SUBSÍDIO I
Sobre o
papel da Lei - Lembre-se sempre de que um dos métodos argumentativos do
apóstolo em suas epístolas é o de criar perguntas retóricas a fim de
ensinar determinada doutrina. Como por exemplo: se pela Lei eu
conheço o pecado, então a Lei é má? O apóstolo responderá imediatamente:
De modo nenhum (Rm 7.7). Se a Lei é de Deus, ela é boa e santa. Mas,
então, ela se tornou morte para mim? - De modo nenhum (Rm 7.13) -
mais uma vez responde o apóstolo.
No
versículo 7, o que vemos é o apóstolo Paulo rejeitando a ideia de que a
Lei é má, ou é pecado. Pelo contrário, o apóstolo afirma que é pela Lei
que conhecemos o pecado. Ou seja, não que pela Lei consumamos o pecado,
mas o conhecemos. Aqui há uma diferença gigante entre o conhecer o pecado
e o praticar o pecado. Alguém pode perguntar: Então o que fez o ser
humano pecar? De pronto o apóstolo responde: "Mas o pecado, tomando
ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda a
concupiscência: porquanto, sem a lei, estava morto o pecado” (v.8). Logo, a Lei
não é pecado.
No versículo 13, mais uma pergunta retórica: a
Lei tornou-se morte para mim? A resposta do apóstolo é mais um
vigoroso: De modo nenhum. Na sequência do texto o apóstolo Paulo mostra
que o que ocorre é exatamente o contrário: quem produz a morte não é a
Lei, senão o pecado. O pecado é quem produz a morte no ser humano. A Lei o
desmascara e sobre ele nos convence.
Lei e Pecado - Lei e Pecado são
elementos diametralmente opostos. A santidade da Lei e em relação
ao pecado é de uma seriedade e solenidade na epístola de Romanos ao
ponto de o apóstolo deixar claro de que a Lei não é a ministradora do
pecado ou da morte. Digamos que ela agrava o Pecado.
Há um ditado popular
que diz: "Tudo o que é proibido é mais gostoso”. A partir do momento
em que o ser humano toma contato com a proibição é como se houvesse
uma revolta contra aquela proibição e uma necessidade imensa de violar
aquilo que está proibido. É nossa natureza pecaminosa. Se não quebrada a
norma, nenhuma consequência. Mas no caso da pessoa que viola tal
norma, sofrerá ela as consequências da norma. Por esse
aspecto, podemos dizer que a norma agrava a violação, pois se não houvesse
a norma não haveria a violação. Se houvesse Lei, não haveria o pecado.
A graça de Deus apresentada pelo apóstolo Paulo implica num
compromisso muito sólido e vivo com a ética do Reino de Deus e sua
justiça.
Fonte: Revista Ensinador
Cristão, Ano 17 - nº 66 – abr/mai/jun de 2016.
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
O capítulo 7 da Epístola aos
Romanos é bastante complexo, por isso precisamos analisá-lo com cautela,
atentado para os princípios hermenêuticos. Inicialmente, consideraremos a
analogia de Paulo da Lei com o casamento, em seguida, ressaltaremos que a Lei é
boa, santa e justa, que o problema está na natureza humana. Ao final,
antecipando o tema a ser estudando na lição seguinte, destacaremos a
necessidade de andar em Espírito, a fim de não cumprir as concupiscências da
carne.
1. ESTAMOS
LIVRES DA LEI
No início dessa seção Paulo
trata com os legalistas a respeito do significado da Lei, fazendo uma alusão ao
casamento. Em seguida, se volta para os antinomistas, ressaltando a necessidade
de se considerar o valor da Lei. A alternativa ressaltada pelo Apóstolo é
permitir que a vida seja guiada pelo Espírito Santo. Para mostrar essa verdade,
Paulo apela para a analogia do casamento, destacando que não estamos mais
debaixo do jugo da Lei. Faz-se necessário ressaltar que esse trecho da Epístola
não deve ser usado para respaldar a doutrina do casamento e do divórcio, pois
esse não é o tema principal dessa passagem das Escrituras. Paulo defende que
quando da morte de um dos cônjuges, é possível que o cônjuge que ficou possa
contrair novas núpcias, sem impedimento. De igual modo, os crentes não precisam
mais depender da Lei, pois essa caducou, tornando possível que esses passem a
ser conduzidos pela fé em Jesus. A Lei morreu para aqueles que seguem a Cristo,
de modo que a partir do momento que esses têm um encontro pessoal com Ele,
passam a condição de esposa do Noivo. Essa metáfora do relacionamento do crente
com Cristo enquanto noivado e casamento é recorrente na Bíblia. Isso fundamenta
a natureza desse enlace, não mais conduzir por regras religiosas, mas por amor Àquele
que se sacrificou para nos atrair para Si. Enquanto estávamos na Lei, não
conseguíamos agradar ao Esposo, porque estávamos fundamentados na regra. As
exigências da Lei, ao invés de motivar para a obediência, causavam frustração,
e esgotamento espiritual. Mas como novas criaturas em Cristo, podemos viver a
partir de uma nova perspectiva, não mais pela carne, mas no Espírito, que nos
inspira à obediência, pautada no amor. A frase de Agostinho é elucidativa a
esse respeito: “ame a Deus e faça o que quiser”. Na verdade, todos aqueles que
amam a Cristo, obedecem a Seus mandamentos, tem satisfação de fazer a Sua
vontade (Jo. 14.21).
