sexta-feira, 12 de junho de 2015

LIÇÃO 11: A ÚLTIMA CEIA


INTRODUÇÃO

A celebração da Santa Ceia sempre teve um lugar especial como memorial da morte e ressurreição do Senhor. Na lição de hoje estudaremos a respeito da instituição desse evento para a fé cristã. Inicialmente refletiremos a respeito das orientações de Jesus quando a essa celebração. Em seguida, nos voltaremos para as advertências paulinas, no contexto da igreja de Corinto. E finalmente, deixaremos instruções práticas quanto ao procedimento apropriado na celebração da Ceia do Senhor.


1. O ENSINAMENTO BÍBLICO DA CEIA DO SENHOR

A celebração da Ceia foi uma das ordenanças deixadas pelo Senhor (Mt. 26.26-30; I Co. 11.23-25). Os discípulos poderiam se envolver com outras atividades e esquecerem o principal, o valor da morte e ressurreição de Cristo. Por isso, para eles, bem como para nós hoje, a Ceia tem um significado rememorativo. Os elementos da Ceia – o pão e o cálice – são símbolos do sacrifício do Cordeiro de Deus para a nossa salvação (formas figuradas como em Jo. 15; 10.9; 6.35). O pão representa o Seu corpo (I Pe. 2.22-24) e o cálice simboliza o sangue do Senhor (Mc. 14.24). A Ceia deve ter observação contínua (Lc. 22.14-20) como o fizeram os primeiros discípulos (At. 2.42; 20.7; I Co. 11.26). Mas é preciso que haja atenção em relação ao significado dessa celebração, o descaso e a irrelevância dada à Ceia são pecados graves com consequências trágicas (I Co. 11.30). Recomendamos, por ocasião da Ceia do Senhor: 1) sinceridade na apreciação (Lc. 22.17-19); 2) autoexame em reconhecimento dos pecados (I Co. 11.27-29); 3) comunhão com os irmãos (I Co. 10.16-17); e 4) esperança quanto à manifestação do Senhor, no dia que Ele vier (I Co. 11.25,26). A Ceia do Senhor, por conseguinte, aponta para o passado – lembrança da morte e ressurreição de Cristo; o presente – todas as vezes que o fazemos demonstramos nossa identificação com Cristo; e futuro – antecipamos escatologicamente o dia em que celebraremos novamente, com Cristo. A celebração da Ceia remete aos tempos antigos, na instituição da páscoa judaica, o pasah ou “passar por cima”, episódio em que os israelitas foram salvos da mortandade no Egito (Ex. 12.13). Os israelitas continuaram celebrando a páscoa como um ritual (Dt. 16.1-4), como tipo do Cordeiro de Deus que haveria de vir para tirar o pecado do mundo (Jo. 1.29; I Co. 5.7).


2. A CELEBRAÇÃO DA CEIA EM CORINTO

Com base em I Co. 11.21, depreendemos que, em Corinto, a Ceia não era uma refeição simbólica apenas, como acontece em nosso meio nos dias atuais, mas uma refeição de verdade. Fica claro também pelo texto que cada um dos participantes levava uma porção de comida que era compartilhada uns com os outros. Mas em razão dos partidarismos na igreja, os grupinhos se formavam também para comer. Uns comiam primeiro, outros depois, tudo se fazia para evitar contatos. Paulo não tinha motivos para elogiar a igreja por essa desunião e falta de controle (v. 17), pois, além das divisões, havia aqueles que tinham mais condições (v, 18), levavam muita comida e bebida, exageravam, enquanto que outros ficavam com fome, numa nítida demonstração de segregação social e financeira. Comiam antes que os outros chegassem, principalmente os escravos que não podiam chegar mais cedo. Como consequência, o Apóstolo chama a atenção dos crentes de Corinto para que não se apropriem indignamente da ceia do Senhor. Essa indignidade, pelo contexto da passagem, não é prioritariamente moral, antes uma ausência de discernimento quanto ao significado do corpo e do sangue do Senhor (v. 27). Antes de se apropriar dos elementos da Ceia, é preciso que o crente examina-se, veja quais são suas reais intenções na participação do pão e do cálice (v. 28), e, principalmente, do seu lugar no Corpo de Cristo (v. 29), quando isso deixa de ser uma regra, o resultado é a morte tanto espiritual quanto física (v. 30-32), portanto, se tão somente para comer, que o faça em casa, pois a celebração da ceia não é apenas comida e bebida (v. 33,34).


