LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Êxodo 20.16; Deuteronômio
19.15-20
Êxodo 20:16
15. Não dirás falso
testemunho contra o teu próximo.
Deuteronômio 19
15 - Uma só
testemunha contra ninguém se levantará por qualquer iniquidade ou por qualquer
pecado, seja qual for o pecado que pecasse; pela boca de duas ou três
testemunhas, se estabelecerá o negócio.
16 - Quando se
levantar testemunha falsa contra alguém, para testificar contra ele acerca de
transgressão,
17 - então, aqueles
dois homens, que tiverem a demanda, se apresentarão perante o SENHOR, diante
dos sacerdotes e dos juízes que houver naqueles dias.
18 - E os juízes bem
inquirirão; e eis que, sendo a testemunha falsa testemunha, que testificou
falsidade contra seu irmão,
19 - far-lhe-eis
como cuidou fazer a seu irmão; e, assim, tirarás o mal do meio de ti,
20 - para que os que
ficarem o ouçam, e temam, e nunca mais tornem a fazer tal mal no meio de ti.
OBJETIVO GERAL
Apresentar
o nono mandamento, ressaltando que Deus proíbe a mentira, o mexerico e o
testemunho falso contra o próximo, tanto no dia a dia como nos tribunais.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Após
esta aula, o aluno deverá estar apto a:
I. Tratar a
abrangência e o objetivo do nono mandamento.
II. Mostrar o que
a legislação mosaica diz a respeito do falso testemunho.
III. Ressaltar que o Deus verdadeiro deseja tão somente a
verdade.
IV. Enfatizar o cuidado que
devemos ter com relação à mentira.
SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
O nono mandamento tem a ver com a verdade, trata-se
de um alerta necessário nos dias atuais, em que a mentira tenta prevalecer. No
início da aula abordaremos a temática bíblica do falso testemunho. Em seguida,
nos voltaremos para os males da mentira, e suas trágicas consequências. Ao
final, mostraremos a importância de falar a verdade, sobretudo relativizando a
Palavra de Deus, mesmo que no contexto social a mentira seja assumida como
verdade.
I. O FALSO TESTEMUNHO
Esse é um mandamento que tem relação direta com o
contexto jurídico. A testemunha mentirosa era abominação aos olhos de Deus. A
palavra hebraica para esse mandamento é shaqar, usada especificamente para o
falso testemunho em situações de juízo. Havia outra palavra hebraica, kachash,
essa mais ampla, que se referia a qualquer tipo de mentira. Assim, esse
mandamento poderia muito bem ser traduzido como: “não mentirás em juízo”. O
objetivo desse mandamento era evitar abusos na condenação, e evitar que a pessoa
fosse punida inocentemente. Por isso, o próprio Deus destacou que ninguém
poderia ser condenado a menos que mais de uma testemunha atestasse o pecado
(Dt. 19.15). Essa recomendação se aplicava principalmente nos casos de penas
capitais, nos quais ninguém poderia ser condenado com base em apenas uma
testemunha (Nm. 35.30; Dt. 17.6). Na execução da pena, aquele que acusasse o
transgressor, deveria ser o primeiro a apedrejá-lo (Dt. 17.7). Esse
procedimento responsabilizaria a testemunha, na medida em que possibilitaria
sua execução, caso a pessoa fosse morta indevidamente (Dt. 19.18,19). Ao longo
da Bíblia, a verdade tem proeminência sobre a mentira, por isso o salmista
afirma que aqueles que falam a verdade, e não difamam com a língua, habitarão
no tabernáculo do Senhor (Sl. 15.1,-3). A mensagem dos profetas também é
contundente contra o falso testemunho, por isso cada um deveria falar a verdade
(Zc. 8.16). Dentre os profetas, Oséias critica os israelitas, acusando-os de
mentirem irresponsavelmente (Os. 4.2).
II. OS MALES DA MENTIRA
A mensagem de Tiago é confrontadora em relação ao
perigo da mentira, considerando que esse é um dos males provocados pela língua
(Tg. 3.6). Alguns crentes não calculam os males que essa pode causar, seus
estragos podem ser irreparáveis. Por isso também Paulo, em suas epístolas,
admoesta as igrejas para fugirem da mentira (II Co. 12.20; Ef. 4.31). O livro
de Provérbios traz sérias advertências em relação ao uso indiscriminado das
palavras (Pv. 22.1). A fofoca, ao que tudo indica, é um dos males que não está
apenas na televisão. Muitos cristãos estão usando a língua para difamarem os
irmãos, em alguns casos sem lhes dar o direito à defesa. Mas é preciso ter
cuidado também com aqueles que se aproximam com palavras lisonjeiras, pois na
verdade estão querendo conduzir as pessoas à cova (Pv. 18.18). Jesus foi
categórico quanto aos males da língua, por isso orienta que melhor que falar de
alguém, é preferível ir até ele e discutir o assunto (Mt. 18.15). O Senhor
também destacou que Satanás é mentiroso, na verdade é o pai da mentira (Jo.
8.44). Esse é o motivo pelo qual Deus odeia tanto o engano, e o abomina entre
os fiéis (Pv. 6.16-19). Ananias e Safira pagaram o preço pela mentira, a
hipocrisia deles, manifestada pela mentira, os levou à morte (At. 5.1-4). De
igual modo muitos estão indo à ruina por causa das suas mentiras. Elas são tão
maléficas que aqueles que a proferem ficarão de fora da cidade celestial (Ap.
21.8).
III. A VERDADE PREVALECE
Os cristãos devem ser reconhecidos por falarem a
verdade, para tanto não podem pactuar com o falso testemunho (Mt. 5.37). Jesus
ressaltou que aqueles que são dEle tem uma relação íntima com a verdade (Jo.
18.37), isso porque Ele mesmo é a Verdade (Jo. 14.6). Como seguidores da
Verdade encarnada, devemos mostrar identificação com Ele, seguindo Seu exemplo
(I Pe. 1.15,16). Por isso Paulo, em sua Epístola aos Efésios, conclama os
crentes a abandonarem a mentira, e a falarem a verdade entre eles (Ef. 4.25).