2. A LEI É
SANTA, JUSTA E BOA
Por outro lado, Paulo mostra aos
legalistas e antinomistas que a Lei não é má, muito pelo contrario, ela é
santa, justa e boa (Rm. 7.12). Na verdade a Lei reflete o caráter de Deus, se
corretamente compreendida, revela o caminho de Deus para a preservação da
humanidade. O problema não está na Lei, mas nos próprios seres humanos, que não
conseguem obedecê-la. Apelando à analogia do casamento, não falhamos porque o
primeiro marido não prestava, mas por causa das nossas fraquezas. O pecado que
habita no ser humano é o mal residente, a força que o impulsiona a fazer o
contrário do que é correto. Essa latência tem sido amplamente estudada pela
psicanálise de Freud, mas foi descrita com maestria por Paulo, pela inspiração
do Espírito Santo. Mas a Lei não pode retirar o pecado, tem apenas o poder de
torná-lo evidente (Rm. 7.8). É por meio da Lei que vem o pleno conhecimento do
pecado, e por conseguinte, a morte (Rm. 6.23). Isso acontece porque a Lei não
apenas mostra a realidade do pecado, ela também dá seu veredito, sentenciando o
pecador à morte. O pecado, como dizia Chesterton, é a doutrina bíblica que pode
ser mais facilmente comprovada. Em todos os lugares, nas mais distintas
condições sócias, é possível identificar o pecado. Os jornais o declaram todos
os dias, corrupção, egoísmo, a lista é imensa. A pena do pecado a morte, não
apenas a física, mas, sobretudo, a espiritual. A humanidade segue de mal a
pior, pois decidiu viver longe dos padrões divinos. Mas a igreja, mesmo com
suas imperfeições, foi agraciada pelo Noivo Amado, que se entregou Sua vida por
ela. Esse amor sacrificial desperta em Sua noiva a inspiração para obedecê-lo,
e viver para Ele, até o dia do enlace conjugal.
3. SE
ANDARMOS NO ESPÍRITO
A Lei, conforme destacamos reiteradas vezes, é limitada para conduzir o
ser humano à santidade, e quando esse fica à mercê dos seus desejos desenfreados
o resultado é a morte. Paulo exemplifica essa condição colocando-se como alguém
que vive na tensão entre a vida e a morte. Isso acontece porque a pessoa sabe
que a Lei é boa, e mais que isso, que está entregue ao pecado, mas não consegue
se desvencilhar da força do pecado, que habita dentro dela (Rm. 7.14-25).
Existe um conflito interno dentro das pessoas, forças que militam dentro dos
indivíduos, contrariando seus interesses (Gl. 5.17). Certo jovem testemunhou ao
seu pastor que não conseguia obedecer, e justificou que havia poderes
antagônicos dentro dele. O pastor reconheceu que essa era uma realidade
atestada nas Escrituras. Ele orientou o jovem para alimentar o espírito
para que esse tivesse vitória sobre os poderes da carne. Se andarmos em espírito,
não teremos dificuldade para fazer a vontade boa, agradável e perfeita de Deus
(Rm. 12.1,2). Mas se nos entregarmos às obras da carne, o resultado será a
ruina, mas aquilo que o homem e a mulher plantarem também ceifarão. Se
semearmos no Espírito, colheremos seu fruto, principalmente o amor, que nos
conduz à obediência (Gl. 5.22). A religião não tem poder para levar a
obediência, pois quanto mais o ser humano se esforça, menos consegue fazer o
que deve ser feito (Rm. 7.19-21). Ela pode ser ilustrada através da narrativa
da mulher que fez uma focinheira para impedir que seu cão mordesse a
vizinhança, mas não impediu que esse continuasse perseguindo as pessoas. A
alternativa evangélica, conforme estudaremos mais adiante, será viver no
Espírito, e se deixar controlar pela vontade de Deus, não cumprindo as
concupiscências da carne (Gl. 5.16).
CONCLUSÃO
A vontade de Deus, expressa
inclusive em sua Lei (Torah), não é para destruição das pessoas, muito pelo
contrário, ela é sempre boa, agradável e perfeita, pois é a vontade de Deus
(Rm. 12.1,2). Mas como o ser humano é incapaz de obedecê-la, essa mesma Lei o
coloca em posição de réu, sujeito à condenação. A saída é testemunhada nas
palavras do hino 15 (Conversão) da Harpa Cristã: “Mas um dia senti, meu pecado
e vi, sobre mim a espada da Lei, apressado fugi, em Jesus me escondi, e abrigo
seguro nEle achei”.
Prof. Ev. José
Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog
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COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
Na lição de hoje estudaremos o
papel do cristão em relação à Lei, a carne e o Espírito. Paulo apresenta um
estudo a respeito desses temas no capítulo sete. Ele se utiliza de três
analogias para discorrer sobre os assuntos: a analogia do casamento, a analogia
de Adão no paraíso e a analogia da carne versus o espírito. Como devemos nos
comportar diante da lei? Como explicar, que mesmo depois de já termos recebido
a graça de Deus, passamos por conflitos espirituais internos? O que isso
significa? É o que vamos procurar responder neste estudo. [Comentário: é importante que comecemos esclarecendo
que este é um dos capítulos de maior complexidade para se interpretar de toda a
bíblia. Ao longo dos séculos o capítulo sete da carta aos Romanos tem desafiado
inúmeros teólogos e estudiosos quanto à sua real interpretação. Uma correta
interpretação deste capítulo é essencial à compreensão de toda carta, e, para
interpretá-lo, precisaremos de todos os elementos que foram realçados através
das análises feitas nos capítulos anteriores. Assim, não vai ser com esta
concisa lição que elucidaremos o capítulo sete. Paulo expande agora o tema da
relação entre o crente e a lei. Embora a lei seja santa, justa e boa (v. 12), a
sujeição do pecador à lei resultou somente em condenação, visto que a lei, em
sua justiça, desvendava toda a transgressão e fracasso. Nesta seção, a relação
entre o pecador e a lei é comparada a um casamento. O ponto da comparação é que
a morte leva essas relações ao fim, e o cônjuge viúvo fica livre para entrar em
nova relação de casamento, Visto que o ‘casamento’ com a lei foi quebrado por
meio da morte, o crente não é um adúltero e nem pode ser condenado pela lei. O
crente morre ao ficar unido com Cristo em sua morte, quebrando a cadeia de
desobediência e morte que prendia o pecador a Adão e ao seu destino (5.12-21).
O outro lado da ilustração é que a união com Cristo, em sua ressurreição,
confere ao crente uma nova relação, segundo a qual uma verdadeira – embora
ainda não perfeita – obediência é prestada a Deus, em amor e gratidão. No novo
relacionamento com Cristo, a força do Espírito Santo assegura que haverá vida e
frutificação (7.4) – uma metáfora que aponta para um resultado ou consequência
natural.]
