LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Êxodo 20.8-11;
31.12-17
Êxodo 20:8-11
8. Lembra-te do dia
do sábado, para o santificar.
9. Seis dias
trabalharás e farás toda a tua obra.
10. Mas o sétimo dia
é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho,
nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu
estrangeiro, que está dentro das tuas portas.
11. Porque em seis
dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia
descansou; portanto abençoou o SENHOR o dia do sábado e o santificou.
Êxodo 21:12-17
12 Falou mais o
SENHOR a Moisés, dizendo:
13 Tu, pois, fala
aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis meus sábados; porquanto
isso é um sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu
sou o SENHOR, que vos santifica.
14 Portanto
guardareis o sábado, porque santo é para vós; aquele que o profanar certamente
morrerá; porque qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será extirpada
do meio do seu povo.
15 Seis dias se fará
obra, porém o sétimo dia é o sábado do descanso, santo ao SENHOR; qualquer que
no dia do sábado fizer algum trabalho, certamente morrerá.
16 Guardarão, pois,
o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas suas gerações por concerto
perpétuo.
17 Entre mim e os
filhos de Israel será um sinal para sempre; porque em seis dias fez o SENHOR os
céus e a terra, e ao sétimo dia descansou, e restaurou-se.
OBJETIVO GERAL
Compreender
o significado do sábado para os cristãos.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Após
esta aula, o aluno deverá estar apto a:
I. Analisar o
conceito do sábado.
II. Considerar a forma da instituição do sábado.
III. Explicar os aspectos legais e cerimoniais do sábado.
IV. Destacar o preceito cerimonial.
V. Apresentar Jesus como o Senhor do Sábado.
SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Desde os
tempos antigos o ser humano está voltado à ação, e nesses últimos tempos, no
contexto da modernidade, o espaço predomina sobre o tempo. Por isso, a mensagem
do quarto mandamento continua atual, a fim de diminuir o ativismo, e desperta o
homem para o descanso. Na aula de hoje meditaremos a esse respeito, antes
faremos uma incursão teológica sobre o shabat bíblico, após discorrer sobre a
opção cristã pelo domingo, faremos uma aplicação sobre a importância do
descanso.
I. O SHABAT
O shabat
bíblico é sinônimo de descanso, por isso, ao invés de ser traduzido para
sábado, como acontece em algumas línguas, há quem prefira a permanência do
termo hebraico. Existiam vários shabat a serem observados pelo povo judeus, o
shabat semanal (Ex. 16.23), o Dia da Expiação (Lv. 16.31; 23.32), o primeiro
dia da Festa das Trombetas (Lv. 23.24), o primeiro e o oitavo dias da Festa dos
Tabernáculos (Lv. 23.39) e o ano sabático (Lv. 25.4,5). Essa orientação
bíblica, que também era um mandamento de Yahweh, revelava que Deus tem
consideração tanto pelo trabalho quanto pelo descanso (Ex. 20.11). O fundamento
para a observância do shabat está no próprio Deus, que após ter trabalhado,
descansou no sétimo dia (Gn. 2.1-3). O povo de Israel deveria separar, guardar
ou santificar (hb. qadash) o shabat para o Senhor como lembrança de que foram
escravos no Egito, e que foram libertados pela mão poderosa de Yahweh (Dt.
5.15). Eles foram libertos da tirania da opressão, agora poderiam parar para
descansar, e usufruir a providência de Deus. Essa também era uma demonstração
de confiança no Senhor, de que o essencial não lhes faltaria, e que poderiam
aprender a depender dEle. A observância ao shabat era um sinal específico para
Israel, exclusivo para aquela nação, um testemunho para os povos (Ex. 31.13-17;
Ez. 20.12,20). Jesus reinterpretou a observância ao Shabat, isso porque os
religiosos da sua época, ao invés de o desfrutarem, transformaram em mero
legalismo, deturpando a essência da instrução dada pelo Senhor (Mc. 6.31). Mas o
próprio Jesus considerou o shabat, Ele mesmo se dirigiu nesse dia à sinagoga
(Lc. 4.16).
II. SÁBADO OU DOMINGO?
No Novo Testamento a palavra é
sabaton, com o mesmo sentido de descanso da língua hebraica. Os primeiros
cristãos, por se tratarem de judeus, mantinham a observância do shabat (At
13.5, 14; 42-44; 14.1; 16.13; 17.12,16; 18.4; 19.8). Mas seguindo as instruções
de Jesus, os primeiros cristãos, diferentemente dos religiosos da época, não
eram legalistas em relação a esse dia (Mt. 12.9-14; Mc. 3.1-6; Lc. 6.6-11). O
princípio deixado pelo Mestre foi o de que é sempre bom fazer o bem no shabat
(Mc. 2.27,28). Existe uma controvérsia entre os cristãos a respeito da guarda
desse dia, alguns defendem sua permanência, outros optam pelo domingo. Essa
opção está fundamentada no tratamento dado por Cristo ao shabat, bem como pelos
cristãos ao longo da história. Jesus deixou claro que o sábado foi estabelecido
por causa do homem, e não o homem por causa do sábado (Mc. 2.27,28). Isso quer
dizer que não estamos mais presos à guarda de um dia específico da semana,
contanto que o façamos para o Senhor (Rm. 14.5,6). A igreja cristã optou pelo
domingo porque Jesus ressuscitou nesse dia (Mc. 16.9), foi o dia em que Ele se
manifestou ressurreto (Lc. 24.13-36; Jo. 20.13-26). O Espírito Santo também foi
derramando sobre a igreja em um domingo de Pentecoste (Lc. 23.15-21; At.
