SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Na aula de hoje estudaremos os Dez Mandamentos, ou
o Decálogo, que foram proferidos por Deus no Sinai (Ex. 20.1), e escritos em
duas tábuas de pedra (Ex. 31.18). Atentaremos, durante a lição, para os
enfoques diferenciados desses enunciados divinos. Inicialmente, a
relacionamento do ser humano com o único e verdadeiro Deus, em seguida, a
observância do sábado, do respeito aos pais, e ao valor da vida humana. Ao
final, ressaltaremos a importância que deve ser dada ao casamento, à verdade e
a necessidade de controle dos desejos.
1. O ÚNICO E VERDADEIRO DEUS
O Deus da Bíblia é único e verdadeiro (Ex. 20.1-3),
não por acaso a expressão “O SENHOR teu Deus” é repetida cinco vezes nessa
passagem (Ex. 20.2,5,7,10,12). Esse Deus não pode ser desconsiderado, as
palavras que Moisés está expressando são da autoria do Deus de Israel. É a
respeito desse Deus que o povo deve testemunhar perante as nações (Sl. 115). Por
isso, a cada manhã o judeu fiel declara: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é
o único SENHOR” (Dt. 6.4). Somente Ele é digno de adoração, não pode haver espaço
para os ídolos no coração daqueles que servem a Deus (Ex. 20.4-6). Ele mesmo
declarou pelo profeta Isaias: “Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha
glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura”
(Is. 42.8). Os cristãos precisam ter cuidado com a idolatria, pois ela conduz à
imoralidade, desumaniza e escraviza (I Co. 10.10-22). Por esse motivo o Deus de
Israel ordenou que Israel destruísse os ídolos ao chegarem à terra prometida
(Dt. 7.1-11). Essa advertência serve para nós hoje, João admoesta a igreja de
Jesus: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (I Jo. 5.21). Existem muitos ídolos
nas igrejas, não apenas os de pedra ou mármore, mas também os de carne e osso.
Muitas igrejas adoram seus ícones evangélicos, pastores e cantores, outros
adoram o dinheiro, o império de Mamon, e não poucos adoram a eles mesmos. O
nome de Deus deve ser honrado, pois Seu nome representa Sua própria natureza
(Ex. 20.7). Por isso, como ensinou Jesus em Sua oração: o nome de Deus deve ser
santificado, ou melhor, todos devem reconhecer que Ele é santo (Mt. 6.9). O
nome de Deus tem sido profanado nos dias atuais, inclusive no meio dos
evangélicos, alguns transformam o Deus Vivo e Verdadeiro, em um ídolo, um
instrumento para satisfação pessoal. Ao invés de buscarem a face de Deus,
muitos se interessam apenas pelas Suas mãos. Há aqueles que querem transformar
Deus em um botão, o qual apertam, a fim de satisfazerem suas desejos egoístas.
2. O SÁBADO, OS PAIS E A VIDA
A palavra sábado, em hebraico, é sabbath, e diz
respeito ao descanso, o povo de Israel já observava esse dia, antes mesmo da
instituição legal (Ex. 16.23,25). Isso porque o fundamento para o sábado estava
já na criação (Gn. 2.1-3), o próprio Deus descansou. Esse era um sinal especial
entre Deus e Israel, específico para aquela nação, como parte do Pacto (Ex.
31.12-17; Ne. 9.13-15; Ez. 20.12,20). Mas o princípio do descanso deve ser
considerado pelos cristãos, as pessoas não foram criadas para trabalharem
ininterruptamente. O materialismo moderno, e a ganância que prevalece, tem feito
muitos se sacrificarem, e sacrificam também suas famílias, deixando de investir
no descanso (Cl. 2.16,17; Gl. 4.1-11; Rm. 14.1-15.7). A igreja primitiva
separou o domingo, o primeiro dia da semana para observância, tendo em vista
que nesse dia o nosso Senhor Jesus ressuscitou (Jo. 20.19,26; At. 20.7; I Co.
16.2). Outra instrução de Deus, no Decálogo, está relacionada à honra aos pais
(Ex. 20.12). Os israelitas foram orientados a respeitarem os pais, a cuidar
deles, mesmo na velhice (Ex. 21.15,17; Lv. 19.3,32; Dt. 27.16; Pv. 1.8; 16.31;
20.20; 23.22; 30.17). Nos dias atuais, marcados pela coisificação das pessoas,
há quem deseje descartar os mais velhos. Alguns filhos desrespeitam seus pais,
outros chegam mesmo a abandoná-los. Paulo instrui os filhos a honrarem os pais,
sendo esse inclusive um mandamento com promessa de vida longa (Ef. 6.1-3; I Tm.
5.1,2). A partir de Ex. 20.13, devemos destacar o valor da vida humana,
considerando que essa é uma dádiva de Deus. Fomos feitos Sua imagem e
semelhança, portanto, o homicídio é uma transgressão, um pecado que deveria ser
punido (Gn. 1.26,27; 9.6). Esse mandamento não proibia o povo de Israel de ir à
guerra, mas de cometer assassinatos (Ex. 22.2; Mt. 5.21-26). Nós, os cristãos,
devemos ser promotores da vida, opondo-nos à cultura da morte. Por esse motivo,
não podemos defender práticas como o aborto e a eutanásia (Rm. 13). A vida, por
ser uma dádiva de Deus, é digna de ser preservada. As pessoas não podem ser
descartadas, como se fossem objetos.
3. O ADULTÉRIO, A VERDADE E OS DESEJOS
O casamento é uma instituição divina, por isso não
poderia ser destruído por causa do adultério, que deveria ser punido com a pena
capital (Lv. 20.10; Dt. 22.22). A família é a célula-mater da sociedade, quando
essa é solapada, as consequências são drásticas. A orientação contra o
adultério é importante porque esse é revelado como defraudação (I Ts. 4.1-8),
não apenas em relação ao cônjuge, mas também para quem o comete (Pv. 6.20-35).
