sexta-feira, 13 de março de 2015

LIÇÃO 11: NÃO DARÁS FALSO TESTEMUNHO




LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Êxodo 20.16; Deuteronômio 19.15-20


Êxodo 20:16
15. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.

Deuteronômio 19
15 - Uma só testemunha contra ninguém se levantará por qualquer iniquidade ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado que pecasse; pela boca de duas ou três testemunhas, se estabelecerá o negócio.
16 - Quando se levantar testemunha falsa contra alguém, para testificar contra ele acerca de transgressão,
17 - então, aqueles dois homens, que tiverem a demanda, se apresentarão perante o SENHOR, diante dos sacerdotes e dos juízes que houver naqueles dias.
18 - E os juízes bem inquirirão; e eis que, sendo a testemunha falsa testemunha, que testificou falsidade contra seu irmão,
19 - far-lhe-eis como cuidou fazer a seu irmão; e, assim, tirarás o mal do meio de ti,
20 - para que os que ficarem o ouçam, e temam, e nunca mais tornem a fazer tal mal no meio de ti.




OBJETIVO GERAL


Apresentar o nono mandamento, ressaltando que Deus proíbe a mentira, o mexerico e o testemunho falso contra o próximo, tanto no dia a dia como nos tribunais.


OBJETIVOS  ESPECÍFICOS


Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:

I.    Tratar a abrangência e o objetivo do nono mandamento.
II.   Mostrar o que a legislação mosaica diz a respeito do falso testemunho.
III.  Ressaltar que o Deus verdadeiro deseja tão somente a verdade.
IV.  Enfatizar o cuidado que devemos ter com relação à mentira.


SUBSÍDIO I




INTRODUÇÃO


O nono mandamento tem a ver com a verdade, trata-se de um alerta necessário nos dias atuais, em que a mentira tenta prevalecer. No início da aula abordaremos a temática bíblica do falso testemunho. Em seguida, nos voltaremos para os males da mentira, e suas trágicas consequências. Ao final, mostraremos a importância de falar a verdade, sobretudo relativizando a Palavra de Deus, mesmo que no contexto social a mentira seja assumida como verdade.



I. O FALSO TESTEMUNHO


Esse é um mandamento que tem relação direta com o contexto jurídico. A testemunha mentirosa era abominação aos olhos de Deus. A palavra hebraica para esse mandamento é shaqar, usada especificamente para o falso testemunho em situações de juízo. Havia outra palavra hebraica, kachash, essa mais ampla, que se referia a qualquer tipo de mentira. Assim, esse mandamento poderia muito bem ser traduzido como: “não mentirás em juízo”. O objetivo desse mandamento era evitar abusos na condenação, e evitar que a pessoa fosse punida inocentemente. Por isso, o próprio Deus destacou que ninguém poderia ser condenado a menos que mais de uma testemunha atestasse o pecado (Dt. 19.15). Essa recomendação se aplicava principalmente nos casos de penas capitais, nos quais ninguém poderia ser condenado com base em apenas uma testemunha (Nm. 35.30; Dt. 17.6). Na execução da pena, aquele que acusasse o transgressor, deveria ser o primeiro a apedrejá-lo (Dt. 17.7). Esse procedimento responsabilizaria a testemunha, na medida em que possibilitaria sua execução, caso a pessoa fosse morta indevidamente (Dt. 19.18,19). Ao longo da Bíblia, a verdade tem proeminência sobre a mentira, por isso o salmista afirma que aqueles que falam a verdade, e não difamam com a língua, habitarão no tabernáculo do Senhor (Sl. 15.1,-3). A mensagem dos profetas também é contundente contra o falso testemunho, por isso cada um deveria falar a verdade (Zc. 8.16). Dentre os profetas, Oséias critica os israelitas, acusando-os de mentirem irresponsavelmente (Os. 4.2).


II. OS MALES DA MENTIRA


A mensagem de Tiago é confrontadora em relação ao perigo da mentira, considerando que esse é um dos males provocados pela língua (Tg. 3.6). Alguns crentes não calculam os males que essa pode causar, seus estragos podem ser irreparáveis. Por isso também Paulo, em suas epístolas, admoesta as igrejas para fugirem da mentira (II Co. 12.20; Ef. 4.31). O livro de Provérbios traz sérias advertências em relação ao uso indiscriminado das palavras (Pv. 22.1). A fofoca, ao que tudo indica, é um dos males que não está apenas na televisão. Muitos cristãos estão usando a língua para difamarem os irmãos, em alguns casos sem lhes dar o direito à defesa. Mas é preciso ter cuidado também com aqueles que se aproximam com palavras lisonjeiras, pois na verdade estão querendo conduzir as pessoas à cova (Pv. 18.18). Jesus foi categórico quanto aos males da língua, por isso orienta que melhor que falar de alguém, é preferível ir até ele e discutir o assunto (Mt. 18.15). O Senhor também destacou que Satanás é mentiroso, na verdade é o pai da mentira (Jo. 8.44). Esse é o motivo pelo qual Deus odeia tanto o engano, e o abomina entre os fiéis (Pv. 6.16-19). Ananias e Safira pagaram o preço pela mentira, a hipocrisia deles, manifestada pela mentira, os levou à morte (At. 5.1-4). De igual modo muitos estão indo à ruina por causa das suas mentiras. Elas são tão maléficas que aqueles que a proferem ficarão de fora da cidade celestial (Ap. 21.8).



III. A VERDADE PREVALECE


Os cristãos devem ser reconhecidos por falarem a verdade, para tanto não podem pactuar com o falso testemunho (Mt. 5.37). Jesus ressaltou que aqueles que são dEle tem uma relação íntima com a verdade (Jo. 18.37), isso porque Ele mesmo é a Verdade (Jo. 14.6). Como seguidores da Verdade encarnada, devemos mostrar identificação com Ele, seguindo Seu exemplo (I Pe. 1.15,16). Por isso Paulo, em sua Epístola aos Efésios, conclama os crentes a abandonarem a mentira, e a falarem a verdade entre eles (Ef. 4.25). Mas a verdade não precisa ser falada de modo grosseiro, não podemos esquecer que podemos falar a verdade em amor (Ef. 4.15). Por viverem na verdade, os cristãos devem ser modelos de confiança, e ter cuidado para não relativizar os absolutos de Deus, conforme faz essa sociedade caída. Há muitos que estão pactuando uma ética diferenciada daquela exarada nas Escrituras. O Senhor adverte àqueles que querem transformar a mentira em verdade (Is. 5.20 ). Os fariseus do tempo de Jesus mentiam com suas vidas, exigiam das pessoas o que eles mesmos não praticavam (Mt. 23.27.28). A mentira pode ser demonstrada não apenas por meio das palavras, mas também através das vidas daqueles que desobedecem à palavra de Deus. Há crentes com uma vida dupla, eles agem diferentemente, dentro e fora da igreja. Exige-se dos cristãos coerência, se falam a verdade, devem também viver na Verdade.



