SUBSÍDIO I
O capítulo 9 de
Gênesis, infelizmente, e por muito tempo, foi usado para amaldiçoar outros
povos e raças. A “maldição contra Cam”, mais especificamente em
relação a Canaã, seu filho, muitas vezes tem sido relacionada
às pessoas de raças não-brancas, especialmente às pessoas negras.
Logo, essa interpretação tem sido empregada para apoiar a suposta
superioridade da raça branca, bem como a justificativa para a escravidão,
que era muito comum entre alguns protestantes do passado na
região sul dos EUA, na África do Sul no regime do apartheid e em
muitos tipos de discriminação. É importante ressaltar esse fato, pois, no
Brasil, recentemente, um conhecido pastor midiático trouxe à tona essa
interpretação, trazendo grandes problemas e contundentes acusações de
preconceito para os que pensam segundo essa corrente equivocada
de interpretação bíblica.
Por que não se
pode usar a “maldição de Canaã” para justificar, por exemplo, a miséria
presente num continente como a África? Ora, em primeiro lugar, é
difícil definir os “cananeus” como grupo racial específico, e ao que
tudo indica, suas origens foram profundamente diversificadas. Segundo os
estudiosos, possivelmente, os cananeus rumaram para a Arábia meridional
e central, ao Egito, ao litoral do Mediterrâneo e à costa leste da
África. Não se pode falar de um povo cananeu somente, mas de vários povos
com cultura específica, língua própria etc: os jebuseus, os amorreus, os
girgaseus, os heveus, os arqueus, os sineus, os arvadeus,
os zemareus, os hamateus e a diversificação das famílias dos cananeus
(Gn 10.15-18; cf. 15.18-21).
Nas Escrituras, o
relato de Canaã foi exposto para explicar as implicações da conquista da
terra de Israel no livro de Josué. De fato, a terra de Canaã, sua
cultura e costumes, confrontavam diretamente a vontade e o plano de
Deus. Entretanto, a maldição de Noé em relação a Cam, e especificamente ao
seu neto Canaã, nada têm a ver com a África e, muito menos, com um recorte racial.
Isso precisa ficar bem claro a seus alunos na classe!
Fonte: Revista Ensinador
Cristão, ano 16 - nº 64 – out/nov/dez de
2015
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Na aula de hoje estudaremos a respeito da profecia
de Noé, impetrando maldição e benção sobre os seus filhos. Inicialmente
destacaremos a plantação da vinha por Noé, e suas consequências imediatas. Em
seguida, como se estabeleceu uma desgraça sobre aquela família. Ao final,
destacaremos o cumprimento da maldição de Noé sobre os descendentes de Cam, e
as bênçãos sobre Sem e Jafé. Essa também será uma oportunidade para refletir a
respeito dos percalços pelos quais as famílias podem passar, bem como sobre o relacionamento
entre pais e filhos.
1. NOÉ
PLANTA UMA VINHA
Noé estava cumprindo sua missão cultural,
trabalhando na agricultura, a fim de sustentar sua família. De certo modo
seguiu a profissão do seu pai, Lameque (Gn. 5.28,29), e decidiu plantar uma
vinha. A embriaguez sempre foi condenada na Bíblia, principalmente por causa
das suas consequências para a vida das pessoas (Pv. 20.1; 23;19-21; Is. 5.11;
Hc. 2.15; Rm. 13.13; I Co. 6.10; Ef. 5.18). Os israelitas não eram proibidos de
tomar vinho com moderação, na verdade esse era considerado uma benção (Sl.
104.14,15; Dt. 14.26) e era usado também nos sacrifício (Lv. 23.13; Nm. 28.7).
Isso, no entanto, não deve servir de estímulo para o consumo indiscriminado de
vinho. Além disso, há pessoas que o melhor a fazer é manter distância, e
seguindo a orientação de especialista, devem evitar até mesmo o primeiro gole.
No caso de Noé, ao que tudo indica, colheu as uvas, as espremeu e depois
aguardou que elas fermentassem. Ele fez algo que lhe trouxe vergonha, não apenas
pela embriaguez, mas também por ter ficado nu. A pessoa que se entrega aos
vícios acaba por fazer coisas fora do senso, que lhes colocarão em situações
embaraçosas. É comum ver pessoas assumindo papeis vergonhosos por causa de
bebidas alcoólicas. É lamentável que Noé, mesmo sendo reconhecido como o
pregoeiro da justiça, e sobrevivido graciosamente ao dilúvio, tenha se colocado
em uma situação vergonhosa. Uma das provas da veracidade da Bíblia é a sua
honestidade em relação aos pecados dos homens e mulheres de Deus. Narrativas
desse tipo estão registradas para que não venhamos a incorrer nos mesmos erros
(I Co. 10.6-13).