Aqueles que estão envolvidos nesse tipo de pecado devem se arrepender, e buscar
o perdão de Deus, antes que seja tarde (I Co. 6.9-11; Jo. 8.1-11). Deus perdoou
o pecado de adultério de Davi, restabelecendo-o a uma vida espiritual plena (II
Sm. 12.13,14; Sl. 51). O adultério, como ensinou Jesus, começa no coração, na
intenção impura, instigado pelo olhar (Mt. 5.27-30). Deus também orientou o
povo de Israel quanto ao respeito à propriedade pessoal (Ex. 20.15). A terra é
propriedade de Deus, os israelitas deveriam ser apenas mordomos (Lv. 25.2, 23,
38), e a Ele deveriam prestar contas. As pessoas que detêm grandes propriedades
de terra, sem torna-las produtivas, devem refletir a respeito dessa instrução.
O governo precisa investir em uma reforma agrária com amplitude, não apenas
distribuindo terra, mas também criando oportunidades para seu cultivo. A
riqueza é produzida, de acordo com Ef. 4.18, através do trabalho, recebendo
herança e furtando os outros. Que o Senhor nos livre do enriquecimento ilícito,
e que ninguém, ao prosperar por meios escusos, venha a dizer que foi “benção de
Deus”. Em prosseguimento aos mandamentos, destacamos a importância da verdade
aos olhos de Deus. Em Ex. 20.15, há uma orientação quanto ao perigo do falso
testemunho, os cristãos não podem mentir, principalmente diante de um tribunal.
No Antigo Pacto, aqueles que davam falso testemunho deveriam ser punidos com a
morte (Dt. 17.6-13). É preciso também controlar os desejos, a cobiça é um
pecado grave (Ex. 20.17). Ao invés de desejar o que não nos pertence, ou ser
tomado pela ganância, devemos exercitar o contentamento (Fp. 4.11-13; Hb.
13.5).
CONCLUSÃO
Prof.
Ev. José Roberto A. Barbosa
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Hoje estudaremos o capítulo 20 do
livro de Êxodo. É uma síntese concernente aos Dez Mandamentos que foram
entregues por Deus a Moisés. Muitos pensam que os preceitos morais da Lei foram
somente para o Antigo Pacto. Todavia, Jesus ressaltou, no Sermão do Monte, que
os preceitos morais da Lei são eternos e imutáveis, por isso precisamos
conhecê-los. [Comentário: Em
continuidade ao estudo de Êxodo, chegamos ao capítulo 20, onde há o registro do
Decálogo - escritos pelo próprio Deus em duas tábuas de pedra e entregues a
Moisés e ao povo de Israel (Êx 31.18; Dt 4.1 3; 1 0.4). A guarda dos
mandamentos proveu um meio de Israel procurar viver em retidão diante de Deus,
agradecido pelo seu livramento do Egito; ao mesmo tempo, tal obediência era um
requisito para os israelitas habitarem na Terra Prometida (Dt 41.14; 14). Os
Dez Mandamentos são dez leis na Bíblia que Deus deu à nação de Israel logo após
o êxodo do Egito. Os Dez Mandamentos são essencialmente um resumo dos mais de
600 mandamentos contidos na Lei do Antigo Testamento. Os primeiros quatros
mandamentos lidam com a nossa relação com Deus. Os outros seis mandamentos
lidam com os nossos relacionamentos com os outros. Os Dez Mandamentos estão
registrados na Bíblia em Êxodo 20:1-17 e Deuteronômio 5:6-21. Jesus Cristo e os
apóstolos afirmam que, como expressões autênticas da santa vontade de Deus,
eles permanecem obrigatórios para o crente do Novo Testamento (Mt 22.37-39; Mc
12.28-34; Lc 10.27; Rm 13.9; Gl 5.1 4; Lv 1 9.1 8; Dt 6.5; 1 0.1 2; 30.6).
Conforme esses trechos do Novo Testamento, os Dez Mandamentos resumem-se no
amor a Deus e ao próximo; guardá-los não é apenas uma questão de práticas
externas, mas também requer uma atitude do coração. Logo, a lei demanda uma
justiça espiritual interior que se expressa em retidão exterior e em santidade.
Os preceitos civis e cerimoniais do Novo Testamento que regiam o culto e a vida
social de Israel já não são obrigatórios para o crente do Novo Testamento. Eram
tipos de sombras de coisas melhores vindouras, e cumpriram-se em Jesus Cristo
(Hb 10.1; Mt 7.12; 22.37-40; Rm 13.8; Gl 5.14; 6.2). Mesmo assim, contêm
sabedoria e princípios espirituais a todas as gerações” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de
Janeiro: CPAD, 1995, p.145).]. Tenhamos todos uma excelente e
abençoada aula!
I. OS PROPÓSITOS DA LEI
1. O Decálogo (Êx 20.3-17). O termo Decálogo literalmente significa “dez enunciados” ou “declarações”
(Êx 34.28; Dt 4.13). Ele foi proferido por Deus no Sinai (Êx 20.1), mas também
escrito por Ele em duas tábuas de pedra (Êx 31.18). O Decálogo exprime a
vontade de Deus em relação ao ser humano. É, na verdade, um resumo da lei moral
de Deus. [Comentário: Decálogo significa dez
palavras (Êx 34,28). Estas palavras resumem a Lei, dada por Deus ao povo de
Israel, no contexto da Aliança, por meio de Moisés. Este, ao apresentar os
mandamentos do amor a Deus (os quatro primeiros) e ao próximo (os outros seis),
traça, para o povo eleito e para cada um em particular, o caminho de uma vida
liberta da escravidão do pecado. Os Dez Mandamentos foram entregues no Monte
Sinai ao povo hebreu, por Deus, através de Moisés, separadamente do restante da
Torá (ensinamentos). De acordo com a Bíblia, os Mandamentos escritos nas duas
tábuas da Lei, foram escritas pelo dedo do próprio Deus sendo que os demais
foram ditados e escritos em pergaminhos por Moisés e ambos falados diretamente
ao povo. Em hebraico (língua original dos Mandamentos), o número de letras dos
Dez Mandamentos é equivalente a 613, o número total dos mandamentos da Torá.].