CONCLUSÃO


A mentira campeia na sociedade, e não poucas vezes, por se repetir tanto, acaba sendo absolvida como verdade. Mas os crentes têm um critério para diferenciar a verdade da mentira, a Palavra de Deus. Com base nesta, devemos nos posicionamos em conformidade com Cristo, falando sempre a verdade em amor. O testemunho do cristão é sincero em seus relacionamentos, porque Ele se encontra debaixo do senhorio de Cristo, a Verdade que liberta (Jo. 8.32).

Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa



SUBSÍDIO II



INTRODUÇÃO


O nono mandamento se aproxima do terceiro, pois envolve a questão da mentira. “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” não se refere apenas ao depoimento num tribunal, mas também ao relacionamento diário com aqueles à nossa volta. Aqui temos uma lição para os que agem, ainda que inconscientemente, como se o pecado se restringisse a assassinato, adultério e furto. Ninguém deve pensar que a mentira e o falso testemunho são menos graves que os demais pecados citados no Decálogo. A Bíblia coloca no mesmo nível todo aquele que tem a mentira como estilo de vida. [Comentário:  “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo (20,16). O mandamento inclui testemunho dado em tribunal, mas vai além disso. Falso testemunho é qualquer declaração maliciosa intencionada a degradar ou ferir outra pessoa, A reputação dos outros, assim como suas propriedades, devem ser resguardadas por todos. Parecido com o abuso de um irmão por meio do roubo é desonrá-lo dando falso testemunho contra ele (Êx 20.16). Embora a proibição possa ser legitimamente aplicada à mentira em geral, a linguagem técnica (“falso testemunho”; hebraico, 'edsãqer) sugere um cenário legal ou de corte no qual um caso concernente a um crime ou contravenção está sendo julgado. As testemunhas eram (e são) essenciais na determinação da culpa ou da inocência (cf. Dt 17.6,7; 19.15), mas pessoas chamadas para testemunhar devem dizer a verdade sobre o que viram ou ouviram. Fazer menos que isso e, assim, incriminar uma parte inocente e sujeitá-la ao malogro da justiça infringiria gravemente a liberdade, as posses e possivelmente até mesmo a vida dela. Mais uma vez, a repercussão na estrutura bem ordenada de administração do Reino é óbvia e prejudicial. Eugene H. Merrill. Teologia do Antigo Testamento. Editora Shedd Publicações. pag. 337.] Convido você para mergulharmos mais fundo nas Escrituras!


I. O NONO MANDAMENTO


1. Abrangência. O mandamento não se restringe apenas ao campo do processo legal; há implicações vinculadas às atividades da vida diária (Dt 17.13; Lv 19.16). A ruptura desse mandamento podia solapar a característica básica da aliança, a fidelidade de Deus para com o homem, do homem para com Deus e do homem para com seu próximo.[Comentário: CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 552: O próximo, contra quem não devemos iniciar nenhuma campanha de mexericos, é aqui um compatriota hebreu. Jesus, entretanto, ampliou a aplicação disso a todos os nossos semelhantes (ver Luc. 10.29 ss.). Cf. Êxo. 23.4,5. Nos vss. 33 e 34 deste capítulo, o conceito de “próximo” inclui os forasteiros. “Não deve haver campanhas de maledicência (vss. 16-18). Não devemos tentar fazer o próximo cair em dificuldades. Devemos tratar com ele face a face, em espírito de boa-vontade. Nunca deveríamos dizer: ‘Sou o guardador de meu irmão?' conforme fez Caim. Deveríamos estar genuinamente interessados pelo bem-estar temporal e espiritual de outras pessoas, como se fosse nosso mesmo. Por quê? Eu sou o Senhor. Essa é, de fato, a ordem sagrada, física e moral, que deve haver neste mundo” (Nathaniel Micklem, in loc.). A maledicência geralmente termina em calúnia. Isso torna-se um hábito extremamente perigoso no caso de certas pessoas, e as mulheres, especialmente, deleitam-se nesse vício. E assim, vidas inocentes são destruídas. Ver I Sam. 22.9,18; Ez. 22.9. A versão caldaica, de acordo com o Targum de Jonathan, diz aqui: “Não seguirás a língua três vezes amaldiçoada, pois ela é mais fatal do que a espada devoradora de dois fios”.]

