SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Calvino dizia que a salvação é somente pela fé, mas essa não vem
sozinha, vem acompanhada de boas obras. Na aula de hoje estudaremos a respeito
da verdadeira fé, que justamente se manifesta pelas obras, que comprovam a salvação.
Destacaremos também que as atitudes dos cristãos são respaldadas no amor, sendo
este o grande mandamento. Ao final, veremos que uma das formas de demonstrar
essa fé verdadeira é o fato de não fazermos acepções de pessoas,
independentemente da sua condição socioeconômica.
1. A FÉ VERDADEIRA
A palavra fé, no grego do Novo Testamento, é pistis e tem significados
diversos, dependendo do contexto. Pode significar o ato de crer em Deus (Mc.
11.22; I Ts. 1.8; I Pe. 1.21; Hb. 6.1). Nas Epístolas de Paulo aos Romanos e
Gálatas, o tema central é a justificação por meio da fé, e não pelas obras (Rm.
3.28, 30; 4.5-16; 5.1,2; 9.30-32; Gl. 2.16; 3.13-24; 5.5). Paulo destaca a
relação entre fé e obras na justificação. A justificação é recebida pela fé,
mas a fé verdadeira resulta em obediência (Rm. 1.5; 16.26; Gl. 5.6; I Ts. 1.3;
I Tm. 1.5; Tt. 1.1). As declarações paulinas estão em consonância com a
mensagem de Tiago, ressaltando que a fé verdadeira é demonstrada por meio de
boas obras (Tg. 2.14-20). A análise comparada dessas passagens de Tiago e Paulo
mostrará que elas, ao invés de se contradizerem, se complementam. A fé, em
algumas passagens bíblicas, se refere à doutrina cristã (Tg. 2.17; Fp. 1.27; I
Tm. 1.13; Tt. 2.2; Jd. 3). É nesse sentido que existe apenas uma esperança, uma
fé e um só batismo (Ef. 4.5). Além desses significados, a palavra fé carrega o
sentido de convicção, certeza da fé em Jesus Cristo, ou mesmo da operação de um
milagre, associada ao dom espiritual (I Co. 12.9). A palavra fé também pode ser
traduzida por fidelidade, mais próxima do fruto do Espírito (Gl. 5.22). Essa é
a fé de Hb. 11.1,6, que se manifesta através de uma entrega incondicional a
Cristo, mesmo diante das situações adversas, e momentos de perseguição (Ap.
14.12). A fé destacada por Tiago em sua Epístola deve ser verdadeira, ou seja
concretizada por meio de atitudes. E essas, por sua vez, estão fundamentadas no
amor. O amor, conforme ensina Paulo, é o cumprimento dos mandamentos (Rm.
13.8-10), de modo que quem ama não precisa de lei (Gl. 5.23). O evangelho nos
libertou da dimensão legal, os preceitos mundanos não têm mais controle sobre
nós (Rm. 6.18), considerando que, em Cristo, a justiça do crente excede a dos
fariseus (Mt. 5.20). Isso porque Deus já colocou a Sua lei em nossos corações,
ela está agora em nosso íntimo, é por meio desta que nos conduzimos (Jr.
31.33).
2. MANIFESTADA PELAS OBRAS
A lei dos homens tem como objetivo determinar os limites e conduzir as
ações, tendo em vista a propensão para a desobediência. Para alguns estudiosos
essa é a lei real, que se fundamenta nos princípios morais (Tg. 2.8). A lei, a
partir da qual os cristãos vivem, é proveniente de Deus, não dos homens. Essa é
a lei da liberdade, por analogia é representada na saída do povo de Israel do Egito
(Ex. 20.2). Os cristãos são livres para servirem a Deus, não dependem mais de
imposições humanas. O amor de Cristo nos constrange para a obediência, de modo
que, como declarava Agostinho, podemos fazer o que quisermos, ainda que não o
faremos, tendo em vista que o amor nos limitará. A lei que impera sobre nós é a
da obediência (At. 5.32), o pecado nos escravizava, mas a obediência nos
liberta (Hb. 10.16,17). Isso não quer dizer que estamos isentos de pecar, se
dissermos que não temos pecado fazemos Deus mentiroso (I Jo. 1.8). Mas podemos
descansar na convicção de que temos um Advogado, Jesus Cristo, que nos purifica
de todo pecado (I Jo. 2.1). Fato é que todos aqueles que são nascidos de Deus
não vivem mais na prática do pecado (I Jo. 3.9). Aqueles que se acostumam com o
pecado se tornarão alvo do julgamento divino. O autor da Epístola aos Hebreus
dirige uma palavra de advertência àqueles que voltam na caminhada da fé (Hb.
6.1-10), esse estão na trilha da apostasia, que finda em perdição. O juízo de
Deus se voltará contra todos aqueles que não levam a sério a mensagem do
evangelho, esses serão culpados do vitupério de Cristo. Essa mensagem é
oportuna nos dias atuais, marcados pelo desprezo e falta de seriedade em
relação à fé cristã. Alguns crentes estão com a mente cauterizada, por não se
espelharem na Palavra de Deus, não conseguem mais perceber suas transgressões
(I Tm. 4.2). Sobre esses sobrevirá maior julgamento, pois depois de conhecerem
a verdade, dela se distanciaram, como a porca lavada que retorna ao lamaçal (II
Pe. 2.22).
