SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Na aula de hoje nos voltaremos para a narrativa
bíblica sobre o patriarca Abraão, o pai da fé. Inicialmente, mostraremos que
Abraão, mesmo sendo um pacifista, adentrou em uma batalha, a fim de preservar
seu sobrinho Ló. Em seguida, destacaremos o encontro do patriarca com
Melquisedeque, o sacerdote de justiça, e rei de Salém. Ao final, ressaltaremos
que esse sacerdote prefigura Cristo, aquele que viria a oferecer um sacrifício
perfeito, pelos pecados da humanidade.
1. A BATALHA
DE ABRAÃO
Abraão não entrou na batalha por interesse
particular, nem mesmo a fim de obter ganhos materiais (Gn. 14.22,23). O motivo
da sua disputa foi a proteção do seu sobrinho Ló, que havia sido capturado,
depois que este decidiu habitar em Sodoma (Gn. 13.10-13). Isso mostra que o
patriarca não estava indiferente a realidade social na qual estava inserido.
Ele sabia que as decisões humanas podiam afetar diretamente a realidade
individual. De igual modo, devemos saber que as decisões políticas trazem
implicações para a sociedade. Precisamos estar atentos ao que está acontecendo
em nosso país, e cuidar para não ser conduzido pelos engodos da mídia. Abraão
entrou em uma aliança com alguns príncipes da região, a fim de alcançar um
propósito comum. Não estamos impedidos de fazer alianças, contanto que sejam
éticas, e tragam benefícios para a coletividade (Lc. 10.25-37; Gl. 6.10).
Abraão era um homem pacífico, mesmo assim se preparou para guerra, quando essa
se fez necessária. A maior guerra do cristão é espiritual (II Co. 10.3-5),
precisamos vencer o mundo através da fé (I Jo. 5.4), e nos revestir de toda
armadura de Deus (Ef. 6.10-18). A principal arma do cristão é a Palavra de
Deus, precisamos buscar a revelação do Senhor, a fim de destruir os sofismas
humanos (II Tm. 3.16,17). Como soldados de Cristo, não podemos nos envolver com
negócios deste mundo, nosso objetivo deve ser satisfazer àquele que nos
arregimentou (II Tm. 2.4). Ao retornar da batalha, Abraão encontrou dois reis:
Bera, rei de Sodoma, que ofereceu espólios da guerra, e Melquisedeque, o rei de
Salém, que ofereceu pão e vinho. O patriarca rejeitou a oferta do primeiro,
porque não queria ser influenciado pelos subornos do mundo.
2. SEU
ENCONTRO COM MELQUISEDEQUE
O encontro de Abraão com Mesquisedeque está repleto
de significados, para os quais devemos atentar. O nome desse sacerdote-rei
significa “rei de justiça”, e Salém, ao que tudo indica, era a antiga
Jerusalém, que quer dizer paz. Em Hb. 7 e no Sl. 110 Melquisedeque prefigura
Jesus Cristo, o Rei e Sacerdote Celestial (Hb. 12.11). O oferecimento de pão e
vinho a Abraão remete à celebração da Ceia do Senhor, em memória do Seu
sacrifício na cruz (Mt. 26.26-30). O rei de Salém não era um ser angelical,
muito menos Cristo encarnado, mas um homem justo, que desfrutava de intimidade
com Deus. Ele se encontrou com Abraão para fortalecê-lo, depois de uma batalha.
O patriarca, em gratidão aos cuidados sacerdotais, entregou o dízimo a
Melquisedeque (Gn. 14.20). Essa é a primeira menção a essa contribuição nas
Escrituras, procedimento que se tornou comum entre os judeus (Lv. 27.30-33). A
entrega do dízimo continua sendo uma prática observada pela igreja cristã.