2. Objetivo. É duplo, em defesa da honra e da fé. Trata-se da proteção da honra e da boa reputação no campo social. O propósito divino neste mandamento é erradicar a mentira, a calúnia e a falsidade do meio do povo (v.20; Dt 17.13). E não somente isso, mas também promover o bem-estar social e a fraternidade entre os seres humanos. No tocante à doutrina, o mandamento torna-se uma muralha de proteção contra os falsos ensinos teológicos (2Co 13.8).[Comentário: CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 830; 822: Dt 19.20 ... O ouçam e temam. Aqueles que sobrevivessem ao incidente (como a família do homem que tinha cometido perjúrio), bem como a população em geral, que ouvisse falar sobre o caso, temeriam, desencorajando o crime de perjúrio. E embora isso não eliminasse o mal das testemunhas falsas, essa prática odiosa ficaria grandemente reduzida. Dt 17.13 Neste versículo vemos a severidade da lei. Não se hesitava em executar até mesmo um juiz local, que não cumprisse o que se tinha considerado reto. Essa execução agiria como uma medida preventiva, capaz de fazer todo o povo de Israel temer. Em Israel, a justiça era imediata e terrível. Isso pode ser contrastado com nossos sistemas modernos, que podem envolver anos para que um simples caso de homicídio seja julgado. “Isso fazia o império da justiça tornar-se dotado de máxima importância na Terra Prometida, ajudando a impedir a anarquia” (Jack S. Deere, in Ioc.). E jamais se ensoberbeça. No hebraico, essa palavra é zadown, que significa “de maneira arrogante”, “de maneira orgulhosa”. A medida disciplinar humilharia os homens e fá-los-ia temer. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 619: Deveria haver grande cuidado no julgamento, v. 18. Deveria ser feita uma investigação diligente quanto ao caráter das pessoas, e todas as circunstâncias do caso. Tudo isto devia sei' comparado, para que a verdade pudesse ser descoberta. Quando a investigação fosse realizada de um modo fiel e imparcial, eles poderiam esperar que a Providência os auxiliasse. Se ficasse evidente que um homem tinha, conscientemente e perversamente, dado falso testemunho contra seu próximo, embora o mal que lhe desejava não tivesse sido realizado, este deveria sofrer a mesma penalidade à qual seu próximo estaria sujeito, devido à sua evidência, v. 19. Nec lex estjustior idla - Nenhuma lei poderia ser mais justa. Se o crime do qual ele acusasse seu próximo devesse ser punido com a morte, também o homem que deu falso testemunho deveria ser condenado à morte. Se a punição fosse açoitamento, ele deveria ser açoitado. Se fosse uma multa financeira, ele deveria ser multado também. E, como para aqueles que não levassem em consideração a atrocidade do crime e a necessidade de impedi-lo, pareceria ser uma punição muito dura, por ter dito algumas palavras, especialmente quando nenhum mal tinha, realmente, sido feito, aqui está acrescentado: “O teu olho não poupará”, v. 21. Nenhum homem precisa ser mais misericordioso do que DEUS. O benefício que resultará, para o público, desta severidade, a recompensará com abundância: “Para que os que ficarem o ouçam, e temam”, v. 20. Tais punições exemplares seriam advertências a outros, para que não empreendessem nenhuma maldade deste tipo, quando vissem como aquele que fez a cova e a escavou havia caído nela.]

3. Contexto. O nono mandamento com suas normas na legislação mosaica mostra a administração da justiça em Israel. O termo “juízes”, em hebraico, shophet, “juiz, árbitro, conselheiro jurídico, governante” (Dt 19.17), é ha-Elohim, literalmente “Deus” na passagem paralela (Êx 22.8,9). A tradução literal seria “perante Deus” como aparece na Septuaginta e na Vulgata Latina. Este uso é padrão para o verdadeiro Deus no Antigo Testamento e não deve ser traduzido como “deuses” por causa do artigo. O emprego de “juízes” aqui é legítimo e ninguém questiona essa tradução. As versões rabínicas empregam “perante a corte”. Os juízes representavam o Deus de Israel nos julgamentos. [Comentário: O Um juiz ou magistrado civil é mencionado pela primeira vez em Israel sob a liderança de Moisés, quando Jetro sugeriu que juízes fossem designados para aliviar Moisés em suas responsabilidades administrativas (Êx 18.13-26). Mais tarde, Israel se organizou em unidades dentro de cada tribo com um homem qualificado como juiz. Estes homens deveriam julgar corretamente, destemidamente e imparcialmente (Dt 1.16ss.). Somente os casos mais importantes eram trazidos diante de Moisés (Dt 1.12-18; 21.2). Observe também a organização de Israel em Números 1-10. Sob a liderança de Josué um plano similar foi seguido (Dt 16.18-20; 17.2-13; 19.15-20; Js 8.33; 23.2; 24.1; 1 Sm 8.1). A era que se seguiu à morte de Josué retrata uma situação modificada como é descrito no livro de Juízes. Aqui os líderes principais, ou juízes do povo, eram aqueles que tinham primeiramente a missão de livrar os israelitas das nações opressoras (Jz 2.16). Carismaticamente dotados pelo Espírito de Deus, eles eram "libertadores" (Jz 3.9), capacitados a livrar e preservar Israel (Jz 6.34-36). O termo heb. corretamente inclui o conceito de líder bem como o de árbitro. Durante a era entre a conquista e a monarquia em Israel, os invasores opressores foram sucessivamente mesopotâmios, moabitas, cananeus, midianitas, amonitas e filisteus. Os notáveis juízes que foram usados para agir contra estes foram Otniel, Eúde, Débora e Baraque, Gideão e Sansão, conforme narrado no livro de Juízes. Outros juízes a respeito dos quais pouca informação está disponível foram Sangar, Abimeleque, Tola, Jair, Ibsã, Elom e Abdom. Alguns dos juízes desta era são mencionados no livro de Hebreus (cap. 11) como heróis da fé. Os capítulos iniciais de 1 Samuel (cf. 4.18) indicam que Eli serviu como juiz de Israel por 40 anos. Samuel não só guiou os israelitas em uma resistência bem sucedida à opressão dos filisteus, mas também estabeleceu um organizado tribunal itinerante. Embora ele tenha designado seus filhos como juízes, as condições em mudança marcaram uma transição para um reino organizado que trazia a necessidade da unção de um rei (1 Sm 7.15-8.5). Durante a monarquia, o rei se tornou o supremo juiz em assuntos civis (2 Sm 15.2; 1 Rs 3.9,28). Os casos eram julgados pelo rei no portão do palácio (1 Rs 7.7), mas os tribunais locais estavam da mesma forma em funcionamento. Davi atribuiu aos levitas o ofício judicial e designou 6.000 homens como oficiais e juízes (1 Cr 23.4; 26.29). Josafá ampliou o sistema judicial em Judá, designando sacerdotes e juízes em cidades fortificadas com uma suprema corte em Jerusalém, onde as questões religiosas estavam sujeitas aos sacerdotes e as questões civis sujeitas ao príncipe de Judá (2 Cr 19.5-8). Os profetas frequentemente afirmavam que a justiça estava corrompida pelo suborno e pelos falsos testemunhos (Is 1.23; 5.23; 10.1; Am 5.12; 6.12; Mq 3.11; 7.3). Os reis eram frequentemente injustos em seu modo de tratar os profetas que falavam da parte de Deus (1 Rs 22.26,27; 2 Rs 21.16; Jr 36.26). Veja também 1 Reis 21.1-13, onde a lei era desconsiderada por Acabe e Jezabel e falsas testemunhas eram usadas para trazer vantagens ao rei. PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1112-1113.]