2. Objetivos do Concerto divino. A lei foi dada por Deus a Israel com os seguintes objetivos:
a) Prover um padrão de justiça. A lei entregue
pelo Senhor a Moisés é um padrão de moralidade para o caráter e a conduta do
homem, seja ele judeu, seja ele gentio (Dt 4.8; Rm 7.12).
[Comentário: Estes dizeres não foram copiados do Egito ou de outras
nações, como alguns suspeitam. “As declarações do monte Sinai são nobres e
inteiramente diferentes de qualquer coisa encontrada em todo o conjunto da
literatura egípcia.” Deus deu estas palavras não como meio de salvação, porque
este povo já estava salvo do Egito, mas como norma de conduta. Levando em conta
que a obediência era uma cláusula para a continuação do concerto (Êx 19.5),
estas palavras se tornaram a base de perseverança na qualidade de povo de Deus.
Paulo deixou claro que a observância da lei não é meio de salvação pessoal,
pois a justificação é pela fé em Cristo (G1 2.16). A lei conduz a Cristo, mas
não salva (G1 3.24). Deduzimos que esta lei moral foi dada como fundamento
providencial para a fé do povo de Deus. Quem o ama observa sua lei. Dividir a
lei em lei moral, lei cerimonial e lei civil é, por um lado, útil, e, por
outro, enganoso. Lógico que a lei moral do Decálogo é básica e expressa a
responsabilidade de todos os homens. Mas as outras leis dadas a Israel também
eram igualmente obrigatórias.].
b) Identificar e expor a malignidade do
pecado. “Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse”; isto é, fosse
devidamente conhecida (Rm 5.20). “Pela lei vem o conhecimento do pecado”, ou
seja, o conhecimento pleno da transgressão (Rm 3.20; 7.7). A lei não faz do ser
humano um pecador, mas faz com que ele se reconheça como um transgressor. Ela
expõe a malignidade do pecado, mas ao mesmo tempo aponta o caminho da sua
expiação pela fé em Deus através dos sacrifícios que eram oferecidos no
Tabernáculo (Lv 4-7). [Comentário: As leis de Deus
eram demonstração de sua justiça por meio de símbolos e forneciam uma
disciplina pela qual os israelitas poderiam ser conformados à santidade de Deus.
Verdade é que, como nos ensina o apóstolo, a lei veio para que a ofensa
abundasse (Rm 5.20). Isto mostra-nos claramente o verdadeiro objetivo da lei: veio a propósito para que o pecado se
fizesse excessivamente maligno (Rm 7.13). Era, em certo sentido, como
um espelho perfeito enviado para revelar ao homem o seu desarranjo moral. Se eu
me puser diante de um espelho com o meu vestuário desarranjado, o espelho
mostra-me o desarranjo, mas não o põe em ordem. Se eu fizer descer sobre um
muro tortuoso um prumo, o prumo mostra a tortuosidade, mas não a altera. Se eu
sair numa noite escura com uma luz, esta revela-me todos os obstáculos e
dificuldades que se acham no caminho, mas não os remove. Além disso, o espelho,
o prumo, e a luz não criam os males que revelam distintamente: nem os criam nem
os afastam, apenas os revelam. O mesmo acontece com a lei: não cria o mal no
coração do homem nem tampouco o tira; mas revela-o com infalível exatidão (C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O
Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé).].
c) Revelar a santidade de Deus. O Senhor
revela a sua santidade por intermédio da lei mosaica (Êx 24.15-17; Lv 19.1,2),
de igual forma, em o Novo Pacto, Ele revela a todo o mundo o seu amor através
do seu Filho Jesus (Jo 3.16; Rm 5.8). A lei foi dada por Deus para conduzir a
humanidade a Cristo (Rm 10.4). [Comentário: Mas, pode
perguntar-se, "a lei não é perfeita? E se é perfeita que mais pode
desejar-se? A lei é divinamente perfeita. Na verdade, a própria perfeição da
lei é a razão de amaldiçoar e matar aqueles que não são perfeitos e pretendem
subsistir perante ela. "A lei é espiritual, mas eu sou carnal" (Rm 7.14).
É inteiramente impossível fazer-se uma ideia justada perfeição e
espiritualidade da lei. Porém, esta lei perfeita estando em contato com a
humanidade caída—esta lei espiritual entrando em contato com a mente carnal—só
podia produzir a "ira" a "inimizade" (Rm 4.15; 8.7). Por
quê?- É porque a lei não é perfeita?- Ao contrário, é porque ela o é e o homem
é pecador. Se o homem fosse perfeito cumpriria a lei em toda a sua perfeição
espiritual; e até mesmo no caso de crentes verdadeiros, embora tragam ainda
consigo uma natureza corrompida, o apóstolo ensina-nos: "Para que a
justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas
segundo o espírito" (Rm 8.4): "...porque quem ama aos outros cumpriu
a lei... O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o
amor" (Rm 13.8 e 10). Se eu amar o próximo não furtarei aquilo que lhe
pertence; pelo contrário, procurarei fazer-lhe todo o bem que puder. Tudo isto
é claro e fácil de compreender por uma alma espiritual; mas não toca na questão
da lei, quer seja como fundamento de vida do pecador ou de regra de vida para o
crente. (C.
H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa
Imprensa da Fé).].
SINOPSE DO TÓPICO (I)
A Lei de Deus, entregue a Moisés tinha os seguintes propósitos para
Israel: prover um padrão de justiça; identificar e expor a malignidade do
pecado; revelar a santidade de Deus.
II. OS DEZ MANDAMENTOS (ÊX
20.1-17)
1. O primeiro mandamento. “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx
20.3). Neste primeiro mandamento, Deus se revela como o único e verdadeiro Deus
(Dt 6.4). Naquela época havia entre as nações falsos deuses. Um exemplo disso é
o Egito, onde o povo de Israel estivera por 430 anos. Nossa adoração e culto
devem ser dirigidos somente ao único e verdadeiro Deus. Não devemos cultuar nem
os anjos (Ap 19.10), nem os homens (At 10.25,26) ou quaisquer símbolos. O
primeiro mandamento da lei, reafirmado em o Novo Testamento, foi a respeito da
adoração somente a Deus (1Co 8.4-6; 1Tm 1.17; Ef 4.5,6; Mt 4.10).