Ninguém deverá ser coagido a fazê-lo, pois a gratidão deve ser a maior
motivação, em reconhecimento pela providência divina (I Co. 16.1,2). O
desprendimento de bens em prol do rei de Deus é também uma demonstração de que
não estamos debaixo do reino de Mamom (Mt. 6.24). Essa é uma manifestação de
que o dinheiro não é nosso deus, mas que confiamos no Senhor, e em sua
providência. Através da sua fé Abraão se tornou um exemplo para todos aqueles
que creem. Paulo destaca que o patriarca creu em Deus, e isso lhe foi imputado
por justiça (Rm. 4.1-8). A fé é o firme fundamenta das coisas que se esperam,
mas que não são vistas (Hb. 11.1), somos salvos pela graça, por meio da fé, não
pelas obras da Lei (Ef. 2.8,9).
3. UM TIPO
DO SACERDÓCIO DE CRISTO
Jesus é Sacerdote Eterno e Perfeito, da linhagem de
Melquisedeque, isso porque os adeptos da religiosidade judaica eram incapazes
de realizar plenamente o sacrifício (Hb. 7.19). O sangue derramado pelos
animais não tornavam qualquer pessoa perfeita aos olhos de Deus (Hb. 10.1-3).
Uma das restrições desse sacerdócio era que não poderia ser exercido por alguém
da tribo de Judá (Hb. 7.14). Além disso, o sacerdote aarônico dependia apenas
de um ritual religioso, que cumprisse os requisitos físicos e cerimoniais (Lv.
21.16-24). O sistema sacrifical judaico somente se tornou possível por causa de
Cristo, o Sumo Sacerdote da tribo de Judá (Cl. 2.13,14; Hb. 7.18). Ele é
Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque (Hb. 7.21). Através
dEle a questão do pecado foi resolvida definitivamente, não carecendo mais de
derramamento de sangue de animais (Hb. 7.22). Jesus é um Sumo Sacerdote, que
diferentemente dos levíticos, não é imperfeito, e muito menos temporário. E
porque Ele é também imutável (Hb. 7.24) e inculpável (Hb. 7.26) podemos confiar
que ele intercede para sempre por nós (Hb. 7.25). Por causa dEle os cristãos
podem se achegar a Deus em oração (Hb. 4.14-16). Ele nos oferece graça e
misericórdia, de modo que se viermos a pecar, temos da parte de Deus, um
Advogado (I Jo. 2.1,2). Quando confessamos nossos pecados Ele é fiel e justo
para nos perdoar, e nos restaurar a comunhão com o Pai (I Jo. 1.9). Jesus,
nosso Sumo Sacerdote, é perfeito para sempre (Hb. 7.28), e nEle podemos confiar
que nossos pecados são perdoados, e temos livre acesso ao trono da graça.
CONCLUSÃO
Abraão teve um encontro profundo e pessoal com
Deus, ao ser recebido por Melquisedeque. Esse sacerdote-rei de justiça
prefigura Cristo, Aquele que se manifestou para trazer reconciliação do homem
com Deus. Cada um de nós precisa ter um encontro com Deus, e se dispor a
adorá-LO em espírito e em verdade (Jo. 4.24,25). Como Abraão, precisamos
reconhecer que Deus é nossa maior riqueza, e nEle encontramos satisfação plena
para as nossas vidas (Gn. 15.1), e as riquezas celestiais em Cristo Jesus (Ef.
1.7,18).
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog subsidioebd
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
A história de
Melquisedeque é tão breve que o autor sagrado pôde narrá-la em apenas três versículos
(Gn 14.18-20). Aliás, nem biografia possui o misterioso homem. Sabemos apenas que ele era rei de
Salém e sacerdote do Deus Altíssimo.
Se a história é
pequena, a teologia é grande. A importância de Melquisedeque faz-se plena com a
encarnação de Cristo que, desde o Calvário, exerce o seu sacerdócio junto ao
Pai.
