SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Dando
prosseguimento ao estudo dos dons, na aula de hoje atentaremos para o propósito
dos dons, com ênfase nos espirituais. Inicialmente contextualizaremos os dons
na igreja de Corinto, para a qual Paulo destinou a Epístola em foco. Em
seguida, mostraremos que essa era uma igreja que, embora tivesse muitos dons,
caracterizava-se pela carnalidade. Ao final ressaltaremos o propósito dos dons
espirituais, tomando por base a orientação de Paulo aos coríntios, bastante
apropriadas para os dias atuais.
1. A IGREJA
DE CORINTO
A Igreja
de Corinto se vangloriava dos dons espirituais, recebendo o testemunho de Paulo
que não faltava tais manifestações entre eles (I Co. 1.7). Corinto era uma
cidade da antiga Grécia, uma metrópole nos tempos de Paulo. Em virtude da influência
helenista, era berço da filosofia antiga, por conseguinte, intelectualmente
arrogante. Por ser uma cidade próspera, enfatizava a busca pelos recursos
materiais, e ao mesmo tempo, entregava-se à promiscuidade. Paulo fundou a
igreja de Corinto juntamente com Prisca e Áquila (At. 16.19), e sua equipe
missionária (At. 18.5). O Apóstolo dos gentios permaneceu naquela localidade
por dezoito meses, durante sua segunda viagem missionária (At. 18.1-17).
Tratava-se de uma igreja mista, composta por judeus e gentios, alguns deles
provenientes do paganismo. A Primeira Epístola aos Coríntios, na qual Paulo
abordou com propriedade os dons espirituais, foi escrita durante seu ministério
em Éfeso (At. 20.31), na sua terceira viagem missionária (At. 18.23 – 21.16). Durante
sua estada em Éfeso Paulo tomou conhecimentos dos vários problemas pelos quais
passava a igreja de Corinto (I Co. 1.11), em seguida um grupo de irmãos
entregou uma carta a Paulo, reportando as dificuldades encontradas, e
solicitando auxílio do apóstolo para a resolução dos problemas (I Co. 16.17).
Mesmo sendo uma igreja fervorosa, ou seja, que tinham dons espirituais, também
tinha forte propensão à carnalidade (I Co. 3.1-3), isso revela que uma igreja
que tem os dons do Espírito não necessariamente é espiritual. Isso acontece
porque a evidência de espiritualidade não está nos dons, mas no amor (I Co.
13), mais propriamente na produção do fruto do Espírito (Gl. 5.22). Dentre os
problemas de Corinto destacamos: divisão e partidarismo (I Co. 1.10-13; 11.17-22),
tolerância de pecado até mesmo do incesto (I Co. 5.1-13), imoralidade sexual
generalizada (I Co. 6.12-20), disputas judiciais entre os cristãos (I Co.
6.1-11), liberalismo em relação ao pecado (I Co. 8.10), comportamentos
inadequados no casamento (I Co. 7) e escândalos no culto público, bem como na
celebração da Ceia (I Co. 11,12 e 14).
2. OS
DONS ESPIRITUAIS EM CORINTO
Dentre os
problemas de Corinto, o uso inadequado dos dons espirituais é um dos
principais, Paulo dedica boa parte da I Epístola a dar esclarecimentos a esse
respeito. Os coríntios não compreendiam o propósito dos dons espirituais na
igreja, por isso o apóstolo os instrui para que não sejam ignorantes (I Co.
12.1). Esses dons (pneumática) não deveriam servir para a ostentação, eram chamismata,
portanto uma graça de Deus, para desempenhar determinados ministérios, com
vistas ao que fosse útil (I Co. 12.7). Havia uma tendência ao individualismo na
igreja de Corinto, a preocupação com os outros deveria ter proeminência. Por
isso Paulo admoesta os crentes à busca dos dons, isto é, ele não proíbe que os
use, contanto que seja com decência e ordem (I Co. 14.40). O culto não deveria
ser uma bagunça, as manifestações do Espírito deveriam ser ordenadas. Além
disso, o objetivo do culto deveria ser glorificar a Cristo (I Co. 12.3), os
dons não podem ser um fim em si mesmo. Os dons podem e devem ser buscados, mas
tendo em mente que existem dons superiores, e que tal gradação depende da
funcionalidade, e mais precisamente da utilidade. Quanto mais útil for o dom,
mais importante será, por isso quem profetiza tem preeminência diante daquele
que fala línguas, a menos que haja quem interprete (I Co. 12.31; 14.28). O
critério da alteridade é importante na manifestação dos dons espirituais. Se
considerarmos esse ensinamento, nos preocuparemos menos conosco e mais com os
outros. É justamente por esse motivo que o fruto do Espírito tem prioridade
sobre os dons do Espírito. A igreja cristã não precisa fazer opção ou pelos
dons ou pelo fruto, há lugar tanto para um quanto para o outro. A demonstração
de maturidade de uma igreja está na demonstração tanto dos dons quanto do
fruto. O caminho sobremodo excelente é o do amor-agape (I Co. 12.31), somente
em amor os dons espirituais cumprem seu propósito (I Co. 14.1). Sem o
amor-agape de nada adianta falar as línguas dos anjos e dos homens, ter o dom
de profecia, conhecer todos os mistérios e toda ciência (I Co. 13.1,2). O
amor-agape, diferentemente da carnalidade egoísta, se caracteriza pela
disposição para sofrer pelo outro, benignidade, e tratamento não leviano. Além
disso, quem tem o amor-agape não é soberbo, não se porta com indecência, não é
invejoso, não busca seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga
com a injustiça, mas folga com a verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta (I Co. 13).