Mas a verdade não precisa ser falada de modo grosseiro, não podemos esquecer
que podemos falar a verdade em amor (Ef. 4.15). Por viverem na verdade, os
cristãos devem ser modelos de confiança, e ter cuidado para não relativizar os
absolutos de Deus, conforme faz essa sociedade caída. Há muitos que estão
pactuando uma ética diferenciada daquela exarada nas Escrituras. O Senhor
adverte àqueles que querem transformar a mentira em verdade (Is. 5.20 ). Os
fariseus do tempo de Jesus mentiam com suas vidas, exigiam das pessoas o que
eles mesmos não praticavam (Mt. 23.27.28). A mentira pode ser demonstrada não
apenas por meio das palavras, mas também através das vidas daqueles que
desobedecem à palavra de Deus. Há crentes com uma vida dupla, eles agem
diferentemente, dentro e fora da igreja. Exige-se dos cristãos coerência, se
falam a verdade, devem também viver na Verdade.
CONCLUSÃO
A mentira campeia na sociedade, e não poucas vezes,
por se repetir tanto, acaba sendo absolvida como verdade. Mas os crentes têm um
critério para diferenciar a verdade da mentira, a Palavra de Deus. Com base
nesta, devemos nos posicionamos em conformidade com Cristo, falando sempre a
verdade em amor. O testemunho do cristão é sincero em seus relacionamentos,
porque Ele se encontra debaixo do senhorio de Cristo, a Verdade que liberta
(Jo. 8.32).
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
O nono
mandamento se aproxima do terceiro, pois envolve a questão da mentira. “Não
dirás falso testemunho contra o teu próximo” não se refere apenas ao depoimento
num tribunal, mas também ao relacionamento diário com aqueles à nossa volta.
Aqui temos uma lição para os que agem, ainda que inconscientemente, como se o
pecado se restringisse a assassinato, adultério e furto. Ninguém deve pensar
que a mentira e o falso testemunho são menos graves que os demais pecados
citados no Decálogo. A Bíblia coloca no mesmo nível todo aquele que tem a
mentira como estilo de vida. [Comentário:
“Não dirás falso testemunho contra o teu próximo (20,16). O mandamento inclui
testemunho dado em tribunal, mas vai além disso. Falso testemunho é qualquer
declaração maliciosa intencionada a degradar ou ferir outra pessoa, A reputação
dos outros, assim como suas propriedades, devem ser resguardadas por todos.
Parecido com o abuso de um irmão por meio do roubo é desonrá-lo dando falso
testemunho contra ele (Êx 20.16). Embora a proibição possa ser legitimamente
aplicada à mentira em geral, a linguagem técnica (“falso testemunho”; hebraico,
'edsãqer) sugere um cenário legal ou de corte no qual um caso concernente a um
crime ou contravenção está sendo julgado. As testemunhas eram (e são)
essenciais na determinação da culpa ou da inocência (cf. Dt 17.6,7; 19.15), mas
pessoas chamadas para testemunhar devem dizer a verdade sobre o que viram ou
ouviram. Fazer menos que isso e, assim, incriminar uma parte inocente e
sujeitá-la ao malogro da justiça infringiria gravemente a liberdade, as posses
e possivelmente até mesmo a vida dela. Mais uma vez, a repercussão na estrutura
bem ordenada de administração do Reino é óbvia e prejudicial. Eugene H. Merrill. Teologia do
Antigo Testamento. Editora Shedd Publicações. pag. 337.] Convido você para mergulharmos mais fundo nas Escrituras!
I. O NONO MANDAMENTO
1.
Abrangência. O mandamento não se restringe apenas ao campo
do processo legal; há implicações vinculadas às atividades da vida diária (Dt
17.13; Lv 19.16). A ruptura desse mandamento podia solapar a característica
básica da aliança, a fidelidade de Deus para com o homem, do homem para com
Deus e do homem para com seu próximo.[Comentário: CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento
Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 552: O próximo,
contra quem não devemos iniciar nenhuma campanha de mexericos, é aqui um
compatriota hebreu. Jesus, entretanto, ampliou a aplicação disso a todos os
nossos semelhantes (ver Luc. 10.29 ss.). Cf. Êxo. 23.4,5. Nos vss. 33 e 34
deste capítulo, o conceito de “próximo” inclui os forasteiros. “Não deve haver
campanhas de maledicência (vss. 16-18). Não devemos tentar fazer o próximo cair
em dificuldades. Devemos tratar com ele face a face, em espírito de
boa-vontade. Nunca deveríamos dizer: ‘Sou o guardador de meu irmão?' conforme
fez Caim. Deveríamos estar genuinamente interessados pelo bem-estar temporal e
espiritual de outras pessoas, como se fosse nosso mesmo. Por quê? Eu sou o
Senhor. Essa é, de fato, a ordem sagrada, física e moral, que deve haver neste
mundo” (Nathaniel Micklem, in loc.). A maledicência geralmente termina em
calúnia. Isso torna-se um hábito extremamente perigoso no caso de certas
pessoas, e as mulheres, especialmente, deleitam-se nesse vício. E assim, vidas
inocentes são destruídas. Ver I Sam. 22.9,18; Ez. 22.9. A versão caldaica, de
acordo com o Targum de Jonathan, diz aqui: “Não seguirás a língua três vezes
amaldiçoada, pois ela é mais fatal do que a espada devoradora de dois fios”.]
2.
Objetivo. É duplo, em defesa da honra e da fé. Trata-se da
proteção da honra e da boa reputação no campo social. O propósito divino neste
mandamento é erradicar a mentira, a calúnia e a falsidade do meio do povo
(v.20; Dt 17.13). E não somente isso, mas também promover o bem-estar social e
a fraternidade entre os seres humanos. No tocante à doutrina, o mandamento
torna-se uma muralha de proteção contra os falsos ensinos teológicos (2Co
13.8).[Comentário: CHAMPLIN,
Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora
Hagnos. pag. 830; 822: Dt 19.20 ... O ouçam e temam. Aqueles que sobrevivessem
ao incidente (como a família do homem que tinha cometido perjúrio), bem como a
população em geral, que ouvisse falar sobre o caso, temeriam, desencorajando o
crime de perjúrio. E embora isso não eliminasse o mal das testemunhas falsas,
essa prática odiosa ficaria grandemente reduzida. Dt 17.13 Neste versículo
vemos a severidade da lei. Não se hesitava em executar até mesmo um juiz local,
que não cumprisse o que se tinha considerado reto. Essa execução agiria como
uma medida preventiva, capaz de fazer todo o povo de Israel temer. Em Israel, a
justiça era imediata e terrível. Isso pode ser contrastado com nossos sistemas
modernos, que podem envolver anos para que um simples caso de homicídio seja
julgado. “Isso fazia o império da justiça tornar-se dotado de máxima importância
na Terra Prometida, ajudando a impedir a anarquia” (Jack S. Deere, in Ioc.). E
jamais se ensoberbeça. No hebraico, essa palavra é zadown, que significa “de
maneira arrogante”, “de maneira orgulhosa”. A medida disciplinar humilharia os
homens e fá-los-ia temer. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 619: Deveria haver grande
cuidado no julgamento, v. 18. Deveria ser feita uma investigação diligente
quanto ao caráter das pessoas, e todas as circunstâncias do caso. Tudo isto
devia sei' comparado, para que a verdade pudesse ser descoberta. Quando a
investigação fosse realizada de um modo fiel e imparcial, eles poderiam esperar
que a Providência os auxiliasse. Se ficasse evidente que um homem tinha,
conscientemente e perversamente, dado falso testemunho contra seu próximo,
embora o mal que lhe desejava não tivesse sido realizado, este deveria sofrer a
mesma penalidade à qual seu próximo estaria sujeito, devido à sua evidência, v.