I. A LEI ILUSTRADA NA ANALOGIA DO CASAMENTO (Rm
7.1-6)
1. A metáfora do casamento. O apóstolo Paulo mostra que homem algum pode
ser salvo pela Lei, até mesmo aqueles que a guardam com zelo e devoção. Aqueles
que já possuem uma nova natureza também não serão guardados do pecado por
observarem a Lei. A insistência de Paulo, que se estende desde o capítulo seis
com respeito à função da Lei, agora o conduz a usar o casamento como uma
analogia que contrasta o viver através dos preceitos da Lei e a nova vida em
Cristo (Rm 7.1). Paulo usou o casamento para mostrar o nosso relacionamento com
a Lei. O apóstolo ressalta que o contrato de casamento perde sua validade
quando um dos cônjuges morre. Segundo a Bíblia de Aplicação Pessoal,
“ao morrermos com Cristo, a Lei não pode mais nos condenar; estamos unidos a
Cristo”. [Comentário: Após demonstrar que todos os cristãos foram
batizados em Cristo, ou seja, tornaram-se participantes da Sua morte, e que,
por estarem mortos, não havia como viverem no pecado, Paulo convoca os seus
interlocutores ao raciocínio (v. 1). A figura da mulher ligada ao marido é um
exemplo claro de que é impossível a alguém que morreu para o pecado permanecer
no pecado é apresentado através desta figura. Enquanto o marido viver, a mulher
estará ligada ao marido pela lei. Porém, morto o marido, qual o papel da lei? A
viúva deveria continuar submissa à lei mesmo após a morte do marido? É certo
que, morto o marido, a lei continuará a existir, porém, a viúva não mais será
alcançada pela lei, por mais que a mesma lei continue a submeter outras
mulheres casadas a seus maridos, ela não submeterá a viúva. Os leitores da
carta de Paulo deviam construir um paralelo entre eles, que morreram para o
pecado, e os não crentes, que permaneciam vivos para o pecado. Quem não foi
batizado (morreu) em Cristo, e que, portanto, não morreu com Cristo, permanece
vivo para o pecado e sob a égide da lei. Quem não é batizado em Cristo, mesmo
sem causa é transgressor "Na verdade, não serão confundidos os que esperam
em ti; confundidos serão os que transgridem sem causa" (Sl 25.3).]
2. A metáfora da mulher viúva. Os versículos 2 e 3 do capítulo 7, concluem a
analogia do apóstolo a respeito do casamento. Paulo afirma que vivendo o
marido, se a mulher se casar novamente com outro homem, ela será considerada
adúltera. Mas, se o marido morrer ela está livre para se casar novamente. A
intenção era mostrar que a morte de Cristo na cruz, e os cristãos juntamente
com Ele (Ef 2.5,6), rompeu os votos de obediência aos preceitos legais da lei
mosaica (Rm 7.4). [Comentário: Quem crê em Cristo, ou seja, quem espera na salvação providenciada
por Deus (esperam em ti), jamais serão confundidos. Porém, todos os que não
confiam em Deus serão confundidos, pois mesmo sem causa são transgressores (Sl
25.3). O que isto quer dizer? Ora, todos os nascidos em Adão são transgressores
por natureza, sem qualquer relação direta com questões comportamentais ou
morais. Mesmo quando não transgridem leis sociais, morais e comportamentais,
são transgressores diante de Deus. Quem confia no Senhor, morre para o pecado e
ressurge uma nova criatura, que jamais será confundida, pois a salvação
providenciada por Deus não advém das regras sociais, morais ou comportamentais,
antes, é salvo por ter sido novamente criado na condição de filhos de Deus. A
lei do marido só tem razão de ser enquanto o marido estiver vivo, pois tal lei
estabelece a sujeição da mulher ao marido, porém, após a morte do marido, a
viúva está livre da lei do marido.]
3. Mortos para a lei. A expressão “mortos para a lei pelo corpo de
Cristo” é entendida pelos intérpretes como uma referência à morte de Cristo e a
nossa identificação com Ele. O biblicista C. Marvin Pate observa que “Paulo usa
a analogia da morte de um cônjuge no casamento para ilustrar a morte do crente
para a lei, pelo fato de ele estar unido com Cristo (Rm 7.1-6)”. [Comentário: Paulo convida os seus interlocutores a
pensarem e a chegarem a uma conclusão. Enquanto o marido viver, a mulher será
chamada adúltera se for de outro homem, porém, após morrer o marido, a mulher
estará livre da lei, e não mais será adultera se for de outro homem. As figuras
utilizadas por Paulo, tanto da escravidão quanto da mulher ligada ao marido
pela lei são simples de entender. Diante da lei jamais um escravo seria livre
sem a aquiescência do seu senhor. Caso o senhor viesse a falecer, o escravo simplesmente
fazia parte dos espólios do seu antigo senhor, porém, não seria livre. Somente
a morte do escravo é que o tornava livre do seu senhor, uma vez que a lei e o
antigo senhor nada representavam para o escravo após a sua morte. Como é
sabido, o pecado é um senhor tirano que não concede liberdade a seus escravos.
Somente a morte deixa livre o pecador do seu tirano senhor, no entanto, seguirá
para a eternidade sob condenação eterna. O cristão efetivamente morre com
Cristo, e é por isso que o pecado deixa de exercer domínio como senhor sobre
ele. Quem morre (a morte natural) como servo do pecado seguirá para a
eternidade sob condenação, porém, aquele que morre com Cristo, é julgado em
Cristo para não ser condenados com o mundo. Quem morre para o pecado em Cristo,
ressurge uma nova criatura, e passa a viver para Deus. O ponto principal que
Paulo demonstra neste verso é que, após morrer o marido a mulher está livre da
lei do marido. Do mesmo modo, após o escravo morrer, livre está do seu senhor.
Por certo, ao morrer para o pecado e para a lei, o cristão é livre da lei e do
pecado. A figura da escravidão demonstra que o cristão é livre do pecado (Rm
6.6), e a figura da mulher ligada ao marido pela lei, que o cristão é livre da
lei (Rm 7.4).]