3. NÃO FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS
Existem várias maneiras de demonstrar falta de fé verdadeira, uma delas
é a parcialidade, demonstrada na acepção de pessoas. Essa é uma prática social
bastante comum, advertida por Deus ainda no Antigo Pacto (Lv. 19.15). O Senhor
Deus de Israel identificou-se com os pobres e as viúvas, geralmente esquecidas
pela sociedade (Dt. 10.17,18). As glórias humanas podem nos distanciar do valor
que as pessoas têm, mas não podemos nos esquecer da glória de Cristo, que se
fez pobre, mesmo sendo o próprio Deus (II Co. 8.5). João viu a Sua glória, como
do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade (Jo. 1.14). Por isso não
podemos discriminar os pobres por causa da sua condição socioeconômica. Os
ricos comentem três pecados, de acordo com Tg. 2.6: 1) desprezam os pobres; 2)
arrastam os pobres para os tribunais; e 3) blasfemam o nome de Cristo. A igreja
cristã não pode demonstrar favoritismo, muito menos fazer discriminação entre
ricos e pobres. Com Jesus aprendemos a não julgar as pessoas pelas aparências
(Jo. 7.24), seja pelo veículo que possui ou roupas que vestes. Ter riqueza não
é pecado em si mesmo, na Bíblia temos exemplos de homens piedosos, que foram
ricos, tais como Abraão (Gn. 13.2) e Jó (1.3). Mas essa não é uma regra geral,
como querem estabelecer os adeptos da famigerada Teologia da Ganância. O mais
comum, nas igrejas cristãs, é a pobreza, pois Deus não escolheu os poderosos,
antes os mais pobres (I Co. 1.26). Em Cristo todas as barreiras socioeconômicas
foram desfeitas, de modo que não existe mais grego nem judeu (Cl. 3.11). Não
podemos admitir a acepção de pessoas em nossas comunidades cristãs, as pessoas
não devem ser valorizadas pela condição financeira (Tg. 2.2,3). Existem igrejas
que segregam as pessoas por motivos diversos, e líderes eclesiásticos que
demonstram favoritismo pelos mais ricos. Essa atitude desonra o Senhor,
considerando que bem-aventurados são os pobres, porque deles é o reino de Deus
(Lc. 6.20).
CONCLUSÃO
Deus não faz acepção de pessoas, não opta pelos pobres, muito menos
pelos ricos. Os homens olham para o exterior das pessoas, mas Deus vê a
intenção do coração (I Sm. 16.7). Precisamos ter cuidados para não incorrer no
engano de olhar pelas pessoas através das lentes meramente humanas. Isso
diferencia a fé verdadeira da falsa, que mostra favoritismo pelas pessoas. Não
podemos esquecer que a salvação nos foi dada, por meio da fé em Cristo, para
vivemos em novidade de vida, em conformidade com a Palavra de Deus, e não com as
doutrinas e pensamentos humanos.
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
SUBSÍDIO II
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE Tiago 2.1-13.
1 - Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor
da glória, em acepção de pessoas.
2 - Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro
no dedo, com vestes preciosas, e entrar também algum pobre com sórdida
vestimenta,
3 - e atentardes para o que traz a veste preciosa e lhe disserdes:
Assenta-te tu aqui, num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé
ou assenta-te abaixo do meu estrado,
4 - porventura não fizestes distinção dentro de vós mesmos e não vos
fizestes juízes de maus pensamentos?
5 - Ouvi, meus amados irmãos. Porventura, não escolheu Deus aos pobres
deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o
amam?
6 - Mas vós desonrastes o pobre. Porventura, não vos oprimem os ricos e
não vos arrastam aos tribunais?
7 - Porventura, não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi
invocado?
8 - Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a
teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis.
9 - Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e sois
redarguidos pela lei como transgressores.
10 - Porque qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto
tornou-se culpado de todos.
11 - Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não
matarás. Se tu, pois, não cometeres adultério, mas matares, estás feito
transgressor da lei.
12 - Assim falai e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da
liberdade.
13 - Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez
misericórdia; e a misericórdia triunfa sobre o juízo.
OBJETIVOS
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
- Destacar o ensino de Tiago de que a fé não faz acepção.
- Apontar a escolha de Deus pelos pobres aos olhos do mundo.
- Distinguir a Lei Mosaica das Leis Real e da Liberdade.
PALAVRA CHAVE
Acepção: Predileção por alguém; tendência em favor de
pessoa(s) por sua classe social.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A discriminação contra as pessoas de classe social inferior é vergonhosa
e ultrajante, principalmente, quando praticada no âmbito de uma igreja local.
Nesta lição estudaremos sobre a fé que não faz acepção de pessoas. Veremos que
erramos — e muito — quando julgamos as pessoas sob perspectivas subjetivas tais
como a aparência física, posição social, status, a bagagem intelectual, etc.