2.1-4). Esse era o dia no qual os primeiros crentes se reunião para celebrar a
Ceia do Senhor, pregar e coletar ofertas (At. 20.7; I Co. 16.1,2). Há
evidências históricas que comprovam a observância do domingo, e não do sábado
pelos cristãos. Para Justino Martir, um dos pais da igreja, “o domingo é o dia
em que todos temos nossa reunião comum, porque é o primeiro dia da semana, e
Jesus Cristo, nosso Salvador, neste mesmo dia ressuscitou da morte”. De modo
que, conforme explicitou Paulo: “ninguém, pois, vos julgue por causa de comida
e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábado, porque tudo isso em sido
sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo” (Cl. 2.16-19).
III. O PRINCÍPIO PERMANECE
Ainda que não
estejamos mais presos à guarda de um dia da semana, seja ele o sábado e/ou
domingo, o princípio do shabat bíblico permanece. Nas palavras da Confissão de
Fé de Westminster, santificar o shabat é “um preceito positivo, moral e
perpétuo”. Tomando os devidos cuidados, e evitando legalismos, é necessário
considerar o princípio do descanso. Não podemos esquecer que o shabat “foi
feito por causa do homem” (Mc. 2.27). Isso que dizer que precisamos dele,
nenhum homem é uma máquina, carecemos de descanso. A era da industrialização
transformou o trabalho em tirania, e nesses últimos anos, por causa do
consumismo desenfreado, muitas pessoas querem ter cada vez mais, e valorizam o
tempo cada vez menos. O homem moderno está obcecado por espaço, quer conquistar
tudo o que for possível, esquecendo-se que o tempo é muito mais importante.
Como estabeleceu o Senhor: “seis dias trabalharás e farás toda a sua obra” (Ex.
10.9), mas é preciso santificar ou separar o shabat, o descanso necessário para
a alma e para o corpo. Ninguém deve ser escravo do trabalho, fomos libertados
da angústia da ansiedade. Devemos trabalhar para ter o suficiente, e com isso
vivermos contentes, é preciso ter cuidado para não se tornar escravo da
ganância (I Tm. 6.6-8). Ao invés do nos deixar conduzir pelo espírito desta
era, que nos lança na tirania do consumo, e nos conduz à preocupação, devemos
aprender a confiar mais em Deus (Mt. 6.31-34). Em Cristo, temos agora um
descanso, Ele é o nosso shabat, por causa do trabalho dEle, podemos agora
descansar (Hb. 4.9,10).
CONCLUSÃO
Há quem
diga que não devemos parar para descansar, existem até os que citam as
Escrituras indevidamente (Mq. 2.10). Mas o texto precisa ser compreendido em
seu contexto, de fato não podemos descansar no momento que devemos agir, mas
isso não significa que devemos nos entregar ao ativismo. É necessário
reconhecer que tudo tem o seu tempo determinado, e que há tempo para todo
propósito debaixo do céu, inclusive para o descanso (Ec. 3.1).
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
As
controvérsias deste mandamento giram em torno da sua interpretação. Temos aqui
a relação trabalho-repouso e ao mesmo tempo o relacionamento de Deus com
Israel. A necessidade de um dia de repouso após seis jornadas de trabalho é
universal, mas o sábado é um presente de Deus para Israel. O mandamento de
santificar o sábado é mais bem compreendido quando se conhece o propósito pelo
qual ele foi dado. [Comentário: Foi
dito na primeira lição que as tábuas da Lei possuem 4 mandamentos em uma tábua
e 6 em outra e que os quatro primeiros se referem ao relacionamento do homem
com Deus, e os outros seis dizem respeito ao relacionamento com nossos
semelhantes. O quarto mandamento se coloca, em termos de relacionamento vertical
e horizontal, nos dois planos, é uma ponte que liga os mandamentos teológicos
com os mandamentos éticos. Ele possui caráter social e humanitário e também
função religiosa. Muitas são as controvérsias em torno deste mandamento, e
todas se referem à sua interpretação. O Pr Esequias Soares, comentarista deste
trimestre, informa o seguinte a esse respeito: “O que acontece é que existe
o sábado institucional e o sábado legal, e quem não consegue separar estas duas
instituições terminam radicalizando indo aos extremos. Esse é o principal
problema dos sabatistas da atualidade, como os adventistas do sétimo dia. Todos
os mandamentos do Decálogo dependem de definições e de como aplicá-los na vida
diária, e essas instruções são dadas no próprio sistema mosaico. Mas as
definições nem sempre são conclusivas. Por exemplo, o que a Bíblia define como
trabalho?” Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para
uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 61-62. O quarto
mandamento será melhor entendido quando analisarmos o propósito para o qual ele
foi dado.] Convido você para mergulharmos mais fundo
nas Escrituras!
I. O SÁBADO DA CRIAÇÃO
1. O
shabat. Deus celebrou o sétimo dia após a criação e abençoou este dia e o
santificou (Gn 2.2,3). Aqui está a base do sábado institucional e do sábado
legal. O sábado legal não foi instituído aqui; isso só aconteceu com a
promulgação da lei. O substantivo shabbat, "sábado", não aparece
aqui, na criação. Surge pela primeira vez no evento do maná (Êx 16.22, 23). A Septuaginta
emprega a palavra sabbaton, "sábado, semana", a mesma usada no Novo
Testamento grego. [Comentário:
Shabat (hebraico שבת, shabāt, "descanso/inatividade"), é o
nome dado ao dia de descanso semanal no judaísmo, simbolizando o sétimo dia em
Gênesis, após os seis dias de Criação. A palavra hebraica שבת, shabāt,
tem relação com o verbo שבת, shavāt, que significa "cessar",
"parar". Apesar de ser vista quase universalmente como
"descanso" ou um "período de descanso", uma tradução mais
literal seria "cessação", com a implicação de "parar o
trabalho". Portanto, Shabat é o dia de cessação do trabalho; enquanto que
descanso é implícito, mas não é uma denotação da palavra em si. O Pr Esequias
Soares, em obra já citada anteriormente, sobre o sábado, diz o seguinte: “O
sábado e a semana tiveram a sua origem em Deus. A divisão hebdomadária (adj.