3. O
PROPÓSITO DOS DONS
É no
contexto do amor-agape, com sua marca sacrificial, que os dons espirituais
encontram seu real propósito, podem ser manifestos de acordo com a vontade do
Espírito (I Co. 12.11), de acordo com as necessidades, e ao mesmo tempo, o
interesse dos crentes (I Co. 12.31). Por isso os dons espirituais não dependem
da santificação do crente, é possível que um crente seja carnal e mesmo assim
manifeste algum dom (Gl. 5.22,23). É preciso esclarecer também que existem
crentes nas igrejas que podem manifestar certa regularidade em um dom, mesmo
assim eles não podem pensar que são proprietários dos dons. Isso porque os dons
são do próprio Espírito Santo, sendo distribuídos à igreja, a fim de cumprir
propósitos específicos. Os crentes também podem buscar mais de um dom, essa
inclusive é uma recomendação paulina (I Co. 14.1). Mas dificilmente alguém terá
todos os dons, mesmo aqueles apresentados em I Co. 12, tendo em vista que o
Espírito opera na diversidade, visando à unidade (I Co. 12.5). Os dons do
Espírito Santo visam: 1) manifestar a graça, o poder, e o amor do Espírito
entre o povo, nas reuniões públicas, nos lares, nas famílias e nas atividades
pessoais (I Co. 12.4-7; 14.25); 2) ajudar a tornar eficaz a pregação do
evangelho aos perdidos, confirmando de modo sobrenatural a mensagem do
evangelho (Mc. 16.15-20; At. 14.8-18); 3) suprir as necessidades humanas,
fortalecer e edificar espiritualmente, tanto a congregação (I Co. 12.7,14-30),
como os crentes individualmente (I Co. 14.4); 4) batalhar com eficácia na
guerra espiritual contra as hostes satânicas (At. 8.5-7; 26.18). Os dons
espirituais devem ser utilizados na comunidade de fé, isto é, na igreja para a
edificação uns dos outros (I Co. 12.25). Os dons são disponibilizados pelo
Espírito para edificar (gr. oikodomeo), ou seja, fortalecer a vida espiritual
da igreja (I Co. 14.26).
CONCLUSÃO
Os dons
do Espírito Santo estão disponíveis para a igreja contemporânea, por isso
devemos buscar todos os dons, e mais precisamente os melhores, aqueles que
edificam os outros. Uma igreja madura não despreza os dons espirituais, sabe
que eles são úteis para o fortalecimento da fé. Mas os crentes precisam
equilibrar os dons com o fruto, pois de nada adianta uma igreja fervorosa, com
muitos dons, mas que não cultiva o fruto do Espírito. Devemos buscar com zelo
os melhores dons, principalmente profetizar, mas sem esquecer-se do caminho
sobremodo excelente, o amor-agape (I Co. 12.31; 13.1-7).
Prof.
Ev. José Roberto A. Barbosa
SUBSÍDIO
II
INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos o verdadeiro propósito dos
dons espirituais concedidos por Deus à sua Igreja. Os dons do Espírito Santo
são recursos imprescindíveis do Pai para os seus filhos. O seu propósito é
edificar-nos e unir-nos, fortalecendo assim a Igreja de Cristo (1 Tm 3.15). [Comentário: Dando
início ao estudo dos dons espirituais, que constitui o primeiro bloco do
trimestre, estudaremos o seu propósito. As lições 2 a 5 englobam um mesmo bloco
que tratará dos dons espirituais dados aos membros do corpo de Cristo para a
manifestação do que for útil, para a edificação, exortação e consolação da
Igreja (1Co.12.7-11). Como vimos na lição 1, os dons espirituais são uma
capacitação especial para o desempenho de um serviço ou ministério. Não há
nenhum membro do corpo de Cristo sem dons e nenhum membro do corpo possui todos
os dons. Os dons espirituais não são distribuídos pela igreja, mas pelo
Espírito Santo, conforme sua vontade e seus propósitos soberanos (1Co 12.11).
