SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
A Epístola de Tiago, que será estudada ao longo deste trimestre, nos
trará orientações a respeito do agir do cristão no mundo. Na aula de hoje
introduziremos esse livro, considerando sua autoria, local, data e destinatário.
Em seguida, destacaremos os propósitos da Epístola de Tiago, e ao final,
apontaremos algumas instruções para os cristãos da contemporaneidade com base
nesse texto bíblico.
1. EPÍSTOLA DE TIAGO
A Epístola de Tiago nem sempre foi compreendida pela igreja cristã, nem
mesmo por alguns reformadores, que consideravam essa uma recaída no legalismo
judaico. O próprio Lutero a criticava, argumentando que se tratava de “uma
verdadeira epístola de palha, pois não é caracteristicamente evangélica”. Mas
essa foi uma interpretação equivocada do sábio reformador, que não compreendeu
o propósito do seu autor. Tiago, o autor da Epístola, é um dos quatro
mencionados no Novo Testamento, sendo este o filho de José e Maria, portanto
meio-irmão do Senhor (Mt. 1.18,20). Ele se tornou apóstolo de Cristo após
testemunhar a ressurreição de Jesus, sendo considerado uma das colunas da
igreja, além de ser líder influente em Jerusalém (At. 15.13-21; Gl. 1.19). O
local da composição da Epístola é incerto, ainda que alguns estudiosos especulem
que teria sido escrita em Jerusalém. A data provável deste escrito é entre 45 a
49 d. C., antes do concílio em Jerusalém (At. 15), sendo destinada aos cristãos
judeus que residiam em comunidades de gentios fora da Palestina. Nas palavras
do próprio Tiago, essa Epístola é destinada “às doze tribos que andam
dispersas” (Tg. 1.1). A expressão “doze tribos”, nesse versículo é uma
figuração dos israelitas daquela época, considerando que as doze tribos
originais haviam sido desfeitas. Existem várias possibilidades de divisões
dessa Epístola, apresentamos uma delas: Destino e saudação (Tg. 1.1); Provações
e a maturidade cristã (Tg. 1.2-18); Cristianismo autêntico e suas obras (Tg.
1.19-2.26); Dissensões dentro da igreja (Tg. 3.1-4.12); Implicações de uma cosmovisão
cristã (Tg. 4.13-5.11); e Exortações finais (Tg. 5.12-20). O versículo-chave da
Epístola de Tiago certamente se encontra em Tg. 2.18: “Mas dirá alguém: Tu tens
a fé, e eu tenho as obras, mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te
mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. Mas há outros destaques, dentre eles:
1) a prática da Palavra de Deus (Tg. 1.22); 2) a religião pura e verdadeira
(Tg. 1.27); e 3) o valor da oração do justo (Tg. 5.16).
2. O PROPÓSITO DA EPÍSTOLA DE TIAGO
A relação entre fé e obras é o ponto central da Epístola de Tiago, e
está em consonância com o argumento do autor da Epístola aos Hebreus,
defendendo que sem fé é impossível agradar a Deus (Hb. 11.6), e de Paulo, ao
justificar que tudo que não é da fé é pecado (Rm. 14.23). Isso quer dizer que a
fé exige ação, principalmente para aqueles que se deparam com provações (Tg.
1.2-4). Tiago revela, ao orientar a igreja, que a fidelidade faz diferença, por
isso, ao enfrentarmos oposição, devemos nos considerar bem-aventurados (Tg. 1.12).
Isso porque ao contrário do que é propagado na atualidade, as provas são
instrumentos utilizados por Deus para o crescimento do cristão. Tiago adverte
os irmãos da igreja para não se esquecerem da Palavra de Deus, especialmente
diante das situações adversas (Tg. 1.22-25). Tiago também adverte a igreja em
relação à distinção que se fazia entre as pessoas, principalmente no que tange
à posição social (Tg. 2.1-6). A esse respeito a igreja pode influenciar a
sociedade, na medida em que as pessoas se respeitam mutuamente, e se aceitam
como irmãos e irmãs em Cristo, independentemente da condição socioeconômica.
Deus exige fé, mas essa não pode ser atestada sem as obras, como testemunho
para as pessoas. O objetivo de Tiago é justamente apontar a demonstração da fé,
que acontece somente pelas obras. Evidentemente ninguém é salvo pelas obras, a
salvação é pela graça, por meio da fé, não das obras, para que ninguém se
glorie (Ef. 2.8,9). Por outro lado, como assume o Paulo no mesmo texto, fomos
criados para as boas obras, para que andássemos nelas (Ef. 2.10). As pessoas
que nos observam, e o próprio Deus, verão as nossas obras, como demonstração de
fidelidade (Tg. 2.14-18). Jesus, antes mesmo de Tiago, destacou que os crentes
são sal da terra e luz do mundo (Mt. 5.13) e que nos tornamos conhecidos
através do frutos (Mt. 7.20). O controle da língua é fundamental na
demonstração da fé do cristão, por isso os crentes devem ter cuidado, pois se
“essa é inflamada pelo inferno” (Tg. 3.8). Ao invés de usar a língua para difamar,
ou mesmo para murmurar, devemos orar a Deus, mas é preciso orar com sabedoria,
não apenas para satisfazer nossos desejos egoístas (Tg. 4.2). Para o autor, os
crentes não podem pactuar com o mundo, tornar-se amigo do mundo, significa ser
inimigo de Deus (Tg. 4.4), antes devemos confiar no Senhor, que está no comando
de todas as coisas (Tg. 4.13-15). Por fim, Tiago destaca o valor da igreja em
comunidade, inicialmente na confissão dos pecados, e na oração uns pelos outros
(Tg. 5.16).
3. INSTRUÇÕES DA EPÍSTOLA DE TIAGO
A partir das instruções de Tiago aos crentes primitivos, concluímos que
essa epístola, ao contrário do que afirmou Lutero, não é “uma epístola de
palha”. Tiago continua atual, e traz uma alerta para os crentes deste século.