Isso porque tais características não determinam o caráter (Lc 12.15). Assim, a
lição dessa semana tem o objetivo de mostrar, pelas Escrituras, que a
verdadeira fé e a acepção de pessoas são atitudes incompatíveis entre si e,
justamente por isso, não podem coexistir na vida de quem aceitou ao Evangelho
(Dt 10.17; Rm 2.11). [Comentário: Acepção encerra o sentido de “separação”,
“escolha”, “abstração”, e acolhe a discriminação. A palavra é semelhante a
“aparência”, que se encontra em Gl 2.6. Tiago proíbe que as pessoas se
respeitem apenas com Base em exterioridades. É contrário ao procedimento de
Deus porque nele não há acepção de pessoas (Rm 2.11; Ef 6.9; Cl 3.25). à luz da
divina glória de Cristo, é uma imprudência manifestar favoritismo baseado sobre
os níveis inferiores da glória humana. Não temos o direito de diferenciar
nossos irmãos por conta do grau de estudo, ou da profissão, ou da renda, ou
classe social, tratar de modo diferente, favorecer, manter qualquer outro
comportamento que caracterize a acepção de pessoas, a discriminação de uma
pessoa por causa da sua condição financeira, da sua posição social ou da sua
aparência. A acepção de pessoas trata-se de uma atitude absolutamente
anticristã, como veremos com detalhes neste capítulo. Tiago 2.1- 13 enfatiza
que nenhum cristão pode-se dizer verdadeiramente um cristão se vive favorecendo
ou desprezando as pessoas devido à condição social delas.. Embora crentes,
nascidos de novo, incorremos nesse erro - e hoje - temos a oportunidade de estudar
o assunto e expurgá-lo do nosso meio]. Tenhamos todos uma excelente e abençoada aula!
I. A FÉ NÃO PODE FAZER ACEPÇÃO DE PESSOAS (Tg 2.1-4)
1. Em Cristo a fé é imparcial. O primeiro conselho de Tiago para a igreja é
o de não termos uma fé que faz acepção de pessoas (v.1). Mas é possível haver
favoritismo social onde as pessoas dizem-se geradas pela Palavra da Verdade? As
Escrituras mostram que sim. Aconteceu na igreja de Corinto quando da celebração
da Ceia do Senhor (1Co 11.17-34). Hoje, não são poucos os relatos de pessoas
discriminadas devido a sua condição social na igreja. Ora, recebemos uma nova
natureza em Cristo (Cl 3.10), pois Ele derrubou o muro que fazia a separação
entre os homens (Ef 2.14,15) tornando possível a igualdade entre eles, ou seja,
estando em Jesus, “não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão,
bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos” (Cl 3.11). É,
portanto, inaceitável e inadmissível que exista tal comportamento
discriminatório e preconceituoso entre nós. [Comentário: os antigos tinham outro entendimento de
“pessoa” que nós. Não se referiam tanto à personalidade individual de cada um,
mas antes ao rótulo que alguém tinha. Um era “escravo”, outro “cidadão”, outro
“comerciante”, um “general”, outro “príncipe”. Tiago 2.1 inicia uma nova seção
mostrando tentações e provações que são comuns a todos os crentes,
especialmente, a parcialidade e favoritismo, que por vezes, passa despercebida,
talvez por ser algo tão comum no meio secular, onde o suborno, a bajulação, o
tratamento VIP são estratégia principal para se obter vantagens. O
relacionamento familiar que Tiago está descrevendo está limitado àqueles que
têm a fé de nosso Senhor Jesus Cristo. Os crentes que iriam receber esta carta
já eram culpados por tratar as pessoas de modo diferente. Aparentemente, os
crentes estavam avaliando as pessoas com base somente em aspectos externos, a
aparência física, status, riqueza, poder. Como resultado, eles estavam fazendo
concessões a pessoas que representavam estas posições de prestígio e sendo
influenciados por elas. Este comportamento produz prejuízos à obra do Reino,
macula a comunidade cristã. A exortação de Tiago é atualíssima. Frequentemente,
nós tratamos uma pessoa bem vestida e elegante melhor do que uma pessoa que
parece ser pobre. Nós fazemos isto porque preferimos nos identificar com
pessoas de sucesso do que com fracassos aparentes. A ironia, Tiago nos lembra,
é que os supostos vitoriosos podem ter conseguido o seu estilo de vida
impressionante às nossas custas. As nossas igrejas não devem mostrar nenhuma
parcialidade com respeito à aparência exterior, à riqueza, ou ao poder de uma
pessoa. A lei do amor deve governar todas as nossas atitudes com relação aos
outros. E muito frequente que se dê tratamento preferencial aos ricos ou
poderosos quando há posições na igreja que precisara ser ocupadas. É muito
frequente que uma igreja não demonstre interesse pelas sugestões dos seus
membros mais humildes ou pobres, favorecendo as ideias dos ricos. Este tipo de
discriminação não deve ter lugar nas nossas igrejas. Tiago diz que fé e acepção
de pessoas não combinam. Importa que não creiamos em nossos papéis, nos
rótulos, mas em Deus. Não são posses, posições ou “vestimenta gloriosa” que
conferem glória, mas unicamente o “Senhor da glória”.]
