SUBSÍDIO I
O cultivo das relações interpessoais
O último capítulo de Romanos, o
16, é uma descrição de uma lista de pessoas que o apóstolo Paulo conhecia,
embora ele ainda não tivesse chegado à igreja de Roma: Febe, a portadora da
carta do apóstolo (v.1); Priscila e Áquila, casal que cuidou de Paulo em Corinto
(v.3); Epêneto, Amplíato e Pérside eram pessoas queridas do apóstolo, onde
demonstra um vínculo de comunhão do apóstolo devido à expressão “querido” (v.5,
8, 9,12); Maria, uma trabalhadora que por certo fora uma das fundadoras da
igreja, pois a expressão “muito trabalhou” evoca essa ideia (v.6); Andrônico e
Júnias, segundo os estudiosos do Novo Testamento, eram parentes do apóstolo,
bem como judeus (v.7); Amplíato, o “dileto amigo no Senhor” (v.8); Urbano, o
cooperador, e Estáquis como “meu amado” (v.9); Apeles, um homem “aprovado em
Cristo”, a família de Aristóbulo (v.10); Herodião, de acordo com o nome e o
contexto mencionado sugerem que ele pertencia a casa ou à família de Herodes
(v.11); Trifena e Trifosa, supõem-se que eram irmãs, e Pérside também era uma
mulher (v.12); Rufo, o “eleito do Senhor” e a mãe de Rufo que Paulo a
respeitava devido o seu acolhimento (v.13); Asíncrito, Flegonte, Hermes,
Pátrobas, Hermas e a todos os irmãos que estão com eles (v.14); Filólogo e
Júlia, Nereu e sua irmã, ao irmão Olimpase todo o povo que está com ele (v.15);
por final: “Saudai-vos uns aos outros com santo ósculo” (v.16).
Note a lista de pessoas que o
apóstolo Paulo conhecia sem ainda ter ido à igreja de Roma. Expressões como
“queridos no Senhor”, “a igreja que está em sua casa”, “dileto amigo”, “meu
amado” mostram o carinho e o relacionamento de ternura que o apóstolo cultivava
com as pessoas, mesmo de longe. Imagine a necessidade que temos de cultivar o
relacionamento de carinho e ternura com as pessoas que estão pertos: a nossa
família, a igreja onde congregamos e pessoas próximas de nós.
A importância da relação
interpessoal
A vida na igreja local é uma
grande oportunidade para termos um relacionamento de respeito e de muita
alegria com aqueles que chamamos de irmãos. Na igreja local, nos
relacionamentos com pessoas de diversas características: criança, adolescente,
jovem, adulto, terceira idade, pessoas portadoras de alguma deficiência. Ou
seja, é o nosso universo de relacionamento interpessoal. Neste aspecto, o
último capítulo de Romanos é um estímulo a doar-nos ao próximo em nome de Jesus.
Fonte: Revista Ensinador
Cristão, Ano 17 - nº 66 – abr/mai/jun de 2016.
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea está marcada pelo
individualismo, parafraseando um provérbio popular, tem sido “cada um por si e
o diabo contra todos”. Na aula de hoje, a conclusão da Epístola aos Romanos,
nos voltaremos para a importância do cultivo das relações interpessoais na
igreja. Inicialmente, destacaremos os perigos às relações iniciais no âmbito
eclesiástico. E ao final, apontaremos orientações bíblicas com vistas ao
investimento nas relações interpessoais da igreja.
1. AS
RELAÇÕES INTERPESSOAIS
As conclusões das Epístolas de Paulo, dentre elas a
de Romanos, identificamos a preocupação do Apóstolo com as relações
interpessoais na igreja cristã. No capítulo 16 nos deparamos com uma longa
lista de pessoas engajadas no ministério de Paulo. As palavras graciosas do
Apóstolo revelam o cuidado que esse tinha com as pessoas da comunidade de fé.
Essa atitude deve inspirar os crentes contemporâneos, sobretudo os líderes
eclesiásticos, para não se esquecerem que estão lidando com pessoas, não apenas
com coisas. Há pastores que se preocupam demasiadamente com os templos, mas não
atentam para as pessoas que estão dentro dele. É importante ressaltar que as
pessoas são mais importantes que as coisas, até mesmo que os rituais
religiosos. Esse foi o pecado daqueles religiosos que desmereceram o homem
jogado à beira do caminho, na parábola do Samaritano, contada por Jesus (Lc.