Em sua Epístola nos conclama a um cristianismo autêntico, fundamentado não
apenas na doutrina, mas também voltado para a prática. A igreja cristã precisa
avaliar-se continuamente a partir dessa mensagem. A doutrina bíblica da
salvação demanda um ato de fé, uma convicção no sacrifício de Cristo na cruz do
calvário (Ef. 2.8,9), mas também atitudes de fidelidade, que são demonstradas
através de atitudes, condizentes com o evangelho de Jesus Cristo. Tiago não
entra em contradição com Paulo, muito pelo contrário, seus posicionamentos se
complementam. Em Rm. 3.28; 5.21; e Gl. 3.24 o Apóstolo dos gentios avalia a
condição do homem pecador diante de Deus, mostrando a inutilidade da religião
para a justificação. Em Tg. 2.24, o meio-irmão do Senhor ressalta a necessidade
das obras, não apenas como demonstração perante os homens da salvação, mas
também para nossa maturidade, na medida em que revelamos nossa fidelidade a
Deus. Nesses tempos em que a igreja se volta para um cristianismo distanciado
de um viver autenticamente cristão, faz-se necessário repensarmos, a partir da
Palavra de Deus, quem de fato somos, e como devemos agir no mundo. A natureza
da religiosidade precisa ser percebida à luz da orientação bíblica, caso
contrário, nos tornaremos um mero ajuntamento de pessoas, debaixo de interesses
meramente humanos. Os membros da igreja, como comunidade de fé, devem se
relacionar uns com os outros, demonstrando atenção, especialmente os mais
necessitados. Um cristianismo individualista, no qual as pessoas não se
envolvem umas com as outras, nada tem a ver com aquele expresso por Jesus, ao
edificar a Sua igreja. A igreja que é ekklesia sabe que está no mundo, que deve
ser luz nas trevas, e apontar para Aquele que nos chamou para segui-Lo.
CONCLUSÃO
A Epístola de Tiago, escrita ainda no Século I, nos trás uma mensagem
atual, que chama todo cristão à responsabilidade. A modernidade nos legou uma
“zona de conforto”, até mesmo o cristianismo foi solapado por esse “modus
vivendi”. Esse livro bíblico, que será estudado ao longo deste trimestre,
abalará as estruturas de nossa sociedade acomodada. Oramos para Deus, que fale
pela Palavra e o Espírito, a fim de que sejamos moldados à imagem de Cristo, e
vivermos um cristianismo autêntico, em que nossas obras sejam condizentes com a
fé que expressamos.
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa.
SUBSÍDIO
II
INTRODUÇÃO
Neste trimestre, estudaremos a mensagem de Deus entregue aos santos
irmãos do primeiro século por intermédio de Tiago, o irmão do Senhor. Assim
pode ser resumida a Epístola universal de Tiago: uma carta de conselhos
práticos para uma vida bem-sucedida e de acordo com a Palavra de Deus. A
espiritualidade superficial, a ausência de integridade, a carência de
perseverança e a insuficiência da compaixão para com o próximo são
características que permeiam o caminho de muitos crentes dos dias modernos. O
estudo dessa epístola é relevante para os nossos dias, pois contempla a
oportunidade de aperfeiçoarmos o nosso relacionamento com Deus e com o próximo,
levando-nos a compreender que a fé sem as obras é morta (Tg 2.17). [Comentário:
Iniciamos mais um trimestre da escola dominical e pelos próximos três
meses estaremos em contato com a Epístola de Tiago. Será um trimestre de
Teologia Prática, de aplicação prática da teologia à vida quotidiana. Teremos
lições preciosíssimas que nos auxiliarão na verificação de que estamos ou não
sendo cristãos autênticos. Sim, pois você acreditaria em alguém que se diz
mecânico, mas não consegue consertar um carro? Um enfermeiro que não sabe
aplicar uma injeção? Tiago trata exatamente disto, ele defende que se alguém
diz ter fé deve também possuir obras que testifiquem esta fé. Na verdade, o
Evangelho não admite uma vida cristã acompanhada de um discurso desassociado da
prática. A nossa fé deve ser confirmada através das obras. Qual é a fé que
salva? Como conciliar Romanos 3.28 com Tiago 2.24? Será que Tiago contradiz o
ensino de Paulo? Qual o papel das obras na salvação? Prepare-se para mais um
emocionante trimestre!] Tenhamos todos uma excelente e
abençoada aula!