SÍNTESE DO TÓPICO I
A finalidade do nono mandamento é erradicar a mentira, a calúnia e a falsidade.
 
  

II. O PROCESSO


1. Responder em juízo. O mandamento “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20.16; Dt 5.20) reflete o aspecto legal e isso é conhecido pelos termos usados e por sua regulamentação na lei. O verbo “dizer”, anah, em hebraico, “responder”, abrange amplo significado. É usado para indicar o ato de declarar solenemente (Gn 41.16; Dt 27.14), de testemunhar a favor (Gn 30.33) ou contra (2Sm 1.16). A resposta, aqui, diz respeito aos interrogatórios na corte. Essa característica forense aparece na legislação sobre o tema (Êx 23.2; Dt 19.16-19). [Comentário: CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 393: Parece que o objetivo central deste mandamento é a proteção ao sistema judicial. Os tribunais seriam inúteis se os homens chegassem ali para mentir. Se tiver de ser feita uma acusação contra outra pessoa, e se o acusado tiver de defender-se, a verdade terá de ser dita por ambas as partes, sob pena da justiça naufragar. Mas esse mandamento também se aplica a questões individuais. A sociedade em geral perturba-se quando as pessoas saem a espalhar mentiras e calúnias sobre seus semelhantes. O trecho de Êxo. 23.1 condena o falso testemunho em nível pessoal. Ver Deu. 19.16-20 que requeria juízo apropriado contra falsas testemunhas que perturbavam o sistema judicial. A linguagem e os fatos devem concordar entre si. Ver Deu. 13.14; 17.4; 22.20; Jer. 9,5; Sal. 9.5; 15.2; Pro. 12.19; 14.25; 22.21. A verdade precisa ser dita como tempero do amor (Efé. 4.15). Algumas vezes, as meias verdades prejudicam mais do que as mentiras francas. O amor, porém, guarda-nos tanto da mentira aberta quanto das meias verdades. A mentira artística vem sendo aprovada desde os tempos mais antigos, conforme muitos eruditos supõem. Ver o caso de Labão (Gên. 29.21-27), e o caso um tanto anterior de Jacó (Gên. 27.6-36). Por outro lado, a luz que brilhou por meio de Moisés por certo condenava qualquer tipo de mentira ou abuso de linguagem. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 296: O nono mandamento diz respeito ao nosso próprio bom nome, e ao do nosso próximo: “Não dirás falso testemunho”, v. 16. Isto proíbe: 1. Falar falsamente sobre qualquer assunto, com mentiras, com equívocos intencionais, e de qualquer maneira planejada para enganar o nosso próximo. 2. Falar injustamente contra o nosso próximo, para o prejuízo da sua reputação. E (o que envolve a culpa de ambos): 3. Dar falsos testemunhos contra ele, acusando-o de coisas de que ele não tem conhecimento, seja judicialmente, sob juramento (com o que são infringidos o terceiro e o sexto mandamento, além deste). Ou extrajudicialmente, em conversação comum, caluniando, difamando, inventando estórias, piorando o que é feito erroneamente e tornando-o pior do que já é, e de alguma maneira empenhando-se em aumentar a sua própria reputação sobre a ruína da do seu próximo.]

2. Falso testemunho. O termo hebraico ed, “testemunho”, emedshaw, literalmente “testemunho vão” (Dt 5.20), ou edshaqer, “falso testemunho” (Êx 20.16), diz respeito a uma mentira, a uma declaração conscientemente falsificada. O termo hebraico shaw, “vão, inutilmente, à toa” (veja lição 5), indica algo sem valor, irreal no aspecto material e moral. Aqui se trata de alguém que fala em vão, sem fundamento, que faz acusação sem validade e sem consistência, portanto falso. A tradução de Deuteronômio 5.20, na Septuaginta, acrescenta “com testemunho falso”, assim: “Não testemunharás falsamente contra o teu próximo com testemunho falso”.[Comentário: Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 128-129: O nono mandamento não se restringe apenas ao aspecto jurídico, ao perjúrio num tribunal civil ou criminal, mas se aplica também à vida diária, como o boato e o mexerico (Êx 23.1; Lv 19.16). Estes envolvem a mentira e trazem implicações profundas na vida humana. Deus condena tais práticas, e o ensino bíblico sobre o assunto começa em Moisés e se estende até o Novo Testamento. "Não admitirás falso rumor e não porás a tua mão com o ímpio, para seres testemunha falsa" (Êx 23.1). A TB traz "Não levantarás um boato falso"; a ARA e NTLH empregam "notícias falsas". A expressão hebraica para "falso rumor" aqui é shêma ’ shãw ‘. O termo shêma ’, "informação, notícia, fama, boato", é um substantivo derivado do verbo Vtpüi (shãma ‘), "ouvir, escutar, prestar atenção, obedecer". Essa informação, notícia ou fama pode ser boa ou ruim e diz respeito ao que se ouve dizer (1 Rs 10.1), diferentemente de um conhecimento pessoal, de uma experiência direta: "Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu te vejo com os meus próprios olhos" (Jó 42.5). E o termo shãwque significa "fraude, engano, inutilidade, inútil, imprestável, falsidade, desonestidade, futilidade, vacuidade", aparece no terceiro mandamento (Êx 20.7; Dt 5.11) e no nono mandamento na versão de Deuteronômio (Dt 5.20). O falso boato é a propagação de uma notícia infundada, não oficial e de fonte desconhecida. O contexto mostra que divulgar informação enganosa é associação com o ímpio para se tornar falsa testemunha: "E não porás a tua mão com o ímpio, para seres testemunha falsa" (Êx 23.1b). Mesmo as coisas triviais do dia a dia podem terminar na justiça, pois elas destroem a reputação de qualquer pessoa.]

