sexta-feira, 12 de setembro de 2014

LIÇÃO 11: O JULGAMENTO E A SOBERANIA PERTENCEM A DEUS




SUBSÍDIO I

INTRODUÇÃO

Somos tentados a sermos senhores do nosso destino, como diz um conhecido poema,  capitães da própria alma. Nos tempos de “quem sabe faz a hora”, é comum às pessoas dispensarem os cuidados de Deus. Na lição de hoje atentaremos para a necessidade de não incorrermos no risco de julgar os outros. Em seguida, nos voltaremos para a soberania de Deus, diante das possibilidades das decisões centradas no ser humano. Por fim, destacaremos o perigo da arrogância humana, manifestada na presunção, e a importância da humildade na vida do cristão.

1. NÃO JULGAR OS OUTROS

As múltiplas atribuições eclesiásticas nos fazem esquecer de que somos membros da mesma família. Tiago nos lembra de que Deus, em Jesus, nos ensinou a amar uns aos outros, e a tratar o próximo como a nós mesmos (Tg. 2.8). Em relação aos nossos irmãos, quando os julgamos, nos tornamos senhores sobre eles. Devemos sempre lembrar que Deus, e não nós, é o verdadeiro legislador (Tg. 4.12). Há crentes que não perdem a oportunidade de se colocar diante dos outros membros da igreja. Existem igrejas que, no sentido bíblico-etmológico do termo, são desgraçadas, os membros não têm misericórdia uns dos outros. Há aqueles que torcem, e em alguns casos, favorecem a queda dos irmãos e irmãs na igreja. Philip Yancey costuma dizer que encontra mais graça entre os Alcoólicos Anônimos (AA) do que em determinadas comunidades cristãs. Existem crentes capazes se sentir satisfação com a queda dos outros, e transformá-las em fofoca. E o pior, há os que não se preocupam em ajudar em ver o outro em condição de risco. Quando os vê caídos, ao invés de estender a mão, aproveitam a oportunidade para usar a língua contra o próximo. As igrejas, muito mais do que templos, deveriam ser comunidades de acolhimento. As igrejas não devem fomentar a discórdia, considerando que essa é uma obra da carne (Gl. 5.17-19). Muito pelo contrário, nossa tarefa é a de construir pontes, não muralhas diante dos nossos irmãos. A divisão na igreja, como ocorria em Corinto, é característica de congregações carnais (I Co. 3.1-3).  As “panelinhas” somente servem para incentivar a discórdia, a beleza da igreja está justamente na capacidade de conviver, inclusive com os diferentes. Quem nos julga é a palavra de Deus, ela aponta quando pecamos, e nos dar a possibilidade de arrependimento. Como cristãos devemos fazer o mesmo, até mesmo nos casos de disciplina, essa deve ser feita com amor, visando o reestabelecimento o transgressor (I Co. 5.1-13).

2. A SOBERANIA DE DEUS A BREVIDADE DA VIDA HUMANA

Somente Deus é soberano, isto é, Ele determina, ao Seu tempo, a realização dos seus desígnios. Devemos reconhecer que Deus é Senhor da Sua vontade, Ele não precisa pedir conselhos (Rm. 11.34). Por isso, faz-se necessário reconhecer que diante da complexidade da vida, é Deus que está no comando de todas as coisas (Tg. 4.14). Mas nós, enquanto seres limitados, não podemos determinar como será o futuro, mesmo que tenhamos os devidos cuidados (Pv. 27.1). Jesus reprovou a confiança própria ao contar a parábola do rico insensato (Lc. 12.16-21). Aqueles que acham que são senhores do seu destino, que não depositam sua confiança em Deus, não passam de tolos. Vita brevis, essa é uma declaração latina clássica, que quer dizer “a vida é breve”. Devemos ter sempre diante dos nossos olhos a realidade da morte. Se as pessoas se lembrassem disso de vez em quando, teriam motivos para serem mais humildes. Jó reconheceu que seus dias eram mais velozes do que a lançadeira do tecelão (Jó 7.6). E afirma ainda que nossa vida na terra pode ser comparada a uma sombra (Jó. 8.9) e como se isso não fosse suficiente, defende que o homem nascido de mulher é de poucos dias e cheio de tribulação (Jó. 14.1,2). Moisés, nas palavras de um salmo, também diz que “acabam os nossos anos como um suspiro, pois passa rapidamente e nós voamos” (Sl. 90.9,10). Não podemos ter a ilusão de que somos capazes de controlar nosso futuro. Evidentemente não estamos estimulando a falta de planejamento, que também é um equívoco. Antes devemos colocar nossos projetos diante de Deus, sabendo que somente Ele será capaz de levar nossos planos adiante. Como fazem as pessoas do presente século, não devemos imaginar que estamos no controle das nossas vidas. Quando o Titanic foi construído, tiveram a audácia de firmar que nem Deus seria capaz de afundá-lo, mas a história mostrou o contrário. A torre de Babel é um exemplo bíblico de projeto humano, distanciado das orientações divinas e que resultou em ruína (Gn. 11).

