sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

LIÇÃO 6: SANTIFICARÁS O SÁBADO




LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Êxodo 20.8-11; 31.12-17


Êxodo 20:8-11

8. Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.
9. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra.
10. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas.
11. Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o SENHOR o dia do sábado e o santificou.

Êxodo 21:12-17

12 Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo:
13 Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis meus sábados; porquanto isso é um sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o SENHOR, que vos santifica.
14 Portanto guardareis o sábado, porque santo é para vós; aquele que o profanar certamente morrerá; porque qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será extirpada do meio do seu povo.
15 Seis dias se fará obra, porém o sétimo dia é o sábado do descanso, santo ao SENHOR; qualquer que no dia do sábado fizer algum trabalho, certamente morrerá.
16 Guardarão, pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas suas gerações por concerto perpétuo.
17 Entre mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre; porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, e ao sétimo dia descansou, e restaurou-se.


OBJETIVO GERAL


Compreender o significado do sábado para os cristãos.


OBJETIVOS  ESPECÍFICOS


Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:

I.    Analisar o conceito do sábado.
II.   Considerar a forma da instituição do sábado.
III.  Explicar os aspectos legais e cerimoniais do sábado.
IV.  Destacar o preceito cerimonial.
V.   Apresentar Jesus como o Senhor do Sábado.


SUBSÍDIO I




INTRODUÇÃO


Desde os tempos antigos o ser humano está voltado à ação, e nesses últimos tempos, no contexto da modernidade, o espaço predomina sobre o tempo. Por isso, a mensagem do quarto mandamento continua atual, a fim de diminuir o ativismo, e desperta o homem para o descanso. Na aula de hoje meditaremos a esse respeito, antes faremos uma incursão teológica sobre o shabat bíblico, após discorrer sobre a opção cristã pelo domingo, faremos uma aplicação sobre a importância do descanso.


I. O SHABAT


O shabat bíblico é sinônimo de descanso, por isso, ao invés de ser traduzido para sábado, como acontece em algumas línguas, há quem prefira a permanência do termo hebraico. Existiam vários shabat a serem observados pelo povo judeus, o shabat semanal (Ex. 16.23), o Dia da Expiação (Lv. 16.31; 23.32), o primeiro dia da Festa das Trombetas (Lv. 23.24), o primeiro e o oitavo dias da Festa dos Tabernáculos (Lv. 23.39) e o ano sabático (Lv. 25.4,5). Essa orientação bíblica, que também era um mandamento de Yahweh, revelava que Deus tem consideração tanto pelo trabalho quanto pelo descanso (Ex. 20.11). O fundamento para a observância do shabat está no próprio Deus, que após ter trabalhado, descansou no sétimo dia (Gn. 2.1-3). O povo de Israel deveria separar, guardar ou santificar (hb. qadash) o shabat para o Senhor como lembrança de que foram escravos no Egito, e que foram libertados pela mão poderosa de Yahweh (Dt. 5.15). Eles foram libertos da tirania da opressão, agora poderiam parar para descansar, e usufruir a providência de Deus. Essa também era uma demonstração de confiança no Senhor, de que o essencial não lhes faltaria, e que poderiam aprender a depender dEle. A observância ao shabat era um sinal específico para Israel, exclusivo para aquela nação, um testemunho para os povos (Ex. 31.13-17; Ez. 20.12,20). Jesus reinterpretou a observância ao Shabat, isso porque os religiosos da sua época, ao invés de o desfrutarem, transformaram em mero legalismo, deturpando a essência da instrução dada pelo Senhor (Mc. 6.31). Mas o próprio Jesus considerou o shabat, Ele mesmo se dirigiu nesse dia à sinagoga (Lc. 4.16).


II. SÁBADO OU DOMINGO?


No Novo Testamento a palavra é sabaton, com o mesmo sentido de descanso da língua hebraica. Os primeiros cristãos, por se tratarem de judeus, mantinham a observância do shabat (At 13.5, 14; 42-44; 14.1; 16.13; 17.12,16; 18.4; 19.8). Mas seguindo as instruções de Jesus, os primeiros cristãos, diferentemente dos religiosos da época, não eram legalistas em relação a esse dia (Mt. 12.9-14; Mc. 3.1-6; Lc. 6.6-11). O princípio deixado pelo Mestre foi o de que é sempre bom fazer o bem no shabat (Mc. 2.27,28). Existe uma controvérsia entre os cristãos a respeito da guarda desse dia, alguns defendem sua permanência, outros optam pelo domingo. Essa opção está fundamentada no tratamento dado por Cristo ao shabat, bem como pelos cristãos ao longo da história. Jesus deixou claro que o sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado (Mc. 2.27,28). Isso quer dizer que não estamos mais presos à guarda de um dia específico da semana, contanto que o façamos para o Senhor (Rm. 14.5,6). A igreja cristã optou pelo domingo porque Jesus ressuscitou nesse dia (Mc. 16.9), foi o dia em que Ele se manifestou ressurreto (Lc. 24.13-36; Jo. 20.13-26). O Espírito Santo também foi derramando sobre a igreja em um domingo de Pentecoste (Lc. 23.15-21; At. 2.1-4). Esse era o dia no qual os primeiros crentes se reunião para celebrar a Ceia do Senhor, pregar e coletar ofertas (At. 20.7; I Co. 16.1,2). Há evidências históricas que comprovam a observância do domingo, e não do sábado pelos cristãos. Para Justino Martir, um dos pais da igreja, “o domingo é o dia em que todos temos nossa reunião comum, porque é o primeiro dia da semana, e Jesus Cristo, nosso Salvador, neste mesmo dia ressuscitou da morte”. De modo que, conforme explicitou Paulo: “ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábado, porque tudo isso em sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo” (Cl. 2.16-19).