I. AUTORIA, LOCAL, DATA E
DESTINATÁRIOS (Tg 1.1)
1. Autoria. Em
primeiro lugar, é preciso destacar o fato de que há, em o Novo Testamento, a
menção de quatro pessoas com o nome de Tiago: Tiago, pai de Judas, não o
Iscariotes, (Lc 6.16); Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João (Mt 4.21; 10.2;
Mc 1.19, 10.35; Lc 5.10; 6.14; At. 1.13; 12.2); Tiago, filho de Alfeu, um dos
doze discípulos (Mt 10.3; Mc 3.18; 15.40; Lc 6.15; At 1.13) e, finalmente,
Tiago, o autor da epístola, que era filho de José e Maria e meio-irmão do nosso
Senhor (Mt 1.18,20). Após firmar os passos na fé e testemunhar a ressurreição
do Filho de Deus, o irmão do Senhor liderou a Igreja em Jerusalém (At 15.13-21)
e, mais tarde, foi considerado apóstolo (Gl 1.19). Pela riqueza doutrinária da
carta, o autor não poderia ser outro Tiago, senão, o irmão do Senhor e líder da
Igreja em Jerusalém. [Comentário: A Epístola de Tiago é a
primeira do grupo de epístolas consideradas como escritos gerais. Tais
epístolas recebem essa designação por não serem endereçadas especificamente a
qualquer grupo que possa ser identificado de imediato. Também recebe a
denominação de “escritos católicos”, contudo, sem ligação nenhuma com Igreja
Católica Apostólica Romana. A autoria desta Carta é entendida como sendo de
Tiago, o irmão do Senhor (Mc 15.40). Ele identifica-se somente como “Tiago,
servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” (1.1). O nome Tiago era comum nos dias
de Jesus, e no Novo Testamento ocorrem ao menos quatro citações a pessoas que
tinham esse nome: Tiago, pai de Judas (Lc 6.16); Tiago, filho de Zebedeu e irmão
de João; Tiago, filho de Alfeu. Tiago, irmão do Senhor, tem sido a teoria mais
corrente em relação à autoria desta Carta. Paulo o destaca como apóstolo (G1
1.19), um homem que era considerado um dos pilares da igreja. D. A. Carson
aborda dessa forma a pluralidade de candidatos à autoria: Destes quatro [Carson
cita Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João, Tiago filho de Alfeu, Tiago o
menor e Tiago, irmão do Senhor], o último é de longe o mais óbvio candidato à
autoria desta carta. Tiago, o pai de Judas é por demais obscuro para ser
seriamente considerado; o mesmo vale, num grau menor, para Tiago, o filho de
Alfeu. Por outro lado, Tiago, o filho de Zebedeu, tem um papel de destaque
entre os Doze, mas a data de seu martírio — 44 d.C. (Veja At 12.2) — é provavelmente
muito cedo para que o liguemos à carta. Resta, então, Tiago, o irmão do Senhor,
que certamente é o Tiago mais proeminente na Igreja Primitiva. Há ainda
estudiosos que entendem que essa carta é de autoria anônima. Sobre esse
assunto, Carson comenta: Poucos estudiosos têm atribuído a carta a um Tiago
desconhecido. Mas embora isso seja possível e não conflite em nenhum aspecto
com nada existente na própria carta, a simplicidade da identificação do autor
indica um indivíduo bem conhecido — e uma pessoa tão bem conhecida seria
provavelmente mencionada no Novo Testamento. Depois de brevemente apresentadas
as teorias, a Igreja Cristã tem tido em Tiago, o irmão de Jesus e bispo em
Jerusalém, o autor dessa carta que atravessou os séculos e até hoje fala com
toda a igreja.]
2. Local e data. Embora a maioria dos biblistas veja a Palestina, e
mais especificamente Jerusalém, como local mais indicado de produção da
epístola, tal informação é desconhecida. Sobre a data, tratando-se do período
antigo da era cristã, sempre será aproximada. Por essa razão, a Bíblia de
Estudo Pentecostal data a produção da carta de Tiago entre os anos 45 a 49
d.C., aproximadamente. [Comentário: A carta de Tiago já recebeu
diversas propostas de datação. Esta tem sido determinada por alguns
especialistas como tendo sido escrita em 45 ou 62 d.C. Os argumentos orbitam da
seguinte forma para se deduzir que foi escrita em um desses períodos. Conforme
Josefo, o martírio de Tiago ocorreu em 62 d. C, portanto, ele teve de escrever
antes desse período sua carta. A epistola não faz menção sobre a controvérsia
de judeus e cristãos entre os anos 50 e 60. Como relata o livro de Atos, Tiago
foi o chamado “moderador” do Concílio de Jerusalém, evento que provavelmente
teria sido realizado o ano 50 d.C. e que discutiu a chegada de gentios no seio
da igreja cristã. E há estudiosos que entendem que como a Carta de Tiago não
cita o apóstolo Paulo, é provável que Tiago escreveu sua Carta antes de Paulo
ter sido considerado um obreiro de destaque. Alexandre Coelho e Silas
Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora
CPAD. pag. 13-15. Tendo visto claramente as dificuldades que circundam
este livro, no tocante à sua autoridade e canonicidade, podemos mais facilmente
dizer algo de significativo sobre a questão do próprio autor. O livro
identifica algum «Tiago» como seu autor. Mas, qual Tiago está em foco, que nos
seja conhecido no N.T.? Ou tratar-se-ia de um Tiago desconhecido? Ou seria este
livro uma pseudepígrafe, isto é, escrito em nome de um famoso Tiago do N .T.,
mas não na realidade? Essa prática era comum nos primeiros séculos da era
cristã, havendo mais de cem escritos dessa natureza que chegaram até nós,
supostamente de famosos cristãos primitivos, mas certamente sem que isso seja
verdade. E esses são 08 escritos acerca dos quais temos algum conhecimento,
pelo menos a través de fragmentos, ou títulos mencionados por outros pais da
igreja. Deve ter havido um número muito maior de casos. Tal prática não era
reputada desonesta, naqueles dias; era uma prática comum, usada tanto na
literatura profana como na sagrada. 1. Tiago, filho de Zebedeu, irmão de João.
incluído em todas as quatro listas sobre os doze apóstolos. Foi decapitado a
mando de Herodes Agripa I, em 44 D.C. ou pouco antes. (Ver Atos 12:2). 2.
Tiago, filho de Alfeu, um dos doze apóstolos. (Ver Mat. 10:3; Marc. 3:18; Luc.
6:15 e Atos 1:13). 3. Tiago, irmão do Senhor. (Ver Gál. 1:19; 2:9,12; I Cor.
15:7; Atos 12:17; 15:13 e 21:18). Ficou convicto do caráter messiânico de
Jesus, evidentemente através de aparição pessoal a ele, após a ressurreição de
Cristo. Subsequentemente, tornou-se o líder principal da igreja de Jerusalém,
uma figura de estatura sumo sacerdotal, muito respeitado entre judeus e
cristãos, igualmente. 4. Tiago, o Menor (uma alusão à sua pequena estatura, a
fim de distingui-10 de outros personagens do mesmo nome). (Ver Marc. 15:40;
Mat. 27:56; Luc. 24:10). Muitos identificam esse Tiago com o filho de Alfeu. 5.