2. O amor de Deus tem de ser manifesto na
igreja local. Havia na congregação, do tempo de Tiago, a acepção de
pessoas. Segundo as condições econômicas, “um homem com anel de ouro no dedo,
com trajes preciosos” era convidado a assentar-se em lugar de honra, enquanto o
“pobre com sórdido traje” era recebido com indiferença, ficando em pé, abaixo
do púlpito (vv.2,3). Tudo isso acontecia num culto solene a Deus! A Igreja de
Cristo tem como princípio eterno produzir um ambiente regado de amor e
acolhimento, e para isto “não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não
há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.28). [Nos versículos de 2 a 4, Tiago descreve uma cena
que, muito provavelmente, não se trata de uma mera hipótese ou conjectura, como
aparenta ser à primeira vista, mas de algo que o próprio apóstolo deve ter
presenciado em algum ajuntamento de crentes da Igreja Primitiva em seus dias,
para seu imenso desgosto e indignação. O Comentário Bíblico Beacon cita o
seguinte: “Talvez Tiago tivesse observado
este tipo de tratamento preferencial na igreja de Jerusalém ou em alguma
congregação vizinha que havia visitado. O ajuntamento (v. 2; gr., synagogue)
seria o lugar onde os cristãos — provavelmente um grupo misto de convertidos
judeus e gentios — se reuniam para adorar. E o mesmo termo usado para as
sinagogas judaicas. Esta era uma palavra e uma forma de adoração que a Igreja
Primitiva tomou emprestadas diretamente dos seus ancestrais hebreus. Deveria
ser mencionado, no entanto, que esse é o único texto no Novo Testamento em que
uma congregação cristã é chamada de “sinagoga”. Presumimos que o homem com anel
de ouro e o pobre eram visitantes e não membros regulares. Há divergência de
opinião se esses eram visitantes cristãos ou não cristãos. Isso, no entanto,
não muda a verdade espiritual do texto. A atitude mostrada aos homens era
errada em ambos os casos. E se o homem bem vestido era o tipo de pessoa
descrito nos versículos 6,7, mesmo sendo membro, sua mudança de religião não
havia transformado seu interior. O ato não cristão imediatamente julgaria o
valor do homem pela aparência do seu traje. O anel de ouro indicava que esse
homem era do Senado ou um nobre romano. Durante os primeiros anos do império,
somente homens nessa posição tinham o direito de usar esse tipo de anel.
Sórdida vestimenta significa uma toga branca. Essa vestimenta era usada
frequentemente por candidatos a um ofício político. Atentardes (v. 3) deveria
ser entendido como prestar atenção especial ao homem de aparência próspera. As
cadeiras da sinagoga, ou outros assentos, eram geralmente guardados para os
anciãos e escribas. Um lugar de honra nesses assentos seria oferecido a uma
pessoa de posição. Pessoas de uma posição inferior ficavam em pé ou sentavam no
chão. Abaixo do meu estrado pode ser entendido “aos meus pés” (RSV)”. A.
F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 165.
Tiago cita um exemplo concreto. Não quer dizer que tenha acontecido dessa
maneira: “Na hipótese de entrar em vossa reunião um homem…” A parede de
separação entre judeu e gentio está removida para os que estão unidos a Cristo:
todos em Cristo são a semente de Abraão (Ef 2.14-16; Cl 3.11). De fato, nenhuma
das diferenças entre os seres humanos confere vantagens no que se refere à
salvação. Paulo não elimina tais distinções, como a diferença entre homem e
mulher, mas mostra que elas não conferem status preferencial em termos de nossa
união com Cristo. Até o retorno de Cristo, a ordem estabelecida na criação
permanece e a ordem na Igreja leva isso em conta (1Co 11.3).]
3. Não sejamos perversos (v.4). A expressão “juízes de maus pensamentos”
aplicada no texto bíblico para qualificar os que discriminavam o pobre nas
reuniões solenes, não se refere às autoridades judiciais, mas aos membros da
igreja que, de acordo com a condição social, se faziam julgadores dos próprios
irmãos. O símbolo da justiça é uma mulher de olhos vendados, tendo no braço
esquerdo a balança e, no braço direito, a espada. Tal imagem simboliza a
imparcialidade da justiça em relação a quem está sendo julgado. Portanto, a
exemplo do símbolo da justiça, não fomos chamados a ser perversos “juízes”, mas
pessoas que vivam segundo a verdade do Evangelho. Este nos desafia a amar o
próximo como a nós mesmos (Mc 12.31). [Comentário: A expressão “juízes
de maus pensamentos” refere-se a juízes que julgam com base em pensamentos
errados, equivocados, ou seja, tendo como fundamentos, padrões absolutamente
equivocados, critérios iníquos. Este tipo de distinção mostra que os crentes
estão sendo dirigidos por motivos errados e Tiago condena este comportamento,
sobretudo, porque Cristo os tinha tornado um só (Gl 3.28). O termo grego ponerós
(mau) é usado no Novo Testamento como
substantivo que designa o maligno, o inimigo. Ele visa destruir a obra que Deus
realiza em nós e através de nós. A “veste gloriosa”, os bens, o nível social se
tornam um ídolo. Ele é levado mais a sério do que aquilo que Deus dá e faz, e
até mesmo do que o próprio Deus. Por essa razão, a igreja sofre divisão, o amor
esfria, pessoas são feridas, e isso tem provocado o afastamento de muitos da
igreja e até mesmo de seu próprio Senhor. Debilita-se a eficácia da igreja em
termos missionários, naquilo que ela diz, faz e é, tanto através daquilo que o
ambiente mostra, como também em vista da autoridade interior perante Deus.]
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
Em Cristo, o crente não pode se mostrar parcial e,
por isso, o amor de Deus deve ser manifestado na igreja local através dele. O
crente não pode ter um coração perverso.