III. O PRINCÍPIO PERMANECE


Ainda que não estejamos mais presos à guarda de um dia da semana, seja ele o sábado e/ou domingo, o princípio do shabat bíblico permanece. Nas palavras da Confissão de Fé de Westminster, santificar o shabat é “um preceito positivo, moral e perpétuo”. Tomando os devidos cuidados, e evitando legalismos, é necessário considerar o princípio do descanso. Não podemos esquecer que o shabat “foi feito por causa do homem” (Mc. 2.27). Isso que dizer que precisamos dele, nenhum homem é uma máquina, carecemos de descanso. A era da industrialização transformou o trabalho em tirania, e nesses últimos anos, por causa do consumismo desenfreado, muitas pessoas querem ter cada vez mais, e valorizam o tempo cada vez menos. O homem moderno está obcecado por espaço, quer conquistar tudo o que for possível, esquecendo-se que o tempo é muito mais importante. Como estabeleceu o Senhor: “seis dias trabalharás e farás toda a sua obra” (Ex. 10.9), mas é preciso santificar ou separar o shabat, o descanso necessário para a alma e para o corpo. Ninguém deve ser escravo do trabalho, fomos libertados da angústia da ansiedade. Devemos trabalhar para ter o suficiente, e com isso vivermos contentes, é preciso ter cuidado para não se tornar escravo da ganância (I Tm. 6.6-8). Ao invés do nos deixar conduzir pelo espírito desta era, que nos lança na tirania do consumo, e nos conduz à preocupação, devemos aprender a confiar mais em Deus (Mt. 6.31-34). Em Cristo, temos agora um descanso, Ele é o nosso shabat, por causa do trabalho dEle, podemos agora descansar (Hb. 4.9,10).


CONCLUSÃO


Há quem diga que não devemos parar para descansar, existem até os que citam as Escrituras indevidamente (Mq. 2.10). Mas o texto precisa ser compreendido em seu contexto, de fato não podemos descansar no momento que devemos agir, mas isso não significa que devemos nos entregar ao ativismo. É necessário reconhecer que tudo tem o seu tempo determinado, e que há tempo para todo propósito debaixo do céu, inclusive para o descanso (Ec. 3.1).
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa



SUBSÍDIO II



INTRODUÇÃO


As controvérsias deste mandamento giram em torno da sua interpretação. Temos aqui a relação trabalho-repouso e ao mesmo tempo o relacionamento de Deus com Israel. A necessidade de um dia de repouso após seis jornadas de trabalho é universal, mas o sábado é um presente de Deus para Israel. O mandamento de santificar o sábado é mais bem compreendido quando se conhece o propósito pelo qual ele foi dado. [Comentário: Foi dito na primeira lição que as tábuas da Lei possuem 4 mandamentos em uma tábua e 6 em outra e que os quatro primeiros se referem ao relacionamento do homem com Deus, e os outros seis dizem respeito ao relacionamento com nossos semelhantes. O quarto mandamento se coloca, em termos de relacionamento vertical e horizontal, nos dois planos, é uma ponte que liga os mandamentos teológicos com os mandamentos éticos. Ele possui caráter social e humanitário e também função religiosa. Muitas são as controvérsias em torno deste mandamento, e todas se referem à sua interpretação. O Pr Esequias Soares, comentarista deste trimestre, informa o seguinte a esse respeito: “O que acontece é que existe o sábado institucional e o sábado legal, e quem não consegue separar estas duas instituições terminam radicalizando indo aos extremos. Esse é o principal problema dos sabatistas da atualidade, como os adventistas do sétimo dia. Todos os mandamentos do Decálogo dependem de definições e de como aplicá-los na vida diária, e essas instruções são dadas no próprio sistema mosaico. Mas as definições nem sempre são conclusivas. Por exemplo, o que a Bíblia define como trabalho?Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 61-62. O quarto mandamento será melhor entendido quando analisarmos o propósito para o qual ele foi dado.]  Convido você para mergulharmos mais fundo nas Escrituras!


I. O SÁBADO DA CRIAÇÃO


1. O shabat. Deus celebrou o sétimo dia após a criação e abençoou este dia e o santificou (Gn 2.2,3). Aqui está a base do sábado institucional e do sábado legal. O sábado legal não foi instituído aqui; isso só aconteceu com a promulgação da lei. O substantivo shabbat, "sábado", não aparece aqui, na criação. Surge pela primeira vez no evento do maná (Êx 16.22, 23). A Septuaginta emprega a palavra sabbaton, "sábado, semana", a mesma usada no Novo Testamento grego.  [Comentário:  Shabat (hebraico שבת, shabāt, "descanso/inatividade"), é o nome dado ao dia de descanso semanal no judaísmo, simbolizando o sétimo dia em Gênesis, após os seis dias de Criação. A palavra hebraica שבת, shabāt, tem relação com o verbo שבת, shavāt, que significa "cessar", "parar". Apesar de ser vista quase universalmente como "descanso" ou um "período de descanso", uma tradução mais literal seria "cessação", com a implicação de "parar o trabalho". Portanto, Shabat é o dia de cessação do trabalho; enquanto que descanso é implícito, mas não é uma denotação da palavra em si. O Pr Esequias Soares, em obra já citada anteriormente, sobre o sábado, diz o seguinte: “O sábado e a semana tiveram a sua origem em Deus. A divisão hebdomadária (adj. Semanal; que se realiza, acontece ou surge a cada semana; que se refere à semana, observação nossa.)do tempo aparece desde os dias pré-diluvianos e no período patriarcal (Gn 7.4, 10, 12; 29.27, 28). Mas a semana na Mesopotâmia seguia as fases da lua, por isso nem sempre o sábado coincidia com o sétimo dia. A semana dos egípcios era de dez dias. Aqui está a base do sábado institucional e do sábado legal.” Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 61-62..  O sentido de Shabat aqui é cessar, logo é sinonimo de cessar de criar indicando a obra concluída e não um período de ociosidade, pois segundo se infere dos textos de Is 40.28 e Jo 5.17, Deus não descansa, Ele continua ativo sustentando todas as coisas (Hb 1.3)]

