar a outros. Ágape é o amor
afetivo isento de conotações sexuais, isento de segundas intenções, isento de
malícia e de interesses pessoais. Amor ao próximo é o tipo de amor que Cristo
nos ensinou.]
2. Exercitar o serviço cristão. Paulo aconselha os crentes em Roma a viverem a vida
cristã com intensidade. Nada de apatia ou vagarosidade: "Não sejais
vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor" (Rm
12.11). A palavra vagarosos traduz o termo grego okneros, que
possui também o sentido de preguiçoso, descuidado e indolente. Ser
fervoroso não significa ser fanático, mas ser alcançado peta graça e andar
segundo ela. A expressão “no espírito” tanto pode estar no caso locativo
grego, significando nosso espírito humano, como no instrumental, se referindo
ao Espírito Santo. Independentemente do caso que Paulo tenha usado, o sentido é
do Espírito Santo incendiando a vida do cristão fervoroso. [Comentário: A vida cristã só faz sentido neste
mundo quando servimos a DEUS e ao próximo em perfeito amor. O amor deve ser o
princípio-guia dos relacionamentos cristãos, não somente com os companheiros
crentes (v. 9-13), mas também com os inimigos (v 14-21). Paulo menciona muitos
deveres cristãos específicos, mas o amor é a nota dominante em todas as
exortações. Serviço é a disposição, ou capacidade, concedida por Deus, para o
crente servir e prestar assistência prática aos membros e aos líderes da
igreja. Este dom se manifesta em toda forma de ajuda que os cristãos possam
prestar uns aos outros, em nome de Jesus. Os que possuem este dom têm prazer em
ministrar aos santos as coisas materiais que lhes são necessárias. O dom do
serviço, como qualquer outro, é essencial para o bom funcionamento do corpo de
Cristo. Quem o tem deve exercê-lo empregando toda a sua energia, no temor do
Senhor.]
3.
Exercitar a resistência ao mal. Fechando essa seção, o apóstolo
aconselha: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12.21).
Em Romanos, encontramos o apóstolo Paulo se referindo ao mal (gr. kakos) quatorze
vezes. Em Romanos 7.19,21, ele apresentou esse mal como sendo sinônimo
da natureza adâmica pecaminosa e má, que quer conduzir o crente a fazer aquilo
que ele desaprova. Essa é a razão da guerra interior. Em Atos 16.28 Paulo
fala desse mal como um dano irreparável que uma pessoa pode causar a si mesma.
Aqui esse mal aparece como uma força oposta ao bem, que procura impedir o viver
cristão vitorioso. A recomendação bíblica é: “vença o mal com o bem”. [Comentário: Em um mundo de ódio, em que a lei é a vingança pelo mal
recebido, Paulo surpreende seus leitores de Roma, recomendando: “Não te deixes
vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem.” (v.21). No capítulo 12 de Romanos,
Paulo está falando como devemos viver a nossa nova vida como filhos de Deus.
Essa inclinação para o mal vai morrer junto com o nosso velho “eu” e seremos
novas criaturas (2Co 5.17). Paulo fala como deve ser as nossas atitudes a
partir do nosso novo nascimento. Essas atitudes serão o que farão a diferença.
Atitudes que nos ajudarão a vencer o mal. Ao invés de tomarmos nós mesmos a
vingança, devemos deixá-la nas mãos de Deus e, assim, dar lugar à ira. É Deus
quem exigirá vingança no julgamento final ou mesmo nesta vida. Agora é possível
o crente libertar-se do sentimento de vingança, de deixar-se vencer pelo mal
porque ele sabe que Deus corrigirá todos os erros em seu próprio julgamento
perfeito (Dt 32.35). A Bíblia nos ensina a demonstrarmos graça para com os
outros, enquanto Deus permanece paciente com o malfeitor (Pv 25.21-22).]
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“O serviço cristão em relação aos nossos irmãos na fé
(12.9-21)
Nestes versículos está a base do serviço cristão que é o
amor. Os deveres mencionados e todas as exortações devem estar debaixo do
princípio do amor.
12.9 – ‘O amor seja não fingido’. A palavra ‘fingimento’
fica melhor traduzida por hipocrisia, que no grego é anupokritos. Na
Versão Inglesa do Rei Tiago a expressão é: ‘sem dissimulação’. Portanto, o
sentido real é que, a demonstração de qualquer sentimento para com as pessoas
seja puro e ‘com toda a sinceridade’.
12.9 – ‘Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem’. Aborrecer o
mal é negar tudo que possa prejudicar a outrem.
Podemos servir aos
nossos irmãos na fé tendo uma atitude, não só de amor (v. 9), mas pelo espírito
fraterno desenvolvido entre todos (v. 10), pelo favor do espírito e serviço a
Deus (v. 11), pela esperança e paciência (v. 12), pela hospitalidade e a
generosidade entre os domésticos da fé (v. 13), pela participação sincera dos
sentimentos dos outros (v. 15), pelo perdão aos inimigos (v. 16), pela
retribuição do mal com o bem (v. 17) e por viver em paz com todos (v. 18).
12.9 – ‘Não vos
vingueis a vós mesmos’. Em outras palavras, a vingança pertence a Deus, por
isso, devemos deixar com Deus a vingança para com aqueles que nos maltratam.
Somos frágeis e incapazes de fazer vingança com justiça. A expressão ‘daí lugar
à ira’ não deve ser entendida como o dar razão à manifestação da ira, mas sim
com o sentido de dar tempo à ira para que ela se extinga, isto é, deixá-la
passar. Também tem o sentido de ‘dar lugar à ira de Deus’, à vingança divina,
uma vez que a ‘vingança pertence a Deus" (CABRAL, Elienai. Romanos: 0 Evangelho
da Justiça de Deus. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.137).
CONCLUSÃO
Nesta lição aprendemos que o capítulo
12 de Romanos forma um conjunto de exortações a respeito do viver a nova vida
em Cristo. Como observamos, essas exortações estão relacionadas a vários
aspectos do viver cristão e envolvem a mordomia da adoração cristã, onde é
mostrado o valor do corpo e da mente no serviço de Deus. Atenção é dada à
mordomia dos dons espirituais, onde Paulo combate a apatia e o individualismo.
A Igreja é o corpo de Cristo e como corpo ela deve viver. Por último o apóstolo
exorta a respeito do exercício das virtudes cristãs, destacando a prática do
viver cristão vitorioso. [Comentário: Os capítulos 12 a 15 são uma
característica do estilo paulino de dividir suas cartas mais teológicas em uma
parte dogmática e em outra prática, na qual faz as aplicações. Em Romanos, essa
divisão se dá no capítulo 12, onde, concluída a argumentação que expõe a
iniciativa redentiva de Deus, ele agora vai apresentar sua concepção de
resposta do homem à graça de Deus. Dentro da proposta inicial, extraída de
Habacuque “aquele que pela fé e justo, viverá”, o autor agora vai descrever a
segunda parte: “viverá”, ou seja, a vida daquele que foi justificado pela fé.
As orientações dadas aqui vêm como aplicação natural dos fatos doutrinários
apresentados nos primeiros onze capítulos. Todos os discípulos de Cristo,
judeus e gentios, devem as suas vidas à misericórdia de Deus. Devemos viver
como servos gratos, dedicando-nos ao serviço humilde.] “NaquEle que me garante: "Pela graça sois
salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”
Francisco
Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.
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