[Comentário: Não terás outros deuses. Temos aqui a regra do monoteísmo
(ver a respeito no Dicionário). Neste ponto, o monoteísmo substitui todas as
outras possíveis noções de Deus. Todavia, não basta acreditar na existência de
um Deus. Esse Deus único precisa ser reconhecido e obedecido como a autoridade
moral de todos os atos humanos. Também só há um Deus no atinente à questão da
adoração e do serviço espirituais. O Deus único merece toda honra. Isso labora
contra 0 panteísmo e todo 0 seu caos. Este último adiciona muitas informações
àquilo que comentamos aqui (ver também Êx 23.13). A nação de Israel estava
cercada por povos que eram leais a um número impressionante de divindades. As
pragas do Egito tinham mostrado que só YAHWEH é Deus (Êx 5.2 e 6.7). Há uma
profunda verdade na ideia que um homem só pode adorar a um Deus. Jesus abordou
essa questão em Mateus 6.24. Os homens adoram aquelas coisas que lhes parecem
importantes, incluindo o dinheiro. Há deuses externos e internos. Mas todos
eles são deuses falsos. Os versículos 4-6 descrevem e ampliam 0 primeiro
mandamento. Os católicos-romanos e os luteranos (e também muitos intérpretes
judeus) pensam que esses versículos formam, conjuntamente, o primeiro
mandamento. Mas a maioria dos outros grupos protestantes e evangélicos fazem
desses versículos um mandamento distinto. YAHWEH é um Deus zeloso que não
tolera rivais (vs. 5; 34.14). Naturalmente, temos nisso uma linguagem
antropomórfica. Divindades rivais seriam algo contrário ao caráter único de Deus.
E um deus que não é único não é 0 verdadeiro Deus. A desobediência ao primeiro
mandamento foi a principal razão dos cativeiros que, finalmente, Israel sofreu.
(CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos.
pag. 388).].
2. O segundo mandamento. “Não farás para ti imagem de escultura” (Êx
20.4-6). Aqui Deus proíbe terminantemente o uso de imagens idolátricas. “Deus é
Espírito”, disse Jesus (Jo 4.24). Então, não há como adorá-lo por meio de
imagens. Querer adorar a Deus por meio de imagens visíveis é falta de fé, pois
Cristo é a imagem de Deus (Cl 1.13-23). É abominação ao Senhor a idolatria, ou
seja, ter ídolos e ser idólatra (Dt 7.25). Na vida do crente, um ídolo é tudo o
que ocupa o primeiro lugar em sua vida, em seu coração, em seu tempo e em sua
vontade. Esse “ídolo” pode ser acúmulo de riqueza, a busca pela grandeza, pelo
sucesso e pela fama. Pode ser também a busca pela popularidade, pelo prazer
desenfreado. Há muita gente na igreja se arruinando espiritualmente por causa
dos “ídolos do coração”. [Comentário: “Como o
primeiro mandamento afirma a unidade de Deus e é um protesto contra o
politeísmo, assim o segundo afirma sua espiritualidade e é um protesto contra a
idolatria e o materialismo.” Embora certas formas de idolatria não sejam
materiais — por exemplo, a avareza (Cl 3.5) ou a sensualidade (Fp 3.19) —, o
segundo mandamento condena primariamente a fabricação de imagens na função de
objetos de adoração. Este tipo de idolatria sempre existiu entre os povos
pagãos mais simplórios do mundo. A história de Israel comprova que esta
tentação é traiçoeira. Estas imagens pagãs eram feitas na forma de coisas
vistas no céu, na terra e nas águas. Estas imagens não deveriam se tornar
objetos de adoração: Não te encurvarás a elas. Os versículos 4 e 5 devem ser
considerados juntos. Não há condenação para a confecção de imagens, contanto
que não se tornem objetos de veneração. No Tabernáculo (25.31-34) e no primeiro
Templo (1 Rs 6.18,29) havia obras esculpidas. A idolatria consiste em
transformar uma imagem em objeto de adoração e atribuir a ela poderes do deus
que representa. Se considerarmos que gravuras ou imagens de pessoas possuam
poderes divinos e que sejam adorados, então elas se tornam ídolos. Deus
apresentou os motivos para esta proibição. Ele é Deus zeloso, no sentido de que
não permite que o respeito e a reverência devidos a Ele sejam dados a outrem. Deus
não regateia o sucesso ou a felicidade para as pessoas, como faziam os deuses
gregos. E para o bem dos filhos de Deus que eles devem consagrar e reverenciar
o nome divino. Deus pune a desobediência e recompensa a obediência. Muitos
questionam o julgamento nos filhos de pais ofensores, mas tais julgamentos são
temporários (Ez 18.14-17) e aplicam-se às consequências, como, por exemplo,
doenças, que naturalmente seguem as más ações. O medo de prejudicar os filhos
deveria exercer coibição salutar na conduta dos pais. As perdas que os filhos
sofrem por causa da desobediência parental podem levar os pais ao
arrependimento. Na pior das hipóteses, a pena vai até à terceira e quarta
geração, ao passo que a misericórdia é mostrada a mil gerações quando há amor e
obediência. (Leo
G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 189-190).].