II. DEUS ESCOLHEU OS POBRES AOS OLHOS DO MUNDO (Tg 2.5-7)
1. A soberana escolha de Deus. É bem verdade que muitas pessoas ricas têm
sido alcançadas pelo Evangelho. Mas ouçamos com clareza o que a Bíblia diz
acerca dos pobres. Deus é soberano em suas escolhas. E de acordo com a sua
soberana vontade, Ele escolheu os pobres deste mundo. De maneira retórica,
Tiago afirma: “Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem
ricos na fé, e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?” (v.5). É
possível que as igrejas às quais Tiago dirigiu a Epístola talvez tivessem se
esquecido de que é pecado fazer acepção de pessoas. Ainda hoje não podemos negligenciar
esse ensino! O Senhor Jesus falou dos pobres nos Evangelhos (Lc 4.18; Mt
11.4,5) e, mais tarde, no Sermão da Montanha repetiu: “Bem-aventurados vós, os
pobres, porque vosso é o reino de Deus” (Lc 6.20). [Comentário: A expressão “Ouvi” em
Tiago 2.5 é um imperativo que significa: “Espere
um minuto; preste atenção”. A herança no reino de Deus é baseada na
soberana eleição de Deus. Elenão escolhe de acordo com os méritos ou status
deste mundo. Os padrões deste mundo não têm nenhuma influência sobre a graciosa
eleição de Deus (1Co 1.28-29; Ef 1.14). O texto não permite nenhuma forma de
“misticismo do pobre” pelo qual a pobreza em si torna a pessoa aceitável. Tiago
mostra-se sensível aos maus tratos dados aos pobres e às ações muitas vezes
insensíveis e desumanas dos ricos (5.1-6). Mas ele não defende os pobres por
causa da sua pobreza, nem ataca os ricos por causa da sua riqueza. Em vez
disso, sua defesa e ataque são baseados em outros fatos. Admitidamente, ele
reconhece esses fatos como geralmente verdadeiros nas respectivas classes. O
Comentário Bíblico Contemporâneo diz que “Tiago
emprega a terminologia familiar da eleição, com que Israel estava acostumado
(Dt 4.37; 7.7), como também a igreja (Ef 1.4; 1Pe 2.9), mas aplica-a de modo
específico aos pobres. A maior parte dos membros da igreja primitiva era
constituída de pobres (“não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os
poderosos, nem muitos os nobres que são chamados” [1Co 1.26]); a igreja de
Jerusalém era bastante pobre (Tg 2.1-26; 2Co 8.9). Mas Tiago está dizendo mais
do que isso. Deus elegeu de modo especial aos que são pobres aos olhos do mundo
(pois só são pobres segundo os padrões de valor do mundo) para serem ricos na
fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam. Por um lado, isso torna o
pobre quase igual àquele que suporta a provação. em 1.2, visto que ambos
recebem aquilo que Deus prometeu aos que o amam. Por outro lado, Tiago está
aplicando o ensinamento de Jesus, visto que foi o Senhor quem disse que havia
vindo de modo particular “para evangelizar aos pobres” (Lc 4.18) e depois:
“Bem-aventurados vós, os pobres, pois vosso é o reino de Deus” (Lc 6.20). Jesus
selecionara os pobres como os especialmente contemplados com o seu reino; Tiago
apanha essa ideia e acrescenta: aos que o amam, a fim de limitar a promessa aos
pobres que reagem em amor diante da mensagem do evangelho. Se há favoritos aos
olhos de Deus, esses são os pobres, visto que Deus os vê de modo bem diferente
do mundo. O mundo os enxerga como pobretões desprezíveis, sem importância, mas
para Deus eles são ricos na fé e herdeiros do reino — o contrario da
perspectiva mundana.” Peter H. Davids. Comentário Bíblico
Contemporâneo. Editora Vida. pag. 81-82.]
2. A principal razão para não desonrar o pobre (v.6). Apesar de Deus ter
escolhido os pobres, a igreja do tempo de Tiago fez a opção contrária.
Entretanto, o meio-irmão do Senhor traz à memória da igreja que quem a oprimia
era justamente os ricos. Estes os arrastaram aos tribunais. Como podiam eles
desonrar os pobres, escolhidos por Deus, e favorecer os ricos que os oprimiam?
É triste quando escolhemos o contrário da escolha de Deus. As Palavras de Jesus
ainda continuam a falar hoje: “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me
ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração,
a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os
oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.18,19). Somos os seus
discípulos? Então para sermos coerentes com o Evangelho termos de encarnar a
missão de Jesus. Desonrar o pobre é pecado! [Comentário: O argumento de Tiago é que “vós desonrastes” (v. 6) “aqueles que Deus escolheu” (v. 5). Não é
que Deus tenha limitado sua escolha aos pobres, mas de acordo com a história, eles
foram a sua primeira escolha (Lc 1.52; 1Co 1.26)”. A escolha de Deus também não
foi arbitrária. É simplesmente um fato que o pobre e o oprimido são mais
responsivos ao evangelho do que os ricos que dependem do poder do seu dinheiro.
Em todo caso, Tiago deixa claro que os pobres de quem ele fala são aqueles que
são ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam. O termo
“oprimem” é uma palavra enfática e é usada para descrever a obra opressiva de
Satanás (At 10.38). Os ricos usaram o poder político e judicial para explorar
os pobres e necessitados da nação. Como classe, os ricos têm uma forte
tendência para depender da riqueza e do poder, em vez de descobrir sua redenção
em Cristo. O Comentário Matthew Henry Novo Testamento encerra o seguinte
comentário: “Após essas considerações, a acusação é severa de fato: “Mas vós desonrastes o pobre” (v. 6). 4.