3. A PRESUNÇÃO HUMANA, UM PERIGO DIANTE DE DEUS

Somos seres frágeis, mas nem todas as pessoas se apercebem desse fato. Há aqueles que pensam que são indestrutíveis. Antes de qualquer coisa, destacamos nossa ignorância em relação ao futuro, e que nossa vida passa como um vapor (Tg. 4.14). Por isso, precisamos ter consciência da nossa dependência de Deus (Tg. 4.15). Trilhar o caminho da presunção é demasiadamente perigoso para o cristão. Isso porque a presunção nos faz acreditar que somos senhores do nosso destino (Tg. 4.16). Esse pensamento pode nos conduzir à desobediência, por desconsiderarmos Deus, tornando-O desnecessário. A desobediência premeditada conduz à apostasia, impossibilitando o retorno. Há cristãos que por desconsiderarem Deus, e se acharem senhores das suas vidas, se desviam do caminho. A mensagem de Pedro é de advertência a esse respeito: seria melhor que não tivessem conhecido o caminho da justiça, do que o conhecer e ter se desviado dele (II Pe. 2.21). Devemos seguir o exemplo de Jesus, que aprendeu a obediência ao Pai, e se submeteu até o fim à Sua vontade (Jo. 4.34). Fazer a vontade do Pai precisa ser nossa principal doutrina (Jo. 7.17). Paulo nos conclama a entender a vontade do Senhor (Ef. 5.17), além de ressaltar que essa é boa, agradável e perfeita (Rm. 12.2). Entregar-se à vontade própria é demonstração de presunção, é tornar-se escravo dos próprios caprichos. Ser cristão genuíno é uma atitude de rendição, uma disposição a dizer não a si mesmo, a confiar em Deus. Ser cristão é ponderar, e saber que não é senhor do seu destino, muito menos capitão da sua alma. Ser cristão é uma entrega incondicional à vontade de Deus, uma demonstração de confiança. Quando dependemos de Deus, fazemos nossos projetos, acompanhamos sua execução, mas estamos cientes dos nossos limites. E independentemente dos resultados, reconhecemos que Deus é o Senhor, e que tudo fará conforme Seus desígnios (Rm. 8.28).

CONCLUSÃO

A mensagem de Tiago é oportuna para os dias atuais, considerando que muitas pessoas tornaram Deus desnecessário em suas vidas. Há aqueles que acreditam em Deus, mas vivem como se Ele não existisse. Como cristãos genuínos, devemos colocar o Senhor em cada situação da nossa existência. As mais simples decisões do cotidiano podem ser postas aos pés do Pai, através da oração. Os cristãos, ao contrário do que afirma a filosofia humanista, não é senhor do seu destino, muito menos capitão da sua alma. A vida do cristão está nas mãos de Deus, Ele é, verdadeiramente, o capitão das nossas vidas e o Senhor das nossas almas.

Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa

SUBSÍDIO II
 

OBJETIVOS


Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
  • Analisar os perigos de se colocar como juiz dos irmãos.
  • Conscientizar-se da brevidade da vida.
  • Mostrar que a arrogância e a autossuficiência são pecados.

PALAVRA CHAVE


Julgar: Pronunciar sentença (de condenação ou de absolvição); sentenciar.