10.25-37). Uma das características principais do cristianismo deve ser a
inclusão. A igreja em Roma era formada por crentes judeus e gentios, homens e
mulheres, e todos foram instados por Paulo a viverem em união, mesmo com suas
diferenças (Rm. 16.1,2). As mulheres tiveram papel importante no ministério de
Paulo, ele destaca a atuação da irmã Febe, uma das servas do Senhor no Corpo de
Cristo. Como demonstra Lucas em sua narrativa, as mulheres também foram
importantes no ministério de Jesus, principalmente para o sustento financeiro
(Lc. 8.3). Priscila, que não por acaso seu nome é citado antes do nome do
esposo, foi uma mulher dedicada ao ministério (At. 18.2,18,26; I Co. 16.19; II
Tm. 4.19).
2. PERIGOS
ÀS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
A igreja deve ser um ambiente para o envolvimento
pessoal, por isso somos chamados de irmãos e irmãs. Fazemos parte da família de
Deus, por isso devemos nos tratar como membros de uma irmandade. Por causa do
individualismo predominante na sociedade contemporânea, muitas igrejas locais
estão sendo solapadas. Os crentes não se envolvem uns com os outros, eles têm
receio de mostrar suas limitações, sobretudo a normalidade. Há congregações em
que as pessoas não se envolvem, elas se reúnem durante a celebração do culto,
mas depois não sabem mais quem são. Esse individualismo reflete também no
descaso em relação às necessidades dos outros, quando alguém não consegue ter o
suficiente, pode até ser julgado por não ter se esforçado o suficiente. Esse
cristianismo, influenciado pela filosofia neocapitalista, está adoecendo não
apenas a sociedade, mas também as igrejas. A koinonia está em perigo, como no
tempo dos judaizantes, cada um olha para seu umbigo, ou como diz o ditado,
“puxa a brasa para sua sardinha”. O partidarismo está sendo normalizado na
igreja, tendo também a política como fonte de intrigas e interesses. Como nos
tempos de Paulo, há os “que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina
que aprendestes” (Rm. 16.17). Naqueles tempos havia duas filosofias que estavam
se infiltrando dentro das igrejas. O legalismo, que proibia tudo, e buscava
orientar os crentes para as práticas judaicas; e o gnosticismo, que era permissivo,
incitando os crentes ao antinomismo. O objetivo da igreja é glorificar a Deus
(Rm. 11.36), para tanto os crentes devem aprender a conviver, a se aceitarem em
suas diferenças, mas sem fazer concessões com a verdade do evangelho.
3. O CULTIVO
DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
O cultivo das relações interpessoais é fundamental
para o crescimento, principalmente o espiritual da igreja. Para tanto, cada
crente precisa passar por um processo de autoconhecimento, a fim de identificar
suas falhas, fraquezas e imperfeições (Rm. 12.3). Isso é possível por meio de
uma experiência cotidiana com o Senhor (Hb. 4.14-16), demonstrando sinceridade
diante dEle (II Co. 3.17-18), na busca constante pela maturidade espiritual
(Rm. 8.29; I Pe. 1.23-25). Esse é o princípio para perdoar os outros, e ser
ministro da reconciliação (Ef. 4.1-6), mantendo a unidade do Espírito, pelo
vínculo da paz. Deus perdoou a todos nós, e nos tratou com Sua graça
maravilhosa. De igual modo, devemos perdoar uns aos outros (Cl. 3.13), e
fundamentar nossos relacionamentos em humildade, seguindo o modelo de Cristo
(Fp. 2.6). Os crentes da igreja de Jerusalém aprenderam essa lição desde cedo,
pois todos os que criam estavam unidos, e tinham tudo em comum (At. 2.44). Isso
somente acontecia porque os crentes sabiam o que era o amor-agape, a base do
relacionamento fraternal (Rm. 12.10). Eles também se respeitavam, sobretudo os
mais jovens em relação aos mais velhos, em especial os que exerciam liderança
(Rm. 13.7; I Ts. 5.12,13). Viver em paz, exercitando graça e misericórdia, deve
ser o alvo de todo cristão (Rm. 12.18; 14.19; II Co. 13.11). É interessante
observar que Jesus sempre tinha compaixão das pessoas, ou para usar uma
expressão mais contemporânea, ele “se colocava no lugar do outro” (Mc. 8.2). O mundo
não sabe, mais precisa ansiosamente da igreja, pois essa, se souber a que veio,
poderá fazer toda a diferença. Por outro lado, devemos permanecer alerta, para
não nos deixar contagiar pela doença do individualismo, que está se
naturalizando na sociedade, inclusive na igreja.