Semanal; que se realiza, acontece ou surge a cada semana; que se refere à
semana, observação nossa.)do tempo aparece desde os dias pré-diluvianos e no
período patriarcal (Gn 7.4, 10, 12; 29.27, 28). Mas a semana na Mesopotâmia
seguia as fases da lua, por isso nem sempre o sábado coincidia com o sétimo
dia. A semana dos egípcios era de dez dias. Aqui está a base do sábado
institucional e do sábado legal.” Esequias Soares. Os Dez Mandamentos.
Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag.
61-62.. O sentido de Shabat aqui é cessar, logo é sinonimo de
cessar de criar indicando a obra concluída e não um período de ociosidade, pois
segundo se infere dos textos de Is 40.28 e Jo 5.17, Deus não descansa, Ele
continua ativo sustentando todas as coisas (Hb 1.3)]
2.
Deus concluiu a criação no dia sétimo. Deus completou a sua obra da
criação no sétimo dia. Deus "descansou" ou seja, cessou, é o
significado do verbo hebraico usado aqui, shabat, "cessar, desistir,
descansar" (Gn 8.22; Jó 32.1; Ez 16.41). Esse descanso é sinônimo de cessar
de criar, e indica a obra concluída. Não se trata de ociosidade, pois Deus não
para e nem se cansa (Is 40.28; Jo 5.17). [Comentário: Dada a explicação do subtópico anterior,
acrescento que Jesus também assentou-se à destra de Deus depois de concluir a
obra da redenção (Hb 8.1; 10.12). Ainda na obra suprareferenciada, do Pr
Esequias Soares, ele afirma que “A expressão ‘acabado no sétimo dia’ parece
indicar que houve mais alguma atividade de Deus na criação nesse dia. É o que
pensam muitos expositores da atualidade. Deus terminou a sua obra no dia sexto
– segundo a Septuaginta e o Pentateuco Samaritano”.]
3. A
bênção de Deus sobre o sétimo dia. Ele abençoou e santificou o
sétimo dia como um repouso contínuo, na dispensação da inocência, mas isso foi
interrompido por causa do pecado. Agostinho de Hipona lembra que não houve
tarde no dia sétimo, e afirma que Deus o santificou para que esse dia
permanecesse para sempre (Confissões, Livro XIII, 36). O sábado da criação
aponta para o descanso de Deus ao mundo inteiro no fim dos tempos:
"Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus" (Hb 4.9). [Comentário: “Deus abençoou e
santificou o sétimo dia como um repouso contínuo, a dispensação da inocência,
interrompido por causa do pecado. Agostinho de Hipona lembra que não houve
tarde no dia sétimo, pois Deus o santificou para que ele permanecesse para
sempre: "Ora o sétimo dia não tem crepúsculo. Não possui ocaso porque Vós
o santificastes para permanecer eternamente" [Confissões, Livro XIII.36).
Adão e Eva viveram esse repouso durante a inocência até a Queda: "Foi o
princípio e o tipo de repouso ao que a criação, depois que caiu da comunhão com
Deus pelo pecado do homem, recebeu a promessa de que uma vez mais seria
restaurada pela redenção, em sua consumação final" (KEIL & DELITZSCH,
tomo 1, 2008, p. 41). O sábado da criação aponta para o descanso de Deus para o
mundo inteiro no fim dos tempos: "Portanto, resta ainda um repouso para o
povo de Deus" (Hb 4.9). O sábado legal não foi instituído aqui. Isso só
aconteceu com a promulgação da lei. O sétimo dia é o fundamento da guarda do
sábado dada aos israelitas, visto que este dia foi santificado desde o
princípio do mundo. O sábado institucional é para toda a humanidade e por isso
Deus o santificou antes de estabelecê-lo como mandamento para Israel. "A
santificação do sábado institui uma ordem para a humanidade segundo a qual o
tempo é dividido em tempo e tempo sagrado... Por santificar o sétimo dia, Deus
instituiu uma polaridade entre o dia a dia e o solene, entre dias de trabalho e
dias de descanso, a qual deveria ser determinante para a existência
humana" (WESTERMANN, 1994, p. 171). O sábado institucional não é
necessariamente o sétimo dia da semana, mas um a cada seis dias”. Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante
Mudança. Editora CPAD. pag. 65-66.]
SÍNTESE DO TÓPICO I
A base institucional e legal do sábado foi a celebração de Deus no
sétimo dia, após a criação. O Criador abençoou e santificou esse dia.
.
II. O SÁBADO INSTITUCIONAL
1.
Desde a criação. É o sábado para descanso de todos os povos. É uma
questão moral que Deus estabeleceu para a raça humana ao comemorar a criação.
Tornou modelo e uma forma natural para toda a raça humana. É a ordem natural
das coisas: os campos precisam de repouso, as máquinas necessitam parar para
manutenção e assim por diante (Lv 25.4). O sábado institucional, portanto, não
se refere ao sétimo dia da semana; pode ser qualquer dia ou um período de
descanso (Hb 4.8). [Comentário:
Solano Portela escreve em seu artigo ‘O Quarto Mandamento’, o seguinte: “Em
nossas bíblias o quarto mandamento está redigido assim – "Lembra-te do dia
de sábado para o santificar...". A palavra que foi traduzida
"sábado", é a palavra hebraica shabat, que quer dizer descanso. É
correto, portanto, entendermos o mandamento como "... lembra-te do dia de
descanso para o santificar". Esse "dia de descanso" era o sétimo
dia no Antigo Testamento, ou seja, o nosso "sábado". No Novo
Testamento, logo na igreja primitiva, vemos o dia de ressurreição de Cristo
marcando o dia de adoração e descanso. Isso é: o domingo passa a ser o nosso
"dia de descanso". Os apóstolos acataram esse dia como apropriado à
celebração da vitória de Jesus sobre a morte (At 20.7; 1 Co 16.2; Ap 1.10). A
igreja fiel tem entendido a questão da mesma maneira, ou seja: não é a
especificação "do sétimo", que está envolvida no mandamento, mas o
princípio do descanso e santificação” Presbítero da Igreja
Presbiteriana do Brasil, membro da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro-SP.
http://www.monergismo.com/textos/dez_mandamentos/quarto_solano.htm.]