3. O próximo. É a primeira vez que o termo aparece no Decálogo. O próximo, em hebraico, rea, indica outra pessoa, vizinho, amigo, parceiro. Essa palavra se refere aos israelitas (Lv 19.18), mas o Senhor Jesus a aplicou a todas as pessoas em seu pronunciamento sobre o segundo e grande mandamento (Mt 22.39). Todavia, a lei já contemplava nessa palavra os estrangeiros (Lv 19.34). Assim, nosso próximo é qualquer pessoa ou eu mesmo, pois devo também ser um próximo, isso está claro quando Jesus manda o judeu e doutor da lei imitar o samaritano (Lc 10.36,37). [Comentário:  CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 552: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Essa é a Regra Áurea. Cada um deve amar o próximo como a si mesmo. Esse é o segundo grande mandamento, de acordo com a avaliação do Novo Testamento, que só perde em importância para o amor a Deus. Jesus citou este versículo e exaltou os princípios em que ele está alicerçado. Ver Mar. 12.31. A lei mosaica inteira repousa sobre esses dois princípios. A lei do amor é a primeira lei da espiritualidade, e, de fato, a essência da espiritualidade (I Cor. 13). É fruto da regeneração (I João 4.7). Teu próximo. De acordo com a definição rabínica, um compatriota hebreu. Mas notemos que até este capítulo inclui o estrangeiro (vss. 33 e 34). Jesus falou de modo que entendêssemos que próximo é qualquer outro ser humano (Luc.10.29 ss.). Quando de Hillel foi solicitado, por um discípulo em potencial, que dissesse a essência da lei, estando de pé sobre somente um dos pés (em tempo breve, portanto), ele apresentou, sob forma negativa, o conceito à nossa frente: Ό que não quiseres que outros te façam, não faças a outros”. Mas Jesus apresentou uma versão positiva desse mesmo princípio, em Mat. 7.12: Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles”. Cf. Rom. 13.8-10.]


SÍNTESE DO TÓPICO II
O falso testemunho fere ao próximo e principalmente a Deus.
 


III. A VERDADE


1. Antigo Testamento. Verdade é aquilo que corresponde aos fatos, em contraste com qualquer coisa enganosa, a mentira (Dt 13.14; 17.4; Is 43.9). O termo hebraico, emet, significa “verdade, fidelidade, firmeza, veracidade”. Daí derivam as palavras emunah, “fé, fidelidade, firmeza” (Hc 2.4), e amen, “amém, verdadeiramente, de fato, assim seja”. É também um atributo divino: o “Deus da verdade” (Sl 31.5). O próprio Deus é a verdade absoluta (Dt 32.4). O Deus verdadeiro espera que seu povo também o seja, pois a ética é a imitação de Deus (Mt 5.48; 1Co 11.1). [Comentário: CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 593: No hebraico devemos considerar uma palavra e no grego, também uma, a saber: 1. Emeth, “verdade”, “constância”. Esse vocábulo hebraico ocorre por 92 vezes no Antigo Testamento. Há outras formas dessa palavra e outros vocábulos que ocorrem por algumas poucas vezes, e que também podem ser traduzidos como “verdade”. 2. Alétheia, “verdade”. Palavra grega que é usada por 110 vezes. No Antigo Testamento, a palavra emeth e seus cognatos indicam as ideias de firmeza, estabilidade, fidelidade, alguma base fidedigna de apoio. É uma qualidade atribuída tanto a Deus quanto às criaturas. Também é atribuída não somente às mais diversas afirmações (por exemplo, Rute 3:12), mas também à conduta (ver Gên. 24:49) e às promessas (II Sam. 7:28). A verdade é associada na Bíblia à gentileza (Gên. 47:29), à justiça (Nee. 9:13 e Isa. 59:14) e à sinceridade (Jos. 24:14). Por essas razões, a Septuaginta, com frequência, a traduz pelo termo grego pistis, “fé”, “fidelidade”, “convicção”, a fim de expressar o aspecto moral, em vez de empregar alétheia, “verdade”.]

2. Novo Testamento. Emprega aletheia, “verdade”, e seus derivados. O termo vem do verbo grego, lanthano / letho, “ocultar ou encobrir algo a alguém”. O prefixo “a” indica negação. Assim, para os gregos, aletheia significa “não oculto, não escondido”. É aquilo que corresponde aos fatos e permanece em oposição à falsidade (At 26.25; Rm 1.25; 9.1). Nisto se alinha com as Escrituras hebraicas. Esta é a verdade como parte da ética. Mas as palavras “como está a verdade em Cristo” (Ef 4.21), dizem respeito a “toda sua plenitude e extensão, encarnada nele; Ele é a perfeita expressão da verdade” (Dicionário Vine). Isso está de acordo com sua própria afirmação (Jo 14.6). [Comentário: CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 523: « ...e a verdade...» Quanto a este particular, poderíamos destacar os pontos seguintes: 1. Jesus é a verdade de Deus porque, na qualidade de «Logos» eterno (ver João 1:1), ele é a perfeita revelação de Deus e de sua verdade, e isso não meramente para os homens, mas também para todos os seres criados. 2. Jesus é, especialmente, a revelação de Deus aos homens, no que concerne à salvação deles. Sua própria pessoa representa realmente essa verdade, porque nele, segundo os eternos conselhos divinos (ver Efé. 1:3-5), ele sempre esteve unido a Deus Pai, e o plano da redenção dessa maneira se originou dele. Assim sendo, em sua encarnação, ele trouxe essa verdade da redenção aos homens. Em sua ascensão, ressurreição e glorificação, ele assegura aos remidos a mais plena participação em toda a sua glória e em sua natureza divina. Portanto, por esses motivos ele é a verdade metafísica do homem. 3. Jesus é a verdade do caminho pelo qual os homens devem retornar a Deus, porquanto ele é o exemplo supremo e o ilustrador desse caminho. Essa é a verdade envolvida em sua encarnação. Tudo quanto o homem precisa saber está contido em sua pessoa. Jesus é a verdade ética do homem. 4. Dessa maneira, em sua própria pessoa, Cristo Jesus combina tudo quanto os homens precisam saber, crer e ser, tanto no que diz respeito à natureza de Deus como no que tange à natureza e à posse da redenção e da glória eterna. 5. Jesus é a Verdade, em o posição à religião falsa, como o judaísmo desviado e obstinado. Ele é aquela verdade para a qual apontava a lei mosaica, e da qual o pacto do A.T. era apenas uma sombra pálida. Ele é a materialização dá verdade espiritual, e não meramente um profeta de Deus ou uma representação parcial polêmica cristã contra os judeus incrédulos, que rejeitaram ao seu próprio Messias. O autor sagrado queria que tais pessoas soubessem que tudo aquilo em que confiavam, como uma revelação da parte de Deus, nada significava à parte da pessoa de Jesus Cristo, posto ser ele a concretização de toda a verdade de Deus, ao passo que Moisés, a lei e os profetas meramente apontavam para Cristo. 6. Em sua própria essência. Cristo também é a verdade de Deus, porquanto ele mesmo é divino, e assim nos tem mostrado qual é a natureza de Deus ou a verdadeira forma de vida que ele possui, a qual ele está transmitindo aos homens através de Cristo. Essa é justamente a mensagem de um trecho como Col. 2:9, onde se lê: «...porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade...» Ou então do trecho de Col. 1:15: «Ele é a imagem do Deus invisível...».]

