SUBSÍDIO
INTRODUÇÃO
Os salvos em Cristo não podem se comportar de qualquer maneira,
isso porque a vida do crente demanda um procedimento ético. Na lição de hoje
trataremos a esse respeito, destacaremos, a princípio, a consistência, a
cooperação e a confiança como características do verdadeiro cristão. Em
seguida, mostraremos as marcas espirituais com vistas à unidade do Corpo de
Cristo.
1. A CONDIÇÃO
DOS SALVOS EM CRISTO
Os seguidores de Jesus são chamados discípulos e devem carregar a
cruz do discipulado (Mt. 16.24). Reconhecemos a condição de membros da família
de Cristo, filhos do mesmo Pai (Fp. 1.1-11), e de servos com a responsabilidade
de partilhar o evangelho (Fp. 1.12-26), mas somos também soldados, em uma
batalha espiritual, em defesa da fé. A esse respeito destacou Judas, em sua
Epístola, exortando os crentes a pelejarem pela “fé que uma vez foi entregue
aos santos” (Jd. 3). Estejamos alerta, pois, conforme advertiu Paulo a Timóteo,
a apostasia dos últimos dias da igreja já é evidente (I Tm. 1.11). A resposta
da igreja a essa secularização é guardar o tesouro espiritual que fora confiado
a Paulo, e que posteriormente ele o repassou a Timóteo (I Tm. 6.20), tendo este
a responsabilidade de levá-lo adiante (II Tm. 2.2). Esse tesouro espiritual não
é apenas uma tradição humana, mas o próprio evangelho, que deve ser ensinado às
próximas gerações, a fim de que essas permaneçam fieis aos princípios revelados
na Palavra de Deus (II Tm. 3.16). Não podemos abrir mão da “sã doutrina”, isto
é, a ortodoxia, pois é a partir desta que surge o bom comportamento, a
ortopraxia. Há quem defenda, inclusive nas igrejas evangélicas, um evangelho
prático, destituído da doutrina bíblica. Esses pragmáticos argumentam: “não
importa no que você acredita, contanto que faça o que é correto”. Mas essa
premissa não tem qualquer fundamentação escriturística, pois os cristãos devem
viver a partir daquilo que aprenderem, um discípulo não pode se basear em outro
ensinamento senão o de seu Mestre (Jo. 15.12-14). O pragmatismo evangélico está
conduzindo muitos a “fazerem o que dá certo”, não o que “é certo”. Nessa guerra
espiritual precisamos recorrer às armas cristãs, que são poderosas em Deus (II Co.
10.4), mais especificamente a Palavra de Deus (Hb. 4.12) e a oração (Ef.
6.11-18).
2.
CONSISTÊNCIA, COOPERAÇÃO E CONFIANÇA
Paulo dá aos crentes filipenses algumas estratégias a fim de que
esses sejam exitosos nesse combate. A primeira delas é a consistência, eles
deveriam se portar “dignamente conforme o evangelho de Cristo” (Fp. 1.27). Não
podemos nos esquecer de que somos “cidadãos do céu”, e como tais devemos nos
comportar. Por isso, enquanto estivermos na terra, devemos agir como pessoas
que pertencem ao céu (Fp. 3.20). A igreja é embaixadora do Reino de Cristo na
terra, por isso deve agir em conformidade com o seu chamado (Ef. 4.1),
agradando ao Senhor em tudo (Cl. 1.10). Nossas vidas devem ser um livro aberto,
mais precisamente, cartas abertas, que ninguém tenha do que nos acusar (II Co.
3.2). Devemos usar as palavras para pregar, mas também as nossas vidas. Nossas
expressões devem ser endossadas pelo nosso comportamento. Esse é o princípio
cristão para que não haja discrepância entre a ortodoxia e a ortopraxia. Em Fp.
