sexta-feira, 5 de setembro de 2014

LIÇÃO 10: O PERIGO DA BUSCA PELA AUTORREALIZAÇÃO HUMANA





SUBSÍDIO I

INTRODUÇÃO

A sociedade moderna está impregnada pela ideia do sucesso, muitas vezes alcançado a qualquer custo, sem qualquer consideração ética, mais que isso, sem o aval divino. Na aula de hoje estudaremos a respeito dos perigos da busca desenfreada pela autorrealização pessoal, ressaltando, sobretudo, as implicações que essa pode trazer, quando distanciadas dos princípios divinos. Destacaremos, na aula de hoje, que a autorrealização pressupõe uma ética, e que essa deve se respaldar nos princípios cristãos.

1. A AUTORREALIZAÇÃO HUMANA
Nas livrarias os livros que mais são vendidos são aqueles que motivam à autorrealização, esses são comumente reconhecidos como “autoajuda”. Isso porque se fundamentam na concepção de sucesso, independentemente de Deus. O mundo empresarial comprou essa concepção, que é considerada normal em um contexto no qual Deus se tornou desnecessário. Em consonância com Tiago, devemos ter cuidado com a competitividade exacerbada que predomina nos mundo dos negócios, e que, às vezes, está sendo adotado dentro das igrejas. As desavenças no âmbito eclesiástico não têm o respaldo divino (Tg. 4.1). As invejas e cobiças estão sendo colocadas em um patamar que os outros deixam de ser considerados. Há até aqueles que oram com intento de satisfazerem suas vaidades (Tg. 4.3). Devemos tomar cuidado com essas orações, na maioria das vezes elas refletem os desejos mais ocultos, e em alguns casos, sentimentos de ganância. Alcançar determinados espaços não pode ser a razão de ser, a competitividade também tem limites, o respeito ao próximo continua sendo o padrão ético de Jesus (Mt. 22.37). Paulo, em consonância com a mensagem de Tiago, nos orienta a deixar morrer nossos membros, para não sermos controlados pelas nossas paixões (Cl. 3.5-9). Não há limite para a cobiça, em uma sociedade de consumo, quanto mais se tem mais se quer. A propaganda incita à inveja, a buscar primeiro nossos interesses, e colocar os outros em segundo plano, inclusive o reino de Deus. Mas Jesus nos ensina que devemos colocar o reino de Deus primeiro, e as coisas necessárias nos serão acrescentadas (Mt. 6.33). Como o salmista, nosso maior desejo deve ser agradar a Deus, Ele precisa ser sempre nosso maior anelo (Sl. 63.1). Devemos lembrar sempre que o cristianismo nada tem a ver com esses padrões absorvidos pela sociedade. A igreja precisa ser diferente, não apenas no modo de vestir, mas também em seu proceder. Como bem destacou Kierkegaard, “no dia que o cristianismo e o mundo se tornarem amigos, o cristianismo deixará de existir”.

2. O PERIGO DA AUTORREALIZAÇÃO
Esse sistema de autorrealização em que os fins justificam os meios não é cristão, é diabólico. Não devemos esquecer que o mundo jaz no maligno (I Jo. 5.19) e que Satanás, o deus deste século, cegou o entendimento das pessoas (II Co. 4.4). Destacamos algumas das tendências atuais: valorização do temporário em detrimento do eterno (I Co. 7.32,33), a cobiça dos olhos, através da ostentação de bens, que alimenta a soberba da vida, não provém de Deus (I Jo. 2.16); e o desejo desenfreado de ter sempre mais, ao ponto de perder a própria vida (Mt. 16.26; Lc. 9.25). A parábola contada por Jesus, a respeito do rico insensato, deve servir de alerta a todos aqueles que se entregam desordenadamente aos interesses mundanos (Lc. 12.19-21). Muitas pessoas estão trocando o tesouro celestial, que a traça não corrói nem a ferrugem o atinge, pelos tesouros terrenos (Mt. 6.21). Tenhamos cuidado para não nos deixar levar pelo pensamento da maioria, nem sempre a voz do povo é a voz de Deus, como se costuma dizer. Fomos alcançados pela graça de Deus, e essa nos reclama a um modo de viver diferenciado, que não se pauta pelo mundanismo (Tt. 2.11,12). Os valores deste mundo nada têm a ver com os princípios da Palavra de Deus (I Jo. 2.15). Enquanto que a sociedade exalta aqueles que conseguiram “vencer na vida”, a mensagem evangélica diz “Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes” (Pv. 3.34; Tg. 4.6). Existe um ranking daqueles que são considerados os mais ricos do mundo, e esse é divulgado todos os anos pelas principais revistas internacionais. Mas será que esses mesmos ricos podem ser considerados assim do ponto de vista de Deus? Os critérios do Senhor em relação ao sucesso são diferentes daqueles apregoados pelo mundo dos negócios. Na perspectiva divina o modelo de sucesso é o de Jesus, que se esvaziou, tomando a forma de servo, de igual modo, devemos considerar sempre os outros superiores a nós mesmos (Fp. 2.3). A fé cristã não exalta, ou pelo menos não deveria, aqueles que conseguiram seu “lugar ao sol”. A preocupação dos cristãos, como foi a de Cristo, deve ser com aqueles que se encontra em condição de vulnerabilidade. O auxílio aos mais pobres é uma missão a ser perseguida por todos os cristãos, levando às pessoas o evangelho integral, que percebe tanto o corpo quanto o espírito.