3. O terceiro mandamento. “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em
vão” (Êx 20.7). O nome de Deus representa Ele mesmo; sua divina natureza; seu
infinito poder e seu santo caráter. Este mandamento, portanto, diz respeito à
santidade do Senhor. Tomar o nome do Todo-Poderoso em vão é mencioná-lo de modo
banal, profano, secular e irreverente. [Comentário: Tomar o nome
do SENHOR, teu Deus, em vão é “recorrer ao irrealismo, ou seja servir-se do
nome de Deus para apelar ao que não é expressão do caráter divino”. Tal uso profano
do nome de Deus ocorre no perjúrio, na prática da magia e na invocação dos
mortos. A proibição é contra o falso juramento e também inclui juramentos
levianos e a blasfêmia tão comum em nossos dias. “Este mandamento não obsta o
uso do nome de Deus em juramentos verdadeiros e solenes.” Deus odeia a
desonestidade, e é pecado sério alguém usar o nome divino para encobrir um
coração mau, ou para se fazer melhor do que se é. A pessoa que procura
disfarçar uma vida pecaminosa, ao mesmo tempo em que professa o nome de Cristo,
quebra este terceiro mandamento. Tais indivíduos são culpados diante de Deus e
só recebem misericórdia depois de se arrependerem. Os justos veneram o nome de
Deus por ser santo e sagrado. (Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 1. pag. 190). Alan Cole afirma que “No judaísmo
mais recente, esta proibição envolvia qualquer uso impensado e irreverente do
nome YHWH. Este só era pronunciado uma vez por ano, pelo sumo-sacerdote, ao
abençoar o povo no grande Dia da Expiação (Lv 23:27). Em sua forma original, o
mandamento parece ter-se referido a jurar falsamente pelo nome de YHWH (Lv
19:12). Este parece ser o verdadeiro sentido do texto hebraico. A lei permitia
abençoar e amaldiçoar em nome de YHWH (Dt 11:26): isso equivalia virtualmente a
proclamar Sua vontade e Seu propósito para com várias classes de indivíduos.
Jurar pelo Seu nome era, então, permitido, embora fosse proibido por Cristo,
séculos mais tarde (Mt 5.34). Na verdade, jurar pelo Seu nome (e não pelo de
qualquer outro deus) era um sinal de que tal pessoa era um adorador de YHWH (Jr
4.2), e por isso era algo digno de louvor. Uma razão mais profunda para tal
proibição pode ser vista no fato de que Deus era a única realidade viva para a
mentalidade israelita. É por isso que Seu nome era sempre envolvido nos votos e
juramentos, normalmente na fórmula “tão certo como vive o Senhor” (2 Sm 2:27). Usar
tal frase e depois deixar de cumprir o voto era questionar a realidade da
própria existência de Deus. Pois YHWH não terá por inocente. A explicação,
embora correta, provavelmente não fazia parte do abrupto mandamento apodítico
original” (R.
Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 150).].
4. O quarto mandamento. “Lembra-te do dia de sábado, para o
santificar” (Êx 20.8-11). O sábado era um dia de descanso e de adoração a Deus.
O termo sábado vem do hebraico shabbath (cessar; interromper). Em Gênesis 2.3
está escrito que: Deus “descansou” (literalmente “cessou”, no sentido de alguém
interromper o que estava fazendo). A expressão “lembra-te”, usada pelo autor no
versículo 8, indica que o sábado já fora dado por Deus no princípio, e que já
era observado para descanso do trabalho e adoração a Deus (Gn 2.1-3; Êx 20.10).
É importante ressaltar que em o Novo Testamento não há um só versículo que
ordene a guarda do sábado como dia fixo santificado para descanso e adoração ao
Senhor. O sábado foi dado como um “sinal” do pacto do Sinai entre Deus e
Israel. Assim, o sábado assinala Israel como povo especial de Deus (Êx
31.12,13,17; Ez 20.10-12). A respeito dos demais mandamentos não está dito que
eles são “sinais”. Para nós, o princípio que permanece é um dia de descanso na
semana, para nosso benefício físico e espiritual (Cf. Mc 2.27,28). Nós,
cristãos, observamos o domingo como dia de culto, pois Cristo ressuscitou no
primeiro dia da semana (Lc 24.1-3). [Comentário: O uso do
verbo lembra-te insinua que é fácil
negligenciar o dia santo de Deus. Tinha de ser mantido em ininterrupta
consciência e santificado, ou seja, “retirado do emprego comum e dedicado a Deus”.
Todo o trabalho comum seria feito em seis dias, ao passo que o sétimo dia é o
sábado do SENHOR, teu Deus. Era um dia dedicado, separado, a ser dado
inteiramente a Deus. Ninguém deveria trabalhar neste sétimo dia. O senhor não
deveria fazer seus servos trabalharem. Até os animais tinham de descansar do
trabalho cotidiano. Havia proibições específicas, como a ordem de não colher
maná (16.26), não acender fogo (35.3), não apanhar lenha (Nm 15.32-36). Embora
o foco seja negativo, a lei permitia o trabalho necessário, como o trabalho de
sacerdotes e levitas no Templo, o atendimento a doentes e o salvamento de
animais (cf. Mt 12.5,11). A razão para observar o sábado é que Deus fez a terra
em seis dias e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o SENHOR o dia do
sábado e o santificou. As Escrituras não fazem uma lista de coisas que se deve
fazer no sábado. A inferência inequívoca é que o dia é de descanso e adoração.
As ocupações seculares e materialistas devem ser substituídas por atividades
espirituais. CRISTO condenou o legalismo que deu ao dia a forma severa e
insensível, embora não tenha anulado a sacralidade do dia. Foi ordenado para o
bem do homem (Mc 2.23-28). A observância do dia do Senhor (domingo) como o
sábado cristão preserva o princípio moral que há neste mandamento. A mudança do
sábado judaico para o sábado cristão foi feita gradualmente sem perder
necessariamente o propósito de Deus para este dia santo. Notamos que os
versículos 9 e 10 não especificam o sábado nem “o sétimo dia da semana” como o
dia do descanso sabático. A letra do mandamento é cumprida pela observação do
dia seguinte aos seis dias de trabalho, como faz o cristão. (Leo G. Cox. Comentário Bíblico
Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 190-191).].
SINOPSE DO TÓPICO (II)
Do primeiro ao quarto mandamento, o Decálogo
apresenta leis para situar a relação do homem com Deus.