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Livre
Um cônjuge não está mais ligado
pela lei matrimonial com o consorte falecido. A morte liberta a ele ou a ela
dessa lei. Semelhantemente, a morte de Cristo, que compartilhamos em nossa
união com Ele, nos liberta de todas as obrigações legais constantes na Lei de
Deus.
Algumas pessoas ficam
atemorizadas com a ideia de que o cristão não tem obrigação alguma de guardar a
Lei. Paulo deixa claro que precisamos estar livres dessas obrigações. Por quê?
A Lei diz respeito à nossa natureza pecaminosa e proclama: ‘Não’. O resultado
não foi uma repreensão do desejo de pecar, mas o surgimento de nossas paixões
pecaminosas. Pecamos, ao ‘produzir frutos da morte’. Deus agora nos chama para
nos relacionarmos diretamente com Ele através do Espírito. O Espírito falará à
nossa natureza, nos estimulando a servir e, assim, a ‘produzir frutos para
Deus’” (RICHARDS, Lawrence. Guia do Leitor da Bíblia: Uma
análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 10ª Edição. RJ:
CPAD, 2012, p.743)
II. ADÃO ILUSTRADO NA ANALOGIA DA SOLIDARIEDADE DA
RAÇA (Rm 7.6-13)
1. De volta ao
paraíso. Paulo considerava Adão o cabeça e o representante da
humanidade. A sua Queda levou todos os homens a caírem com ele. Aqui o objetivo
do apóstolo é vincular a desobediência de Adão à humanidade. Adão pecou, logo
todos pecaram. Uma leitura cuidadosa das palavras de Paulo em Romanos 7 a 11
mostrará a estreita relação que elas têm com os fatos ocorridos em Gênesis
capítulo 3. Por exemplo, a expressão não “cobiçarás” é uma alusão a Gênesis
3.1-6. Por outro lado, as palavras de Paulo “eu vivi sem lei” (Rm 7.9), só têm
sentido se aplicado na vida de Adão, pois Paulo como fariseu e judeu que era
vivia a lei desde a infância (2Tm 3.15). Aqui Paulo, como ser humano, se via em
Adão. As expressões “eu morri” e o “pecado me enganou” ganham paralelo com
Gênesis 2.17 e 3.13. [Comentário: Estamos todos juntos com Adão e Eva,
pois herdamos deles o veneno do pecado. Ele corre no nosso sangue. É isso o que
os teólogos chamam de pecado original. Adão incluiu a todos na sua decisão, e
esta decisão foi fatal para a raça. Adão agiu como nosso representante e, por
essa razão, a sua escolha nos atinge. Nesta questão não temos liberdade de
escolha. A partir do versículo 6, Paulo demonstra que os judeus não serviam a
Deus, antes, só tinham zelo, porém, sem entendimento (Rm 10.2). Por quê? Porque
só é possível servir a Deus em espírito e em verdade, ou seja, quando o homem é
gerado do Espírito, o mesmo que ser circuncidado no coração. Somente em Cristo
é possível ao homem alcançar a condição de servir a Deus em espírito (Jo 4.23).
A condição ‘em espírito’ só é possível quando o homem é gerado de Deus. É por
isso que Jesus disse a Nicodemos: "O que é nascido da carne é carne, e o
que é nascido do Espírito é espírito" (Jo 3.6). Somente após o homem ser
gerado de novo através da fé em Cristo torna-se possível servir a Deus (o
Espírito Eterno) em espírito. Os judeus pensavam servir a Deus, porém, a
qualquer homem nascido de Adão (nascido da carne) é impossível servir a Deus.
Deus somente ‘conhece’ aqueles que o adoram em espírito e em verdade (Jo 4.24 ;
Gl 4.9). Paulo estava tratando diretamente com os judeus convertidos, como foi
demonstrado anteriormente, e aqui temos outra evidência: somente os cristãos
judeus tentaram servir a Deus através da velhice da letra (lei de Moisés),
ponto abordado por Paulo que não tem relação com os gentios. Só é possível
servir a Deus em novidade de espírito, e, somente Ele, é quem ‘renova’ (cria)
no homem um espírito reto (Sl 51.10). Só é possível ter novo coração e um novo
espírito quando o homem está livre da lei, ou melhor, quando morre para aquilo
em que se estava retido. Como é possível ao homem morrer para o que estava
retido (lei)? Através da circuncisão do coração! Quando Moisés apregoou a
circuncisão do coração ao povo de Israel, tal circuncisão só era possível através
da fé em Deus, Aquele que tem o poder de circuncidar o coração, ou seja, Ele
mata o homem gerado em Adão e concede um novo coração "E o SENHOR teu Deus
circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares ao
SENHOR teu Deus com todo o coração, e com toda a tua alma, para que vivas"
(Dt 30.6). Somente após alcançar novo coração (novo nascimento) o homem
compreende a palavra de Deus "Porém não vos tem dado o SENHOR um coração
para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de
hoje" (Dt 29.4).]
2. Lembranças do
Sinai. Outra razão, no entendimento de muitos intérpretes da
Bíblia, que levou o apóstolo a se ver em Adão está na crença judaica de que o
primeiro homem viveu os princípios da Torá (lei), mesmo tendo existido muito
antes da sua promulgação no Sinai. De fato, essa é uma crença muito bem
documentada na literatura rabínica. Filo de Alexandria, filósofo judeu, por
exemplo, dizia que a cobiça, pecado praticado por Adão no paraíso, era a raiz
de todos os males. [Comentário: Fílon de Alexandria (25 a.C. – 50
d.C.) foi um filósofo judeo-helenista que viveu durante o período do helenismo.
Tentou uma interpretação do Antigo Testamento à luz das categorias elaboradas
pela filosofia grega e da alegoria. Wikipédia.
A lei de Moisés (velhice da letra) não poderia proporcionar o novo nascimento.
Somente o evangelho de Cristo, que é a água limpa aspergida pelo Espírito
Eterno, faz nascer o novo homem para louvor de sua glória (Jo 3.5 ; Ez 36.26).