3. O EQUILIBRO NAS REALIZAÇÕES
A busca pela realização pessoal necessariamente não é pecado, todas as pessoas podem estudar, também comercializar, mas a soberba não deve ser o fundamento de qualquer empreendimento. Em tudo que fazemos devemos estar debaixo da sujeição de Deus, nada temos ou podemos ter sem que Ele nos permita. Ao invés de seguir os ditames deste mundo tenebroso, devemos ouvir a Palavra de Deus, e escolher ir após Jesus, como seus discípulos (Mt. 16.24-28). Para isso precisamos resistir ao diabo, revestindo-nos de toda armadura de Deus (Ef. 6.10-18), não nos dobrando aos seus ardis (Tg. 4.7; I Pe. 5.7,8). Quando mais nos aproximamos de Deus, mais nos distanciamos do alcance de Satanás (Tg. 4.8). O autor de Hebreus nos chama à aproximação de Deus, com um coração sincero e repleto de fé (Hb. 10.22). A adoração ao Senhor é o caminho por meio do qual nos achegamos ao trono da graça, o próprio Deus busca adoradores, que o fazem em espírito e em verdade (Jo. 4.24). É nessa disposição que podemos trabalhar, estudar e fazer qualquer coisa, tudo na fé em Cristo Jesus, que a todos abençoa (I Co. 10.31-33; II Tm. 3.16; I Pe. 2.9). Os cristãos não podem fazer parte do mundo (satânico), mas estão no mundo (físico) a fim de atrair o mundo (pessoas) para Deus. Nessa missão, devemos ter cuidado para não sermos engodados pelos padrões que podem nos distanciar de Deus. Não precisamos entrar nessa competitividade doentia, confiemos no Senhor, assim como fez Abraão (Gn. 13.8). Os cristãos não estão impedidos de estudarem, buscar promoções no trabalho, mas estão limitados pela ética bíblica. Atitudes que envergonham o evangelho não deve ser utilizadas para se alcançar determinado fim. As mãos dos cristãos devem estar limpas, nada de duplo ânimo, isto é, procedimentos contraditórios (Tg. 4.8). Não somos cristãos apenas durante o período que estamos dentro do templo, mas em todos os momentos da vida, vinte e quatro horas por dia.

CONCLUSÃO
Mas para aqueles que se arredaram com o pecado, Tiago nos traz uma mensagem de esperança. É preciso sentir a miséria da condição de distanciamento de Deus, e lamentar o desejo de autorrealização fora dos padrões bíblicos. A conversão é uma possibilidade, que se concretiza na vida daqueles que abandonam o orgulho. O sucesso, como um fim em si mesmo, não tem respaldo escriturístico. A advertência de Jesus nesse sentido é enfática: “Ai de vós, que estais fartos, porque tereis fome, ai de vós, o que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis” (Lc. 6.25).
 
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa


SUBSÍDIO II
  

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE Tiago 4.1-10.


1 - Donde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura, não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?
2 - Cobiçais e nada tendes; sois invejosos e cobiçosos e não podeis alcançar; combateis e guerreais e nada tendes, porque não pedis.
3 - Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.
4 - Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
5 - Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?
6 - Antes, dá maior graça. Portanto, diz: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes.
7 - Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.
8 - Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai o coração.
9 - Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza.
10 - Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.


OBJETIVOS


Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
  • Analisar qual é a origem dos conflitos e discórdias na vida do crente e da igreja;
  • Mostrar que o crente não pode flertar com o sistema do mundo; e
  • Compreender que a autorealização não pode vir em primeiro lugar em nossas vidas.

PALAVRA CHAVE

Autorrealização: Ato ou efeito de realizar a si próprio.


COMENTÁRIO


INTRODUÇÃO

Realização profissional, pessoal e o desejo de uma melhor qualidade de vida são anseios legítimos do ser humano. Entretanto, o problema existe quando esse anseio torna-se uma obsessão, um desejo cego, colocando o Senhor nosso Deus à margem da vida para eleger um ídolo: o sonho pessoal. Ao concluirmos o estudo dessa semana veremos que não se pode abrir mão de Deus para realizarmos os nossos sonhos, pois os dEle devem estar em primeiro lugar!. [Comentário: O título desta lição é interessante e instigante. Hoje veremos que a busca pela autorrealização humana não é contraria à Bíblia, pelo contrário, ela só é nociva quando for colocada como um fim em si mesma. O Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa define o termo realizar como: “alcançar seu objetivo ou ideal” (FERREIRA, 2004, p. 1190). Realização das suas próprias capacidades ou habilidades. O texto de Tiago 4.1-10 nos apresenta o ensino de que Deus não nos concede aquilo que pedirmos se as nossas motivações forem equivocadas. A vida cristã autêntica exige a renúncia de nós mesmos! Tiago exorta ainda que os crentes não devem estar em conflitos uns com o outros; e, por fim, ele lembra que aqueles que decidiram seguir a Cristo devem se desligar completamente do mundo, pois o Senhor exige exclusividade. Depois de discorrer sobre dois perigos que ameaçam a vida cristã - a língua e a sabedoria animal, terrena e diabólica, Tiago passa a discorrer sobre a indevida prevalência do ego humano, ou da natureza pecaminosa do homem, aquilo que o apóstolo Paulo chama de carne, que tantos transtornos causam, também, à vida cristã.] Vamos mergulhar mais fundo?