3. O que é a verdade? Foi a pergunta que Pilatos fez a Jesus, mas não esperou pela resposta (Jo 18.37,38). Será que ele estava convencido de que não havia resposta, ou não se interessou de modo algum pelo retorno que Jesus poderia dar? Para os romanos, “verdade”, veritas em latim, significa “precisão, rigor, exatidão de um relato”. Talvez Pilatos estivesse destoado do contexto. [Comentário: D. A. CARSON. O Comentário De João. Editora Shedd Publicações. pag. 595-596: Jo 18.37 - O paralelismo sugere que seu reino é o reino da verdade; ou, de forma mais precisa, o exercício de seu reinado de salvação é praticamente indistinguível de seu testemunho da verdade. Nesse contexto, a verdade é interpretada em um sentido mais que intelectual (cf dela Potterie, 2. 624ss.); ela é apenas a auto-revelação de Deus em seu Filho, que é a verdade (14.6). Revelar a verdade de Deus, da salvação e do juízo, era o principal meio de fazer súditos, de exercer seu reinado salvífico (cf. Lagrange, p. 477). De forma similar, somente aqueles que são corretamente relacionados com Deus, com a própria verdade, podem compreender o testemunho que Jesus fornece da verdade (cf. 3.16-21). Todos os que são da verdade ouvem a Jesus (cf. 10.3,16,27). 38a. Se o reinado de Jesus é indistinguível de seu testemunho da verdade, e se seus seguidores são caracterizados por fidelidade a seu testemunho, e não pela revolução violenta, Pilatos é forçado a reconhecer que Jesus está sendo vítima de uma conspiração do Sinédrio. Além disso, há um convite implícito nas palavras de Jesus. O homem no banco dos réus convida o juiz para ser seu seguidor, para juntar-se àqueles que são “da verdade”. Jesus não é perigoso; mas ele também pode estar irritando Pilatos. De qualquer forma, Pilatos abruptamente termina o interrogatório com uma curta e cínica pergunta: Que é a verdade? - e com a mesma rispidez dá as costas, seja porque ele está convencido de que não existe uma resposta, seja porque ele não quer ouvi-la, o que é mais provável. Ele prova, assim, que não está entre aqueles a quem o Pai deu a seu Filho (cf. Haenchen, 2. 180).]

  
SÍNTESE DO TÓPICO III

O Deus da Verdade exige tão somente a verdade.
 


IV. O CUIDADO COM A MENTIRA


1. As testemunhas. Ninguém podia ser acusado por uma só testemunha, pois a lei exige duas ou três testemunhas (Dt 19.15-20). Era a garantia de um julgamento justo. Mas nem sempre isso era possível. Nabote foi acusado, julgado e condenado conforme a lei, mas era inocente, pois as testemunhas eram falsas (1Rs 21.13). O Senhor Jesus foi vítima de testemunhas falsas (Mc 14.56), da mesma forma que Estêvão (At 6.13). Mesmo com todo o rigor da lei, nunca faltou na história quem se dispusesse a testemunhar falsamente.[Comentário: CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 830: Sobre o Falso Testemunho (19.15-21) Dt 19.15 Pelo depoimento de duas ou três testemunhas. Esse múltiplo testemunho concorria para a preservação da justiça. A lei mosaica era severa, e por muitas vezes requeria a punição capital, devido a crimes que na cultura moderna não seriam castigados tão severamente. Uma testemunha falsa poderia tentar eliminar um adversário prestando um testemunho falso: “Meu vizinho estava adorando um ídolo!”. A fim de impedir tão ultrajante conduta, pois, foi estabelecida a lei das “duas ou mais testemunhas”. Desse modo o perjúrio, embora não fosse eliminado de todo, pelo menos era grandemente reduzido. Já vimos essa lei em Deu. 17.6. As notas oferecidas ali aplicam-se também aqui. O depoimento de testemunhas precisava ser investigado. Os juízes e os tribunais locais não deveriam aceitar passivamente os caprichos desonestos dos homens. Juízes inquiririam as testemunhas. E as testemunhas falsas deveriam ser executadas (Deu. 19.19). Isso lançaria o temor no coração de todos, dificultando o pecado de perjúrio. Ό uso veraz da língua, ao evitar a todo o transe a calúnia e a acusação falsa, é um dos princípios centrais da ética bíblica, sendo esse pecado condenado no nono mandamento da lei. Aqui esse princípio foi expresso em linguagem leal, para uso nos tribunais (cf. Êxo. 23.1; Lev. 19.11-18)" (G. Ernest Wright, in ioc.). As testemunhas não podiam prestar seu testemunho por meio de cartas, nem podiam enviar representantes. Era mister que comparecessem pessoalmente, a fim de serem inquiridas pelos juízes. E se houvesse 0 envolvimento de algum idioma estrangeiro, não podia haver um intérprete entre as testemunhas e os juízes. As testemunhas tinham de encarar os juízes. Cf. Núm. 35.30. Dt 19.16 Quando se levantar testemunha falsa. É de presumir-se que os casos complicados fossem submetidos à apreciação da Corte Suprema, que funcionava no santuário central, em Jerusalém. Ver Deu. 17.18 ss.. O lugar determinado por YAHWEH como o santuário central também abrigaria o Tribunal Superior, que julgaria os casos mais difíceis. Israel dispunha de severas leis de retaliação, como olho por olho e dente por dente (vs. 21), e isso precisava ser regulamentado com medidas extremas, mediante investigação e depoimento de testemunhas oculares, para que houvesse sempre julgamentos justos. Leis severas exigiam uma justiça estrita. Dt 19.17 Então os dois homens. É provável que tenhamos aqui a descrição daqueles entre os quais tivesse surgido alguma pendência, no santuário central; mas, se um concilio local estivesse envolvido, então deveriam prevalecer as mesmas regras de justiça. O vocábulo no singular, “juiz”, que ali aparece (vs. 9), talvez seja uma referência ao sumo sacerdote, que era o juiz supremo em Israel. A passagem de Deuteronômio 17.8-13 aborda a Corte Suprema, e nas notas expositivas a res- peito, dou informações acerca dos oficiais que operavam ali, bem como dos tribunais secundários. Ver também Deu. 16.18 ss.. Nesse versículo 18 dou informações específicas sobre a estrutura dos antigos tribunais de Israel. Homens. Mulheres não podiam servir de testemunhas. Ver Bartenora, see. 5. Esse mesmo documento antigo assevera que tanto as testemunhas quanto os acusados tinham de dar e ouvir o testemunho estando de pé. Perante o Senhor. Assim foi dito porque o tribunal e suas regras de ação tinham sido estabelecidos por ordem divina. DEUS era o observador silente que acompanhava 0 processo inteiro de justiça, e a Sua presença inspiraria os juízes a impor uma justiça estrita. O comparecimento pessoal era uma necessidade. Ninguém podia escrever uma carta ou enviar um seu representante. Diante dos sacerdotes e dos juízes. Dt 19.18 Os juízes indagarão bem. Investigações criteriosas faziam parte do dever dos tribunais, em Israel. Ninguém podia mostrar-se frívolo, nessas ocasiões. Com frequência, a punição capital era o fim do julgamento. O Targum de Jonathan refere a um exame e interrogatório completo das testemunhas. Ver Deu. 17.4, quanto à expressão “indagarás bem”. Ver também Deu. 13.12-14 e 17.9. O trecho enfatiza a questão. Não se permitia testemunho por “ouvir dizer”, em Israel. Dt 19.19 Assim exterminarás o mal do meio de ti. O próprio YAHWEH cuidaria para que os tribunais de justiça de Seu povo não falhassem. Se alguma testemunha falsa fosse descoberta pelas investigações, então tal indivíduo sofreria exatamente 0 castigo que tinha esperado infligir sobre seu vizinho ou conhecido inocente. A questão era levada “perante o Senhor” (vs. 17), porquanto era o tribunal do Senhor e os juízes do Senhor estavam julgando o caso. Sua presença, invisível mas real, seria garantia absoluta da justiça. O castigo poderia tomar a forma de uma multa, de açoites, da perda de um dos membros do corpo, ou então de execução por apedrejamento, estrangula- mento, execução na fogueira ou morte à espada. As testemunhas falsas seriam sujeitadas a uma dessas punições, sem importar qual delas tivesse sido planejada para o homem falsamente acusado. Dt 19.20 ... o ouçam e temam. Aqueles que sobrevivessem ao incidente (como a família do homem que tinha cometido perjúrio), bem como a população em geral, que ouvisse falar sobre o caso, temeriam, desencorajando o crime de perjúrio. E embora isso não eliminasse o mal das testemunhas falsas, essa prática odiosa ficaria grandemente reduzida.]