2.
Não era mandamento. O sétimo dia da criação não era mandamento, mas
revela a necessidade natural do descanso de toda a natureza. O repouso noturno
de cada dia não é suficiente para isso. Deus abençoou e santificou esse dia não
somente para comemorar a obra da criação mas para que, nesse dia, todos cessem
o trabalho e assim descansem física e mentalmente para oferecer o seu culto de
adoração a Deus. [Comentário:
O Pr Esequias Soares comenta o seguinte: “O sétimo dia da criação não era
mandamento, mas revela a necessidade natural do descanso de toda natureza,
homem, animal, máquina, agricultura. O repouso noturno de cada dia não é
suficiente para isso. Deus abençoou e santificou esse dia não somente para
comemorar a obra da criação, mas para que nesse dia todos cessem o trabalho
tendo em vista o descanso físico e mental e também o culto de adoração a Deus.
É importante que todos os seres humanos possam refletir que o universo foi
criado por um Deus pessoal, Todo-poderoso, sábio e transcendente, que planejou
todas as coisas que foram criadas. Parece que esse dia foi logo esquecido pelo
gênero humano, mas há resquício dele em muitos povos da antiguidade.” Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante
Mudança. Editora CPAD. pag. 63-65.]
3. Os
patriarcas não guardaram o sábado. O livro de Gênesis não menciona
os patriarcas* Abraão, Isaque e Jacó observando o sábado. Segundo Justino, o Mártir,
Abraão e seus descentes até o Sinai agradaram a Deus sem o sábado (Diálogo com
Trifão 19.5). Irineu de Lião diz que Abraão, "sem circuncisão e sem
observância do sábado, 'acreditou em Deus e lhe foi imputado a justiça e foi
chamado amigo de Deus'" (Contra as Heresias, Livro IV, 16.2). [Comentário: O apóstolo Paulo,
judeu, doutor da Lei e guardador do sábado, em Gálatas 3.17, escreve que
a Lei só veio 430 anos (depois de Abraão), sendo assim, o sábado só passou a
ser instruído e guardado pelos hebreus após a saída do Egito e isso pode ser
conferido a partir do capítulo 16 de Êxodo que mostra claramente as primeiras
instruções sobre o dia judaico.]
SÍNTESE DO TÓPICO II
O sábado institucional se refere à necessidade de um período de descanso
para a Criação e para o homem.
III. O SÁBADO LEGAL
1.
Significado. É o sétimo dia da semana no calendário judaico,
marcado para repouso e adoração. Foi introduzido no mundo pela lei; é o sábado
legal dado aos israelitas no Sinai. Nenhum outro povo na história recebeu a
ordem para guardar esse dia; é exclusividade de Israel (Êx 31.13, 17). O sábado
e a circuncisão são os dois sinais distintivos do povo judeu ao longo dos
séculos (Gn 17.11). [Comentário:
O sábado legal é exclusividade dos israelitas e nenhum povo da terra recebeu
tal responsabilidade, nem mesmo a Igreja (Êx 31.13- 17). A adoração no
tabemáculo acontecia semanalmente e isso justifica a instrução da lei do sábado
na presente seção que aborda a ordem do culto e demais serviços no tabemáculo.
O tema do sábado havia sido tratado por ocasião do maná (Êx 16.23-30) e no
quarto mandamento (Êx 20.8-11); no entanto, Javé retoma o assunto aqui para que
o presente preceito seja observado de maneira apropriada. A observância do
sábado legal é perpétua, sob pena de morte para quem violar (vv. 14-6) e isso
por se tratar de um sinal entre Javé e Israel (Êx 31.13, 17). Não é mandamento
para todos os povos nem para a Igreja. É o segundo sinal para os israelitas,
que já tinham a circuncisão como primeiro sinal desse concerto (Gn 17.10-14).
Ao longo dos séculos, os judeus trataram esses dois preceitos com a mesma
atenção. O Decálogo registrado em Deuteronômio apresenta o sábado como memorial
da saída dos israelitas do Egito: "Porque te lembrarás que foste servo na
terra do Egito e que o SENHOR, teu Deus, te tirou dali com mão forte e braço
estendido; pelo que o SENHOR, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de
sábado" (Dt 5.15). O sábado legal é mandamento exclusivo para o povo de
Israel. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma
Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 68-69.]
2. O
sábado do Decálogo. A expressão "Lembra-te do dia do sábado, para
o santificar" (Êx 20.8), remete a uma reminiscência histórica e, sem
dúvida alguma, Israel já conhecia o sábado nessa ocasião. Mas parece não ser
referência ao sábado da criação. Ele aparece na promulgação da lei (Êx 20.11),
contudo, essa reminiscência não reaparece em Deuteronômio (Dt 5.12-15).
Trata-se, com certeza, do sábado que o povo não levou a sério no deserto (Êx
16.22-29). [Comentário:
O quarto mandamento é o mais longo do Decálogo e difere dos três primeiros,
cuja formulação é negativa. O versículo 8 introduz o mandamento positivo que
impõe a obrigação de santificar o sábado, e o versículo 9 fala sobre a
obrigação de trabalhar seis dias. Isso se repete no sistema mosaico (Êx23.12;
31.13-17; 34.21; Lv 23.3), mas aqui aparece também a formulação negativa.
