sábado, 8 de maio de 2021

LIÇÃO 6: O MINISTÉRIO DE APÓSTOLO

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I 

 INTRODUÇÃO 

A partir da lição desta semana estudaremos os Dons Ministeriais distribuídos por Deus à sua Igreja, objetivando desenvolver o caráter cristão da comunidade dos santos, tornando-o semelhante ao de Cristo (Ef 4.13). De acordo com as epístolas aos Efésios e aos Coríntios, são cinco os dons ministeriais concedidos por Deus à Igreja: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores (1Co 12.27-29). Veremos o quanto esses ministérios são necessários à vida da igreja local para cumprir a missão ordenada pelo Senhor ante o mundo e, simultaneamente, crescer “na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18). Mostrando a sequência de Efésios 4.11, iniciaremos o estudo pelo dom ministerial de apóstolo. – Os dons espirituais são voltados para a igreja em seu ambiente interno, congregacional, com manifestações sobrenaturais, no falar línguas estranhas, profecia, interpretarão, dons de curar e outros carismas, os dons ministeriais ampliam a ação do Espírito Santo, com sua ação poderosa e sobrenatural, tanto no âmbito interno como externo, da missão da Igreja, na Terra. Já temos aprendido na primeira lição deste trimestre que os dons ministeriais são dádivas concedidas por Cristo com a finalidade de aperfeiçoar os santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, a fim de que os crentes atinjam a unidade da fé, o conhecimento do Filho de Deus, o nível de varões perfeitos, a medida da estatura completa de Cristo (Ef.4.12,13). Com esta lição, iniciamos o segundo bloco deste trimestre, dedicado ao estudo dos dons ministeriais. O primeiro dom ministerial que estudaremos é o de apóstolo, aqueles que foram enviados diretamente por Jesus para dar início à Igreja.

  I. O COLÉGIO APOSTÓLICO 

1. O termo “apóstolo”. O Dicionário Bíblico Wycliffe informa que o termo grego apostolos origina-se do verbo apostellein, que significa “enviar”, “remeter”. A palavra apóstolo, portanto, significa “aquele que é enviado”, “mensageiro”, “oficialmente comissionado por Cristo”. Ao longo do Novo Testamento, o verdadeiro apóstolo é enviado por Cristo igualmente como o Filho foi enviado pelo Pai com a missão de salvar o pecador com autoridade, poder, graça e amor. O verdadeiro apostolado baseia-se na pessoa e obra de Jesus, o Apóstolo por excelência (Hb 3.1). 

2. O colégio apostólico. Entende-se por colégio apostólico o grupo dos doze primeiros discípulos de Jesus convidados por Ele a auxiliarem o seu ministério terreno. O Salvador os separou e nomeou. Os primeiros escolhidos não eram homens perfeitos, mas foram vocacionados a levar a mensagem do Evangelho a todo o mundo (Mt 28.19,20; Mc 16.15-20). De acordo com Stanley Horton, eles foram habilitados a exercer “o ministério quando do estabelecimento da Igreja” (At 1.20,25,26). Em outras palavras, os doze apóstolos constituíram a base ministerial para o desenvolvimento e a expansão da Igreja no mundo. Mas antes, como nos mostra a Palavra de Deus, receberam o batismo com o Espírito Santo (Lc 24.49; At 1.8; 2.1-46). 

3. A singularidade dos doze. Aqui é importante ressaltar que o apostolado dos doze tem uma conotação bem singular em relação aos demais encontrados em Atos e também nas epístolas paulinas. 

a) Eles foram convocados pessoalmente pelo Senhor. Multidões seguiam Jesus por onde Ele passava (Mt 4.25), e muitos se tornavam seguidores do Mestre. Mas para iniciar o trabalho da Grande Comissão, apenas doze foram convocados pessoalmente por Ele (Mt 10.1; Lc 6.13).

b) Andaram com Jesus durante todo o seu ministério. Desde o batismo do Senhor até a crucificação, os doze andaram com o Mestre, aprenderam e conviveram com Ele (Mc 6.7; Jo 6.66-71; At 1.21-23). 

c) Receberam autoridade do Senhor (Jo 20.21-23). Os doze receberam de Jesus um mandato especial para prosseguirem com a obra de evangelização. Eles foram revestidos de autoridade de Deus para expulsar os demônios, curar os enfermos e pregar o Evangelho à humanidade (Mc 16.17,18; cf. At 2.4).

Etimologicamente o termo grego Apostellein “Apóstolo” significa aquele que é enviado, mensageiro ou embaixador. Aquele que representa a quem o enviou. A palavra é usada acerca do Senhor Jesus para descrever a Sua relação com Deus (Hb 3.1; Jo 17.3). Os doze discípulos escolhidos pelo Senhor para treinamento especial foram chamados assim (Lc 6.13; 9.10). Paulo, embora tivesse visto o Senhor Jesus (I Co 9.1; 15.8), não tinha acompanhado os doze todo o tempo do Seu ministério terrestre, e, consequentemente, não era elegível para um lugar entre eles, de acordo com a descrição de Pedro sobre as qualificações necessárias (At 1.22). Paulo foi comissionado diretamente pelo próprio Senhor, depois de sua ascensão, para levar o evangelho aos gentios” (At 9.1-15) (VINE, 2002, p.407). O título “apóstolo” se aplica a certos líderes cristãos no NT. O verbo “apostello” significa “enviar alguém em missão especial como mensageiro e representante pessoal de quem o envia. O título é usado para Cristo (Hb 3.1), os doze discípulos escolhidos por Jesus (Mt 10.2), o apóstolo Paulo (Rm 1.1; II Co 1.1; Gl 1.1) e outros (At 14.4,14; Rm 16.7; Gl 1.19; 2.8,9; I Ts 2.6,7). A Bíblia de Estudo Pentecostal (STAMPS, 2012, p. 1814). A Bíblia de Estudo Pentecostal classifica “apóstolos” num sentido geral, como um ministério que ainda continua sendo necessário para o propósito de Deus na igreja, fazendo uma conexão direta com o trabalho missionário. Dessa forma, o termo “missionário” teria o mesmo sentido de “apóstolo”, ou seja, um representante designado por uma igreja, e cita como referências bíblicas Atos 14.4, 14 (Barnabé e Paulo), Rm 16.7 (Andrônico e Júnia), 2 Coríntios 8.23 (Embaixadores, traduzido do grego apóstoloi).