CONCLUSÃO
Fomos chamados por Deus para viver em comunhão –
koinonia – e essa deve ser continuamente experimentada pela igreja. Para isso
precisamos aprender a conviver com as diferenças, e a nos aceitar como um em
Cristo. Precisamos, sempre que possível, criar oportunidades na igreja, a fim
de cultivar os relacionamentos interpessoais. Não podemos ser apenas
assistentes de cultos, mas pessoas engajadas, envolvidas umas com as outras,
assumindo a posição de membros do mesmo corpo, o de Cristo (Rm. 12.4,5; I Co.
12.27).
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog subsidioebd
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
Os vinte e sete versículos do capítulo
dezesseis da Epístola aos Romanos encerram a monumental obra literária de
Paulo. Por toda a obra, o apóstolo discorreu a respeito dos principais temas da
fé cristã e deixou-nos princípios fundamentais que são úteis para a construção
de relacionamentos interpessoais. De uma maneira informal, mas com o seu estilo
literário característico, Paulo traz à lembrança nomes de pessoas que, de uma
forma ou de outra, o ajudaram a construir a identidade cristã do primeiro
século. Ele não deixou que esses nomes caíssem no esquecimento, e, no final de
sua carta envia-lhes saudações, numa demonstração de gratidão a Deus por tudo o
que essas significaram para ele. [Comentário: As
epístolas de Paulo tipicamente terminam com notícias e saudações pessoais. Este
capítulo se destaca pelo grande número de crentes que foram mencionados. Estes
versículos nos dão um certo discernimento quanto ao calor das relações pessoais
do apóstolo, bem como quanto à comunhão entre os crentes. No versículo 1
“Recomendo-vos”, indica que esta é uma carta de recomendação da diaconisa Febe
(nome comum na mitologia grega, significava “brilhante” ou “radiante”). Foi ela
quem provavelmente levou a carta de Paulo para Roma. Há diversos outros
exemplos dessas cartas de apresentação ou recomendação no Novo Testamento (At
18.27; 1Co 16.3; 2Co 3.1; 8.18-24; Fp 2.19-30). Finalizando a Epístola, Paulo
se refere à diversas pessoas, demonstrando que conservava um relacionamento
interpessoal. Não era individualista e isto fica evidente pelo fato de fundar
comunidades e reunir em torno a si muitos colaboradores, de trabalhar em equipe
e de estabelecer relações de amizades, e na realidade todo o capítulo 16 da
epístola aos romanos é um testemunho eloquente da capacidade de Paulo de
estabelecer vínculos de amizade. Para Paulo a igreja não é um emaranhado de
propósitos e eventos culturais. Igreja é gente e trabalha na dinâmica dos
relacionamentos com Deus e com o próximo. A igreja não entendeu o seu conceito:
1Co 12.14-27]
I. A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
1.
Valorizando pessoas, não coisas. Paulo finaliza sua carta primeiramente
recomendando a irmã Febe, membro da igreja de Cencreia. Foi através dela que o
apóstolo enviou sua epístola à igreja que estava em Roma. A recomendação vem
acompanhada de uma observação na qual Paulo reconhece o serviço prestado por
ela à igreja de Cencreia: "[...] A qual serve na igreja que está em
Cencreia, para que a recebais no Senhor, como convém aos santos, e a ajudeis em
qualquer coisa que de vós necessitar; porque tem hospedado a muitos, como
também a mim mesmo" (Rm 16.1,2). Ela servia à igreja. O vocábulo servir,
usado aqui, traduz o termo grego diakonos, o que tem levado muitos
comentaristas a acreditar que ela era uma diaconisa da igreja. O fato é que o
apóstolo pôs em evidência a função em vez do ofício. Infelizmente, hoje as
coisas estão invertidas. 0 que vale mais hoje são os títulos e os cargos ao
invés do desempenho do serviço cristão. [Comentário: Diakonos é o termo grego para ministro/servo. É usado a respeito de Cristo em 15.8
e de Paulo em Ef 3.7 e Cl 1.23,25. Há evidências tanto no Novo Testamento
quanto nos escritos pós-bíblicos das igrejas sobre o ofício das diaconisas.