Quando Moisés no seu discurso em Deuteronômio repete o Decálogo substitui o
verbo hebraico usado para "lembrar" zãchor, "recordar,
lembrar", por outro, "guardar", shãmôr,72 "guardar, cuidar,
vigiar", quando diz: "Guarda o dia de sábado" (Dt 5.12). Os dois
verbos estão no infinitivo absoluto, que tem função de um forte imperativo,
bastante comum em leis e mais próximo de um futuro cominatório, ameaçador. O
propósito do uso deste verbo "lembrar" aqui em Êxodo é manter o
sábado como dia santo. Isso mostra que o povo já conhecia esse dia, mas parece
que a sua observância não era levada a sério antes da revelação do Sinai. As
palavras "como te ordenou o SENHOR, teu Deus" (Dt 5.12b) não aparecem
em Êxodo e são uma referência ao Sinai, quando a lei foi promulgada, visto que
Moisés está relatando um fato acontecido no passado. Fica evidente que houve um
sábado antes da promulgação da lei. Muitos acreditam que o verbo
"lembrar" se refere ao relato do maná no deserto (Êx 16.22-30). Isto
fica claro pelo fato de que "a maneira incidental em que a matéria é
introduzida e a repreensão do Senhor pela desobediência do povo sugerem que o
sábado já era previamente conhecido" (TENNEY, vol. 5, 2008, p. 267). No
entanto, segundo o rabino Benno Jacob, "lembrar" aqui não tem
conotação de "não esquecer", como aconteceu com o evento do maná, mas
de um "memorial do passado para estabelecer um relacionamento especial
para o futuro" (1992, p. 563). Esequias Soares. Os Dez Mandamentos.
Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 67]
3.
Propósito. A instituição do sábado legal no Decálogo tinha um
propósito duplo: social e espiritual. Cessar os trabalhos a cada seis dias de
labor era dar descanso aos seres humanos e aos animais e dedicar um dia para
adoração a Deus. É um memorial da libertação do Egito (Dt 5.15). Duas vezes é
dito que o sábado é um sinal distintivo entre Deus e a nação de Israel (Êx 31.13,17). [Comentário: A instituição do
sábado legal no Decálogo tinha o propósito duplo, social e espiritual, de
cessar os trabalhos a cada seis dias de labor para dar descanso aos seres
humanos e aos animais e dedicar um dia inteiro para adoração a Deus: 8
Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. 9 Seis dias trabalharás e farás
toda a tua obra, 10 mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás
nenhuma obra, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a
tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas
portas. 11 Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que
neles há e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o SENHOR o dia do sábado
e o santificou (Êx 20.8-11). Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores
Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 66.]
SÍNTESE DO TÓPICO III
O sábado legal é um dia de descanso, introduzido na cultura do povo
judeu por meio da Lei.
IV. UM PRECEITO CERIMONIAL
1. O
sacerdote no Templo. O Senhor Jesus Cristo disse mais de uma vez que a
guarda do sábado é um preceito cerimonial. Ele colocou o quarto mandamento na
mesma categoria dos pães da proposição (Mt 12.2-4). Veja ainda a que Jesus se
referia quando falou a respeito desse ritual mencionado em Êxodo 29.33,
Levítico 22.10 e 1 Samuel 21.6. Disse igualmente que "os sacerdotes no
templo violam o sábado e ficam sem culpa" (Mt 12.5), ao passo que não
existe concessão para preceitos morais. [Comentário: A oposição crescente ao ministério
de Jesus pelos líderes religiosos encontra sua expressão total na observância
do sábado, a instituição mais sagrada entre os judeus. Em Mt 12.3, Jesus apoia
a ação de seus discípulos através de seu apelo ao exemplo de Deus (1Sm 21.1-6),
verificando que as regulamentações normais do sábado podem precisar render-se
às necessidades humanas. A necessidade humana tem precedência em uma rigorosa
interpretação da Lei, que deixa escapar seu propósito mais amplo. Jesus
reivindica sua divindade em Mt 12.6-8, logo, como Senhor do sábado, ele poderia
fazer o que bem entendesse com o mesmo!]
2. A
circuncisão no sábado. Se o oitavo dia da circuncisão do menino coincidir
com um sábado, ela tem que ser feita no sábado, nem antes e nem depois. Assim,
Jesus mais uma vez declara o quarto mandamento como preceito cerimonial e
coloca a circuncisão acima do sábado (Jo 7.22,23 cf. Lv 12.3). Um mandamento
moral é obrigatório por sua própria natureza. [Comentário: O Centro Apologético
Cristão de Pesquisas, citando a Bíblia Apologética, escreve sobre João –
7.21-24: “Frequentemente Jesus enfrentava polêmica com os judeus por causa
do sábado. Os judeus eram ferrenhos guardadores do sábado e sempre estavam
discutindo com Jesus sobre o assunto.
O que é admirável no texto é Jesus afirmar que a
guarda do sábado fica subordinada à circuncisão. Uma criança que devesse ser
circuncidada no oitavo dia do seu nascimento (Gn 17.10; Lv 12.3; Jo. 7:21-24)
para que a Lei não ficasse invalidada, colocava a guarda do dia em posição
inferior à circuncisão. Se a circuncisão é de valor secundário, inexpressivo, e
nenhum cristão hoje a pratica, como terá a guarda do sábado como preceito?
Ellen Gould White ensinava que a guarda do sábado implicava em salvação. O
ensino de Jesus sobre o sábado é diferente, Ele é Senhor do Sábado”. http://www.cacp.org.br/o-sabado-e-a-circuncisao/]
SÍNTESE DO TÓPICO IV
Segundo Jesus Cristo, a guarda do sábado é um preceito cerimonial.