O nome de Colégio Apostólico é dado ao grupo de doze homens que foram chamados pelo próprio Senhor Jesus para segui-lo durante o seu ministério terreno (Mt 10.2; Mc 6.30; Lc 6.13). “Foram três anos aproximadamente, em que eles aprenderam as verdades de Deus com o maior Mestre da história. Após o seu discipulado, aos pés de Cristo, e o recebimento do batismo com o Espírito Santo (Lc 24.49; At 1.8), aqueles 12 foram enviados para proclamar o evangelho, ou as Boas Novas de salvação (Lc 6.13). Eles constituíram a base ministerial para o crescimento, o desenvolvimento e a expansão do Reino de Deus e da Igreja de Cristo, por todo o mundo” (RENOVATO, 2014, p. 72).

A característica fundamental do apóstolo é ser alguém que tem uma missão a cumprir, enviado por quem tem autoridade espiritual para fazê-lo. Em seu discipulado, os doze apóstolos foram preparados para o cumprimento da missão mais importante que um mortal poderia receber. Serem embaixadores do Reino de Deus. Não poderiam ser pessoas desprovidas de qualificações especiais. Eram homens comuns, humanamente detentores de virtudes e defeitos, mas tiveram um treinamento aos pés do Mestre dos mestres. E demonstraram possuir algumas qualidades especiais.

a) Foram chamados por Jesus. Em seu ministério, Jesus teve muitos discípulos (Mt 8.21; 9.57-62). Mas, para cumprir a grande missão, Jesus selecionou apenas 12, e lhes deu credenciais e poder para se tornarem apóstolos. “E, chamando a si os seus doze discípulos...” (Mt 10.1a). Lucas anotou a eleição dos 12 dentre muitos outros. Após passar uma noite inteira em oração a Deus, “chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles a quem deu nome de apóstolos” (Lc 6.12 — grifo nosso).

b) Receberam autoridade espiritual. Jesus “deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos, para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades” (Mt 10.1; Mc 3.15). Inicialmente, essa autoridade foi concedida aos doze. E, na Grande Comissão, além de mandar que seus discípulos pregassem o evangelho por todo o mundo, a toda a criatura, disse que os sinais e maravilhas haveriam de seguir a todos os que nEle cressem. Não apenas aos doze, mas “aos que crerem”, ou seja, a todos os seus discípulos (Mc 16.17, 18). E importante destacar que os doze receberam dons sobrenaturais, antes que o Espírito Santo os colocasse à disposição da Igreja.

 c) Tinham delegação de Cristo. Os 12 apóstolos não foram apenas “enviados”, mas tiveram um mandato especial. Jesus lhes disse; “Disse-lhes, pois, JESUS outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. A autoridade delegada aos apóstolos foi tão grande, que eles tinham poder para perdoar pecados ou retê-los. JESUS os enviou, do mesmo modo como Ele fora enviado pelo Pai (Jo 20.21-23). Podemos imaginar o que os doze sentiram, ao ouvir aquelas palavras! Serem enviados por Cristo, e como Cristo o fora por seu Pai! Os que entenderam bem a missão devem ter sentido o grande peso de sua responsabilidade. Os que haviam sido pescadores, antes, podiam guardar as redes e suspender a pescaria. Mas, uma vez feitos “pescadores de homens” (Mt 4.19; Mc 1.17), não poderiam suspender a missão. Os que outrora tinham outras atividades não tinham como voltar atrás. O mundo nunca mais foi o mesmo depois de Cristo, e depois que seus apóstolos começaram a cumprir a Grande Comissão (Mc 16.15).

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA 

Professor, para introduzir a lição de forma dinâmica, faça a seguinte indagação: "Quais são os dons ministeriais?" Ouça os alunos com atenção e em seguida leia a relação descrita em Efésios 4.11. Depois, utilizando o quadro da página seguinte, explique a respeito do termo apóstolo e faça um pequeno resumo a respeito deste dom. Enfatize que Deus continua levantando apóstolos em nosso tempo. Conclua orando para que o Senhor distribua este dom entre os seus alunos.

  II. O APÓSTOLO PAULO   

1. Saulo e sua conversão. Saulo foi um judeu de cidadania romana, educado “aos pés de Gamaliel”, e também um importante mestre do judaísmo (At 22.3,25). Ele era intelectual, fariseu e foi perseguidor dos cristãos. Entretanto, a caminho de Damasco, em busca dos cristãos que haviam fugido devido à perseguição em Jerusalém, e com carta de autorização para prendê-los, Saulo teve uma experiência com o Cristo ressurreto (At 9.1-22). A sua vida foi inteiramente transformada a partir desse encontro pessoal com Jesus. De perseguidor, passou a perseguido; de Saulo, o fariseu, a Paulo, o apóstolo dos gentios.

2. Um homem preparado para servir. Dos vinte e sete livros do Novo Testamento, treze foram escritos pelo apóstolo Paulo. Quão grande tratado teológico encontramos em sua Epístola aos Romanos! O seu legado teológico foi grandioso para o cristianismo. Mas para além da intelectualidade teológica, o apóstolo dos gentios levou uma vida de sofrimento por causa da pregação do Cristo ressurreto. Eis a declaração apostólica que denota tal verdade: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2Tm 4.7). 

3. “O menor dos apóstolos”. O apóstolo Paulo não pertencia ao colégio dos doze. Ele não andou com Jesus em seu ministério terreno nem testemunhou a ressurreição do Senhor – requisitos indispensáveis para o grupo dos doze (At 1.21-23). Humildemente, o apóstolo reconheceu que não merecia ser assim chamado, pois considerava-se um “abortivo”, como que nascido fora de tempo, o menor de todos (1Co 15.8,9). Entretanto, o Senhor se revelou a ele ressurreto (At 9.4,5) e ensinou-lhe todas as coisas. O apóstolo recebeu o Evangelho diretamente do Senhor (Gl 1.6-24; 1Co 11.23). Embora o colégio apostólico tenha reconhecido o apostolado paulino (Gl 2.6-10; 2Pe 3.14-16), as igrejas plantadas por ele eram o selo do seu ministério apostólico (1Co 9.2). 

Mesmo considerando-se “o menor dos apóstolos” Paulo revelou-se um grande servo de Deus. O chamado de Paulo foi bem diferente. A caminho de Damasco, com ordens dos sacerdotes para prender os cristãos, foi interrompido por Jesus, de maneira sobrenatural e impactante. No chão, Paulo teve o chamado de Deus de forma tão dramática, que caiu, ouvindo a potente voz do Senhor, que o abatera em seu orgulho e presunção, quando julgava estar fazendo a vontade de Deus no zelo do judaísmo (At 9.4; 22.7; At 9.10-19). Deus tem seus caminhos e suas maneiras de agir, às vezes muito estranhas (cf. Is 28.21). Diante de um chamado tão singular e diferente dos demais apóstolos, Paulo tinha razão em dizer que era chamado pela vontade de Deus e não dos homens. Até seu nome foi mudado, de Saulo (hb. Sha'ul, o que foi pedido) para Paulo (gr. Paulus, baixo, pequeno, humilde), após ser convocado pelo Espírito Santo para ser enviado para a missão (At 13.8). A conversão de Saulo ocorreu após a morte e ressurreição do Senhor Jesus (At 9.1-18). Logo, ele não tinha as “credenciais” que eram comuns aos demais apóstolos (At 1.21,22). Mas, o Senhor o chamou para este ministério, embora ele se considerasse indigno como dizendo ser “o menor dos apóstolos” (I Co 15.8,9). Paulo enfrentou muitas oposições por parte dos falsos mestres que questionavam sua autoridade apostólica. Por essa razão, em suas epístolas, era comum ele identificar-se como apóstolo: “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus” (Rm 1.1); “Paulo, chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, e o irmão Sóstenes” (I Co 1.1); “Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo (Gl 1.1). Além disso, em suas cartas, ele ressalta repetidas vezes que foi chamado para ser o “apóstolo dos gentios” (Rm 11.13; 15.15,16; Gl 1.16;2.7,8).