2. Deus concluiu a criação no dia sétimo. Deus completou a sua obra da criação no sétimo dia. Deus "descansou" ou seja, cessou, é o significado do verbo hebraico usado aqui, shabat, "cessar, desistir, descansar" (Gn 8.22; Jó 32.1; Ez 16.41). Esse descanso é sinônimo de cessar de criar, e indica a obra concluída. Não se trata de ociosidade, pois Deus não para e nem se cansa (Is 40.28; Jo 5.17).  [Comentário:  Dada a explicação do subtópico anterior, acrescento que Jesus também assentou-se à destra de Deus depois de concluir a obra da redenção (Hb 8.1; 10.12). Ainda na obra suprareferenciada, do Pr Esequias Soares, ele afirma que “A expressão ‘acabado no sétimo dia’ parece indicar que houve mais alguma atividade de Deus na criação nesse dia. É o que pensam muitos expositores da atualidade. Deus terminou a sua obra no dia sexto – segundo a Septuaginta e o Pentateuco Samaritano”.]

3. A bênção de Deus sobre o sétimo dia. Ele abençoou e santificou o sétimo dia como um repouso contínuo, na dispensação da inocência, mas isso foi interrompido por causa do pecado. Agostinho de Hipona lembra que não houve tarde no dia sétimo, e afirma que Deus o santificou para que esse dia permanecesse para sempre (Confissões, Livro XIII, 36). O sábado da criação aponta para o descanso de Deus ao mundo inteiro no fim dos tempos: "Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus" (Hb 4.9). [Comentário:  “Deus abençoou e santificou o sétimo dia como um repouso contínuo, a dispensação da inocência, interrompido por causa do pecado. Agostinho de Hipona lembra que não houve tarde no dia sétimo, pois Deus o santificou para que ele permanecesse para sempre: "Ora o sétimo dia não tem crepúsculo. Não possui ocaso porque Vós o santificastes para permanecer eternamente" [Confissões, Livro XIII.36). Adão e Eva viveram esse repouso durante a inocência até a Queda: "Foi o princípio e o tipo de repouso ao que a criação, depois que caiu da comunhão com Deus pelo pecado do homem, recebeu a promessa de que uma vez mais seria restaurada pela redenção, em sua consumação final" (KEIL & DELITZSCH, tomo 1, 2008, p. 41). O sábado da criação aponta para o descanso de Deus para o mundo inteiro no fim dos tempos: "Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus" (Hb 4.9). O sábado legal não foi instituído aqui. Isso só aconteceu com a promulgação da lei. O sétimo dia é o fundamento da guarda do sábado dada aos israelitas, visto que este dia foi santificado desde o princípio do mundo. O sábado institucional é para toda a humanidade e por isso Deus o santificou antes de estabelecê-lo como mandamento para Israel. "A santificação do sábado institui uma ordem para a humanidade segundo a qual o tempo é dividido em tempo e tempo sagrado... Por santificar o sétimo dia, Deus instituiu uma polaridade entre o dia a dia e o solene, entre dias de trabalho e dias de descanso, a qual deveria ser determinante para a existência humana" (WESTERMANN, 1994, p. 171). O sábado institucional não é necessariamente o sétimo dia da semana, mas um a cada seis dias”. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 65-66.]


SÍNTESE DO TÓPICO I


A base institucional e legal do sábado foi a celebração de Deus no sétimo dia, após a criação. O Criador abençoou e santificou esse dia.


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II. O SÁBADO INSTITUCIONAL


1. Desde a criação. É o sábado para descanso de todos os povos. É uma questão moral que Deus estabeleceu para a raça humana ao comemorar a criação. Tornou modelo e uma forma natural para toda a raça humana. É a ordem natural das coisas: os campos precisam de repouso, as máquinas necessitam parar para manutenção e assim por diante (Lv 25.4). O sábado institucional, portanto, não se refere ao sétimo dia da semana; pode ser qualquer dia ou um período de descanso (Hb 4.8).  [Comentário:  Solano Portela escreve em seu artigo ‘O Quarto Mandamento’, o seguinte: “Em nossas bíblias o quarto mandamento está redigido assim – "Lembra-te do dia de sábado para o santificar...". A palavra que foi traduzida "sábado", é a palavra hebraica shabat, que quer dizer descanso. É correto, portanto, entendermos o mandamento como "... lembra-te do dia de descanso para o santificar". Esse "dia de descanso" era o sétimo dia no Antigo Testamento, ou seja, o nosso "sábado". No Novo Testamento, logo na igreja primitiva, vemos o dia de ressurreição de Cristo marcando o dia de adoração e descanso. Isso é: o domingo passa a ser o nosso "dia de descanso". Os apóstolos acataram esse dia como apropriado à celebração da vitória de Jesus sobre a morte (At 20.7; 1 Co 16.2; Ap 1.10). A igreja fiel tem entendido a questão da mesma maneira, ou seja: não é a especificação "do sétimo", que está envolvida no mandamento, mas o princípio do descanso e santificaçãoPresbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil, membro da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro-SP. http://www.monergismo.com/textos/dez_mandamentos/quarto_solano.htm.]

