SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
O uso inadequado da língua pode resultar em prejuízos irreparáveis. Por
isso, o cristão precisa ter cuidado para não se perder ao falar. Na aula de
hoje, estudaremos a respeito desse importante assunto. Inicialmente mostraremos
o poder da língua, principalmente para a destruição das vidas. Em seguida, nos
voltaremos para o perigo de uma língua descontrolado, que leva à ruína. Ao
final, apontaremos algumas direções com vistas ao uso correto da língua, com
vistas à edificação.
1. O PODER DA LÍNGUA
As palavras têm o poder de ferir as pessoas, por isso todo cristão
deveria medir bem as consequências do que vai dizer. Esse tema é
recorrentemente abordado por Salomão nos Provérbios. Em Pv. 6.16-19 encontramos
seis pecados que Deus aborrece, e um que Ele abomina, três deles ligados à
língua: a língua mentirosa, a testemunha falsa e o que semeia contenda entre os
irmãos. Para Tiago, o domínio da língua é uma das manifestações da verdadeira
religiosidade. Ninguém pode se considerar autenticamente cristão a menos que
seja capaz de dominar a sua língua. Aqueles que estão no magistério cristão,
isto é, que foram vocacionados para o ensino, devem ter mais cuidado ainda (Tg.
3.1). Os líderes costumam ser observados nesse particular, e se não vigiarem
poderão colocar o ministério a perder por causa de uma língua desenfreada. Há
pastores que perdem o controle por qualquer motivo, e ao se exasperarem revelam
quem seus sentimentos mais destruidores. Por esse motivo Tiago lembra que
aquele que não tropeça na língua é varão perfeito (Tg. 3.2). Não podemos deixar
de destacar que a língua tem o poder de dirigir, podemos orientar uma multidão
pelo poder da língua (Tg. 3.3,4). Muitos líderes levaram as massas a tomar
decisões pelo poder da palavra, como Martin Luther King Jr. E Adolf Hitler. O
primeiro usou as palavras em prol dos direitos civis, para o bem da sociedade.
O segundo também o usou a língua, conseguiu atingir as massas, mas para
propagar ideias destruidoras. Isso mostra que a língua tanto tem o poder de
construir quanto destruir, motivar as pessoas quanto menospreza-las. Ainda que
essa seja pequena, comparada por Tiago a um freio e leme, é capaz de causar
estragos de alta proporção. Como uma fagulha e uma porção de veneno, pode
incendiar uma floresta inteira. Um boato na igreja pode destruir uma pessoa, e
em alguns casos, toda uma família (Ef. 4.29). Os cristãos devem avaliar
criteriosamente as declarações a respeito de um irmão ou irmã, antes de dirigir
qualquer julgamento. A língua pode ser: perigosa (Tg. 3.6), indomável (Tg.
3.7). Por outro lado, esse pequeno instrumento também pode ser utilizado para
glorificar a Deus, e para abençoar as pessoas.
2. O DESCONTROLE DA LÍNGUA
Tiago destacou, no início da sua Epístola, que se alguém se considera
religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua religião não
tem valor algum (Tg. 1.26). O descontrole da língua é um desastre, por isso os
que ocupam posição de liderança devem estar atentos (Gl. 6.7). Isso porque,
como advertiu o Senhor, a quem muito é dado, mais ainda será exigido (Lc.
12.48). Um líder com uma língua descontrolada é perigoso porque ele pode fazer
tropeçar um dos pequeninos do Senhor (Mt. 18.6). Há pastores que utilizam o
púlpito para desabafar, alguns deles para verbalizar seus descontroles emocionais.
Esses estão ferindo muitos crentes com suas palavras impensadas, além de
desviar as ovelhas do rebanho, ainda preparam a própria ruína (Mt. 7.1,2; Rm.
2.1-3). Jesus lembrou que a boca fala do que o coração está cheio (Mt. 12.34),
há pessoas que estão cheias de ódio e ressentimento. Por isso, quando se
dirigem aos outros, até mesmo dentro das igrejas, liberam apenas veneno.