O rei de Salém
entra em cena, quando sai ao encontro de Abraão, que vinha de uma renhida
batalha para libertar a Ló, seu sobrinho. E
ali na antiga Jerusalém, abençoa no patriarca toda a nação israelita. Nesta bênção, você também foi incluído. [Comentário:Melquisedeque,
do hebraico מַלְכִּי־צֶדֶק (Malkiy-Tzadeq) "meu rei é justiça", o rei
de Salém, a antiga Jerusalém, e sacerdote do Deus Altíssimo (Gn 14.18-20; Sl
110.4; Hb 5.6-11; 6.20-7.28). O aparecimento e desaparecimento repentinos de
Melquisedeque no livro de Gênesis são misteriosos. Sem ascendência nem
descendência, a quem a história atribui-lhe características sobre humanas,
divina, interagiu com Abraão quando este retornou vitorioso da batalha de
Sidim. Melquisedeque e Abraão se conheceram pela primeira vez depois da vitória
de Abrão contra Quedorlaomer e seus três aliados. Melquisedeque ofereceu pão e
vinho a Abraão e aos seus homens que estavam muito cansados, demonstrando
amizade. Ele abençoou Abraão no nome de El Elyon ("Deus Altíssimo") e
louvou a Deus por ter dado a Abraão vitória na batalha (Gn 14.18-20). Seu nome
(meu rei é justiça) e seu título – rei de Salém (em hebraico “paz”) (rei de
paz) indicam o Messias, cuja pessoa e ministério se caracterizam pela justiça
(Is 32.1; Jr 23.5; Ml 4.2; 1 Co 1.30) e pela paz (1Cr 22.9; Zc 9.10; Ef
2.14,15). Estas duas graças se encontram em Cristo, de modo perfeito.]
I. MELQUISEDEQUE, REI DE SALÉM
Uma história sem biografia.
Assim podemos definir a aparição de Melquisedeque no relato do Gênesis.
[Comentário: Melquisedeque, contemporâneo de
Abraão, rei de Salém e sacerdote de Deus (Gn 14.18), a quem Abraão pagou
dízimos e foi por ele abençoado é uma prefiguração de Jesus Cristo, que é tanto
sacerdote como rei. “Sem pai, sem mãe (Hb 7.3) não significa que este
personagem literalmente não tivesse pais nem parentes, nem que era anjo.
Significa tão somente que as Escrituras não registram a sua genealogia e que
nada diz a respeito do seu começo e fim. Por isso, serve como tipo de Cristo
eterno, cujo sacerdócio nunca terminará. Vivendo sempre para interceder (Hb
7.25). Cristo vive no céu, na presença do Pai. (8.1), intercedendo por todos os
seus seguidores, individualmente, de acordo com a vontade do Pai (cf. Rm
8.33,34; 1 Tm 2.5; 1 Jo 2.1).
1. Rei de Jerusalém. A antiga Salém, cujo nome em
hebraico significa paz, é identificada com a Jerusalém atual. O objetivo deste reino era promover a
paz através da justiça divina, já que o nome de Melquisedeque traz este
glorioso significado: rei de justiça (Hb 7.2).Portanto, sua função era difundir
o conhecimento divino em toda aquela região, pois Israel ainda não existia como
o povo sacerdotal e profético do Senhor. [Comentário: Salém é Jerusalém - a primeira
referência à cidade de Jerusalém se encontra em Gn 14.18, onde aparece como
Salém. Com o seu nome atual, Jerusalém, aparece pela primeira vez em Josué
10.1, onde reinava Adoni-Zedeque, que se uniu a quatro outros reis para lutarem
contra Jerusalém. A união do rei e o sacerdote em Jerusalém haveria de levar
Davi (o primeiro israelita a sentar-se no trono de Melquisedeque) a entoar
cânticos sobre um Melquisedeque mais grandioso que havia de vir (SI 110.4).