2. A MALDIÇÃO
DE NOÉ SOBRE CANAÃ
Quando Noé estava embriagado e nu em sua tenda, um
dos seus filhos, Cam, entrou na tenda do pai, e o viu naquela situação. É
possível que tenha se divertido ao vê-lo naquela condição deplorável. E mais
que isso, tenha chamado seus irmãos para fazer o mesmo. A desonra de Cam
antecipa o mandamento que viria a ser dado a Deus através de Moisés
posteriormente, em relação à importância de honrar os pais (Ex. 20.12). Sem e
Jafé, ao invés de seguirem o exemplo negativo do irmão, não quiseram humilhar o
pai, antes o cobriram. Eles entraram de costas na tenda e cobriram o corpo nu
do velho patriarca (Gn. 9.23). Há filhos que desonram seus pais, colocando-os
em condições vergonhosas. Outros, porém, cuidam dos seus pais, com orgulho, e
os preservam, principalmente na velhice. Em meio a essa sociedade utilitária,
marcada pelo pragmatismo, é importante que os filhos não descartem seus pais.
Por causa da humilhação imposta a Noé pelo seu filho Cam, este foi amaldiçoado.
Na verdade, ele profetizou o futuro da descendência de Cam. O patriarca
predisse três vezes que o filho de Cam se tornaria escravo, e seria servo
desprezível. Na verdade, os cananeus vieram a ser um povo conquistado pelos
israelitas, e se tornou instrumento de opróbrio (Gn. 15.18-21; Ex. 3.8, 17; Nm.
13.29; Js. 3.10; I Rs. 9.20). É importante ressaltar que a descendência de Cam
nada tem a ver com a raça negra, como quiseram interpretar alguns racistas do
passado. Essa foi uma visão equivocada, pautada no preconceito, para causar
segregação.
3. AS
IMPLICAÇÕES DA PROFECIA DE NOÉ
Em suas palavras Noé não apenas profetizou maldição,
mas também bênçãos sobre o restante da sua família. Sem recebeu a promessa de
que seria enriquecido por Deus, e se tornaria uma pessoa próspera. Da sua
família viria Abraão, que se tornaria o pai de uma grande nação (Gn. 11.10-32).
Mesmo sendo o segundo filho de Noé, Sem acabou tomando a primazia, por isso é
comumente citado em primeiro lugar (Gn. 5.32; 6.10; 9.18; 10.1; I Cr. 1.4).
Essa é uma demonstração do que acontece quando um filho se coloca debaixo da
benção do pai. Os filhos desobedientes trazem para si a desgraça, muitos estão
morrendo mais cedo do que deveriam, por causa da rebeldia (Ef. 6.1-4). Essa
também é uma demonstração da graça de Deus, que necessariamente não abençoa o
primogênito, mas aquele a quem Lhe apraz. Isso aconteceu com Abel (Gn. 4.4,5),
Isaque (Gn. 17.15-22) e Jacó (Gn. 25.19-23). Em relação a Jafé, esses ficaram à
sombra do seu irmão, e recebeu a benção através dele. Na verdade, este viria a
dar origem aos gentios, que também foram agraciados por Deus. Nós também
estamos na “tenda de Sem”, na medida em que Israel foi escolhido para ser “luz
para os gentios” (Is. 42.6; 49.6). Não podemos esquecer que a salvação vem dos
judeus (Jo. 4.22), e que o próprio Jesus era um judeu. Através de Jesus fomos
agraciados pelo Deus de Abraão, Isaque e Jacó, tendo Ele trazido luz para os
gentios (Lc. 2.32), que foi propagada pelos apóstolos a todos os povos (At.
1.8). A igreja continua tendo a responsabilidade de levar essa boa nova a todos
as nações (Mt. 28.18,19).
