SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
A partir desta lição estudaremos alguns temas extraídos
do livro de Eclesiastes, um tratado filosófico judaico, cujo fundamento é a
vida com Deus. O Coelet, ou homem da assembleia, Salomão em sua idade avançada,
reflete a respeito do sentido da vida, e dos valores que permanecem diante do
Senhor. Na aula de hoje aprenderemos sobre o tempo, considerando a cosmovisão
bíblica, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, ao final, mostraremos a
necessidade de reconhecermos que o Deus é o Senhor do tempo, e que devemos
viver para Ele, buscando sempre a Sua glória.
1. A
DEFINIÇÃO DE TEMPO
O tempo na cosmovisão judaica é diferente da
experimentada no contexto ocidental. Para os hebreus o tempo era percebido
inicialmente como uma sucessão de ciclos com eventos recorrentes. Tal
perspectiva estava fundamentada na observação dos ciclos naturais, como o dia e
a noite, e também no calendário religioso, com base nos sábados, festas anuais,
anos sabáticos, e jubileus. Deus, nessa percepção, é o Senhor do tempo (et em
hebraico), pois a Ele esse pertence. No Antigo Testamento o tempo está atrelado
a alguns eventos específicos, e por meio do et, palavra hebraica para tempo, é
possível expressar quando um evento ocorre (Em. 8.11; I Sm. 20.12; II Sm. 11.1;
Jr. 8.7). O substantivo hebraico paam também carrega o sentido de sequência de
eventos (Ex. 23.17; Lv. 4.6), o encontramos pela primeira vez em Gn. 2.23, em
que essa palavra é traduzida, em algumas bíblias, como “agora”. Nessa passagem,
Adão destaca que, muito embora estivesse no tempo, e cumprisse sua
responsabilidade, dando nome aos animais, somente em um momento específico ele
encontrou satisfação, quando Deus lhe deu uma companheira. No Novo Testamento,
o tempo pode ser descrito pelas palavras aion, kairós e chronos. Aion indica um
tempo prolongado, tal como a eternidade, uma era no mundo. Kairós, por sua vez,
é usado como um indicador temporal, designado um tempo específico de Deus (Mt.
11.25; 12.1; 13.30; 14.1). Esse termo geralmente está relacionado ao tempo da salvação
do Senhor, tal como o tempo do nascimento de Moises, que conduziu o povo do
Egito (At. 7.20), ou como ao do próprio Cristo, que realizou o segundo Êxodo,
livrando os crentes da perdição eterna (Mt. 26.18; Mc. 1.15; Lc. 19.44; Jo.
7.6,8; Rm. 5.6; Ef. 1.10). Pedro destacou que a vinda de Cristo marcou o tempo
a respeito do qual trataram os profetas (I Pe. 1.10-12). Paulo, por sua vez, revela
que no devido kairos, Jesus retornará para arrebatar a igreja (I Tm. 6.15), e
posteriormente, para o julgamento final (Ap. 1.3; 11.18; 22.10). Chronos é o
tempo no sentido cronológico (At. 13.18), é nesse sentido que Paulo destaca a
vinda de Cristo como a plenitude do tempo (Gl. 4.4), e Pedro dos últimos tempos
(I Pe. 1.17).
2. O TEMPO
NO ECLESIASTES
No capítulo 3 de Eclesiastes, Salomão apresenta
várias declarações sobre o tempo de Deus
na vida das pessoas. De modo que há tempo para todo propósito debaixo do céu,
isso porque tempos e estações são uma parte normal da vida, independentemente
de onde as pessoas vivem. A vida humana cumpre uma sequência de ciclos: 1)
nascer e morrer (v. 2) – o nascimento e a morte não são contingências humanas,
mas determinações do próprio Deus, que está no comando de todas as coisas (Gn.
29.31-30.24; 22.5; Js. 24.3; I Sm. 1.9-20; Sl. 113.9; 139.16; Jr. 1.4,5; Lc.
1.5-25; Gl. 1.15; 4.4); 2) matar e curar (v. 3) – mesmo com todos os cuidados
da ciência moderna, existem epidemias na terra, que ceifam as vidas de várias
pessoas (I Sm. 2.6), mas Deus pode realizar milagres, e curar os enfermos (Is.