Tiago, pai ou irmão de Judas, um dos doze apóstolos (ver Luc. 6:16 e Ato s
1:13). Ao invés desse Judas (não o Iscariotes), nas listas dos evangelhos de
Marcos (capitulo terceiro) e de Mateus (capítulo décimo), aparece o nome de
Tadeu ou Labeu. 6. Tiago, autor da epístola, que possivelmente, pode ser com um
ou outro dos Tiagos mencionados acima. 7. Tiago, irmão de Judas (ver Jud. 1),
por meio de quem a epístola de Judas teria sido escrita. Dentre esse número, os
Tiagos de posição primeira, segunda, terceira e sétima têm sido identificados
como o autor da epístola. CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento
Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 2-3.]
3. Destinatário. “Às doze tribos que andam dispersas” (Tg 1.1). Há
muito a estrutura política de Israel perdera a configuração de divisão em
tribos. Assim, em o Novo Testamento, a expressão “doze tribos” é um recurso
linguístico que faz alusão, de forma figurativa, à nação inteira de Israel (Mt
19.28; At 26.7; Ap 21.12). Todavia, ao usar a fórmula “doze tribos”, na
verdade, Tiago refere-se aos cristãos dispersos na Palestina e variadas igrejas
estabelecidas em outras regiões, isto é, todo o povo de Deus espalhado pelo
mundo. [Comentário: O autor da carta indica que
seus destinatários são as 12 tribos que estão dispersas: Tg 1.1 diz que “as
doze tribos na dispersão” (em grego diáspora) são os destinatários (cf. 1Pe
1.1). O Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal explica o seguinte: O
cristianismo é judeu. Isto pode parecer uma contradição, mas é verdade. Maria,
a mãe do nosso Senhor, era judia, como também José era judeu. Sendo assim,
JESUS foi criado em um lar judeu. E no seu ministério público, JESUS dirigia-se
primeiro aos judeus, o povo escolhido de DEUS, chamando-os ao arrependimento e
à fé. Todos os doze discípulos originais eram judeus. O cristianismo iniciou-se
no Templo e na sinagoga, quando os judeus que procuravam encontravam o Messias.
Portanto, é bastante natural que Jerusalém fosse o berço da igreja. Este é o
lugar onde JESUS foi crucificado e onde Ele ressuscitou e posteriormente
ascendeu ao céu. Em Jerusalém, o ESPÍRITO SANTO encheu o primeiro grupo de
crentes. E ali foi onde os apóstolos ministraram. A igreja de Jerusalém teve um
crescimento explosivo, com milhares de pessoas respondendo positivamente ao Evangelho
(At 2.41; 4.4; 5.14; 6.1,7). Os crentes encontravam-se nos pátios do Templo e
nas suas casas (At 5.42), adorando, comendo, aprendendo, e servindo juntos.
JESUS disse aos seus seguidores que transmitissem a fé além de Jerusalém, “em
toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). No sermão do
monte das Oliveiras, JESUS predisse uma perseguição terrível e a destruição
final de Jerusalém (Lc 21.5-24) - JESUS sabia que os seus seguidores se
espalhariam. A perseguição começou pouco tempo depois da ascensão de JESUS.
Quer estes primeiros cristãos estivessem prontos ou não, muitos deles foram
forçados a se espalhar pelo império romano (At 8.1). Eles foram a Samaria e a
lugares tão distantes quanto Fenícia, Chipre, e Antioquia da Síria (At 11.19).
Os crentes espalhados “iam por toda parte anunciando a palavra” (At 8.4) e,
desta forma, acrescentavam muitos novos convertidos à fé. Isto gerou uma
necessidade de acompanhamento, de instrução espiritual e de incentivo para os
novos crentes. Por exemplo, os apóstolos em Jerusalém enviaram Pedro e João a
Samaria, para avaliar o ministério de Filipe (At 8.14), e enviaram Barnabé a
Antioquia, por terem ouvido falar que os gregos estavam se convertendo ali (At
11.19-22). Naturalmente, os seguidores de JESUS, o Messias, já estavam vivendo
em muitas terras estrangeiras, tendo vindo à fé no Pentecostes. Realizada
cinquenta dias depois da Páscoa, Pentecostes (também chamada Festa das Semanas)
era uma festa de ação de graças pela colheita. Todos os anos, judeus de muitas
nações reuniam-se em Jerusalém para esta celebração. De acordo com Atos 2.9-11,
“partos e medos, elamitas e os que habitavam na Mesopotâmia, e Judéia, e
Capadócia, e Ponto, e Ásia, e Frigia, e Panfília, Egito e partes da Líbia,
junto a Cirene, e forasteiros romanos (tanto judeus como prosélitos), e
cretenses, e árabes” ouviram, em suas línguas nativas, a mensagem que era cheia
do ESPÍRITO. Eles também ouviram o poderoso sermão de Pedro (At 2.14-41), e
muitos vieram à fé em CRISTO. Ao voltar às suas casas, estes novos convertidos
tornaram-se uma equipe evangelizadora internacional. Na verdade, é provável que
a igreja em Roma tenha sido fundada por aqueles que ouviram falar sobre JESUS e
creram nele em Jerusalém, por ocasião do Pentecostes. Tiago, sendo o líder da
comunidade cristã de Jerusalém e o pastor de um rebanho disperso, escreveu a
este grande grupo de crentes judeus em CRISTO que estavam vivendo muito longe
dos muros de Jerusalém. Assim ele endereçou a sua carta; “Às doze tribos que
andam dispersas” (1.1). Pelo fato de esta carta ter sido escrita no início da
vida da igreja (antes das viagens missionárias de Paulo), praticamente todos os
crentes teriam sido judeus, mas esta é uma carta para todos os cristãos, tanto
judeus quanto gentios. Tiago sabia o que estes jovens crentes estariam
enfrentando ao tentarem viver para CRISTO, longe dos apóstolos e anciãos.