COMENTÁRIO


INTRODUÇÃO

A lição dessa semana é a continuação dos conselhos práticos de Tiago aos seus leitores. Os assuntos com maior destaque são a “relação social entre os irmãos” e o “planejamento da vida”. Aprenderemos que, uma vez nascidos de novo, não podemos nos relacionar de maneira conflituosa com os outros. Outro aspecto importante que estudaremos é que o planejamento da nossa vida tem de estar de acordo com a soberana vontade de Deus — único legislador e juiz da vida. Ele é quem sempre terá a última palavra. [Comentário: Qual o perigo de se julgar alguém ou falar mal? Na sequência do estudo da epístola universal de Tiago, estudaremos hoje a passagem de Tg. 4:11-17. Continuando com as preciosas lições de conselhos práticos, Tiago afirma que quando falamos mal de um irmão ou o julgamos nos tornamos juízes. Jesus nos alerta para que antes de julgar o nosso próximo devemos examinar a nós mesmos (Mt 7.1-3). Somos falhos, imperfeitos e não conhecemos o que vai no interior de cada um, isso, por si só, já nos torna incapazes de lançar juízo contra nossos irmãos. Somente Deus pode julgar o homem com retidão, Ele é santo, justo e conhece as nossas verdadeiras intenções. A Revista Ensinador Cristão (CPAD), n°59, p.41, traz o seguinte: “Nos versículos 13-15, Tiago lembra-nos da brevidade da vida e da soberania de Deus sobre ela. Quem é verdadeiramente o juiz perfeito, senão Deus? Nós somos simples assistentes, e muitas vezes, os próprios réus necessitados do perdão divino”. Revista Ensinador Cristão CPAD, n°59, p.41. Em suma, o resumo da Lei está em dois mandamentos: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Você ama seu irmão? Não o julgue! Quando julgamos já estamos descumprindo a lei divina. Nesta lição, portanto, estudaremos duas questões principais abordadas por Tiago: o perigo de se fazer julgamentos precipitados e indevidos contra pessoas e a capacidade de reconhecer os atos de Deus em nossos planos. Estas questões estão presentes em nosso dia a dia, afinal, qual de nós nunca emitiu um juízo de valor sobre uma atitude ou sobre a vida de outra pessoa? Ou quem de nós jamais fez planos pessoais sem se lembrar de Deus?] Convido você para mergulharmos mais fundo nas Escrituras!

I. O PERIGO DE COLOCAR-SE COMO JUIZ (Tg 4.11,12)

1. A ofensa gratuita. Não há postura mais problemática em uma igreja local quanto a do “disse-me-disse”. Infelizmente, tal comportamento parece ser uma questão cultural. Algumas pessoas parecem ter satisfação em destilar palavras que machucam. O que ganham com isso? Um ambiente incendiado por insinuações maldosas, onde elas mesmas passam a maior parte das suas vidas sofrendo e levando outros a sofrerem. Assim, Tiago inicia a segunda seção bíblica do capítulo quatro abordando o relacionamento interpessoal entre os crentes (v.11). Devemos evitar as ofensas e as agressões gratuitas, pois o “irmão ofendido é mais difícil de conquistar do que uma cidade forte; e as contendas são como ferrolhos de um palácio” (Pv 18.19). As ofensas só trazem angústias, tristezas e desgraças. [Comentário: Outra vez Tiago aborda a questão da fala e o cuidado com aquilo que falamos. Devemos estar prontos para falar com as pessoas exortando-as, aconselhando-as e ensinando-as a serem melhores e estarem mais próximas de Deus. O cristão deve evitar falar mal das pessoas e assim não atrair para si um duro julgamento. Tiago trata do perigo de nos colocarmos no lugar de Deus para exercer juízo contra uma pessoa. Mas de que forma pode um servo de Deus aparentemente assumir a posição de juiz? Quando abre a boca para falar mal de outras pessoas. O apóstolo não entra em detalhes. Basta a ele apenas dizer que não devemos falar mal uns dos outros, pois quem fala mal de seu irmão fala mal da lei, e por sua vez, quem fala da lei não é mais observador, e sim juiz. Comentando o texto de Pv 18.19, Pv 18.19, Russell Norman Champlin escreve o seguinte: “O irmão ofendido resiste mais que uma fortaleza. O hebraico original, neste versículo, é dificílimo de compreender, se não mesmo impossível; por isso também vários significados têm sido sugeridos, dentre os quais destacamos dois: (1.) Fala-se aqui (tal como diz a King James Version) de um irmão ofendido. É mais difícil “conquistá-lo de volta” para a amizade do que capturar uma cidade forte. As pessoas sentem muito as ofensas e tornam-se duras de coração, não querendo reconciliar-se. (2.) Ou então o irmão é ajudado (Revised Standard Version), conjectura feita pela Septuaginta sobre o que este versículo quer dizer. Temos de lembrar que essa versão da Septuaginta foi traduzida por judeus eruditos de Alexandria, que deveriam ser excelentes conhecedores do idioma hebraico. Se o significado, realmente, for o do irmão ajudado, devemos compreender que essa ajuda fará desse homem um aliado (e não um inimigo), e ele se tornará uma cidade forte. A versão siríaca e a Vulgata Latina, bem como o Targum, concordam com essa tradução. Adicione-se a isso a tradução da Imprensa Bíblica Brasileira. Mas a nossa versão portuguesa — a Atualizada — fica com a primeira possibilidade. Sinônimo ou Antítese. Se estiver correta a primeira significação, acima, então a segunda linha do provérbio fortalece a ideia com uma adição sinônima. As divergências entre irmãos (amigos) tornam-se como as barras que guardam um castelo e não podem ser quebradas. Em outras palavras, a disputa nunca será solucionada, e a alienação tornar-se-á permanente. Mas, se está correto o segundo sentido, que se vê acima, então a segunda linha métrica forma uma antítese. Em contraste com a boa união entre irmãos (amigos), haverá a contenda que separa e aliena, e, como as barras de um castelo, não podem ser quebradas. “A amargura das querelas entre ex-amigos é proverbial” (Ellicott, in loc.). A situação ideal é esta: Irmãos unidos são mais fortes do que um castelo; eles resistem juntos com maior vigor do que as barras de ferro de proteção de um castelo. CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2630.].