I. A ORIGEM DOS CONFLITOS E DAS DISCÓRDIAS (Tg 4.1-3)

1. Que sentimentos são esses? Tiago abre o capítulo 4 perguntando: “Donde vêm as guerras e pelejas entre vós?”. Em seguida, responde retoricamente: “Porventura, não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?” (v.1). Aqui, o líder da igreja de Jerusalém denuncia o tipo de sabedoria que estava predominando na igreja: a terrena, animal e diabólica. Por quê? Ora, entre aqueles crentes havia “guerras e pelejas” e “interesses dos próprios deleites”, enquanto os menos favorecidos estavam à margem dessas ambições. Estava nítido que eles não semeavam a paz. [Comentário: Em Tiago 4.1, a palavra “pelejas” refere-se a Luta, combate, briga.
Desentendimento, desavença. Em contraste à sabedoria divina que produz uma atmosfera de paz, na qual crescerá a semente da justiça (Tg 3.18), a sabedoria terrena provoca um conflito interpessoal crônico. A fonte é uma natureza contenciosa e egoísta. Tiago não está falando de conflitos deflagrados entre pessoas que não servem à Deus, mas ele fala a pessoas convertidas; são disputas dentro da igreja, entre os crentes. Tiago está descrevendo uma situação em que um grupo chega a um estado de guerra. Quando se atinge este grau, os crentes deixaram de ser pacificadores (Tg 3.18) e passaram a viver em antagonismo aberto uns contra os outros. Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal (Editora CPAD), tratando desta perícope, traz o seguinte: “A palavra “guerras” refere-se a batalhas com armas, um conflito armado. Esta palavra é usada de maneira figurada para indicar a luta entre poderes, tanto terrenos quanto espirituais. Obviamente, haverá desacordos em qualquer igreja. Mas, quando isto acontecer, será que seremos suficientemente sábios para entender a razão? Identificaremos a sua origem? Quando tratados de maneira correta, com sabedoria devota, estes problemas podem levar ao crescimento. Infelizmente, entretanto, algumas igrejas tornam-se campos de batalha permanentes. Os novos crentes encontram-se em meio a um fogo cruzado de discussões, ressentimentos e lutas pelo poder que aparentam ser uma verdade espiritual, mas que frequentemente são simplesmente conflitos pessoais. Neste processo, os observadores inocentes são, a umas vezes, profundamente feridos. Muitos de nós conhecem pessoas que se afastaram da igreja por causa de um conflito que nada tinha a ver com o Evangelho. Guerras e pelejas têm sido causadas não por alguma força externa, mas pelos maus desejos (versão NTLH) das pessoas. Quando cada pessoa procura o seu próprio prazer, o resultado só pode ser conflito, ódio, e divisão. A expressão “lutando dentro de vocês” (versão NTLH) sugere uma batalha furiosa entre o desejo de fazer o bem e o desejo de fazer o mal”. Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 682.]

2. A origem dos males (Tg 4.2). “Combateis e guerreais” (v.2), é a afirmação do meio-irmão do Senhor em relação àquelas igrejas. Tiago não mascara o que está no coração humano: a cobiça e a inveja. Estas são as predisposições básicas da nossa natureza para desenvolver uma atitude combativa e de guerra contra as pessoas, até mesmo em nome de Deus (Jo 16.2). Quem procede assim ainda não entendeu o Evangelho e nem mesmo atina para a verdade de que Deus não tem compromisso algum com os desejos egoístas, mas atenta à pureza e a verdadeira motivação do coração (1Sm 16.7; Lc 18.9-14). [Comentário: Em Tiago 4.2, os desejos descritos tornam-se tão fortes, que as pessoas estão prontas até para matar, como traz a versão NTLH, no intuito de conseguir aquilo que desejam. Talvez Tiago esteja aqui lançando mão da hipérbole (figura de retórica no qual o significado da expressão é exagerado) para o ódio e a amargura. Em lugar de reavaliarem os seus desejos, as pessoas descritas por Tiago recorrem à inveja, a lutas, a disputas, e a coisas piores do que estas. Mas, apesar de todo o seu egoísmo e antagonismo para conseguirem o que desejam, elas ainda não podem alcançar estas coisas. Russell Norman Champlin, em sua obra intitulada Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo (Editora Hagnos), discorrendo sobre o texto de 1 Sm 16.7, afirma o seguinte: “Não atentes para a sua aparência. Saul era homem de elevada estatura, algo muito apreciado pelos antigos. Ver os comentários sobre I Sam. 9.2 e 10.23. Samuel estava caindo no erro de julgar um homem por sua aparência física. Samuel não estava olhando para o interior, mas YAHWEH era observador dos corações. Há a aparência e há a realidade. O homem vê a aparência de uma pessoa ou coisa, e assim faz julgamentos precipitados. Mas Deus vê a realidade do homem ou coisa, e faz um juízo verdadeiro. Samuel tinha de ajustar-se à maneira divina de avaliar pessoas e coisas. É frequentemente verdadeiro que as aparências enganam. Os homens são facilmente enganados e atos tolos ocorrem por causa de decepções. A questão da escolha do segundo rei de Israel era muito importante para ser feita de acordo com sua aparência física. Por isso mesmo, YAHWEH teve de intervir desde o começo, certificando-se de que Davi fosse ungido. O coração de Eliabe não era tão bom quanto a sua aparência física. Ele não era um candidato apropriado.” CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1180.]