Lembremos que é do interior do coração que vêm os maus pensamentos, as
imoralidades sexuais, os roubos, homicídios, adultérios, cobiças, engano,
arrogância e insensatez (Mc. 7.21,22). Existem pessoas tóxicas, que não há quem
suporte ficar perto delas, não desperdiçam as oportunidades para causar
destruição através da língua. Como bem lembra o autor dos Provérbios, essas
pessoas estão sendo conduzidas à destruição (Pv. 10.8), pois acomodam
sentimentos de violência (Pv. 10.11), elas cavam a própria cova (Pv. 26.27,28),
suas conversas é armadilha e desgraça (Pv. 18.7). O uso da língua no ambiente
familiar precisa ser bem avaliado, muitos pais estão destruindo a vida dos
filhos, dirigindo-lhes palavras de menosprezo. Há pais que adjetivam seus
filhos com palavras de menosprezo, resultado em baixa estima, e complexo de
inferioridade. Marido e mulher devem ponderar no uso das palavras, os
julgamentos precipitados, expressões jocosas, podem destruir o relacionamento
conjugal. Ao invés de usar as palavras para destruir, devemos elogiar sempre
que possível, reconhecendo o potencial das pessoas.
3. O USO CORRETO DA LÍNGUA
O domínio da língua deve ser a meta de todo cristão que quer viver uma
religiosidade madura. Como os homens aprenderam a domar os animais, devem fazer
o mesmo com a língua. E isso somente poderá ser feito pelo poder do Espírito
Santo, através da produção do Seu fruto no cristão (Gl. 5.22). Ao longo do
tempo, em um processo de “adestramento” espiritual, o crente aprende a não se
enredar por meio do falar (Pv. 12.13). Devemos aprender com Jesus, até mesmo
quando somos insultados, a não abrir a boca, a entregar as palavras destruidoras
àquele que julga com justiça (I Pe. 2.22,23). Como Davi, devemos orar ao Senhor
pedindo que Ele coloque uma guarda à nossa boca (Sl. 141.3). Reconhecemos que
há em nós uma natureza corrompida, que precisa ser controlada pelo Espírito
(Mt. 7.15-18). Mas quando somos espirituais, dirigidos pelo Espírito,
orientados pela Palavra, controlamos os lábios (Tg. 3.12). O cristão deve
investir na coerência, na relação entre o que diz e o que faz, não pode haver
dubiedade, muito menos contradição, entre o falar e o proceder do cristão (Tg.
5.12). Evidentemente não somos perfeitos, mas não podemos deixar de buscar a
perfeição. Não devemos permitir que palavras imorais nos conduzam à impureza,
tenhamos cuidado com aqueles que se assentam na roda dos escarnecedores, apenas
para falarem impropérios (Mt. 15.18,19). No dia de Juízo daremos conta de toda
palavra inútil que tivermos falado, seremos absolvidos ou condenados pelas
nossas palavras (Mt. 12.36,37). A língua deve ser um instrumento para o cristão
abençoar, não amaldiçoar as pessoas. O uso correto da língua mostra quem de
fato somos, afinal somos conhecidos pelos nossos frutos, e um deles é a palavra
(Mt. 7.16-20). Quando falamos revelamos quem somos, nossas crenças, posições e
interesses. Se investimos em espiritualidade, mostraremos por meios das
palavras, que somos de Deus (Ef. 4.29).
CONCLUSÃO
Com o autor de Provérbios, devemos lembrar sempre que a língua tem um
poder terapêutico, portanto, devemos usar a língua para o bem do próximo, nunca
para o mal (Pv. 12.18; 15.4). A sabedoria consiste justamente na capacidade de
saber distinguir o momento de falar e o de ficar calado (Pv. 10.19). O
descontrole deve dar lugar à paciência, para não sermos contados entre os tolos
(Ec. 7.8,9). Ao invés de revidar, o melhor mesmo é aceitar a instrução do
Senhor, somente assim seremos verdadeiramente sábios (Pv. 19.20).
REFERÊNCIAS
MOTYER,
J. A. The message of James. Downers Grove, Inter Versity Press, 1985.
WIERSBE,
W. W. Be mature: James. Colorado Springs: David C. Cook, 2008
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
SUBSÍDIO II
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Tiago 3.1-12.
1 - Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que
receberemos mais duro juízo.
2 - Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em
palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo.
3 - Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e
conseguimos dirigir todo o seu corpo.
4 - Vede também as naus que, sendo tão grandes e levadas de impetuosos
ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que
as governa.
5 - Assim também a língua é um pequeno membro e gloria-se de grandes
coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia.
6 - A língua também é um fogo; como mundo de iniquidade, a língua está
posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da
natureza, e é inflamada pelo inferno.
7 - Porque toda a natureza, tanto de bestas-feras como de aves, tanto de
répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana;
8 - mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode
refrear; está cheia de peçonha mortal.
9 - Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens,
feitos à semelhança de Deus:
10 - de uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não
convém que isto se faça assim.