Todos os crentes são chamados e dotados para ser ministros de tempo integral
(Ef 4.12). Alguns são chamados para papéis de liderança ministerial. Nossas
tradições têm que abrir caminho para as Escrituras! Esses antigos diáconos e
diaconisas eram servos, não uma equipe de executivos. Cencréia era um dos dois portos de Corinto,
ficando este no lado leste (At 18.18). Paulo pede àquela igreja que “receba
gentilmente, como um convidado” (Fp 2.29) a esta senhora, em quem ele tanto
confiava e queria que a Igreja a recebesse e ajudasse, em favor dele. “aos
santos” – Este termo significa “os que são santos”. Descreve não apenas
a posição dos crentes em Jesus, mas também a esperança e expectativa de que
tenham vidas piedosas, que caracterizem progressivamente sua nova posição de
santidade em Cristo. O termo “santos” está sempre no plural, exceto uma vez (Fp
4.21), e mesmo então o sentido é coletivo. Ser cristão é ser parte de uma
comunidade de fé, uma família, um corpo. A igreja ocidental moderna está
depreciando cada vez mais este aspecto coletivo da fé bíblica! “e a
ajudeis em qualquer coisa que de vós precisar” – Aqui há dois subjuntivos
gregos: paristēmi, “estar perto, disponível, para
ajudar”, e chrēzō,
“ajudar com tudo que seja necessário” (2Co 3.1). Isto se refere a provisões
materiais para os ministros itinerantes. Este era o propósito das cartas de
recomendação.]
2.
O valor das mulheres. Paulo fala de Priscila e Áquila, como
tendo exposto suas vidas na causa do Evangelho (Rm 16.3). Esse casal era judeu
e havia sido expulso de Roma pelo imperador Cláudio. Agora haviam voltado à
capital do império. Outras referências ao mesmo casal são encontradas em Atos
18.2,18,26,1 Coríntios 16.19 e 2 Timóteo 4.19. Duas observações são importantes
na vida desse casal. Primeiramente, Paulo sempre cita Priscila em primeiro
lugar. Muitos comentaristas concordam que isso tinha uma razão de ser. Priscila
se destacava na obra do Senhor, sendo auxiliada por Áquila, seu esposo. Quem
não conhece uma irmã em Cristo que se destaca mais do que o esposo na causa do
Mestre? Paulo não cita apenas Priscila, mas cita outras mulheres de igual
destaque. No versículo 6, ele menciona uma mulher de nome Maria: "Saudai a
Maria, que trabalhou muito por nós". Pouco se diz dessa Maria, e o que se
sabe é que ela "trabalhou muito" na obra de Deus. Trabalhar aqui
traduz o termo grego kopiao, que significa trabalho voluntário. Maria
se deu voluntariamente para a obra de Deus. Precisamos de mais “Marias”. Que o Senhor
envie mais “Marias” para a sua obra. [Comentário: “Prisca e Áquila” – Este casal tinha por profissão a
fabricação de tendas, como Paulo (At 18.3). Ele estava com eles em Corinto.
Lucas a chama de “Priscila”. Ela é frequentemente mencionada antes do marido, o
que era muito incomum (At 18.18, 26; 1Co 16.19; 2Tm 4.19). Possivelmente ela
era da nobreza romana ou a personalidade dominante no casal. Paulo os chama de
“meus cooperadores em Cristo Jesus”. É possível que Paulo tenha sabido das
fraquezas e pontos fortes da igreja romana através deste casal. “expuseram
a sua cabeça” – Aqui foi usada uma expressão idiomática referente ao
risco de ser degolado ou decapitado pela guilhotina de um carrasco. A Bíblia
não esclarece o que Paulo tinha em mente com esta frase. “não só eu lhes agradeço, mas
também todas as igrejas dos gentios” – Paulo era muito grato pela amizade e ajuda ativa deste casal. Ele
mesmo relaciona o serviço deles a “todas as Igrejas dos gentios”. Que afirmação
e agradecimento arrebatador! Deve ser por causa do apoio e do relato sobre
Apolo (At 18.24-28). “a Igreja” – É digno de nota que este termo
refere-se às pessoas, não ao prédio. O termo significava “os chamados para
fora”. No grego da Septuaginta, usado para traduzir o termo hebraico qahal, “congregação”.
A igreja primitiva via a si mesma como o cumprimento da verdadeira “congregação
de Israel” do Antigo Testamento, como sucessores naturais, e não como
um grupo divisionista e sectário. “que
está em sua casa” – Os cristãos primitivos encontravam-se nos lares
(16.23; At 12.12; 1Co 16.19; Cl
4.15 e Fm 2). Os templos como locais de reunião para culto não surgiram até o
terceiro século d.C.]
3.