É através do evangelho que o homem recebe poder para ser criado em verdadeira
justiça e santidade (Jo 1.12 ; Ef 4.24 ). Após declarar que os cristãos eram
livres da lei (Rm 7.6), do mesmo modo que eram livres do pecado (Rm 6.6),
poderia surgir um entrave na mente de alguns cristãos: acharem que Paulo estava
equiparando a lei ao pecado (Rm 7.7).]
3. A lei dada a
Adão. O fato é que Adão estava debaixo do mandamento, da
ordenança de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.17). A
intenção do apóstolo é fazer um paralelo entre o Paraíso e o Sinai, entre a lei
de Moisés e a ordenança que foi dada a Adão. O mandamento que foi dado a Adão
para trazer vida se converteu através da ação da antiga serpente,
personificação do Diabo, em morte. Da mesma forma, a Lei de Moisés que foi dada
para trazer vida, mas o pecado, como personificação do mal, a transformou em um
instrumento de morte. [Comentário: É possível inferir de Rm 2.12 que os
que sob a lei pecaram são os judeus, do mesmo modo, que os gentios pecaram sem
lei. Isto demonstra que Paulo estava escrevendo acerca da lei de Moisés, visto
que, desde Adão até Moisés todos pecaram, mesmo não tendo uma lei específica.
Não é porque os gentios não possuíam uma lei que não estavam sob condenação. Do
mesmo modo, não é porque os judeus possuíam uma lei, que não haveriam de
perecer. Ou seja, todos pecaram e estavam debaixo de condenação, e seguiam para
a perdição (Rm 3.9). Isto demonstra que a transgressão à lei mosaica não é o
que subjugou a humanidade ao pecado. Porém, Paulo demonstra que o homem
‘conheceu’ o pecado, ou seja, passou a ter comunhão intima com o pecado através
da lei (Rm 7.7), o que indica que em Rm 7.7 ele não está se referindo a Lei de
Moisés, antes fez referência a lei perfeita da liberdade concedida ao homem no
Éden (Gn 2.16 – 17). Ora, Adão perdeu a comunhão com o criador quando
desobedeceu a ordenança divina que foi dada no Éden, e por causa da ofensa
dele, todos pecaram, tanto gentios quanto judeus. Todos ficaram alienados da
glória de Deus, ou seja, ‘conheceram’ o pecado. O pecado subjugou a humanidade
por causa da desobediência à lei dada no Éden. Ora, tanto os que estavam sob a
lei de Moisés quanto os gentios, ambos pecaram, o que demonstra que o pecado
decorre da desobediência de Adão. Desta análise é possível concluir que Paulo
faz referência a dois tipos de lei na sua carta. Uma refere-se à lei de Moisés,
e a outra à lei de Deus outorgada no Éden. Desta última decorre a penalidade
eterna: ‘certamente morrerás’, ou seja, o homem ‘conheceu’ a separação da vida
que há em Deus através da ofensa no Éden. Ora, se o pecado decorre da
desobediência à lei dada no Éden, logo, o ‘eu’ da qual o apóstolo faz alusão
refere-se a algo proveniente de Adão, e que é comum a todos os homens
destituídos da glória de Deus.]
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
Professor, reproduza o
esquema abaixo e utilize-o para enfatizar o que dispomos como descendência de
Adão e como filhos de Deus.
III. O CRISTÃO ILUSTRADO NA ANALOGIA ENTRE CARNE E ESPÍRITO (Rm 7.14-25)
1. A santidade da
lei. Um interlocutor atento poderia argumentar que o apóstolo
estaria desqualificando a Lei, reduzindo-a a algo extremamente mal. Paulo se
adianta e responde: “Assim, a lei é santa; e o mandamento santo, justo e bom”
(Rm 7.12). Não há nenhum problema com a Lei. A Lei é boa e seu propósito
também. O problema, portanto, não estava na Lei, mas naqueles que se regiam por
ela. Como o apóstolo já havia argumentado, o problema estava dentro do homem,
no pecado que habitava nele, e não na existência de uma lei externa (Rm 7.18). [Comentário: Paulo faz referência a carne e o
Espírito como senhores que lutam (cobiçam) entre si para ter domínio sobre o
homem. Ora, por que lutam (cobiçam)? A resposta é clara: eles se opõem um ao
outro para que o homem não faça o seu querer, antes façam o desejo daquele a
quem se sujeitarem “Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra
a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis” (Gl
5.17). Quando gerado segundo Adão, o homem é sujeito ao pecado, e não faz a sua
própria vontade, antes, por ser escravo, serve o pecado para morte ( Rm 6:16 ).
O corpo do homem sujeito ao pecado é instrumento de iniqüidade, ou seja, quem
faz uso do corpo é o pecado. O homem não passa de um instrumento a serviço do
seu senhor (Rm 6.13; Rm 6.19). Quando o homem é gerado de novo segundo o
Espírito, é sujeito à obediência, e não faz a sua própria vontade, antes, como
escravo da obediência para a justiça. O corpo do homem regenerado passa a
condição de instrumento de justiça, ou seja, a justiça faz uso do corpo daquele
que lhe é sujeito. O homem é instrumento nas mãos de Deus. Não há como o homem
lutar contra a carne por ser sujeito à carne como escravo. Quem luta contra a
carne é o Espírito, e não o homem. As obras da carne são próprias à carne por
ela fazer o papel de senhor, da mesma forma que, o fruto do Espírito é próprio
do Espírito, e somente o Espírito Eterno pode produzi-los naqueles que são
servos da obediência. É por isso que Jesus disse: "Eu sou a videira, vós
as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada
podeis fazer" (Jo 15.5). Observe que Jesus refere-se ao fruto que as varas
ligadas n’Ele produzem no singular (o fruto), do mesmo modo que Paulo anunciou
aos Gálatas. O fruto é único porque pertence ao Espírito, que o produz naqueles
que estão ligados a Cristo, a videira verdadeira. Mesmo após o seu ‘eu’ morrer
com Cristo, Paulo continuou vivendo socialmente como qualquer outro homem, pois
ainda dependia do seu trabalho (At 18.3), tinha pertences pessoais (2Tm 4.13),
fazia uso da tecnologia da época (At 20.38), tinha sonhos e desejos (1Co 9.4 e
1Co 9.5 ) e opinião própria (At 15.39). O homem desejar ter uma esposa ou a
mulher ter um marido não é ser carnal. O homem ter uma esposa ou a mulher ter
um esposo não é carnalidade (1Co 9.5). Ter opinião diferente, ou discordar de
outro irmão não é algo proveniente da carne (At 15.39). Ser repreensível não e
o mesmo que ser carnal (Gl 2.11). Jesus expulsou os que vendiam no templo,
derrubou as mesas e espalhou o dinheiro dos cambistas, porém, não era carnal.