CONCLUSÃO
As palavras de Noé, proferidas aos seus filhos,
podem ser consideradas benção e maldição, e também profecias. Essas se
cumpriram cabalmente na história de Sem, Jafé e Cam, e em relação a esse
último, por ter humilhado ao seu pai, trouxe sobre si a desgraça. Estejamos,
pois atentos às bênçãos de Deus, e não nos apartemos das nossas
responsabilidades, sempre sóbrios e dispostos a levar o evangelho de Jesus até
os confins da terra, no poder do Espírito Santo (At. 1.8).
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog subsidioebd
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
A história de Noé
e de sua família não se encerra com sua saída da Arca. Houve um fato triste que
trouxe julgamento a um de seus descendentes, e a futura divisão das terras do
novo mundo. Esta lição nos mostra o quanto devemos ensinar nossos filhos
sobre o respeito para conosco, e o preço que se paga por não se ter o devido
cuidado no tocante à embriaguez, mesmo para aqueles que já nasceram de
novo. Se por um lado a Bíblia nos adverte sobre o mau uso do vinho, do qual o
crente deve se abster, por outro lado nos é dito sobre a consequência da bebida
e do deboche no lar de pessoas que conhecem a Deus. Portanto, eduquemos a nós
mesmos e aos nossos filhos. [Comentário: Logo depois do dilúvio, uma ordem renovada é estabelecida. A
fidelidade de Noé, que ocasionou a sua libertação, é agora manifesta numa
expressão de culto a Deus quando ele desembarca da Arca e logo oferece ao
Senhor um sacrifício agradável e Deus o abençoou, a Noé e seus filhos, Jafé (o
mais velho), Sem (o do meio) e Cam (o mais jovem). Deus lhes ordena o mesmo que
a Adão: "Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra". Foi-lhes
dado domínio sobre todos os animais e permissão de matar e comer, mas foi-lhes
avisado para não beber do sangue. Deus deu a Noé o governo de toda a terra.
Depois disso, Noé plantou uma vinha, fez vinho e embebedou-se. Seu ato trouxe
grande tristeza sobre sua descendência, pois Cam pecou contra seu pai, durante
a bebedeira. Isso trouxe uma maldição sobre ele e sua descendência por todas as
gerações vindouras.]. Vamos pensar maduramente sobre a fé cristã?
I. A VINHA DE NOÉ
Adaptando-se já à nova realidade, Noé faz-se
lavrador e planta uma vinha (Gn 9.20). Do fruto desta, fermenta um vinho tão
inebriante que o levou a escandalizar toda a família. O episódio serve-nos de
grave advertência.
1. A destemperança do patriarca. Embriagado, o patriarca desnuda-se em sua
tenda, indiferente à censura que poderia sofrer da esposa, filhos e netos (Gn
9.21). Se não vigiarmos, o mesmo ocorrerá conosco. Eis por que, devemos
agir com sobriedade em todas as instâncias da vida. Não foi sem razão que Paulo
recomendou aos obreiros a abstinência de bebidas alcoólicas (1 Tm 3.3). Um
bêbado, ainda que nascido de novo, age sempre de forma inconsequente. [Comentário: As
Escrituras veem o vinho favoravelmente, isso inferimos de textos como Nm
15.5-10; Dt 14.26; Sl 104.15 e Jo 2.1-11, e ao mesmo tempo, advertem
sobriamente do seu perigo (Is 5.22; Pv 21.17; 23.20-21, 29-35; Is 28.7),
particularmente no desleixo moral exemplificado pela autoexposição (Lm 4.21; Hc
2.15). Os nazireus, sacerdotes exercendo o ofício e governantes tomando
decisões deveriam se abster do vinho (Nm 6.3,4; Lv 10.9; Pv 31.4-5). Noé
embriagado, desnuda-se e assim como Adão, o cabeça original da raça humana,
pecou no comer (Gn 3.6), Noé, o cabeça da raça pós-diluviana, pecou no beber. A
exposição da nudez é desmoralizante publicamente (2Sm 6.16) e incompatível com
uma vida na presença de Deus. Alguns sugerem vários tipos de males que tiveram
lugar na tenda de Noé. Enquanto a linguagem empregada pode deixar espaço para
certos pecados sexuais (Lv 18), pessoalmente não encontro nenhuma razão para
presumir qualquer má conduta por parte de Noé, além da indiscreta bebedeira e
sua consequente nudez. A posição exegética de que o pecado de Cam e Canaã tenha
sido contemplar de modo desrespeitoso a nudez do pai, encontra sua confirmação
no versículo 25 que atesta que Sem e Jafé, para não recair no mesmo erro.