Lembre-se: Você não recebe dons pelos seus próprios méritos, não é recompensa!
O apóstolo Paulo usou quatro verbos-chave que ilustram a soberania de Deus na
distribuição dos dons espirituais: O Espírito Santo distribui (1Co 12.11), Deus
dispõe (1Co 12.18), Deus coordena (1Co 12.24) e Deus estabelece (1Co 12.28). Do
começo ao fim Deus é soberano nesse negócio! Portanto, o propósito dos dons não
é para a exaltação de quem o exerce, mas para o serviço aos demais membros do
corpo e tudo para a glória de Deus.] Tenhamos todos uma excelente e abençoada aula!
I. OS DONS NÃO SÃO PARA ELITIZAR O CRENTE
1. A
igreja coríntia. A Igreja em Corinto localizava-se numa cidade
comercial e próxima do mar, sendo uma das mais importantes do Império Romano.
Corinto era uma cidade economicamente rica, porém marcada pelo culto
idolátrico. Durante a segunda viagem missionária de Paulo, a igreja recebeu a
visita do apóstolo (At 18.1-18). Por conhecer muito bem a comunidade cristã em
Corinto foi que o apóstolo dos gentios tratou, em sua Primeira Epístola dirigida
àquela igreja, sobre a abundância da manifestação dos dons do Espírito,
chegando a afirmar daquela igreja que "nenhum dom" lhe faltava (1 Co
1.7). [Comentário: Corinto (em grego: Κόρινθος, transl.
Kórinthos) é uma cidade e antigo município da Grécia, situado na Coríntia, na
periferia do Peloponeso foi uma importante cidade-estado da Antiguidade.
Corinto tinha dois importantes portos que movimentavam sua economia. Havia em
Corinto também dois grandes templos, um templo de Afrodite (deusa do amor), e um
templo de Apolo (deus da musica, canto, poesia e também representava o ideal da
beleza masculina). Diz a história que, havia no templo da deusa Afrodite mil
sacerdotisas que aos finais de tarde desciam até a cidade e vendiam seus
corpos,sendo assim, elas cultuavam dessa maneira o sexo. Em Corinto havia
aproximadamente 250 mil habitantes, e era muito conhecida pela sua luxuria e
por sediar os jogos ístimicos. Paulo quando esteve nessa cidade, em sua segunda
viagem missionária (At 18.1-18), estabeleceu nela uma igreja e mais tarde
escreveu provavelmente quatro das quais apenas duas estão no cânon a segunda (1
coríntios) e a quarta (2 coríntios). Apesar de ser uma igreja que se via como
espiritual (1 Coríntios 3.1) e de ser voltada para a busca de dons carismáticos
(1 Coríntios 12.31; 14.1; 14.12), a igreja de Corinto estava na iminência de
dividir-se em pelo menos quatro pedaços. Paulo, ao escrever-lhes, menciona que
tem conhecimento de quatro grupos dentro da comunidade que ameaçavam a sua
unidade: os de Paulo, os de Pedro, os de Apolo e os de Cristo (1 Coríntios
1.11-12). A igreja de Corinto, com seu espírito faccioso e divisionista, a
despeito de sua pretensa espiritualidade, ficou na história como um alerta às
igrejas cristãs de todo o mundo, registrado na carta que Paulo lhes escreveu.
Para aprendermos a lição, devemos primeiramente entender o racha que estava por
acontecer naquela igreja. E não é um desafio fácil determinar com relativa
certeza a natureza e identificação de cada um dos grupos mencionados por Paulo
em 1 Coríntios 1.12. O apóstolo Paulo, ao dissertar a respeito dos dons
espirituais, traz este ensino para uma igreja local que estava acostumada ao
exercício destes dons, pois a igreja em Corinto é a única que é mencionada nas
Escrituras como sendo uma igreja local em que dom algum faltava (1Co 1.7).]