A acepção de pessoas, no sentido desta passagem, por conta das suas riquezas e
da aparência exterior, é apresentada como um pecado muito grave, em virtude dos
prejuízos devidos à riqueza e grandeza mundanas, e a tolice que há no fato de
cristãos prestarem consideração indevida por aqueles que não têm consideração
alguma nem por seu Deus nem por eles: “Porventura, não vos oprimem os ricos e
não vos arrastam aos tribunais ? Porventura, não blasfemam eles o bom nome que
sobre vós foi invocado? (vv. 6,7). Considerai como é comum que as riquezas
sejam incentivos aos vícios e ao dano da blasfêmia e da perseguição. Pensai nas
muitas calamidades que vós mesmos tolerais, e nas grandes afrontas que são
lançadas sobre vossa fé e vosso Deus por homens de posses, poder e grandeza
mundanos; e isso vai fazer vossos pecados parecerem extremamente pecaminosos e
tolos, ao construirdes aquilo que tende a vos destruir, e a destruir tudo que
estais edificando, e a desonrar esse nome pelo qual sois chamados.” O nome de
Cristo é um nome digno; ele reflete honra, e dá dignidade aos que o usam.” HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição
completa. Editora CPAD. pag. 833.]
3. Desonraram o Senhor. Após lembrar a igreja da escolha de Deus em
relação aos pobres deste mundo, Tiago exorta os irmãos a reconhecerem o
favoritismo que há dentro da comunidade cristã: “Mas vós desonrastes o pobre”
(v.6). Já os ricos, são recebidos com toda a pompa. No versículo 7, o
meio-irmão do Senhor pergunta: “Porventura, não blasfemam eles [os ricos] o bom
nome que sobre vós foi invocado?” (v.7). Estamos frente a algo reprovável
diante de Deus: a discriminação social na igreja. Por isso é que o favoritismo,
a parcialidade e quaisquer tipos de discriminação devem ser combatidos com
rigor na igreja local, principalmente pela liderança. Esta deve dar o maior dos
exemplos. Quem discrimina não compreendeu o que é o Evangelho! [Comentário: Favorecer os ricos e desprezar os pobres
simplesmente não faz sentido para os cristãos. João Calvino comentou que é
estranho honrar nossos algozes e ao mesmo tempo ferir nossos amigos!
Provavelmente Tiago estava se referindo a judeus ricos. Na Palestina, ele havia
visto os ricos saduceus oprimirem a Igreja (At 4.1-4). Ele também podia estar
familiarizado com as experiências de Paulo nas cidades gentias. As três
acusações específicas são dirigidas contra os ricos, das quais a igreja procurava
obter favor. Opressão e julgamentos no tribunal são as primeiras duas
acusações; blasfêmia é a terceira. Em todas elas, Tiago apela ao conhecimento e
conveniência do leitor. “Não são os ricos que oprimem vocês e pessoalmente
[lit., eles próprios] os arrastam para os tribunais? Não são eles que blasfemam
o bom nome que sobre vocês foi invocado?”. A referência aponta para a
experiência do batismo no qual o bom nome, i.e., o nome de Cristo, foi invocado
sobre eles. O uso de o [...] nome em vez de Deus ou Cristo por parte do autor,
parece refletir seu treinamento judaico no qual sempre havia uma reverência
muito grande pelo nome de Deus, ao ponto de hesitar-se mencioná-Lo. A. F.
Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 166-167.
Em suma, cabe dizer: os cristãos devem estar igualmente abertos para pobres e
ricos. Não pode haver ódio de classe. Mas quem vê como Deus concede sua nobreza
de forma equânime a todos precisa (e pode) excluir este tratamento tão desigual
que o mundo pratica quando dá preferência a ricos e poderosos.]
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
As Escrituras mostram a principal razão para o
crente não desonrar os pobres: Deus os escolheu aos olhos do mundo.
III. A LEI REAL, A LEI MOSAICA E A LEI DA LIBERDADE
(Tg 2.8-13)
1. A Lei Real. A lei real é esta:
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (v.8). Essa é a conclamação de Tiago a
que os crentes obedeçam a verdadeira lei. O termo “real”, no versículo 8,
refere-se àquilo que é o mais importante da lei, a sua própria essência.