11 - Porventura, deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e
água amargosa?
12 - Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas ou a
videira, figos? Assim, tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce.
OBJETIVOS
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
- Analisar a responsabilidade dos mestres na igreja;
- Conscientizar-se a respeito da capacidade da nossa língua, e
- Rejeitar a possibilidade de alguém utilizar a língua de modo ambíguo.
PALAVRA CHAVE
Língua: Órgão muscular situado na boca e na faringe
responsável pelo paladar e auxiliar na mastigação, na deglutição e na produção
de sons.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Nessa lição veremos o quanto o crente deve ser cuidadoso na maneira de
falar com os outros. Tema do terceiro capítulo da epístola, o meio-irmão do
Senhor escreve sobre um pequeno membro do nosso corpo: a língua. Este acanhado,
mas poderoso órgão humano, pode destruir ou edificar a vida das pessoas. Por
isso, a nossa língua deve ser controlada pelo Espírito Santo a fim de sermos
canais de bênçãos para aqueles que nos ouve. [Comentário: Entramos com esta lição no terceiro capítulo da
epístola de Tiago, ricos ensinamentos do apóstolo quanto ao uso da língua.
Tiago discorre belamente acerca do poder que há neste pequeno órgão: o poder de
abençoar e de destruir (Tg 3.1-12). A comunicação é a chave para um
relacionamento saudável. Dependendo da maneira como nos comunicamos, podemos
dar vida ou matar um relacionamento. O verdadeiro cristão deve saber se
controlar tanto verbal quanto emocionalmente. Deve saber lidar com a palavra e
também com a ira. Por isso, Davi orava a Deus e pedia: “Põe, Senhor, uma guarda
à minha boca; vigia a porta dos meus lábios!” (SI 141.3). Tiago faz dos
primeiros versículos do capítulo três um verdadeiro tratado a respeito da
disciplina da língua. Tiago está preocupado com as palavras bem como com as
obras do cristão!] Tenhamos todos uma excelente e
abençoada aula!
I. A SERIEDADE DOS MESTRES (Tg
3.1,2)
1. O rigor com os mestres. A palavra hebraica para mestre é rabbi, cujo
significado é “meu mestre”. Os mestres eram honrados em toda a comunidade
judaica, gozando de grande respeito e prestígio. Na realidade, o ofício
rabínico era uma das posições mais almejadas pelos judeus, pois era notória a
influência dos mestres sobre as pessoas (Mt 23.1-7). Daí o porquê de muitos ambicionarem
tal posição. E é exatamente alarmado por isso que Tiago inicia então o capítulo
três, referindo-se aos que acalentavam essa aspiração, visando obter prestígio,
privilégio e fama, a que tivessem cuidado (v.1). Antes de almejarmos o
ministério da Palavra devemos estar cônscios de nossa responsabilidade e de que
um dia o Altíssimo nos pedirá conta dos atos e dos talentos a nós dispensados. [Comentário: Os mestres são
responsáveis não só por eles mesmos, mas também por todos aqueles que eles
influenciam (Mt 23). Os líderes são julgados por um padrão mais alto do que
aqueles que os seguem. 1 Tm 3 e Tt 1 dão grande atenção aos detalhes, mas aqui
Tiago relembra que aqueles em posições de liderança serão responsáveis por
exemplificar Jesus Cristo em espírito e comportamento, bem como em suas
palavras e deveres. O Comentário Bíblico Beacon comenta o texto de Tiago 3.1
assim: “O sentido do versículo 1 está
claramente expresso por Moffatt: “Meus irmãos, não insistam em tornar-se
mestres; lembrem-se: nós mestres seremos julgados com mais rigor”.
Aparentemente a ânsia entre os primeiros cristãos de assumir o papel de mestres
(professores) motivou Tiago a escrever essa seção da sua carta. Para uma melhor
compreensão dessa passagem, Lenski argumenta que “deveríamos lembrar que nas
primeiras igrejas qualquer membro podia falar nas reuniões. O texto de 1
Coríntios 14.26-34 é instrutivo: qualquer irmão pode contribuir com alguma
palavra. No entanto, Paulo coloca restrições: essa contribuição deve ocorrer
apenas com o propósito da edificação; ela deve ocorrer com a devida ordem.