19. Nec lex estjustior idla - Nenhuma lei poderia ser mais justa. Se o crime do
qual ele acusasse seu próximo devesse ser punido com a morte, também o homem
que deu falso testemunho deveria ser condenado à morte. Se a punição fosse
açoitamento, ele deveria ser açoitado. Se fosse uma multa financeira, ele
deveria ser multado também. E, como para aqueles que não levassem em
consideração a atrocidade do crime e a necessidade de impedi-lo, pareceria ser
uma punição muito dura, por ter dito algumas palavras, especialmente quando
nenhum mal tinha, realmente, sido feito, aqui está acrescentado: “O teu olho
não poupará”, v. 21. Nenhum homem precisa ser mais misericordioso do que DEUS.
O benefício que resultará, para o público, desta severidade, a recompensará com
abundância: “Para que os que ficarem o ouçam, e temam”, v. 20. Tais punições
exemplares seriam advertências a outros, para que não empreendessem nenhuma
maldade deste tipo, quando vissem como aquele que fez a cova e a escavou havia
caído nela.]
3.
Contexto. O nono mandamento com suas normas na legislação mosaica mostra a
administração da justiça em Israel. O termo “juízes”, em hebraico, shophet,
“juiz, árbitro, conselheiro jurídico, governante” (Dt 19.17), é ha-Elohim,
literalmente “Deus” na passagem paralela (Êx 22.8,9). A tradução literal seria
“perante Deus” como aparece na Septuaginta e na Vulgata Latina. Este uso é
padrão para o verdadeiro Deus no Antigo Testamento e não deve ser traduzido
como “deuses” por causa do artigo. O emprego de “juízes” aqui é legítimo e
ninguém questiona essa tradução. As versões rabínicas empregam “perante a
corte”. Os juízes representavam o Deus de Israel nos julgamentos. [Comentário: O Um juiz ou
magistrado civil é mencionado pela primeira vez em Israel sob a liderança de
Moisés, quando Jetro sugeriu que juízes fossem designados para aliviar Moisés
em suas responsabilidades administrativas (Êx 18.13-26). Mais tarde, Israel se
organizou em unidades dentro de cada tribo com um homem qualificado como juiz.
Estes homens deveriam julgar corretamente, destemidamente e imparcialmente (Dt
1.16ss.). Somente os casos mais importantes eram trazidos diante de Moisés (Dt
1.12-18; 21.2). Observe também a organização de Israel em Números 1-10. Sob a
liderança de Josué um plano similar foi seguido (Dt 16.18-20; 17.2-13;
19.15-20; Js 8.33; 23.2; 24.1; 1 Sm 8.1). A era que se seguiu à morte de Josué
retrata uma situação modificada como é descrito no livro de Juízes. Aqui os
líderes principais, ou juízes do povo, eram aqueles que tinham primeiramente a
missão de livrar os israelitas das nações opressoras (Jz 2.16).
Carismaticamente dotados pelo Espírito de Deus, eles eram
"libertadores" (Jz 3.9), capacitados a livrar e preservar Israel (Jz
6.34-36). O termo heb. corretamente inclui o conceito de líder bem como o de
árbitro. Durante a era entre a conquista e a monarquia em Israel, os invasores
opressores foram sucessivamente mesopotâmios, moabitas, cananeus, midianitas,
amonitas e filisteus. Os notáveis juízes que foram usados para agir contra
estes foram Otniel, Eúde, Débora e Baraque, Gideão e Sansão, conforme narrado
no livro de Juízes. Outros juízes a respeito dos quais pouca informação está
disponível foram Sangar, Abimeleque, Tola, Jair, Ibsã, Elom e Abdom. Alguns dos
juízes desta era são mencionados no livro de Hebreus (cap. 11) como heróis da
fé. Os capítulos iniciais de 1 Samuel (cf. 4.18) indicam que Eli serviu como
juiz de Israel por 40 anos. Samuel não só guiou os israelitas em uma
resistência bem sucedida à opressão dos filisteus, mas também estabeleceu um
organizado tribunal itinerante. Embora ele tenha designado seus filhos como
juízes, as condições em mudança marcaram uma transição para um reino organizado
que trazia a necessidade da unção de um rei (1 Sm 7.15-8.5). Durante a
monarquia, o rei se tornou o supremo juiz em assuntos civis (2 Sm 15.2; 1 Rs
3.9,28). Os casos eram julgados pelo rei no portão do palácio (1 Rs 7.7), mas
os tribunais locais estavam da mesma forma em funcionamento. Davi atribuiu aos
levitas o ofício judicial e designou 6.000 homens como oficiais e juízes (1 Cr
23.4; 26.29). Josafá ampliou o sistema judicial em Judá, designando sacerdotes
e juízes em cidades fortificadas com uma suprema corte em Jerusalém, onde as
questões religiosas estavam sujeitas aos sacerdotes e as questões civis
sujeitas ao príncipe de Judá (2 Cr 19.5-8). Os profetas frequentemente
afirmavam que a justiça estava corrompida pelo suborno e pelos falsos
testemunhos (Is 1.23; 5.23; 10.1; Am 5.12; 6.12; Mq 3.11; 7.3). Os reis eram
frequentemente injustos em seu modo de tratar os profetas que falavam da parte
de Deus (1 Rs 22.26,27; 2 Rs 21.16; Jr 36.26). Veja também 1 Reis 21.1-13, onde
a lei era desconsiderada por Acabe e Jezabel e falsas testemunhas eram usadas
para trazer vantagens ao rei. PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico
Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1112-1113.]
SÍNTESE DO TÓPICO
I
|
A finalidade do nono mandamento é erradicar a
mentira, a calúnia e a falsidade.
|
1.