Sobre Melquisedeque, Antônio Neves de Mesquita escreve em sua obra intitulada Estudo no livro de Gênesis (JUERP): “Alguns querem que seja
Cristo, no seu estado de pré-encarnação, mas esta teoria está em conflito com o
Sal. 110:4 e com o teor geral das Escrituras, que fazem Cristo e Melquisedeque
duas personalidades distintas e dois sacerdotes também distintos, um
prefigurado no outro. Uma coisa não pode ser prefigurada em si mesma. Quem era,
pois, esse homem? Um anjo? Não. Do pouco que sabemos dele, cremos que era um
homem pio que permanecia fiel à religião de Noé, ou ao primitivo monoteísmo e
neste caráter era um sacerdote como Jetro, sogro de Moisés”.]
2. Sacerdote do Deus Altíssimo. Melquisedeque foi o primeiro personagem da História Sagrada
a receber o título de sacerdote. É claro que, desde o princípio, houve ações
sacerdotais. Haja vista o
oferecimento que Abel fez ao Senhor (Gn 4.4).No texto bíblico, ele é
identificado como sacerdote do Deus Altíssimo (Gn 14.18). Ao contrário do ofício de Arão, cuja
continuidade era assegurada hereditariamente, o de Melquisedeque é eterno. Com
um único sacrifício, o seu ministério plenificou-se. Sim, com a morte de Cristo foi-nos
garantida eterna redenção perante Deus (Hb 7.23-28). [Comentário: O nome composto "El
Elyon" (traduzida como "Deus Altíssimo") ocorre doze vezes no
Antigo Testamento. Ele primeiro ocorre quatro vezes em Gênesis 14.18-20,22-18:
Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho para celebrar a vitória militar
de Abrão:. E ele era sacerdote do Deus Altíssimo [El Elyon] 19 Ele abençoou-o,
e disse: 'Bendito seja Abrão do Deus Altíssimo [El Elyon], o Criador dos céus e
da terra, 20 e bendito seja o Deus Altíssimo [El Elyon], que entregou os teus
inimigos nas tuas mãos. " Abrão deu-lhe o dízimo de tudo. 22 Abrão disse
ao rei de Sodoma: "Eu levantei a minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo [El
Elyon], o Criador dos céus e da terra. O Dicionário Bíblico Wycliffe (Charles
F. Pfeiffer, Howard F. Vos, John Rea – CPAD), afirma: “A opinião tradicional
diz que Melquisedeque era um verdadeiro adorador do Senhor (conforme Josefo,
Irineu, Calvino, KD, Leupold, etc....). Se a data da vida de Abraão (aprox.
2000 a. C.) estiver correta, então Melquisedeque viveu antes da substituição de
El como principal deus dos cananeus”. Isso implica dizer que os cananeus,
àquela época, adoravam o Deus Verdadeiro, reconhecido assim por Abraão (Gn
14.22).]
3. Figura de Jesus. Filho do homem, Jesus tem uma genealogia que, em Mateus,
remonta a Abraão (Mt 1.1,2), e, em Lucas, vai até ao próprio Deus (Lc 3.38).
Mas, como Filho de Deus, Ele é eterno: não possui genealogia (Jo 1.1-3). Nesse sentido, Melquisedeque é uma
figura perfeita de Cristo (Hb 7.1-6).Isso não significa que Melquisedeque fosse
eterno, ou uma pré-encarnação de Jesus Cristo. O que o autor sagrado diz é que este
personagem, apesar de sua importância, não possui uma biografia escrita. Moisés
foi inspirado a não registrar-lhe o nome dos pais, a idade, a procedência, nem
o dia de sua morte. [Comentário:No Salmo 110, um salmo
messiânico escrito por Davi (Mt 22.43), Melquisedeque é visto como um tipo de
Cristo (modelo ou figura de Cristo). O tema é repetido no livro de Hebreus,
onde Melquisedeque e Cristo são considerados reis da justiça e da paz. Ao citar
Melquisedeque e seu sacerdócio especial como um tipo, o autor mostra que o novo
sacerdócio de Cristo é superior à ordem levítica e ao sacerdócio de Arão (Hb
7.1-10). Devido ao mistério que cerca seu repentino aparecimento no cenário da
história, e seu igualmente repentino desaparecimento, ele tem sido identificado
com um anjo (Orígenes), com o Espírito Santo (Epifânio), com o Senhor Jesus
Cristo (Ambrósio), com Enoque (Calmet) e Sem (Targuns, Jerônimo, Lutero).]