3. ORIENTAÇÕES PRÁTICAS PARA A CEIA DO SENHOR

Algumas igrejas deixam de dar a Ceia do Senhor o valor devido. Como nos dias dos crentes de Corinto, testemunhamos uma banalização dessa ordenança. É preciso ter cuidado, pois por causa disso existem muitos fracos e doentes, e até alguns que dormem. Uma igreja genuinamente evangélica celebra a Ceia observando os seguintes princípios: 1) que a Ceia é uma ordenança do Senhor (24,25); 2) que se trata de um memorial divino (v. 24,25); 3) que anuncia, profeticamente, a vinda do Senhor (v. 26); 4) que deve ser precedida de um autoexame a fim de identificar a real motivação da celebração (I Co. 11.25); 5) para tanto, o cristão precisa discernir o valor espiritual da celebração da ceia (v. 29); 6) deva ser um momento de gratidão a Deus em reconhecimento pelo seu gracioso amor em Cristo (v. 24); 7) deve ser restrita aos discípulos de Cristo (Lc. 22.14); 8) trata-se de um momento de profunda devoção e solene louvor ao Senhor (Mt. 26.30). No ato da celebração da ceia os cristãos têm a oportunidade de refletir a respeito do significado da mensagem da cruz de Cristo. Não somos merecedores de participar desse evento, conforme lembrou Calvino, graças a Cristo nos tornamos dignos de nos aproximar da mesa. Não são nossas credenciais morais que nos fazem aptos para celebrar a ceia. Os coríntios pecavam na celebração porque não “discerniam” o corpo e o sangue do Senhor. Isso não apoia a doutrina da transubstanciação (os elementos se transformam no corpo e sangue de Cristo), muito menos da consubstanciação (os elementos unem-se às moléculas da carne e do sangue de Cristo), antes reforça a natureza simbólica (emblemática), e memorial dessa celebração. É importante ressaltar que existem muitos que tomam o pão e o cálice indevidamente, sem saber o que estão fazendo. Esses estão lançando Cristo ao vitupério, crucificando novamente Aquele que morreu pelos pecadores.  Durante a Ceia temos também a oportunidade de nos identificarmos com todos os cristãos, de todos os tempos e épocas. Com eles, assumimos que fomos redimidos pelo mesmo sangue, que foi derramado na mesma cruz, e pelo mesmo Cristo.  


CONCLUSÃO

Se atentarmos para I Co. 11.25,26, concluiremos que a celebração da Ceia do Senhor aponta tanto para o passado quanto para o presente e o futuro. Em relação ao passado, ela é um memorial da morte de Cristo na cruz do Calvário, para redimir os pecados dos crentes. No presente, é um ato de renovação da comunhão com Cristo, bem com os demais membros do Corpo (I Co. 10.16,17). Quanto ao futuro, anuncia o dia da manifestação do Senhor quando estaremos com Ele em corpos glorificados (Mt. 8.11; 22.1-14).


Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa


COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Sem dúvida, a Páscoa era uma das festas mais importantes do judaísmo, e a sua celebração era carregada de valor simbólico. O seu ritual era metódico e meticuloso pois lembrava um dos momentos mais importantes da história do povo de Deus da Antiga Aliança - a libertação do cativeiro egípcio! A sua celebração anual mobilizava toda a nação judaica. 
Quando instituiu a Santa Ceia, por ocasião da celebração da última Páscoa, Jesus tinha em mente esses fatos. Sabedor de que a Páscoa era apenas um tipo do qual Ele era o antítipo (ou uma figura da qual Ele era o cumprimento), Ele demostrou alegria e satisfação por poder celebrá-la na companhia de seus discípulos. Apenas algumas horas depois, o Filho do Homem estaria libertando o seu povo, não mais de um cativeiro humano, mas do cativeiro do pecado! [Páscoa é a festa que marca o início do calendário bíblico de Israel e delimita as datas de todas as outras festas na Bíblia. Pessach (do hebraico פסח, passagem) a Páscoa judaica é também conhecida como "Festa da Libertação", e celebra a libertação dos hebreus da escravidão no Egito em 14 de Nissan no ano aproximado de 1280 a.C. A primeira celebração de Pessach ocorreu há 3.500 anos, quando Deus enviou as Dez pragas do Egito sobre o povo egípcio. Antes da décima praga, Moisés foi instruído a pedir para que cada família hebréia sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais (mezuzót) das portas com o sangue do cordeiro, para que não fossem acometidos pela morte de seus primogênitos. Como recordação dessa libertação, e do castigo de Deus sobre o Faraó, foi instituída para todas as gerações o sacrifício de Pessach. Note que Pessach significa  passagem, porém a passagem do anjo da morte, (pois o Senhor “passou” sobre as casas dos filhos de Israel, poupando-os. Ex 12:27), e não a passagem dos hebreus pelo Mar Vermelho ou outra passagem qualquer, apesar do nome evocar vários simbolismos. Interessante que, um segundo Pessach era celebrado em 14 de Iyar, para pessoas que na ocasião do primeiro Pessach estivessem impossibilitadas de ir ao Tabernáculo, fosse por motivos de impureza ou por viagem. Páscoa fala de memória, de identidade. É uma festa instituída para que jamais Israel se esquecesse quem foi, quem é e o que deve ser.] Vamos pensar maduramente sobre a fé cristã?

