Pastor Alexandre Coelho
SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Conforme estudamos na lição passada, Paulo estava
preso em Roma, mas o evangelho não estava em cadeias. Na aula de hoje
meditaremos a respeito da perspectiva do Apóstolo, que sabia discernir o
passado, por isso tinha alegria no presente, e o mais importante, esperança no
futuro. Veremos que as adversidades não foram capazes de diminuir a grandeza do
evangelho, considerado, pelo próprio Paulo, uma boa nova (Fp. 1.12), a
proclamação da Palavra de Deus (Fp. 1.14), que fora encarnada em Jesus Cristo
(Fp. 1.18).
1.
DISCERNINDO O PASSADO
Paulo não demonstrou autocomiseração em relação a
sua adversidade, pois mesmo preso, algemado em Roma, não se queixava pela sua
condição. Ao ponderar a respeito do passado, o Apóstolo põe em perspectiva a
soberania de Deus. Todas as situações adversas pelos quais passou não retiraram
o foco da direção de Deus para a sua vida. Ele sequer culpou alguém, nem mesmo
satanás como agente das suas lutas. Ao considerar seu passado, Paulo vê, em
tudo, o propósito divino. Ele foi perseguido em Damasco (At. 9.23-25),
rejeitado em Jerusalém (At. 9.26-28), esquecido em Tarso (At. 9.30), apedrejado
em Listra (At. 14.19), barrado por Deus em seus projetos (At. 16.6-10), preso e
açoitado com varas (At. 16.19-26), escorraçado em Tessalônica (At. 17.5,13),
preso em Jerusalém (At. 21.27,28), e dispensado do campo missionário pelo
próprio Deus (At. 22.17-21). Mas nada disso deteve o entusiasmo do Apóstolo,
muito pelo contrário, ele abraçou essas circunstâncias como possibilidades. Na
verdade, isso tudo funcionou como uma abertura para o projeto de Deus em sua
vida. O termo prokope, em grego, em Fp. 1.12, significa que Deus estava abrindo
caminhos, através da adversidade, para o progresso do evangelho. A perspectiva
cristã, em relação ao sofrimento, é diferente daquela divulgada pela sociedade
contemporânea. As pessoas não querem mais sofrer, elas não admitem passar por
aflições. Mas Jesus não prometeu isenção de sofrimento para os seus discípulos,
muito pelo contrário (Jo. 16.33). Paulo também adverte Timóteo, o jovem pastor
de Éfeso, quando às adversidades pelas quais passariam todos aqueles que seguem
piedosamente a Cristo (II Tm. 3.12). As adversidades, em várias ocasiões, são
meios usados por Deus para forjar o caráter dos seus servos para obras maiores
que esses deverão desenvolver. Nas palavras do belo hino da Harpa Crista: “os
mais belos hinos e poesias foram escritos em tribulação, e do céu as lindas
melodias, se ouviram na escuridão” (HC 126).
2. CONVICÇÃO
NO PRESENTE
Paulo não se deixou conduzir pelas adversidades,
seu olhar não estava centrado no passado. O presente também não lhe causava
desânimo, pois ele via o presente como oportunidade para a evangelização (Fp.
1.13). Ao invés de enfocar suas adversidades, Paulo via, no sofrimento, uma
maneira de contribuir para a difusão da Palavra de Deus. A história dos
avivamentos comprova que os maiores despertamentos espirituais da igreja
ocorrem justamente em meio à perseguição. Por isso, a prisão de Paulo em Roma
não foi capaz de deter a força poderosa do evangelho de Jesus Cristo. A própria
guarda pretoriana fora alcançada através dos sofrimentos de Paulo na prisão,
até mesmo os demais membros do palácio (Fp. 1.13). A situação de Paulo, como
costuma acontecer em tempos de perseguição, estimulou os irmãos a falarem com
ousadia a Palavra de Deus (Fp. 1.14,16). Mas não era propriamente as
adversidades do Apóstolo que motivava os crentes de filipos, era o próprio Senhor
Jesus que assim O fazia. Naquele tempo muitos estavam pregando o evangelho com
“boa vontade e por amor”. Eles não pregavam a si mesmos, uma mera filosofia
humana, mas Cristo, morto e ressuscitado (Fp. 1.15-18). Evidentemente nem todos
tinha as intenções corretas para pregar a Cristo, alguns deles pregavam a
doutrina certa, mas por motivo errados. Isso também acontece atualmente, não
poucos estão pregando a Cristo, o revelado nas páginas do evangelho, mas não
por amor aos pecadores, antes ao lucro. Há até os que pregam por inveja e
contenda, por autopromoção, para serem vistos pelos outros, para aparecerem. É
paradoxal, e, às vezes, perturbador, reconhecer que essas pessoas levam a
mensagem certa, condizente com a ortodoxia bíblica, mas que não vivem o que
pregam, não têm ortopraxia. Mas como esses não estavam deturpando a mensagem, o
evangelho, Paulo não os censura, diferentemente daqueles que se infiltraram na
Galácia (Gl. 1.7-9). O Apóstolo não se abala com aquela situação porque não se
deixa conduzir pelas vaidades humanas. Ele não está preocupado se vai perder
mais ou menos espaço no ministério. Isso porque o que interessa mesmo para
Paulo é que Cristo fosse pregado, que a mensagem do evangelho fosse anunciada.