Talvez a melhor descrição para a conduta e condição de Noé seja a palavra
“impróprio”. Também não há como interpretar como um ato homossexual entre Cam e
seu pai. Note ainda, que a referência utilizada pelo comentarista para afirmar
que Paulo “recomendou aos obreiros a abstinência de bebidas alcoólicas” (1Tm
3.3), na verdade, o termo “dado ao vinho” sugere alguém “viciado”, e não se
trata de recomendação mas de uma exigência! – “Convém, pois, que...” “Convém” é
verbo intransitivo e indica ação ou fato.].
2. A irreverência de Cam. O destempero de Noé é flagrado por seu filho,
Cam. Ao invés de calar-se e, discretamente, resguardar a honra do pai, saiu a
depreciar-lhe a imagem (Gn 9.22). Ao que parece, ele não era muito diferente
daqueles que pereceram no dilúvio. Mais tarde, atitudes como as de Cam seriam
arroladas como faltas graves pela Lei de Moisés (Lv 18.7). Não entreguemos o
faltoso ao vitupério. Se agirmos com amor, poderemos recuperá-lo plenamente (Tg
5.20). Doutra forma, perderemos almas mui preciosas aos olhos de Deus. Lembremo-nos
da recomendação de nosso Senhor, de buscar a reconciliação (Mt 18.15-18). [Comentário: Fitar a
nudez alheia, seja com lascívia ou com desdém, é moralmente errado. O olhar
malicioso e desdenhoso de Cam a seu pai, a quem ele deveria ter reverenciado,
era particularmente repreensível (Êx 21.15-17). Se já é errado divulgar o
pecado de outrem (Pv 10.12), muito mais ainda o do próprio pai. A história
condena ainda a falta de respeito aos pais. O pecado de Cam consistiu em não
honrar, nem respeitar seu pai; ao invés de cobri-lo, ele expôs a sua condição
deplorável. Noé lança uma maldição que foi direcionada não para seu filho Cam
que o teria visto naquela situação desnudo e sim, ao seu neto, filho mais novo
de Cam, de nome Canaã. Talvez Canaã estivesse de alguma maneira envolvido no
pecado de Cam, ou tivesse os mesmos defeitos de caráter do seu pai. A maldição
prescrevia que os descendentes de Canaã (os quais não eram negros) seriam
oprimidos e controlados por outras nações. Por outro lado, os descendentes de
Sem e Jafé teriam a benção de Deus (vv. 26,27). Essa profecia de Noé era
condicional à todas as pessoas a quem ela foi dirigida. Qualquer descendente de
Canaã que se voltasse para Deus receberia, também, a bênção de Sem (Js 6.22-25;
Hb 11.31); mas também quaisquer descendentes de Sem e de Jafé que se desviassem
de Deus teriam a maldição de Canaã (Jr 18.7-10).].
3. O respeitoso gesto de Sem e Jafé. Diante da atitude irreverente e maldosa do
irmão mais novo, Sem e Jafé tomaram "uma capa, puseram-na sobre ambos os
seus ombros e, indo virados para trás, cobriram a nudez do seu pai; e os seus
rostos eram virados, de maneira que não viram a nudez do seu pai" (Gn
9.23). Ajamos como Sem e Jafé, e muitos escândalos serão evitados no arraial
dos santos. Isso não significa que os pecados serão acobertados. Todavia, o
pecador tem de ser tratado com dignidade, a fim de que venha a experimentar
plena restauração. Como gostaríamos de ser tratados em semelhantes
circunstâncias? Sem e Jafé agiram amorosa e nobremente. [Comentário: Ao contrário de Cam e Canaã, Sem e Jafé evitaram
cuidadosamente de incidir no mesmo equívoco de seu irmão e sobrinho (v.23). Ao
despertar do sono e recuperar-se da embriaguez, Noé toma conhecimento dos atos
de seus filhos, e seguindo a tradição do seu tempo pronuncia maldições e
bênçãos segundo o agir de cada um deles.].
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
"Noé era um lavrador da terra, como fora Caim.
Cuidar de plantas se tornou sua grande paixão e entre elas estava a videira.
Esta é a primeira vez que a produção de vinho é aludida na Bíblia, e é
significativo que esteja ligada a uma situação de desgraça.