3. O porquê de não recebermos bênçãos (Tg 1.3). O texto sagrado mostra o porquê de as pessoas que agem assim não receberem as bênçãos de Deus, apesar de muitas vezes aparecerem “profetas” profetizando o contrário. Em primeiro lugar, Deus não é um garçom que está diuturnamente ao nosso serviço. Segundo, como vimos, Ele não têm compromisso com os nossos interesses mundanos. E, finalmente, quando pedimos, o pedimos mal, pois não é a vontade divina que está em nosso coração, mas o desejo egoístico da natureza humana pedindo a Deus para chancelá-lo. [Comentário: Quase tão ruim quanto não pedir é pedir de maneira equivocada. Se não entendermos bem o uso correto da oração, poderemos deixar de orar, ou tentar manipular a Deus, encostá-Lo na parede (como se isso fosse possível). Mais adiante, Tiago deixa claro que, quando oramos, precisamos nos humilhar diante de Deus (4.7). Se não for assim, poderemos não ser atendidos. Nós não deveríamos ficar surpresos quando as nossas orações não forem atendidas, isso porque os nossos motivos são, frequentemente, equivocados. Muitos de nós gastaríamos o que recebêssemos em nossos próprios deleites. Esta passagem é um convite à reflexão! Mais uma vez cito Russell Norman Champlin: “Tg 4.3 Para eles, orar era apenas um meio de fomentar a ganância. Se conseguissem qualquer coisa com esse propósito dúbio, teriam a certeza que não fora Deus quem lhe dera. Tinham perdido completamente o conceito do uso apropriado da oração. Tinham-na transformado em um instrumento da carnalidade. Em que eles se importavam acerca da oração como um avanço na santidade e no bem-estar espiritual? Agiam como se houvesse apenas a dimensão terrena na existência, sem céu e sem Deus. Eram teístas professos, mas eram ateus na prática, porquanto, na realidade, imaginavam que Deus não desempenhava qualquer papel vital em suas vidas. Do «eu» e seus prazeres tinham feito os seus deuses. Eram idólatras da pior espécie. Nada há de errado nas orações que pedem a prosperidade e o bem-estar físico; conforme se depreende de III João 2. E bom alguém gozar de boa saúde e estar financeiramente próspero. Mas é mau fazer dessas coisas a finalidade central de nossas vidas. Outrossim, os leitores originais da epístola tinham como alvos verdadeiros de suas vidas a busca pelos prazeres, pelo conforto e pelo poder; e assim não se preocupavam apenas com uma abastança mais razoável. Tinham substituído a dimensão eterna pela dimensão temporal; tinham feito da autoindulgência algo mais importante do que cumprir a vontade de Deus, sendo transformados segundo a imagem de Cristo, o que é e deverá ser sempre o alvo de toda a existência. (Ver Ef 1.10). «...buscai pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas» (Mt 6.33). «Uma vida consagrada ao serviço de Deus é a melhor oração que pede bênçãos temporais. A oração feita com espírito ganancioso é como a de um bandido, que pede sucesso para os seus assaltos.» (Plummer, in loc.). «...mal...», isto é, erradamente. Aquela gente pedia com «propósitos egoístas», para obter os frutos ilegítimos dos prazeres. Essas orações não são ouvidas por Deus. (Quanto ao fato que Deus ouve as orações dos justos e penitentes, (ver Sl 34.15-17; 145.18; Pv 10.24); Salmos de Salomão 6:6; Luc. 18:9 e ss.; Tg. 1:6 e ss.-, I João 5:14). «...esbanjares em vossos prazeres...» A ideia central é que eles desejam a abastança financeira, a fim de se ocuparem mais diligentemente na busca pelos prazeres; e existem ainda outros meios pelos quais os prazeres podem ser obtidos, e as petições de tais pessoas incluem qualquer coisa mediante o que o «eu» pode ser satisfeito. «Até mesmo as orações dos crentes com frequência são melhor respondidas quando os seus desejos são menos atendidos». (Faucett, in loc.). «Queriam fazer de Deus o ministro de suas próprias concupiscências». (Calvino, in loc.). «O sentido geral é: se realmente orásseis corretamente, esse senso de contínua sede por coisas mundanas em maior quantidade não existiria: todas as vossas necessidades apropriadas seriam supridas; e aqueles desejos impróprios, que geram guerras e contendas entre vós desapareceriam. Pediríeis, e pediríeis bem, e, consequentemente, obteríeis». (Alford, in loc.). «É grande a misericórdia de Deus quando ele não ouve aos homens que fazem orações injustas. (Ver Sal. 66:18)» (Quesnel, in loc.).” CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 63.].