1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ÚLTIMA CEIA

1. A instituição da páscoa judaica. A festa da Páscoa era uma das celebrações que ocorria na primavera. A palavra é derivada do verbo hebraico pasah, com o sentido de "passar por cima". Essa festa tem sua origem nos dias que antecedem o êxodo dos israelitas do Egito, conforme narrado em Êxodo 12. Até esse momento, Faraó relutava em deixar os israelitas partirem conforme a determinação do Senhor. A consequência dessa obstinação do governante egípcio foi o julgamento divino que veio na forma de uma grande mortandade nos lares egípcios. Somente os primogênitos das famílias egípcias seriam atingidos, pois os hebreus estavam protegidos com o sangue do cordeiro pascal (Êx 12.13). O sangue do cordeiro era um tipo do sangue de Cristo, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29; 1 Co 5.7). [Festa instituída por Deus para Israel, na época do Êxodo, para celebrar a noite em que o Senhor Jeová poupou todos os recém nascidos primogênitos dos israelitas e matou todos os primogênitos dos egípcios (Êx 12.1-30,43-49). A palavra hebraica pesah (do grego pascha) tem uma origem incerta. G. E. Mendenhall a relaciona com a palavra acadiana pashu, que consta na carta Amarna 74.37 para descrever a paz ou a segurança que resulta do estabelecimento de uma aliança (BASOR, #133 [1954], p. 29). B. Couroyer sugere que este termo é uma transliteração de duas palavras egípcias p3 sh, 'Te coup" (o golpe, a pancada), e que ele refere-se ao golpe infligido pelo Senhor à terra do Egito na décima praga. Ele acredita que a expressão egípcia foi colocada ao lado de uma raiz hebraica composta pelas mesmas consoantes, pasah, que significa saltar ou passar (por cima) como em 1 Reis 18.26. Devido à sua conexão com a isenção dos primogénitos de Israel, pesah veio a ter o sentido da misericordiosa intenção de Jeová ao passar por cima das casas que foram marcadas com sangue ("Uorigine égyptienne du mot 'Pâque'", Revue Biblique, LXII [1955], 481-496). O verbo pasah ocorre em Êxodo 12.13,23,27, onde obviamente significa que o Senhor pulou ou saltou por cima e, desse modo, poupou as casas israelitas quando feriu os egípcios (Outro verbo com os mesmos radicais significa mancar ou ser manco; 2 Samuel 4.4.) A outra única ocorrência, no sentido de poupar ou proteger, está em Isaías 31.5, onde pasah está em um paralelo com outros três verbos que significam "proteger", "libertar" e "salvar". É possível que em Isaías o significado possa ter sido estabelecido pelo uso em Êxodo 12 e não por refletir o significado original da raiz. Portanto, não se pode afirmar que o substantivo pesah deriva ou não do verbo pasah, que originalmente significava passar por cima. Quanto à observação cerimonial da festa da Páscoa no AT, Veja Festividades; Sacrifícios; Adoração.
No AT, é feita uma referência à celebração da primeira Páscoa por Moisés, com a aspersão de sangue para que os primogênitos israelitas não fossem tocados (Hb 11.28). Existem muitas outras referências a festas da Páscoa durante a vida do Senhor Jesus. Ainda criança, todos os anos Ele era levado por seus pais a Jerusalém para a Festa da Páscoa (Lc 2.41). No quarto evangelho, três Páscoas são definitivamente mencionadas durante o ministério do Senhor Jesus (Jo 2.13,23; 6.4; 11.55; 12.1; 13;1; 18.28,39; 19.14) e acredita-se que a festa mencionada em João 5.1 seria a quarta Páscoa. Na época de Cristo, o cordeiro pascal (geralmente um cordeiro ou cabrito de um ano, mas veja Êxodo 12.5) era ritualmente sacrificado na área do Templo. Essa refeição, no entanto, podia ser comida em qualquer casa da cidade. Um grupo comunitário, como o de Jesus e seus discípulos, podia celebrar a Páscoa em conjunto, com se formasse uma unidade familiar. Cerca de 120.000 a 180.000 judeus compareciam a Jerusalém para essa e outras festas anuais, sendo que a grande maioria deles era formada por peregrinos vindos de países da Diáspora (J. Jeremias, Jerusalém in the Time of Jesus, Filadélfia. Fortress, 1969, pp. 58-84). Depois da destruição do Templo no ano 70 d.C, as provisões para o sacrifício de um animal, sob a forma de um ritual, cessaram totalmente e a Páscoa dos judeus passou a ser uma simples cerimônia familiar, uma refeição sem derramamento de sangue. Atualmente, apenas os samaritanos (q.v.), em sua cerimônia anual da Páscoa no monte Gerizim, sacrificam cordeiros ou cabritos visando cumprir a ordem de Êxodo 12. Uma última passagem do NT desenvolve claramente o significado tipológico da Páscoa e da Festa dos Pães Asmos para o cristão. Paulo conclama os coríntios a eliminar o fermento da malícia e da iniquidade, e observar diariamente a festa "porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós" (1 Co 5.7). Dessa forma, Paulo declara diretamente que Cristo é o "nosso Cordeiro pascal", conforme o pronunciamento de João Batista de que Jesus é "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29). Devido a estas passagens, e a ensinos semelhantes, a Igreja primitiva veio a entender que a Ceia do Senhor (q.v.) substitui completamente a celebração da Páscoa. PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1467-1468.]