Tiago apresenta as mesmas ideias”. Mais uma vez, Tiago identifica-se com os
seus leitores: Meus irmãos. Essas admoestações não têm a intenção de proibir
qualquer cristão de fazer o que for possível para orientar outras pessoas na
vida e conduta cristã. Elas visam lembrar-nos das nossas responsabilidades em
vez de impedir-nos das nossas obrigações. A advertência é dirigida às pessoas
teimosas e àqueles que estão procurando fama (cf. Mt 23.8-10). Tiago está
dizendo: Não sejam ansiosos por dirigir a vida dos outros, porque essa tarefa
requer uma grande responsabilidade. Presume-se que o mestre tenha um
conhecimento maior; essa luz adicional requer vida mais intensa. Se falharmos,
receberemos mais duro juízo porque temos menos desculpas para errar”. A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag.
173-174.].
2. A seriedade com os mestres na igreja (v.1). Em Mateus 5.19 lemos
sobre a advertência de Jesus quanto à seriedade e a fidelidade dos discípulos
no ensino do Evangelho. Devido a sua importância, Jesus estabeleceu o ensino
como um meio de propagar o Evangelho a toda criatura e, assim, ordenou a sua
Igreja que fizesse seguidores do Caminho pelo mundo (Mt 28.19,20). É interessante
notarmos o paralelo que Tiago faz em relação à advertência proferida por Jesus
em tempo anterior: Quem foi vocacionado para ser mestre não pode ter o
“espírito” dos fariseus, mas o de Cristo (Mc 12.38-40). [Comentário: Os mestres na Igreja serão
julgados não tanto pelo que eles realizam, mas pelo caráter que revelam - quem
eles são diante daquilo que fazem. Esse alto padrão não se aplica tanto às
realizações do líder quanto à condição de seu coração e espírito. Na igreja
primitiva, os mestres eram muito importantes. Tanto a sobrevivência como a
profundidade espiritual dos crentes dependia deles. Na igreja de Antioquia, os
mestres tinham o mesmo status que os profetas que enviaram a Paulo e Barnabé
(veja At 13.1). Os mestres eram o ponto de contato para todos os novos crentes,
porque os convertidos precisavam receber instrução sobre os fatos do Evangelho,
e os professores os edificavam na fé.].
3. Perfeição que domina o corpo (v.2). Quem domina ou controla a sua língua, sem
cometer delitos (excessos, descontroles, julgamentos precipitados, difamações,
etc.), sem dúvida, é “perfeito”. O controle da língua significa que a pessoa
tem a capacidade de controlar as demais áreas da vida, pois a língua é poderosa
“para também refrear todo o corpo”. Quem tem domínio sobre a língua, tem
igualmente o coração preservado, pois a boca fala do que o coração está cheio.
Discipline-se! Faça um propósito com Deus e consigo mesmo: não empreste os seus
lábios para fazer o mal. [Comentário: Já no primeiro capítulo
Tiago traça uma marca do cristão maduro: a capacidade de controlar a língua
(veja I.I9, “ser tardio para falar”). Mais uma vez cito o Comentário Bíblico
Beacon: “O apóstolo nos lembra que todos
tropeçamos em muitas coisas (v. 2). Uma tradução mais correta seria: “Todos nós
cometemos erros” (RSV). Todos nós podemos tropeçar (cf. 1 Co 10.12); todos nós
temos grandes chances de cometer equívocos e somos propensos a errar; por isso,
corremos sérios riscos ao assumir voluntariamente o papel de guia. Wesley
comenta: “Não coloque mais sobre as suas costas do que Deus confiou a vocês,
visto que é tão difícil não ofender ao falar muito”.
Tiago usa o artifício da
repetição de palavras para aumentar a ênfase. “Tropeçamos” em 2a é seguido de
tropeça em 2b. Ele diz que se alguém não tropeça em palavra — se não cometemos
erro no falar — podemos ser considerados homens perfeitos. Aquele que controla
suas palavras pode refrear (guiar ou controlar) toda a sua conduta. Isso
provavelmente não é um termo literal porque um homem poderia manter sua fala
sob controle e mesmo assim pecar de outra forma. Tiago está usando um tipo de
provérbio — uma generalização para enfatizar o lugar-chave da fala na vida
cristã. Ela é comparável à afirmação de Jesus: “Porque por tuas palavras serás
justificado e por tuas palavras serás condenado” (Mt 12.37). O que Tiago quer
dizer com varão [...] perfeito? O adjetivo perfeito (teleios) normalmente
refere-se ao propósito ou função do substantivo modificado. Nesse contexto,
poderia significar: “aqueles que alcançam plenamente o seu elevado chamado”. O
cristão que é cristão no seu falar está agradando plenamente a Deus. Ele é
varão [...] perfeito, no sentido que Jesus ordenou aos seus discípulos a usar
um falar franco e direto (Mt 5.37) e então acrescentou: “Sede vós, pois,
perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.48). A luz
dessa verdade um cristão apenas pode se unir à oração do Salmista: “Sejam
agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua
face, Senhor, rocha minha e libertador meu!” (SI 19.14)”. A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 174.].