2. Não era mandamento. O sétimo dia da criação não era mandamento, mas revela a necessidade natural do descanso de toda a natureza. O repouso noturno de cada dia não é suficiente para isso. Deus abençoou e santificou esse dia não somente para comemorar a obra da criação mas para que, nesse dia, todos cessem o trabalho e assim descansem física e mentalmente para oferecer o seu culto de adoração a Deus.  [Comentário:  O Pr Esequias Soares comenta o seguinte: “O sétimo dia da criação não era mandamento, mas revela a necessidade natural do descanso de toda natureza, homem, animal, máquina, agricultura. O repouso noturno de cada dia não é suficiente para isso. Deus abençoou e santificou esse dia não somente para comemorar a obra da criação, mas para que nesse dia todos cessem o trabalho tendo em vista o descanso físico e mental e também o culto de adoração a Deus. É importante que todos os seres humanos possam refletir que o universo foi criado por um Deus pessoal, Todo-poderoso, sábio e transcendente, que planejou todas as coisas que foram criadas. Parece que esse dia foi logo esquecido pelo gênero humano, mas há resquício dele em muitos povos da antiguidade.” Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 63-65.]

3. Os patriarcas não guardaram o sábado. O livro de Gênesis não menciona os patriarcas* Abraão, Isaque e Jacó observando o sábado. Segundo Justino, o Mártir, Abraão e seus descentes até o Sinai agradaram a Deus sem o sábado (Diálogo com Trifão 19.5). Irineu de Lião diz que Abraão, "sem circuncisão e sem observância do sábado, 'acreditou em Deus e lhe foi imputado a justiça e foi chamado amigo de Deus'" (Contra as Heresias, Livro IV, 16.2). [Comentário: O apóstolo Paulo, judeu, doutor da Lei  e guardador do sábado, em Gálatas 3.17, escreve que a Lei só veio 430 anos (depois de Abraão), sendo assim, o sábado só passou a ser instruído e guardado pelos hebreus após a saída do Egito e isso pode ser conferido a partir do capítulo 16 de Êxodo que mostra claramente as primeiras instruções sobre o dia judaico.]


SÍNTESE DO TÓPICO II


O sábado institucional se refere à necessidade de um período de descanso para a Criação e para o homem.




III. O SÁBADO LEGAL


1. Significado. É o sétimo dia da semana no calendário judaico, marcado para repouso e adoração. Foi introduzido no mundo pela lei; é o sábado legal dado aos israelitas no Sinai. Nenhum outro povo na história recebeu a ordem para guardar esse dia; é exclusividade de Israel (Êx 31.13, 17). O sábado e a circuncisão são os dois sinais distintivos do povo judeu ao longo dos séculos (Gn 17.11).  [Comentário:  O sábado legal é exclusividade dos israelitas e nenhum povo da terra recebeu tal responsabilidade, nem mesmo a Igreja (Êx 31.13- 17). A adoração no tabemáculo acontecia semanalmente e isso justifica a instrução da lei do sábado na presente seção que aborda a ordem do culto e demais serviços no tabemáculo. O tema do sábado havia sido tratado por ocasião do maná (Êx 16.23-30) e no quarto mandamento (Êx 20.8-11); no entanto, Javé retoma o assunto aqui para que o presente preceito seja observado de maneira apropriada. A observância do sábado legal é perpétua, sob pena de morte para quem violar (vv. 14-6) e isso por se tratar de um sinal entre Javé e Israel (Êx 31.13, 17). Não é mandamento para todos os povos nem para a Igreja. É o segundo sinal para os israelitas, que já tinham a circuncisão como primeiro sinal desse concerto (Gn 17.10-14). Ao longo dos séculos, os judeus trataram esses dois preceitos com a mesma atenção. O Decálogo registrado em Deuteronômio apresenta o sábado como memorial da saída dos israelitas do Egito: "Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o SENHOR, teu Deus, te tirou dali com mão forte e braço estendido; pelo que o SENHOR, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado" (Dt 5.15). O sábado legal é mandamento exclusivo para o povo de Israel. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 68-69.]