2. Uma
igreja de muitos dons, mas carnal. Os dons do Espírito
concedidos por Deus à igreja de Corinto tinham por finalidade prepará-la e
santificá-la para o serviço do evangelho: a proclamação da Palavra de Deus
naquela cidade. Todavia, além de aquela igreja não usar corretamente os dons
que recebera do Pai, tinha em seu meio divisões, inveja, imoralidade sexual,
etc. Como pode uma igreja evidentemente cristã ser ao mesmo tempo carnal e
imoral? Por isso Paulo a chama de carnal e imatura (1 Co 3.1,3). Com este
relato, aprendemos que as manifestações espirituais na igreja local não são
propriamente indicadoras de seriedade, espiritualidade e santidade. Uma igreja
onde predominam a inveja, contenda e dissensões, nem de longe pode ser chamada
de espiritual, e sim de carnal. [Comentário: Como pode uma
igreja possuir dons e ser carnal? Qual é a condição “sine qua nom” para receber
dons espirituais? Um crente pode ter dons espirituais e ser carnal? Paulo
postulou três classes de homens, a saber, «espirituais», «carnais» e
«naturais». Os homens espirituais e os carnais são ambos crentes, mas de
inclinações opostas. Os homens naturais são os indivíduos ainda sem
regeneração. (1Co 2.14). Paulo usa o termo «carnais» para se referir aos
coríntios, em outras palavras, «homens da carne», ou seja, crentes controlados
pela carne. É possível interpretar que esse adjetivo significa que as pessoas
assim qualificadas são inteiramente destituídas do Espírito de Deus (se
considerarmos tão somente o sentido verbal), mas o contexto geral não nos
permite tirar essa conclusão. Mui facilmente, entretanto, Paulo poderia estar
querendo dar a entender que toda a sua suposta e apregoada espiritualidade, no
exercício dos dons espirituais, era falsa, fraudulenta; porque não dispor das
qualidades morais de Cristo, e, ao mesmo tempo, ser supostamente habitado pelo
Espírito de Deus, a ponto de realizar feitos miraculosos, é uma aberrante
contradição, uma impossibilidade moral. Os crentes «...espirituais...», de
conformidade com o uso que Paulo fez desse vocábulo, eram os crentes
«experientes», espiritualmente maduros, segundo se lê em 1Co 2.6. Já os
«carnais», em contraste com isso, eram os, que davam excessivo valor à
sabedoria «humana», conforme a menção e os comentários existentes em 1Co
1.18,19;21 e 2.1,4,5. O interessante aqui é que, mesmo havendo estes crentes
espiritualmente maduros, aquela igreja continuava a ser carnal. O erro estava
então no exercício dos dons.]
3. Dom
não é sinal de superioridade espiritual. Muitos creem erroneamente
que os irmãos agraciados com dons da parte de Deus são, por isso, mais
espirituais que os outros. Todavia, os dons do Espírito são concedidos pela
graça de Deus. Por ser resultado da graça divina, não recebemos tais dons por
méritos próprios, mas pela bondade e misericórdia de Deus. Que a mensagem de
Jesus possa ressoar em nossa consciência e convencer-nos de uma vez por todas
de que os dons não são garantia de espiritualidade genuína: "Muitos me
dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu
nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas?
E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós
que praticais a iniquidade" (Mt 7.22,23). [Comentário: Os dons espirituais
são uma capacitação especial para o desempenho de um serviço ou ministério. Não
há nenhum membro do corpo de Cristo sem dons e nenhum membro do corpo possui
todos os dons. Os dons espirituais não são distribuídos pela igreja, mas pelo
Espírito Santo, conforme sua vontade e seus propósitos soberanos (1Co 12.11). É
comum vermos alguns irmãos dando mais honra àqueles que possuem determinados dons
miraculosos «talvez a culpa recaia sobre os que têm o ministério de ensino».
Paulo ensina à igreja que do começo ao fim Deus está no controle, que o
propósito dos dons não é para a exaltação de quem o exerce, mas para o serviço
aos demais membros do corpo e tudo para a glória de Deus. Nenhum membro da
igreja deve se comparar nem se contrastar com outro membro da igreja. Cada
crente é único no Reino! Deus é quem elege cada um de nós no corpo como lhe
apraz. O perigo do complexo de superioridade é real no meio pentecostal onde o
ensino é suprimido em detrimento das experiências sobrenaturais. Paulo afirma:
“Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos
pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser
mais fracos são necessários” (1Co 12.21,22). O Reverendo Hernandes Dias Lopes
foi muito feliz ao escrever em seu Blog que “na igreja de Deus não tem
espaço para disputa de prestígio. A igreja não é uma feira de vaidades. Nenhum
membro da igreja pode envaidecer-se pelos dons que recebeu, pois tudo que temos
recebemos de Deus e ninguém pode vangloriar-se por aquilo que recebeu (1Co 4.7)”.]
SINOPSE DO TÓPICO
(1)
Nas páginas do Novo Testamento os dons estão à
disposição de todos os crentes, com o propósito de edificar a Igreja de Cristo.