Noé pode ter sido inocente, não conhecendo o efeito
que a fermentação causa no suco de uva nem o efeito que o vinho fermentado
exerce no cérebro humano. Isto não impediu que a vergonha entrasse no círculo
familiar. Perdendo os sentidos, Noé tirou a roupa e se deitou nu. A nudez era
detestada pelos primitivos povos semíticos, sobretudo pelos hebreus que a
associavam com a libertinagem sexual (cf. Lv 18.5-19; 20.17-21; 1 Sm 20.30)"
(Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. 1ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.
42).
II. O JUÍZO DE NOÉ SOBRE A IRREVERÊNCIA DA CAM
Já passada a embriaguez, Noé
toma conhecimento do que lhe fizera o filho mais novo. Todavia, sendo um homem
justo, não poderia deixá-lo sem disciplina. [Comentário:Deuteronômio 27.16
reforça a reação de Noé após despertar da embriagues: “Maldito quem desonrar o
seu pai ou a sua mãe”. Na antiga sociedade hebraica, ver a nudez de pai ou mãe
era considerado uma calamidade social grave, e um filho ou filha ver tal nudez
propositadamente era um lapso sério da moralidade entre pais e filhos. De
acordo com os padrões da época, Cam errou gravemente, como se não bastasse,
correu até seus irmãos, fazendo do incidente um motivo de zombaria].
1. A maldição de Canaã. O patriarca castiga indiretamente
a Cam, lançando sobre o filho deste uma pesada maldição: "Maldito seja
Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos" (Gn 9.25). À primeira
vista, parece que o patriarca condena os cananeus à servidão. Mas o caso era
bem mais grave. Eles seriam punidos com a perda de suas terras aos filhos de
Abraão, o mais notável descendente de Sem, depois de Jesus Cristo.
Quanto aos demais filhos de Cam,
haveriam de construir grandes e admiráveis civilizações como a egípcia e a
etiópica (Gn 10.6). Aliás, o Egito foi um poderoso e culto império, acerca do
qual há uma profecia maravilhosa (Is 19.18-25). [Comentário: Cam teve outros filhos além de Canaã (Cuxe, Mizraim e Pute
– Gn 10.6), a maldição foi especificamente para Canaã e seus descendentes, isto
é, os cananeus da Palestina, e não Cuxe e Pute, que provavelmente se tornaram
os ancestrais dos etíopes e dos povos negros da África bem como, dos líbios. O
cumprimento dessa maldição fez-se à época da vitória de Josué (1400 a.C.) e
também na conquista da Fenícia e dos demais povos cananeus pelos persas. O Blog Voltemos ao Evangelho publicou um artigo do Pastor americano
John Piper, onde ele afirma que “Primeiro, Noé toma essa ocasião do pecado de
seu filho Cam e a usa para fazer uma predição sobre a prosperidade do filho
mais novo de Cam, Canaã. Basicamente a predição é que os cananitas
eventualmente seriam subjugados pelos descendentes de Sem e Jafé. [...] Cam
tinha quatro filhos de acordo com Gênesis 10.6. “Os filhos de Cam: Cuxe,
Mizraim, Pute e Canaã”. Ora, em termos gerais, Cuxe é provavelmente o ancestral
dos povos da Etiópia; Mizraim é o ancestral dos egípcios; e Pute é o ancestral
dos povos do norte da África, os líbios. Mas Canaã é o único dos quatro filhos
que não é ancestral de povos africanos. Gênesis 10.15–18 cita os descendentes
de Canaã: “Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e a Hete, e aos jebuseus, aos
amorreus, aos girgaseus, aos heveus, aos arqueus, aos sineus, aos arvadeus, aos
zemareus e aos hamateus”. Todos esses povos eram habitantes de Canaã e
proximidades, não da África. E a predição de Noé se tornou verdade quando as
nações cananitas foram expulsas pelos israelitas por causa de sua perversidade
(Deuteronômio 9.4–5). Então a maldição não recai sobre os povos africanos, mas
sobre os cananitas. Segundo, a nação predita de Noé não dita como o povo de
Deus deve tratar cananitas individuais. Por exemplo, cinco capítulos depois, em
Gênesis 14.18, Abraão, descendente de Sete, encontra um cananita nativo chamado
Melquisedeque, que era homem justo e “sacerdote do Deus Altíssimo”, e que
abençoou Abraão. Abraão deu a ele o dízimo dos seus espólios. Então nem mesmo o
fato de que Deus ordena julgamento sobre nações perversas dita a nós como
devemos tratar indivíduos nas mesmas nações. Terceiro, em Gênesis 12, Deus coloca
em ação um grande plano de redenção para todas as nações, para resgatá-las
dessa e de qualquer outra maldição de pecado e julgamento. Ele chama a Abrão
para todas as nações e faz uma aliança com ele e promete: Abençoarei os que te
abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as
famílias da terra”. “Todas as famílias da terra” inclui as famílias cananitas.
