LEITURA BÍBLICA EM CLASSE Tiago 1.19-27
19 Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir,
tardio para falar, tardio para se irar.
20 Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus.
21 Por isso, rejeitando toda a imundícia e superfluidade de malícia,
recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar as vossas
almas.
22 E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos
a vós mesmos.
23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante
ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural;
24 Porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como
era.
25 Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e
nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, este tal
será bem-aventurado no seu feito.
26 Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua,
antes engana o seu coração, a religião desse é vã.
27 A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os
órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.
OBJETIVOS
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
- Aprender sobre estar "pronto para ouvir" e "tardio para falar".
- Compreender a importância de ser praticante, e não só ouvinte.
- Saber qual é a religião pura e verdadeira.
PALAVRA CHAVE
Religião: Geralmente caracteriza-se pela crença na existência
de um poder ou princípio superior, sobrenatural, do qual depende o destino do
ser humano e ao qual se deve respeito e obediência.
COMENTÁRIO
SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
O ser humano não é apenas homo sapiens, é também homo religiosus, além
de ser capaz de conhecer, tem a necessidade de transcender. Existem muitas
discussões a respeito do papel da religiosidade para a humanidade. Na aula de
hoje, a partir de Tiago, veremos que a religião verdadeira diz respeito à
prática do cotidiano, que se materializa de várias formas, especialmente no
cuidado ao falar. Para tanto, faz-se necessário que consideremos a Palavra de
Deus, não apenas como ouvintes, mas também como praticantes.
1. A VERDADEIRA RELIGIOSIDADE
Há um provérbio antigo a partir do qual se argumenta que “todos os
caminhos levam a Roma”, e que geralmente é usado para defender a verdade em
todas as religiões. O pensamento moderno, pautado no relativismo filosófico,
assume que todos os posicionamentos, em relação a Deus, são corretos. Esse
ponto de vista tende a agradar as pessoas, principalmente os intelectuais, que
se negam a aceitar a exclusividade da fé cristã. Ainda que o caminho de Cristo
seja considerado “politicamente incorreto”, não podemos deixar de defendê-lo,
isso porque Ele é o único acesso ao Pai (Jo. 14.6). Ao contrário do que se
costuma defender, esse caminho não é exclusivista, mas inclusivista, na medida
em que todo aquele que nEle crê tem a vida eterna (Jo. 3.16). O fundamento
dessa verdade se encontra na condição de perdição da humanidade, por causa do
seu pecado, comumente denominada de Queda pelos teólogos (Rm. 3.23). A saída de
Deus para tal condição se encontra em Cristo, o dom gratuito de Deus (Rm.
6.23), não na religião humana, que não passa de torre de Babel (Gn. 11). Jesus
é o sim de Deus, por causa da revelação em Cristo a religião perde sua razão de
ser para a salvação (II Co. 1.19-21). Por esse motivo, diante da multidão em
Jerusalém, Pedro defendeu que há apenas um nome pelo qual importa que as
pessoas sejam salvas, e este é Jesus Cristo (At. 4.12). Paulo, ao
escrever para Timóteo, reafirma essa doutrina, ao defender que há apenas um
Mediador entre Deus e os homens (I Tm. 2.5). Essa é a confissão de fé do
cristianismo bíblico, não podemos fazer concessões em relação ao evangelho de
Cristo (Mt. 16.16). Mas o evangelho não é apenas isso, envolve uma atuação
prática diante da vida. Tiago confirma essa premissa ao argumentar que mesmo
entre aqueles que se dizem crentes há uma religiosidade falsa. Existem
inclusive pessoas que pensam que estão salvas, mas que na realidade estão
distantes de Deus (Mt. 7.22,23). Outras imaginam que são espirituais apenas por
seguirem os procedimentos de uma igreja, mas isso não se sustenta à luz da
Palavra de Deus (Ap. 3.17).
2. A RELIGIÃO PURA ALICERÇADA NA PALAVRA
A verdadeira religião não está fundamentada na mera subjetividade, não
se trata de um mero “se sentir bem”. É chegada a hora de lembrar, no contexto
evangélico, que enganoso é o coração do homem (Jr. 17.9). Existe uma ala nesse
meio que condena o liberalismo teológico alicerçado no racionalismo. Tal
crítica tem fundamento, pois não podemos deixar de acreditar no sobrenatural,
conforme exposto nas Sagradas Escrituras. Mas precisamos atentar para outro
tipo de liberalismo, fundamentado nas emoções. Os seres humanos foram criados
por Deus tanto com capacidade de raciocínio quanto de sentir. Não podemos desconsiderar
essa dádiva, devemos colocar nossos pensamentos e sentimentos diante de Deus. O
movimento pentecostal clássico em seus primórdios estava fundamentado tanto no
poder de Deus quanto na Palavra. Nesses últimos anos temos testemunhada uma
derrocada nesse sentido, na medida em que os sentimentos, que podem resultar em
subjetividade, são assumidos como determinantes na revelação de Deus. A
religião cristã pura e verdadeira nasce na Palavra de Deus (Tg. 1.18), não
apenas através do ouvir, mas de uma prática condizente com a mensagem revelada.
A palavra de Deus deve ser recebida pelo crente (Tg. 1.21), sendo comparada a
uma semente colocada no solo (Mt. 13.1-23). Uma característica destacada por
Tiago é a mansidão (Tg. 1.19), sem essa o terreno do coração não pode acolher a
Palavra de Deus. Há muitos que não se dobram diante da mensagem, parecem ter
comichão nos ouvidos, buscam mestres para si, a fim de satisfazerem seus
pecados (II Tm. 4.1-3). O movimento evangélico brasileiro se transformou em um
restaurante self-service. As pessoas não querem ter compromisso com a Palavra,
ao invés disso escolhem apenas o que lhes agradam. A religião de Jesus Cristo
desagrada ao ser humano porque o confronta diante dos seus interesses.
Sinceramente existem coisas que gostaríamos que Cristo não tivesse dito (Jo.
6.68). Mas não somos donos do evangelho, pois este é o poder de Deus para todo
o que crer (Rm. 1.6), não temos motivos para nos envergonhar dele, mesmo que
seja “politicamente incorreto”. Para agradar o pensamento moderno não podemos
fazer concessões quanto ao teor do evangelho, sob pena de transformá-lo em
outro evangelho, diferente daquele pregado por Cristo e Paulo (Gl. 1.9). A fé
genuinamente evangélica impele à prática de vida obediente (Tg. 1.22-25), mais do
que ler a Bíblia é preciso permitir que essa transforme as nossas vidas (Tg.