A vida de Paulo, seu fervor missionário e seu zelo pela Igreja de Deus demonstram claramente o seu chamado para o ministério apostólico. Sua preocupação não era apenas evangelizar, mas também, visitar os irmãos pelas cidades onde havia anunciado o Evangelho, para exortá-los a permanecer na fé e encorajá-los em meio às perseguições e ao sofrimento (At 14.21,22; 15.36). Um verdadeiro apóstolo é homem que deve ter comunhão e experiência com Deus. Paulo, não obstante não ter convivido com JESUS como os demais apóstolos, teve experiências espirituais que os outros não tiveram. E essas experiências fortaleceram sua vida espiritual e solidificaram o seu relacionamento com Cristo. Ele diz que teve “visões e revelações do Senhor” (1 Co 12.1); com bastante modéstia, falando na terceira pessoa, diz que “foi arrebatado ao terceiro céu”... “e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar” (1 Co 12.2,4). Que palavras foram essas, só Deus e Paulo sabem.

Paulo era um homem de grande cultura. Desmistificando a crença ou “doutrina” de que Deus só usa pessoas de pouca instrução, o exemplo de Paulo é bem marcante. Era homem de alto conhecimento bíblico e teológico, discípulo de Gamaliel, um dos mestres do judaísmo (At 22.3). Paulo era um intelectual poliglota. Falava hebraico, por ser judeu e fariseu (At 22.2); por ser cidadão romano (At 22.25), falava latim; suas epístolas foram escritas em grego, o que dá a entender que, sendo um homem culto de sua época, falava a língua helénica; e, como judeu zeloso, certamente, falava o aramaico, que era língua usual, nos meios intelectuais de sua época. Em sua soberania, e segundo seus propósitos divinos, JESUS resolveu contrariar a lógica humana, e chamar um perseguidor do evangelho para ser salvo e fazer dele um apóstolo dos mais destacados entre os que quis escolher. Enquanto alguns de seus primeiros discípulos, do grupo dos Doze, eram humildes pescadores, de menor grau de instrução, Paulo era um homem intelectual, que haveria de levar o evangelho aos gentios, ou gentes de todas as nações, fora de Israel, inclusive aos “reis” ou governantes de povos estrangeiros. Além dessa característica marcante, em seu ministério, Paulo foi o grande teólogo e intérprete dos evangelhos de Cristo. Dos 27 livros do Novo Testamento, 13 foram escritos por ele. E ainda resta dúvida se a epístola aos hebreus também foi de sua autoria. Não foi por acaso que Paulo foi o primeiro apóstolo a levar o evangelho de Cristo à Europa. Ele foi o grande evangelizador do Império Romano (Rm 15.24,28). Em suas viagens missionárias, levou o evangelho de Cristo a cidades de Israel, passou pela Turquia, pela Ásia Menor; pregou na Macedônia, na Acaia, na Grécia, centro cultural da Europa, à época; e, em sua última viagem missionária, reviu discípulos nas igrejas que fundara, e terminou em Roma, para onde foi levado preso, e pregou na capital do Império mundial da época. Concluiu sua extraordinária missão, declarando solenemente: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7).

O Apóstolo Paulo (I Cor 15.8-11). Paulo se inclui entre aqueles que viram Jesus ressuscitado: E, por derradeiro de todos, me apareceu também a mim (8). Paulo não acreditava que tivesse visto Cristo somente numa visão. Ele considerava sua experiência na estrada de Damasco uma válida aparição da pessoa do Senhor ressuscitado. Ele não conhecia nenhuma aparição posterior de Cristo a qualquer pessoa - pois a aparição de Cristo a João na ilha de Patmos aconteceu depois da morte de Paulo. O apóstolo refere aqui a si mesmo como um abortivo (ektroma). Essa estranha frase significa um aborto, ou nascimento fora do tempo, e “denota um filho nascido de forma violenta e prematura”. Esta referência à conversão de Paulo é a descrição “da rapidez e violência da transição... enquanto ele ainda estava num estado de imaturidade”. Fazendo um contraste, os 12 discípulos haviam sido escolhidos, alimentados, treinados e depois comissionados. Haviam sido aprendizes, antes de se tornarem apóstolos. A mudança de Paulo foi dramática e excepcional. No entanto, ele havia visto o Senhor de forma tão real como eles. Paulo não só havia visto o Senhor, como a experiência havia revolucionado completamente a sua vida. Ele estava bastante ciente de ser o menor dos apóstolos e indigno de ter esse nome, por causa da intensa perseguição que havia feito à igreja. Mas, apesar da sua falta de mérito e aptidão, a graça de Deus o havia tornado semelhante aos apóstolos para essa tarefa. A abundante graça que foi concedida a Paulo não foi vã, pois deu frutos e era valiosa. Sobre os outros apóstolos, Paulo declara: Trabalhei muito mais que todos eles. Isso pode querer dizer que Paulo viveu mais tempo, portanto trabalhou mais, ou pode significar que ele teve mais sucesso que os outros na fundação das igrejas. Embora Paulo seja suficientemente humano para apreciar seu sucesso como servo do Senhor, ele reconhecia que as suas realizações não eram o resultado de seus talentos, mas da graça de Deus que estava em sua vida. A conclusão é que todos os líderes apostólicos e várias centenas de crentes da Igreja Primitiva aceitavam o fato da ressurreição de Cristo. Além disso, esse fato havia sido pregado aos coríntios e eles o haviam aceitado. Cheio de propósito, Paulo podia declarar em relação à ressurreição: Então, ou seja, eu ou sejam eles, assim pregamos, e assim haveis crido.  