Haveria provações e perseguições, similares àquelas que tinham tirado muitos
deles de suas casas. Haveria sofrimento. Haveria tentações. Haveria pressões.
Tiago estava preocupado com que seus irmãos e irmãs cristãos conseguissem
perseverar. Tiago também sabia que é fácil voltar a velhos hábitos ou à
neutralidade espiritual quando se é afastado e cercado por aqueles que creem em
outras coisas. Assim, ele desafiou os seus leitores a irem além de meras
palavras e chegarem à ação — viver segundo a sua fé. Tiago também estava
preocupado com o corpo, a comunhão, e a igreja. Assim, ele advertiu a respeito
de discriminações e divisões e incentivou os crentes a tomarem cuidado com as
suas palavras, procurarem a sabedoria divina, serem humildes, e orarem uns
pelos outros. Os leitores desta carta do século teriam apreciado a abordagem
direta e prática de Tiago. Ele foi direto ao ponto, com respostas orientadas
pelo ESPÍRITO, que eles tanto necessitavam. Comentário do Novo Testamento
Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 654-655.]
SINOPSE
DO TÓPICO (1)
O autor da epístola é Tiago, o meio-irmão de Jesus.
A carta foi escrita provavelmente em Jerusalém, entre os anos 45 e 49 d.C. e
dirigida aos cristãos dispersos da Palestina bem como as igrejas de outras
regiões.
II. O PROPÓSITO DA EPÍSTOLA DE
TIAGO
1. Orientar. Em um
tempo marcado pela falsa espiritualidade e egoísmo, as orientações de Tiago são
relevantes e pertinentes. Isso porque a Escritura nos revela o serviço a Deus
como a prática concreta de atitudes e comunhão: guardar-se do sistema mundano
(engano, falsidade, egoísmo, etc.) e amar o próximo. Assim, através de
orientações práticas, Tiago almeja fortalecer e consolar os cristãos,
exortando-os acerca da profundidade da verdadeira, pura e imaculada religião
para com Deus a qual é: a) visitar os órfãos e as viúvas nas tribulações; b)
não fazer acepção de pessoas e c) guardar-se da corrupção do mundo (Tg 1.27). [Comentário: É
necessário que tenhamos em mente que Tiago não está tentando resumir tudo o que
envolve a verdadeira adoração a Deus. João Calvino afirma: “ele não dá uma
definição geral de religião, mas nos lembra de que a religião sem as coisas que
ele menciona é nada...”. ritual religioso, se praticado com um coração
reverente e num espírito de adoração, não é errado — e a Palavra de Deus não
pode ser “praticada” se primeiro não for “ouvida”. O que faz parte do culto a
Deus? “Um culto puro e imaculado perante Deus, o Pai, consiste em visitar
órfãos e viúvas em sua aflição e manter a si próprio incontaminado do mundo”:
Deus nos presenteou com seu grande amor, dando-nos seu Filho unigênito como
irmão e tornando-se assim pessoalmente nosso Pai e a nós, seus filhos (Rm 5.8;
1Jo 3.1). Agora tudo depende de que nós lhe agrademos, como o Filho primogênito
de Deus (Mt 3.17). Duas coisas são citadas aqui como partes integrantes do
verdadeiro culto a Deus: dirigir-se para dentro do mundo e preservar-se diante
do mundo. “Visitar órfãos e viúvas em sua aflição”: Tiago cita pessoas que
naquele tempo eram especialmente carentes de ajuda, bem como de proteção
jurídica. Literalmente consta: “olhar por eles”. Isso inclui o cuidado
assistencial. Primeiramente ele tinha em mente os co-cristãos na igreja, mas de
forma alguma somente a eles (Gl 6.10). É condizente com a intenção de nosso
Senhor e vale como dirigido a ele, quando nos dedicamos com toda energia, amor
e fantasia às pessoas em torno de nós, perto e longe, em vista de suas mais
diversas carências (Mt 25.45; 18.5). Uwe Holmer. Comentário Esperança
Cartas aos I Pedro. Editora Evangélica Esperança. Tg 1:27 / Em contraste
com o crente piedoso, cuja língua é todavia afiada, a religião que nosso DEUS e
Pai considera pura e imaculada não é primordialmente ritualística, feita de
hábitos piedosos, mas a que procura visitar os órfãos e as viúvas nas suas
aflições e guardar-se incontaminado do mundo. A primeira característica, a da
caridade e do interesse ativo pelos indefesos e fracos, com freqüência é
mencionada no Antigo Testamento (Deuteronômio 14:29; 24:17-22),
bem como no Novo (Atos 6:1-6; 1 Timóteo 5:3-16). Os órfãos e as viúvas,
ao lado dos estrangeiros e dos levitas, constituíam os pobres dentre o antigo
Israel. A verdadeira piedade, portanto, vai ajudar os fracos e os pobres,
porque DEUS é quem sustenta os oprimidos e indefesos (Deuteronômio 10:16-17). A
segunda característica centraliza-se no mundo, designação comum em Paulo e em
João para a cultura, os costumes e as instituições humanas (1 Coríntios 1- 3;
5:19; Efésios 2:2; João 12:31; 15:18-17; 16; 1 João 2:15-17). A verdadeira
piedade não é conformação à cultura humana, mas a transformação à imagem de
CRISTO (Romanos 12:1-2). Para Tiago, isso significa especificamente a rejeição
dos motivos da concorrência, da ambição pessoal e do acúmulo de riquezas,
paixões que jazem na raiz da falta de caridade e da multiplicação de conflitos
na comunidade (e.g., 4:1-4). Ao declarar que essa, e nada mais, é a verdadeira
religião aos olhos de DEUS, declara Tiago que a conversão é coisa vã se não
conduzir a uma vida transformada. Russell P. Shedd,. Edmilson F. Bizerra.