Irmandade e companheirismo. Na saudação seguinte, sentimos o peso
que tinha a comunidade cristã para Paulo e o valor do seu companheirismo (Rm
16.7,8). A igreja é o Corpo de Cristo. Ela é uma grande família.
Conscientizemo-nos da importância que tem a fraternidade cristã para a saúde da
igreja. Infelizmente a nossa espiritualidade segue mais um modelo de
condomínio, onde ninguém conhece ninguém, do que de uma casa de família, onde
todos se conhecem e se relacionam. [Comentário: No versículo 7 Paulo se refere a “meus
companheiros na prisão” –não há consenso sobre qual prisão ele se refere,
porque sofreu muito por causa da sua fé (2Co 4.8-11; 6.4-10; 11.25-28). Ele
esteve preso em Filipos, Cesaréia, Roma e provavelmente em Éfeso e outros
lugares (1Co 15.32; 2Co 1.8). Também não há consenso sobre “Junias” – este nome pode ser
masculino ou feminino, o que só pode ser determinado poracentos gráficos e há
variações em manuscritos gregos com “Iounian”, mas sem qualquer acentuação. As
traduções da Vulgata e Cóptica, bem como nos textos gregos usados por Jerônimo,
aparece “Ioulian”, que é nome feminino. Alguns estudiosos pensam que isso foi
erro dos copistas. É também interessante que a grafia “Junias” não foi
encontrada em nenhum outro lugar, na literatura romana ou em inscrições, mas o
nome “Junia” era muito comum. Trata-se de um sobrenome romano. O versículo sete
termina com “se distinguiram entre os apóstolos” - Isto pode
referir-se aos Doze e, se for o caso, estes dois eram bem conhecidos deles ou
de um grupo maior de ministros também conhecido como “apóstolos” (At 14.4, 14;
18.5; 1Co 4.9; Gl 1.19; Fp 2.25; 1Ts 2.6). O contexto implica no uso mais
amplo, como em Ef 4.11, mas o artigo definido implica nos Doze; “que foram antes de mim em
Cristo” – Isto obviamente significa que eles eram salvos e ativos no serviço de Cristo, antes da
experiência de Paulo no caminho de Damasco. “meu amado no Senhor”
– O termo “amado” é usado por Deus, o Pai, para referir-se a Jesus, o Filho (Mt
3.17 e 17.5), Paulo o usa para dirigir-se a crentes, evidenciando o
companheirismo que envolvia aqueles crentes primitivos.]
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“Paulo recomenda Febe
(16.1)
A palavra que a descreve como serva é diakonia, diácono.
Exceção feita pelo seu final feminino, é a mesma palavra em todas as versões em
inglês para 'diácono' nas epístolas pastorais. É usada também para indicar
cargo de liderança na igreja. Aparentemente, Paulo não era tão negativo em
relação à liderança feminina quanto muita gente é hoje.
Priscila e Áquila
(16.3). O casal apresentado em Atos 18 era
bem próximo do apóstolo Paulo e estava profundamente envolvido em seu
ministério. É significativo notar que, exceção feita ao versículo em que os
dois são apresentados, o nome da esposa precede o do marido. Tudo indica que os
dons de Priscila eram maiores do que os dons do cônjuge e a Escritura é
testemunha do respeito que ela gozava na igreja primitiva” (RICHARDS, Lawrence O.
Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por
capitulo. 10. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 752).
II. AS AMEAÇAS ÀS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
1. Individualismo.
No meio das saudações, o apóstolo Paulo, de forma abrupta, põe uma
advertência: “E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos
contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles” (Rm 16.17). Alguns
comentaristas acham que esse versículo se encontra deslocado do restante dos
demais. Mas, a verdade é que ele está no lugar onde deveria estar. Paulo via
como uma ameaça a quebra da koinonia cristã. Portanto, era um perigo às
relações interpessoais, o individualismo daqueles que promoviam dissensões.
Esse individualismo está caracterizado no fato de que eles serviam ao seu
próprio estômago ou ventre. Viviam para si mesmos. O faccioso geralmente é um
indivíduo solitário até o momento em que arregimenta outros para compartilhar
do seu pensamento doentio. A igreja deve observá-lo e afastar-se dele. [Comentário: Esta advertência parece irromper
inesperadamente no contexto. Nos versículos 17 e 18 há uma lista do que esses
falsos mestres estavam fazendo:
1. Fomentavam divisões;
2. Criavam obstáculos para os crentes;
3. Ensinavam o contrário do que era ensinado na
Igreja;
4. Tratavam de saciar os seus próprios apetites;
5. Enganavam os corações incautos com amenidades e
lisonjas.