2. Falar mal dos outros e ser juiz da lei (Tg 4.11). O pecado de falar mal do outro foi por Tiago tratado com clareza ainda no versículo 11. Quem empresta os seus lábios para caluniar e emitir falso testemunho, além de estar pecando, coloca-se como o juiz do outro, mas não cumpridor da lei. Nós, servos de Cristo, fomos chamados para ser discípulos, não juízes. Quem busca estabelecer condições para amar o próximo não pode ser discípulo de Jesus de Nazaré. Já imaginou se hoje, Deus, o nosso Pai, tratasse-nos numa posição de Juiz? Provavelmente estaríamos perdidos! [Comentário: «...não faleis mal uns dos outros...» O texto grego usa o termo «katalaleo», que pode ser traduzido por «falar mal de», «degradar», «difamar». Frequentemente aplicado ao ato de dizer palavras duras contra uma pessoa ausente, que não pode se defender. Tiago aplica o seguinte conselho aqui: «Não tenhais por hábito, conforme vindes fazendo, de difamar a outros». Isso proíbe a maledicência e os boatos, o disse-me-disse, que, na verdade, tem sua origem no ódio e no despeito, sentimentos que não devem reinar no cristão. Tiago defende a ideia de que ao fazer uso impróprio da fala, busca-se suplantar a lei, que é o verdadeiro agente condenador nas mãos de Deus (Ef 5.4; Sl 101.5; 2Co 12.20; 1Pe 2.1; Rm 1.30). Quem age assim, viola a régia lei do amor (Tg 2.8; Lv 19.18). O homem que se tornou culpado e que acaba de ser erguido do chão pelo Senhor com sua clemência e presenteado com seu perdão e todo o seu amor, não pode em absoluto se arvorar imediatamente em juiz sobre outros (Mt 18.23-34). Por isso Tiago, no contexto da palavra “Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará”, aborda mais um ponto na vida da igreja, o julgamento sobre outros. Quando falamos mal, “pelas costas”, estamos em perigo de rapidamente perder a atitude do versículo 10: “Humilhai-vos perante o Senhor.” Quem julga eleva-se sobre os demais e se arroga o direito de sentenciá-los, bem como de assumir uma posição especial diante de Deus. Assim tornamos a abrir as portas ao espírito falso.].