Jesus possuía sentimentos, emoções, tais como alegria, tristeza, angustia,
medo, coragem, etc., e não era sujeito a carne e as suas paixões. Ter um corpo
feito de matéria (carne e sangue) não é o que vincula o homem ao pecado. Jesus
veio em carne, homem espiritual e espírito vivificante "Assim está também
escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em
espírito vivificante" (1Co 15.45). Paulo crucificou a carne, o ‘eu’
sujeito ao pecado, mas continuou de posse do seu tabernáculo terrestre (2Co
5.4). Considerar que o cristão continua de posse da natureza pecaminosa após
ter sido justificado ‘em Cristo’ é depor contra as Escrituras. Deus declara o
homem justo porque Ele cria o novo homem justo e santo com um novo coração e um
novo espírito. A justificação em Cristo é justificação de vida, e não judicial,
como alguns pensam "Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre
todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a
graça sobre todos os homens para justificação de vida" (Rm 5.18). J.
Sidlow Baxter disse que: “Permanece, no entanto, um problema sério que precisa
ser resolvido para mim, pelo evangelho. O que desejo agora, além da retidão
judicial, é alcançar a retidão prática de motivo e conduta em minha vida
diária, através de um poder que irá libertar-me da escravidão deste tirano, o
‘pecado que habita em mim’” Baxter, J Sidlow, Examinai as Escrituras – Atos a
Apocalipse, edição. 1989, Ed. Edições Vida Nova, pág. 87. Para Baxter, o homem
desventurado diz de alguém que obteve libertação, porém, a libertação não é
plena, total. Falta ao homem desventurado poder para uma quarta libertação, ou
seja, ele segue a mesma linha de raciocínio que critica (velha escola
puritana), a de que o velho ‘eu’ há de seguir o homem regenerado até o amargo
fim. Ora, Jesus libertou os que crêem para que sejam livres de fato (Gl 5.1). O
poder que Deus concedeu aos seus é suficiente para que sejam criados filhos de
Deus (Jo 1.12). Cristo afirmou que Ele e o Pai estariam com os seus todos os
dias, porque viriam e fariam neles morada. Diante da declaração de Jesus, fica
impossível conceber que o pecado continue a habitar o crente, ou pior, que a
casa fique dividida entre dois senhores: a obediência e o pecado. O que se
percebe através da exposição de Baxter, é que há uma confusão quanto às
questões relativas à conduta do cristão. Ele esquece que todos os cristãos
tropeçam em muitas coisas (Tg 3.2), porém, aquele que não tropeça quanto a
exposição do evangelho, este é perfeito, visto que é participante da natureza
divina (Cl 2.10), sendo como Cristo aqui neste mundo (1Jo 4.17). Tiago avisou
do perigo que ronda aqueles que desejam ser mestres: o duro juízo de Deus
reservado para aqueles que prevaricarem quanto ao oficio de ensinar o
evangelho. O aviso é solene: todos tropeçamos. Ou seja, somos passíveis de
erros, mas aqueles que exercem o ministério como mestres não podem cometer
erros quanto a palavra da verdade. Só os perfeitos, ou seja, aqueles que estão
em Cristo não tropeçam na palavra que lhes concedeu a perfeição. Além de se
tornar perfeito em Cristo, o cristão tem poder para exercer domínio próprio
“MEUS irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais
duro juízo. Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em
palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo” (Tg 3.1
– 2). Este texto foi
extraído, na íntegra, sem alterações, do sitehttp://www.estudobiblico.org/pt/detalhe/ver/romanos-capitulo-7-parte-ii-199]
2. A malignidade
da carne. Não há dúvida que todo cristão entende bem essas palavras
de Paulo em Romanos 7.22,23. Essas palavras revelam o conflito entre a nossa
nova natureza em Cristo e o “velho homem” residente em nós. É a guerra entre a
carne e o espírito. A quem essas palavras de Paulo se destinam? O contexto
parece não deixar dúvidas de que Paulo tinha em mente os crentes que, pelo fato
de serem cristãos, acreditavam que poderiam viver vitoriosamente sem o Espírito
Santo. Embora Paulo tenha deixado para tratar sobre o ministério do Espírito
Santo no capítulo 8 de Romanos, ele já chama aqui a atenção para o viver “em
novidade do Espírito” (Rm 7.6) como forma de vencer as inclinações da carne. [Comentário: Quando Paulo disse: “Eu sou carnal” (
Rm 7:14 ), ou: “...e vivo, não mais eu...” ( Gl 2:20 ), a qual ‘eu’ ele se
referia? Seu eu psíquico? Histórico? Social? Quando lemos: “Porque eu sou o
menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que
persegui a igreja de Deus" ( 1Co 15:9 ), verifica-se que o ‘eu’ a que
Paulo se refere não é o ‘eu’ que foi morto com Cristo, mas sim ao ‘eu’
histórico do apóstolo. Tudo que Paulo realizou no passado enquanto era chamado
de Saulo, foi realizado por ele mesmo, ou seja, o apóstolo dos gentios não nega