Então o que vemos é que, com Abraão, Deus está colocando em ação um plano de
redenção que derruba cada maldição sobre qualquer pessoa que recebe a bênção de
Abraão, a saber, o perdão e a aceitação de Deus que vem através de Jesus
Cristo, a semente de Abraão (Gálatas 3.13–14)”. Disponível em: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2014/11/os-africanos-nao-sao-descendentes-de-canaa-nem-estao-sob-maldicao-de-noe/].
2. A bênção de Sem e Jafé. Ao galardoar a atitude
respeitosa e reverente de Sem e Jafé, o patriarca concede-lhes uma bênção
eterna: "Bendito seja o Senhor, Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.
Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo"
(Gn 9.26,27).
A irreverência e o deboche vêm
destruindo muitos jovens promissores. A sociedade atual caracteriza-se pela
insolência e por uma irreverência sem limites. Que tais coisas não nos invadam
as igrejas, pois santidade convém à casa de Deus (Sl 93.5).
Eduquemos nossos filhos e netos,
para que não sejam amaldiçoados e venham a perder a herança que lhes reservou o
Senhor. Quem ama instrui, educa e disciplina. [Comentário: Notemos agora a beleza exegética
da bênção sobre Sem: “Para Sem o nome divino usado é YHWH El enquanto para Jafé é Elohîm. Os
dois nomes são significativos dentro do contexto da promessa messiânica a Sem.
O texto não diz “Bendito seja Sem”, mas “Bendito seja YHWH El de Sem”, isto é, “YHWH será tanto o
Deus quanto a bênção de Sem”! É aos descendentes de Sem que é confiada a
Aliança e o conhecimento do Senhor e é através dela que o Messias é dado ao
mundo!” A bênção de Jafé está subordinada a de Sem: “habite ele nas tendas
de Sem”, o que equivale a dizer que Jafé e Sem teriam relações diplomáticas
amigáveis! Todavia, Elohîm engrandeceria a Jafé de tal forma que Canaã lhe
seria servo (v.27). Além de Canaã receber a sua sentença imprecatória, esta foi
reforçada em cada bênção pronunciada a seus irmãos. Os cananitas seriam
escravos tanto dos semitas (linhagem judaica) quanto dos jafetitas (povos
indo-europeus)].
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
"Recuperando os sentidos,
Noé ficou sabendo do que aconteceu e falou com seus filhos. Ele deixou Cam sem
bênção e concentrou sua reprimenda em Canaã, cujos descendentes historicamente
se tornaram um povo marcado por moralidades sórdidas e principalmente fonte de
corrupção para os israelitas. A adoração Cananéia de Baal desceu às mais baixas
profundezas da degradação moral. Embora os cananeus obtivessem certo poder,
como os fenícios, pelo tráfico marítimo no Mediterrâneo, eles nunca conseguiram
se tornar grande nação. Quase sempre foram dominados por outros povos"
(Comentário Bíblico Beacon. Vol 1. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.
52).
III. CUMPRE-SE A MALDIÇÃO DE CANAÃ
Noé não se limitou a abençoar a
Sem e a Jafé, nem a amaldiçoar a Cam. O patriarca, na verdade, definiu o futuro
messiânico de seus filhos. Passados aproximadamente 700 anos, sua profecia
começa a cumprir-se.
1. Canaã perde a sua herança. Cam, através de seu caçula,
Canaã, não demorou a ocupar toda a terra que, no tempo de Josué, seria
conquistada pelos hebreus. As possessões cananitas iam de Sidom, passando por
Gerar e Gaza, até Sodoma e Gomorra (Gn 10.19). Sim, os sodomitas também eram
descendentes de Cam. Tratava-se, de fato, de uma gente tão vil e tão debochada
quanto seu patriarca; não demonstrava nenhum temor a Deus.