SUBSÍDIO TEOLÓGICO 

"Jesus é o supremo Sumo Sacerdote e Apóstolo (Hb 3.1). A palavra apóstolo era usada, no entanto, para qualquer mensageiro nomeado e comissionado a algum propósito. Epafrodito foi um mensageiro (apóstolo) nomeado pela igreja em Filipos e enviado a Paulo (Fp 2.25). Os companheiros de Paulo eram os mensageiros (apóstolos) enviados pelas igrejas e por elas comissionados (2 Co 8.23).

Os doze, apenas, eram apóstolos específicos. Depois de uma noite em oração, Jesus os escolheu do meio de um grupo de discípulos e os chamou apóstolos (Lc 6.13). Pedro recomendou que os doze tinham um ministério e supervisão especiais (At 2. 20,25,26), provavelmente tendo em mente a promessa de que eles futuramente julgariam (governariam) as 12 tribos de Israel (Mt 19.28). Sendo assim, nenhum apóstolo foi escolhido, depois de Matias, para estar entre os doze. Nem foram nomeados substitutos, quando estes foram martirizados. Na Nova Jerusalém há apenas 12 alicerces, com os nomes dos 12 apóstolos inscritos neles (Ap 21.14). Os doze, portanto, eram um grupo limitado, e realizavam uma função especial na pregação, no ensino e no estabelecimento da Igreja, além de testificar da ressurreição de Cristo, com poder. Ninguém mais pode ser um apóstolo no sentido em que eles foram" (HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 287). 

  III. APOSTOLICIDADE ATUAL (Ef 4.11) 

1. Ainda há apóstolos? No sentido estrito do termo, e de acordo com a sua singularidade, apóstolos como os doze não mais existem. A Palavra de Deus diz que durante o milênio, os doze se assentarão sobre tronos para julgar as doze tribos de Israel (Mt 19.28). Os seus nomes também estarão registrados nos doze fundamentos da cidade santa (Ap 21.12-14). Logo, o colégio apostólico foi formado por um grupo limitado de discípulos, não havendo, portanto, uma sucessão apostólica. 

2. Apóstolos fora dos doze. A carta aos Efésios apresenta a vigência do dom ministerial de apóstolo. O teólogo Stanley Horton informa-nos que “o Novo Testamento indica que havia outros apóstolos que também haviam sido dados como dons à Igreja. Entre estes se acham Paulo e Barnabé (At 14.4,14), bem como os parentes de Paulo, Andrônico e Júnia (Rm 16.7)”. Ao longo do Novo Testamento, e no primeiro século da Igreja, o termo apóstolo recebeu um significado mais amplo, de um dom ministerial distribuído à igreja local (Dicionário Vine).

3. O ministério apostólico atual. Não há sucessão apostólica. Esta é uma doutrina formada pela igreja romana e, infelizmente, copiada por algumas evangélicas para justificar a existência do poder papal. O ministério dos doze não se repete mais. O que há é o ministério de caráter apostólico. Atualmente, missionários enviados para evangelizar povos não alcançados pelo Evangelho são dignos de serem reconhecidos como verdadeiros apóstolos de Cristo. Homens como John Wesley, William Carey (cognominado “pai das missões modernas”), Hudson Taylor, D. L. Moody, Gunnar Vingren, Daniel Berg, “irmão André” e tantos outros, em tempos recentes, foram verdadeiros desbravadores apostólicos. Cidades e até países foram impactados pela instrumentalidade desses servos de Deus.

Ainda há apóstolos? Aplicamos este termo ao que já vimos no item 1.1, ao “Colégio Apostólico”, ou aos Doze discípulos que foram selecionados por JESUS, e enviados como apóstolos para dar início à Grande Comissão (Mc 16.15). Apóstolos como eles, não existem mais. Eles eram apóstolos no sentido estrito da palavra, e nas circunstâncias em que foram chamados e enviados por JESUS. 1) Estiveram com CRISTO, durante todo o seu ministério terreno. Enquanto Paulo aprendeu “aos pés de Gamaliel”, os Doze aprenderam aos pés de JESUS, o Mestre dos mestres, no mais perfeito curso de evangelização e discipulado que alguém poderia realizar. Próximo à sua morte, JESUS lhes disse: “E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações” (Lc 22.28). O fato de ter visto a CRISTO não é condição exclusiva, pois Paulo também o viu (1 Co 9.1,2). Mas o terem aceito seu chamado diretamente de sua parte; de terem caminhado durante cerca de três anos, ao seu lado, ouvindo sua palavra, e vendo seus milagres; de terem comido e dormido ao seu lado, muitas vezes sem ter “onde reclinar a cabeça” (Mt 8.20); só os Doze compartilharam momentos tão expressivos da humanidade, bem como da divindade de CRISTO. 2) Eles estiveram com JESUS, após a sua ressurreição. Outros discípulos também estiveram com JESUS, como os do Caminho de Emaús (Lc 24.13-31). Mas os que compartilharam da companhia do Senhor, de modo privado e especial, foram os 11, visto que Judas traiu o Mestre e foi para o seu destino trágico. “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou JESUS, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco! E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor. Disse-lhes, pois, JESUS outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós” (Jo 20.19-21). 3) Receberam a Grande Comissão. O mandato para evangelizar o mundo é destinado a todos os crentes em JESUS, a toda a Igreja do Senhor. Mas os Doze receberam a ordem missionária, diretamente da boca de JESUS (Mc 16.15). JESUS não disse aos Doze que eles fizessem apóstolos, mas sim, discípulos em todas as nações (Mt 28.18-20). 4) Os Doze terão seus nomes nos fundamentos da Nova Jerusalém. Esse importante detalhe, registrado no Apocalipse, certamente, constitui argumento mais que suficiente para se entender, que o apostolado especial dos Doze, que constituíam o Colégio Apostólico, não é repetido em nenhuma fase da História da Igreja. João viu esse singular privilégio, concedido unicamente aos que seguiram JESUS, durante o seu ministério terreno (Ap 21.12-14). Wayne Grudem afirma que o ofício de apóstolo estava limitado ao tempo quando a igreja primitiva foi fundada. Grudem argumenta que: Embora alguns hoje usem a palavra “apóstolo” para referir-se a fundadores de igrejas e evangelistas, isso não parece apropriado e proveitoso, porque simplesmente confunde quem lê o Novo Testamento e vê a grande autoridade ali atribuída ao ofício de “apóstolo”. É digno de nota que nenhum dos grandes nomes na história da igreja – Atanásio, Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley e Whitefield – assumiu o título de “apóstolo” ou permitiu que o chamassem apóstolo. Se alguns, nos tempos modernos, querem atribuir a si o título de “apóstolo”, logo levantam a suspeita de que são motivados por um orgulho impróprio e por desejos de auto-exaltação, além de excessiva ambição e desejo de ter na igreja mais autoridade do que qualquer outra pessoa deve corretamente ter. 