SINOPSE DO TÓPICO (1)

As guerras e pelejas entre os crentes são frutos dos desejos egoístas e carnais que carregamos em nosso interior.


II. A BUSCA EGOÍSTA (Tg 4.4,5)

1. Adúlteros e amigos do sistema mundano (Tg 4.4). Tiago chama de “adúlteros e adúlteras” os crentes que flertaram com o sistema do mundo. Mas a qual sistema mundano o escritor da epístola se refere? Olhando para o contexto anterior da passagem em apreço, veremos que Tiago se refere às más atitudes (a inveja, a cobiça, o deleite carnal, as pelejas e as guerras, isto é, o egoísmo do coração humano) que caracterizam o sistema presente deste mundo. Os que flertaram com tal sistema fizeram-se inimigos de Deus. [Comentário: Adúlteros e adúlteras são termos metafóricos no Antigo Testamento para aqueles que violam seus votos de amar a Deus e, em vez disso, seguem seus ídolos. Um relacionamento ilícito com o mundanismo resulta em estranhamento e hostilidade com Deus. A palavra adúlteros descreve claramente a infidelidade espiritual das pessoas e tenciona despertá-las para que encarem a sua verdadeira condição espiritual. Tiago escreve à pessoas convertidas, à crentes que estavam tentando amar a Deus e ao mesmo tempo, mantinham um relacionamento com o mundo. O fato de Deus expressar, nos termos mais fortes possíveis, a importância da fidelidade tem o objetivo de nos inquietar. Os padrões bíblicos de comportamento pessoal, conjugal e espiritual estão sob constante ataque de erosão. O Comentário Bíblico Beacon (Editora CPAD), comentando Tiago 4.4, traz o seguinte: “As palavras Adúlteros e adúlteras não se encontram nos textos gregos mais antigos. Deveríamos interpretar adúlteras figuradamente, como Jesus usou esse termo quando chamou as pessoas falsas e infiéis dos seus dias de “geração [...] adúltera” (Mt 12.39). A expressão não sabeis vós supõe que os leitores estavam familiarizados com essa verdade mas a estavam ignorando. O mundo aqui, como em outras partes do Novo Testamento, significa tudo que as pessoas pensam e fazem que desconsidera Deus e é contrário à sua vontade. Por meio de palavras retumbantes, Tiago declara que o povo de Deus deve tomar uma decisão clara entre Deus e todas as atitudes não-cristãs. Se pertencemos a Deus, a amizade do mundo precisa nos deixar. Se nos agarramos a qualquer caminho errado, nutrindo-o como um amigo, nos tornamos inimigos de Deus e não temos mais uma base bíblica para crer que estamos em um relacionamento de salvação com Ele”. A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 182.]

2. “Inimigos de Deus”. O líder da igreja de Jerusalém faz esta afirmação baseado nas duas imagens linguísticas usadas por ele para configurar a amizade dos crentes com o sistema mundano: “adúlteros e adúlteras”. Quando Tiago usa essas duas imagens, ele quer mostrar que da mesma forma que Israel procurou estabelecer acordos não só com o Deus de Abraão, mas também com Baal, Asera e outras divindades de Canaã, os leitores de Tiago também procuraram estabelecer tanto a amizade com o mundo, quanto com Deus. Todavia, Tiago mostra que a amizade com Deus e com o mundo, transformará as pessoas em “inimigas de Deus”. [Comentário: O Rev Hernandes Dias Lopes, escreve em sua obra intitulada TIAGO - Transformando provas em triunfo, (Editora Hagnos): “Em guerra contra De (Tg 4.s4-10). A raiz de toda a guerra é rebelião contra Deus. Mas como um crente pode estar em guerra contra Deus? Cultivando amizade com os inimigos de Deus. Tiago cita três inimigos com quem não podemos ter amizade, se desejamos viver em paz com Deus. Tiago fala de tentações que estão fora de nós (o mundo e o diabo) e tentações que estão dentro de nós (a carne). Tiago fala do mundo (4.4). A palavra kosmos foi empregada em um sentido ético, para indicar uma sociedade corrupta, ou o princípio do mal que opera sobre os homens. O mundo aqui é a sociedade humana com seus valores, princípios e filosofia vivendo à parte de Deus. Esse sistema que rege o mundo é anti- Deus. Se o mundo valoriza a riqueza, começamos a valorizar a riqueza também. Se o mundo valoriza o prestígio, começamos a valorizar o prestígio. Temos a tendência de assimilar esses valores do mundo. Um crente pode tornar-se amigo do mundo gradativamente: primeiro, sendo amigo do mundo (4.4). Segundo, sendo contaminado pelo mundo (1.27). Terceiro, amando o mundo (I Jo 2.15-17). Quarto, conformando-se com o mundo (Rm 12.2). O resultado é ser condenado com o mundo (I Co 11.32). Assim, seremos salvos como que por meio do fogo (I Co 3.11-15). Amizade com o mundo é uma espécie de adultério espiritual. O crente está casado com Cristo (Rm 7.4) e deve ser fiel a Ele (Is 54.5; Jr 3.1-5; Ez 23; Os 1-2; ICo 11.2). O mundo é inimigo de Deus e ser amigo do mundo é constituir-se em inimigo de Deus. Não dá para ser amigo do mundo e de Deus ao mesmo tempo. Temos que tomar cuidado com as pequenas coisas. O mundo envolve as pessoas pouco a pouco. Ninguém se torna um viciado em álcool do dia para a noite. Ninguém se lança de cabeça nas aventuras loucas das drogas no primeiro trago ou na primeira picada. Ninguém começa uma vida licenciosa num primeiro flerte. A sedução do mundo é como uma fenda numa barragem, começa pequena, mas pode conduzir a um grande desastre. LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 86-88.]