1.23,24), que nossos pecados sejam identificados por ela, e sejamos conduzidos
ao arrependimento pelo Espírito Santo (Hb. 4.12). A sociedade não é o nosso
espelho, por isso devemos nos pautar pela Palavra de Deus, é por meio dela que
sabemos se estamos em conformidade com a vontade de Deus (Rm. 12.1,2).
3. A RELIGIÃO PURA E O CUIDADO AO FALAR.
A religião pura, no dizer de Tiago, é uma decisão de obedecer (Tg.
1.15), em consonância com a palavra de Cristo, que nos interpela à permanência
na Palavra (Jo. 8.34). A ausência de sujeição tem causado transtornos à fé
evangélica. O Senhor nos insta ao cuidado com a língua, há crentes que falam de
demais, além do necessário. Fazendo eco às palavras do autor dos Provérbios,
devemos lembrar que a morte e a vida estão no poder da língua (Pv. 18.21). O
salmista também sabia desse risco, por isso orava para que o Senhor pusesse uma
guarda nos seus lábios (Sl. 141.3). Há pessoas que se apressam a falar, e isso
geralmente traz danos à sua existência, sobretudo à vida espiritual. Quantos
problemas poderiam ter sido evitados se não nos adiantássemos no falar? O livro
de Provérbios traz lições preciosas a esse respeito, para isso devemos nos
distanciar da perversidade dos lábios (Pv. 4.24), e demonstrar prudência,
calando-nos quando necessário (Pv. 11.12). Quanto mais se semeia a contenda,
mais a situação se complica, por isso devemos ouvir mais e falar menos
(Pv.12.,18,25). Nunca é demais lembrar que Deus nos deu dois ouvidos e apenas
uma boca. Muitas pessoas estão arruinadas porque falaram demais, quando
deveriam ter calado (Pv. 13.2,3). Aprendamos, pois, a mansidão, tenhamos
cuidado para não nos exceder, até mesmo quando provocados (Pv. 15.1-4). Ao
invés de semear a contenda na igreja, devemos ser brandos e falar apenas o que
resulta em edificação (Pv. 15.26,28; 16.21,24; 18.6,7). A moderação cristã é
caracterizada pelo controle, o domínio próprio, que é um aspecto do fruto do
espírito (Gl. 5.22), precisa ser cultivada (Pv. 16.32). Jesus advertiu que
seremos julgados pelas palavras que pronunciamos, portanto tenhamos cuidado
(Mt. 12.36,37), fujamos da maledicência (Pv. 6.19).
CONCLUSÃO
As pessoas falam demais e por não calcularem as consequências do que
dizem estão sendo destruídas. Tiago nos adverte quanto ao perigo de uma falsa
religiosidade, desvinculada de uma prática cristã revelada na Palavra. A
religião pura e verdadeira é demonstrada através do controle da língua, mas não
somente isso, também pelo interesse comunitário. A fé cristã é vã se não nos
envolvermos em atitudes que diminuam o sofrimento daqueles que se encontram em
situação de vulnerabilidade (Tg. 1.27).
REFERÊNCIAS
MOTYER,
J. A. The message of James. Downers Grove, Inter Versity Press, 1985.
WIERSBE,
W. W. Be mature: James. Colorado Springs: David C. Cook, 2008.
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Na lição dessa semana vamos estudar a maneira adequada de o crente usar
um instrumento maravilhoso, mas ao mesmo tempo, potencialmente perigoso: a
fala. Este assunto está interligado à temática da verdadeira religião que
agrada a Deus. O fenômeno da fala é uma das fontes de expressão do pensamento
humano, como também é responsável pelo processo de comunicação e de formação da
identidade cultural de uma sociedade. As pessoas querem falar às outras àquilo
que pensam. O crente, todavia, tem o compromisso de não apenas falar o que
pensa, mas agir como propõe o Evangelho. [Comentário: Dizendo
“se alguém não tropeça em palavra”,
Tiago focaliza um pecado especial que o preocupa: a língua solta. A necessidade
de controlar a língua era bem conhecida no judaísmo e no cristianismo (Pv
10.19; 21.23; Ec 5.1). Tiago salienta aqui, como o fez em 1.26, a importância
de controlar a língua, pois afirma a respeito de quem for capaz de domá-la:
esse homem é perfeito, e capaz de refrear todo o corpo. Isto significa que tal
pessoa é madura, tem caráter cristão completo (1.4) e, assim, capacitada a
enfrentar todas as provações e tentações, e a controlar todos os impulsos maus
(1.12-15). Tiago caminha um passo à frente dos rabinos. O controle dos maus
impulsos é bom, concordando com o que diz Paulo em 1 Coríntios 9.24-27, mas os
impulsos mais difíceis de controlar são os da língua. Mantenha pura a fala, e o
resto será fácil; eis a marca do cristão maduro. Cristo ensinou que os homens
terão de prestar contas, finalmente, de sua vida na terra, incluindo «toda
palavra frívola que proferirem» (Mt 12.36). Tudo isso ilustra o quanto
precisamos da graça de Deus. O uso da linguagem é uma questão importante. Esta
enciclopédia contém um artigo intitulado Linguagem.] Tenhamos todos uma excelente e abençoada aula!
I. PRONTO PARA OUVIR E TARDIO PARA FALAR (Tg 1.19,20)
1. Pronto para ouvir. Para alguns crentes, a pessoa sábia é a que
sempre tem algo a falar. Ouvir é um empreendimento trabalhoso e, por isso,
ignorado por muitos. Diferentemente, as Escrituras admoestam-nos a ser prontos
para ouvir. No versículo 19, Tiago introduz o seu ensino sobre o
"ouvir" e o "falar" destacando a expressão sabei isto. Com
essa expressão, ele demonstra a sua preocupação pastoral com os seus leitores.