Além dos Doze, o Novo Testamento também cita outros exemplos de apóstolos, como Paulo, que se considerou a si mesmo “o menor dos apóstolos” por ter perseguido “a igreja de Deus” (1 Co.15.9; Rm 1.1; 2 Co 1.1); ele viu a Jesus Cristo (1 Co 9.1). Barnabé também foi reconhecido como apóstolo (At 14.14). Havia “outros apóstolos”, a que Paulo se referia em sua carta aos romanos (Rm 16.7) e em outras epístolas (G1 1.19; 1 Ts 2.6,7).

Como demonstrado, o ministério dos Doze, ou do colégio apostólico, não se repete. Nenhum dos Setenta, nem qualquer dos apóstolos da Igreja Primitiva; ou dos tempos antigos, modernos, atuais, ou futuros, jamais terá seu nome nos fundamentos da Nova Jerusalém. Aqueles Doze foram únicos. Não há sucessão apostólica, como entende a Igreja Católica. Referindo-se aos apóstolos de Jesus, no sentido especial, a Bíblia de Estudo Pentecostal diz: “O ministério de apóstolo nesse sentido restrito é exclusivo, e dele não há repetição. Os apóstolos originais do Novo Testamento não têm sucessores”. Atualmente, o que podemos ver como ministério de caráter apostólico, é o trabalho dos missionários, quando são enviados para desbravar campos, em países de povos não alcançados pelo evangelho de Cristo. Se um missionário vai assumir um trabalho que já está estabelecido, cujas bases e desenvolvimento deveram-se ao esforço de outros companheiros, não pode dizer que faz um trabalho de apóstolo, e sim, de pastor ou evangelista. Paulo ensina que Jesus, depois de subir ao alto e levar “cativo o cativeiro”, “deu dons aos homens”. Observando o texto bíblico, de Efésios 4.11, lemos: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.11,12). Esses “homens-dons”, concedidos por Deus e seus ofícios ou ministérios, têm por finalidade alcançar a “unidade do Espírito” (Ef 4.3), visando “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério” e a “edificação do corpo de Cristo”. Dessa forma, se existe atualidade para os ofícios de “profetas”, “evangelistas” e “doutores” ou “mestres”, por que não deveria haver atualidade do ofício do apóstolo? Sem dúvida alguma, o ministério de caráter apostólico deve ser desenvolvido, na atualidade, ao lado dos demais ministérios, indispensáveis à unidade e à edificação do corpo de Cristo. Homens como John Wesley, William Carey, cognominado “pai das missões modernas”; Adoniran Judson, Hudson Taylor, D. L. Moody, Jorge Müller, Smith Wigglesworth, Gunnar Vingren, Daniel Berg, Richard Wurmbrand, e tantos outros, em tempos mais recentes, podem ser considerados verdadeiros apóstolos de Jesus. São homens que expuseram suas vidas para levar a mensagem do evangelho aos mais longínquos lugares do mundo. Patzia afirma: “Visto que a Igreja de hoje não tem lugar para o cargo de apóstolo, por exemplo, a tentação é encontrar-se uma contrapartida contemporânea nos líderes eclesiásticos, como superintendentes ou supervisores”. Há realmente, essa “tentação”, de se buscar aplicação para o termo “apóstolo”, a funções que pouco ou nada têm de apostólicas. 

SUBSÍDIO TEOLÓGICO 

APÓSTOLO Os apóstolos foram testemunhas oculares das atividades de Jesus na terra e consequentemente testificaram que Jesus era o Senhor ressurreto (Lc 24.45-48; 1 Jo 1.1-3). Os pré-requisitos para a substituição apostólica nesta função única são dados em At 1.21,22. A lista de apóstolos de Lucas (Lc 6.14- 16; At 1.13) corresponde à lista dos doze dadas em Mateus 10.2-4 e Marcos 3.16-19. Mateus lista os discípulos aos pares, supostamente como enviados por Jesus. Tadeu (em Mateus e Marcos) era idêntico a Judas o filho de Tiago (em Lucas). Pedro, Tiago e João formavam um círculo íntimo dentre os doze, e estavam presentes no episódio da transfiguração (Mt 17.1-9; Mc 9.2-10; Lc 9.28-36) e no Getsêmani (Mt 26.36- 46; Mc 14.32-42; Lc 22.39-46). Os doze foram selecionados para ser os companheiros de Jesus e proclamar o Evangelho (Mc 3.14). Durante o ministério de Jesus, os doze serviram como seus representantes, uma função compartilhada por outros (Lc 10.1)" (PFEIFFER, Charles F.; REA, John; VOS, Howard F. (Eds.). Dicionário Bíblico Wycliffe. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p. 162).

CONCLUSÃO 

Nos moldes do colégio dos doze, o ministério apostólico não existe atualmente. Entretanto, o dom ministerial de apóstolo citado por Paulo em Efésios 4.11 está em plena vigência. Pastores experimentados, evangelistas e missionários que desbravaram os rincões do nosso país ou em países inimigos do Evangelho, são pessoas portadoras desse dom ministerial. São os verdadeiros apóstolos da Igreja de Cristo hoje. – Pode-se afirmar com bastante fundamento escriturístico, que o ministério apostólico, nos moldes do Colégio Apostólico não existe mais, porém, o ministério de caráter apostólico, desenvolvido por missionários e evangelizadores, com finalidade de estabelecer igrejas, em diversos lugares, é perfeitamente atual. Pois existem homens e mulheres de Deus, arriscando suas vidas, em países inimigos do evangelho, esses são verdadeiros apóstolos de Igreja de Jesus Cristo.

REFERÊNCIAS

DICIONÁRIO VINE - W. E. Vine, Merril F. Unger & William White Jr. CPAD, Rio de Janeiro, 2002, p. 648. 

LIÇÕES BÍBLICAS. 2º Trimestre 2021 - Lição 6. Rio de Janeiro: CPAD, 09, abr. 2021. 

LIMA, Elinaldo Renovado de. Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD, 2021. 

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997. 