SUBSÍDIO
DIDÁTICO
"Em hebraico malkisedeq ou
'rei da justiça', é mencionado em Gênesis 14.18; Salmo 110.4; Hebreus 5.6,10;
6.20; 7.1,10,11,15,17. No livro de Gênesis ele é um rei-sacerdote cananeu de
Salém (Jerusalém) que abençoou Abraão quando este retornou depois de salvar Ló,
e a quem Abraão pagou o dízimo do espólio da batalha. Devido ao mistério que
cerca seu repentino aparecimento no cenário da história, e seu igualmente
repentino desaparecimento, ele tem sido identificado com um anjo, com o
Espírito Santo, com o Senhor Jesus Cristo, com Enoque.Quanto à religião, ele
era 'sacerdote do Deus Altíssimo'"(Dicionário Bíblico Wycliffe.1.ed. Rio
de Janeiro: CPAD, 2006, p. 1247).
II. ABRAÃO, O GENTIO
Abraão era tão gentio quanto eu
e você, quando Deus o chamou a formar o povo escolhido (Dt 26.5). No entanto,
pela fé, tornou-se pai da nação hebreia e de todos os que creem.
1. O pai da nação hebraica. Deus precisava de uma nação, através da qual pudesse
redimir a humanidade, segundo anunciara a Adão e Eva (Gn 3.15). Esta nação
teria de vir da linhagem de Sem, o filho mais velho de Noé (Gn 9.26,27). E,
como todos sabemos, Abraão era semita. Sua
escolha evidenciou-se por uma fé inabalável em Deus (Rm 4.3). Nele seriam
abençoadas todas as nações da terra, com a proclamação do Evangelho de Cristo
(Gn 12.3). Afinal, Jesus, segundo
a carne, veio da descendência de Abraão (Mt 1.1). A missão da família hebreia, portanto,
era testemunhar ao mundo acerca do amor, da justiça e da Palavra de Deus (Rm
9.4,5). Apesar da aparente falha
de Israel, sua missão foi plenamente cumprida, pois a salvação chegou-nos por
intermédio dos judeus (Jo 4.22). [Comentário:Abraão nasceu em Ur dos Caldeus.
Sobre Ur lemos num dicionário bíblico: “Cidade muito antiga no sul da
Babilônia, que se indentifica como Tell el-Muqayyar; ela estava situada na
margem direita do rio Eufrates, a meio caminho entre Bagdá e o Golfo Pérsico.