3. O autêntico Legislador e Juiz pode salvar e destruir (Tg 4.12). Com o objetivo de demonstrar o porquê de não podermos nos colocar como juízes dos outros, o texto bíblico recorda do quanto somos pecadores e declara que há apenas um Legislador (criador das leis) e Juiz (apto para julgar a todos) (v.12). Apenas o Criador tem o poder de salvar e destruir. Portanto, antes de emitir uma palavra de julgamento contra uma pessoa, responda a esta questão: “Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?”. [Comentário: Tiago remove qualquer direito que pudéssemos reivindicar de criticar o nosso próximo, explicando que por trás do espírito de crítica, está uma atitude que usurpa a autoridade do verdadeiro Legislador e Juiz. Não deve haver críticas ásperas e severas no corpo de Cristo. O princípio defendido por Tiago aqui, não proíbe a ação adequada de uma igreja contra um membro que está agindo em flagrante desobediência a Deus, conforme ensina Paulo em 1Co 5.6. Na verdade, Tiago está preocupado com as palavras críticas que condenam ou julgam as ações dos outros e a sua posição perante Deus. Ele está confrontando as pessoas que poderiam ser tentadas a se colocar como algozes que espreitam a vida de outros crentes. Não pense que uma simples critica a um irmão ou espalhar um boato não seja algo tão grave - especialmente em comparação com outros pecados. As Escrituras afirmam que isto como um pecado de suma gravidade, porque infringe a lei do amor e tenta usurpar a autoridade de Deus. Russell Norman Champlin escreve o seguinte: “O problema de não julgar: O texto não é contra a ideia de fazermos juízos morais, de tentar ajudar a outros a corrigirem os seus caminhos tortuosos. É óbvio que se um crente não pudesse fazer aquilatações dessa natureza, dizendo, «Irmão, você está errado nisto ou naquilo», então a instrução cristã se tornaria vaga e inoperante. Nada existe no texto à nossa frente que tire a severidade da instrução ou da reprimenda morais. Contudo, quando vemos um irmão em uma falta flagrante, devemos procurar «restaurá-lo» com amor e paciência (ver Gl 6.1). Aquele que age assim, de acordo com o mesmo versículo, compreende o tempo todo, que ele mesmo poderia cair no mesmo erro, não sendo tão superior e elevado que esteja acima da mesma forma de tentação. O que o texto condena, pois, é a atitude de censurar, que degrada a outrem, ao mesmo tempo que exalta a si mesmo, ou que profere críticas negativas, que não edificam, mas apenas degradam. Ao mesmo tempo, tais pessoas geralmente exaltam a si mesmas, desfazendo da realidade do discipulado cristão de outrem. Toda a censura ou crítica negativa, pois, é atitude condenada. Algumas vezes, infelizmente, há uma linha divisória muito estreita entre a critica positiva e a crítica negativa, até onde podemos ver as coisas. Deus é quem conhece a diferença. A critica positiva se dá quando um crente, no espírito de amor, busca ajudar a um outro por aquilo que diz, e aprende a dizê-lo com gentileza, sem motivo ulterior de auto-exaltação. A crítica negativa se verifica quando o indivíduo não se importa realmente em ajudar a outro, mas antes, se aproveita da ocasião para fazer o outro parecer errado, e ele mesmo, bom, em contraste. Essa forma de crítica ocorre quando o indivíduo age a fim de prejudicar ou humilhar. Se procuramos prejudicar e humilhar a outros, embora criticando o que está de acordo com os fatos, eventualmente seremos prejudicados e humilhados, pelas línguas venenosas de outros. E assim é verdade aquele declaração: Não basta que o teu conselho seja verdadeiro; A verdade crua prejudica mais que a falsidade aberta. (Alexander Pope, Essay on Criticism). (Ver também Tg. 3:2 e 6).CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 69.].


SINOPSE DO TÓPICO (1)

Falar mal de um irmão e julgá-lo é pecado, pois só existe um único Juiz e Legislador entre os crentes, Jesus Cristo.


II. A BREVIDADE DA VIDA E A NECESSIDADE DO RECONHECIMENTO DA SOBERANIA DIVINA (Tg 4.13-15)

1. Planos meramente humanos (Tg 4.13). É comum algumas vezes falarmos “daqui tantos anos vou fazer isso”, “em 2018 eu farei aquilo”, etc. É verdade que precisamos planejar a vida. Entretanto, todo planejamento deve ser feito com a sabedoria do alto. Isto é uma dádiva de Deus. Todavia, infelizmente nos acostumamos à mera rotina e tendemos a planejarmos o futuro sem ao menos nos lembrarmos de que Deus, o autor da vida, tem de ser consultado, pois tudo o que temos é fruto da sua bondade e misericórdia. [Comentário: Tiago agora apresenta outro assunto: o fazer planos para o futuro. Ele entende que podemos fazer planos, desde que dependamos de Deus para realizá-los. A vida humana é comparada a um vapor ou fumaça, que se desvanece em pouco tempo e por causa dessa brevidade da vida humana, não somos impedidos de planejar o futuro, mas sim excluir Deus dos nossos planos. As lições de Tg 4.13 se aplicam a qualquer situação que exija planejamento. Planejar não é mau, o problema a que Tiago se refere, entretanto, é que Deus não está incluído nestes planos. O cristão que planeja com arrogância, pensando que pode ir onde quiser e que pode permanecer ali por quanto tempo quiser. A sua maneira de planejar, fazer negócios e usar o dinheiro pode ser honesta, mas em nada difere do planejamento de qualquer homem que vive à margem da fé, distanciado dos padrões de Deus.]