 


sábado, 1 de maio de 2021

LIÇÃO 5: DONS DE ELOCUÇÃO

 


COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

 INTRODUÇÃO

O estudo da lição desta semana concentrar-se-á nos três dons classificados como os de elocução: profecia, variedade de línguas e interpretação das línguas. Os propósitos destes dons especiais são os de edificar, exortar e consolar a Igreja de Cristo (1Co 14.3). Isso porque os dons de elocução são manifestações sobrenaturais vindas de Deus, e não podem ser utilizadas na igreja de forma incorreta. Assim, devemos estudar estes dons com diligência, reverência e temor de Deus, para não sermos enganados pelas falsas manifestações. – O relato bíblico sobre a criação do ser humano demonstra, de modo bem evidente, que Deus comunicava-se diretamente com o ser criado. Sem dúvida, ao por o homem no jardim, para deste ser o responsável e guardador, Deus lhe deu as instruções necessárias, fazendo-lhe ouvir sua voz. E o fez, falando diretamente com o ser criado. Com a Queda, rompeu-se a comunhão com Deus. Antes, sentiam satisfação em ouvir a voz de Deus, que lhes parecia música suave, pois foram os primeiros sons que penetraram em seus ouvidos, naquele momento inicial da criação. A história se repete. Se o homem, e, muito mais, o crente, não zelar pela comunhão com Deus, o pecado destrói a comunicação com o Senhor. Mas, no seio da igreja cristã, Deus comunica-se com seus servos, através da leitura da Bíblia; através de seus mensageiros, pregadores, ensinadores e líderes, visando sua edificação. De modo sobrenatural, o Senhor usa pessoas, com os dons especiais de expressão verbal, ou de elocução, para transmitir sua vontade, orientações, exortações e direção divina. Pelo dom de profecia, Deus supre aquilo que a mensagem costumeira não consegue alcançar. Quantas vezes, no meio da congregação, um servo ou uma serva de Deus, que tem esse dom, levanta-se e entrega uma mensagem de exortação, de alerta, ou de edificação para toda a comunidade presente. Via de regra, a profecia autêntica provoca alegria e glorificação a Deus. Em outras ocasiões, o dom de variedade de línguas é usado por Deus, com interpretação, para confortar a igreja ou, equivalendo a uma profecia (com interpretação), consolar ou edificar o seu povo.

 I. O DOM DE PROFECIA (1 Co 12.10)

1. O que é o dom de profecia? De acordo com Stanley Horton, o dom de profecia relatado por Paulo em1. O que é o dom de profecia? De acordo com Stanley Horton, o dom de profecia relatado por Paulo em 1 Coríntios 14 refere-se a mensagens espontâneas, inspiradas pelo Espírito, em uma língua conhecida para quem fala e também para quem ouve, objetivando edificar, exortar ou consolar a pessoa destinatária da mensagem. Profetizar não é desejar uma bênção a uma pessoa, pois essa não é a finalidade da profecia. Infelizmente, por falta de ensino da Palavra de Deus nas igrejas, aparecem várias aberrações concernentes ao uso incorreto deste dom. Não poucos crentes e igrejas locais sofrem com as consequências das falsas profecias. Apesar de exortar-nos a não desprezar ou sufocar as profecias na igreja local (1Ts 5.20), as Escrituras orientam-nos a que examinemos “tudo”, julgando e discernindo, pelo Espírito, o que está por trás das mensagens. Toda profecia espontânea deve ser julgada (1Co 14.29-33). 

2. A relevância do dom de profecia. O dom de profecia é tão importante para a Igreja de Cristo que o apóstolo Paulo exortou a sua busca (1Co 14.1). Não obstante, ele igualmente recomendou que o exercício desse dom fosse observado pela ordem e cuidado nos cultos (1Co 14.40). Os crentes de Corinto deveriam julgar as profecias quanto ao seu conteúdo e a origem de onde elas procedem (1Co 14.29), pois elas possuem três fontes distintas: Deus, o homem ou o Diabo. Devemos nos cuidar, pois a Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, mostra ações dos falsos profetas. O Senhor Jesus nos alertou: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores” (Mt 7.15). Vigiemos! 

3. Propósitos da profecia. A profecia contribui para a edificação do crente. Porém, ainda existe muita confusão a respeito do uso dos dons de elocução, e em especial ao de profecia e sua função. Há líderes permitindo que as igrejas que lideram sejam guiadas por supostos profetas. A Igreja de Jesus Cristo deve ser conduzida segundo as Escrituras, pois esta é a inerrante Palavra de Deus. A Bíblia Sagrada, a Profecia por excelência, deve ser o manual do líder cristão. Outros líderes, também erroneamente, não tomam decisão alguma sem antes consultar um “profeta” ou uma “profetisa”. Estes profetizam aquilo que as pessoas querem ouvir e não o que o Senhor realmente quer falar. Todavia, a Palavra de Deus alerta-nos a que não ouçamos a tais falsários (Jr 23.9-22). 

O dom de profecia é um dom especial, em que seu portador transmite uma mensagem para a igreja ou para alguém, na inspiração do Espírito Santo. Não pode ser uma mensagem humana, pessoal da parte do que a transmite, mas é falada numa linguagem humana. É necessário ter cuidado com as distorções que podem ocorrer na transmissão da mensagem profética, na igreja de hoje. – Diz a Bíblia: “O profeta que teve um sonho, que conte o sonho; e aquele em quem está a minha palavra, que fale a minha palavra, com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor” (Jr 23.28 – grifo nosso). Não deve haver mistura da “palha” das “profetadas”, que ocorrem aqui e ali, em certas igrejas, com o genuíno “trigo” da verdadeira profecia, transmitida por um servo ou serva de Deus, pela inspiração do Espírito Santo. – Segundo Raymond Carlson, “A profecia, no Novo Testamento, que difere de uma pregação comum, é uma manifestação sobrenatural, dada para edificação, exortação e consolação. Através de 1 Coríntios 14.30, entendemos que o dom nos é dado por revelação através do Espírito”. Uma pregação pode ter caráter profético, mas nem toda pregação é profecia. Raymond Carlson diz que a profecia, “como seu homônimo dom de línguas, tem de conter elementos de revelação, conhecimento e doutrina”. Aqui, cabe um esclarecimento. Sem dúvida, a profecia resulta de revelação espiritual e de conhecimento, concedido por Deus. Mas não pode trazer nova doutrina, pois tudo o que consta na Bíblia é a Palavra de Deus, suficiente e necessária para nossa edificação. Quando o autor citado diz que a profecia deve conter doutrina, certamente quer dizer que ela tem que ter fundamento doutrinário ou bíblico. A profecia não pode acrescentar nada à Bíblia.