Uma Exposição De Tiago A Sabedoria De DEUS. Editora Shedd Publicações. pag. 61.]
2. Consolar. Numa
cultura onde não se dobrar a César, honrando-o como divindade, significava
rebelião à autoridade maior, os crentes antigos foram impiedosamente
perseguidos, humilhados e mortos. Entretanto, a despeito de perder emprego,
pais, filhos e sofrer martírios em praças públicas, eles se mantiveram fiéis ao
Senhor. Por isso, a epístola é, ainda hoje, um bálsamo para as igrejas e
crentes perseguidos espalhados pelo mundo (Tg 1.17,18; 5.7-11). [Comentário: Comentando
Tg 1.17, 18, o Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal afirma: Sendo
assim, como podemos evitar cair em tentação? O caminho está em um
relacionamento íntimo com DEUS e na aplicação da sua Palavra à nossa vida
diária. Este padrão nos levará a ver claramente que toda dádiva boa e perfeita
vem do alto. Em comparação com a visão de que DEUS envia o mal, Tiago ressalta
o fato de que toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, de DEUS. Podemos
ter certeza de que DEUS sempre deseja o melhor para nós - não boas coisas hoje
e coisas más amanhã. O caráter de DEUS é sempre confiável e leal - em DEUS, não
há mudança, nem sombra de variação (Ml 3.6). Nada pode impedir que a bondade de
DEUS nos alcance. Ele não se intimida pelas nossas incoerências e
infidelidades. 1.18 Um exemplo maravilhoso das boas coisas que DEUS nos dá
(“toda boa dádiva e todo dom perfeito”) é o nascimento espiritual! Nós somos
salvos porque DEUS decidiu nos tornar primícias das suas criaturas (seus
próprios filhos). O nosso nascimento espiritual não se dá por acidente, nem
porque DEUS tinha que fazê-lo. O novo nascimento é um presente para todos os
crentes (veja Jo 3.3-8; Rm 12.2; Ef 1.5; Tt 3.5; 1 Pe 1.3,23; 1 Jo 3.9). A
palavra da verdade é o Evangelho, as Boas Novas da salvação (Ef 1.13; Cl 1.5; 2
Tm 2.15). Nós somos informados sobre o novo nascimento por meio da leitura da
Palavra de DEUS e da pregação do Evangelho, e respondemos positivamente a ele. Comentário
do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 667.]
3. Fortalecer. Além
das perseguições cruéis, os crentes eram explorados pelos ricos e defraudados e
afligidos pelos patrões (Tg 5.4). Apesar de a Palavra de Deus condenar com
veemência essa prática mundana, infelizmente, ela ainda é muito atual (Ml 3.5;
Mc 10.19; 1Ts 4.6). A Epístola de Tiago não foge à tradição profética de
condenar tais abusos, pois, além de expor o juízo divino contra os
exploradores, o meio-irmão do Senhor exorta os santos a não desanimarem na fé,
pois há um Deus que contempla as más atitudes do injusto e certamente cobrará
muito caro por isso. A queda de quem explora o trabalhador não tardará (Tg
5.1-3). [Comentário:
Tiago sabe que as riquezas acumuladas em geral indicam injustiça.
Na Palestina, em geral, tratava-se de injustiça contra os trabalhadores rurais.
Vede! o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, e que por vós
foi retido com fraude, está clamando. O sistema econômico da Palestina
utilizava trabalhadores braçais diaristas, em vez de escravos, em parte porque
o escravo passaria a custar mais, caso ele convertesse ao judaísmo. Esses
trabalhadores contratados eram os filhos jovens das famílias de camponeses
expulsas de suas terras por causa de bancarrota, quando as hipotecas das
propriedades venceram e não havia como pagá-las. Tais trabalhadores viviam da
mão à boca. O salário de hoje é para comprar o desjejum de amanhã. Quando o
salário não era pago no fim do dia, a família passava fome. A despeito de uma
porção de mandamentos no Antigo Testamento (Levítico 19:13; Deuteronômio
24:14-15), os ricos descobriam jeitos de reter o salário dos trabalhadores
(e.g., Jeremias 22:13; Malaquias 3:5). O fazendeiro poderia retê-lo até o fim
da época de colheita, a fim de garantir que o camponês viria trabalhar; poderia
apelar para uma minúcia técnica a fim de provar que o contrato não foi
cumprido; ou poderia alegar estar cansado demais para pagar o salário no fim do
dia. Se o trabalhador reclamasse, o patrão o poria na lista negra; se fosse aos
tribunais, o rico teria os melhores advogados. Assim é que Tiago retrata o
dinheiro no bolso dos ricos, dinheiro que deveria ter sido usado para pagar os
trabalhadores que clamam por justiça. Os clamores não deixaram de ser ouvidos
por alguém: os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor
Todo-poderoso. Visto tratar-se de ceifeiros, não pode haver desculpa de falta
de dinheiro; há montões de cereais para serem vendidos. O trabalhador faminto
apelou aos prantos para o único recurso que tem: DEUS. Ao mencionar o Senhor
Todo-poderoso, Tiago lembra seu leitor de Isaías 5:9, onde as pessoas que
adquirem grandes latifúndios são condenadas. Todos os judeus sabiam o que
acontecia às pessoas condenadas por Isaías, e também sabiam que os ouvidos de
DEUS estão abertos para os pobres (Salmo 17:1-6; 18:6; 31:2), de modo que a
declaração de Tiago inclui a ameaça de julgamento. Peter H. Davids.
Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 150-151.]
SINOPSE
DO TÓPICO (2)
O propósito geral da epístola de Tiago era
orientar, consolar e fortalecer a Igreja de Cristo que estava sendo perseguida.