Outro termo no versículo 19 chama-nos a atenção: pronto. No grego, a palavra
significa "rápido", "ligeiro" e "veloz". Ali, o
escritor sacro incentiva-nos a estar disponíveis a ouvir. É uma atitude que
depende de uma disposição e também da decisão em ouvir o outro. A exemplo do
profeta Samuel, que desde a sua infância foi ensinado a ouvir a voz divina (1
Sm 3.10; 16.6-13), o povo de Deus deve persistir em escutar os desígnios do
Pai, pois nesses últimos dias têm Ele falado através do seu Filho, o Verbo Vivo
de Deus (Hb 1.1; cf. Jo 1.1). [Comentário:
A expressão “seja pronto para ouvir”
é uma bela maneira de traduzir a ideia de uma audição ativa. Não devemos
simplesmente deixar de falar; devemos estar prontos e dispostos para ouvir.
Este ouvir com “prontidão” obviamente é feito com discernimento. Devemos
examinar o que ouvimos com a Palavra de Deus. Se não ouvirmos, tanto
atentamente quanto prontamente, podemos ser levados a todos os tipos de falsos
ensinos e enganos. Em outras palavras, ao invés de exibirem um mau
temperamento, forçando sua vontade sobre os outros, os crentes deveriam estar
prontos a ouvir e ver os pontos de vista dos outros - Paulo traça esse conceito
em Rm 12.16. Deve haver uma atitude de mútua condescendência, o que é apenas
outra maneira de se falar sobre o amor mútuo em operação. O amor cristão consiste
em cuidarmos dos outros conforme cuidamos de nós mesmos. Aquele que segue essa
regra não explode em ira nem anseia por impor sua vontade aos outros. O
Comentário Esperança Carta De Tiago traz o seguinte comentário: “Se já entre humanos é importante ouvir
corretamente, é duplamente necessário ser “rápido no ouvir” onde e quando
acontece a palavra de DEUS, “a palavra da verdade” (v. 18). Ao ouvirmos sua
palavra, DEUS semeia a nova vida em nós. É assim que ele a nutre, cria espaço
para ela e afasta o “inço” que tenta impedir e sufocar essa “plantação” de DEUS
em nós (Lc 8.11; Mt 13.7,22; 1Co 3.9). Desse modo ele fomenta a nova vida em
nós e faz com que amadureça. Cumpre aqui ser sobretudo “rápido para ouvir” (com
que nos ocupamos primeiro pela manhã, a Bíblia ou o jornal?) Para filhos de
DEUS a palavra dele constitui o elemento vital (Lc 2.49). Contudo, “rápido para
ouvir” significa para cristãos também que deem ouvidos a seres humanos:
independentemente de se tratar do serviço de amar ou de testemunhar. Temos de
saber o que falta ao outro e quais são suas indagações, pelo que devemos
ouvi-lo atentamente. Pedro afirma: “Estai sempre preparados para responder a
todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.15). E Paulo
escreve: “Sabei como deveis responder a cada um” (Cl 4.6). Ou seja, pergunta-se
e são dadas respostas. Não um “disco” que simplesmente é posto para tocar. Cada
cristão vivo é convocado a ser conselheiro espiritual em seu entorno. A
premissa básica de todo serviço de aconselhamento é primeiro prestar atenção ao
outro”. Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora
Evangélica Esperança. Russell Norman Champlin escreve em sua obra
intitulada Antigo Testamento
Interpretado versículo por versículo, o seguinte: “1Sm 3.10 Chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel. Este foi o
quarto e último chamado. As primeiras palavras deste versículo mostram-nos que
o Senhor não somente chamou Samuel mediante aquela voz misteriosa, mas também
fez sentir a Sua presença. Todavia, tem-se a impressão de que o mesmo havia
acontecido nas três vezes anteriores, embora somente aqui isso nos seja dito.
Nas ocasiões anteriores, Samuel ouviu mas não interpretou corretamente a voz. E
também não tomou consciência da presença divina. Sua experiência, pois, estava
crescendo em poder, conforme avançava. O Quarto Chamado. A voz chamara Samuel
pelo nome. Nessa quarta vez, porém, Samuel foi capaz de receber a comunicação
tencionada, visto que tinha obedecido às instruções dadas por Eli. Responder diretamente
à “voz” permitiu- lhe receber a mensagem diretamente. O texto não indica que a
glória shekinah de DEUS se tenha manifestado, mas talvez devamos entender que
assim sucedeu. Ver no Dicionário o artigo chamado Shekinah. A glória de DEUS
moveu-se do interior do SANTO dos Santos e pôs-se ao lado do leito de Samuel.
Foi assim que o DEUS infinito condescendeu diante do homem finito. E essa é a
própria natureza do drama divino-humano em que o ser humano está envolvido. A
maior e mais eficaz de todas as condescendências divinas ocorreu quando o Logos
se encarnou e se tornou um homem entre os homens (ver João 1.14). “Vede o
quanto DEUS ama s. santidade nos jovens. O menino Samuel foi preferido por Ele,
em lugar de Eli, o idoso sumo sacerdote e juiz" (Teodoreto). “... quando
finalmente Samuel respondeu à voz, esta se tornou uma visão" (George B.
Caird, in loc.)”. CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento
Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1137.]