II. EDIFICANDO A SI MESMO E AOS OUTROS
1. Edificando a si mesmo. Paulo diz que quem
"fala língua estranha edifica-se a si mesmo" (1 Co 14.4). O apóstolo
estimulava os crentes da igreja de Corinto a cultivarem sua devoção particular
a Deus através do falar em línguas concedidas pelo Espírito, com o objetivo de
edificarem a si mesmos. Isto não significa que o apóstolo dos gentios proibia o
falar em línguas publicamente, mas ao fazê-lo de maneira devocional o crente
batizado com o Espírito Santo edifica-se no seu relacionamento com Deus. Falar
ou orar em línguas provenientes do Espírito é uma bênção espiritual maravilhosa. [Comentário: O dom de línguas
não é menos excelente nem é desaconselhado por Paulo. Nesta epístola aos Coríntios,
a intenção de Paulo era colocar em ordem algo que estava sem controle. Nas
igrejas pentecostais é incentivado que todos busquem o revestimento de poder, o
batismo com o Espírito Santo e com fogo, e a glossolalia é muito enfatizada.
Talvez estejamos passando ao largo das orientações de Paulo quanto à ordem no
culto, mas de todo, isso não é um mal em si. Falar em línguas desconhecidas
serve apenas para fortalecer o indivíduo. Entretanto, Paulo não proíbe
completamente esta prática: Quero que todos vós faleis línguas estranhas.
Quanto a essa declaração, Bruce escreve: “E provável que Paulo receasse ter ido
muito longe ao rejeitar as línguas. Portanto, ele deixa claro que não está
proibindo as línguas, mas insistindo na superioridade da profecia”. Como era
difícil fazer a distinção entre um dom válido de falar em línguas, ou a
legítima expressão de um desejo de êxtase espiritual, e uma inválida expressão
de alegria pessoal, Paulo preferiu não proibir o falar em línguas. Entretanto
ele indica, de forma rápida e distinta, que o dom de profecia é superior:
...mas muito mais que profetizeis. Naturalmente, quando o crente ora em
línguas, mesmo que ele não saiba o sentido das palavras, Deus o entende. O
crente, batizado com o Espírito Santo, deve procurar desenvolver uma adoração
individual, plena da unção do Espírito Santo.]
2.
Edificando os outros. Os crentes de Corinto falavam em línguas e
exerciam vários dons espirituais, mas parece que eles não se preocupavam muito
em ajudar as pessoas. Por isso, o apóstolo lembra que os dons só têm razão de
existir quando o portador preocupa-se com a edificação da vida do outro irmão
em Cristo (1 Co 14.12). Em lugar de buscarmos prosperidade material, como se
pudéssemos barganhar com Deus usando dinheiro em troca de bênçãos, busquemos os
dons espirituais. Agindo assim edificaremos a nós mesmos e também aos outros. [Comentário:
Paulo, continuando suas admoestações, reporta-se mais uma vez ao seu
grande salmo em louvor ao amor: Buscai o amor! Esta deve ser a maior preocupação
deles, pois, como expressa certo comentarista: O amor é a patroa; os demais
dons espirituais são servos, criados. Por isso, enquanto continuam no empenho
proposital de ir após o amor, os coríntios deviam lutar com dedicação pelos
dons espirituais, sendo o uso de todos eles, em sua dedicação à congregação,
regulado pelo padrão estabelecido pelo amor. A causa das divisões daquela
igreja era justamente a falta do amor. Todos os dons espirituais são
proveitosos, incluindo 0 dom de línguas; mas nem todos se revestem de igual
importância. Ao buscarem os dons espirituais (ver 1Co 12.31 e 14.1), os
coríntios deveriam deixar de buscar o dom de línguas e abusar do mesmo,
porquanto isso causara efeitos prejudiciais à sua comunidade cristã, como meio
que era de auto-glorificação, além de interromper a comunicabilidade entre os
membros da igreja que assim faziam. Portanto, se os crentes de Corinto
estivessem genuinamente interessados em buscar os dons espirituais, a profecia
deveria ser o seu grande alvo, e não as línguas. O grande teste da contribuição
que os nossos dons espirituais podem fazer à igreja é o teste da edificação.
Que temos feito para edificar a igreja onde somos membros? Quantas pessoas têm
sido levadas a uma maior aproximação a Cristo, por causa do que temos falado e
ensinado? O zelo é bom, mas pode mal orientar inocentemente ou
propositadamente, com o propósito de exaltação própria.]
3.