V. O SENHOR DO SÁBADO
1. O
sábado e a tradição dos anciãos. Os quatro evangelhos registram
os conflitos entre Jesus e os fariseus sobre a interpretação do sábado. A
tradição dos anciãos criou 39 proibições concernentes ao sábado, mas o Senhor
Jesus disse que é "lícito fazer bem no sábado" (Mt 12.12). Isso Ele
fez (Mc 3.1-5; Lc 13.10-13; 14.1-6; Jo 5.8-18; 9.6,7,16) e, por isso, nós
devemos fazer o bem, não importa qual seja o dia da semana. [Comentário: “A observância do
sábado nos dias do ministério terreno de Jesus havia se tornado externa e
formal. As autoridades religiosas de Israel haviam criado muitas restrições e
estabeleceram regras meticulosas. A Mishnah, antiga literatura religiosa dos judeus,
nos tratados Shabbat e Erub, registra minúcias de como o sábado deve ser
observado. A tradição dos anciãos criou 39 proibições concernentes ao sábado.
Por essa razão, o Senhor Jesus entrou diversas vezes em conflito com os
escribas e fariseus. Uma delas aconteceu quando ele defende os seus discípulos
por colherem espigas no sábado (Mt 12.1-5). 1 Naquele tempo, passou Jesus pelas
searas, em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher
espigas e a comer. 2 E os fariseus, vendo isso, disseram-lhe: Eis que os teus
discípulos fazem o que não é lícito fazer num sábado. 3 Ele, porém, lhes disse:
Não tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e os que com ele estavam?
4 Como entrou na Casa de Deus e comeu os pães da proposição, que não lhe era
lícito comer, nem aos que com ele estavam, mas só aos sacerdotes? (Mt 12.1-4).
A passagem paralela aparece em Marcos 2.23-26 e Lucas 6.1-4. Em todas elas, o
Senhor Jesus mencionou um trecho do Antigo Testamento em que Davi comeu o pão
da proposição na casa do sacerdote Abiatar, quando estava sob a perseguição de
Saul (1 Sm 21.6). Assim, ele colocou a guarda do sábado na mesma categoria do
preceito cerimonial. A lei proibia que estranhos comessem do pão sagrado da
proposição, o qual era restrito aos sacerdotes (Êx 29.33; Lv 22.10). Jesus foi
além e disse que os sacerdotes no templo podiam violar o sábado e ficar sem
culpa (Mt 12.5). Um mandamento moral é obrigatório por sua própria natureza.
Não existe concessão para preceitos morais; aqui, a vida está acima do sábado.
Em outra ocasião, o Senhor Jesus torna a considerar o sábado um preceito
cerimonial com base na própria lei de Moisés. Ele nem precisou reivindicar a
sua autoridade de Filho de Deus e Messias, ao lembrar às autoridades religiosas
que a circuncisão de uma criança pode ser feita num dia de sábado. A lei
prescreve que o menino deve ser circuncidado no oitavo dia de seu nascimento
(Lv 12.3). Jesus disse que a circuncisão pode ser feita mesmo quando o oitavo
dia coincide com sábado (Jo 7.22, 23). Jesus declarou: "O sábado foi feito
por causa do homem, e não o homem, por causa do sábado" (Mc 2.27). Muitos
comparam essas palavras a uma frase do Talmude creditada ao rabi Simeon ben
Menasya, cerca de 180 d.C.: "O sábado foi dado a vocês, não vocês entregues
a ele". A interpretação judaica diz respeito à permissão da quebra do
sábado em casos especiais, como a vida em perigo. Mas o que Jesus disse
significa que os seres humanos não foram criados para observar o sábado, mas
que o sábado foi criado para o benefício humano. Ele não disse que o sábado foi
feito por causa dos judeus ou de Israel, mas por causa de todos os seres
humanos. O sábado legal, do Decálogo, foi dado a Israel como sinal entre Javé e
os israelitas (Êx 31.13, 17; Dt 5.15; Ez 20.12). Aqui, o Senhor Jesus se refere
ao sábado institucional que Deus estabeleceu para o bem-estar e gozo de todos
os seres humanos, e isto está acima de observância meticulosa do sábado”. Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante
Mudança. Editora CPAD. pag. 69-71.]
2.