2. O ritual da páscoa judaica. A páscoa judaica obedecia a um ritual detalhado (Dt 16.1-4). Todavia, de acordo com Êxodo 12.3-12, os preparativos teriam início aos dez do mês com a escolha de um cordeiro, ou cabrito, para cada família. A família, sendo pequena poderia então convidar o vizinho. O cordeiro, que seria guardado até ao décimo quarto dia, deveria ser de um ano e sem defeito. No final do décimo quarto dia era imolado. O sangue era posto sobre as ombreiras e vergas das portas das casas judaicas. O cordeiro deveria ser comido assado e com pães asmos e ervas amargas. O resto que sobrasse deveria ser queimado. Os participantes da Páscoa deveriam ter os lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão. Era a Páscoa do Senhor. [O relato da instituição desse rito se encontra em Êxodo 12. Deus ordena a Israel que o observe (w. 1,2). A observância do rito, além dos atos litúrgicos prescritos no relato, exige à disposição um cordeiro ou um cabrito, macho de um ano, sem defeito (v. 5); pães ázimos e ervas amargas (v. 8). Estas recomendações dirigem-se ao círculo familiar (v. 3), podendo estender-se à vizinhança (v. 4). O cordeiro devia ser assado inteiro, e aquilo que não era comido no banquete devia ser queimado antes do dia seguinte (v. 10). Os comensais deviam comê-lo em pé e devidamente trajados para uma longa viagem (v. 11). Nos tempos de JESUS, conforme indica Raphael Martins, a cerimônia pascal havia recebido a influência dos gregos e dos romanos que celebravam seus ágapes, não como escravos, mas como um povo livre e independente, ou seja, comiam recostados em divãs providos de almofadas. O Pesach significa na língua hebraica “passar por cima”, “passar por sobre”. Na língua portuguesa foi traduzida por “Páscoa”. O Pesach surgiu em face da tradição de que o anjo destruidor, ou anjo da morte, “passou por sobre” as casas cujo sangue do cordeiro imolado assinalava. “Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até aos animais... O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós...” (Ex 12.12,13). A passagem do anjo da morte constituiu a última praga sobre o Egito, forçando o Faraó a libertar o povo hebreu, possivelmente entre os anos de 1400-1200 a.C. O Pesach, na descrição de McKenzie, mostra numerosas variantes que apontam para uma origem e desenvolvimento complexos. O Pesach, segundo a grande maioria dos estudiosos, era anterior à instituição no capítulo 12 de Êxodo. A festa original era pastoril nos seus primórdios, onde os pastores celebravam o nascimento de ovelhas na primavera; e esse termo também faz alusão à forma como as ovelhas costumam “saltar por cima” dos obstáculos. Seja como for, por meio da historização, a Páscoa se tomou a grande festa nacional de Israel, que celebrava sua constituição como povo de Iahweh, acentua McKenzie. naquela noite, comerão a carne assada no fogo; com pães asmos e ervas amargas a comerão” (v. 8) Ázimos, no hebraico maccot, significa “pães sem fermento”. A festa dos “pães sem fermento” está registrada em Êxodo 23.15, ao lado de outras duas. No momento da instituição do Pesach ela aparece em correlação com a mesma, como festa histórica que celebra a libertação de Israel da opressão egípcia. O caráter da cerimônia indica que se tratava de uma festa agrícola de agradecimento pelo início da colheita. No Novo Testamento é sempre mencionada em conexão com o Pesach (Mt 26.17; Mc 14.12). Em memória dos sofrimentos dos hebreus no Egito são comidas ervas amargas: chicória, escarola, agrião, salsa, rabanete, amêndoa,
tâmara, figo e passa. Esses ingredientes eram misturados com vinagre, formando uma espécie de molho, cor de tijolo (haroset, em hebraico), lembrando seu antigo ofício no Egito. Roberto dos Reis Santos. A Santa Ceia. Editora CPAD. pag. 12-14.]