2. Os danos. A violação do nono mandamento é um atentado contra a honra e pode destruir a reputação e o bom nome que alguém levou uma vida inteira para construir. Seus efeitos maléficos podem ainda levar a pessoa à morte ou à prisão, destruir casamentos e arruinar famílias. É um pecado grave do qual muitos ainda não se deram conta. A pena contra a falsa testemunha em Israel era a morte; tal pessoa receberá o mesmo que ela tentou fazer ao seu próximo: “será condenado, e o castigo dele será o mesmo que ele queria para o outro” (Dt 19.19, NTLH). Será aplicada a lei de talião (Êx 21.23-25). [Comentário: HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 300: O cuidado particular que a lei teve com as mulheres grávidas, para que nenhum mal lhes fosse feito que pudesse provocar o seu aborto. A lei da natureza nos obriga a sermos muito ternos neste caso, para que a árvore e o fruto não sejam destruídos ao mesmo tempo, vv. 22,23. As mulheres grávidas, que desta maneira são tomadas sob a proteção especial da lei de Deus, se viverem no temor a Ele, podem, ainda, crer estar sob a proteção especial da providência de Deus, e ter esperança de que serão salvas ao darem à luz. Nesta ocasião, é introduzida aquela lei geral de retaliação à qual o nosso Salvador se refere em Mateus 5.38: “Olho por olho”. Bem: 1. A execução desta lei não é, com isto, deixada nas mãos de pessoas individualmente, como se todo homem pudesse vingar-se, pois isto causaria confusão universal e tornaria os homens como os peixes do mar. A tradição dos anciãos parece ter colocado este disfarce corrupto sobre a lei, e em oposição a isto o nosso Salvador nos ordena que perdoemos as ofensas e não pensemos em vingança, Mateus 5.39. 2. Deus frequentemente realiza a vingança no decorrer da sua providência, tornando a punição, em muitos casos, uma resposta ao pecado, como visto em Juízes 1.7; Isaías 33.1; Habacuque 2.13; Mateus 26.52. 3. Os magistrados devem ter em mente esta regra ao punir os criminosos, e fazer justiça àqueles que são ofendidos. Deve-se considerar a natureza, a qualidade e o grau do mal que é feito, para que possa haver reparação à parte ofendida, e outros se contenham para não fazer nada semelhante. Ou olho por olho, ou o olho ferido será redimido por uma soma de dinheiro. Observe que aquele que causa o dano deve esperar, de uma maneira ou de outra, uma recompensa de acordo com o dano que causar, Colossenses 3.25. As vezes, Deus faz com que as obras violentas dos homens caiam sobre as suas próprias cabeças (SI 7.16). E os magistrados, quanto a isto, são os ministros da justiça, pois são vingadores (Rm 13.4) e não trazem debalde a espada.]