Responder em juízo. O mandamento “Não dirás falso testemunho
contra o teu próximo” (Êx 20.16; Dt 5.20) reflete o aspecto legal e isso é
conhecido pelos termos usados e por sua regulamentação na lei. O verbo “dizer”,
anah, em hebraico, “responder”, abrange amplo significado. É usado para indicar
o ato de declarar solenemente (Gn 41.16; Dt 27.14), de testemunhar a favor (Gn
30.33) ou contra (2Sm 1.16). A resposta, aqui, diz respeito aos interrogatórios
na corte. Essa característica forense aparece na legislação sobre o tema (Êx
23.2; Dt 19.16-19). [Comentário: CHAMPLIN,
Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora
Hagnos. pag. 393: Parece que o objetivo central deste mandamento é a proteção
ao sistema judicial. Os tribunais seriam inúteis se os homens chegassem ali
para mentir. Se tiver de ser feita uma acusação contra outra pessoa, e se o
acusado tiver de defender-se, a verdade terá de ser dita por ambas as partes,
sob pena da justiça naufragar. Mas esse mandamento também se aplica a questões
individuais. A sociedade em geral perturba-se quando as pessoas saem a espalhar
mentiras e calúnias sobre seus semelhantes. O trecho de Êxo. 23.1 condena o
falso testemunho em nível pessoal. Ver Deu. 19.16-20 que requeria juízo
apropriado contra falsas testemunhas que perturbavam o sistema judicial. A
linguagem e os fatos devem concordar entre si. Ver Deu. 13.14; 17.4; 22.20;
Jer. 9,5; Sal. 9.5; 15.2; Pro. 12.19; 14.25; 22.21. A verdade precisa ser dita
como tempero do amor (Efé. 4.15). Algumas vezes, as meias verdades prejudicam
mais do que as mentiras francas. O amor, porém, guarda-nos tanto da mentira
aberta quanto das meias verdades. A mentira artística vem sendo aprovada desde
os tempos mais antigos, conforme muitos eruditos supõem. Ver o caso de Labão
(Gên. 29.21-27), e o caso um tanto anterior de Jacó (Gên. 27.6-36). Por outro
lado, a luz que brilhou por meio de Moisés por certo condenava qualquer tipo de
mentira ou abuso de linguagem. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo
Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 296: O nono mandamento
diz respeito ao nosso próprio bom nome, e ao do nosso próximo: “Não dirás falso
testemunho”, v. 16. Isto proíbe: 1. Falar falsamente sobre qualquer assunto,
com mentiras, com equívocos intencionais, e de qualquer maneira planejada para
enganar o nosso próximo. 2. Falar injustamente contra o nosso próximo, para o
prejuízo da sua reputação. E (o que envolve a culpa de ambos): 3. Dar falsos
testemunhos contra ele, acusando-o de coisas de que ele não tem conhecimento,
seja judicialmente, sob juramento (com o que são infringidos o terceiro e o
sexto mandamento, além deste). Ou extrajudicialmente, em conversação comum, caluniando,
difamando, inventando estórias, piorando o que é feito erroneamente e
tornando-o pior do que já é, e de alguma maneira empenhando-se em aumentar a
sua própria reputação sobre a ruína da do seu próximo.]
2.
Falso testemunho. O termo hebraico ed, “testemunho”, emedshaw,
literalmente “testemunho vão” (Dt 5.20), ou edshaqer, “falso testemunho” (Êx
20.16), diz respeito a uma mentira, a uma declaração conscientemente
falsificada. O termo hebraico shaw, “vão, inutilmente, à toa” (veja lição 5),
indica algo sem valor, irreal no aspecto material e moral. Aqui se trata de
alguém que fala em vão, sem fundamento, que faz acusação sem validade e sem
consistência, portanto falso. A tradução de Deuteronômio 5.20, na Septuaginta,
acrescenta “com testemunho falso”, assim: “Não testemunharás falsamente contra
o teu próximo com testemunho falso”.[Comentário: Esequias Soares. Os Dez Mandamentos.
Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag.
128-129: O nono mandamento não se restringe apenas ao aspecto jurídico, ao
perjúrio num tribunal civil ou criminal, mas se aplica também à vida diária,
como o boato e o mexerico (Êx 23.1; Lv 19.16). Estes envolvem a mentira e
trazem implicações profundas na vida humana. Deus condena tais práticas, e o ensino
bíblico sobre o assunto começa em Moisés e se estende até o Novo Testamento.
"Não admitirás falso rumor e não porás a tua mão com o ímpio, para seres
testemunha falsa" (Êx 23.1). A TB traz "Não levantarás um boato
falso"; a ARA e NTLH empregam "notícias falsas". A expressão
hebraica para "falso rumor" aqui é shêma ’ shãw ‘. O termo shêma ’,
"informação, notícia, fama, boato", é um substantivo derivado do
verbo Vtpüi (shãma ‘), "ouvir, escutar, prestar atenção, obedecer".
Essa informação, notícia ou fama pode ser boa ou ruim e diz respeito ao que se
ouve dizer (1 Rs 10.1), diferentemente de um conhecimento pessoal, de uma
experiência direta: "Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu
te vejo com os meus próprios olhos" (Jó 42.5). E o termo shãwque significa
"fraude, engano, inutilidade, inútil, imprestável, falsidade,
desonestidade, futilidade, vacuidade", aparece no terceiro mandamento (Êx
20.7; Dt 5.11) e no nono mandamento na versão de Deuteronômio (Dt 5.20). O
falso boato é a propagação de uma notícia infundada, não oficial e de fonte
desconhecida. O contexto mostra que divulgar informação enganosa é associação
com o ímpio para se tornar falsa testemunha: "E não porás a tua mão com o
ímpio, para seres testemunha falsa" (Êx 23.1b). Mesmo as coisas triviais
do dia a dia podem terminar na justiça, pois elas destroem a reputação de
qualquer pessoa.]
3. O
próximo. É a primeira vez que o termo aparece no Decálogo. O próximo, em
hebraico, rea, indica outra pessoa, vizinho, amigo, parceiro. Essa palavra se
refere aos israelitas (Lv 19.18), mas o Senhor Jesus a aplicou a todas as
pessoas em seu pronunciamento sobre o segundo e grande mandamento (Mt 22.39).