2. A CELEBRAÇÃO DA ÚLTIMA CEIA

1. A preparação. Ao responder à pergunta dos discípulos sobre onde se daria os preparativos da Páscoa, Jesus encaminha-os a um homem com um cântaro de água (Lc 22.10). Lucas deixa claro que Cristo, como filho de Deus e capacitado pelo Espírito Santo, possuía conhecimento prévio dos fatos. O expositor bíblico Anthony Lee Ash, observa que o homem com um cântaro de água seria facilmente notado, pois esse era um trabalho de mulher. Os hospedeiros costumavam oferecer suas casas durante a festa, em troca das peles de animais e utensílios usados para a refeição. O preparo da Páscoa incluiria a busca de fermento na casa e o preparo dos vários elementos da refeição. [Cedo naquela quinta-feira os discípulos começaram a fazer os preparativos para a Páscoa. “No primeiro dia dos pães asmos, (aqui Mateus emprega o coloquialismo comum que combinava as duas grandes festas) vieram os discípulos a Jesus e lhe perguntaram: Onde queres que te façamos os preparativos para comeres a Páscoa? (Mt 26.17). Fica evidente do relato de Mateus que Jesus já tinha arranjado de antemão muitos dos detalhes para essa noite. Com tantas israelitas visitantes que vinham anualmente a Jerusalém para a festa, era comum que os habitantes da cidade mantivessem aposentos que eles alugavam para que os visitantes pudessem ter um lugar privado para comer a refeição da Páscoa com os amigos e a família. Jesus tinha evidentemente providenciado o uso de um desses locais para ele e os seus discípulos – um cenáculo, que provavelmente foi colocado à sua disposição por alguém que Jesus conhecia e que era por sua vez um crente em Jesus, mas talvez desconhecido dos discípulos. Essa pessoa nunca é identificada por nome em quaisquer dos relatos evangélicos. Em todo caso, Jesus tinha evidentemente feito em segredo esses arranjos, para evitar que ficasse conhecido com antecedência onde ele estaria nessa noite com os discípulos (Se Judas tivesse conhecimento prévio do local da Última Ceia, teria sido uma questão simples para ele revelar ao Sinédrio onde eles poderiam encontrar Jesus. Mas era necessário ao plano de Deus que ele celebrasse a Páscoa com os seus discípulos antes de ser traído). Muitos preparativos precisavam ser feitos. O cordeiro não apenas necessitaria ser morto no templo e depois ser levado de volta para ser assado, mas outros elementos da refeição também precisavam estar preparados. Os principais entre os elementos de uma Páscoa eram o pão sem fermento, o vinho e um prato feito de ervas amargas. A responsabilidade de preparar esses elementos provavelmente foi dividida entre alguns dos discípulos. E a tarefa de organizar a sala e a mesa estava já sendo cuidada por um criado do proprietário do cenáculo. De Lucas 22.8 ficamos sabendo que Pedro e João foram especificamente designados para encontrar o homem e ajudar a preparar o Cenáculo. Marcos diz que eles deveriam localizar o homem, segui-lo até a sua casa, e então repetir ao dono da casa o que Jesus tinha lhes dito. Lá eles encontrariam “um espaçoso cenáculo mobiliado e pronto” (Mc14.15). Eles “fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa”(Mt26.19). A Última Páscoa – John MacArthur Jr. http://docslide.com.br/documents/a-pascoa-de-jesus.html]