2. Tardio para falar. Quem ouve com atenção adquire a rara
capacidade de opinar acerca de qualquer assunto. É justamente por isso que a
Carta de Tiago exorta-nos a ser tardios para falar (v.19). Uma palavra dita sem
pensar, fora de tempo, e sem conhecimento dos fatos, pode provocar verdadeiras
tragédias. Quem nunca se arrependeu de ter falado antes de pensar? Diante de
Faraó, o imperador do Egito Antigo, o patriarca José aproveitou sabiamente um
momento ímpar em sua vida. Antes de responder às perguntas sobre os sonhos do
monarca, José as ouviu e refletiu sobre elas. Em seguida, orientado pelo
Senhor, respondeu sabiamente Faraó (Gn 41.16). Temos de aprender a refletir
sobre o que vamos dizer e falar no tempo certo. Pese bem as palavras, e ore
como o rei Davi: "Põe, ó SENHOR, uma guarda à minha boca; guarda a porta
dos meus lábios" (Sl 141.3). [Comentário: Imaginemos uma moeda com suas duas faces - de
um lado “Ser pronto para ouvir” e do outro “tardio para falar”. A lentidão em
falar significa falar com humildade e paciência, não com palavras ásperas nem
tagarelando sem parar. O falar constante impede que a pessoa seja capaz de
ouvir. A sabedoria nem sempre é ter algo a dizer; ela envolve o ouvir
cuidadosamente, o refletir piedosamente, e o falar mansamente. Quando falamos
demais e ouvimos pouco, mostramos aos outros que pensamos que as nossas ideias
são muito mais importantes do que as deles. Tiago nos adverte sabiamente para
revertermos este processo. Precisamos colocar um cronômetro mental nas nossas
conversas e observar o quanto falamos e o quanto ouvimos. Tiago não tem muito a
dizer a respeito de pecados da carne, tão característicos dos gentios do
primeiro século. Em vez disso ele nos adverte em relação aos pecados que os
judeus estavam mais inclinados a praticar — orgulho, impaciência e outros
pecados do temperamento e da língua. Dessa forma, o apóstolo cita três
preceitos que provavelmente eram conhecidos aos seus leitores: Todo o homem
seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar (v. 19). Visto
que ele está prestes a apresentar uma advertência severa, Tiago inicia suas
palavras com uma expressão de profunda afeição e nela identifica-se com os seus
ouvintes — meus amados irmãos. Parece mais certo considerar o ouvir e o falar
em um sentido geral, em vez de restringir o significado (como alguns fazem) ao
ouvir e falar a mensagem do evangelho. Tiago mais tarde trata especificamente
do relacionamento do homem com a “palavra” salvadora. Zeno ressalta que um
homem tem dois ouvidos mas somente uma boca; ele, portanto, deveria ouvir duas
vezes mais do que falar. Há uma conexão íntima entre o ouvir e o falar; também
entre o falar e a ira. Aquele que ouve mais atentamente entende melhor o seu
próximo; entender leva a um falar ponderado e a uma resposta branda que “desvia
o furor”. O falar impensado, por outro lado, com frequência produz a palavra
pesada que “suscita a ira” (Pv 15.1). A. F. Harper. Comentário Bíblico
Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 161. É necessário que,
enquanto prestamos atenção no outro, já reflitamos sobre uma resposta que o
ajude e o leve adiante, e isso exige que sejamos tardios em falar. O filósofo
grego Xenócrates (406 a.C. — 314 a.C.) dizia: “Tenho-me arrependido muitas
vezes por ter falado, mas nunca por ter guardado silêncio”, até parece que ele
leu o Salmo 39.1,9!]
3. Controle a sua ira. Uma terceira admoestação encontrada no
versículo 19 da carta de Tiago expressa o seguinte: tardios para se irar. A ira
é um profundo sentimento de ódio e rancor contra a outra pessoa. Uma vez
descontrolada, ela não produz a justiça de Deus, mas uma justiça segundo o
critério da pessoa que sofreu o dano: a vingança. A Palavra de Deus não proíbe
o crente de ficar indignado contra a injustiça (Is 58.1,7; Lc 19.45). Contudo,
ao mesmo tempo, a Bíblia estabelece limites para o nosso temperamento não se
achar irrefletido, descontrolado, deixando-nos impulsivamente irados (Ef 4.26;
Pv 17.27). O cristão, templo do Espírito Santo, tem de levar a sua mente cativa
a Cristo (2 Co 10.5) e manifestar o fruto do Santo Espírito: o domínio próprio
(Gl 5.22 - ARA). Fuja da aparência do mal. Tenha autocontrole. [Comentário: Segundo o dicionário
online de português, ira
é: Paixão que incita toda a nossa
agressividade contra alguém ou algo; raiva, cólera, fúria: a ira é um dos sete
pecados capitais. Indignação furiosa, desejo veemente de vingança: a justa ira
dos explorados. O produto da ira sempre será uma ferida tanto no nosso
próximo como em nós mesmos. Portanto, a recomendação de Tiago é que sejamos
tardios [...] para se irar (v. 19). O crente deve abandonar a ira que não opera
a justiça de Deus (v. 20). A justiça de Deus significa conduta certa, isto é,
fazer o que Deus quer (Mt 6.33). A ira carnal não só nos leva a uma conduta sem
amor e a desagradar a Deus, mas esse comportamento irado em um cristão professo
levanta dúvida na mente dos observadores e, dessa forma, diminui o progresso do
Reino de Deus. Talvez alguém argumente: “mas Jesus irou-se”, e eu diária que a
única ira que o crente deve manifestar é a mesma ira que Jesus manifestou
sentiu: “E, olhando para eles em redor
com indignação, condoendo-se da dureza do seu coração, disse ao homem: Estende
a tua mão. E ele a estendeu, e foi-lhe restituída a sua mão, sã como a outra” (Mc
3.5). Esse tipo de ira não é a expressão de uma petulância particular, mas de
um ressentimento público contra o comportamento e as ações que levam outros a
sofrer sem culpa da pessoa irada. No episódio da purificação do Templo, onde
Jesus é descrito com um azorrague na mão, indignado com os cambistas e
vendilhões, expulsa-os do pátio dos Gentios, o imenso pátio externo do Templo,
se fizermos uma leitura cuidadosa dos quatro relatos sobre a purificação do
Templo não dará qualquer suporte à ideia de que JESUS usou de violência física
contra as pessoas, ou roubou-as de suas posses. Ele simplesmente fez com que os
homens - com seus pertences-se retirassem da área sagrada. Jesus enfureceu-se
porque o lugar de adoração a Deus tornara-se lugar de extorsão e barreira aos
gentios que desejavam adorar. Jesus citou Isaías 56.7 e usou essa passagem para
explicar que o Templo de Deus deveria ser uma casa de oração, mas os
comerciantes e os cambistas o haviam convertido em um covil de ladrões. Matthew
Henry comentando o texto de Lucas 19.45, escreve: “O zelo que Jesus mostrou pela purificação do Templo. Embora ele devesse
ser destruído dentro de pouco tempo, não era motivo para que não se cuidasse
dele, enquanto isto. 1. Cristo o limpou daqueles que o profanavam: “Entrando no
Templo, começou a expulsar todos os que nele vendiam e compravam”, v. 45. Com
isto (embora Ele fosse representado como um inimigo do templo, e este foi o
crime de que Ele foi acusado diante do sumo sacerdote), Ele demonstra que tinha
um amor pelo Templo mais verdadeiro do que aqueles que tinham a mesma veneração
pelo seu corbã, o seu tesouro, como se fosse algo sagrado, pois a sua glória
estava mais na sua pureza do que na sua riqueza. Cristo deu razões para
desalojar os mercadores do Templo, v. 46. O Templo é casa de oração, consagrado
para a comunhão com Deus: os compradores e vendedores fizeram dele um covil de
salteadores, pelos negócios fraudulentos que eram realizados ali, o que, de
nenhuma maneira, devia ser permitido, pois seria uma distração para aqueles que
vinham até ali para orar.” HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry
Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 695. As
palavras “irai-vos e não pequeis” são
tiradas de Salmos 4.4. A Bíblia não diz que não devemos nos irar, mas ela mostra
que é importante controlarmos adequadamente a nossa ira. Não devemos ceder aos
nossos sentimentos de ira ou permitir que eles nos levem ao orgulho, ódio, ou
hipocrisia. Jesus Cristo enfureceu-se com os mercadores no Templo, mas esta era
uma ira justa e não o levou a pecar. Os crentes devem seguir o exemplo de
Jesus. Devemos reservar nossa ira para quando vermos Deus desonrado ou as
pessoas tratadas injustamente. Se ficarmos irados, devemos fazê-lo sem pecar.