Essa é uma lição para as disputas entre os pregadores nos dias atuais, que
querem aparecer mais do que Cristo, diferentemente do que defendeu João Batista
(Jo. 3.30).
3. ESPERANÇA
NO FUTURO
Paulo contemplava o futuro pelos olhos de Deus, por
isso, conforme já destacamos anteriormente, não tinha ressentimentos em relação
ao passado. Muito pelo contrário, era mesmo capaz de se alegrar, e viver o
presente com gozo espiritual. Ele estava certo de um futuro promissor, não
necessariamente neste tempo, mas no futuro, em Deus (Fp. 1.19-21). Paulo não é
adepto do estoicismo, doutrina filosófica que se compraz no sofrimento. Ele
está preso, e deseja sair da prisão, tem expectativa quando a sua libertação
(Fp. 1.19). A oração da igreja motiva a confiança do Apóstolo na sua liberdade.
Ele sabe, consoante ao que diz Tiago, que a oração do justo pode muito por sua
eficácia (Tg. 5.16). Deus usará os homens para coloca-lo em liberdade, mas isso
acontecerá por uma obra soberana do Espírito Santo. É maravilhoso testemunhar
os avanços da obra de Deus na vida de um homem ou mulher que olha para o
futuro. Um dos principais problemas nas igrejas é justamente esse, há pessoas,
inclusive líderes, que focam apenas o presente. As disputas, não poucas vezes,
estão alicerçadas em interesses meramente terrenos. Mas Paulo está olhando para
o futuro, ele tem esperança, em grego, apokaradokia, que significa “mirada fixa
em um objeto de desejo”. Trata-se de uma esperança intensa, direcionada para um
foco preestabelecido, ignorando outros interesses. A maior preocupação do
Apóstolo é a de não ser envergonhado diante de Deus, ele trabalha para
glorificar a Cristo em seu corpo (Fp. 1.20). Ao contrário do que muitos estão
fazendo hoje em dia, não estava preocupado em construir seu próprio império.
Ele sabia a razão pela qual estava atuando no ministério de Cristo, fora
comprado por alto preço, para glorificar Cristo em seu corpo (I Co. 6.20). A
glória de Deus deve ser a principal motivação de todo obreiro da seara cristã,
Paulo quer glorificar a Cristo em sua vida, e se necessário for, na própria
morte.
CONCLUSÃO
Essa atitude de Paulo é justificada porque, para
ele, o viver é Cristo, não o dinheiro, ou os bens terrenos, o sentido da vida é
o próprio Cristo. Por esse motivo morrer é lucro, ele não está apavorado, como
acontece com o homem moderno, com a possibilidade da morte (Fp. 1.21). Para o
cristão, a morte não é o fim, mas o descanso das fadigas (Ap. 14.13), é ser
aperfeiçoado para entrar na glória (Hb. 12.23). A morte não é motivo de pavor
para aqueles que militam na obra de Deus, pois esta, ao chegar, é bela aos
olhos de Deus (Sl. 116.15).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LOPES, H. D. Filipenses.
São Paulo: Hagnos, 2007.
MOTYER,
J. A. The message of Phillipians.
Leicester: Inter-versity Press, 1984.
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