2. O sábado do Decálogo. A expressão "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar" (Êx 20.8), remete a uma reminiscência histórica e, sem dúvida alguma, Israel já conhecia o sábado nessa ocasião. Mas parece não ser referência ao sábado da criação. Ele aparece na promulgação da lei (Êx 20.11), contudo, essa reminiscência não reaparece em Deuteronômio (Dt 5.12-15). Trata-se, com certeza, do sábado que o povo não levou a sério no deserto (Êx 16.22-29).  [Comentário:  O quarto mandamento é o mais longo do Decálogo e difere dos três primeiros, cuja formulação é negativa. O versículo 8 introduz o mandamento positivo que impõe a obrigação de santificar o sábado, e o versículo 9 fala sobre a obrigação de trabalhar seis dias. Isso se repete no sistema mosaico (Êx23.12; 31.13-17; 34.21; Lv 23.3), mas aqui aparece também a formulação negativa. Quando Moisés no seu discurso em Deuteronômio repete o Decálogo substitui o verbo hebraico usado para "lembrar" zãchor, "recordar, lembrar", por outro, "guardar", shãmôr,72 "guardar, cuidar, vigiar", quando diz: "Guarda o dia de sábado" (Dt 5.12). Os dois verbos estão no infinitivo absoluto, que tem função de um forte imperativo, bastante comum em leis e mais próximo de um futuro cominatório, ameaçador. O propósito do uso deste verbo "lembrar" aqui em Êxodo é manter o sábado como dia santo. Isso mostra que o povo já conhecia esse dia, mas parece que a sua observância não era levada a sério antes da revelação do Sinai. As palavras "como te ordenou o SENHOR, teu Deus" (Dt 5.12b) não aparecem em Êxodo e são uma referência ao Sinai, quando a lei foi promulgada, visto que Moisés está relatando um fato acontecido no passado. Fica evidente que houve um sábado antes da promulgação da lei. Muitos acreditam que o verbo "lembrar" se refere ao relato do maná no deserto (Êx 16.22-30). Isto fica claro pelo fato de que "a maneira incidental em que a matéria é introduzida e a repreensão do Senhor pela desobediência do povo sugerem que o sábado já era previamente conhecido" (TENNEY, vol. 5, 2008, p. 267). No entanto, segundo o rabino Benno Jacob, "lembrar" aqui não tem conotação de "não esquecer", como aconteceu com o evento do maná, mas de um "memorial do passado para estabelecer um relacionamento especial para o futuro" (1992, p. 563). Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 67]

3. Propósito. A instituição do sábado legal no Decálogo tinha um propósito duplo: social e espiritual. Cessar os trabalhos a cada seis dias de labor era dar descanso aos seres humanos e aos animais e dedicar um dia para adoração a Deus. É um memorial da libertação do Egito (Dt 5.15). Duas vezes é dito que o sábado é um sinal distintivo entre Deus e a nação de Israel (Êx 31.13,17). [Comentário: A instituição do sábado legal no Decálogo tinha o propósito duplo, social e espiritual, de cessar os trabalhos a cada seis dias de labor para dar descanso aos seres humanos e aos animais e dedicar um dia inteiro para adoração a Deus: 8 Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. 9 Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, 10 mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas portas. 11 Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o SENHOR o dia do sábado e o santificou (Êx 20.8-11). Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 66.]


SÍNTESE DO TÓPICO III


O sábado legal é um dia de descanso, introduzido na cultura do povo judeu por meio da Lei.



IV. UM PRECEITO CERIMONIAL


1. O sacerdote no Templo. O Senhor Jesus Cristo disse mais de uma vez que a guarda do sábado é um preceito cerimonial. Ele colocou o quarto mandamento na mesma categoria dos pães da proposição (Mt 12.2-4). Veja ainda a que Jesus se referia quando falou a respeito desse ritual mencionado em Êxodo 29.33, Levítico 22.10 e 1 Samuel 21.6. Disse igualmente que "os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa" (Mt 12.5), ao passo que não existe concessão para preceitos morais.  [Comentário:  A oposição crescente ao ministério de Jesus pelos líderes religiosos encontra sua expressão total na observância do sábado, a instituição mais sagrada entre os judeus. Em Mt 12.3, Jesus apoia a ação de seus discípulos através de seu apelo ao exemplo de Deus (1Sm 21.1-6), verificando que as regulamentações normais do sábado podem precisar render-se às necessidades humanas. A necessidade humana tem precedência em uma rigorosa interpretação da Lei, que deixa escapar seu propósito mais amplo. Jesus reivindica sua divindade em Mt 12.6-8, logo, como Senhor do sábado, ele poderia fazer o que bem entendesse com o mesmo!]

2. A circuncisão no sábado. Se o oitavo dia da circuncisão do menino coincidir com um sábado, ela tem que ser feita no sábado, nem antes e nem depois. Assim, Jesus mais uma vez declara o quarto mandamento como preceito cerimonial e coloca a circuncisão acima do sábado (Jo 7.22,23 cf. Lv 12.3). Um mandamento moral é obrigatório por sua própria natureza. [Comentário:  O Centro Apologético Cristão de Pesquisas, citando a Bíblia Apologética, escreve sobre João – 7.21-24: “Frequentemente Jesus enfrentava polêmica com os judeus por causa do sábado. Os judeus eram ferrenhos guardadores do sábado e sempre estavam discutindo com Jesus sobre o assunto.
O que é admirável no texto é Jesus afirmar que a guarda do sábado fica subordinada à circuncisão. Uma criança que devesse ser circuncidada no oitavo dia do seu nascimento (Gn 17.10; Lv 12.3; Jo. 7:21-24) para que a Lei não ficasse invalidada, colocava a guarda do dia em posição inferior à circuncisão. Se a circuncisão é de valor secundário, inexpressivo, e nenhum cristão hoje a pratica, como terá a guarda do sábado como preceito? Ellen Gould White ensinava que a guarda do sábado implicava em salvação. O ensino de Jesus sobre o sábado é diferente, Ele é Senhor do Sábado”. http://www.cacp.org.br/o-sabado-e-a-circuncisao/]


SÍNTESE DO TÓPICO IV


Segundo Jesus Cristo, a guarda do sábado é um preceito cerimonial.