Para fazer isso, devemos lidar com nossa ira antes que o sol se ponha. De
acordo com o livro de Deuteronômio, o pôr-do-sol é a hora em que todo o mal
contra Deus e contra os outros deve ser corrigido (Dt 24.13,15). A ira que é
deixada ardendo lentamente e queimando ao longo do tempo pode, por fim,
explodir em chamas e dar um poderoso ponto de apoio para o diabo, fazendo com
que as pessoas pequem, ao se tornarem amarguradas e ressentidas. É muito melhor
lidar com a situação imediatamente; talvez a admoestação anterior, para se
falar a verdade carinhosamente, possa resolver o problema. Comentário do
Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 340.]
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
À luz da Palavra de Deus aprendemos que o crente
deve ser tardio para falar e pronto para ouvir. Por isso, a ira é um sentimento
que deve ser controlado pelo crente.
II. PRATICANTE E NÃO APENAS OUVINTE DA PALAVRA (Tg 1.21-25)
1. Enxertai-vos da Palavra (21). A Palavra de Deus é o guia maior do crente. E
para que a Palavra atinja efetivamente o coração do servo de Deus, este precisa
acolhê-la com pureza e sinceridade. Isto é, firmar uma posição radical
rejeitando toda a imundícia e a malícia mundana (v.19); recebendo o Evangelho
com mansidão e sobriedade. Leia os Evangelhos! Persiga em conhecer a mensagem
divina de Cristo Jesus, mas, igualmente, abra o coração para ouvir a voz do
Senhor. [Comentário: Tiago fala que devemos
receber com mansidão a Palavra que em nós foi colocada. Mas antes disso ele diz
que é preciso rejeitar toda a imundícia e acúmulo de malícia. O que isso
significa? Que além de receber a Palavra de Deus, é preciso rejeitar tudo o que
a Palavra de Deus condena. É uma questão de comutatividade (recebo a Palavra de
Deus e rejeito o pecado). Nossa tendência é acumular imundícia e malícia por
causa de nossa natureza pecaminosa, mas esses dois elementos devem ser
substituídos pela Palavra de Deus e seus efeitos em nossas vidas. A expressão
“malícia”, no grego, é kakia, melhor
traduzida como “maldade”. Em todo o contexto, a maldade não pode conviver com
um coração sábio e dominado pelos princípios da Palavra de Deus. Ou praticamos
o que Deus diz ou privilegiaremos a maldade e as demais características
rejeitadas pelo Senhor. A recompensa por essa atitude é a salvação da alma.
Aqui encontramos mais uma característica dos escritos de Tiago: a prática que
espelha a salvação. Mais uma vez, Tiago mostra que as obras são um reflexo (e
não o caminho) da salvação. Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras,
Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 63.
Devemos rejeitar toda imundícia e acúmulo de malícia. Segundo o texto grego,
esta é uma ação definitiva. Por que devemos fazer isto? O progresso na nossa
vida espiritual não pode ocorrer a menos que vejamos o pecado como ele é,
deixemos de justificá-lo, e decidamos rejeitá-lo. A imagem das palavras de
Tiago aqui nos apresenta livrando-nos dos nossos maus hábitos e atos como quem
se despe de roupas sujas. Depois de “nos livrarmos”, precisamos receber com
mansidão a palavra de Deus, procurando viver de acordo com ela, porque ela foi
enxertada em nossos corações e se torna parte do nosso ser. Deus nos ensina
desde as profundezas das nossas almas, com o ensino do Espírito e com o ensino
de pessoas orientadas pelo Espírito. O solo no qual a palavra é plantada deve
ser acolhedor, para que ela possa crescer. Para tornar o nosso solo acolhedor,
precisamos desistir de quaisquer impurezas nas nossas vidas. A Palavra de Deus
torna-se uma parte permanente de nosso ser, orientando-nos todos os dias. A
palavra implantada é suficientemente forte para poder salvar a nossa alma.
Quando absorvemos as características ensinadas na Palavra, estas se expressam
no nosso modo de viver. As provações e as tentações não podem nos derrotar se
estivermos aplicando a verdade de Deus às nossas vidas. Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 668.]
2. Praticai a Palavra (22-24). O escritor sacro não tem interesse em que o
leitor da epístola apenas acolha a Palavra no coração, antes deseja que o crente
a pratique (v.22). Não pode haver incoerência entre o que se "diz" e
o que se "faz" para quem é discípulo de Jesus. Se amar a Deus e ao
próximo são os maiores dos mandamentos, então, devemos porfiar em vivê-los.