Portanto, quem faz acepção de pessoas está quebrando a essência da lei. O amor
ao próximo é o coração de toda lei: “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o
amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a
lei. [...] O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o
amor” (Rm 13.8,10). Só o amor é capaz de impedir quaisquer tipos de
discriminação. Quem ama, não precisa da lei (Gl 5.23). [Comentário: “A lei régia” - A lei suprema de Deus: em que medida o mandamento “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” é
a “lei régia”? a) Foi promulgada pelo
Rei, pelo “Rei sobre todos os reis” (Lv 19.1,18). O Filho, ao qual o Pai
concedeu todo o poder (Mt 11.27; 28.18; Ap 19.16), equiparou-a ao mandamento de
amar a Deus acima de todas as coisas (Mt 22.37ss). b) A “lei régia” foi e
continua sendo cumprida pessoalmente pelo Rei. Temos um Deus amigo dos humanos
(Tt 3.4). Esse amor foi coroado pelo que é dito em Jo 3.16: “Deus amou o mundo
de tal maneira que deu seu Filho unigênito…” (cf. Rm 5.10; 8.32). E o Filho, o
amor de Deus manifesto e ativado em favor de nós, cumpriu esse mandamento. Ele
nos amou mais do que a si mesmo, entregando a última gota de sangue em favor de
nós (Mt 20.28). Já que é preciso punir, ele quis ser punido. Já que é preciso
morrer, ele quis morrer. c) O mandamento do amor é a “lei régia”, porque abarca
todos os demais mandamentos que nos foram dados em vista de Deus e de nosso
semelhante. Ela é o ponto principal ao qual convergem todos os raios (Mt
22.34-40; cf. 1Co 13.13). d) O amor é também uma “lei régia” pelo fato de
presentear com liberdade e liberalidade régias, não pedindo contrapartidas e
não estabelecendo nenhuma pré-condição. “Observada segundo a Escritura”: isso
impede que todas as demais coisas sejam chamadas de “amor”. – “Fazeis bem”: é
assim que agrada a Deus, é assim que se fará bem às pessoas, e é assim que
estaremos bem orientados pessoalmente. Nossa vida se torna íntegra, rica e
livre. Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora
Evangélica Esperança.]
2. A Lei Mosaica. Na época em que a
Epístola de Tiago foi escrita, os judeus faziam distinção entre as leis
religiosas mais importantes e as menos importantes, segundo os critérios
estabelecidos por eles mesmos. Os judeus julgavam que o não cumprimento de um
só mandamento acarretaria a culpa somente daquele mandamento desobedecido. Mas
quando a Bíblia afirma “Porque aquele que disse: Não cometerás adultério,
também disse: Não matarás”, está asseverando o aspecto coletivo da lei. Isto é,
quem desobedece um único preceito, quebra, ao mesmo tempo, toda a lei. Embora
os crentes da igreja não adulterassem, faziam acepção de pessoas. Eles não
atendiam a necessidade dos órfãos e das viúvas e, por isso, tornaram-se
“transgressores de toda a lei”. No Sermão da Montanha, nosso Senhor ensinou
sobre a necessidade de se cumprir toda a lei (Mt 5.17-19; cf. Gl 5.23; Tg
2.10). [Comentário: Essa
lei geral deve ser considerada junto com uma lei particular: “Mas, se fazeis
acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela lei como
transgressores (v. 9). Não obstante a lei das leis: Amarás a teu próximo como a
ti mesmo, e para mostrar aquele respeito por eles que gostaríeis de ver
demonstrado por vós se estivésseis nas circunstâncias deles, contudo isso não
vai desculpar o fato de distribuirdes, sejam os favores, sejam as repreensões
da igreja de acordo com as condições exteriores dos homens; mas aqui deveis
olhar para uma lei particular, que Deus deu a vós junto com aquela, e por esta
sereis totalmente condenados pelo pecado de que vos acusei”. Essa lei está em
Levítico 19.15: “Não fareis injustiça no juízo; não aceitarás o pobre, nem
respeitarás o grande; com justiça julgarás o teu próximo”. Aliás, a própria lei
real, corretamente exposta, serviria para condená-los, porque ela ensina que
devem se colocar tanto no lugar dos pobres quanto dos ricos, e assim agirem de
forma justa para com um e para com o outro. Então ele prossegue: Para mostrar a
abrangência da lei, e quanta obediência deve ser prestada a ela. Eles devem
obedecer à lei real, cumprir tanto uma parte quanto a outra, ou então ela não
os defenderá quando quiserem usá-la como razão para justificar alguma ação
particular: “Porque qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto
tornou-se culpado de todos” (v. 10). Isto pode ser entendido: 1. Com referência
ao caso que Tiago tem tratado: Vocês defendem o seu respeito pelos ricos porque
devem amar o seu próximo como a si mesmos? Então por que não mostrar uma
consideração igual e devida pelos pobres, pois vocês devem amar o seu próximo
como a si mesmos? Senão a ofensa de vocês em um ponto vai arruinar sua
pretensão de observar toda a lei. Porque qualquer que guardar toda a lei e tropeçar
em um só ponto, propositadamente, reconhecidamente e com continuidade, e que
pensa que deve ser desculpado em algumas questões por causa da sua obediência
em outras, tornou-se culpado de toda a lei. Isto é, ele incorre no mesmo
castigo e está sujeito à mesma pena, pela sentença da lei, como se a tivesse
violado em outros pontos também além daquele em que é culpável. Não que todos
os pecados sejam iguais, mas que todos carregam o mesmo desprezo pela
autoridade do Legislador, e assim obrigam a sofrer o castigo que é estipulado
pela violação daquela lei. Tudo isso nos mostra como é inútil pensarmos que as
nossas boas obras vão compensar nossas más obras, e francamente nos põe a
buscar uma outra forma de expiação. 2. Isso é ilustrado ainda ao se colocar a questão
de forma diferente da que foi mencionada antes (v. 11): “Porque aquele que
disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu, pois, não
cometeres adultério, mas matares estás feito transgressor da lei”. Uma pessoa
talvez seja muito severa em caso de adultério, ou das coisas que tendem à
perversão da carne, mas esteja menos disposta a condenar o homicídio, ou o que
tende a arruinar a saúde, quebrantar o coração e destruir a vida dos outros.