2. A incerteza e a brevidade da vida (Tg 4.14). “A vida é um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece”. Eis uma séria advertência de Tiago para nós! O ser humano muitas vezes se esquece da sua real condição. Fazemos os planos para amanhã ou depois, mas ninguém tem a certeza do futuro que lhe espera. A nossa vida é breve, passa como a fumaça. Lembre-se de que a nossa existência terrena é passageira e que, por isso, devemos viver a vida segundo a vontade de Deus, esperança nossa. [Comentário: Planejar não é errado, errado é fazê-lo à margem da vontade divina para nós, há um problema com planejamentos: ninguém sabe o que acontecerá amanhã, para não dizer dentro de um ano (Pv 27.1; Lc 12.16-21). Os destinatários desta missiva de Tiago estavam fazendo planos como se o seu futuro estivesse garantido. Note que não é sugerido que estes não deveriam fazer planos por causa de um possível desastre, mas que sejam realistas sobre o futuro, confiando em Deus para orientá-los. Como o futuro é incerto, é ainda mais importante que nós dependamos completamente de Deus. Tiago já explicou que a vida humana é incerta, é como uma neblina que cobre o campo pela manhã e depois é dissipada pelo sol. Não importa quanto tempo vivamos, nossa vida é curta! Isto é assustador? Não deve ser, ao contrário, deve ser um estimulador para o cristão fiel, isso porque ele entende que hoje é o dia de viver para Deus! Então, não importando quando a nossa vida termine, teremos cumprido os planos que Deus tem para nós! Russell Norman Champlin, em obra já citada aqui, comentando a brevidade da vida, escreve que “A mentalidade da segurança e do planejamento carnais se esboroa ante o fato brutal da mortalidade e da fragilidade do homem. Pouco tempo depois dessas palavras de Tiago terem sido escritas, o desastre e a morte caíram sobre Jerusalém com tremenda força. Ê bem possível que alguns dos leitores originais desta epistola tenham morrido debaixo do açoite de Roma”. CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 70-71. O Comentário Bíblico Contemporâneo (Editora Vida), comentando Tg 4.14, traz o seguinte: “Em contraste com o caráter racional e seguro de seus planos, sobressai a insegurança desta vida: Ora, não sabeis o que acontecerá amanhã. De fato, a vida é eminentemente efêmera: O que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece. Os planos estão traçados; as projeções lançadas. Todavia, tudo gira em torno de uma vontade superior à deles, a de Deus, que não foi sequer consultado no planejamento. Naquela noite mesmo uma doença pode derrubar alguém; de súbito, seus planos se evaporam. Os planos deles se resumirão numa pequena viagem até a sepultura fria, no interior de um esquife. Esses homens assemelham-se ao rico louco da parábola de Jesus, o qual ganhara grandes margens de lucro honesto mediante investimentos agrícolas em sua fazenda. Sentindo-se seguro, o ricaço traça planos para uma aposentadoria confortável “Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma” (Lucas 12:16-21). Ao pensar unicamente numa esfera mundana, os negociantes crentes da carta de Tiago tinham uma falsa sensação de segurança. Era preciso que encarassem a morte, e percebessem que não tinham nenhum controle desta vida”. Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 146. Ao fazermos nossos planos, devemos considerar um fato fundamental: a natureza transitória da vida - uma enfermidade, morte acidental ou a volta de Cristo podem abreviar nossa vida, assim como o sol da manhã dissipa a neblina (Pv 27.1; Jó 7.7, 9,16; SI 39.5-6). Em Lc 12.15, Jesus adverte as multidões contra a avareza e as lembra de que “a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui”. Numa rápida parábola, ele ilustra o argumento usando a figura de um homem rico que, à semelhança do negociante de Tiago, fez planos definidos para aquisição de mais bens, mas foi impedido de executá-los por sua morte (Lc 12.16-20).]

3. O modo bíblico de abordar o futuro (Tg 4.15). Após compreendermos que a existência humana é finita e Deus é o infinito Absoluto, o versículo 15 nos ensina a ter um estilo de vida diferente. A consciência da nossa limitação, bem como da transitoriedade e a brevidade da vida, deve incidir sobre o nosso modo de viver ao mesmo tempo em que deve servir como ponto de partida para confiarmos ao Senhor todos os nossos planos. Só com essa consciência, buscaremos realizar a vontade de Deus que é boa, perfeita e agradável (Rm 12.2). Portanto, agiremos assim: “Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou não”. Tal postura não é falta de fé, ao contrário, é fé na Palavra de Deus. [Comentário: Fomos gerados de novo, e como nova criatura não podemos viver de uma forma independente do nosso Criador; os nossos planos não podem ignorá-Lo, deixá-Lo à margem. Esta nova vida exige que nossos planos incluam a frase: “Se o Deus quiser”. É legal fazermos planos para o futuro, mas devemos fazê-lo reconhecendo a vontade e soberania divinas. Isto é muito mais do que simplesmente dizer: “Se Deus quiser”, quando falarmos a respeito dos planos futuros, porque esta frase também pode perder seu significado. Isto significa planejar com Deus ao fazermos os nossos planos. Os nossos planos devem ser avaliados pelos padrões e objetivos de Deus, e nós devemos orar por eles quando estivermos ouvindo o conselho de Deus.]