III. A CONTINUAÇÃO DOS
MANDAMENTOS DIVINOS
1. O quinto mandamento. “Honra a teu pai e a tua mãe” (Êx 20.12). Honrar
é respeitar e obedecer, por amor, à autoridade dos pais, e com eles cooperar em
tudo. É o primeiro mandamento contendo uma promessa de Deus: “Para que se
prolonguem os teus dias”. [Comentário: Tal como o
versículo 8, este é um mandamento categórico formulado positivamente. O mesmo
princípio sob outra forma pode ser encontrado em 21.15,17: “Quem ferir/amaldiçoar
seu pai ou sua mãe, será morto” . Este é chamado” o primeiro mandamento com
promessa” (Ef 6.2), e assim o é, no sentido mais estrito da palavra, embora o
versículo 6, onde Deus demonstra “o amor da aliança” aos que O amem e obedeçam,
também seja virtualmente uma promessa. A promessa divina, contudo, é mais clara
aqui, produzindo seus resultados na sociedade. Os que constroem uma sociedade
na qual a velhice ocupa lugar de honra podem esperar confiantemente desfrutar
do mesmo lugar algum dia. Tal doutrina não é muito popular em nossos dias,
quando a juventude é adorada, e a velhice temida ou desprezada. O resultado é a
loucura que leva homens e mulheres a lutarem por permanecer eternamente jovens,
e acabar descobrindo ser isso impossível. Este mandamento é parte da atitude
geral para com a Velhice em Israel (como símbolo e, idealmente, personificação
da sabedoria prática da vida), elogiada em todo o Velho Testamento (Lv 19.32), e
encontrada em muitos outros povos antigos, notavelmente entre os chineses. Não
se pode precisar se o mandamento está relacionado à ideia de que sendo a vida
sagrada e dom de Deus, os doadores humanos da vida devem ser tratados com
respeito: talvez um israelita não analisasse o mandamento deste modo. Para que
se prolonguem os teus dias. Às vezes, indivíduos supersensíveis questionam a
validade de uma promessa ligada a um mandamento. O hebraico, entretanto, não
implica necessariamente em que a bênção prometida seja nosso motivo para
obedecer o mandamento, ao passo que assegura definitivamente qual seja o
resultado de tal obediência. Outros questionam a natureza material da promessa.
Em dias do Velho Testamento, todavia, as promessas divinas eram normalmente
formuladas em termos materiais, compreensíveis para aqueles que, por assim
dizer, ainda estavam no jardim-de-infância de Deus. Para aqueles que, até
àquela altura, não tinham conhecimento definido de uma vida futura, “dias
prolongados” significavam possibilidade de continuada comunhão com Deus, e eram
por isso muito importantes. Por outro lado, alguns consideram esta promessa
como um seguro de propriedade da terra que Deus lhes daria: isto, por sua vez,
traria glória a Deus, por demonstrar Sua fidelidade às Suas promessas. Nós, com
revelação mais completa, podemos “espiritualizar” tal promessa sem esvaziá-la
de seu conteúdo. Este mandamento é o ponto em que a atenção é desviada do
relacionamento para com Deus e se concentra no relacionamento com a comunidade
que Ele criou. Assim, o conteúdo total dos dez mandamentos pode ser resumido em
duas “palavras”, não uma apenas: amor a Deus e amor ao nosso próximo (Dt 6.5;
Lv 19.18). Mais uma vez, não há contradição: a realidade de nosso amor
declarado a Deus é demonstrada pela realidade de nosso amor expresso para com
nossos semelhantes (Jr 22.16). (R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 151-152).].
2. O sexto mandamento. “Não matarás” (Êx 20.13). No original,
o termo rasah equivale a matar o ser humano de modo doloso, premeditado,
planejado. Este mandamento ressalta a sacralidade da vida humana como dádiva de
Deus (At 17.25-28). Há também aqueles que matam o próximo no sentido moral,
social e espiritual, mediante a mentira, a falsidade, a difamação, a calúnia, a
maledicência e o falso testemunho (1Jo 3.15). Atualmente há muitos que foram
atingidos mortalmente em sua honra e praticamente “morreram”.
[Comentário: O Antigo Testamento justificava, contudo, certas formas
de homicídio. Um escravo podia ser morto sem que seu proprietário fosse punido
(Êx 21.21). Quem invadisse uma casa podia ser morto, sem sanções contra quem
lhe tirasse a vida (Êx 22.2). O sexto mandamento não proibia os sacrifícios de
animais. Matar alguém, durante as batalhas, não era considerado um crime (Dt.
20.1-4). É possível que, em alguns casos, fosse permitida a eutanásia (segundo
nos é sugerido em 1Sm 31.4,5). Presume-se que o suicídio era proibido, embora
não seja especificamente mencionado. De fato, os trechos de 1Sm 17.23 e 31.4,5
até podem ser usados como defesa de alguns casos de suicídio. A eutanásia,
quando aprovada, é a mais conspícua exceção ao sexto mandamento. A lei proíbe o
abuso da propriedade por meio do furto (Êx 20.15, o oitavo mandamento). Ora, a
vida de um homem é sua mais preciosa possessão, bem como o veículo de que ele
precisa para cumprir o desígnio divino em sua vida. Portanto, o homicídio
insulta Deus, e não somente o homem, porquanto interfere no propósito de Deus
que se está cumprindo nos homens. Desde os dias do Antigo Testamento, tem
aumentado o respeito peia vida humana; mas o homem está ainda muito longe de
ter um autêntico respeito pela sacralidade da vida humana. O trecho de Mateus
5.21,22 expande o sexto mandamento para que inclua o ódio, a inveja, a má
vontade e o assassinato de caráter. A ira indevida e pensamentos maliciosos,
que se expressem em palavras ou ações, devem ser compreendidos como implicações
desse sexto mandamento. (CHAMPLIN,
Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora
Hagnos. pag. 392-392).].
3. O sétimo mandamento. “Não adulterarás” (Êx 20.14). Este
mandamento do Senhor está vinculado à sacralidade, pureza e respeito absoluto
ao sexo, ao matrimônio e à família. O adultério é um ato sexual ilícito e
pecaminoso, de um cônjuge com outra pessoa estranha ao casamento. Enquanto a
lei condenava a prática do ato, o Novo Testamento vai além — condena os motivos
ocultos no coração que levam ao adultério (Mt 5.27,28). Portanto, mais que
condenar o ato praticado, Deus espera que em todo o tempo dominemos nossos
desejos e nos submetamos ao domínio do Espírito Santo. [Comentário:
A Lei permitia poligamia (talvez uma instituição social necessária à proteção
de mulheres solteiras), mas jamais permitiu poliandria (caso em que uma mulher
tem vários maridos simultaneamente). O fato de um homem ter relações sexuais
com a esposa de outro homem era considerado um pecado hediondo tanto contra Deus
como contra o homem, já bem antes da lei, ao tempo dos patriarcas (Gn 39.9).