Edificando até o não crente. Embora o apóstolo dos
gentios estimulasse todos os crentes a falarem em línguas, isto é, a edificarem
a si mesmos, seu desejo era que também esses mesmos crentes profetizassem a fim
de que a igreja toda fosse edificada. O comentário da Bíblia de Estudo
Aplicação Pessoal diz sobre esse texto: "Embora o próprio Paulo falasse em
línguas, enfatizava a profecia, porque esta edificava a Igreja inteira,
enquanto falar em línguas beneficiava principalmente o falante". Todos
quantos vierem a frequentar nossas reuniões devem ser edificados, sejam crentes
ou não. Por isso, não podemos escandalizar aqueles que não comungam a mesma fé
que nós (1 Co 14.23). Como eles compreenderão a mensagem do evangelho se em uma
reunião não entenderem o que está sendo falado? (1 Co 14.9) [Comentário: Se diversos
instrumentos destituídos de vida podem levar os homens a compreender certas
atitudes e sentimentos, reagindo conforme os mesmos, ou compreendendo uma ordem
emitida por aqueles, em ocasião de batalha, então, quão mais expressivo
instrumento precisa ser a voz humana, que conta com o apoio da inteligência, e
até mesmo de dons espirituais concedidos por DEUS! Assim equipados, os crentes
devem ser capazes de transmitir benefícios espirituais a seus ouvintes. Porém,
se algum idioma não for compreendido pelos seus ouvintes, perde-se o desígnio
inteiro da comunicação de ideias, e a voz humana se torna muito menos
significativa do que o instrumento musical visto não haver transmitido
pensamento ou sentimento nenhum (1Co 12.9). Embora o dom de línguas seja uma
manifestação genuína da parte de Deus, a sua utilidade se perde se nada
consegue comunicar. Pode reter, entretanto, certa utilidade particular, para o
próprio crente que as fala; mas não tem uma utilidade coletiva, altruísta.
Portanto, as línguas, caso não acompanhadas do dom paralelo da interpretação de
línguas, devem ser praticadas em particular, e não publicamente. Não digo que o
falar línguas em nossos cultos deva ser desencorajado. Mas precisamos colocar
ordem para evitar os escândalos. Ainda lembro da primeira vez que visitei uma
igreja “de fogo” e, assustado com aquela “histeria”, me indagava se aquilo “era
de Deus”, como no caso hipotético apresentado por Paulo aos coríntios: “O
que acontecerá se toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem línguas
estranhas?”. Na verdade, este é o pensamento de todo indouto que entra em
nossos templos, daí o cuidado que devemos ter com o exercício deste dom e
priorizarmos, como enfatiza Paulo, o dom de profetizar, pois este constrangerá
o visitante a reconhecer sua pecaminosidade. Meu pensamento não é uma tentativa
de ajustar e conformar o culto ao molde da opinião pública. Mas entendo que o
papel da igreja é atrair e conquistar os de fora para o Reino. É alarmante o
fato de que, em alguns arraiais pentecostais, ao invés de ajudar a converter os
pecadores, os cultos desordenados despertam somente o escárnio e o desprezo dos
descrentes, todo o seguimento pentecostal sofre e é achincalhado por isso.]
SINOPSE DO TÓPICO
(2)
Os dons só têm uma razão de existir na vida do
crente: edificar a vida do outro irmão em Cristo.
III. EDIFICAR TODO O CORPO DE CRISTO
1. Os
dons na igreja. Na Primeira Carta aos Coríntios, Paulo dedica dois
capítulos (12 e 14) para falar a respeito do uso dos dons na igreja. O apóstolo
mostra que quando os dons são utilizados com amor, todo o Corpo de Cristo é
edificado. Conforme diz Thomas Hoover, parafraseando Paulo em Efésios 4.16,
"os membros do corpo, cada qual com sua própria função concedida pelo
Espírito, cooperam para o bem de todas. O amor é essencial para os dons
espirituais alcançarem seu propósito". Se não houver amor, certamente não
haverá edificação (1 Co 13). Sem o amor de Deus nos tornamos egoístas e
acabamos por colocar nossos interesses em primeiro lugar. O propósito dos dons,
que é edificar o Corpo de Cristo, só pode ser cumprido se tivermos o amor de
Deus em nossa vida. [Comentário: Um corpo se caracteriza pela maravilhosa cooperação
de muitos elementos, que são perfeitamente unidos um ao outro. É a essa
admirável unidade de muitas porções que Paulo se refere, fazendo disso uma ilustração
de como tal condição deveria prevalecer na igreja. São usados verbos no
particípio presente a fim de salientar como essa unidade, tão intricada e
perfeita em sua natureza e atuação, deve existir na forma de uma operação
contínua. As ideias de «harmonia», de «adaptação», de «solidariedade» e de
«unidade na diversidade», são assim expressas (compare com Cl 2.2,19). Russell
Norman Champlin afirma que ao mencionar a harmonia e a participação na vida
mútua que o amor cristão propicia, Paulo chega ao final da presente secção,
reiterando a ideia de unidade, que inspirou esta passagem, a começar por Ef
4.1, como é necessário nos suportarmos uns aos outros em amor, tendo em vista a
preservação da unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4.3) CHAMPLIN,
Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora
Candeias. Vol. 4. pag. 605.]