1.27 Paulo faz uso de uma metáfora atlética para ressaltar o valor do comportamento
cristão. Ele admoesta aos irmãos para que combatam “com o mesmo ânimo pela fé
do evangelho”. Conforme identificamos em Fp. 4.2, havia desavenças na igreja de
Filipos. Esses partidarismos também existiam na igreja de Corinto, resultando
em divisão (I Co. 3.4-6). O Apóstolo usa, nesse trecho da epístola, o sufixo
syn, que em grego dá ideia de trabalho em conjunto. O termo é synathleo, considerando
que os crentes deveriam permanecer juntos, como fazem os atletas em uma disputa
olímpica. Os jogos de revezamento ilustram bem essa verdade, pois o último
esportista somente poderá completar sua missão se os outros da sua equipe
cooperarem. É problemática quando uma igreja sofre da síndrome de Diótrefes, as
pessoas querem sempre ser umas maiores do que as outras (III Jo. 9). Existem
crentes que não querem fazer os trabalhos menos visados da igreja. Eles adoram,
como os fariseus, serem vistos pelos homens (Mt. 23.5). Devemos também ser
confiantes, não nos espantar diante daqueles que resistem o evangelho (Fp.
1.18). O Senhor está do nosso lado, ainda que não nos isente de aflições, pois nos
“foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer
por ele” (Fp. 1.29). A mensagem contemporânea, propagada na mídia, inclusive a
pseudoevangélica, é a seguinte: “pare de sofrer”. Mas Paulo nos mostra que
fomos chamados para sofrer por amor a Cristo (Jo. 16.33; Fp. 3.10; II Tm.
3.12). O Apóstolo revela sua identificação com os crentes filipenses,
destacando que se encontra, com eles, no mesmo combate. A palavra em grego é
agonia, fazendo alusão aos sofrimentos pelos quais passam aqueles que seguem a
Cristo.
3. MARCAS DA
UNIDADE CRISTÃ
Paulo chama os crentes filipenses à unidade, não à uniformidade,
algo totalmente diferente. Deus não nos chamou para sermos todos iguais, a
diferença é normal no corpo de Cristo. A unidade é uma atuação espiritual, que
vem de dentro. Enquanto que a uniformidade é uma atuação humana, que vem de
fora. Alguns líderes não suportam a diferença na igreja, querem que todos os
membros sejam iguais a eles. De vez em quando aparecem na televisão pregadores
que imitam até o tom da voz dos seus líderes. A igreja deve investir na unidade
espiritual, a uniformidade eclesiástica pode ser uma doença, uma falta de
espiritualidade. Paulo avalia se há realmente unidade na igreja de Filipos, por
isso identificamos quatro “ses” em Fp. 2.1. Esses “ses” revelam as condições para
a verdadeira unidade eclesiástica, pois sem conforto – paraklesis (Jo. 14.16),
consolação – paramuthion (Rm. 5.5), comunhão – koinonia (At. 2.42), afetos –
slanchma (II Co. 7.13-15) e compaixões – oiktirmos (II Ts. 2.16) não há
unidade. A verdadeira unidade é consequência do fruto do Espírito, não existe
unidade em uma igreja local na qual predominam as obras da carne (Gl. 5.17-22).
O individualismo está destruindo a unidade em muitas igrejas locais, há
comunidades em que a premissa é: “cada um por si e o diabo contra todos”. Paulo
convoca os crentes filipenses a agirem de modo diferenciado, a viverem tendo “o
mesmo amor, o mesmo ânimo, sentido uma mesma coisa” (Fp. 2.2). Isso é unidade,
não uniformidade, ninguém faz coisa alguma por “contenda ou por vanglória, mas
por humildade” (Fp. 2.3), pautados no amor-agape (I Co. 13), concretizado na
humildade. A falta desta traz sérios danos à igreja local, pois quando a
vanglória assume o primeiro lugar, o resultado é cada um querendo ser maior do
que o outro. Os discípulos de Jesus sofriam dessa doença espiritual (Mt.
18.1-4). Mas o Senhor os repreendeu, e foi mais além, dando-lhes um exemplo
radical de humildade (Jo. 13.16,17).
CONCLUSÃO
O comportamento dos salvos em Cristo deve ser pautado pela
humildade, cada um deve considerar “os outros superiores a si mesmo” (Fp. 2.3).
O individualismo não pode predominar no corpo de Cristo, para tanto, cada um
deve atentar não para o “que é propriamente seu, mas cada qual também para o
que é dos outros” (Fp 2.4). Ao invés de destruir-nos mutuamente, devemos
carregar as cargas uns dos outros, fazendo assim estaremos cumprindo a lei de
Cristo (Gl. 6.2).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MACARTHUR, J. Philippians. Chicago: Moody Publishers, 2001.
WIERSBE, W. W. Philippians: be joyfull. Colorado: David Cook, 2008.
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