Quem acolhe a Palavra rejeita tudo o que é imundo, maligno, perverso, injusto,
dissimulado, insincero. Não apenas isso, mas igualmente abre a porta do coração
para "tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo,
tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama" (Fp
4.8). Do contrário, seremos identificados com o homem que contempla a própria
imagem no espelho e depois se retira esquecendo-se completamente dela. Há
pessoas que olham para o Evangelho e ouvem, mas sem memória e perseverança, não
dão nenhuma resposta ou sequência ao chamado de Jesus Cristo (vv.23,24). Deus
nos livre desse engodo! [Comentário: O Rev. Hernandes Dias
Lopes, Pastor titular da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória-ES, escreve
em sua obra intitulada “TIAGO
Transformando provas em triunfo”: “Tiago enfatiza três verdades vitais
aqui. Em primeiro lugar, o verdadeiro crente nasce da Palavra de Deus (1.18). A
Palavra de Deus é a divina semente. Quando ela é aplicada em nosso coração pelo
Espírito Santo, acontece o milagre do novo nascimento. Nascemos, assim, de
cima, de Deus, do Espírito. Recebemos, portanto, uma nova natureza, uma nova
vida. Em segundo lugar, o verdadeiro crente acolhe a Palavra (1.21). Há uma
preparação própria para receber a Palavra: “Pelo que, despojando-vos de toda
sorte de imundícia e de todo vestígio do mal...”. A Palavra de Deus é comparada
a uma semente, e o coração do homem, a um solo. Antes de lançarmos a semente
precisamos preparar a terra. Jesus falou de quatro tipos de solo: o solo
endurecido, o superficial, o congestionado e o frutífero (Mt 13.1-23). Antes de
acolhermos a Palavra, precisamos remover a erva daninha da impureza e da
maldade. Também é requerida uma atitude correta para receber a Palavra: “...
recebei com mansidão a palavra em vós implantada...” A mansidão é o oposto da
ira (1.19). E necessário adubar o terreno para que a semente frutifique. A
Palavra deve ter raízes profundas em nossa vida. Aceitamos de bom grado a
transformação que Deus opera em nós através da Palavra. Tiago fala ainda acerca
do resultado da recepção da Palavra: “... a qual é poderosa para salvar as
vossas almas”. Quando nascemos da Palavra, ouvimos a Palavra, recebemos a
Palavra e praticamos a Palavra, podemos ter garantia da salvação. Em terceiro
lugar, o verdadeiro crente pratica a Palavra (1.22-25). Não basta ouvir ou ler
a Palavra, é preciso praticá-la. Não basta apenas o conhecimento da verdade, é
necessário também a prática da verdade. Muitos crentes marcam sua Bíblia, mas a
Bíblia não os marca. Há grandes benefícios em se praticar a Palavra. Primeiro,
quem pratica a Palavra conhece a si mesmo (1.23,24). A Palavra aqui é comparada
não com a semente, mas com o espelho. O principal propósito do espelho é o
autoexame. Quando você olha para dentro da Palavra e compreende o que ela diz,
você conhece a você mesmo: seus pecados, suas necessidades, seus deveres e suas
recompensas. Ninguém olha no espelho e logo vai embora sem fazer nada. Você
olha no espelho para saber se já penteou o cabelo, se já lavou o rosto ou se a
roupa está bem passada. Você olha no espelho para ver as coisas como elas são.
Quando você olha no espelho, você descobre que tipo de pessoa você é e como
você está. Há alguns perigos quanto ao espelho que precisamos evitar: devemos
evitar olhar apenas de relance no espelho. Muitas pessoas não estudam a si
mesmas quando leem a Bíblia. Muitas pessoas leem a Bíblia todo dia, mas não são
lidas por ela, não a observam. Muitos leem por um desencargo de consciência,
mas não se afligem por não colocar sua mensagem em prática. Há sempre o perigo
de você se ver no espelho e não fazer nada a respeito. Leia esta história:
Conta-se a história de um homem idoso basta-me míope, que tinha grande orgulho
em atuar como crítico de arte. Um dia, ele visitou um museu com alguns amigos
e, imediatamente. Como saber se minha religião é verdadeira começou a fazer
suas críticas sobre vários quadros. Parando diante de um quadro de corpo
inteiro, começou a dar a sua opinião. Ele havia deixado seus óculos em casa e
não podia ver a pintura com clareza. Com ar de superioridade, ele comentou; ‘A
constituição física desse modelo está simplesmente em desacordo com a pintura.
O sujeito (um homem) é bastante rústico e está miseravelmente vestido. De fato,
ele é repulsivo, e foi um grande erro para o artista selecionar esse modelo de
segunda classe para pintar o seu retrato’. O velho camarada foi seguindo em seu
caminho, quando sua esposa o puxou para o lado e sussurrou em seu ouvido:
‘Querido, você estava se olhando no espelho’. Devemos tomar cuidado para não esquecermos
o que vemos no espelho. Muitas vezes lemos a Bíblia tão distraidamente que nem
conseguimos ver quem nós somos, como está a nossa aparência. Não temos
convicção de pecado. Não sentimos sede de Deus. Não falamos como Isaías: “Ai de
mim!”. Não falamos como Pedro; “Senhor, aparta-te de mim, porque eu sou um
pecador”. Não falamos como Jó: “Eu me abomino no pó e na cinza”. Devemos nos
acautelar para não fracassarmos em fazer o que o espelho mostra. Não basta ler
a Bíblia, é preciso praticá-la. Não basta falar, é preciso fazer. Reunimo-nos
muito para conhecer e pouco para praticar. Gastamos os assentos dos bancos e
pouco as solas dos sapatos. LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando
provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 32-34.]
3. Persevere ouvindo e agindo (v.25). Tiago conclui este ponto da epístola da
seguinte maneira: Quem é cuidadoso para com a lei, nela persevera; não apenas
ouvindo-a negligentemente, mas praticando-a zelosamente. Felicidade plena em
tudo é a promessa para quem ousa viver o Evangelho cônscio das implicações
espirituais e das consequências materiais. Alguém, um dia, disse que os
evangélicos são poderosos no discurso, mas fracos na prática do mesmo discurso.
Falamos, mas não vivemos! Precisamos analisar nossa vida em amor e sinceridade.
Entremos na presença de Deus com o rosto descoberto, coração rasgado e alma
despida. No tempo em que vivemos não dá para passar despercebidos na
dissimulação, ou seja, fingindo ser algo que na verdade não somos. [Comentário: As pessoas que atentam são aquelas que estudam a
lei de Deus com séria atenção e, a seguir, a escolhem como o seu estilo de
vida. Elas estudam com atenção extasiada, e não apenas uma vez, mas
continuamente; como resultado, elas se lembram da Palavra de Deus e a colocam
em prática. Esta lei é perfeita, não é possível melhorá-la. Esta lei dá
liberdade, porque é somente obedecendo à lei de Deus que a verdadeira liberdade
pode ser encontrada (compare com Jo 8.31,32). Como cristãos, nós somos salvos
pela graça de Deus, e a salvação nos liberta do controle do pecado. Como
crentes, nós somos livres para viver como Deus nos criou para viver.