Tera e seus filhos – entre eles Abrão – nasceram em Ur e de lá se mudaram para
Harã”. Portanto, a pátria de Abraão ficava na Babilônia. Josué também salienta
isso no seu “discurso à nação”: “…Assim diz o Senhor, Deus de Israel:
Antigamente, vossos pais, Tera, pai de Abraão e de Naor, habitaram dalém do
Eufrates e serviram a outros deuses” (Js 24.2). Abraão de fato descendia de
Sem, portanto era um semita, mas ele servia a quaisquer outros deuses
babilônicos. Ter origem semítica ainda não significava ser o patriarca de Israel,
mas simplesmente que Canaã lhe seria submisso, seria seu servo (Gn 9.26). A
mudança só ocorreu em Gênesis 12. Ali houve um acontecimento que não apenas
desestruturou o pequeno mundo de Abraão, mas que teve conseqüências que vão
perdurar até o fim dos tempos. O Deus Soberano, o Criador dos céus e da terra,
chamou um único homem, ordenou-lhe que deixasse sua terra e partisse para uma
terra distante que Ele lhe mostraria. O Senhor não lhe disse o nome dessa
terra. Por isso, Abraão não sabia em que se envolveria, mas creu na promessa
que lhe foi dada a seguir: “de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te
engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!” (Gn 12.2). Embora somente seu neto
Jacó tenha recebido o nome de Israel (Gn 32.28), isto não muda o fato de Abraão
ser o patriarca do povo de Israel. Pois Abraão, Isaque e Jacó sempre são
mencionados em conjunto, por exemplo, em Gênesis 50.24; Êxodo 33.1; Levítico
26.42; Números 32.11; Deuteronômio 1.8; Mateus 1.2; Lucas 13.28; Hebreus 11.8-9
e assim por diante. A base para isso é e continuará sendo a aliança de Deus com
Abraão. O nome “judeus” muitas vezes é usado como sinônimo de Israel, mas
deveríamos lembrar que isso não é historicamente exato, pois o reino de Davi se
dividiu depois da morte de Salomão (930 a.C.). Formou-se, por um lado, o Reino
do Norte (as dez tribos de Israel) e, por outro lado, o Reino do Sul (as duas
tribos de Judá, os descendentes de Judá e Benjamim – veja 1 Reis 12). Depois do
cativeiro babilônico, o nome “judeus” é usado de modo geral para os habitantes
da Judéia. É interessante que no Novo Testamento Jesus é chamado de “Rei dos
judeus” pelos estrangeiros (Mt 2.2; Mt 27.11, etc.), enquanto os próprios
judeus o chamaram de “rei de Israel” (Mt 27.42). Atualmente não importa mais se
um judeu ou uma judia descende de Judá, de Benjamim ou de qualquer uma das
outras dez tribos. Usa-se a designação “judeus” genericamente para uma
comunidade étnica que sobreviveu apesar de séculos de perseguição, porque Deus
confirmou Sua aliança com Israel através de um juramento e conduzirá Seu povo
para o alvo! (Abraão era
Judeu? Elsbeth Vetsch, disponível emhttp://www.cacp.org.br/abraao-era-judeu/)]
2. O pai dos crentes. Quando chamado por Deus, o gentio Abraão creu e, sem
demora, aceitou-lhe a ordem. Imediatamente foi justificado (Gn 15.6). A partir
daquele momento, passou a ser visto pelo Senhor como se jamais tivesse cometido
qualquer falha: um homem justo e perfeito. Enfim,
um amigo de Deus (Is 41.8).Por esse motivo, todos os que creem em Deus, à
semelhança de Abraão, são tidos como seus filhos na fé (Gl 3.7). [Comentário:Abraão ou Abrão (no hebraico é
‘abhraham, “pai de uma multidão”, ou “pai exaltado’: Abrão, no hebraico
‘abhram, “pai das alturas”) – a mudança de Abrão para Abraão teve por fim,
reforçar a raiz da segunda sílaba, para dar maior ênfase à idéia de exaltação.
Abraão era filho de Terá; progenitor dos hebreus, pai dos crentes e amigo de
Deus, (Gn 11.26; Gl 3.7-9; Tg 2.23). Abraão nos é apresentado no Novo
Testamento como um homem de fé, como nosso pai e exemplo. Em Romanos 4, onde
ele é chamado de pai de todos os que creem (Rm 4.11,12,16) e Gálatas 3.1-14,
onde os crentes são chamados de filhos de Abraão. Com Abraão Deus se apresenta
como “El Shadday (Deus Todo Poderoso); “El Elyom (Deus Altissimo); “El Roy”
(Deus Que Vê); e “El Olam” (Deus Eterno). Assim devemos nós também
aperfeiçoarmos a nossa “fé”, que é um dom de Deus, e permanecermos firmes
diante de todas as circunstâncias em que nossa obediência é requerida por Deus,
com ações de graças e não lamentações desta vida. Paulo vê nele “o tipo do
crente que obtém a justiça independentemente das obras da Lei (Rm 4,25; Gl
3,6-29). A Fé em Cristo faz de cada crente um descendente de Abrão (Gl 3,29).]