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
A língua é um pequeno órgão do nosso corpo, porém
seu poder é comparado a um fogo destruidor.
II. A CAPACIDADE DA LÍNGUA (Tg
3.3-9)
1. As pequenas coisas no governo do todo (vv.3-5). Tiago faz uma analogia
acerca da nossa capacidade de usarmos a língua. Ele remete-nos ao exemplo do
leme dos navios e do freio dos cavalos. Apesar de tais objetos serem pequenos,
porém, são fundamentais para controlar e dirigir transportes grandes e pesados.
Assim, o apóstolo nos mostra que, apesar de pequena, a língua é capaz de
realizar grandes empreendimentos — edificantes ou destrutivos. Como um pequeno
membro é capaz de “acender um bosque inteiro”? [Comentário:
A língua é um pequeno membro (v. 5), mas seu poder e influência para o
bem e o mal são desproporcionais ao seu tamanho. A palavra “refrear” ilustra o
uso do freio nas bocas dos cavalos: um pequeno membro, mas seu tamanho não é a
verdadeira medida da significância das nossas palavras. O Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal (Editora CPAD) traz o seguinte comentário: “O que estas coisas têm em comum? Todas elas
são pequenas, mas são controladores muito eficientes - elas controlam alguma
coisa muito maior que elas mesmas. Tiago está explicando o poder destruidor das
nossas palavras. Nós vemos isto evidenciado na história, quando ditadores como
Adolf Hitler, o aiatolá Khomeini, Josef Stalin e Saddam Hussein usaram suas
palavras para mobilizar as pessoas para destruir outras. Nós vemos isto
evidenciado nas divisões da igreja e na ruína da reputação de um pastor. E nós
vemos como a violência verbal no lar pode destruir a própria personalidade e a
natureza humana de cônjuges e crianças. Satanás usa a língua para dividir as
pessoas e colocá-las umas contra as outras. As palavras ociosas são
prejudiciais porque elas espalham a destruição rapidamente. Não devemos ser
descuidados com as nossas palavras, pensando que poderemos pedir desculpas mais
tarde, porque, mesmo fazendo isto, o estrago permanecerá. Poucas palavras
pronunciadas com ira podem destruir um relacionamento que levou anos para ser
construído. Lembre-se de que as palavras são como o fogo; elas não podem
controlar nem reverter o estrago que fazem.” Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 678.]
2. “A língua também é um fogo” (vv.6,7). Quantas pessoas não
frequentam mais as nossas reuniões porque foram feridas com palavras? Você já
se fez essa pergunta? É preciso usar nossa língua sabiamente, pois “a morte e a
vida estão no poder da língua [...]” (Pv 18.21). Grande parte dos incêndios nas
florestas inicia através de uma pequena fagulha. Todavia, essa faísca
alastra-se podendo destruir grandes áreas de vegetação. Da mesma forma, são as
palavras por nós pronunciadas. Se não forem proclamadas com bom senso, muitas
tragédias podem acontecer. [Comentário: A
verdadeira fonte de um mal que não se pode refrear causado pela língua é o
inferno. De um lado, a língua cospe peçonha mortal; do outro, é manipulada por
espíritos do mal. Portanto, nenhum homem pode domar a língua! Interessante
notar que o próprio Jesus Cristo disse que a boca fala daquilo que o coração
está cheio (Mt 12.34). Se o coração é mau, a palavra que vai sair da boca é má.
A incoerência da língua está no fato de que com ela bendizemos a Deus e também
amaldiçoamos ao irmão, criado à imagem e semelhança de Deus. O Rev. Hernandes
Dias Lopes, Pastor Titular da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória-ES,
escreve em sua obra intitulada TIAGO
Transformando provas em triunfo (Editora Hagnos): “Tg 3.3-5 Nós podemos
conduzir uma multidão pela maneira como falamos, tanto para o bem como para o
mal. Martin Luther King foi um pastor batista, cujo pai e avô também tinham
sido pastores. Sua liderança foi fundamental para o sucesso do movimento de
igualdade de direitos civis entre negros e brancos nos Estados Unidos, nos idos
de 1960. Enquanto exercia seu ministério em Montgomery, Alabama, relacionou-se
com um grupo de militantes dos direitos civis e tornou-se conhecido ao liderar
um movimento contra a segregação racial nos ônibus da cidade. Em agosto de
1963, a campanha antirracista atingiu o auge, quando mais de 200.000 pessoas
participaram de uma concentração diante do monumento de Lincoln, em Washington.