“desviai-vos (apartai-vos) deles” – Este é um
tema repetitivo (Gl 1.8-9; 2Ts 3.6,14; 2 Jo 10). Mestres falsos com
frequência são atraentes de físico e têm personalidades dinâmicas (Cl 2.4). O
que dizem frequentemente tem muita lógica. Portanto, cuidado! Alguns testes
bíblicos possíveis para identificar falsos mestres são encontrados em Dt
13.1-5; 18.22; Mt 7; Fp 3.2-3, 18-19; 1Jo 4.1-6. Os crentes de Roma deveriam
evitar aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a ‘doutrina
que aprendestes’. Os crentes devem aprender a não se deixar enganar por ‘suaves
palavras de lisonjas’ (v. 18).]
2.
Sensualismo e antinomismo. Esses irmãos facciosos não apenas
provocavam dissensões, mas também promoviam escândalos (Rm 16.17). A maioria
dos comentaristas são de acordo que Paulo tinha em mente o movimento herético
do primeiro século conhecido como gnosticismo. Era um movimento sectário, que
tinha como prática o sensualismo e o antinomismo. Em outras palavras, como viam
a matéria como algo ruim, não tinham apreço pelo corpo, já que este era
material. Isso os conduzia a uma vida sensual. Por outro lado, outra
consequência desse entendimento errado, estava na troca da doutrina bíblica por
“palavras suaves e lisonjas” (Rm 16.18). Não havia regras para obedecer. Esse
ensino de sabor adocicado, porém falso, tinha a capacidade de atrair os
incautos. [Comentário: Gnosticismo foi um movimento
religioso, de caráter sincrético e esotérico, desenvolvido nos primeiros
séculos de nossa era à margem do cristianismo institucionalizado, combinando
misticismo e especulação filosófica. O Gnosticismo talvez fosse a heresia mais
perigosa que ameaçava a igreja primitiva durante os primeiros três séculos.
Influenciado por filósofos como Platão, o Gnosticismo é baseado em duas
premissas falsas. Primeiro, essa teoria sustenta um dualismo em relação ao
espírito e à matéria. Os gnósticos acreditam que a matéria seja essencialmente
perversa e que o espírito seja bom. Como resultado dessa pressuposição, os
gnósticos acreditam que qualquer coisa feita no corpo, até mesmo o pior dos
pecados, não tem valor algum porque a vida verdadeira existe no reino
espiritual apenas. Os apóstolos Paulo e João combateram duramente o
Gnosticismo, por conta de sua exaltação ao conhecimento oculto, sua negativa da
Encarnação de Cristo, de Sua Morte e Ressurreição, seu dualismo entre alma e
corpo, espírito e matéria, ignorância e conhecimento, mundo material e corrupto
versus mundo espiritual e perfeito. Esta heresia nefasta ronda a igreja hoje, e
pode ser encontrada em muitos púlpitos. Os gnósticos pregavam que o mal é a
ignorância, porque esta afastaria o Homem de conhecer as dádivas colocadas à
sua disposição pelas leis metafísicas do Universo. O falecido Mike Murdock, “com
sua obra A Lei do Reconhecimento, vem dizer, entre outras heresias, que a
ignorância é a causa da pobreza, doença e fracasso. Infelizmente, esse homem,
com seu livro repleto de ensinos materialistas e influenciado pela Confissão
Positiva, vem sendo considerado "o mais sábio dos Estados Unidos".
Devo me sentir, então, um tolo, por achar que o livro dele é ruim, e que não
passa de um imitador do Gnosticismo, que usa versículos bíblicos e linguagem
evangélica para vender seu produto, seu evangelho da riqueza? Esse evangelho da
saúde e da riqueza, pregado por tantos norte-americanos (Kenneth Hagin, Morris
Cerullo, T.L. Osborn, Kenneth Copeland, Frederick Price e muitos outros) é um
grave câncer na Igreja, que se alastra por muitas nações. Quem dá testemunho
balizado disso é Hank Hannegraaf, em seu excelente livro Cristianismo em Crise
(CPAD), em pesquisa séria e sólida. O Movimento da Fé, aqui representado
exponencialmente por R.R.Soares e Edir Macedo, mas também por tantos outros
líderes de maior ou menor monta, é um perigoso entrave ao assentimento da
mensagem da Cruz no coração do pecador. Toda essa pregação de "Você vai
obter vitória", "Você é um vencedor", "Basta tomar posse da
bênção", "Use a palavra para trazer à existência as coisas que não
existem", "Use a fé que Deus usou para criar o mundo", toda essa
parafernália é oriunda das leis de visualização e reprogramação mental que vêm
das filosofias e religiões orientais, carregadas também de aspectos inerentes
ao Gnosticismo heresia grega que exalta o conhecimento para a libertação do
Homem, para seu bem-estar físico, emocional, material e social.” Texto de autoria de Alex Esteves Da Rocha Sousa,
disponível em:
http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/o-gnosticismo-presente-em-nossas-igrejas.]