Todas as profecias devem ser devidamente julgadas à luz da Bíblia, a fim de que não venham causar confusão à igreja nem abalar a fé dos mais fracos. Este tema deve ser visto com muito cuidado por alguns motivos: primeiro, a unção profética segundo a ordem do AT, onde pessoas eram separadas por Deus com o ministério profético para aplicar a revelação da Palavra de Deus e da Lei no meio do povo, foi encerrada com João (Mt 11.13). Também o que lemos em Efésios 4, é diferente do dom de profecia listada em 1 Co 12, pois enquanto pelo uso do Espírito no dom todos podem profetizar, o ofício ministerial de profeta concedido por Cristo é dado somente para alguns do corpo, como ofício permanente. Porém, este ofício em muito difere do profeta AT: as palavras do ministério profético não têm autoridade comparável a das Escrituras, até pelo fato de sua mensagem não vir por transe ou coisa parecida, mas sim, pelo próprio uso das Escrituras já reveladas, e por isso, sua mensagem deve ser analisada, e, de uma forma geral, tais pessoas são constrangidas pelo Espírito a zelar pela santidade no meio do povo de Deus. A afirmativa de que este ministério se restringe aos primeiros tempos da era da Igreja é uma afirmação que carece de embasamento bíblico. Se Cristo asseverou contra os falsos profetas é porque na história haveriam ‘verdadeiros profetas’. Mesmo escritos que eram observados nos primeiros séculos da Igreja, porém não canônicos, como o Didaqué, traziam instruções acerca do ministério dos profetas. A perícope de Ef 4.11 refere-se a pregadores irresistivelmente cheios do Espírito Santo, que cooperavam na edificação da Igreja (At 13.1). O apostolado original encerrou-se com o fim da era apostólica. O apostolado enquanto dom de Cristo continua ativo no seio da igreja do Senhor, e disto vemos o testemunho e amparo bíblico na própria igreja primitiva no Livro de Atos (Gl 1.9; 1 Ts 2.7; Rm 16.7). Hoje, o apostolado pode ser melhor visto no trabalho de missionários, embora haja denominações que unjam pessoas como apóstolos (especialmente no movimento neopentecostal), mas sem critérios específicos para o mesmo, e isso é muito preocupante. Os profetas eram homens que falavam sob o impulso direto do Espírito Santo, e cuja motivação e interesse principais eram a vida espiritual e pureza da igreja. Sob o novo concerto, foram levantados pelo Espírito Santo e revestidos pelo seu poder para trazerem uma mensagem da parte de Deus ao seu povo (At 2.17; 4.8; 21.4).]

FINALIDADE DA PROFECIA – Como todos os demais dons espirituais, o de profecia tem propósitos especiais da parte de Deus para a Igreja de Jesus Cristo. Só deve ser usado de forma correta, com base na Palavra de Deus. “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil” (1 Co 12.7) ou proveitoso para a igreja. De maneira bem clara e até didática, o dom de profecia tem três finalidades básicas, em proveito da igreja: “Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação” (1 Co 14.3).

1) Edificação – Assim como um edifício de pedras é edificado pouco a pouco, com a união dos elementos materiais, com a argamassa própria, da mesma forma, os crentes em Jesus são “edifício de Deus” (1 Co 3.9). A formação espiritual de um discípulo de Jesus começa com a conversão, mas não para no discipulado inicial. Deve continuar por toda a vida. Pouco a pouco, o ensino da Palavra e da doutrina do Senhor vai construindo o caráter cristão no crente. Mas, às vezes, é necessária uma mensagem especial ou específica para alguém ou para toda a congregação. É aí que Deus usa um profeta para transmitir uma mensagem da parte de Deus, visando corrigir ou colocar “no prumo”, ou “no nível”, alguma área da edificação espiritual. Pastores são “serventes” ou “servidores” do supremo Arquiteto ou Construtor, que é Cristo. Não são perfeitos na edificação. Sua mensagem, mesmo com base na Bíblia, carece de reparos, aqui e ali. Em grande parte das igrejas, pelo país afora, há grande falta de preparo para o ensino da Palavra de Deus. Há obreiros despreparados até para os mais elementares ensinos bíblicos. Por misericórdia, o Senhor dá sabedoria até mesmo a pessoas sem cultura para transmitir sua mensagem, mas, há ocasiões em que só uma mensagem específica, para determinadas ocasiões, pode suprir o que é indispensável para a edificação do Corpo de Cristo, no que respeita à igreja local.

2) Exortação – Exortar tem o sentido de “chamar para fora”, para orientar, ajudar e ensinar. Deriva da palavra grega parakalao, que tem o sentido de confortar, inspirar, defender e guiar. Exortar não tem o sentido distorcido, entendido por alguns, de que significa ameaçar, intimidar, ou causar pavor, na igreja. O verbo grego parakalao tem origem em outra palavra de muito significado, Paracleto, que significa Consolador, o título que é dado ao Espírito Santo (cf. Jo 14.16; 15.26). Por isso, Paulo ensina que quem exorta deve fazê-lo “com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.2). Uma mensagem profética ajuda a entender como aplicar a Profecia Maior, que é a Bíblia Sagrada, para os dias presentes, quando surgem problemas, situações e circunstâncias, que não existiam, quando a mensagem bíblica foi escrita. Sem o ensino da Palavra de Deus e da mensagem profética, há uma tendência para a ocorrência de desvios de conduta e distorções perigosas no meio das igrejas locais. Diz Provérbios: “Não havendo profecia, o povo se corrompe...” (Pv 29.18a). As inovações e modismos têm tomado conta de muitos redutos pentecostais. A chamada “teologia da prosperidade” tem causado grandes estragos, com sua filosofia utilitarista dos dons e da Palavra de Deus. O evangelho antropocêntrico tem dado ao homem a primazia nas decisões e ensinamentos de muitos líderes. Aberrações teológicas ou práticas estranhas têm ocorrido, em certas igrejas. A “unção do riso’, “a unção do leão”, “a urina ungida”, inventada por determinada igreja (os crentes saíram urinando, nas esquinas e ruas de uma cidade, para “marcar território”), para o pecado diminuir. Em lugar disso, a pecaminosidade tem aumentado; certo pregador, “celebridade” pregou que seu suor era ungido, pois seu DNA era ungido. Com isso, levou muito dinheiro dos irmãos, além do “cachê polpudo”. Nada disso tem fundamento bíblico. São ensinos heréticos, que têm grande aceitação no meio de igrejas e atraem muitos crentes que não conhecem a Palavra de Deus. – Deus disse, no Antigo Testamento: “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento...” (Os 4.6). Essa palavra aplica-se de modo bem atual, ao que está ocorrendo no meio dos evangélicos.