Na ocasião, Luther King pronunciou seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”. Ele
disse à multidão presente, bem como aos pósteros: “Eu tenho um sonho, de que um
dia, em meu país, os meus filhos sejam julgados não pela cor da sua pele, mas
pela dignidade de seu caráter”. Em 1964, ano em que Martin Luther King ganhou o
Prêmio Nobel da Paz, o governo americano sancionou a lei dos direitos civis,
favorável às minorias raciais. Martin Luther King foi assassinado por um
atirador branco em Memphis, no Tennessee, em 4 de abril de 1968. Ele tombou
como mártir da sua causa, mas deixou depois de si, um país melhor, mais justo e
mais humano. Mas a língua também pode induzir as pessoas à prática do mal.
Adolf Hitler era um orador que eletrizava as massas e conduzia multidões
inteiras à loucura e às práticas extremamente cruéis e desumanas. Ele usou sua
oratória para levar a Alemanha à guerra. Suas ideias foram despejadas como
ácido do inferno sobre a mente do povo alemão. Até hoje ficamos perplexos e
atordoados ao vermos filmes como O Holocausto, A Lista de Schindler e O
Pianista. Esses filmes retratam a realidade crua e perversa da destruição em
massa do povo judeu nos campos de concentração nazistas. A língua tem o poder
de dirigir tanto para o bem como para o mal. Tiago usa duas figuras para
mostrar o poder da língua: o freio e o leme (3.3,4). Para que serve um cavalo
indomável e selvagem? Um animal indócil não pode ser útil, antes, é perigoso.
Mas, se você coloca freio nesse cavalo, você o conduz para onde você quer.
Através do freio a inclinação selvagem é subjugada, e ele se torna dócil e
útil. Tiago diz que a língua é do mesmo jeito. Se você consegue controlar a sua
língua, também conseguirá dominar os seus impulsos, a sua natureza e canalizar
toda a sua vida para um fim proveitoso. Tiago usa também a figura do leme. Um
navio transatlântico é dirigido para lá ou para cá, pelo timoneiro, por meio de
um pequeno leme. Imagine o que seria um navio sem o leme. Colocaria em risco a
vida dos tripulantes, a vida dos passageiros e a carga que transporta. Isso
seria um grande desastre. Sem leme, um navio seria um instrumento de morte, de
naufrágio, de loucura. O leme, porém, pode conduzir esse grande transatlântico,
fugindo dos rochedos, das rochas submersas e pode transportar em paz e
segurança os passageiros, os tripulantes e a carga que nele está. O que Tiago
está dizendo é que se nós não controlarmos a nossa língua, nós seremos como um
transatlântico sem leme e sem direção. Se não controlarmos nossa língua, vamos
nos arrebentar nos rochedos, vamos nos destruir e vamos ainda destruir quem
está perto de nós, porque a língua tem poder de dirigir para bem ou para o
mal.” LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo.
Editora Hagnos. pag. 61-63.]
3. Para dominar a língua. Ainda no versículo sete, Tiago faz outra
ilustração em relação ao tema do uso da língua. Ele mostra que a natureza
humana conseguiu domar e adestrar as bestas-feras, as aves, os répteis e os
animais do mar. Mas a língua do ser humano até hoje não houve quem fosse capaz
de dominar. Por esforço próprio o homem não terá forças para domar o seu desejo
e as suas vontades. Mas quando Deus passa a nos governar, a língua do crente
deixa de ser um órgão de destruição e passa a ser um instrumento poderoso e
abençoador, usado para o louvor da glória do Eterno. A fim de dominar a nossa
língua, devemos entregar o nosso coração inteiramente ao Senhor, “Pois do que
há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt 12.34). [Comentário: A terceira figura de Tiago que contrasta a
magnitude da causa e a extensão dos efeitos também introduz a ideia dos
resultados trágicos do falar incontrolado: Vede quão grande bosque um pequeno
fogo incendeia. A língua também é um fogo (w. 5-6). Tiago agora descreve a
língua perversa. Easton traduz: “Neste mundo de injustiça, a língua é colocada
entre os nossos membros”. 5 Esse fogo destrói com o seu calor e contamina todo
o corpo (v. 6) com sua fumaça. O incêndio inflamado por uma língua
descontrolada é causado pelo Diabo; é inflamada pelo inferno. O curso da
natureza é interpretado da seguinte forma: “O curso normal dos afazeres humanos
é inflamado — tornando-se destrutivo para a humanidade — por línguas
perversas”. “Você e eu não existimos meramente como entidades separadas. Cada
um de nós não é como uma casa separada da outra [...] Tiago nos vê como casas
que estão reunidas em uma grande cidade. Um fogo que acende uma casa, logo se
espalhará e se tomará um grande incêndio destrutivo”. O sentido do versículo
todo é bastante claro na Bíblia Viva: “E a língua é uma chama de fogo. Está
cheia de maldade e envenena todos os membros do corpo. E é o próprio inferno
que ateia fogo à língua, que pode transformar toda a nossa vida numa chama
ardente de destruição e desastre”. A. F. Harper. Comentário Bíblico
Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 175.]