Todavia, a lei já contemplava nessa palavra os estrangeiros (Lv 19.34). Assim,
nosso próximo é qualquer pessoa ou eu mesmo, pois devo também ser um próximo,
isso está claro quando Jesus manda o judeu e doutor da lei imitar o samaritano
(Lc 10.36,37). [Comentário:
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 552: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Essa
é a Regra Áurea. Cada um deve amar o próximo como a si mesmo. Esse é o segundo
grande mandamento, de acordo com a avaliação do Novo Testamento, que só perde
em importância para o amor a Deus. Jesus citou este versículo e exaltou os
princípios em que ele está alicerçado. Ver Mar. 12.31. A lei mosaica inteira
repousa sobre esses dois princípios. A lei do amor é a primeira lei da
espiritualidade, e, de fato, a essência da espiritualidade (I Cor. 13). É fruto
da regeneração (I João 4.7). Teu próximo. De acordo com a definição rabínica,
um compatriota hebreu. Mas notemos que até este capítulo inclui o estrangeiro
(vss. 33 e 34). Jesus falou de modo que entendêssemos que próximo é qualquer
outro ser humano (Luc.10.29 ss.). Quando de Hillel foi solicitado, por um
discípulo em potencial, que dissesse a essência da lei, estando de pé sobre
somente um dos pés (em tempo breve, portanto), ele apresentou, sob forma
negativa, o conceito à nossa frente: Ό que não quiseres que outros te façam,
não faças a outros”. Mas Jesus apresentou uma versão positiva desse mesmo
princípio, em Mat. 7.12: Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam,
assim fazei-o vós também a eles”. Cf. Rom. 13.8-10.]
SÍNTESE DO TÓPICO
II
|
O falso testemunho fere ao próximo e principalmente a
Deus.
|
1.
Antigo Testamento. Verdade é aquilo que corresponde aos fatos, em
contraste com qualquer coisa enganosa, a mentira (Dt 13.14; 17.4; Is 43.9). O
termo hebraico, emet, significa “verdade, fidelidade, firmeza, veracidade”. Daí
derivam as palavras emunah, “fé, fidelidade, firmeza” (Hc 2.4), e amen, “amém,
verdadeiramente, de fato, assim seja”. É também um atributo divino: o “Deus da
verdade” (Sl 31.5). O próprio Deus é a verdade absoluta (Dt 32.4). O Deus
verdadeiro espera que seu povo também o seja, pois a ética é a imitação de Deus
(Mt 5.48; 1Co 11.1). [Comentário: CHAMPLIN,
Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora
Hagnos. pag. 593: No hebraico devemos considerar uma palavra e no grego, também
uma, a saber: 1. Emeth, “verdade”, “constância”. Esse vocábulo hebraico ocorre
por 92 vezes no Antigo Testamento. Há outras formas dessa palavra e outros
vocábulos que ocorrem por algumas poucas vezes, e que também podem ser
traduzidos como “verdade”. 2. Alétheia, “verdade”. Palavra grega que é usada
por 110 vezes. No Antigo Testamento, a palavra emeth e seus cognatos indicam as
ideias de firmeza, estabilidade, fidelidade, alguma base fidedigna de apoio. É
uma qualidade atribuída tanto a Deus quanto às criaturas. Também é atribuída
não somente às mais diversas afirmações (por exemplo, Rute 3:12), mas também à
conduta (ver Gên. 24:49) e às promessas (II Sam. 7:28). A verdade é associada
na Bíblia à gentileza (Gên. 47:29), à justiça (Nee. 9:13 e Isa. 59:14) e à
sinceridade (Jos. 24:14). Por essas razões, a Septuaginta, com frequência, a
traduz pelo termo grego pistis, “fé”, “fidelidade”, “convicção”, a fim de
expressar o aspecto moral, em vez de empregar alétheia, “verdade”.]
2.
Novo Testamento. Emprega aletheia, “verdade”, e seus
derivados. O termo vem do verbo grego, lanthano / letho, “ocultar ou encobrir
algo a alguém”. O prefixo “a” indica negação. Assim, para os gregos, aletheia
significa “não oculto, não escondido”. É aquilo que corresponde aos fatos e
permanece em oposição à falsidade (At 26.25; Rm 1.25; 9.1). Nisto se alinha com
as Escrituras hebraicas. Esta é a verdade como parte da ética. Mas as palavras
“como está a verdade em Cristo” (Ef 4.21), dizem respeito a “toda sua plenitude
e extensão, encarnada nele; Ele é a perfeita expressão da verdade” (Dicionário
Vine). Isso está de acordo com sua própria afirmação (Jo 14.6). [Comentário: CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora
Candeias. Vol. 2. pag. 523: « ...e a verdade...» Quanto a este particular,
poderíamos destacar os pontos seguintes: 1. Jesus é a verdade de Deus porque,
na qualidade de «Logos» eterno (ver João 1:1), ele é a perfeita revelação de
Deus e de sua verdade, e isso não meramente para os homens, mas também para
todos os seres criados. 2. Jesus é, especialmente, a revelação de Deus aos
homens, no que concerne à salvação deles. Sua própria pessoa representa realmente
essa verdade, porque nele, segundo os eternos conselhos divinos (ver Efé.
1:3-5), ele sempre esteve unido a Deus Pai, e o plano da redenção dessa maneira
se originou dele. Assim sendo, em sua encarnação, ele trouxe essa verdade da
redenção aos homens. Em sua ascensão, ressurreição e glorificação, ele assegura
aos remidos a mais plena participação em toda a sua glória e em sua natureza
divina. Portanto, por esses motivos ele é a verdade metafísica do homem. 3.
Jesus é a verdade do caminho pelo qual os homens devem retornar a Deus,
porquanto ele é o exemplo supremo e o ilustrador desse caminho. Essa é a
verdade envolvida em sua encarnação. Tudo quanto o homem precisa saber está
contido em sua pessoa. Jesus é a verdade ética do homem. 4. Dessa maneira, em
sua própria pessoa, Cristo Jesus combina tudo quanto os homens precisam saber,
crer e ser, tanto no que diz respeito à natureza de Deus como no que tange à
natureza e à posse da redenção e da glória eterna. 5. Jesus é a Verdade, em o
posição à religião falsa, como o judaísmo desviado e obstinado. Ele é aquela
verdade para a qual apontava a lei mosaica, e da qual o pacto do A.T. era
apenas uma sombra pálida. Ele é a materialização dá verdade espiritual, e não
meramente um profeta de Deus ou uma representação parcial polêmica cristã
contra os judeus incrédulos, que rejeitaram ao seu próprio Messias. O autor
sagrado queria que tais pessoas soubessem que tudo aquilo em que confiavam,
como uma revelação da parte de Deus, nada significava à parte da pessoa de
Jesus Cristo, posto ser ele a concretização de toda a verdade de Deus, ao passo
que Moisés, a lei e os profetas meramente apontavam para Cristo. 6. Em sua
própria essência. Cristo também é a verdade de Deus, porquanto ele mesmo é
divino, e assim nos tem mostrado qual é a natureza de Deus ou a verdadeira
forma de vida que ele possui, a qual ele está transmitindo aos homens através
de Cristo. Essa é justamente a mensagem de um trecho como Col. 2:9, onde se lê:
«...porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade...» Ou
então do trecho de Col. 1:15: «Ele é a imagem do Deus invisível...».]