2. A celebração e substituição. Jesus possuía consciência de que a sua morte na cruz se aproximava e que Ele era o Cordeiro de Deus do qual o cordeiro da Páscoa era apenas um tipo (Jo 1.29). Com certeza milhares de cordeiros foram sacrificados em Jerusalém nessa data, mas somente Jesus era o "Cordeiro de Deus que tiraria o pecado do mundo" (Jo 1.29). Se a Páscoa judaica marcou a libertação do sofrimento do cativeiro egípcio, agora Jesus, através do seu sofrimento, libertaria a humanidade da escravidão do pecado. Pedro e João fazem os preparativos exigidos sobre a última Páscoa (Lc 22.7-20) e é durante a celebração da última Páscoa que Jesus instituiu a Ceia do Senhor (Lc 22.19,20). No contexto da Nova Aliança a Ceia do Senhor substituiu a Páscoa judaica (1 Co 11.20,23). [A última Ceia é exposta nos evangelhos sinópticos como uma refeição pascal. O evangelho de João (18:28; 19:14) apresenta o fato de que a refeição foi tomada antes da celebração, e Jesus foi crucificado ainda naquele mesmo dia (lembrando que, para os judeus, o dia começava às 06:00 horas). Talvez o Senhor Jesus tenha antecipado a refeição por algumas poucas horas. Nesse caso o quarto evangelho expõe a correta cronologia quanto à questão. O ensino paulino sobre a última ceia (1Co 11.23-26) faz com que a mesma seja um memorial tanto da morte libertadora de Cristo quanto da expiação. Ambos os elementos faziam parte da páscoa do Antigo Testamento, segundo já vimos. Paulo não menciona especificamente a páscoa, daquela seção, embora ele o faça em 1Co 5. 7. Eusébio aceitava o conceito da páscoa cristã no sacrifício de Cristo (ver Hit. 5,23,1). E essa também era a ideia tradicional da Igreja antiga. É interessante que a palavra hebraica para páscoa, pascha, é tão parecida com a palavra grega para sofrer, péscbo, que alguns cristãos antigos fizeram a ligação entre elas, embora não haja qualquer conexão histórica entre esses termos. Cristo sofreu e ele é a nossa páscoa, um jogo de palavras empregado por Eusébio. Para os cristãos, a palavra grega anámne (memorial), é uma palavra-chave. A ceia do Senhor é um memorial que deve ser mantido vivo, até que o Senhor retorne. Essa é a ênfase paulina, que não se vê nos evangelhos sinópticos, embora apareça em Lucas 22.19. Provavelmente, esse elemento foi uma adição cristã às declarações feitas por Jesus, embora sugerida pelo que ele havia dito, se é que ele mesmo não ensinou assim. Por outro lado, é possível que Mateus e Marcos tenham omitido uma afirmação genuína de Jesus, e que Paulo e Lucas preservaram. O que é certo é que Jesus reinterpretou a páscoa em consonância com as suas próprias experiências. A páscoa, pois, foi encarada pela Igreja cristã como uma daquelas muitas coisas que receberam cumprimento e adquiriram maior significação na pessoa de Cristo, retendo o tipo de símbolo e de lições acima. A ideia de pacto também se faz presente. YAHWEH firmou um pacto com a emergente nação de Israel. E Jesus estabelece um pacto com sua emergente Igreja. Não nos deveríamos esquecer desse aspecto. A páscoa do Antigo Testamento marcava o começo de urna saída da escravidão; e, de fato, era o
poder por detrás dessa libertação. Assim também, em Cristo, encontramos um êxodo que nos liberta da velha vida com sua escravização ao pecado. No sentido teológico, algo foi realizado que não poderia ter sido realizado pela lei. Esse é o tema principal tanto de Paulo (com sua doutrina da justificação pela fé) quanto do tratado aos Hebreus. O êxodo judaico libertou um povo inteiro da servidão física. O êxodo cristão oferece a todos os homens a libertação do pecado, bem como a outorga do Reino da Luz, onde impera perfeita liberdade. CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 101-102]
   