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
Professor, mostre aos alunos os princípios cristãos
estabelecidos por Paulo que nos ajudam desenvolver relacionamentos saudáveis:
“Não devemos julgar ou desprezar outras pessoas cujas
convicções diferem das nossas.
Devemos reconhecer o senhorio de Jesus Cristo como realidade
prática. Isso significa que devemos proteger a liberdade que os cristãos têm,
individualmente, de tomarem suas próprias decisões quanto às 'contendas sobre
dúvidas'. Jesus, não a minha consciência, é o Senhor do meu irmão.”
As 'contendas sobre dúvidas', nas quais divergimos, não são
erradas nem certas em si mesmas. Mas, qualquer ato que viole a consciência é
errado para as pessoas.
No exercício de nossa liberdade, devemos permanecer
sensíveis às convicções dos outros. Escolher agir de maneira a beneficiar
nossos irmãos é mais importante do que afirmar nossa liberdade de fazer algo
que viole a consciência dos outros.
Estaremos em situação bem melhor se, todos nós, concordarmos
em manter para nós mesmos nossas convicções sobre questões duvidosas, e
tratarmos de assuntos relacionados a amar e servir uns aos outros.
Lembremo-nos sempre do
exemplo de Cristo. Como Jesus aceitou a você e a mim? Ele nos recebeu em nossa
imperfeição. Ele nos recebeu em nossa ignorância. Ele nos recebeu enquanto
velhas práticas ainda estavam ligadas a nós, como as faixas de linho na
sepultura ligavam o Lázaro que o Senhor ressuscitou (Jo 11.44). Jesus nos
recebeu para uma experiência transformadora de amor, confiante de que o poder
do perdão de Deus nos limparia e nos purificaria” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. 7.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2000,
p.323).
III. A FONTE DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
1.
Existe em razão da sabedoria e soberania de Deus. Paulo
queria que os Romanos se certificassem de que ele lhes ensinara o Evangelho de
Deus. O evangelho da graça faz parte do "mistério" que Deus deu a
conhecer no final dos tempos (Rm 16.25). Esse mistério, que esteve oculto, foi
dado a conhecer à igreja através de revelação do Espírito Santo. Era sobre o
desvendar desse mistério que Paulo acabara de escrever. Deus, em sua soberania,
permitiu que a sua sabedoria fosse revelada no evangelho da graça. O resultado
foi a salvação a todo aquele que crer. A igreja de Roma era fruto disso. [Comentário: O “mistério” que esteve oculto é a pregação
sobre Jesus Cristo; a revelação do plano eterno da salvação de Deus, que foi
mantido em segredo (mistério). Os crentes são capacitados pelo conhecimento do
evangelho e o evangelho agora está disponível para todos! Deus tem um propósito único para a
redenção da humanidade que precede até mesmo a
queda (Gn 3). Pistas deste plano são reveladas no Antigo Testamento (Gn 3.15;
12.3; Ex 19.5-6; além das passagens universais nos Profetas). Contudo esta
agenda cheia não estava clara (1Co 2.6-8). Com a vinda de Jesus e do Espírito,
ela começa a ficar mais óbvia. Paulo usava o termo “mistério” para descrever
este plano redentivo total (1Co 4.1; Ef 2.11-3.13; 6.19; Cl 4.3; 1Tm 1.9). O
evangelho foi tornado conhecido das nações, e todas elas estão incluídas em
Cristo e através de Cristo (Rm 16.25-27; Cl 2.2).]
2.
Existe em razão da graça de Deus. Paulo encerra a sua Epístola com uma
expressão de louvor e adoração. Isso tinha uma razão de ser, a revelação da
graça de Deus, mediante o Evangelho: “Mas que se manifestou agora e se
notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a
todas as nações para obediência da fé, ao único Deus, sábio, seja dada glória
por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém!” (Rm 16.26,27). Essas palavras de
adoração nos fazem lembrar outra expressão de louvor do apóstolo: “Porque dele,
e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente.