38); 3) espalhar pedras e ajuntar pedras (v. 5) – Israel é uma terra pedregosa,
por isso, antes de plantar, é preciso limpar os campos antes de ará-lo, alguém
poderá fazer o mal a outrem enchendo sua terra de pedras (II Rs. 3.19,25); 4)
abraçar e afastar de abraçar (v. 5) – existe o tempo de encontrar, de fazer
novas amizades, mas infelizmente, também de deixá-las para trás, de se
distanciar até mesmo dos entes queridos; 5) buscar e perder (v. 6) – todos nós
perdemos coisas, e de vez em quando precisamos procurá-las, mas existem
momentos em que necessitamos aprender a perdê-las, a aceitar que elas
simplesmente não farão mais parte de nós; 6) rasgar e coser (v. 7) – os
israelitas rasgavam as veste como sinal de arrependimento (II Sm. 13.1; Ed.
9.5), portanto, existe o momento de chorar pelos pecados, mas também de se
alegrar com o perdão que vem do Senhor; 7) amar e aborrecer (v. 8) – existem
coisas que podemos gostar, mas outras devem ser aborrecidas, pois não agradam a
Deus (II Cr. 19.2; Sl. 97.10; Pv. 6.16-19; Ap. 2.6,15)
3. O TEMPO
NA PERSPECTIVA DA ETERNIDADE
Quando olhamos para o tempo na perspectiva
meramente humana, acabamos frustrados, pois o tempo passa, principalmente
quando reconhecemos que nada há de novo debaixo do sol (Ec. 3.9). Felizmente
podemos olhar além, e saber que a vida do ser humano é uma dádiva de Deus (Ec.
3.10). Somente assim poderemos perceber o tempo de maneira positiva, aceitarmos
a vida com boa vontade, mesmo diante das adversidades. O homem foi criado imagem
e semelhança de Deus, por isso está ligado a Ele pela eternidade (Ec. 3.11). O
próprio Deus colocou a eternidade no coração do homem, este tem sede do céu e
nada o satisfaz, a não ser a presença do Eterno. A vida não precisa ser vista
como um fardo, mas como um presente do Senhor (Ec. 3.13; I Tm. 6.17). Quando
cremos em Jesus, nos tornamos filhos de Deus, passamos a fazer parte de um lar
eterno (Jo. 14.1-6; II Co. 4). Dessa perspectiva, a morte não é o fim, apenas
uma parte da eternidade, pois Deus está no comando dos ciclos da vida (Ec.
3.15). Em Cristo Deus entrou na história, Ele morreu e ressuscitou, rompendo o
ciclo de vida e morte, colocando-nos em uma no relação com o tempo (II Co.
5.17-21). Por esse motivo os salvos em Cristo que estiverem no corpo por
ocasião do arrebatamento serão transformados, e aqueles que tiverem morrido no
Senhor ressuscitarão (I Ts. 4.13-18; I Co. 15.35). Essa segurança nos dar firmeza
necessária para enfrentar o dia-a-dia, vivendo cada momento na dependência de
Deus, remindo o tempo (Ef. 5.15-17). Remir, em grego, é exagorazo, trata-se de
uma metáfora comercial, afinal, como se costuma dizer “tempo é dinheiro”. Como
cristãos precisamos aprender a usar bem o tempo, a investi nele de modo a dar
glória a Deus, diferentemente daqueles que não conhecem a Deus (Cl. 4.5),
ciente sobretudo que os dias são maus. Somos mordomos do tempo que nos foi
dado, um dia prestaremos contas a Deus sobre como o utilizamos. Portanto, não
podemos ser preguiçosos ou indolentes (Pv. 6.6-11; 19.15), principalmente se
tratando da missão urgente que a nós foi delegada (Jo. 9.4).
CONCLUSÃO
O tempo é precioso, dele somos feitos, por isso
nosso futuro depende de como o utilizamos (Rm.