2. Os
sábios arquitetos do Corpo de Cristo. Deus levanta homens para
edificarem espiritual, moral e doutrinariamente a igreja local. A Igreja é o
"edifício de Deus" (1 Co 3.9). Os ministros, sábios arquitetos (1 Co
3.10). O fundamento já está posto pelos apóstolos: Jesus Cristo (1 Co 3.11).
Mas os ministros têm de tomar o cuidado com as pedras assentadas sobre este
alicerce, pois eles também tomam parte na edificação espiritual da Igreja de
Cristo segundo a mesma graça concedida aos apóstolos. Por isso, Paulo faz uma
solene advertência para a liderança hoje: "mas veja cada um como edifica
sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto,
o qual é Jesus Cristo" (1 Co 3.10,11). [Comentário: Nosso conhecimento
é parcial, até mesmo com a ajuda dos mais elevados dons da sabedoria e do
conhecimento. Essa admissão é declaração, feitas pelo apóstolo, deveria
ensinar-nos a sermos cautelosos quando cercamos a Deus com os nossos dogmas,
como se, já sabendo tudo quanto tem importância, não precisássemos mais de
fazer qualquer pesquisa honesta pela verdade. A tendência da religião
«ortodoxa» é olvidar-se desse grande fato, apodando de heterodoxa qualquer
opinião que não se adapte facilmente dentro dos limites dos dogmas já aceitos CHAMPLIN,
Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora
Candeias. Vol. 4. pag. 210. O amor é perfeito e completo (13.9-12). Na consumação
final da história redentora, todas as imperfeições serão substituídas pelo
perfeito - Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que o é em parte será
aniquilado. Nesse dia, todas as imperfeições desaparecerão e tudo que aqui
parece obscuro e incompreensível se tomará claro.]
3.
Despenseiros dos dons. O apóstolo Pedro exortou a igreja acerca da
administração dos dons de Deus (1 Pe 4.10,11). Ele usou a figura do despenseiro
que, antigamente, era o homem que administrava a despensa e tinha total confiança
do patrão. O despenseiro adquiria os mantimentos, zelava para que não
estragassem e os distribuíam para a alimentação da família. Desta forma, os
despenseiros da obra do Senhor devem alimentar a "família de Deus" (1
Co 4.1; Ef 2.19). Eles precisam ter o cuidado no uso dos dons concedidos pelo
Senhor para prover a alimentação espiritual, objetivando a edificação do Corpo
de Cristo: "Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons
despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as
palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus
dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a
glória e o poder para todo o sempre" (1 Pe 4.10,11). [Comentário: Lembre-se:
Jesus foi o Servo de Deus, Aquele que “não veio para ser servido, mas para
servir” (Mc 10.45). Na Sua vida, tal como nos mostram os Evangelhos, Ele
demonstrou esse princípio, servindo ao Seu povo e aos Seus (como ilustrado em
Jo 13.1-17). Servir uns aos outros é, assim, um chamado a sair de si mesmo e
dos seus problemas, e se dedicar aos outros. É essa exteriorização que
está o fundamento da ética cristã, como vida de serviço aos outros “enquanto
outros” (ou seja, não uma extensão de mim próprio, ou “outros” a quem eu
comando ou manipulo, e coloco dentro do meu esquema). A palavra grega é
diakonuntes, de onde vem diaconia, serviço. Aqui, ela tem um significado
abrangente, incluindo todo tipo de serviço que se pode prestar a outros (em
palavra e ação). Essa diaconia é possível porque todos receberam dons com os
quais podem servir aos outros. Charisma é o termo usualmente empregado no N.T.