Jesus é o Senhor do sábado (Mc 2.28). O sábado veio de Deus e somente
Ele tem autoridade sobre essa instituição. Então, não há outro no universo
investido de tamanha autoridade, senão o Filho de Deus. A expressão "o
Filho do Homem", no singular, é título messiânico, não é usual ou comum às
outras pessoas. Está claro que Jesus se referia a Ele mesmo. Jesus disse que os
seres humanos não foram criados para observar o sábado, mas que o sábado foi
criado para o benefício deles (Mc 2.27). [Comentário: A frase "Assim, o Filho do Homem até
do sábado é senhor" (Mc 2.28) e as passagens paralelas (Mt 12.8; Lc 6.5)
são disputadas pelos expositores do Novo Testamento. Há duas linhas principais
de interpretação: a) a autoridade sobre o sábado foi conferida aos seres
humanos, e b) trata-se do próprio Senhor Jesus. A primeira nos parece menos
aceitável porque Deus nunca delegou autoridade sem limites aos humanos e,
também, porque a expressão grega ho huios tou anthrõpos, "o Filho do
Homem", no singular, é título messiânico e não relativo a humanos. Está
claro que Jesus se referia a si mesmo. Esta é a melhor interpretação. Ele
revelou seu poder e sua autoridade sobre as enfermidades, sobre a natureza,
sobre todos os poderes das trevas, sobre a morte e o inferno; assim, nada mais
natural ser mesmo o Senhor do sábado. O sábado veio de Javé e somente ele tem
autoridade sobre a instituição. Então, não há outro no universo investido de
tamanha autoridade, senão o Filho de Deus. Mais uma vez, o Senhor Jesus Cristo
apresenta o profeta Oseias como autoridade para fundamentar seu ensino (Mt
12.7; Os 6,6). Ele acrescentou ainda que é "lícito fazer bem nos
sábados" (Mt 12.12). Isso o próprio Jesus o fez (Mc 3.1-5; Lc 13.10- 13;
14.1-6; Jo 5.8-18; 9.6, 7, 16), e nós também devemos fazer o bem, não importa
qual seja o dia da semana. Como o sábado do relato da criação, não é regra
legal opressiva; é chamado de sábado institucional que se transferiu para o
domingo por causa da ressurreição de Jesus, mas não como mandamento. Assim,
como nada há no Novo Testamento que indique a sua observância, isso por si só
mostra que o quarto mandamento não é um preceito moral. Esta interpretação é
corroborada pelo fato de nem Jesus nem os apóstolos ensinarem a guarda do
sábado. O sábado não foi mencionado quando Jesus citou os mandamentos para o
moço rico (Mt 19.17-19). Toda a lei se resume no amor a Deus e ao próximo (Mt
7.12; 22.40; Mc 12.31; Rm 13.10). O apóstolo Paulo omitiu o quarto mandamento
(Rm 13.9). Ele considerava retrocesso espiritual guardar dias, meses e anos (G1
4.10, 11). Os primeiros cristãos eram judeus de origem e era natural para eles
observar os serviços da sinagoga; ainda hoje, muitos judeus que são convertidos
à fé cristã preferem não abrir mão de sua identidade judaica, principalmente
aqueles que residem em Israel. É mais uma questão cultural. Paulo via o sábado
e os preceitos dietéticos, o kashrut, como mera opção pessoal. E, mesmo não
havendo prova de que o apóstolo distinguisse preceitos morais e cerimoniais,
aqui ele coloca o sábado e o kashrut na mesma categoria (Rm 14.1-6). Segundo
Paulo, o antigo concerto foi abolido (2 Co 3.7-14) , incluindo o sábado (Os
2.11). De fato, isso já era anunciado desde o Antigo Testamento (Jr 31.31-34). Paulo
disse que Jesus riscou na cruz "a cédula que era contra nós nas suas
ordenanças" (Cl 2.14). O substantivo grego para "cédula" é
cheirgraphon, um hapax legomenon, literalmente, "escrito à mão”. É um
documento escrito à mão usado aqui metaforicamente. O termo aparece na
literatura grega extrabíblica com vários significados: "lei mosaica,
obrigação escrita, contrato (ROBINSON, 2012, p. 984); "registro de uma
conta financeira, conta, registro de dívida" (LOUW & NIDA, 2013, pp.
352, 353). É um certificado de dívida, uma nota promissória. A ordenança, ou
dogma, significa "decreto, ordenança, edito", um termo usado também
em referencia à lei de Moisés (Ef 2.15). É esse o sentido aqui, pois Jesus
disse que a lei nos acusa (Jo 5.45). O pensamento paulino revela o aspecto
condenatório da lei mosaica (Dt 27.26; 1 Co 15.56; Gl 3.10) e também o padrão
divino para a vida humana (Rm 7.13, 14). A acusação da lei contra nós foi
cancelada na cruz do Calvário, e aí o apóstolo inclui o sábado. O apóstolo
emprega os dois termos "cédula" e "ordenança"
metaforicamente para dizer que fomos perdoados e estamos livres de legalismo:
"Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos
dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras,
mas o corpo é de Cristo" (Cl 2.16, 17). Com exceção do sangue (At 15.20,
28), as restrições dietéticas de Levítico foram removidas, pois Deus purificou
os animais cerimonialmente imundos (At 10.12-15). Nenhum alimento é imundo por
si mesmo (Rm 14.14, 20; 1 Tm 4.3, 4). O que contamina o ser humano é o que sai
dele, não o que entra (Mt 15.11-20). O sábado cerimonial é um termo para
designar os festivais de Israel que englobam as festas anuais, mensais e
semanais (1 Cr 23.31; 2 Cr 2.4; 8.13; 31.3; Ez 45.17). O sábado cerimonial já
está incluído na expressão "dias de festa". Assim, a "lua
nova", refere-se à festa mensal e a expressão "dos sábados" diz
respeito aos sábados semanais. O novo concerto nos isenta de todas essas coisas.
Paulo parece empregar uma linguagem platônica no tocante ao mundo real e ao
mundo das ideias no v. 17. A sombra é temporária e identifica com imperfeição o
objeto que a projetou, sendo portanto inferior a ele. O apóstolo afirma nesta
metáfora que a lei é uma projeção, uma sombra da realidade, que é o corpo de
Cristo. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma
Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 71-74.]
3.
Dia do culto cristão. O primeiro culto cristão aconteceu no domingo e da
mesma forma o segundo (Jo 20.19,26). Nesse dia o Senhor Jesus ressuscitou
dentre os mortos (Mc 16.16). O dia do Senhor foi instituído como o dia de
culto, sem decreto e norma legal, pelos primeiros cristãos desde os tempos
apostólicos (At 20.7; 1 Co 16.2; Ap 1.10). É o "sábado" cristão! O
sábado legal e todo o sistema mosaico foram encravados na cruz (Cl 2.16,17),
foram revogados e anulados (2 Co 3.7-11; Hb 8.13). O Senhor Jesus cumpriu a lei
(Mt 5.17,18), agora vivemos sob a graça (Jo 1.17; Rm 6.14). [Comentário: O sábado legal do
Decálogo foi estabelecido para Israel se lembrar da escravidão no Egito (Dt
5.15). Há certa analogia com o sábado cristão, o domingo, que, sem precisar de
imposição legal, passou a ser o dia de adoração cristã coletiva em memória à
ressurreição de Cristo que ocorreu num domingo (Mc 16.1-6; Lc24.1-6). Éosábado
institucional. Isso está claro em três passagens do Novo Testamento: "No
primeiro dia da semana, ajuntando os discípulos para o partir do pão" (At
20.7). Era um domingo, "talvez 24 de abril de 57 d.C.", segundo F. F.