3. O Espírito tem “ciúmes” (Tg 4.5). O Espírito Santo que em nós habita é zeloso. Ele é o selo que marca-nos como propriedade exclusiva de Deus (2Co 1.21,22; 1Pe 2.9). No versículo cinco do capítulo quatro, os leitores de Tiago aparecem como o objeto dos “ciúmes do Espírito”. Por isso, o autor sagrado os confronta chamando-os de “adúlteros e adúlteras”. Tal advertência é a admoestação de Deus para o seu povo. Aqui, também cabe lembrar-nos de uma promessa registrada na Primeira Epístola Universal de João: temos um advogado à destra de Deus (2.1,2). [Comentário: Parece estranha a ideia de que Deus tem ciúmes, mas é exatamente disso que Tiago está falando no versículo 5. E a expressão “... diz a Escritura...” não quer dizer que as palavras que vêm a seguir — “O Espírito que em nós habita tem ciúmes” — se trata de uma citação fiel, ao pé da letra, de algum texto do Antigo Testamento. O que Tiago diz é que essa é uma das mensagens das Sagradas Escrituras no Antigo Testamento: o Espírito do Senhor tem ciúmes de seus filhos. O Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal (Editora CPAD) comentando Tg 4.5, diz: “O texto em Tiago 4.6 (o próximo versículo) é uma citação do Antigo Testamento — especificamente Provérbios 3.34. No entanto, esta expressão não é uma citação direta de nenhum versículo do Antigo Testamento. Tiago está adotando uma abordagem usada em outras passagens do Novo Testamento, que consiste em resumir ensinamentos do Antigo Testamento em vez de citá-los diretamente. O texto grego da frase “o Espírito que em nós habita tem ciúmes” oferece diversas traduções alternativas, de modo que o contexto deve nos ajudar a determinar o que o autor quis dizer. Tiago estava dizendo que Deus, que fazia com que o seu Espírito residisse nos crentes, tem ciúme do seu relacionamento, ou estava dizendo que o espírito que Deus pôs no homem é inclinado aos ciúmes - e por essa razão deve ser mantido em observação. O objetivo desta declaração é confirmar a comunhão do crente com Deus, e a sua posição contrária ao mundo. Podemos dizer que nos relacionaremos tanto com Deus como com o mundo, mas, na prática, só poderemos escolher um caminho. Quanto mais nos entregarmos ao mundo, mais forte será a nossa fidelidade ao mundo. Quanto mais nos entregarmos a Deus, mais forte será a nossa ligação com Ele. “Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6.21), disse Jesus. Para aqueles que fazem a escolha sábia, enfrentando aquilo que pode parecer uma batalha desanimadora, Tiago acrescenta uma mensagem maravilhosa de esperança.” Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 683.]


SINOPSE DO TÓPICO (2)

Os crentes que estão divididos entre a igreja e o mundo são denominados por Tiago de “adúlteros e adúlteras”. O crente jamais deve flertar com o sistema do mundo.