Naturalmente, isto não quer dizer que somos livres para fazer o que quisermos
(1 Pe 2.16) - agora nós somos livres para obedecer a Deus. A pessoa que atenta
para a Palavra de Deus, faz o que ela diz, não esquece o que ouviu e obedece
será bem-aventurada. Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal.
Editora CPAD. Vol 2. pag. 669.]
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
O crente deve encher-se da Palavra, praticar a Palavra
e perseverar na Palavra.
III. A RELIGIÃO PURA E VERDADEIRA (Tg 1.26,27)
1. A falsa religiosidade. Apesar de algumas pessoas se considerarem
religiosas por frequentarem um templo, as Escrituras revelam o significado da
verdadeira religião. Ela reprova todo o ativismo religioso feito em "nome
de Deus", mas em detrimento do próximo. Aqui, a língua do crente tem um
papel importante. Tiago diz que é possível enganar o próprio coração quando
deixamos de refrear a nossa língua. Ora, o coração é a sede dos desejos, dos
sentimentos e das vontades. E a boca só fala daquilo que o coração está cheio
(Mt 12.34). É incompatível com o Evangelho, viver a graça de Deus sem mergulhar
no Reino dEle. Quem não se entrega inteiramente ao Senhor pratica uma religião
vã e falsa. Não podemos ser como a pessoa capaz de fazer uma belíssima oração
por um faminto, e depois despedi-lo sem lhe dar um único grão de arroz. [Comentário:
Tg 1.26: Se alguém cuida ser
religioso... Noutras palavras, será que determinado crente se julga um bom
cristão, muito piedoso? A ênfase está no desempenho religioso, e provavelmente
inclui atos de culto como a oração, o jejum e o dízimo. Tiago não condena tais
atividades, mas acrescenta o seguinte: e não refreia a sua língua, antes engana o
seu coração, a sua religião é vã. Noutras palavras, as práticas
religiosas são ótimas, mas, se não vierem acompanhadas de um modo de viver
ético, nada valem, são menos do que inúteis, porque se (Tiago 1.1-27) transformam
em autoenganos. O interesse específico de Tiago é o controle da língua, que é
sua maneira de referir-se ao controle do palavrório irado, das explosões de
raiva, da crítica ferina e das queixas (cf. 1.19; 3.1,13; 4.11-12; e 5.9). O
criticismo, o julgamento e o queixume impiedosos revelam corações ainda não
submetidos ao mandamento de Cristo. Trata-se de pessoas cujas práticas
religiosas exteriores, conquanto cristãs, são tão salvíficas quanto a idolatria
(isto é, nulas), recebendo ainda a alcunha de práticas vãs nas Escrituras (Atos
14.15; 1 Coríntios 3.20; 1 Pedro 1.18). Tiago, à semelhança de Jesus (Marcos
12.28-34; João 13.34) e os profetas (Oséias 6.6; Isaías 1.1-10; Jeremias
7.21-28), desmascaram sem piedade esse autoengano, de modo tal que seus
leitores podem reconhecer sua verdadeira condição antes que seja tarde demais. Peter
H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 60-61. O
que destrói nosso culto a Deus, em última análise, quando damos vazão à
natureza carnal natural, que desagrada a Deus, quando de alguma maneira
permitimos que o diabo enfie o pé na fresta da porta. Onde penetra um espírito
falso, o Espírito de Deus se retira (“Ele concede o Espírito aos que lhe são
obedientes” – At 5.32.) Na sequência Tiago nos diz que nosso falar é um ponto
de entrada para esse espírito falso muito pouco considerado. Levamos a sério
nosso agir, mas bem menos nossas palavras. Quantas coisas são ditas ou (o que
não é menos negativo) sugeridas em conversas, mesmo depois daquilo que chamamos
de “culto a Deus”, e quanta inveja, ciúme e desprezo estão por trás disso! No
cap. 3 Tiago nos trará pormenores acerca dessa questão. Adaptado de Fritz
Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.]
2. A verdadeira religião (v.27). A religião pura, santa e imaculada, de acordo
com o autor sacro, é suprir a necessidade do próximo: "Visitar os órfãos e
as viúvas nas suas tribulações". O problema hoje é que a nossa atenção,
quase sempre, está voltada para o prazer pessoal. Temos os olhos fechados para
os necessitados que na maioria das vezes cultuam a Deus, assentados, ao nosso
lado. Lembremo-nos da vida de Jesus Cristo! Ele não apenas olhou para os
marginalizados, mas foi até eles e os acolheu em amor (Mt 25.35-45). A religião
que agrada a Deus é aquela cujos discípulos professam e bendizem o seu nome,
visitando e acolhendo os necessitados nas aflições. [Comentário: O Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal traz o seguinte sobre o texto de Tiago 1.27: “De
uma religião que é capaz de argumentar facilmente a favor de qualquer
comportamento, Tiago agora se volta para um relacionamento no qual Deus pode
ditar os termos de comportamento - a religião pura e imaculada. Tiago explica a
religião em termos de um serviço prático e de pureza pessoal. Os rituais
realizados com reverência não são errados; mas, se uma pessoa se recusa a
obedecer a Deus na sua vida diária, a sua “religião” não é aceita por Deus. A
religião pura e imaculada não é a observância perfeita de regras; na verdade, é
um espírito que se infiltra nos nossos corações e nas nossas vidas (Lv 19.18;
Is 1.16,17). Assim como Jesus, Tiago explica a religião em termos de uma fé
interior vital, que se expressa na nossa vida cotidiana. O nosso comportamento
deve estar de acordo com a nossa fé (1 Co 5.8). Órfãos e viúvas são
frequentemente mencionados nas preocupações da igreja primitiva, porque eles
eram os mais obviamente “pobres” na Israel do século I. As viúvas, por não
terem acesso às heranças na sociedade judaica, estavam praticamente à margem da
sociedade. Por esta razão, Paulo teve que organizar um procedimento completo a
respeito das viúvas em suas próprias igrejas, como se vê em 1 Timóteo 5. As
viúvas não podiam ter empregos, e as suas heranças iam para os seus filhos
primogênitos. Era de se esperar que as viúvas fossem sustentadas pelas suas
próprias famílias, de modo que os judeus as deixavam com pouquíssimo sustento
econômico. A menos que um membro da família estivesse disposto a cuidar delas,
elas se viam reduzidas a mendigar, se venderem como escravas, ou passar fome.