3. OS ELEMENTOS DA ÚLTIMA CEIA

1. O vinho. O terceiro Evangelho faz referência ao uso do cálice por duas vezes, a primeira delas antes de mencionar o pão (Lc 22.17,20). Mas essa reversão da ordem dos elementos não modifica em nada o significado da Ceia.  Nesse particular, a liturgia cristã segue o modelo dos outros evangelistas e de Paulo, onde o uso do vinho é precedido pelo pão (Mc 14.22-26; Mt 26.26-30; 1 Co 11.23-25). 
Tomando o cálice, Jesus falou: "Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós" (Lc 22.20). O sentido desse texto é que o vinho é um símbolo da Nova Aliança que foi selada com o sangue de Jesus, o Cordeiro de Deus (Êx 12.6,7,13; 24.8; Zc 9.11; Is 53.12). [Havia uma sequência bem estabelecida no processo de comer uma Páscoa. Primeiro, um cálice de vinho era distribuído, o primeiro de quatro cálices compartilhados durante a refeição. Cada pessoa tomaria um gole de um cálice comum. Antes de passar o cálice Jesus deu graças (Lc 22.17). Depois que o cálice inicial era passado, havia uma lavagem cerimonial para simbolizara necessidade de limpeza moral e espiritual. Parece ter sido durante essa lavagem cerimonial que os discípulos “suscitaram também entre si uma discussão sobre qual deles parecia ser o maior” (Lc22.24). João relata que Jesus “levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido” (Jo 13.4,5). Tomando o papel do mais baixo servo, Cristo assim transformou a cerimônia de limpeza numa lição prática sobre a humildade e a verdadeira santidade. A lavagem externa nada vale se o coração estiver contaminado. E o orgulho é uma prova segura da necessidade de uma limpeza do coração. Cristo tinha feito uma observação semelhante para os fariseus em Mateus 23.25-28. Agora ele lavou os pés dos discípulos, ilustrando que até mesmo crentes com corações regenerados precisam ser lavados periodicamente da corrupção externa do mundo. O cálice de vinho distribuído por Jesus não representava o seu sangue que lhe corria nas veias enquanto lhes falava, mas seu sangue que em breve seria derramado por eles na morte. Após a lavagem cerimonial e comerem as ervas amargas, o segundo cálice era passado. Era nesse momento que o cabeça da casa (nesse caso, sem dúvida Jesus) explicava o significado da Páscoa (cf.Êx12,26,27). Em uma Páscoa judaica tradicional, a criança mais jovem faz quatro perguntas pré-determinadas, e as respostas são recitadas de uma narrativa poética do Êxodo. A circulação do segundo cálice seria acompanhada pelo cântico de salmos.Tradicionalmente, os salmos cantados na Páscoa eram do Hallel  (hebraico para “louvor”; essa é a mesma palavra da qual Aleluia é derivada), O Hallel consistia de seis salmos que começava com o Salmo 113. Os salmos de Hallel eram provavelmente cantados em ordem, os primeiros dois sendo cantados nesse momento na cerimônia. O cordeiro assado seria servido na seqüência. O chefe da casa cerimonialmente lavaria as suas mãos novamente, e partiria e distribuiria pedaços do pão sem fermento às pessoas ao redor da mesa, para ser comido com o cordeiro.]

2. O pão. Após tomar o pão, dar graças e partir, Jesus disse: "Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isso em memória de mim" (Lc 22.19). Jesus usa a expressão: "isto é o meu corpo" com sentido metafórico, da mesma forma que Ele disse: "Eu sou a porta" (Jo 10.9). O pão era um símbolo do corpo de Jesus da mesma forma que o vinho era do seu sangue. A palavra "oferecido" traduz o verbo grego didomi, que também possui o sentido de entregar. Esse mesmo verbo é usado nos textos de Isaías 53.6,10,12, onde há uma clara referência a um sacrifício (cf. Êx 30.14; Lv 22.14). O corpo de Jesus seria oferecido vicariamente em favor dos pecadores.  [Na noite em que seria a última dos hebreus no Egito, Deus os preparou para uma saída repentina, mas não sem se alimentarem. A ordem divina aos hebreus não foi apenas para que sacrificassem um cordeiro e colocassem o sangue dele na entrada da casa, mas também para que se alimentassem de pão sem fermento, ervas amargas e do próprio cordeiro. Cada um deles tinha uma representação para os hebreus, que deveria ser passada de geração a geração, para que se lembrassem do quanto Deus operou grandemente em prol dos filhos de Israel. De acordo com a descrição bíblica, o pão deveria ser sem fermento. A massa não deveria passar pelo processo de fermentação, ou seja, seria levada ao fogo tão logo estivesse pronta, sem ter de esperar para crescer. A ideia era mostrar que os israelitas teriam pouco tempo para preparar sua última refeição como escravos, pois logo sairiam para uma grande jornada. E evidente que o uso do fermento poderia fazer com que a massa dobrasse seu tamanho e alimentasse mais pessoas, mas a orientação divina indicava a pressa com que os judeus iriam comer para saírem logo do Egito. COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 40. Nas terras do antigo Oriente o pão e o vinho, assim como determinados produtos, eram as formas mais comuns de alimentação. O pão, iehem, que aparece cerca de duzentas e oitenta vezes no Antigo Testamento, em termos gerais significa “alimento”, “sustento”, indicando sua presença indispensável para o sustento do povo hebreu. O pão era o principal alimento. A expressão “comer pão”, em hebraico, significava “fazer uma refeição”. O pão devia ser tratado com respeito, sendo proibido jogar fora até as migalhas. Talvez os judeus utilizassem cães domésticos para esta função — comer “... das migalhas que caem da mesa dos seus donos” (Mt 15.27). “E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu...” (Lc 22.19) O pão não podia ser cortado, mas partido. Esse gesto era comum entre as famílias judaicas, onde o pai, ao iniciar uma refeição, tomava um pão e, após dar graças ao Senhor, partia-o em pedaços e distribuía-os entre os membros de sua família. Cristo não diz apenas
que o pão significa Seu corpo, mas Ele deixa claro que era o “corpo dado em favor de” nós. Foi no corpo de Cristo que nosso pecado foi lançado. Foi na humanidade de Cristo que toda impiedade foi imputada. Foi na carne d’Ele que todo o sofrimento foi consumado. Esse corpo foi entregue por nós e é isso que precisamos lembrar enquanto provamos aquele pão. Assim, sempre que meus dentes trituram aquele pão, eu me lembro do chicote triturando o corpo de Jesus, da cruz, da zombaria, do sofrimento indizível. Acredito que é disto que precisamos lembrar quando tomamos o pão.]
  