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
"Melquisedeque e seu
sacerdócio são exemplo de Cristo e de seu sacerdócio. O sacerdócio de
Melquisedeque não estava limitado a raça humana ou a tribo, sendo, portanto,
universal. Sua realeza não foi herdada de seus pais. E essa realeza também não
foi transmitida a um descendente; e assim ela era eterna. Portanto,
Melquisedeque é uma tipologia de Cristo e de seu sacerdócio eterno e universal'
"(Dicionário Bíblico Wycliffe.1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.
1247).
III. A OCASIÃO DA BÊNÇÃO
Por causa da captura de Ló
por Quedorlaomer, rei de Elão, o patriarca viu-se obrigado a formar um
exército para libertar o sobrinho (Gn 14.14). Na
volta, já vitorioso, é recebido por Melquisedeque
1. Objetivo da visita. Depois de uma vitória tão
decisiva, Abraão, já nas imediações de Salém, agradece a Deus ao ser
recepcionado por Melquisedeque. O maior recebe o menor (Hb 7.7). O patriarca
sabia muito bem que estava diante do sacerdote do Deus Altíssimo. Por isso,
reverencia-o com os dízimos de seus bens pessoais e não dos despojos de guerra,
já que se recusou a recebê-los (Gn 14.20). Verdadeira adoração e serviço a
Deus. Que exemplo para nós. [Comentário: O Comentário Bíblico Beacon
(CPAD) afirma que “Abrão deu o dízimo de tudo a Melquisedeque. O rei de Sodoma
tinha menos inclinação religiosa. Pediu seu povo de volta, contudo foi bastante
generoso em oferecer a Abrão todo saque procedente do combate. Abrão tinha
pouco respeito por este homem e respondeu que fizera o voto de não ficar com
nenhum bem que pertencesse ao rei de Sodoma, para que, depois, isso não fosse
usado contra ele por aquele indivíduo repulsivo. Abrão também deixou claro que
o seu Deus tinha o título de SENHOR e não era apenas outra deidade Cananéia. A
única coisa que Abrão pediu foi que os soldados fossem recompensados pelos
serviços prestados e que seus aliados, Aner, Escol e Manre, tivessem
participação no saque”. Comentário
Bíblico Beacon - CPAD - O Livro de Gênesis - George Herbert Livingston, B.D.,
Ph.D. Agora note o que o escritor de Hebreus afirma: “Considerai, pois,
quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos
despojos” (Hb 7.4). Assim, Abraão dizimou sim dos despojos de guerra e o resto
entregou ao rei de Sodoma, tirante a parte que cabia aos seus tirados. Para si,
nada tirou Abraão, para que não se dissesse que tinha enriquecido à custa dos
reis vencidos. Ele tinha direito inegável a uma parte, assim como Aner e os
outros dois aliados, e ninguém o poderia censurar por isso, mas como não tinha
ido à guerra por espírito ambicioso, nada quis para si. Não precisava, embora
este não fosse o ponto envolvido, não quis que se dissesse que tinha
enriquecido à custa da batalha O ponto importante aqui, não é a origem daquilo
que foi dizimado –pessoal ou despojos – mas sim, que o dízimo de Abraão foi um tributo de gratidão pela sua vitória (Gn 18.20).]