V. O SENHOR DO SÁBADO


1. O sábado e a tradição dos anciãos. Os quatro evangelhos registram os conflitos entre Jesus e os fariseus sobre a interpretação do sábado. A tradição dos anciãos criou 39 proibições concernentes ao sábado, mas o Senhor Jesus disse que é "lícito fazer bem no sábado" (Mt 12.12). Isso Ele fez (Mc 3.1-5; Lc 13.10-13; 14.1-6; Jo 5.8-18; 9.6,7,16) e, por isso, nós devemos fazer o bem, não importa qual seja o dia da semana.  [Comentário:  “A observância do sábado nos dias do ministério terreno de Jesus havia se tornado externa e formal. As autoridades religiosas de Israel haviam criado muitas restrições e estabeleceram regras meticulosas. A Mishnah, antiga literatura religiosa dos judeus, nos tratados Shabbat e Erub, registra minúcias de como o sábado deve ser observado. A tradição dos anciãos criou 39 proibições concernentes ao sábado. Por essa razão, o Senhor Jesus entrou diversas vezes em conflito com os escribas e fariseus. Uma delas aconteceu quando ele defende os seus discípulos por colherem espigas no sábado (Mt 12.1-5). 1 Naquele tempo, passou Jesus pelas searas, em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas e a comer. 2 E os fariseus, vendo isso, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num sábado. 3 Ele, porém, lhes disse: Não tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e os que com ele estavam? 4 Como entrou na Casa de Deus e comeu os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem aos que com ele estavam, mas só aos sacerdotes? (Mt 12.1-4). A passagem paralela aparece em Marcos 2.23-26 e Lucas 6.1-4. Em todas elas, o Senhor Jesus mencionou um trecho do Antigo Testamento em que Davi comeu o pão da proposição na casa do sacerdote Abiatar, quando estava sob a perseguição de Saul (1 Sm 21.6). Assim, ele colocou a guarda do sábado na mesma categoria do preceito cerimonial. A lei proibia que estranhos comessem do pão sagrado da proposição, o qual era restrito aos sacerdotes (Êx 29.33; Lv 22.10). Jesus foi além e disse que os sacerdotes no templo podiam violar o sábado e ficar sem culpa (Mt 12.5). Um mandamento moral é obrigatório por sua própria natureza. Não existe concessão para preceitos morais; aqui, a vida está acima do sábado. Em outra ocasião, o Senhor Jesus torna a considerar o sábado um preceito cerimonial com base na própria lei de Moisés. Ele nem precisou reivindicar a sua autoridade de Filho de Deus e Messias, ao lembrar às autoridades religiosas que a circuncisão de uma criança pode ser feita num dia de sábado. A lei prescreve que o menino deve ser circuncidado no oitavo dia de seu nascimento (Lv 12.3). Jesus disse que a circuncisão pode ser feita mesmo quando o oitavo dia coincide com sábado (Jo 7.22, 23). Jesus declarou: "O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem, por causa do sábado" (Mc 2.27). Muitos comparam essas palavras a uma frase do Talmude creditada ao rabi Simeon ben Menasya, cerca de 180 d.C.: "O sábado foi dado a vocês, não vocês entregues a ele". A interpretação judaica diz respeito à permissão da quebra do sábado em casos especiais, como a vida em perigo. Mas o que Jesus disse significa que os seres humanos não foram criados para observar o sábado, mas que o sábado foi criado para o benefício humano. Ele não disse que o sábado foi feito por causa dos judeus ou de Israel, mas por causa de todos os seres humanos. O sábado legal, do Decálogo, foi dado a Israel como sinal entre Javé e os israelitas (Êx 31.13, 17; Dt 5.15; Ez 20.12). Aqui, o Senhor Jesus se refere ao sábado institucional que Deus estabeleceu para o bem-estar e gozo de todos os seres humanos, e isto está acima de observância meticulosa do sábado”. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 69-71.]