3. O
que é a verdade? Foi a pergunta que Pilatos fez a Jesus, mas não
esperou pela resposta (Jo 18.37,38). Será que ele estava convencido de que não
havia resposta, ou não se interessou de modo algum pelo retorno que Jesus
poderia dar? Para os romanos, “verdade”, veritas em latim, significa “precisão,
rigor, exatidão de um relato”. Talvez Pilatos estivesse destoado do contexto. [Comentário: D. A. CARSON. O Comentário
De João. Editora Shedd Publicações. pag. 595-596: Jo 18.37 - O paralelismo
sugere que seu reino é o reino da verdade; ou, de forma mais precisa, o
exercício de seu reinado de salvação é praticamente indistinguível de seu
testemunho da verdade. Nesse contexto, a verdade é interpretada em um sentido
mais que intelectual (cf dela Potterie, 2. 624ss.); ela é apenas a
auto-revelação de Deus em seu Filho, que é a verdade (14.6). Revelar a verdade
de Deus, da salvação e do juízo, era o principal meio de fazer súditos, de
exercer seu reinado salvífico (cf. Lagrange, p. 477). De forma similar, somente
aqueles que são corretamente relacionados com Deus, com a própria verdade,
podem compreender o testemunho que Jesus fornece da verdade (cf. 3.16-21).
Todos os que são da verdade ouvem a Jesus (cf. 10.3,16,27). 38a. Se o reinado
de Jesus é indistinguível de seu testemunho da verdade, e se seus seguidores
são caracterizados por fidelidade a seu testemunho, e não pela revolução
violenta, Pilatos é forçado a reconhecer que Jesus está sendo vítima de uma
conspiração do Sinédrio. Além disso, há um convite implícito nas palavras de
Jesus. O homem no banco dos réus convida o juiz para ser seu seguidor, para
juntar-se àqueles que são “da verdade”. Jesus não é perigoso; mas ele também
pode estar irritando Pilatos. De qualquer forma, Pilatos abruptamente termina o
interrogatório com uma curta e cínica pergunta: Que é a verdade? - e com a
mesma rispidez dá as costas, seja porque ele está convencido de que não existe
uma resposta, seja porque ele não quer ouvi-la, o que é mais provável. Ele
prova, assim, que não está entre aqueles a quem o Pai deu a seu Filho (cf.
Haenchen, 2. 180).]
SÍNTESE DO TÓPICO
III
|
O Deus da Verdade exige tão somente a verdade.
|
1. As
testemunhas. Ninguém podia ser acusado por uma só
testemunha, pois a lei exige duas ou três testemunhas (Dt 19.15-20). Era a
garantia de um julgamento justo. Mas nem sempre isso era possível. Nabote foi
acusado, julgado e condenado conforme a lei, mas era inocente, pois as
testemunhas eram falsas (1Rs 21.13). O Senhor Jesus foi vítima de testemunhas
falsas (Mc 14.56), da mesma forma que Estêvão (At 6.13). Mesmo com todo o rigor
da lei, nunca faltou na história quem se dispusesse a testemunhar falsamente.[Comentário: CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos.
pag. 830: Sobre o Falso Testemunho (19.15-21) Dt 19.15 Pelo depoimento de duas
ou três testemunhas. Esse múltiplo testemunho concorria para a preservação da
justiça. A lei mosaica era severa, e por muitas vezes requeria a punição capital,
devido a crimes que na cultura moderna não seriam castigados tão severamente.
Uma testemunha falsa poderia tentar eliminar um adversário prestando um
testemunho falso: “Meu vizinho estava adorando um ídolo!”. A fim de impedir tão
ultrajante conduta, pois, foi estabelecida a lei das “duas ou mais
testemunhas”. Desse modo o perjúrio, embora não fosse eliminado de todo, pelo
menos era grandemente reduzido. Já vimos essa lei em Deu. 17.6. As notas
oferecidas ali aplicam-se também aqui. O depoimento de testemunhas precisava
ser investigado. Os juízes e os tribunais locais não deveriam aceitar
passivamente os caprichos desonestos dos homens. Juízes inquiririam as
testemunhas. E as testemunhas falsas deveriam ser executadas (Deu. 19.19). Isso
lançaria o temor no coração de todos, dificultando o pecado de perjúrio. Ό uso
veraz da língua, ao evitar a todo o transe a calúnia e a acusação falsa, é um
dos princípios centrais da ética bíblica, sendo esse pecado condenado no nono
mandamento da lei. Aqui esse princípio foi expresso em linguagem leal, para uso
nos tribunais (cf. Êxo. 23.1; Lev. 19.11-18)" (G. Ernest Wright, in ioc.).
As testemunhas não podiam prestar seu testemunho por meio de cartas, nem podiam
enviar representantes. Era mister que comparecessem pessoalmente, a fim de
serem inquiridas pelos juízes. E se houvesse 0 envolvimento de algum idioma
estrangeiro, não podia haver um intérprete entre as testemunhas e os juízes. As
testemunhas tinham de encarar os juízes. Cf. Núm. 35.30. Dt 19.16 Quando se
levantar testemunha falsa. É de presumir-se que os casos complicados fossem
submetidos à apreciação da Corte Suprema, que funcionava no santuário central,
em Jerusalém. Ver Deu. 17.18 ss.. O lugar determinado por YAHWEH como o
santuário central também abrigaria o Tribunal Superior, que julgaria os casos
mais difíceis. Israel dispunha de severas leis de retaliação, como olho por
olho e dente por dente (vs. 21), e isso precisava ser regulamentado com medidas
extremas, mediante investigação e depoimento de testemunhas oculares, para que
houvesse sempre julgamentos justos. Leis severas exigiam uma justiça estrita.
Dt 19.17 Então os dois homens. É provável que tenhamos aqui a descrição
daqueles entre os quais tivesse surgido alguma pendência, no santuário central;
mas, se um concilio local estivesse envolvido, então deveriam prevalecer as
mesmas regras de justiça. O vocábulo no singular, “juiz”, que ali aparece (vs.