2. A autoridade de Melquisedeque. Por intermédio de Abraão, toda
a nação hebreia reverenciou Melquisedeque, até mesmo os sacerdotes da tribo de
Levi, que sequer haviam nascido (Hb 7.9). Ora, se o sacerdócio levítico era
temporário, o de Melquisedeque não podia ser interrompido pela morte, pois é
eterno. Um sacerdócio, aliás, que
haveria de ser exercido por Cristo (Sl 110.4). [Comentário: No livro de Genesis
Melquisedeque é um rei-sacerdote cananeu de Salém (Jerusalém) que abençoou
Abraão quando este retornou depois de salvar Ló, e a quem Abraão pagou o dízimo
do espólio da batalha. em Mateus 22.43, Jesus atribui o Salmo 110.4 (Jurou o
Senhor, e não se arrependerá: tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de
Melquisedeque) a Davi e a referência a si mesmo como o Messias. As passagens no
livro de Hebreus trazem a mesma interpretação. O autor está discutindo a
superioridade do sacerdócio de Cristo em comparação ao de Arão. Melquisedeque e
seu sacerdócio são um exemplo de Cristo e de seu sacerdócio. O sacerdócio de
Melquisedeque não estava limitado a uma raça ou tribo, sendo, portanto,
universal. Sua realeza não foi herdada de seus pais. E essa realeza também não
foi transmitida a um descendente; e assim ela era eterna. Portanto,
Melquisedeque é uma tipologia de Cristo e de seu sacerdócio eterno e universal.]
3. A simbologia da visita. Melquisedeque, ao trazer pão e
vinho a Abraão, abençoa-o: "Bendito seja Abrão do Deus Altíssimo, o
Possuidor dos céus e da terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os
teus inimigos nas tuas mãos" (Gn 14.19,20). O que poderia redundar numa
derrota ao patriarca transforma-se num momento de triunfo. Seu pequenino exército dispersou as
poderosas forças de Quedorlaomer. No pão e vinho que Melquisedeque trouxera a
Abraão estava a simbologia da morte de Jesus Cristo, o Cordeiro Imaculado. Mais tarde, o Filho de Deus servirá
uma refeição semelhante aos seus discípulos (Mt 26.26-30). Com a morte do Filho
de Deus cumpria-se o sacerdócio de Melquisedeque. [Comentário: A combinação ‘pão e vinho’
significa uma refeição completa, um banquete – uma oferta sacramental de pão e
vinho, costume nos ritos orientais. O narrador não diz que Melquisedeque
“viajou para encontrar-se com Abrão, levando pão e vinho”, mas simplesmente que
ele “trouxe pão e vinho”; Com respeito ao ato de Melquisedeque abençoar Abraão
e a aceitação implícita dessa benção por parte deste, o autor aos Hebreus
comenta que Melquisedeque “abençoou o que tinha as promessas. Evidentemente,
não há qualquer dúvida, que o inferior é abençoado pelo superior” (Hb 7.6-7,]
CONCLUSÃO
Em Abraão, todos os que cremos
em Cristo fomos alcançados com a bênção de Melquisedeque. Hoje, temos o Senhor
Jesus que, junto ao Pai, intercede por nós, conforme escreve o apóstolo João:
"Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se
alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é a propiciação pelos nossos
pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo" (1
Jo 2.1,2). [Comentário: Melquisedeque, contemporâneo de
Abraão, foi rei de Salém e sacerdote de Deus (Gn 14.18). Abraão lhe pagou
dízimos e foi por ele abençoado (vv.2-7). Aqui, a Bíblia o tem como uma
prefiguração de Jesus Cristo, que é tanto sacerdote como rei (v.3) O sacerdócio
de Cristo é “segundo a ordem de Melquisedeque” (6.20), o que significa que
Cristo é anterior a Abraão, a Levi e aos sacerdotes levíticos, e maior que
todos eles. Mediante a intercessão de Cristo, aqueles que se chegam a Deus pode
receber graça para ser salvo ‘perfeitamente’. Quando se diz que Cristo é sumo
sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, entende-se que um sacerdócio
falível e temporal é substituído por um sacerdócio infalível, irrepreensível,
perfeito e eterno. É por isso que Hebreus 7.12 diz que houve mudança de
sacerdócio. ] “NaquEle que
me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de
vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.
Francisco Barbosa
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