III. A BUSCA DA AUTORREALIZAÇÃO (Tg 4.6-10)

1. Humilhando-se perante Deus (Tg 4.6,7). Uma vez admoestados pelo Espírito Santo, temos a promessa de que Ele nos dará “maior graça”. Tal maior graça é o fato de que “Deus resiste aos soberbos”, mas “dá, porém, graça aos humildes”. Se acolhermos a advertência do Senhor, a tão almejada realização humana acontecerá de maneira completa em Deus. Humilharmo-nos diante do Senhor é reconhecermos quem somos à luz da sua admoestação. É acolher com humildade o confronto do Senhor. O arrogante, o soberbo e o ganancioso nunca terão esta atitude e, por isso, serão abatidos. E ainda, à luz do ensino de Tiago, resistir ao Diabo significa não desejar as mesmas coisas que a falsa sabedoria nos oferece: egoísmo, orgulho, soberba etc. É não almejarmos a posição dos mestres orgulhosos e soberbos, mas contentarmo-nos com a vocação de servirmos ao Senhor, voluntária e espontaneamente, em espírito e em verdade (Jo 4.23). [Comentário: Mais uma vez, lanço mão da obra do Rev. Hernandes Dias Lopes, já citada anteriormente, para comentar este tópico da lição: “Tiago fala do diabo (4.6,7). O pecado predileto do diabo é a vaidade, o orgulho. Ele tenta as pessoas nessa área (4.6,7). Ele tentou Eva e tenta os novos crentes (I Tm 3.6). Deus quer que dependamos dEle enquanto o diabo quer que dependamos de nós. O diabo gosta de encher a nossa bola. O grande problema da igreja hoje é que temos muitas celebridades e poucos servos. Há tanta vaidade humana que não sobra espaço para a glória de Deus. Como podemos vencer esses três inimigos? Tiago nos informa que Deus está incansavelmente do nosso lado (4.6). Ele sempre nos dá graça suficiente para vencer. Mas a graça de Deus não nos isenta de responsabilidade. Nos versículos 7-10 há vários mandamentos para obedecer. A graça não nos isenta da obediência. Quanto mais graça, mais obediência. Tiago menciona quatro atitudes, segundo Warren Wiersbe, que podem nos dar vitória; submissão a Deus, resistência ao diabo, comunhão com Deus e humildade diante de Deus. Em primeiro lugar, devemos nos submeter a Deus (4.7). Essa palavra é um termo militar que significa fique no seu próprio posto, ponha-se no seu lugar. Quando um soldado quer se colocar no lugar do general ele tem grandes problemas. Renda-se incondicionalmente. Ponha todas as áreas da sua vida sob a autoridade de Deus. Por isso um crente rebelde não pode viver consigo nem com os outros. Davi pecou contra Deus, adulterando, mentindo, matando Urias e escondendo o seu pecado. Mas quando ele se humilhou, se submeteu e confessou, encontrou paz novamente com Deus. Em segundo lugar, devemos resistir ao diabo (4.7). O diabo não é para ser temido, mas resistido. Somente quem se submete a Deus pode resistir ao diabo. A Bíblia nos ensina a não dar lugar ao diabo (Ef 4.27). LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 88-89. Nós precisaremos confiar no poder de Deus para resistir a tais desejos malignos. Este poder está disponível. Citando Provérbios 3.34, Tiago oferece esperança àqueles que desejam a comunhão com Deus. Deus resiste aos soberbos porque o orgulho nos torna egocêntricos e nos leva a concluir que nós merecemos tudo o que podemos ver, tocar, ou imaginar. Ele cria apetites avarentos que superam em muito aquilo de que necessitamos. O orgulho pode sutilmente fazer com que não mais vejamos os nossos pecados ou a nossa necessidade de perdão. Mas a humildade abre o caminho para que a graça de Deus flua em nossa vida; assim.]

2. Convertendo a soberba em humildade (Tg 4.8,9). Se o orgulhoso e o soberbo decidirem-se por se achegarem a Deus, o Senhor lhes será propício. A mão de Deus “não está encolhida, para que não possa salvar; nem o seu ouvido, agravado, para não poder ouvir” (Is 59.1). O que precisa acontecer é um verdadeiro arrependimento! A exortação bíblica de Tiago a essas pessoas é que o “riso” e a “aparente felicidade” delas, produzidos pela amizade do mundo, convertam-se em “choro”, “lamento” e “miséria” (v.9; cf. 2Co 7.10), assim que elas perceberem-se como “inimigas de Deus”. Esta é a atitude genuína de um verdadeiro arrependimento. [Comentário: Uma pessoa com duplo ânimo tenta apegar-se a Deus e ao mundo ao mesmo tempo. O homem de coração dobre é uma pessoa atraída em direções opostas. Sua fidelidade é divididae, devido à sua falta de sinceridade, ele vacila entre a crença e a descrença. Veja o que o Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal (Editora CPAD) nos fala sobre a perícope de Tg 4.8,9: “A ideia de humildade diante de Deus agora inclui o benefício adicional da resposta imediata de Deus. Nós podemos nos chegar a Deus e Ele se chegará a nós. A instrução de limpar as mãos significa purificar os nossos atos e modificar o nosso comportamento exterior. A maneira como nós vivemos é importante para Deus. A medida que nos aproximamos de Deus, nós nos tornamos conscientes de hábitos e atos na nossa vida que não agradam a Ele. Limpar as mãos dá a ideia de remover estas coisas da maneira como vivemos. Precisamos nos afastar dos pecados que Deus nos mostra. De maneira similar, a instrução de purificar o coração pede a pureza de pensamentos e motivos – modificações em nosso interior. As pessoas não podem continuar sendo hipócritas, tentando amar tanto a Deus como ao mundo. A pureza de coração, portanto, implica sinceridade. À medida que Deus se aproxima de nós, devemos sentir a nossa falta de merecimento. Afinal, estamos obtendo a permissão de nos aproximarmos do Deus santo e perfeito. Tiago descreveu um longo processo espiritual nos oito últimos versículos. Ele começou descrevendo as pessoas em conflito umas com as outras e consigo mesmas. A seguir, ele descreveu a origem de tais conflitos nos desejos inapropriados, que são motivados, em grande parte, pela tentativa de permanecer próximas tanto do mundo como de Deus. O desmascarar de uma vida como esta e a convocação dos crentes à humildade pode não ser uma mensagem bem recebida. A rendição pode não vir com facilidade. Desejos arraigados há muito tempo podem reagir com desobediência. O arrependimento poderá ter que incluir a recordação do quanto nós nos afastamos do caminho de Deus antes de termos retornado. Estes termos diferentes, misérias, lamentações, pranto e tristeza captam a luta de uma alma que se aproxima de Deus. Existe uma morte que está acontecendo. É um chamado ao arrependimento profundo e sincero. O riso das pessoas (o riso escarnecedor que se recusou a levar o pecado a sério) e a sua alegria com os prazeres do mundo precisam ser completamente transformados - em tristeza pelos seus pecados (veja também Lc 6.25). Até que isto ocorra, não há espaço para o riso da liberdade verdadeira e a alegria do Senhor. A vida cristã envolve alegria, mas, quando nós percebemos os nossos pecados, precisamos nos lamentar, para que possamos nos arrepender. Somente depois da lamentação é que podemos passar para a alegria na graça que Deus nos dá.” Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 684.]