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
Aprendemos com o meio-irmão do Senhor que embora a
língua seja um pequeno órgão do nosso corpo, ela tem poder para edificar e
destruir pessoas e instituições. Precisamos submeter este pequeno órgão ao
Criador.
III. NÃO PODEMOS AGIR DE DUPLA
MANEIRA (Tg 3.10-12)
1. Bênção e maldição (v.10). Tiago até reconhece a possibilidade de alguém
usar a língua de modo ambíguo. Entretanto, deve a mesma língua que expressa o
amor a Deus, deixar-se usar para destruir pessoas? Apesar de o meio-irmão do
Senhor dizer que tudo que existe obedece sua própria natureza, se
experimentamos o novo nascimento, tornamo-nos uma nova criação, isto é,
adquirimos outra natureza. Esta tem de ser manifesta em nosso falar e agir.
Portanto, se você foi transformado pela graça de Deus mediante a fé de Cristo,
a sua língua não pode ser um instrumento maligno. A fofoca, a mentira, a
calúnia e a difamação são obras carnais e não podem ter lugar em nossa vida. [Comentário: O que se tem dito até com
Tiago, não implica dizer que a língua seja incapaz de falar o bem, de abençoar.
Ele afirma que este pequeno órgão é notadamente inconstante, e está propensa a
falar mal. Como é estranho que a língua consiga bendizer a Deus e Pai, em um
momento, e, a seguir, amaldiçoar os homens. Devemos ter, pelos seres humanos, a
mesma atitude de respeito que temos por Deus, porque eles foram criados à sua
imagem. Mas temos esta Língua horrível de duas faces, de modo que de uma mesma
boca procede bênção e maldição. Quando entrava no santuário, o sumo sacerdote
de Israel trazia na cobertura de sua cabeça as palavras: “SANTO PARA O SENHOR” (Êx
28.36; 39.30), isto é, ele era propriedade de Deus e reservado exclusivamente
ao serviço dEle. Do mesmo modo nosso Senhor, que nos “comprou por preço” (1Co 6.20), visa praticamente “inscrever” a
frase “SANTO PARA O SENHOR” em nossa
vida, em especial sobre nossa língua e nossos lábios, declarando-nos
pertencentes a ele e reservados exclusivamente para o seu serviço (Sl 51.17;
71.23). A carta de Tiago é pregação em prol da santificação, e da santificação
também faz parte da “nova natureza agradável a DEUS” Christoph Blumhardt
citado por Fritz Grunzweig, no Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora
Evangélica Esperança.]
2. Exemplos da natureza (vv.11,12). O líder da igreja de Jerusalém usa dois
exemplos da natureza para apontar a incoerência de agirmos duplamente. Tiago
questiona a possibilidade de a fonte que jorra água doce jorrar igualmente água
salgada. Para provar a impossibilidade natural deste fenômeno, o meio-irmão do
Senhor pergunta, de maneira retórica, se uma figueira poderia produzir
azeitonas, e a videira, figos. Naturalmente, a resposta é um sonoro não!
Portanto, a pessoa que bendiz ao Senhor não maldiz o próximo. Se Deus é amor,
como podemos odiar alguém? [Comentário:
Essa contradição na conduta é tão desnatural quanto imoral. A palavra Porventura
espera um claro “não” como resposta.