III. ATUALIDADE DA EPÍSTOLA
1. Num tempo de superficialidade espiritual. Outro propósito da
epístola é levar o leitor a um relacionamento mais íntimo com Deus e com o
próximo. A carta traz diversas citações do Sermão do Monte como prova de que o
autor está em plena concordância com o ensino de Jesus Cristo. Tiago chama a
atenção para a verdade de que se as orientações de Jesus não forem praticadas,
o leitor estará fora da boa, perfeita e agradável vontade de Deus. Portanto, a
Igreja do Senhor não pode abandonar os conselhos divinos para desenvolver uma
espiritualidade sadia e profunda. [Comentário: A insistência de Tiago para que os cristãos
pratiquem a palavra de Deus, e não apenas a ouçam, e sua exigência das obras
como partes integrantes da fé, compõem esta ênfase. A obediência à “lei da
liberdade”, a exigência de Deus resumida por Jesus, deve ser sincera e
coerente. E esta obediência tem um importante aspecto social. O mandamento para
que amemos nosso próximo como a nós mesmos é a “lei régia” (2.8). Tiago insiste
em que “a religião pura e sem mácula” deve se manifestar no cuidado para com os
desprivilegiados e menos favorecidos (“visitar os órfãos e as viúvas nas suas
tribulações”, 1.27) e numa atitude altruísta e mansa diante dos outros
(3.13-18). O favoritismo demonstrado aos ricos transgredi a “lei régia”
(2.1-7), assim como também a maledicência (4.11-12).]
2. Num tempo de confusão entre “salvação pela fé” ou “salvação pelas
obras”. O
leitor desavisado pode pensar que a Epístola de Tiago contradiz o apóstolo
Paulo quanto à doutrina da salvação mediante a fé. Nos tempos apostólicos,
falsos mestres torceram a doutrina da salvação pela graça proclamada pelo
apóstolo dos gentios (2Pe 3.14-16 cf. Rm 5.20—6.4). Entretanto, a Epístola de
Tiago evidencia que não se pode fazer separação entre a fé e as obras. Apesar
de as obras não garantirem a salvação, a sua manifestação dá testemunho da
experiência salvífica do crente (Ef 2.10; cf. Tg 2.24). [Comentário: Mais uma vez cito o
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal: II Pd 3.14 Pelo fato de os
crentes poderem confiar na promessa de DEUS de lhes trazer uma nova terra, e
por eles estarem aguardando estas coisas, eles devem viver imaculados e
irrepreensíveis em paz. Em outras palavras, somente esta esperança poderosa
pode nos instigar a viver com justiça. O reino de DEUS será caracterizado pela
paz com DEUS; portanto, os crentes devem praticar a paz com DEUS agora,
preparando-se para vivê-la no reino. Não devemos agir como preguiçosos e ser
complacentes somente porque CRISTO ainda não retornou. Na verdade, devemos
viver em ansiosa expectativa de sua vinda. O que você deseja estar fazendo
quando CRISTO voltar? É assim que você deve viver todos os dias. II Pd 3.15,16
Enquanto os crentes esperavam, talvez impacientemente, pelo retorno do Senhor,
Pedro os lembrou de que eles tinham por salvação a longanimidade de nosso
Senhor. A paciência de DEUS significa a salvação para muitos mais que terão a
oportunidade de responder à mensagem do evangelho. Quando lemos as várias
cartas do Novo Testamento, é interessante estudar a correlação entre os
autores. Pedro era um dos doze discípulos de JESUS. Posteriormente, ele
tornou-se o líder indiscutível da igreja de Jerusalém. Paulo veio mais tarde,
depois de ser convertido na estrada para Damasco, através de uma visão de JESUS
CRISTO (At 9). Paulo também era considerado um apóstolo. Pedro e Paulo tinham
um grande respeito mútuo ao trabalharem nos ministérios para os quais DEUS os
tinha chamado. Na época em que Pedro estava escrevendo, as cartas de Paulo já
tinham uma grande reputação. Pedro apoiou as suas palavras com o aparente
conhecimento dos crentes de que Paulo também tinha escrito a eles sobre o mesmo
assunto. Pedro reconhecia o valor das cartas de Paulo para o crescimento da
igreja, pois ele descreveu Paulo como alguém que lhes havia escrito segundo a
sabedoria que lhe foi dada. Os ensinos dos apóstolos nunca eram distorcidos
pela pessoa, nem pela área de ministério. Quer a carta viesse de Paulo, ou de
Pedro, podia-se confiar que a mensagem seria a mesma, pois ela tinha vindo, em
primeiro lugar, do próprio DEUS. Observe que Pedro escreveu sobre as cartas de
Paulo como se elas estivessem no mesmo nível das outras Escrituras. A igreja
primitiva já estava considerando as cartas de Paulo como sendo inspiradas por
DEUS. Tanto Pedro como Paulo estavam cientes de que estavam transmitindo a
Palavra de DEUS juntamente com os profetas do Antigo Testamento (veja I Ts
2.13). Nos primeiros dias da igreja, as cartas dos apóstolos eram lidas aos
crentes e frequentemente passadas a outras igrejas. Às vezes, as canas eram
copiadas e somente então eram passadas a outras igrejas. Os crentes
consideravam estes textos como tendo tanta autoridade quanto as Escrituras do
Antigo Testamento. Alguns leitores podem ter sido afastados por alguns dos
comentários de Paulo, que eram difíceis de entender. Porém, a cura não está em
ouvir àqueles que distorcerão a verdade, mas, antes, em continuar a crescer no
conhecimento de JESUS. Quanto melhor conhecermos a JESUS, menos atraentes serão
os falsos ensinos. Os falsos doutores distorciam todas as Escrituras para que
elas significassem o que eles queriam. No entanto isto podia resultar em
perdição. Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD.
Vol 2. pag. 758.]