2.7-10). Devemos ter cuidado para não desperdiçar o tempo em coisas
fúteis, como faziam os atenienses (At. 17.21). O investimento no tempo é uma
questão de prioridade, e essa deve ser posta no reino de Deus (Mt. 6.33). A
partir das considerações de Salomão, aprendemos que há tempo para todo
propósito, mas que esse tempo terreno é limitado, por isso, devemos, com
sabedoria, discernir quanto ao uso apropriado do tempo, buscando a glória de
Deus em tudo que fazemos (I Co. 10.31).
Extraído do blog: subsidioebd
Extraído do blog: subsidioebd
SUBSÍDIO II
A DEFINIÇÃO MAIS SIMPLES E PRÁTICA DO TEMPO
Citar definições que são bonitas, um pouco interessantes, mas não acrescentam algo de novo para nossa alma é frugalidade. Darei algumas definições mais simples e práticas para nós. E, para chegar a essas, como já afirmei, desejo começar a pensar com você sobre o tempo baseado em sua definição mais simples possível.
A definição mais simples de tempo é “sucessão dos anos, dias, horas, minutos, segundos etc”. Se fôssemos procurar uma resposta melhor, partindo dessa simples definição, perguntaríamos ainda: “O que é um dia? O que é uma hora? Como posso definir um minuto? Como é possível descrever um milésimo de segundo?” Como você pode notar, trabalharíamos com medidas: ano, dia, hora, minuto, etc. Isso nos leva a uma conclusão óbvia: O tempo é o aglutinamento dessas medidas.
Ora, o que pode ser medido é uma dimensão. O tempo, então, é uma dimensão. A nossa ideia de tempo não deve ser, ainda que nós tenhamos uma sensação contrária, de algo infinito. O tempo é algo criado por Deus à humanidade para dimensionar sua existência na Terra. O tempo teve começo e terá fim. O tempo, por mais esquisito que pareça, é finito. Quando acabar o tempo, só permanecerá a eternidade.
A humanidade está na dimensão que chamamos tempo. Deus não. Foi Ele quem criou o tempo, o que nos leva à conclusão óbvia de que, se antes não existia tempo, pois Deus o criou, logo Deus não vive no tempo, porque nunca precisou viver nele antes.
Deus é eterno, e eterno significa sem começo e sem fim. Mas como pode ser isso? Não é algo estranho? É estranho para nós que somos acostumados com o tempo, é esquisito para nós que somos criaturas, humanos, acostumados com as fronteiras, com a transcientes, limitados. Não podemos descrever o divino com parâmetros humanos. O parâmetro de lá é outro que excede e transcende os nossos. Para ser mais objetivo, nada lá pode ser medido nem comparado com as coisas daqui. Somos humanos, Deus é divino. Nossas lógicas e deduções só servem perfeitamente para o humano e visível.
Quem somos nós para descrevermos e detalharmos tudo de Deus e suas peculiaridades? O que Ele quis revelar podemos alcançar. O que não revelou, ou não revelou como, a nossa mente não pode tangenciar. Deus vive na eternidade, em outra “dimensão” (uso nesse caso essa palavra aspeada, quando a relaciono a Deus, porque a “dimensão de Deus”, por assim dizer, é diferente de qualquer dimensão que existe ou possa existir, porque eu não a meço. Por isso, não é realmente uma dimensão. Uma dimensão pode ser medida. Essa não. É, então, um ambiente).
[...] A palavra tempo aparece na Bíblia 446 vezes. O termo mais usado no grego para tempo é cronos, daí as palavras cronômetro, cronologia, crônica, etc. No entanto, quando a Bíblia se refere a Deus, costuma usar no grego, para sua “dimensão”, o termo aiónios, que é similar aos vocábulos hebraicos ‘adh e ‘ôãm. De acordo com os dicionários bíblicos, esses dois termos falam de eternidade. Eles surgem no Antigo Testamento para descrever a longevidade dos montes e, quando isso acontece, muitas vezes estão em um sentido poético, para referir-se à eternidade; surgem para se falar de um tempo de duração desconhecida e, na maioria das vezes, para serem relacionados á pessoa de Deus, que é eterno e não está sujeito ao tempo, ou às coisas relacionadas a este.
Texto extraído da obra “Reflexões sobre a Alma e o Tempo”, editada pela CPAD.
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