o seu passado, ou seja, sua história de vida. Isto porque o mesmo homem que
perseguiu a igreja de Deus passou a anunciar o evangelho de Cristo, ou seja, o
perseguidor agora é perseguido (Gl 1:23 ; 1Tm 1:13). Paulo também não renega o
seu ‘eu’ social, visto que, quando preso, apresentou-se como cidadão romano, e
se defende com base nas leis vigentes: "E, quando o estavam atando com
correias, disse Paulo ao centurião que ali estava: É-vos lícito açoitar um
romano, sem ser condenado?" ( At 22:25 ; At 25:16 ). Paulo trazia na
lembrança a sua origem, visto que fora circuncidado ao oitavo dia, pertencente
a linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreu, fariseu, cidadão
romano, etc ( Fl 3:5 -6 ; At 22:28 ), tais relatos demonstram que, o ‘eu’ que
morre com Cristo não se refere a questões socioculturais. Então, qual ‘eu’ foi
crucificado com Cristo? O ‘ego’? (‘Ego’ diz da consciência inferior do
indivíduo. Resulta da soma total dos pensamentos, ideias, sentimentos,
lembranças e percepções sensoriais que tem por funções a comprovação da
realidade e a aceitação, mediante seleção e controle, de parte dos desejos e
exigências procedentes dos impulsos que emanam do indivíduo). Quando lemos as
cartas paulinas fica evidente que os seus pensamentos, lembranças, sentimentos,
percepção sensoriais, desejos, etc., permaneceram inalterados. Qual era o
sentimento de Paulo acerca dos seus compatriotas? Ele mesmo demonstra que
desejaria ser separado de Cristo por amor aos seus irmãos segundo a carne (Rm
9:3 ). O que isto quer dizer? Este amor pelos seus compatriotas demonstra que
os sentimentos, as lembranças e as emoções do apóstolo dos gentios não foram
alteradas após o seu ‘eu’ deixar de existir. O desejo de Paulo permaneceu
inalterado, mesmo após o seu ‘eu’ não mais viver ( Rm 10:1 ). Isto significa
que ‘morrer com Cristo’ não é o mesmo que ignorar as percepções sensoriais do
corpo, da existência e dos registros que possuimos na memória ( ‘Ego’ por
Jung). O ‘eu’ carnal, ou o ‘eu’ que ‘não mais vive’ não diz do “centro da
consciência superior do individuo, que é a soma total dos pensamentos, ideias,
sentimentos, lembranças e percepções sensoriais, extra-sensorial, e
não-sensorial, que também é nomeado pela psicologia moderna de ‘eu’”. Paulo não
estava renegando os impulsos instintivos da sua personalidade, ou extinguindo o
seu reservatório inicial da energia psíquica como indivíduo. O ‘eu’ que Paulo
faz referência não tem relação com o ‘ego’, o ‘id’ e o ‘superego’ da
psicanálise freudiana. O ‘eu’ descrito pela psicanálise compõe-se do ‘id’, que
é “instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes e regido pelo
princípio do prazer”. Exige satisfação imediata, é a energia dos instintos e
dos desejos em busca da realização desse ‘princípio do prazer’, e do
‘superego’, que representa a “censura das pulsões que a sociedade e a cultura
impõem ao ‘id’, impedindo-o de satisfazer plenamente os seus instintos e
desejos, e se manifesta indiretamente na conciência, sob forma da moral, como
um conjunto de interdições e deveres, e por meio da educação, pela produção do
"eu ideal", isto é, da pessoa moral, boa e virtuosa”. Quando Paulo
anuncia que seu ‘eu’ morreu com Cristo, não se ocupa dos instintos e nem dos
impulsos orgânicos do homem. Ele também não escreveu acerca da moral e do
conjunto das interdições e deveres que tem o fito de tornar o homem virtuoso de
‘per si’. As obras da carne que Paulo enumera aos cristão da Galácia não
guardam relação alguma com os instintos e desejos do ‘id’ freudiano. Da mesma
forma, o fruto do Espírito não tem relação alguma com o ‘eu ideal’ proveniente
do ‘superego’ (Leia carne versus Espírito). O ‘eu’ a qual Paulo faz referência,
que é carnal ( Rm 7:14 ), não se refere a uma pessoa específica e nem diz de
uma personalidade com sentimentos e emoções. O ‘eu’ a que ele se refere aponta
uma condição. Como falar de uma condição? Ora, para falar de uma condição é
essencial associá-la a um objeto ou pessoa. Para falar acerca da condição do
‘eu’, ou da condição de sujeição ao pecado, o apóstolo fez referência ao seu
passado, utilizando o ‘eu’ como figura. Através do ‘eu’, Paulo ilustra, ou
melhor, demonstra a condição de todos os homens que não ‘conheceram’ a Cristo.
Desta forma, temos na argumentação paulina a condição do homem carnal
desempenhando o ‘papel’ principal. Através de uma análise da frase
(proposição): ‘Eu sou carnal’, utilizando ferramentas pertinentes à lógica, é
possível identificar três componentes distintos:
a) denotação: o estado de coisas que a
frase afirma ser o caso;
b) conotação: os sentimentos, idéias
ou emoções provocadas pela frase no auditor, e;
c) ênfase: a importância relativa que
o autor atribui aos diferentes elementos da frase.