Tendo em vista a degradação
moral dos descendentes de Canaã, promete o Senhor ao semita Abraão: "À tua
semente tenho dado esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates,
e o queneu, e o quenezeu, e o cadmoneu, e o heteu, e o ferezeu, e os refains, e
o amorreu, e o cananeu, e o girgaseu, e o jebuseu" (Gn 15.18-21). Todas
essas nações eram da linhagem de Canaã. [Comentário: É lamentável que passagens como
esta sejam usadas para justificar a escravidão. A maldição foi, antes de tudo, profética contra um futuro inimigo do povo de
Deus, algo plenamente confirmado pela história posterior dos cananeus. Os
cananeus recebem a maldição, não por serem uma raça diferente, mas por causa de
sua depravação moral e dos deuses a quem adoravam (Lv 18.2-23). Não nos
esqueçamos de Raabe, a mulher Cananéia, que foi integrada ao povo de Deus.
Portanto, a maldição de Canaã deve ser interpretada dentro do contexto do
Antigo Testamento e identificada como a vitória dos israelitas sobre os
cananeus, habitantes da terra prometida. O Pr Esdras Costa Bentho, colunista da
CPADNEWS, escreve em seu artigo A
Maldição de Noé, a homossexualidade e a raça negra: “Acredita-se que para
que a maldição recaísse sobre Canaã, ele tenha participado de alguma forma do
desrespeitoso ato de seu pai Cam. Das 63 ocorrências do termo ārar (maldição)
no Antigo Testamento, o verbo ocorre por 12 vezes como antônimo do verbo
abençoar (bārak), e um desses casos é o versículo 25 do texto em apreço.
Seguindo os conceitos anteriores (Gn 3.14, 17; 4.11), o sentido primário é de
que Canaã e sua descendência estariam banidos, cercados de obstáculos e sem
forças para resistirem seus inimigos tornando-se escravos dos escravos (ebed
‘abādîm). Devemos notar, contudo, que embora Cam tivesse outros filhos além de
Canaã (Cuxe, Mizraim e Pute – Gn 10.6), a maldição foi especificamente para
Canaã e seus descendentes, isto é, os cananeus da Palestina, e não Cuxe e Pute,
que provavelmente se tornaram os ancestrais dos etíopes e dos povos negros da
África. O cumprimento dessa maldição fez-se à época da vitória de Josué (1400
a.C.) e também na conquista da Fenícia e dos demais povos cananeus pelos
persas. Por fim, não se trata de uma maldição dirigida aos negros africanos
como costuma afirmar certos intérpretes. Os canaanitas foram totalmente
extintos segundo a posição de vários biblistas e historiadores.” Disponível em:http://www.cpadnews.com.br/blog/esdrasbentho/cultura-crista/41/a-maldicao-de-noe-a-homossexualidade-e-a-raca-negra.html].
2. A bênção de Sem na pessoa de
Israel. Depois de uma
peregrinação de quarenta anos pelo Sinai, Israel, o ramo messiânico da grande
família de Sem, desapossa Canaã daquela terra tão formosa (Js 6.21). Os que lhe
escapam à espada, são submetidos a trabalhados forçados (Js 17.13). [Comentário: Gênesis 10.21 a 32 apresenta uma
relação de nações oriundas de Sem. A Bíblia é uma grande fonte de informações a
respeito das genealogias árabes. E os árabes são um povo semita (descendentes
de Sem), tanto quanto os judeus. Concentrando o relato apenas no ramo que deu
origem aos judeus a partir de Héber, temos que: a civilização Cananéia era tão
corrupta que coexistir com eles seria uma grave ameaça à sobrevivência e ao
bem-estar da nação dos hebreus. Israel é o instrumento do julgamento de Deus
contra aqueles que se recusaram a honrá-lo.].
3. Jafé participa da bênção de
Sem. O Evangelho veio-nos através de Cristo, o mais ilustre dos
semitas. Logo após a morte dos apóstolos, porém, foram os filhos de Jafé que se
encarregariam de proclamar o Evangelho até os confins da Terra.