para se referir aos chamados “dons espirituais”. São várias as definições e
especificações deles (cf. 1 Co 12; Rm 12; Ef 4); trata-se de capacidades que
Deus concede a todos os cristãos (associadas à habitação do Espírito Santo
neles, 1 Co 12.7) para o serviço dentro do contexto da comunidade cristã. Podem
se tratar de talentos naturais que recebem um novo impulso e uma nova orientação
pela ação do Espírito, ou de capacitações originais, concedidas ao crente para
que com elas sirva aos outros. Nunca devemos perder de vista que são dados
soberanamente pelo Espírito Santo, e que sua função é servir (nada mais que
isso; usá-los para autopromoção é absolutamente contrário à sua natureza, sendo
uma atitude exemplarmente repreendida em At 8.18-24). Importante é também que
cada um dos crentes recebeu um dom, o que, de saída, nivela a todos, e toma
todos igualmente importantes uns para os outros. Cada um deve colocar o dom que
tem a serviço de todos, porque, ao receberem dons, os cristãos se tomam
despenseiros da graça de Deus. A charis (graça) é a fonte dos charisma (dons,
carismas). Quem os recebe, recebe graça de Deus, e os recebe por causa da graça
de Deus que lhes concedeu o Espírito Santo. Ter um dom espiritual, então, é ter
um “depósito de graça”, que deve extravasar (porque graça é para ser doada).
Despenseiros é oikonomoi, um termo técnico referente ao mordomo, o
administrador da casa (lembrando que “casa” é a oikos do mundo da época, uma
instituição social fundamental, a “comunidade doméstica” que incluía família e
trabalhadores, bem como os hóspedes). O oikonomos era o encarregado de atender
as necessidades de todos, administrando os bens nessa direção.]
SINOPSE DO TÓPICO
(3)
Quando os dons espirituais são utilizados com amor
todo o Corpo de Cristo é edificado.
CONCLUSÃO
A Igreja de Jesus Cristo tem uma missão a cumprir:
proclamar o evangelho em um mundo hostil às verdades de Cristo e descrente de
Deus. Diante desta tão sublime tarefa, a igreja necessita do poder divino. Os
dons espirituais são um "arsenal" à disposição do corpo de Cristo
para o cumprimento eficaz de sua missão na terra. Como já foi dito, o propósito
dos dons é edificar toda a igreja, todo Corpo de Cristo para ser abençoado,
exortado e consolado. Por isso, nunca devemos usar os santos dons de Deus em
benefício particular, como se fosse algo exclusivo de certas pessoas. Somos
chamados a servir a Igreja do Senhor, e não a utilizar os dons de Deus para nós
mesmos. [Comentário:
Como foi bem explorado na lição
anterior, quando usamos os dons espirituais da forma certa e com a motivação
certa, Deus é exaltado no céu e os homens são abençoados na terra. A Grande
Comissão será levada a cabo somente pelo impulso do Espírito Santo e o uso dos
dons soberanamente distribuídos. Paulo argumenta: “Para que não haja divisão no
corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos
outros” (1Co 12.25). A igreja é como uma família. Na igreja cada um está
buscando meios e formas de cooperar, de ajudar, de abençoar, de enlevar, de
edificar a todos. O propósito do dom é para que não haja divisão no corpo. Você
não está competindo nem disputando com ninguém na igreja, mas cooperando.
Naquela igreja, Paulo nos revela a causa interna principal para as divisões
entre os coríntios: eles ainda eram carnais (1 Coríntios 3.1-4; cf. Gálatas
5.20). Esta carnalidade, deve ser interpretada primariamente como imaturidade,
em contraste aos “maduros” ou “perfeitos” (1 Coríntios 2.6). Hoje, temos muitos
crentes carnais, imaturos, e por isso mesmo precisamos ler e reler as missivas
de Paulo aos Coríntios, para não nos acharmos “andando segundo os homens” (1
Coríntios 3.3). Como escreve o Reverendo Augustus Nicodemus Lopes*: A situação
triste da igreja de Corinto nos fornece um retrato do espírito divisivo que
ainda hoje permeia as igrejas evangélicas. É um texto básico para ser pregado e
ensinado nas igrejas e seminários. Embora haja momentos em que uma divisão seja
necessária (quando, por exemplo, uma denominação abandona as Escrituras como
regra de fé e prática), percebemos que as causas do intenso divisionismo evangélico
no Brasil são intrinsecamente corintianas: imaturidade, carnalidade, culto à
personalidade, orgulho espiritual, mundanismo. Nem sempre os líderes são
culpados do culto à personalidade que crentes imaturos lhes prestam. Paulo,
Apolo e Pedro certamente teriam rejeitado a formação de fã-clubes em torno de
seus nomes. De qualquer forma, os líderes evangélicos sempre deveriam procurar
evitar dar qualquer ocasião para que isto ocorra, como o próprio Paulo havia
feito (1 Coríntios 1.13-17). Infelizmente, o conceito de ministério que
prevalece em muitos quartéis evangélicos de hoje é exatamente aquele que Paulo
combate em 1 Coríntios.] “NaquEle que me
garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é
dom de Deus" (Ef 2.8)”.
Francisco Barbosa
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