2. Jesus é o Senhor do sábado (Mc 2.28). O sábado veio de Deus e somente Ele tem autoridade sobre essa instituição. Então, não há outro no universo investido de tamanha autoridade, senão o Filho de Deus. A expressão "o Filho do Homem", no singular, é título messiânico, não é usual ou comum às outras pessoas. Está claro que Jesus se referia a Ele mesmo. Jesus disse que os seres humanos não foram criados para observar o sábado, mas que o sábado foi criado para o benefício deles (Mc 2.27).  [Comentário:  A frase "Assim, o Filho do Homem até do sábado é senhor" (Mc 2.28) e as passagens paralelas (Mt 12.8; Lc 6.5) são disputadas pelos expositores do Novo Testamento. Há duas linhas principais de interpretação: a) a autoridade sobre o sábado foi conferida aos seres humanos, e b) trata-se do próprio Senhor Jesus. A primeira nos parece menos aceitável porque Deus nunca delegou autoridade sem limites aos humanos e, também, porque a expressão grega ho huios tou anthrõpos, "o Filho do Homem", no singular, é título messiânico e não relativo a humanos. Está claro que Jesus se referia a si mesmo. Esta é a melhor interpretação. Ele revelou seu poder e sua autoridade sobre as enfermidades, sobre a natureza, sobre todos os poderes das trevas, sobre a morte e o inferno; assim, nada mais natural ser mesmo o Senhor do sábado. O sábado veio de Javé e somente ele tem autoridade sobre a instituição. Então, não há outro no universo investido de tamanha autoridade, senão o Filho de Deus. Mais uma vez, o Senhor Jesus Cristo apresenta o profeta Oseias como autoridade para fundamentar seu ensino (Mt 12.7; Os 6,6). Ele acrescentou ainda que é "lícito fazer bem nos sábados" (Mt 12.12). Isso o próprio Jesus o fez (Mc 3.1-5; Lc 13.10- 13; 14.1-6; Jo 5.8-18; 9.6, 7, 16), e nós também devemos fazer o bem, não importa qual seja o dia da semana. Como o sábado do relato da criação, não é regra legal opressiva; é chamado de sábado institucional que se transferiu para o domingo por causa da ressurreição de Jesus, mas não como mandamento. Assim, como nada há no Novo Testamento que indique a sua observância, isso por si só mostra que o quarto mandamento não é um preceito moral. Esta interpretação é corroborada pelo fato de nem Jesus nem os apóstolos ensinarem a guarda do sábado. O sábado não foi mencionado quando Jesus citou os mandamentos para o moço rico (Mt 19.17-19). Toda a lei se resume no amor a Deus e ao próximo (Mt 7.12; 22.40; Mc 12.31; Rm 13.10). O apóstolo Paulo omitiu o quarto mandamento (Rm 13.9). Ele considerava retrocesso espiritual guardar dias, meses e anos (G1 4.10, 11). Os primeiros cristãos eram judeus de origem e era natural para eles observar os serviços da sinagoga; ainda hoje, muitos judeus que são convertidos à fé cristã preferem não abrir mão de sua identidade judaica, principalmente aqueles que residem em Israel. É mais uma questão cultural. Paulo via o sábado e os preceitos dietéticos, o kashrut, como mera opção pessoal. E, mesmo não havendo prova de que o apóstolo distinguisse preceitos morais e cerimoniais, aqui ele coloca o sábado e o kashrut na mesma categoria (Rm 14.1-6). Segundo Paulo, o antigo concerto foi abolido (2 Co 3.7-14) , incluindo o sábado (Os 2.11). De fato, isso já era anunciado desde o Antigo Testamento (Jr 31.31-34). Paulo disse que Jesus riscou na cruz "a cédula que era contra nós nas suas ordenanças" (Cl 2.14). O substantivo grego para "cédula" é cheirgraphon, um hapax legomenon, literalmente, "escrito à mão”. É um documento escrito à mão usado aqui metaforicamente. O termo aparece na literatura grega extrabíblica com vários significados: "lei mosaica, obrigação escrita, contrato (ROBINSON, 2012, p. 984); "registro de uma conta financeira, conta, registro de dívida" (LOUW & NIDA, 2013, pp. 352, 353). É um certificado de dívida, uma nota promissória. A ordenança, ou dogma, significa "decreto, ordenança, edito", um termo usado também em referencia à lei de Moisés (Ef 2.15). É esse o sentido aqui, pois Jesus disse que a lei nos acusa (Jo 5.45). O pensamento paulino revela o aspecto condenatório da lei mosaica (Dt 27.26; 1 Co 15.56; Gl 3.10) e também o padrão divino para a vida humana (Rm 7.13, 14). A acusação da lei contra nós foi cancelada na cruz do Calvário, e aí o apóstolo inclui o sábado. O apóstolo emprega os dois termos "cédula" e "ordenança" metaforicamente para dizer que fomos perdoados e estamos livres de legalismo: "Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo" (Cl 2.16, 17). Com exceção do sangue (At 15.20, 28), as restrições dietéticas de Levítico foram removidas, pois Deus purificou os animais cerimonialmente imundos (At 10.12-15). Nenhum alimento é imundo por si mesmo (Rm 14.14, 20; 1 Tm 4.3, 4). O que contamina o ser humano é o que sai dele, não o que entra (Mt 15.11-20). O sábado cerimonial é um termo para designar os festivais de Israel que englobam as festas anuais, mensais e semanais (1 Cr 23.31; 2 Cr 2.4; 8.13; 31.3; Ez 45.17). O sábado cerimonial já está incluído na expressão "dias de festa". Assim, a "lua nova", refere-se à festa mensal e a expressão "dos sábados" diz respeito aos sábados semanais. O novo concerto nos isenta de todas essas coisas. Paulo parece empregar uma linguagem platônica no tocante ao mundo real e ao mundo das ideias no v. 17. A sombra é temporária e identifica com imperfeição o objeto que a projetou, sendo portanto inferior a ele. O apóstolo afirma nesta metáfora que a lei é uma projeção, uma sombra da realidade, que é o corpo de Cristo. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 71-74.]