O sentido é: “Você certamente não espera
isso, espera?”. Ninguém que visita fontes salgadas, como as que podem ser encontradas
próximo ao Mar Morto, esperaria encontrar água salgada e água doce vindo da
mesma fonte. E se isso ocorresse, a água salgada estragaria a doce; a má
estragaria a boa. O pomar e a vinha ensinam a mesma verdade. “Conhece-se o
fruto pela árvore”. Jesus lembrou aos seus ouvintes que não se colhem “uvas dos
espinheiros ou figos dos abrolhos” (Mt 7.16). Tiago faz eco a essa verdade
quando pergunta: pode também a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos?
(v. 12).]
3. Uma única fonte. Aquele que bebe da água da vida não pode fazer
jorrar água para morte. Quem bebe da água limpa do Cristo de Deus não pode
transbordar água suja. Portanto, a palavra proferida por um discípulo de Cristo
deve edificar os irmãos, dar graça aos que ouvem e sarar quem se encontra
ferido. [Comentário: Cito
mais uma vez a obra do Rev. Hernandes Dias Lopes, quando ele comenta Tg 3.12: “Na Palestina, região árida e seca, quando se
fala em fonte, fala-se de um lugar muitíssimo precioso. A fonte é um lugar onde
os sedentos, os cansados chegam e encontram alento, vida, força, ânimo e
coragem para prosseguirem a caminhada da vida. A Bíblia fala de Agar
perambulando no deserto com seu filho Ismael. A água acabou, a sede implacável
a dominou e o desespero tomou conta dela e do seu filho. Sem esperança,
sentou-se longe do seu filho para chorar, pois não tinha coragem de vê-lo
morrer na ânsia da sede implacável. Mas, do céu o anjo de Deus lhe falou.
Mostrou-lhe uma fonte a jorrar água perto de Ismael e a esperança brotou em sua
alma, a vida floresceu em seu peito e o futuro sorriu para ela (Gn 21.15-21).
Assim é uma palavra boa: traz alento em meio ao cansaço; traz esperança em meio
ao desespero; traz vida no portal da morte. Que bênção! Você poder usar sua
língua como uma fonte de refrigério para as pessoas, para abençoá-las,
encorajá-las e consolá-las. Como é precioso trazer uma palavra boa, animadora e
restauradora para uma alma aflita. A principal marca do cristão maduro é ser
parecido com Jesus, o varão perfeito. Uma das principais características de
Jesus era que sempre que uma pessoa chegava aflita perto dele saía animada,
restaurada, com novo entusiasmo pela vida. Quando as pessoas chegam perto de
você, elas saem mais animadas e encantadas com a vida? Elas saem cheias de
entusiasmo, dizendo que valeu a pena conversar com você? Você tem sido uma
fonte de vida para as pessoas? Sua família é abençoada pelas suas palavras?
Seus colegas de escola e de trabalho são encorajados com a maneira de você
falar?” LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo.
Editora Hagnos. pag. 68.]
SINOPSE
DO TÓPICO (3)
Como servos de Deus, não podemos utilizar nossa
língua para expressar palavras de adoração ao Senhor e em seguida utilizá-la
para destruir o nosso próximo.
Uma vez Salomão disse que a boca do justo é manancial de vida (Pv
10.11), e que as palavras da boca do homem são águas profundas (Pv 18.4).
Tomemos o devido cuidado com a maneira como usamos a nossa língua. Não
esqueçamos que, no dia do Juízo, daremos conta a Deus de toda palavra ociosa
proferida pela nossa boca (Mt 12.36). [Comentário:
O que os ímpios dizem não é ouvido ou assimilado: a violência deles
cancela isso. A imagem do poço, usada por Tiago, nos convida a uma reflexão
séria: não jorra simultaneamente água doce e água salobra. O homem ímpio tem
essa estranha mistura constantemente. Meus irmãos, importa não sermos
hipócritas, a circunstância de que de nossa vida sempre brotam duas coisas
distintas, e isso se explica pelo fato de que somos abastecidos a partir de
duas fontes diferentes: o Espírito Santo de Deus que habita em nós e a nossa
natureza carnal, humana e dacaída que luta ferozmente para reconquistar a
soberania em nosso ser. Por isso importa suplicar como João Calvino: “Cor mio tibi offero, Domine, prompte et
sincere!” (O meu coração ofereço a Ti, Senhor, pronto e sincero!).
Igualmente é necessário que não corramos para lá e para cá, mas que nossa
comunhão com Jesus se torne sólida e constante (Jo 7.38; Cl 2.7;Hb 13.9).]
“NaquEle que me garante: "Pela graça sois
salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”,
Graça e Paz a todos que estão em
Cristo!
Francisco Barbosa
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