Outra tem um pavor extraordinário do homicídio, mas tem ideias menos severas
acerca do adultério; enquanto alguém que olha para a autoridade do Legislador
mais do que para a questão do mandamento vai ter a mesma razão para condenar um
e outro. A obediência é então aceitável quando se tem um olho para a vontade de
Deus; e a desobediência deve ser condenada, em qualquer instância, visto que é
uma afronta à autoridade de Deus. E, por essa razão, se transgredimos em um
ponto, desdenhamos a autoridade daquele que deu toda a lei, e assim somos
culpados de toda ela. Assim, se você olha para a lei dos antigos, você está
condenado; pois “...maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas
que estão escritas no livro da lei para fazê-las” (G13.10). HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição
completa. Editora CPAD. pag. 834.]
3. A
Lei da Liberdade. A Lei da Liberdade é o Evangelho. Por ele o homem
torna-se livre. Liberto do pecado, dos preconceitos e da maneira mundana de
pensar (Rm 6.18). Quem é verdadeiramente discípulo de Jesus desfruta,
abundantemente, de tal liberdade (Jo 8.36; Gl 5.1,13). Entretanto, como orienta
Tiago, tal liberdade deve vir acompanhada da coerência: “Assim falai, e assim
procedei” (v.12). O crente pode falar, pode ensinar e até escrever sobre o
pecado de fazer acepção de pessoas. Mas na verdade, é a sua conduta em relação
aos irmãos que demonstrará se ele é, de fato, um liberto em Cristo ou um
escravo deste pecado. [Comentário: Tiago
termina essa primeira parte do capítulo 2 enfatizando a necessidade de haver
consistência entre o falar e o agir na vida do cristão (Tg 2.9,10,12). O
Comentário Matthew Henry Novo Testamento traz o seguinte: “Ele direciona os cristãos a se comportarem mais especificamente pela
lei de Cristo. “Assim falai e assim procedei, como devendo ser julgados pela
lei da liberdade” (v. 12). Isso vai nos ensinar não somente a sermos justos e
imparciais, mas muito mais compassivos e misericordiosos para com os pobres; e
isso vai nos libertar de todas as considerações sórdidas e indevidas para com
os ricos. Observe aqui: 1.0 evangelho é chamado de lei. Ele tem todos os
requisitos de uma lei; preceitos com recompensas e castigos anexos; ele
prescreve deveres, e também ministra
conforto; e Cristo é o rei para nos governar como também o profeta para nos
ensinar e o sacerdote para sacrificar e interceder por nós. Estamos sob a lei
de Cristo. 2. É uma lei da liberdade, e da qual não temos razão de nos queixar
por ser um fardo ou jugo; pois o serviço a Deus, de acordo com o evangelho, é liberdade
perfeita. Ela nos liberta de todas as relações escravizantes, seja a pessoas ou
a coisas deste mundo. 3. Todos precisamos ser julgados por esta lei da
liberdade. A condição eterna dos homens será estabelecida de acordo com o
evangelho; esse é o livro que será aberto quando estivermos diante do trono do
julgamento. Não haverá alívio para aqueles que o evangelho condena, nem haverá
acusação contra aqueles a quem o evangelho justifica. 4. É do nosso interesse
então falar e agir agora como convém àqueles que em breve serão julgados por
essa lei da liberdade; isto é, vivamos à altura do evangelho, nos
conscientizemos dos deveres do evangelho, tenhamos a disposição mental do
evangelho, e que as nossas conversas sejam conversas do evangelho, porque por essa
regra seremos julgados.” HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo
Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 834-835.]
SINOPSE
DO TÓPICO (3)
A Lei Mosaica destaca-se da Real e da Liberdade.
Estas representam a nova aliança de Deus com a humanidade; enquanto aquela, a
antiga.
CONCLUSÃO
O segundo capítulo da Epístola de Tiago é uma voz do Evangelho a ecoar
através dos tempos. Ele rotula a acepção de pessoas como pecado, lembrando-nos
de que Deus escolheu os “pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros
do Reino que prometeu aos que o amam”. Assim, se a nossa vontade estiver de
acordo com a vontade de Deus, amaremos os pobres como a nós mesmos. E
conscientizar-nos-emos de que esse amor exige de nós ações verdadeiras, sinceras,
e não apenas de vãs palavras religiosas que até mesmo o vento se encarrega de
levar (cf. Tg 2.15-17). [Comentário: Tiago descreve uma fé que
consiste em meras palavras, sem qualquer ação. Quando Lutero e os Reformadores
insistiram na formula “Justificação
somente pela fé”, eles queriam insistir que a justificação baseia-se
somente sobre a dependência nos méritos de Cristo. O “Somente” não significa
que a fé existe solitariamente sem qualquer subsequente fruto da obediência.
Lutero instituiu que a fé salvadora é uma fé viva. A fé morta não indica uma fé
que veio morrer. Antes, a ideia sugere uma fé que nunca possuiu qualquer vida
verdadeira. Uma fé morta não pode vivificar ninguém, não “pode salvar a vossa
alma” (1.21) e, portanto, é falsa e inútil. A síntese da lei é o amor, o amor a
Deus e ao próximo.]
“NaquEle que me garante: "Pela graça sois
salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”,
Graça e Paz a todos que estão em
Cristo!
Francisco Barbosa
Nenhum comentário:
Postar um comentário