3. “Humilhai-vos perante o Senhor” (Tg 4.10). Ao abrir mão de nossa autorrealização sob as perspectivas mundanas do egoísmo, do individualismo, da soberba e da inveja, seremos pessoas satisfeitas e realizadas com o Dono da vida. Como poderemos ser felizes sem a presença do Doador da vida (Jo 12.25)? A exaltação do Senhor ser-nos-á dada mediante a sua graça e bondade infinitas. Humilhemo-nos, portanto, debaixo da potente mão de Deus (1Pe 5.6)! [Comentário: Humilhar-nos perante o Senhor e admitir a nossa dependência dele significa reconhecer que o nosso valor vem somente de Deus. É reconhecermos a necessidade desesperada que temos de sua ajuda e sujeitarmo-nos à sua vontade para a nossa vida. Embora nós não mereçamos a graça de Deus, Ele nos alcança no seu amor e nos dá valor e dignidade, apesar dos nossos defeitos humanos. considerando que pode vir a ser necessário que uma pessoa se curve perante outra que a ama e à qual magoou severamente, quanto mais será preciso que nos humilhemos diante do santo e puro Deus, que nos ama de modo inconcebível, por causa de nossa culpa em pensamentos, palavras e ações, com a qual magoamos o seu amor da forma mais grave possível. Humilhar-se perante Deus significa reconhecer a própria culpa e o juízo justo de Deus sem objeções e réplicas, sem restrições e tentativas de se justificar. É essa a única atitude com a qual se pode suplicar por perdão e graça. “E ele vos exaltará”: exaltará, hupsoo; Strong 5312: Relacionada ao substantivo hupsos, “altura”, o verbo significa erguer ou levantar. É usado literalmente em Jo 3.14; 8.28; 12.32,34; figuradamente, a respeito de privilégios espirituais concedidos a uma cidade (Mt 11.23; Lc 10.15), e metaforicamente, no sentido de exaltar a nós mesmos resultará em uma queda desonrosa, mas humilhar a nós mesmos leva à exaltação neste e no mundo seguinte. Deus não mantém prostrada e cheia de vergonha a pessoa que se humilha diante dele. Reveste-a com sua justiça, que nos foi conquistada por meio de Jesus Cristo (2Co 5.21; Rm 8.1)]


SINOPSE DO TÓPICO (3)

Como criaturas, precisamos nos humilhar diante do nosso Criador, reconhecendo que sem Ele nada somos e nada podemos fazer.


CONCLUSÃO

A partir dos ensinamentos do Senhor Jesus, desfrutaremos da verdadeira felicidade em Deus. Que venhamos atentar para o ensinamento desta lição, humilhando-nos na presença de Deus através de Cristo Jesus. [Comentário: Tiago nos ensina nessa bela passagem de sua epístola que não há vitória sobre as paixões pecaminosas e nem exaltação espiritual na vida do cristão sem humilhação diante de Deus, sem submissão total à sua vontade através de Sua Palavra! A solução para as desavenças e conflitos entre nós é a humilhação, porque nossas motivações, desejos e formas de agir estarão completamente harmonizados com a perfeita vontade do Senhor. Se nos considerarmos miseráveis, como realmente o somos, se chorarmos e lamentarmos a nossa vil condição, alcançaremos o favor imerecido de Deus, receberemos a Sua graça e desfrutaremos da Sua glória!]
“NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”,
Graça e Paz a todos que estão em Cristo!

Francisco Barbosa

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