CONCLUSÃO

Participar da Ceia do Senhor é um privilégio do qual todo cristão deve se alegrar. Não se trata de um ritual vazio, mas de uma celebração carregada de significado, porque aponta para o sacrifício do calvário. A Ceia celebra a vitória de Cristo, o Cordeiro de Deus, sobre o pecado e suas consequências. 
Ao participarmos da Ceia, devemos manter uma atitude de eterna gratidão ao Senhor por nos haver dado vida quando nos encontrávamos mortos em nossos delitos. Assim como os antigos judeus não deveriam celebrá-la com fermento em seus lares, da mesma forma não devemos comemorar a Ceia com o velho fermento do pecado. Celebremos a Ceia com os asmos da sinceridade. [A morte de Cristo, que ocorreu exatamente no período da páscoa, sempre foi considerada um evento capital para os primeiros cristãos, e daí por diante, durante todo o cristianismo. Jesus é chamado de nosso "Cordeiro pascal (1Co 5.7). Isso tem sido associado pelos cristãos à ideia de expiação e livramento, que nos liberta dos inimigos da alma. A ordem de não ser partido nenhum osso do cordeiro pascal foi aplicada por João às circunstâncias da morte de Jesus Cristo (Êx 12.46 e Jo 19.36), pelo que foi estabelecido um vínculo entre os dois eventos, fazendo o primeiro ser símbolo do segundo. A ideia de expiação, como é patente, faz parte vital da questão. O cristão (tal como os antigos israelitas) deve pôr de lado o antigo fermento do pecado, da corrupção, da malícia e da desobediência, substituindo-o pelos pães asmos da sinceridade e da verdade. A santificação faz parte necessária da experiência cristã. O apóstolo Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios, tratou de maneira objetiva sobre a Ceia do Senhor. Jesus mesmo instituiu esse sacramento como um meio de graça para sua igreja. Somente aqueles que foram remidos e lavados no sangue do Cordeiro e confessam o nome do Senhor Jesus devem participar desse banquete da graça. Só aqueles que discernem o que Cristo fez na cruz são chamados para participar dessa ordenança. A participação desatenta e descuidada da Ceia do Senhor produz resultados desastrosos. Em vez de edificação vem juízo. Em vez de deleite espiritual vem disciplina. Paulo menciona três níveis dessa disciplina: Enfraquecimento, doença e morte. Entre os crentes de Corinto havia gente fraca, enferma e alguns haviam sido ceifados pela disciplina divina. O pecado sempre produz resultados desastrosos, sobretudo, na vida dos crentes. A Ceia do Senhor é um momento de auto-exame e arrependimento, mas também de profunda gratidão e alegria. Devemos nos aproximar da Mesa do Senhor com santa reverência e santo temor e ao mesmo tempo com profunda gratidão e imensa alegria. Devemos celebrar essa festa não com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade (1Co 5.7,8).] NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.


Francisco Barbosa

Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.

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