SINOPSE DO TÓPICO (2)

A vida do homem é frágil e breve, por isso, precisamos reconhecer que somos dependentes do Criador.


III. OS PECADOS DA ARROGÂNCIA E DA AUTOSSUFICIÊNCIA DO SER HUMANO (Tg 4.16,17)

1. Gloriar-se nas presunções (Tg 4.16a). Pensar que podemos controlar a nossa vida é de uma presunção orgulhosa que afronta o próprio Deus. Nós somos as criaturas e Deus, o Criador. Infelizmente, muitos fazem os seus planos desprezando o Senhor como se fosse possível deixá-lo fora do curso da nossa vida. Não sejamos presunçosos e arrogantes! Reconheçamos as nossas fragilidades, pois somos pó e cinza (Gn 18.27; Jó 30.19). Mas Deus, o nosso Pai, é tudo em todos por Cristo Jesus, o nosso Senhor (Cl 3.11). [Comentário: Tiago agora nos dirige a evitarmos a vanglória, e a considerá-la não somente algo tolo, mas como algo maligno. “Mas, agora, vos gloriais em vossas presunções; toda glória tal como esta é maligna” (v.16). Eles tinham esperanças de vida e prosperidade, e de grandes realizações no mundo, sem a devida consideração por Deus; e aí se vangloriavam dessas coisas. Essa é a alegria das pessoas mundanas, se vangloriarem de todos os seus sucessos, e mais, às vezes até se vangloriarem dos seus projetos antes de saber que sucesso obterão. Como é comum que os homens se vangloriem de coisas que não possuem, a não ser do que brota da sua própria vaidade e presunção! Toda glória tal como esta, diz o apóstolo, é maligna; é tola e é nociva. A palavra-chave aqui é jactância, visto que indica uma atitude interna. O orgulho é a vindicação de quem se jacta em vão, de quem vindica uma habilidade que na verdade não possui. Trata-se de vindicação de controle e de posição na vida mencionada em 1 João 2.16, mas tal vindicação é falsa, porque o mundo em cujo contexto a jactância é proferida está desaparecendo. Temos aí as vindicações presunçosas e o comportamento cheio de ostentação pelos quais os homens procuram impressionar-se uns aos outros e, com frequência, acabam iludindo-se uns aos outros” Adaptado de Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 147.]

2. A malignidade do orgulho das presunções (Tg 4.16b). A gravidade da presunção e da arrogância humana pode ser comprovada na segunda parte do versículo dezesseis: “toda glória tal como esta é maligna”. O livro de Ezequiel conta-nos a história do rei de Tiro. Ali, a malignidade, a arrogância e o orgulho humano levaram um poderoso rei a perder tudo o que tinha. Ele era poderoso em sabedoria e entendimento, acumulando para si riquezas e poder. Mas seu coração tornou-se arrogante, enchendo o interior de violência, iniquidades, injustiças do comércio e profanação dos santuários (Ez 28.4,5,16,18). Em pouco tempo o seu fabuloso império desmoronou. Não há ser humano no mundo que resista às tentações da arrogância, do poder e do orgulho. Triste é o final de quem se entrega à malignidade do orgulho das presunções humanas. [Comentário: Matthew Henry comentando Tg 4.16b, escreve: “Quando os homens se vangloriam de coisas mundanas e de seus projetos ambiciosos, quando na verdade deveriam observar os humildes deveres expostos anteriormente (w. 8-10), isso é uma coisa muito maligna. É um grande pecado aos olhos de Deus, vai conduzi-los a grandes frustrações, e vai comprovar a sua destruição no final. Se nos alegramos em Deus porque nosso tempo está em suas mãos, que todos os eventos estão à sua disposição e que Ele é o nosso Deus do concerto, essa alegria é boa; a sabedoria, o poder e a providência de Deus estão então ocupados em fazer com que todas as coisas cooperem para o nosso bem. Mas, se nos alegramos na nossa própria confiança e nas nossas vanglorias presunçosas, isso é maligno. É um mal que precisa ser cautelosamente evitado por todos os homens sábios e bons. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 846. Russell Norman Champlin, por sua vez, diz de Tg 4.16b: “«...maligna...» No grego é «poneros», que significa «errado», «prejudicial», por ser mal. (Comparar isso com Tg 2:4; Mat. 5:19; João 3:19; 7:7; I João 3:12; Col. 1:21 e Atos 25:18). O presente versículo fala especificamente sobre o «orgulho da vida» (ver I João 2:16). Trata-se da confiança equivocada dos ímpios, em sua habilidade de levarem uma vida baseada na arrogância, sem sofrerem perturbação ou perda. Trata-se do indivíduo que pensa que não precisa da providência divina em sua vida. Ele é o seu próprio bem; ele adora a si mesmo”. CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 71.]