O componente de maior
importância para a análise está na importância relativa que Paulo atribuiu aos
diferentes elementos da frase (ênfase): ‘Eu sou carnal’. O estado do ‘eu’ na
frase é a ‘carnalidade’ - denotação. A idéia que Paulo enfatiza é a sujeição do
homem ao pecado como escravo – conotação. Quando afirmou a condição do ‘eu’,
Paulo atribui maior importância ao predicativo (carnal) do sujeito (eu) -
ênfase. Portanto, durante a interpretação do verso: “Eu sou carnal”, devemos
atentar para o elemento de maior importância na preposição, o predicativo
‘carnal’, e considerar o ‘eu’ como elemento coadjuvante ou como figura, algo
essencial para se demonstrar a condição do homem sem Deus. Para explicar a
condição daqueles que estão divorciados do Criador, o apóstolo Paulo lançou mão
de uma figura, o ‘eu’, onde fosse possível demonstrar a realidade do homem sem
Deus. Como ele estava tratando diretamente com os cristãos judeus, havendo
entre eles alguns judaizantes, não era de bom alvitre dizer: ‘Vocês são
carnais, vendidos como escravos ao pecado’ ( Jo 8:33 ). Por amor aos seus
compatriotas, Paulo fez referência a sua antiga condição utilizando o ‘eu’ como
figura ( 1Co 4:6 ). Após afirmar qual era a sua antiga condição sob a égide do
pecado (Eu sou carnal), os compatriotas do apóstolo dos gentios teriam
elementos para concluir que, ser descendente de Abraão, israelita, hebreu de
hebreu ou pertencente à alguma tribo de Israel não livra o homem do jugo do
pecado. A proposição (afirmação) ‘Eu sou carnal’ tem a finalidade de apresentar
a condição pertinente à natureza gerada segundo o pecado, ou seja, a condição
do homem vendido como escravo ao pecado em decorrência da ofensa de Adão ( Rm
7:14 ). Todos os descendentes de Adão são carnais, visto que, ser carnal é
condição proveniente do nascimento natural. Para ser espiritual é necessário
nascer de novo segundo o último Adão, que é Cristo. A carne não é aniquilada
através do ascetismo pessoal. Para o homem livrar-se da carne é necessário ter
um encontro com a cruz de Cristo, diferente do ascetismo, que consiste na
negação de desejos físicos e psíquicos em busca da espiritualidade. Este texto foi
extraído, na íntegra, sem alterações, do site http://www.estudobiblico.org/pt/detalhe/ver/romanos-capitulo-7-parte-ii-199]
3. A velha
natureza. Nossa antiga natureza está constantemente tentando
rebelar-se contra Deus. Não temos como lutar contra o pecado usando a nossa
força. O Espírito Santo, que habita em nós, ajuda-nos a vencer a velha
natureza. [Comentário: Há uma guerra incessante acontecendo
na vida de todos. Não é a batalha da lei versus a graça. Esta já foi ganha por
Jesus na cruz, mas a guerra incessante é do Espírito versus carne: “Porque a carne milita contra o
Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si...” (Gl
5.17). Neste texto, carne não significa corpo ou matéria, não significa o
palpável, o gerado e concebido por uma mulher. Não é o corpo físico. Por isso é
que o nosso corpo não é a sede de todos os pecados. Quem pensa dessa forma está
desvirtuando a Palavra de Deus deixada para orientação de nossas vidas. Há
cristãos que estão equivocados com esta passagem da Bíblia. Para muitos, o seu
corpo tem sido o culpado vital de seus fracassos. Porém, esse texto faz alusão
à natureza humana. No contexto, os pecados mencionados como obras da carne são
pecados espirituais manifestados através do corpo (Gl 5.19-21). A origem, a
sede é a natureza humana; o corpo é apenas um instrumento que pode ser usado
para satisfação da carne ou do Espírito (Gl 5.16 e 24). Andar a partir do senso
e razão pessoal implica em viver sem a orientação de Deus, executar o próprio
querer sem se importar com o querer de Deus. E é justamente nesse ponto que
muitos cristãos têm tombado e perdido a guerra. Policiam tanto o corpo e se
esquecem de tomar conta de suas intenções e vontades. Não conseguem se render
inteiramente a Deus e ao Espírito Santo, que é o agente ativo na vida do
cristão. O campo desta batalha é a psiquê humana, isto é, a carne, as vontades
pessoais, a razão humana lutam incansavelmente contra o Espírito. São duas
vontades lutando em uma só mente. Por isso, o apóstolo Paulo escreveu: “Porque
eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer
o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro,
mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7.18-19).]
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“O conflito entre a Lei e o
pecado (7.14-25)
Esse conflito é inevitável. Duas leis se chocam — a lei do pecado e a lei
de Deus. Podemos chamá-las de lei carnal e lei espiritual. Entretanto, esse
conflito pode ser facilmente dominado pelo crente, se ele dominar o pecado pela
lei espiritual. O campo de batalha entre essas duas forças é interior ao homem.
Paulo ilustra o coração como o interior de nossas vidas para mostrar esse
conflito.
A lei é espiritual (v.14). Mais uma vez o apóstolo declara que o
problema não está na lei de Deus, mas na natureza pecaminosa do homem. Quando
ele declara ‘sou carnal’ está, na verdade, dizendo que ele é feito carne, isto
é, sujeito à lei do pecado que opera na carne. Ele diz, também, que é ‘vendido
sob o pecado’, ou, à escravidão do pecado. Significa que, queira ou não, está
na sua carne, a tendência pecaminosa que o escraviza a faz de sua natureza
pecaminosa a sede de operações para o pecado. Essa escravidão envolve toda a
personalidade do homem. Porém, esse envolvimento encontra uma barreira para o
domínio total do pecado, que é a lei espiritual.
O conflito entre lei e o pecado
(v.15). Nestas palavras o apóstolo
se sente o centro do conflito no seu interior, e não consegue entender porque
pratica certos atos que contrariam sua real vontade. Ele vê o conflito entre o
bem e o mal, e, às vezes, esse conflito é tão intenso que ele não consegue
descobrir o ‘porquê’ desse conflito que o leva fazer certos atos” (CABRAL,
Elienai. Romanos: O Evangelho da Justiça de Deus. 5ª
Edição. RJ: CPAD, 2005, pp.85,86).
CONCLUSÃO
Mesmo vivendo
debaixo da graça o crente experimenta o conflito entre sua antiga natureza e
sua nova vida em Cristo. Como viver uma vida nova, se a velha vida ainda continua
querendo ocupar seu antigo espaço? A resposta do crente está na compreensão de
que a solução a esse conflito está em responder positivamente à nova vida
espiritual, dependendo inteiramente da graça de Deus. [Comentário: Noa capítulo 8 e versículo 1º, Paulo
nos dá a revelação do que é andar com Cristo, do que é estar livre do pecado.
Já não há acusação sobre nós, pois temos o sangue de Cristo sobre nossas vidas
para nos purificar, porém, de forma incisiva e direta, tem uma condicionante
para estar livre de acusação: “...que não andam segundo a carne...”. Paulo
coloca um condicionante, e um condicionante que é determinante para ser
Cristão: Andar no Espírito.
Crendo N’Ele e buscando a Ele, temos a inclinação para o Espírito Santo!]“NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e
isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.
Francisco Barbosa
Disponível no blog:
auxilioebd.blogspot.com.br.
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