Talvez este mandamento esteja relacionado ao “furto” e à “cobiça” proibidos nos
dois mandamentos seguintes, já que a esposa pertencia a outrem. Talvez isto
explique um dos aspectos mais intrigantes para nós que vivemos sob a nova
aliança: apesar de que relações sexuais com prostitutas não sejam recomendadas,
também não são proibidas (embora fosse proibido aos israelitas o permitir que
suas filhas se entregassem a tais práticas degradantes, Lv 19.29). Talvez isso
não infringisse os direitos de outrem, como no caso de um adultério. Por outro
lado, é claro (ver Mt 19.4-6) que a monogamia era o plano de Deus para o homem
na criação: e sem sombra de dúvida, tal como o divórcio, a poligamia e mesmo a
fornicação eram toleradas na economia mosaica devido à dureza do coração humano
(Mt 19.8). Em CRISTO, elas se tornam absolutamente impensáveis (1Co 6.15).
Longe de anular este mandamento, CRISTO o intensificou, incluindo como”
adultério” muito do que não é apenas tolerado, mas justificado por nossa
sociedade permissiva (Mt 5.28). Semelhantemente Ele incluiu os pensamentos
maldosos na proibição de assassinato: os mandamentos têm como alvo o pensamento
e a motivação, não apenas o ato (R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. pag. 154).].
4. O oitavo mandamento. “Não furtarás” (Êx 20.15). Furtar é
apoderar-se oculta ou disfarçadamente daquilo que pertence a outrem. Isso
abrange toda forma de desonestidade, de mentira, de ocultação, por palavra e
por atos. É preciso respeitar os bens dos outros. Ter honestidade e pureza nos
atos; no viver, no agir, no proceder. [Comentário: O ser humano
tem direito possuir coisas. E uma vez que as possua, não pode ser privado delas
por parte de quem quer que seja. Fica entendido, contudo, que tal ser humano
entrou na possessão de suas coisas de maneira honesta, pois, em caso contrário,
ele já roubou tais coisas de alguém, quebrando assim 0 oitavo mandamento. O
comunismo oficializou o furto de propriedade privada, por parte do estado,
mediante o decreto de alguns poucos mandamentos. O ladrão às vezes apenas furta
sub-repticiamente, mas muitas vezes também rouba mediante a violência,
incluindo à mão amada. Neste último caso há violência física, mas todo furto ou
roubo é um ato egoísta. Por muitas vezes, as coisas que as pessoas possuem
foram adquiridas em troca de trabalho árduo e longo. E contra a natureza privar
um homem daquilo que ele chegou a possuir mediante trabalho e sacrifício
pessoal. Os impostos, embora decretados oficialmente, também podem ser exorbitantes
e pecaminosos, como modos ilegítimos de que os governantes se valem para lesar
os governados. Logo, taxas excessivas devem ser classificadas como quebras do
oitavo mandamento. E também há uma maneira passiva de fazer a mesma coisa.
Devemos mostrar-nos generosos, compartilhando com outros de nossos valores
monetários. Se assim não fizermos, então estaremos furtando o que deveria ser
dado a pessoas menos afortunadas do que nós. Dificilmente pode ser mantida uma
sociedade estável quando os ladrões fazem o que bem entendem. A desonestidade,
em todas as suas formas, é um grande mal social, custando aos governos um alto
preço na tentativa de controlá-la. Como já dissemos, há formas violentas e
não-violentas de roubo, como também há formas particulares e públicas. E também
há desonestidades individuais e coletivas. A sacralidade da propriedade fica
implícita no oitavo mandamento. Alguns estudiosos ampliam esse mandamento, por
implicação, para o que envolvem os danos causados pela maledicência e pelos ataques
vertais contra outrem (CHAMPLIN,
Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora
Hagnos. pag. 393).
Este mandamento regula o direito da propriedade particular. E errado tomar de
outro o que é legalmente dele. Constitui roubo quando a pessoa se apossa do que
legalmente pertence a uma empresa ou instituição. Não há justificativa para a
“apropriação” mesmo quando a pessoa sente que o produto lhe é devido. Este
mandamento é quebrado quando a pessoa intencionalmente preenche a declaração do
Imposto de Renda com informações falsas, desta forma retendo tributos devidos
ao governo. Esta prática é imprópria mesmo que o cidadão desaprove o governo. Também
passa a ser roubo o ato de tirar vantagens de outrem na venda de propriedades
ou produtos, ou na administração de transações comerciais. E impróprio pagar
salários mais baixos do que devem receber por direito. O amor do dinheiro é o
pecado básico condenado por este mandamento. A obediência é perfeita somente
com um coração puro (Leo
G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 191).
Mais uma vez aqui esta proibição visa preservar a comunhão da comunidade da
aliança. Talvez a proibição original visasse o rapto com propósito de
escravidão (ver a experiência de José em Gn 37), mas sem dúvida todos os tipos
de furto estão incluídos. O código da aliança esclarece os detalhes (por
exemplo, 22.1-4), de modo que não há necessidade de explicações aqui. Numa
sociedade camponesa onde a vida é árdua, qualquer roubo pode levar à morte, de
modo que o furto se torna um crime sério. Há uma clara ligação entre este
mandamento e o décimo (R.
Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 154).].
5. O nono mandamento. “Não dirás falso testemunho contra o teu
próximo” (Êx 20.16). Este mandamento do Senhor trata da nossa honestidade e
sinceridade no uso da palavra em relação aos outros. Falso testemunho é falar
mal dos outros; acusar e culpar injustamente; difamar; caluniar; mentir (Tg
4.11). [Comentário: Parece que o objetivo
central deste mandamento é a proteção ao sistema judicial. Os tribunais seriam
inúteis se os homens chegassem ali para mentir. Se tiver de ser feita uma
acusação contra outra pessoa, e se o acusado tiver de defender-se, a verdade
terá de ser dita por ambas as parles, sob pena da justiça naufragar. Mas esse
mandamento também se aplica a questões individuais. A sociedade em geral
perturba-se quando as pessoas saem a espalhar mentiras e calúnias sobre seus
semelhantes. O trecho de Êx 23.1 condena o falso testemunho em nível pessoal.