3. Faça o bem (v.17). Fazer o bem é uma afirmação da Epístola de Tiago que lembra as suas primeiras recomendações de não sermos apenas ouvintes, mas praticantes da Palavra (Tg 1.22-25). Ora, se nós ouvimos, entendemos, compreendemos e podemos fazer o que deve ser feito, mas não o fazemos, estamos em pecado. Deus condena o pecado de omissão! Não sejamos omissos quanto àquilo que podemos e devemos fazer! Como discípulos de Cristo não podemos recuar. Antes, temos de perseverar em perseguir o alvo que nos foi proposto até o fim (Fp 3.14). [Comentário: Tg 4.17 resume todo o conteúdo dos capítulos 1 a 4 e todo o problema ético contido em toda a carta de Tiago. Em um sentido mais amplo, Tiago acrescenta estas palavras como uma admoestação para que todos os seus leitores façam o que ele escreveu: Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado. Eles foram avisados, de modo que não têm desculpa. O Comentário Bíblico Beacon (CPAD), comenta: “O versículo 17 pode ser entendido como uma exortação conclusiva do tema apresentado nos versículos 13-16. “Aqueles a quem as palavras foram dirigidas tinham, até certo ponto, falhado por meio da negligência; agora que essas coisas foram apresentadas de forma bastante clara, eles estão na posição de saber como agir; se, apesar de saberem agora como agir de forma correta, negligenciarem o curso apropriado, então isso é pecaminoso”.16 Mas essa verdade também é ressaltada em outras partes da Bíblia. Palavras semelhantes são apresentadas por JESUS: “E o servo que soube a vontade do seu senhor e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites” (Lc 12.47). Em um sentido real, o versículo 17 pode ser aplicado a diversos aspectos até aqui na epístola (cf. 1.22; 2.14; 3.1,13 e 4.11). Phillips apresenta uma excelente paráfrase desse versículo: “Sem dúvida, vocês concordam com a teoria acima. Bem, lembrem-se que se um homem sabe o que é certo e não o faz, essa omissão é considerada pecado real”. A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 187.]


SINOPSE DO TÓPICO (3)

Que jamais venhamos permitir que a presunção e o orgulho dominem os nossos corações e que nos faça acreditar que podemos controlar nossa vida.
              

CONCLUSÃO

Vimos nesta lição as duras advertências de Tiago. Infelizmente, as transgressões descritas na epístola são quase que naturais na atualidade. Não são poucos os que difamam, caluniam e falam mal do próximo. Comportam-se como os verdadeiros juízes, ignorando que com a mesma medida com que medem os outros, eles mesmos serão medidos (Mc 4.24). Vimos também que ainda que façamos os melhores planos para a nossa vida, devemos nos lembrar de que a vontade de Deus é sempre o melhor. Que aprendamos com Tiago a perdoar ao outro e submetermo-nos à vontade do Pai. [Comentário: Qual o perigo de se julgar alguém ou falar mal?” Tiago afirma que falar mal de um irmão ou julgá-lo é tornar-se juiz. Quando condenamos uma pessoa, estamos condenando o nosso próximo e aquEle que o criou, o próprio Deus. Somente o Todo-Poderoso tem poder para julgar e legislar em favor das suas criaturas. Nós temos a tendência de limitar os pecados a atos específicos - fazer algo errado. Mas Tiago nos diz que não fazer o que é certo também é pecado. Mentir é um pecado; conhecer a verdade e não dizê-la também pode ser um pecado. Falar mal de alguém é um pecado; evitar esta pessoa quando você sabe que ela precisa da sua amizade também é um pecado. Nós devemos estar dispostos a ajudar os outros conforme o Espírito Santo nos orientar.]
“NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”,
Graça e Paz a todos que estão em Cristo!

Francisco Barbosa

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