9), talvez seja uma referência ao sumo sacerdote, que era o juiz supremo em
Israel. A passagem de Deuteronômio 17.8-13 aborda a Corte Suprema, e nas notas
expositivas a res- peito, dou informações acerca dos oficiais que operavam ali,
bem como dos tribunais secundários. Ver também Deu. 16.18 ss.. Nesse versículo
18 dou informações específicas sobre a estrutura dos antigos tribunais de
Israel. Homens. Mulheres não podiam servir de testemunhas. Ver Bartenora, see.
5. Esse mesmo documento antigo assevera que tanto as testemunhas quanto os
acusados tinham de dar e ouvir o testemunho estando de pé. Perante o Senhor. Assim
foi dito porque o tribunal e suas regras de ação tinham sido estabelecidos por
ordem divina. DEUS era o observador silente que acompanhava 0 processo inteiro
de justiça, e a Sua presença inspiraria os juízes a impor uma justiça estrita.
O comparecimento pessoal era uma necessidade. Ninguém podia escrever uma carta
ou enviar um seu representante. Diante dos sacerdotes e dos juízes. Dt 19.18 Os
juízes indagarão bem. Investigações criteriosas faziam parte do dever dos
tribunais, em Israel. Ninguém podia mostrar-se frívolo, nessas ocasiões. Com
frequência, a punição capital era o fim do julgamento. O Targum de Jonathan
refere a um exame e interrogatório completo das testemunhas. Ver Deu. 17.4,
quanto à expressão “indagarás bem”. Ver também Deu. 13.12-14 e 17.9. O trecho
enfatiza a questão. Não se permitia testemunho por “ouvir dizer”, em Israel. Dt
19.19 Assim exterminarás o mal do meio de ti. O próprio YAHWEH cuidaria para
que os tribunais de justiça de Seu povo não falhassem. Se alguma testemunha
falsa fosse descoberta pelas investigações, então tal indivíduo sofreria
exatamente 0 castigo que tinha esperado infligir sobre seu vizinho ou conhecido
inocente. A questão era levada “perante o Senhor” (vs. 17), porquanto era o
tribunal do Senhor e os juízes do Senhor estavam julgando o caso. Sua presença,
invisível mas real, seria garantia absoluta da justiça. O castigo poderia tomar
a forma de uma multa, de açoites, da perda de um dos membros do corpo, ou então
de execução por apedrejamento, estrangula- mento, execução na fogueira ou morte
à espada. As testemunhas falsas seriam sujeitadas a uma dessas punições, sem
importar qual delas tivesse sido planejada para o homem falsamente acusado. Dt
19.20 ... o ouçam e temam. Aqueles que sobrevivessem ao incidente (como a
família do homem que tinha cometido perjúrio), bem como a população em geral,
que ouvisse falar sobre o caso, temeriam, desencorajando o crime de perjúrio. E
embora isso não eliminasse o mal das testemunhas falsas, essa prática odiosa
ficaria grandemente reduzida.]
2. Os
danos. A violação do nono mandamento é um atentado contra a honra e pode
destruir a reputação e o bom nome que alguém levou uma vida inteira para
construir. Seus efeitos maléficos podem ainda levar a pessoa à morte ou à
prisão, destruir casamentos e arruinar famílias. É um pecado grave do qual
muitos ainda não se deram conta. A pena contra a falsa testemunha em Israel era
a morte; tal pessoa receberá o mesmo que ela tentou fazer ao seu próximo: “será
condenado, e o castigo dele será o mesmo que ele queria para o outro” (Dt
19.19, NTLH). Será aplicada a lei de talião (Êx 21.23-25). [Comentário: HENRY. Matthew.
Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora
CPAD. pag. 300: O cuidado particular que a lei teve com as mulheres grávidas,
para que nenhum mal lhes fosse feito que pudesse provocar o seu aborto. A lei da
natureza nos obriga a sermos muito ternos neste caso, para que a árvore e o
fruto não sejam destruídos ao mesmo tempo, vv. 22,23. As mulheres grávidas, que
desta maneira são tomadas sob a proteção especial da lei de Deus, se viverem no
temor a Ele, podem, ainda, crer estar sob a proteção especial da providência de
Deus, e ter esperança de que serão salvas ao darem à luz. Nesta ocasião, é
introduzida aquela lei geral de retaliação à qual o nosso Salvador se refere em
Mateus 5.38: “Olho por olho”. Bem: 1. A execução desta lei não é, com isto,
deixada nas mãos de pessoas individualmente, como se todo homem pudesse
vingar-se, pois isto causaria confusão universal e tornaria os homens como os
peixes do mar. A tradição dos anciãos parece ter colocado este disfarce corrupto
sobre a lei, e em oposição a isto o nosso Salvador nos ordena que perdoemos as
ofensas e não pensemos em vingança, Mateus 5.39. 2. Deus frequentemente realiza
a vingança no decorrer da sua providência, tornando a punição, em muitos casos,
uma resposta ao pecado, como visto em Juízes 1.7; Isaías 33.1; Habacuque 2.13;
Mateus 26.52. 3. Os magistrados devem ter em mente esta regra ao punir os
criminosos, e fazer justiça àqueles que são ofendidos. Deve-se considerar a
natureza, a qualidade e o grau do mal que é feito, para que possa haver
reparação à parte ofendida, e outros se contenham para não fazer nada
semelhante. Ou olho por olho, ou o olho ferido será redimido por uma soma de
dinheiro. Observe que aquele que causa o dano deve esperar, de uma maneira ou
de outra, uma recompensa de acordo com o dano que causar, Colossenses 3.25. As
vezes, Deus faz com que as obras violentas dos homens caiam sobre as suas
próprias cabeças (SI 7.16). E os magistrados, quanto a isto, são os ministros
da justiça, pois são vingadores (Rm 13.4) e não trazem debalde a espada.]