Ao cuidar destas pessoas desamparadas, a igreja colocava em prática a Palavra
de Deus. Quando doamos sem esperança de receber algo em troca, nós mostramos o
que significa servir aos outros. Ainda hoje, a presença de viúvas e órfãos nas
nossas comunidades e cidades torna esta orientação de Tiago muito
contemporânea. A este grupo, nós também podemos acrescentar aquelas pessoas que
realmente se tornaram viúvas e órfãos através da destruição das famílias pelo
divórcio. Estas pessoas têm vidas complicadas. As necessidades sempre ameaçam
superar os nossos recursos humanos. Cuidar de pessoas magoadas é um trabalho
estressante. Ainda assim, nós somos convocados para nos envolver.” Comentário
do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 669-670. Deus
nos presenteou com seu grande amor, dando-nos seu Filho unigênito como irmão e
tornando-se assim pessoalmente nosso Pai e a nós, seus filhos (Rm 5.8; 1Jo
3.1). Agora tudo depende de que nós lhe agrademos, como o Filho primogênito de
Deus (Mt 3.17). Duas coisas são citadas aqui como partes integrantes do
verdadeiro culto a Deus: dirigir-se para dentro do mundo e preservar-se diante
do mundo. (a) “Visitar órfãos e viúvas em sua aflição”: Tiago cita pessoas que
naquele tempo eram especialmente carentes de ajuda, bem como de proteção
jurídica. Literalmente consta: “olhar por eles”. Isso inclui o cuidado
assistencial. É condizente com a intenção de nosso Senhor e vale como dirigido
a ele, quando nos dedicamos com toda energia, amor e fantasia às pessoas em
torno de nós, perto e longe, em vista de suas mais diversas carências (Mt
25.45; 18.5).]
3. Guardando-se da corrupção (v.27). Além de recomendar a obrigatoriedade de
visitarmos os órfãos e as viúvas, a Epístola de Tiago menciona outro aspecto da
verdadeira religião: guardar-se da corrupção do mundo. A religião falsa está
mergulhada no egoísmo, na corrupção e nos interesses maléficos do sistema
pecaminoso. A igreja deve manter-se longe da corrupção. Estamos no mundo, mas
não fazemos parte do seu sistema! O Evangelho nada tem com os seus valores e
preceitos. [Comentário: Mais
uma vez cito o Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal: “Além disto,
aqueles que têm uma religião pura e imaculada se guardarão da corrupção do
mundo. Para nos protegermos da corrupção do mundo, precisamos nos comprometer
com o sistema ético e moral de Cristo, e não com o do mundo. Não devemos nos
adaptar ao sistema de valores do mundo, baseado no dinheiro, no poder, e no prazer.
A verdadeira fé não significa nada se estivermos contaminados com estes
valores. Tiago estava simplesmente ecoando as palavras do Senhor Jesus em sua
oração que é chamada “oração sumo sacerdotal” (Jo 17), em que Jesus enfatizou
que estava enviando os seus discípulos ao mundo, mas esperando que eles não
fossem do mundo. A medida que nos colocamos à disposição para servir a Cristo
no mundo, precisamos nos colocar continuamente sob a proteção desta oração. A
oração afirma duas coisas importantes: (1) nós permanecemos no mundo porque
este é o local onde Cristo quer que estejamos; e (2) nós teremos a proteção de
Deus. Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol
2. pag. 670. O guardar-se incontaminado do mundo significa evitar que
pensemos e ajamos de acordo com o sistema de valores da sociedade que nos
cerca. Tal sociedade reflete amplamente crenças e práticas contrárias à Palavra
de Deus, ativamente anticristãs. O cristão que vive “no mundo” corre o
constante perigo de ter sobre si a mácula do sistema. É importante e instrutivo
o fato de Tiago incluir esta última área, pois ela penetra além da ação,
chegando às atitudes e crenças das quais a ação brota. A “religião pura” do
“cristão perfeito” (v. 4) associa a pureza de coração à pureza de ação.]
SINOPSE
DO TÓPICO (3)
A verdadeira religião está em olharmos para o
necessitado, irmos até ele e acolhê-lo.
CONCLUSÃO
Nessa semana aprendemos sobre o cuidado que devemos ter com o ouvir e o
falar. Estudamos também acerca da religião pura e imaculada que alegra a Deus:
visitar os órfãos e as viúvas nas tribulações e guardarmo-nos da corrupção do
mundo. Que os nossos ouvidos estejam prontos para ouvir, a nossa língua para
falar sabiamente e a nossa vida para praticar tudo quanto aprendemos do
Evangelho. Embora estejamos em um mundo turbulento, devemos exalar o bom
perfume de Cristo por onde formos (2 Co 2.15). [Comentário:
Estamos no mundo, mas não somos do mundo. É correto atuar no mundo, mas
não se sujar e infeccionar com ele. Neste mundo é preciso que nos relacionamos
com ele – é algo necessário – com isso, corremos o risco de contaminar-nos com
os ídolos que predominam em nosso entorno e adotá-los junto com seus parâmetros
e seu espírito. Nossa época é caracterizada por uma mentalidade carreirista,
pelo espírito reivindicatório, pela indiferença em relação a Deus e às pessoas.
Em nossa época se exige muitas vezes que cristãos não se distingam em nada do
mundo, que a igreja de Cristo se dissolva na sociedade com seu serviço e suas
tarefas. Nada mais urgente para a Igreja de Cristo do que meditar na Carta de
Tiago, especialmente, sobre o tema o Cuidado ao Falar e a Religião Pura! O fato
de que somos como um bom perfume para Deus, que ele se deleita em nós e em
nossa maneira de viver, deve gerar em nosso íntimo, o desejo de vivermos
corretamente à luz do texto de Tiago 1.19-27.]
NaquEle que me garante: “Pela graça sois salvos,
por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”
Graça e Paz a todos que estão em
Cristo!
Francisco Barbosa
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