3. Uma fé posta em prática. Muitos dizem ser discípulos de Cristo, mas
estão distantes das virtudes bíblicas. Estes não evidenciam sua fé por
intermédio de suas atitudes. Os pseudodiscípulos visam os seus interesses
particulares e não a glória de Deus. Precisamos urgentemente priorizar o Reino
de Deus e a sua justiça (Mt 6.33). Tiago nos ensina, assim como João Batista
(Lc 3.8-14), que precisamos produzir frutos dignos de arrependimento. [Comentário: Uma comparação entre
Romanos 4 e Tiago 2 revela uma aparente semelhança na escolha das palavras fé e
obras e na citação de Gênesis 15.6: “Abraão creu em DEUS, e isto lhe foi
imputado para justiça” (Rm 4.3; Tg 2.23). Qual é a relação entre a apresentação
de Paulo da fé e das obras em Romanos e a de Tiago em sua epístola? Alguns
comentaristas afirmam que Tiago escreveu sua epístola para criticar os
ensinamentos de Paulo sobre fé e obras. Dizem que Paulo foi mal-entendido pela
igreja, pois separou os conceitos de/é e obras. Tiago via um perigo nos
ensinamentos apresentados por Paulo, a saber, da fé sem obras. Assim, pelo fato
de alguns cristãos terem interpretado incorretamente a frase sem obras, Tiago
escreveu sua carta para reforçar o ensinamento de que a fé resulta em obras. Na
opinião de outros estudiosos, Tiago escreveu sua epístola antes de Paulo
começar sua carreira como escritor, ou seja, depois que a Epístola de Tiago
começou a circular na igreja primitiva, Paulo escreveu sua carta aos romanos
para apresentar uma melhor compreensão do significado da fé sem obras. Tanto
Tiago quanto Paulo desenvolvem o tópico de fé e obras, cada um de sua própria
perspectiva e cada um com seu propósito. Tiago usa a palavra/é de modo subjetivo,
no sentido de confiança e segurança no Senhor. Essa fé ativa dá ao crente
perseverança, certeza e salvação (1.3; 2.14; 5.15). A fé é o envolvimento ativo
do crente com a igreja e o mundo. Pela fé, ele recebe sabedoria (1.5), justiça
(2.23) e cura (5.15). Paulo, por outro lado, com frequência, fala da fé de modo
objetivo. Fé é o instrumento pelo qual o crente é justificado diante de DEUS
(Rm 3.25,28,30; 5.1; G12.16; Fp 3.9). A fé é o meio pelo qual o crente se
apropria dos méritos de CRISTO. Por causa desses méritos, o homem é justificado
diante de DEUS. A justificação, portanto, vem como uma dádiva de DEUS para o
homem - um dom que ele toma para si pela fé. A justificação é a declaração de
DEUS de que ele restaurou o crente pela fé, colocando-o num relacionamento
correto consigo mesmo. Em sua discussão sobre fé e obras, Tiago parece escrever
de maneira independente da carta de Paulo aos romanos. Tiago aborda o assunto
de um ponto de vista mais prático do que teológico. Com efeito, sua abordagem é
simples, direta e consequente. A discussão de Paulo representa um estágio
avançado do ensinamento que relaciona a fé com as obras. Pelo fato de a
abordagem de Tiago diferir bastante da de Paulo, concluímos que ele escreveu
sua epístola independente do ensinamento de Paulo e talvez até antes da redação
de Romanos. Simom J. Kistemaker. Comentário do Novo Testamento Tiago e
Epístola de João. Editora Cultura Cristã. pag. 27-28.]
SINOPSE
DO TÓPICO (3)
Num tempo de superficialidade espiritual e de
confusão entre “salvação pela fé” e “salvação pelas obras”, a epístola de Tiago
é uma mensagem atual sobre a fé posta em prática.
CONCLUSÃO
Como em toda a Escritura Sagrada, a Epístola de Tiago é um farol aceso e
permanentemente atual. Ela nos alerta contra a mediocridade da vida
supostamente cristã e nos exorta a fazer das Escrituras o nosso pão diário.
Jesus Cristo sempre foi zeloso pelo bem estar do seu rebanho (Jo 10.10). Em
todas as épocas Ele é o bom pastor que cuida das suas ovelhas (Jo 10.11). É do
interesse do Mestre que os discípulos vivam em harmonia e amor mútuo, afim de
não trazerem escândalo aos de dentro e, muito menos, aos de fora (1Co 10.32). E
não nos esqueçamos: A religião pura e imaculada é a fé que se mostra através de
nossas práticas e obras. [Comentário: Tiago 2.17-18: "Assim também a fé, por si só, se não for
acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: "Você tem fé; eu tenho
obras". Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas
obras.” Esta Epístola traça um caminhar na fé através da religião, da fé, e
da sabedoria genuínas (1.1-27; 2.1 - 3.12; 3.13-5.20). Encontramos nela um
notável paralelismo com o Sermão da Montanha (Mt 5-7). Tiago começa no primeiro
capítulo descrevendo os traços gerais do caminhar na fé. No capítulo dois e no
início do capítulo três, ele discute a justiça social e faz um discurso sobre a
fé em ação. Ele então compara e contrasta a diferença entre a sabedoria terrena
e a que provém do alto e nos encoraja a afastar-nos do mal e a nos aproximarmos
de Deus. Tiago faz uma repreensão particularmente severa aos ricos que acumulam
e aqueles que são auto-suficientes. Finalmente, ele termina encorajando os
crentes a serem pacientes no sofrimento, orando e cuidando uns dos outros e
reforçando a nossa fé através da comunhão. Está posto um desafio aos Cristãos
para não apenas "dizer", mas "viver". Acima de tudo mais,
Tiago motiva-nos a agir de acordo com o que Ele ensinou.]
“NaquEle que me garante:
"Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de
Deus" (Ef 2.8)".
Graça e Paz a todos que estão em
Cristo!
Francisco Barbosa
Nenhum comentário:
Postar um comentário