Amém!” (Rm 11.36). [Comentário: Este mistério ou plano de Deus - o evangelho de Jesus Cristo
(Ef 2.11-3.13), agora foi claramente revelado a toda a humanidade “pelas Escrituras” – Deus manifestou
este mistério na pessoa e na obra de Jesus. Isto foi predito pelos profetas e o sua realidade se vê no
estabelecimento da igreja do Novo Testamento, formada de crentes judeus e
gentios – e Deus apresentou a oferta do evangelho ao mundo inteiro, o que foi
sempre o Seu propósito! (Gn 3.15; 12.3; Ex 19.5-6; Jr 31.31-34). O conceito
bíblico de “glória” é difícil de definir. A glória dos crentes é que
eles entendam o evangelho e se gloriem em Deus, não neles mesmos (1.29-31; Jr
9.23-24). Frequentemente o conceito de brilho era acrescentado à palavra para
expressar a majestade de Deus (Ex 19.16-18; 24.17; Is 60.1-2). Somente Ele é
digno e merece ser honrado. É tão brilhante que a humanidade caída não pode
contemplá-lo (Ex 33.17-23; Is 6.5). Deus só pode ser verdadeiramente conhecido
através de Cristo (Jr 1.14; Mt 17.2; Hb 1.3; Tg 2.1). Paulo encerra sua
epístola com uma doxologia (Do grego δόξα [doxa] "glória" + -λογία
[-logia], "palavra") é uma fórmula de louvor e glorificação
encontrada ao longo das Escrituras.]
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“Ele é poderoso
(16.25-27)
Como é possível levar
pecadores, motivados pelo egoísmo e paixões pecaminosos, separados por
preconceitos raciais e enormes diferenças sociais, a crerem numa comunidade
unida pelo amor desprendido? Somente Deus pode fazer isso no mundo do século
primeiro. Somente Deus pode assim proceder em nossos dias. A mensagem de
Romanos é de que ele o fará, através da justiça imputada a nós pela fé,
construída verdadeiramente pela confiança contínua em nosso Deus vivo”
(RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de
Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 10ª. ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2012, p. 752).
CONCLUSÃO
Nada mais apropriado do que encerrar
uma carta incentivando as relações interpessoais saudáveis. É isso o que Paulo
faz no final da carta aos Romanos. Primeiramente vemos o quanto ele valorizou o
relacionamento interpessoal saudável, doutrinando a igreja a respeito dos
perigos das contendas e divisões. O individualismo, o sensualismo e as heresias
deveriam ser resistidos energicamente. Muitos dos nomes que Paulo citou haviam
labutado ombro a ombro com ele na edificação do Corpo de Cristo. Não eram
lembranças nostálgicas, mas recordações que ajudavam a refrigerar a alma. Por
último, não deveriam esquecer de que a fonte e a origem de toda harmonia é
Deus. Ele é a fonte de toda a graça dispensada. [Comentário: Em 12.5, Paulo diz que “[...]
somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros”. Ele emprega o verbo
grego esmen (“somos”) no tempo presente e sugere o
estado de que os membros pertencem tanto a Cristo, quanto uns aos outros, ao
mesmo tempo. É por essa razão que a igreja não deve se conformar com a
cosmovisão secular prevalecente sobre relacionamentos (individualismo,
hedonismo, egocentrismo, etc.), mas deve renovar-se através do conceito de que
os membros pertencem tanto a Cristo, como uns aos outros. Assim, do mesmo modo
que cada crente deve se relacionar com o Senhor, deve igualmente se relacionar
e cuidar dos outros crentes. Não há divindade além do nosso Deus. Todos os
outros deuses são falsos. Somente o Senhor Deus Todo Poderoso, o Deus da
Aliança, merece nosso louvor. Nós O louvamos pelo seu presente de Jesus para
expiar nossos pecados, seu presente de misericórdia para aperfeiçoar nossas
falhas, seu presente de paciência para nos ajudar a consertar nossas
inconsistências e, por último, seu presente de amor para prover nossa salvação.
Ao Único Verdadeiro e Vivo Deus, que sua glória brilhe para sempre nas vidas e fidelidade
do seu povo. Que seus louvores sempre estejam em nossos lábios e em nossos
corações. Que pessoas possam ver seu amor por eles em Cristo Jesus, agora e
para sempre.] NaquEle que
me garante: “Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é
dom de Deus" (Ef 2.8)”.
Francisco
Barbosa
Disponível
no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.