Jafé teve suas possessões
alargadas desde a Europa às Américas. E, pela fé em Cristo, habitamos nas
tendas de Sem (Gn 9.27). A profecia de Noé cumpriu-se rigorosamente. [Comentário:Os povos descendentes de Jafé foram os povos que conquistaram
a Europa e a Ásia, tendo de fato uma “largueza de terras”. Esses povos
tornaram-se os ancestrais de grandes nações como: Rússia, Lituânia, Polônia,
Alemanha, Grécia, Roma, França, Ilhas Britânicas etc… Mathew Henry comentando a
bênção de Jafé escreve: “Alguns entendem estas palavras como se referino
totalmente a Jafé, com a finalidade de denotar, em primeiro lugar: A sua
prosperidade exterior, que a sua semente seria tão numerosa e tão vitoriosa que
eles deveriam ser senhores das tendas de Sem, o que foi cumprido quando o povo
judeu, a raça mais iminente de Sem, foi tributário primeiro dos gregos e depois
dos romanos, ambos da semente de Jafé. Observe que a prosperidade externa não é
uma marca infalível da verdadeira igreja. As tendas de Sem nem sempre são as
tendas do conquistador. Ou, em segundo lugar, isto denota a conversão dos
gentios, e a entrada deles na Igreja. E então deveríamos entender que Deus
persuadiria Jafé (porque este é o significado da palavra), e então, sendo assim
persuadido, ele habitaria nas tendas de Sem, isto é, judeus e gentios seriam
reunidos no aprisco do Evangelho. Comentário
Bíblico Matthew Henry - Antigo Testamento, Volume 1
Por Henry Matthew].
SUBSÍDIO DIDÁTICO
"Maldito seja Canaã. Quando Noé ficou sabendo do ato desrespeitoso de
Cam, pronunciou uma maldição sobre Canaã, filho de Cam (não sobre o próprio
Cam). (1) Talvez Canaã tivesse de alguma maneira envolvido no pecado de Cam, ou
tivesse os mesmos defeitos de caráter do seu pai. A maldição prescrevia que os
descendentes de Canaã (os quais não eram negros) seriam oprimidos e controlados
por outras nações. Por outro lado, os descendentes de Sem e Jafé teriam a
bênção de Deus (vv. 26,27). (2) Essa profecia de Noé era condicional a todas as
pessoas a quem ela foi dirigida. Qualquer descendente de Canaã que se voltasse
para Deus receberia, também, a bênção de Sem (Js 6.22-25; Hb 11.310; mas também
quaisquer descendentes de Sem e de Jafé que desviassem de Deus teriam a
maldição de Canaã (Jr 18.7-10)" (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. 1.ed.
Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 42).
CONCLUSÃO
A grande lição que podemos extrair do texto que ora
estudamos é que devemos agir com amor e cuidado ante nossos irmãos
surpreendidos em faltas e pecados. Ajamos com amor, a fim de que sejam
recuperados. Assim faria Jesus. Que em nossos arraiais não haja lugar para
irreverências nem desrespeitos. Além disso, cuidemos da educação de nossos
filhos e netos. Somos responsáveis por suas almas. [Comentário: Alguém já
disse, e com razão, que Noé foi o maior evangelista de todos os tempos, porque,
embora, ninguém creu em sua pregação, levou para a arca da salvação toda a sua
família. Vale a pergunta: “O que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e
perder a sua família?” Que sabor tem um homem chegar ao topo da pirâmide e
alcançar sucesso em sua vida profissional e financeira e deixar para trás sua
família? Nenhum sucesso vale a pena se o preço a pagar é o fracasso da família.
Noé não entrou sozinho na arca. Levou sua mulher, seus três filhos e suas três
noras. Ninguém de sua família fiou para trás. Todos foram salvos e sobreviveram
ao dilúvio. O exemplo de Noé deve nos motivar a lutar por nossa família. Nosso
tesouro mais precioso não são os bens que granjeamos, mas a família que temos.
Nossos filhos valem mais do que toda a riqueza do mundo. Nossa família merece
nossos melhores investimentos e deve ser o alvo das nossas orações mais
fervorosas. Nenhum homem pode abrir mão de sua família. Nenhum pai pode
desistir de ver seus filhos salvos e seguros dentro da arca da salvação. A
salvação dos filhos é mais importante do que o sucesso deles. A salvação da
família deve ser o nosso mais alto ideal, a nossa mais intensa luta, a nossa
mais doce alegria. (Fonte: Devocionário Cada Dia - Hernandes Dias Lopes). Noé,
o “pregoeiro da justiça” é para nós um exemplo magnífico. Devem
imitá-lo na fé inabalável que teve na promessa divina, e na firmeza diante das
zombarias de seus contemporâneos que se recusaram a receber sua mensagem.]. “NaquEle
que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de
vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.