Bruce (apud STOTT, 1994, p. 360). O "partir do pão" é um termo usado
para a Ceia do Senhor (At 2.42; 1 Co 10.16; 11.20-26). Segundo o autor citado,
essa passagem "é a evidência inequívoca mais primitiva que temos da
prática cristã de reunir-se para a adoração nesse dia". Isso se confirma
mais adiante no Novo Testamento: "No primeiro dia da semana, cada um de
vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que
se não façam as coletas quando eu chegar" (1 Co 16.2). Temos aqui outra
prova de que o primeiro dia da semana era o dia de culto regular. O apóstolo
recomendou que nessas reuniões se levantasse uma coleta para socorrer os irmãos
pobres de Jerusalém. O apóstolo João foi arrebatado no dia do Senhor: Eu fui
arrebatado em espírito, no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz,
como de trombeta" (Ap 1.10). A expressão dia do Senhor" não é
escatológica, pois a construção grega aqui, en tê kyriakê hêmera, se refere ao
domingo. Versões católicas como Figueiredo, Matos Soares e a Bíblia do
Peregrino empregam "num dia de domingo" para traduzir a referida
frase. Esta tradução é aceitável porque está de acordo com o contexto bíblico e
histórico. A palavra kyriakê significa "domingo" ainda hoje na
Grécia. O termo "domingo", literalmente quer dizer, "dia do
senhor , do latim, dominus, "senhor", e dies, "dia". Inácio
de Antioquia usa a mesma frase grega do apóstolo João em Apocalipse, para indicar
o primeiro dia da semana: "Aqueles que viviam na antiga ordem de coisas
chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senho em
que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte" (Magnésios 9-1,
Coleção Patrística 1, Padres Apostólicos). Inácio foi o terceiro bispo de
Antioquia e conheceu os apóstolos Paulo e João. Preso em 110 no reinado de
Trajano, foi levado a Roma e atirado às feras. Trata-se de alguém da segunda
geração dos apóstolos. Outra razão que confirma essa interpretação é o fato de
a Septuaginta usar uma forma diferente para o "dia do Senhor escatológico,
hêmera tou kyriou ou hêmera kyriou. E o mesmo acontece nas cinco vezes que a
frase aparece no Novo Testamento grego (At 2.20; 1 Co 5.5; 2 Co 1.14; 1 Ts 5.2;
2 Pe 3.10). Os primeiros pais da Igreja mostram que nos três primeiros séculos
da história da Igreja o domingo continuava sendo o dia de reunião dos cristãos.
Além de Inácio de Antioquia, isso pode ser ainda visto na Epístola de Barnabé
(que não era o Barnabé citado do Novo Testamento). Trata-se de um documento da
primeira metade do século 2, que declara: "Eis por que celebramos como
festa alegre o oitavo dia, no qual Jesus ressuscitou dos mortos e, depois de se
manifestar, subiu aos céus" (Epístola de Barnabé, 15.9). Herdamos dos dias
apostólicos essa prática que foi perpetuada pelo tempo. Os preceitos
cerimoniais não desobrigam os seres humanos de cultuarem a Deus, mas estes não
precisam de rituais e nem lhes é exigido irem a Jerusalém. Da mesma forma, o sábado
não precisa ser o sétimo dia da semana. Os adventistas do sétimo estão
equivocados quando afirmam que o imperador Constantino substituiu o sábado pelo
domingo, e sua doutrina não tem sustentação bíblica. É um erro teológico e
histórico. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma
Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 74-76.]
SÍNTESE DO TÓPICO V
Em o Novo Testamento, Jesus é o Senhor do sábado e somente Ele tem
autoridade sobre esta instituição.
CONCLUSÃO
A palavra
profética anunciava o fim do sábado legal (Jr 31.31-33; Os 2.11). Isso se
cumpriu com a chegada do novo concerto (Hb 8.8-12). Exigir a guarda do sábado
como condição para a salvação não é cristianismo e caracteriza-se como doutrina
de uma seita. [Comentário: “Quase
toda a instrução dos capítulos 3, 4 e 5 de Gálatas aborda a questão da lei e do
evangelho, donde se conclui que: 1) A lei foi ordenada por causa das
transgressões, ATÉ que viesse a posteridade (3.19). 2) A lei não pôde
comunicar vida; por isso, a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que
a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes. 3) A lei serviu para
nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados, não pela fé na
obediência à lei. 4) Depois que a fé veio, já não estamos debaixo da lei, mas
da graça (3.25). 5) Cristo veio para libertar os que estavam debaixo da lei.
Não somos mais meninos necessitados de tutores, reduzidos à escravidão. Agora
somos filhos de Deus (4.1-7). 6) Não mais estamos sujeitos a guardar dias,
meses e anos, rudimentos fracos e pobres aos quais alguns querem continuar
servindo (4.9-10). 7) Somos filhos não da escrava Agar, que simboliza o velho
concerto. Somos filhos da promessa, como Isaque. Lancemos fora a escrava e seu
filho, porque, “de modo algum, o filho da escrava herdará com o filho da livre”
(4.21-31). 8) Não devemos retornar ao jugo da servidão, pois Cristo nos
libertou (5.1). 9) Os que buscam justificação na lei, separados estão de Cristo
(5.4).]. “NaquEle que me garante: "Pela graça
sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef
2.8)”.
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.
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