Ver Dt 19.16-20 que requeria juízo apropriado contra falsas testemunhas que
perturbavam o sistema judicial. A linguagem e os fatos devem concordar entre si
(Ver Dt 13.14; 17.4; 22.20; Jr 9,5; Sl 9.5; 15.2; Pv 12.19; 14.25; 22.21). A
verdade precisa ser dita como tempero do amor (Ef 4.15). Algumas vezes, as
meias verdades prejudicam mais do que as mentiras francas. O amor, porém,
guarda-nos tanto da mentira aberta quanto das meias verdades. A mentira
artística vem sendo aprovada desde os tempos mais antigos, conforme muitos
eruditos supõem. Ver o caso de Labão (Gn 29.21-27), e o caso um tanto anterior
de Jacó (Gn 27.6-36). Por outro lado, a luz que brilhou por meio de Moisés por
certo condenava qualquer tipo de mentira ou abuso de linguagem. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo
Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 393).].
6. O décimo mandamento. “Não cobiçarás” (Êx 20.17). Este mandamento é
o respeito ético a tudo o que pertence aos outros. Isto abrange o controle e o
domínio dos apetites da alma, dos impulsos, desejos e vontade do crente.
Cobiçar é querer o que pertence a alguém. Querer as coisas dos outros é um
desejo insano que precisa ser debelado. [Comentário: Este último
mandamento está por baixo dos quatro precedentes, visto que atinge o propósito
do coração. Matar, adulterar, roubar e mentir são resultados de desejos errados
que inflamam nosso ser. E singular que a lei hebraica inclua este desafio ao
nosso pensamento e intenção. “Os antigos moralistas não reconheciam esta
condição” e não condenavam os desejos maus. Mas é no coração onde se inicia
toda a rebelião, e este mandamento revela o aspecto interior de todos os
mandamentos de Deus. Paulo reconheceu este aspecto interior da lei quando se
conscientizou de sua condição pecaminosa (Rm 7.7). Muitas pessoas são
absolvidas de crimes com base em atos exteriores, mas são condenadas quando
levam em conta os pensamentos interiores. Estes desejos cobiçosos são, por
exemplo, pela propriedade ou pela mulher pertencente ao próximo. Tais desejos
criminosos precisam ser purgados pelo Espirito de Deus; só assim viveremos em
obediência perfeita à santa lei de Deus (Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora
CPAD. Vol. 1. pag. 192). O termo hebraico hãmaçl, “ desejar”,
é em si mesmo neutro. É apenas quando mal orientado para aquilo que pertence a
outrem que tal “desejo” se torna errado. Alguns consideram que este é o único
dos dez mandamentos a proibir uma atitude mental e não o simples ato externo;
mas fazer tal distinção é, provavelmente, uma falsa compreensão da mentalidade
israelita. Tal como no caso de “amar” e “odiar”, “desejar” é uma atividade,
quase equivalente a uma tentativa de aquisição. Esta mesma identificação pode
ser vista no comportamento infantil. Casa indica família, no sentido antigo da
palavra, e a ideia de esposa é primária. Isto é explicitamente demonstrado em
Deuteronômio 5.21, onde a esposa é mencionada em primeiro lugar. Boi e jumento
são a riqueza típica do camponês ou seminômade da Idade do Bronze, para quem as
perplexidades da sociedade desenvolvida ainda não haviam surgido. “Escravos”
eram a única outra forma de propriedade móvel. Em última análise, desejar, e
tentar obter a propriedade alheia é estar insatisfeito com o que se recebeu de
Deus, e assim demonstrar falta de fé em Seu amor. Além do mais, a inveja
estimulada por tal atitude levará mais cedo ou mais tarde a que se prejudique
de alguma maneira o próximo, o que não se coaduna com o dever essencial do
amor. Alt, citado por Hyatt, entende o oitavo mandamento como uma proibição ao
rapto de israelitas ao passo que o décimo se referiria a uma proibição ao rapto
de suas esposas ou roubo de suas possessões. Tal divisão parece forçada: se há
alguma distinção a ser feita, seria melhor fazê-la entre “ato” (oitavo) e “motivo”
(décimo), embora, como já foi dito acima, mesmo esta distinção não deva ser
exageradamente enfatizada. (R.
Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 155).].
SINOPSE DO TÓPICO (III)
Do quinto ao décimo mandamento, o Decálogo
apresenta leis que tratam da relação do homem com o próximo.
CONCLUSÃO
A Lei expõe e condena os nossos pecados, porém, o Senhor
Jesus Cristo, pelo seu sangue expiador, nos perdoa e nos justifica mediante a
fé. [Comentário: Devem os
cristãos hoje guardar os Dez mandamentos? A unidade da Escritura assume a
continuidade da Lei de Deus. A Palavra de Deus nos revela uma ética contínua e
justa: “A Escritura não pode ser anulada” (João 10.35b). “Toda a Escritura é
divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para
corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e
perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Tm 3.16-17). O manual do viver
santo para o cristão é “toda a Escritura”. Toda a Escritura, não apenas o Novo
Testamento, foi dada para que o cristão pudesse ser “perfeito” e “perfeitamente
instruído para toda a boa obra”. Paulo ensina claramente a importância de
“guardar os mandamentos de Deus”, quando escreve: “A circuncisão é nada e a
incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus” (1Co 7.19).
Esse é o motivo dele escrever num capítulo mais adiante: “As vossas mulheres estejam
caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas,
como também ordena a lei” (1Co 14.34). João concorda com Paulo: “E nisto
sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos. Aquele que diz: Eu
conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a
verdade” (1Jo 2.3-4). “NaquEle que me garante: "Pela
graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus"
(Ef 2.8)”,
Graça e Paz a todos que estão em Cristo!
Francisco Barbosa
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