3. Dia do culto cristão. O primeiro culto cristão aconteceu no domingo e da mesma forma o segundo (Jo 20.19,26). Nesse dia o Senhor Jesus ressuscitou dentre os mortos (Mc 16.16). O dia do Senhor foi instituído como o dia de culto, sem decreto e norma legal, pelos primeiros cristãos desde os tempos apostólicos (At 20.7; 1 Co 16.2; Ap 1.10). É o "sábado" cristão! O sábado legal e todo o sistema mosaico foram encravados na cruz (Cl 2.16,17), foram revogados e anulados (2 Co 3.7-11; Hb 8.13). O Senhor Jesus cumpriu a lei (Mt 5.17,18), agora vivemos sob  a graça (Jo 1.17; Rm 6.14). [Comentário:  O sábado legal do Decálogo foi estabelecido para Israel se lembrar da escravidão no Egito (Dt 5.15). Há certa analogia com o sábado cristão, o domingo, que, sem precisar de imposição legal, passou a ser o dia de adoração cristã coletiva em memória à ressurreição de Cristo que ocorreu num domingo (Mc 16.1-6; Lc24.1-6). Éosábado institucional. Isso está claro em três passagens do Novo Testamento: "No primeiro dia da semana, ajuntando os discípulos para o partir do pão" (At 20.7). Era um domingo, "talvez 24 de abril de 57 d.C.", segundo F. F. Bruce (apud STOTT, 1994, p. 360). O "partir do pão" é um termo usado para a Ceia do Senhor (At 2.42; 1 Co 10.16; 11.20-26). Segundo o autor citado, essa passagem "é a evidência inequívoca mais primitiva que temos da prática cristã de reunir-se para a adoração nesse dia". Isso se confirma mais adiante no Novo Testamento: "No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que se não façam as coletas quando eu chegar" (1 Co 16.2). Temos aqui outra prova de que o primeiro dia da semana era o dia de culto regular. O apóstolo recomendou que nessas reuniões se levantasse uma coleta para socorrer os irmãos pobres de Jerusalém. O apóstolo João foi arrebatado no dia do Senhor: Eu fui arrebatado em espírito, no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta" (Ap 1.10). A expressão dia do Senhor" não é escatológica, pois a construção grega aqui, en tê kyriakê hêmera, se refere ao domingo. Versões católicas como Figueiredo, Matos Soares e a Bíblia do Peregrino empregam "num dia de domingo" para traduzir a referida frase. Esta tradução é aceitável porque está de acordo com o contexto bíblico e histórico. A palavra kyriakê significa "domingo" ainda hoje na Grécia. O termo "domingo", literalmente quer dizer, "dia do senhor , do latim, dominus, "senhor", e dies, "dia". Inácio de Antioquia usa a mesma frase grega do apóstolo João em Apocalipse, para indicar o primeiro dia da semana: "Aqueles que viviam na antiga ordem de coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senho em que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte" (Magnésios 9-1, Coleção Patrística 1, Padres Apostólicos). Inácio foi o terceiro bispo de Antioquia e conheceu os apóstolos Paulo e João. Preso em 110 no reinado de Trajano, foi levado a Roma e atirado às feras. Trata-se de alguém da segunda geração dos apóstolos. Outra razão que confirma essa interpretação é o fato de a Septuaginta usar uma forma diferente para o "dia do Senhor escatológico, hêmera tou kyriou ou hêmera kyriou. E o mesmo acontece nas cinco vezes que a frase aparece no Novo Testamento grego (At 2.20; 1 Co 5.5; 2 Co 1.14; 1 Ts 5.2; 2 Pe 3.10). Os primeiros pais da Igreja mostram que nos três primeiros séculos da história da Igreja o domingo continuava sendo o dia de reunião dos cristãos. Além de Inácio de Antioquia, isso pode ser ainda visto na Epístola de Barnabé (que não era o Barnabé citado do Novo Testamento). Trata-se de um documento da primeira metade do século 2, que declara: "Eis por que celebramos como festa alegre o oitavo dia, no qual Jesus ressuscitou dos mortos e, depois de se manifestar, subiu aos céus" (Epístola de Barnabé, 15.9). Herdamos dos dias apostólicos essa prática que foi perpetuada pelo tempo. Os preceitos cerimoniais não desobrigam os seres humanos de cultuarem a Deus, mas estes não precisam de rituais e nem lhes é exigido irem a Jerusalém. Da mesma forma, o sábado não precisa ser o sétimo dia da semana. Os adventistas do sétimo estão equivocados quando afirmam que o imperador Constantino substituiu o sábado pelo domingo, e sua doutrina não tem sustentação bíblica. É um erro teológico e histórico. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 74-76.]


SÍNTESE DO TÓPICO V


Em o Novo Testamento, Jesus é o Senhor do sábado e somente Ele tem autoridade sobre esta instituição.




CONCLUSÃO


A palavra profética anunciava o fim do sábado legal (Jr 31.31-33; Os 2.11). Isso se cumpriu com a chegada do novo concerto (Hb 8.8-12). Exigir a guarda do sábado como condição para a salvação não é cristianismo e caracteriza-se como doutrina de uma seita. [Comentário: “Quase toda a instrução dos capítulos 3, 4 e 5 de Gálatas aborda a questão da lei e do evangelho, donde se conclui que: 1) A lei foi ordenada por causa das transgressões, ATÉ que viesse a posteridade (3.19). 2) A lei não pôde comunicar vida; por isso, a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes. 3) A lei serviu para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados, não pela fé na obediência à lei. 4) Depois que a fé veio, já não estamos debaixo da lei, mas da graça (3.25). 5) Cristo veio para libertar os que estavam debaixo da lei. Não somos mais meninos necessitados de tutores, reduzidos à escravidão. Agora somos filhos de Deus (4.1-7). 6) Não mais estamos sujeitos a guardar dias, meses e anos, rudimentos fracos e pobres aos quais alguns querem continuar servindo (4.9-10). 7) Somos filhos não da escrava Agar, que simboliza o velho concerto. Somos filhos da promessa, como Isaque. Lancemos fora a escrava e seu filho, porque, “de modo algum, o filho da escrava herdará com o filho da livre” (4.21-31). 8) Não devemos retornar ao jugo da servidão, pois Cristo nos libertou (5.1). 9) Os que buscam justificação na lei, separados estão de Cristo (5.4).]. “NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.


Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.

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