3. O
pecado da mentira. Quem já viu um irmão ser disciplinado ou
cortado da comunhão da Igreja pelo pecado de mentira? A Bíblia trata o assunto
com seriedade, pois quem se converteu a Cristo precisa deixar a mentira e falar
a verdade (Ef 4.25; Cl 3.9). Os mentirosos constam da lista dos incrédulos,
homicidas, fornicadores, feiticeiros, idólatras, dentre outros (Ap 21.8;
22.15). Na graça, o tema é tratado com profundidade implicando a vida eterna, e
não envolvendo tribunais como no sistema mosaico. É desejo, portanto, de todo
cristão se parecer com Jesus e é isso o que Deus espera de todos nós (1Pe
1.15,16). [Comentário: CHAMPLIN,
Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 4. Editora Hagnos.
pag. 228-229: 1. Definições Básicas - Temos preparado um longo artigo sobre os
Vícios, onde é comentado o vício da mentira. Mentir é fazer declarações
propositalmente falsas, meias verdades que envolvem falsas impressões. Um
exagero proposital é um tipo de mentira, como também o é uma declaração parcial
proposital. Até mesmo as verdades proferidas com o intuito de enganar, naquilo
em que visam iludir, não passam de mentiras. Entretanto, as histórias de
ficção, escritas ou filmadas, embora não correspondam à realidade, não são
mentiras, visto que não se propõem a narrar fatos, mas tão-somente simbolizam
fatos e ideias. 2. Palavras Bíblicas Envolvidas - No hebraico encontramos
kazab, palavra usada por vinte e nove vezes, conforme se vê, por exemplo em Juí.
16:10,13; Sal. 40:4; Pro. 6:19; 14:5,25; 19:5,9; Isa. 28:15,17; Eze. 13:8,9,19;
Dan. 11:27; Osé. 12:1; Amós 2:4; Sof. 3:13. Também encontramos sheqer, que
aparece no Antigo Testamento por cerca de quarenta e três vezes com o sentido
de «falsidade», «mentira», («mentiroso», etc., segundo se vê, para
exemplificar, em Jó 13:4; Sal. 63:11; 119:69; Isa. 9:15; 59:3; Jer. 9:3,5;
14:14; 29:21,31; Eze. 13:22; Miq. 6:12; Hab. 2:18; Zac. 10:2 e 13:3. Ambas as
palavras podem indicar «engano», «mentira». Outras palavras hebraicas bem menos
usadas sãoakzab (Miq. 1:14), bad, «artifício» (Jó 11:3; Isa. 16:6; Jer. 48:30);
kachash, «fingimento» (Osé. 7:3; 10:13; 11:12; Naum 3:1); dabar, «palavra de
falsidade» (Pro. 29:12). No grego encontramos pseüdos, «mentira» «falsidade»,
palavra empregada no Novo Testamento por sete vezes: João 8:44; Rom. 1:25; II
Tes. 2:11; I João 2:21,27; Apo. 21:27; 22:15. E também pseúsma, «falsidade», em
Rom. 3:7. 3. Usos Bíblicos - Os homens mentem, principalmente, a fim de
enganar. Essa palavra é usada nas Escrituras para indicar as declarações falsas
dos homens acerca de DEUS e das realidades espirituais (Jer. 14:14; Eze. 13:9;
Rom. 1:25). A verdade divina é reduzida a uma mentira, pelas ideias e
declarações dos homens. As mentiras dos homens pervertem, portanto, a verdade
dita por Deus. Toda mentira cria uma falsa certeza (Isa. 28:15). Os resultados
da mentira são o erro e a ilusão (Jer. 23:32). Os padrões morais são solapados
pelas mentiras (Rom. 1:26 ss). Deus não pode mentir, mas precisa julgar (I Sam.
15:29; Tito 1:2). Por isso, a mentira nunca é atribuída a Deus, mas é atribuída
aos homens, como quando prestam falso testemunho (Pro. 6:19). O ato de mentir
era proibido pela lei mosaica (Exo. 20:16; Lev. 19:11). Os crentes deveriam
reconhecer que o ato de mentir é próprio da vida velha, na incredulidade,
devendo ser rejeitado pelo crente como uma roupa indesejável, segundo se vê em
Col. 3:9; «Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem
com os seus feitos». O trecho de João 8:44 apresenta Satanás como o pai da
mentira. Os trechos de Apo. 21:27 e 22:15 mostram que os mentirosos habituais
(que o fazem devido à sua natureza corrompida e não regenerada), ficam
impedidos da salvação e do lar celestial. 4. Discussões Filosóficas - Será
errada a mentira, em todos os casos? Alguns filósofos asseveram que há ocasiões
em que mentir é melhor do que dizer a verdade. Um meu professor de filosofia
deu um exemplo em classe, baseado na vida real, ocorrido durante a Segunda
Guerra Mundial. Ele falou sobre um sacerdote católico romano que se viu
envolvido no movimento de resistência subterrânea de um pai» debaixo do poder
militar dos nazistas. Vidas dependiam dele. Quando foi apanhado, ele confessou,
e não mentiu, dizendo aos alemães que, de fato, fazia parte daquele movimento.
O resultado foi desastroso. Também poderíamos pensar no caso dos pacientes
terminais. Tais pacientes devem ficar sabendo da verdade, ou, pelo menos em
alguns casos, é melhor enganar o doente? Há pessoas que simplesmente querem
saber seu estado, e a essas deveríamos dizer a verdade. Mas há outras que,
segundo os médicos e seus familiares julgam, sentir-se-iam menos premidas se a
verdade não lhes fosse revelada, pois assim enfrentariam a morte mais
tranquilamente. Isso posto, em tais casos, seria melhor mentir a um paciente
terminal. Se esses casos são exemplos de exceções válidas à regra contra a
mentira, então podemos afirmar que, algumas vezes, a lei do amor é melhor
servida por um engano (intenção é aliviar o sofrimento), do que se dizendo a
verdade chocante e brutal.]
SÍNTESE DO TÓPICO
IV
|
O cristão verdadeiro não coaduna com a fofoca ou
mentira.
|
Deus se
interessa pelo bem-estar de todos os seus filhos e filhas. O desrespeito pelo
próximo afronta a Deus. O Senhor Jesus nos ensinou a tratar as pessoas da mesma
maneira que gostaríamos de ser tratados (Mt 7.12). Que Deus nos ajude e nos
guarde para que possamos viver uma vida irrepreensível. [Comentário: O amor é aclamado como qualidade
suprema da vida cristã; mas Paulo, ao dizer isso sobre a fé, a esperança e o
amor, afirma que a maior delas é o amor, o qual deve ser sem hipocrisia (Rm
12.9). O amor sem genuinidade é pior que não ter amor algum. A honestidade é a
essência da coragem moral, conforme ficou demonstrado na vida de Jesus. Uma
mentira inocente poderia tê-lo salvado da cruz, mas ele não a quis proferir,
apesar de sua vida estar em perigo. Os primeiros cristãos deixaram profunda
impressão sobre seus contemporâneos, não meramente por causa do amor que
exemplificavam «Vede como esses cristãos se amam uns aos outros», mas muito
mais pela integridade de suas vidas (Tg 5.12)]. “NaquEle
que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de
vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.
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