3. O pecado da mentira. Quem já viu um irmão ser disciplinado ou cortado da comunhão da Igreja pelo pecado de mentira? A Bíblia trata o assunto com seriedade, pois quem se converteu a Cristo precisa deixar a mentira e falar a verdade (Ef 4.25; Cl 3.9). Os mentirosos constam da lista dos incrédulos, homicidas, fornicadores, feiticeiros, idólatras, dentre outros (Ap 21.8; 22.15). Na graça, o tema é tratado com profundidade implicando a vida eterna, e não envolvendo tribunais como no sistema mosaico. É desejo, portanto, de todo cristão se parecer com Jesus e é isso o que Deus espera de todos nós (1Pe 1.15,16). [Comentário: CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 4. Editora Hagnos. pag. 228-229: 1. Definições Básicas - Temos preparado um longo artigo sobre os Vícios, onde é comentado o vício da mentira. Mentir é fazer declarações propositalmente falsas, meias verdades que envolvem falsas impressões. Um exagero proposital é um tipo de mentira, como também o é uma declaração parcial proposital. Até mesmo as verdades proferidas com o intuito de enganar, naquilo em que visam iludir, não passam de mentiras. Entretanto, as histórias de ficção, escritas ou filmadas, embora não correspondam à realidade, não são mentiras, visto que não se propõem a narrar fatos, mas tão-somente simbolizam fatos e ideias. 2. Palavras Bíblicas Envolvidas - No hebraico encontramos kazab, palavra usada por vinte e nove vezes, conforme se vê, por exemplo em Juí. 16:10,13; Sal. 40:4; Pro. 6:19; 14:5,25; 19:5,9; Isa. 28:15,17; Eze. 13:8,9,19; Dan. 11:27; Osé. 12:1; Amós 2:4; Sof. 3:13. Também encontramos sheqer, que aparece no Antigo Testamento por cerca de quarenta e três vezes com o sentido de «falsidade», «mentira», («mentiroso», etc., segundo se vê, para exemplificar, em Jó 13:4; Sal. 63:11; 119:69; Isa. 9:15; 59:3; Jer. 9:3,5; 14:14; 29:21,31; Eze. 13:22; Miq. 6:12; Hab. 2:18; Zac. 10:2 e 13:3. Ambas as palavras podem indicar «engano», «mentira». Outras palavras hebraicas bem menos usadas sãoakzab (Miq. 1:14), bad, «artifício» (Jó 11:3; Isa. 16:6; Jer. 48:30); kachash, «fingimento» (Osé. 7:3; 10:13; 11:12; Naum 3:1); dabar, «palavra de falsidade» (Pro. 29:12). No grego encontramos pseüdos, «mentira» «falsidade», palavra empregada no Novo Testamento por sete vezes: João 8:44; Rom. 1:25; II Tes. 2:11; I João 2:21,27; Apo. 21:27; 22:15. E também pseúsma, «falsidade», em Rom. 3:7. 3. Usos Bíblicos - Os homens mentem, principalmente, a fim de enganar. Essa palavra é usada nas Escrituras para indicar as declarações falsas dos homens acerca de DEUS e das realidades espirituais (Jer. 14:14; Eze. 13:9; Rom. 1:25). A verdade divina é reduzida a uma mentira, pelas ideias e declarações dos homens. As mentiras dos homens pervertem, portanto, a verdade dita por Deus. Toda mentira cria uma falsa certeza (Isa. 28:15). Os resultados da mentira são o erro e a ilusão (Jer. 23:32). Os padrões morais são solapados pelas mentiras (Rom. 1:26 ss). Deus não pode mentir, mas precisa julgar (I Sam. 15:29; Tito 1:2). Por isso, a mentira nunca é atribuída a Deus, mas é atribuída aos homens, como quando prestam falso testemunho (Pro. 6:19). O ato de mentir era proibido pela lei mosaica (Exo. 20:16; Lev. 19:11). Os crentes deveriam reconhecer que o ato de mentir é próprio da vida velha, na incredulidade, devendo ser rejeitado pelo crente como uma roupa indesejável, segundo se vê em Col. 3:9; «Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos». O trecho de João 8:44 apresenta Satanás como o pai da mentira. Os trechos de Apo. 21:27 e 22:15 mostram que os mentirosos habituais (que o fazem devido à sua natureza corrompida e não regenerada), ficam impedidos da salvação e do lar celestial. 4. Discussões Filosóficas - Será errada a mentira, em todos os casos? Alguns filósofos asseveram que há ocasiões em que mentir é melhor do que dizer a verdade. Um meu professor de filosofia deu um exemplo em classe, baseado na vida real, ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial. Ele falou sobre um sacerdote católico romano que se viu envolvido no movimento de resistência subterrânea de um pai» debaixo do poder militar dos nazistas. Vidas dependiam dele. Quando foi apanhado, ele confessou, e não mentiu, dizendo aos alemães que, de fato, fazia parte daquele movimento. O resultado foi desastroso. Também poderíamos pensar no caso dos pacientes terminais. Tais pacientes devem ficar sabendo da verdade, ou, pelo menos em alguns casos, é melhor enganar o doente? Há pessoas que simplesmente querem saber seu estado, e a essas deveríamos dizer a verdade. Mas há outras que, segundo os médicos e seus familiares julgam, sentir-se-iam menos premidas se a verdade não lhes fosse revelada, pois assim enfrentariam a morte mais tranquilamente. Isso posto, em tais casos, seria melhor mentir a um paciente terminal. Se esses casos são exemplos de exceções válidas à regra contra a mentira, então podemos afirmar que, algumas vezes, a lei do amor é melhor servida por um engano (intenção é aliviar o sofrimento), do que se dizendo a verdade chocante e brutal.]

SÍNTESE DO TÓPICO IV

O cristão verdadeiro não coaduna com a fofoca ou mentira.
 


CONCLUSÃO


Deus se interessa pelo bem-estar de todos os seus filhos e filhas. O desrespeito pelo próximo afronta a Deus. O Senhor Jesus nos ensinou a tratar as pessoas da mesma maneira que gostaríamos de ser tratados (Mt 7.12). Que Deus nos ajude e nos guarde para que possamos viver uma vida irrepreensível. [Comentário: O amor é aclamado como qualidade suprema da vida cristã; mas Paulo, ao dizer isso sobre a fé, a esperança e o amor, afirma que a maior delas é o amor, o qual deve ser sem hipocrisia (Rm 12.9). O amor sem genuinidade é pior que não ter amor algum. A honestidade é a essência da coragem moral, conforme ficou demonstrado na vida de Jesus. Uma mentira inocente poderia tê-lo salvado da cruz, mas ele não a quis proferir, apesar de sua vida estar em perigo. Os primeiros cristãos deixaram profunda impressão sobre seus contemporâneos, não meramente por causa do amor que exemplificavam «Vede como esses cristãos se amam uns aos outros», mas muito mais pela integridade de suas vidas (Tg 5.12)].  “NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.

Francisco Barbosa

Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.

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