3) Consolação – O Espírito Santo é chamado de “O outro Consolador” (cf. Jo 14.16). Ele é o parakleto prometido por Cristo. Por isso, também usa o dom de profecia, para transmitir mensagem de consolação aos servos de Deus. Já vimos que o verbo parakaleo (gr.) significa consolar, confortar. É o que podemos ver em Barnabé, amigo de Paulo (At 4.36; ver Rm 15.4,5; 1 Co 14.3; 2 Co 1.3,4-7)). Consolação vem de paraklesis (gr.) e tem o sentido de “consolar”, “dar alegria”, dar “paz”. Paulo diz que todos os crentes podem profetizar (se Deus conceder tal dom), visando a consolação da igreja: “Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros, para que todos aprendam e todos sejam consolados'’ (1 Co 14.31 – grifo nosso). Muitas vezes, infelizmente, o zelo exagerado de alguns ministros, com a palavra e as normas da igreja local faz com ele se torne agressivo, intolerante e radical. E esquecem que, no meio da congregação, há dezenas de pessoas que estão experimentando momentos difíceis e dolorosos em suas vidas. E estão precisando mais do que nunca de ouvir uma palavra de consolação. A exortação pesada, às vezes, é necessária. Mas fazer uso do púlpito para chicotear as ovelhas, indiscriminadamente, é falta do espírito de consolação. – O Espírito Santo é o mesmo. Ele consolava no Antigo Testamento (SI 23.4; Is 31.12) e continua consolando na Dispensação da Graça (2 Co 1.4; 7.6). Faltaria espaço literário, sem dúvida, se pudessem ser registradas todas as mensagens de consolação que Deus tem dado à sua Igreja, no Brasil e em todos os lugares do mundo. Em cultos de oração, nos círculos de oração, em tantos lugares; em reuniões informais de oração, Jesus tem confortado seus servos, principalmente os que sofrem por causa do seu Nome e do evangelho. “O Dom de Profecia, portanto, serve para falarmos sobrenaturalmente aos homens, assim como o Dom de Línguas serve para falarmos sobrenaturalmente a Deus”. 

Devemos ter cuidado para evitarmos erros no uso do dom de profecia tais como: 1) Usar a profecia para guiar a igreja; 2) Usar o dom de profecia como um “oráculo”; Usar o dom de profecia como fonte de doutrina; 4) Usar o dom de profecia de forma desconhecida.

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Professor, para introduzir o primeiro tópico da lição, faça as seguintes indagações: "O que é ser profeta?" "Qual é a função do profeta?" Depois de ouvir os alunos, explique que o profeta é aquele que fala em lugar de outrem. Sua função é proclamar os oráculos de Deus a fim de que a Igreja seja edificada, exortada e consolada. A Palavra de Deus nos exorta a não desprezarmos as profecias, todavia precisamos examiná-las com sabedoria, de acordo com a Palavra de Deus, pois muitos falsos profetas têm se levantado atualmente. Leia, juntamente com os alunos 1 Tessalonicenses 5.20,21. Ressalte que a Igreja não pode deixar de julgar as profecias e discernir os espíritos.

II. VARIEDADE DE LÍNGUAS (1 Co 12.10)  

1. O que é o dom de variedades de línguas? De acordo com o teólogo pentecostal Thomas Hoover, o dom de línguas é “a habilidade de falar uma língua que o próprio falante não entende, para fins de louvor, oração ou transmissão de uma mensagem divina”. Segundo Stanley Horton, “alguns ensinam que, por estarem alistados em último lugar, estes dons são os de menor importância”. Ele acrescenta que tal “conclusão é insustentável”, pois as “cinco listas de dons encontradas no Novo Testamento colocam os dons em ordens diferentes”. O dom de variedades de línguas é tão importante para a igreja quanto os demais apresentados em 1 Coríntios 12. 

2. Qual é a finalidade do dom de variedade de línguas? O primeiro propósito é a edificação da vida espiritual do crente (1Co 14.4). As línguas, ao contrário da profecia, não edificam ou exortam a igreja. Elas são para a devoção espiritual do crente que recebe este dom. À medida que o servo de Deus fala em línguas estranhas vai sendo também edificado, pois o Espírito Santo o toca e renova diretamente (1Co 14.2). 

3. Atualidade do dom. É preciso deixar claro que a variedade de línguas não é um fenômeno exclusivo do período apostólico. O Senhor continua abençoando os crentes com este dom e cremos que assim o fará até a sua vinda. No Dia de Pentecostes, todos os crentes reunidos no cenáculo foram batizados com o Espírito Santo e falaram noutras línguas pelo Espírito (At 1.4,5; 2.1-4). É um dom tão útil à vida pessoal do crente em nossos dias quanto o foi nos dias da igreja primitiva. 

O dom de variedade de Línguas tornou-se um dos mais controversos, discutidos e debatidos na história da Igreja. Este dom difere das línguas como evidência do batismo com o Espírito Santo. Não é um dom dado a todos os que quiserem. Assim como os outros dons, é dado “a cada um” como o Espírito quer (cf. 1 Co 12.11,30). Também não é uma capacidade aprendida humanamente. Diz Carlson: “Falar em línguas é expressar-se com palavras que nunca aprendemos, mas que nos são comunicadas diretamente pelo Espírito Santo. Não se manifesta através de palavras pensadas de antemão ou vocalizadas pela pessoa que fala” [...] “As línguas constituem um milagre vocal e não um milagre mental. A mente se faz espectadora, e os ouvidos a atendem [...]”.

A finalidade do dom de variedade de línguas, com base na Palavra de Deus, podemos dizer que o dom de variedade de línguas tem finalidades múltiplas: 1) Edificação da igreja: Como vimos, os dons não são dados para promoção pessoal de quem os possui. Todas as manifestações espirituais, concedidas pelo Espírito Santo, são para a edificação no seio da igreja cristã. Paulo diz que todos os dons devem contribuir para a edificação da igreja: “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1 Co 14.26). Essa exortação tem caráter atualizadíssimo para os dias presentes. Desse modo, uma finalidade fundamental do dom de variedade de línguas é “transmitir à Igreja uma mensagem em línguas, e, por isso, precisa de interpretação para que aquela seja edificada. Essa interpretação é feita pelo dom de interpretação de línguas”.8 Trata-se de um milagre, pois quem fala as línguas bem como quem as interpreta não as conhece. “Trata-se de uma língua verdadeira, seja de homens ou de anjos (cf. 1 Co 13.1), conforme o Espírito Santo concede que se fale (cf. At 2.4)”. 2) Edificação pessoal: A variedade de línguas pode ser útil para a edificação pessoal. Paulo ensina sobre isso de maneira bem clara: “O que fala língua estranha edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja” (1 Co 14.4). No caso de o crente falar línguas, para sua edificação pessoal, não há necessidade de interpretação. “Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja e fale consigo mesmo e com Deus” (1 Co 14.28). É um dom valioso para a edificação pessoal. O crente, cheio do Espírito Santo e edificado por Deus, pode ser usado nas reuniões para a edificação da igreja, através do dom de interpretação de línguas. 3) Glorificação a Deus: O livro de Atos dos Apóstolos registra o episódio da ida de Paulo à casa do centurião Cornélio, por revelação do Espírito Santo (cf. At 10.3-8; 18-20). Os judeus tradicionais que se encontravam ali ficaram maravilhados, pois ouviam as pessoas falando línguas estranhas em adoração a Deus. Na descida do Espírito Santo, no Dia de Pentecostes, as pessoas de diversas nações, ali presentes, ouviam os apóstolos, após o batismo com o Espírito Santo, “falar das grandezas de Deus” (At 2.11). Nada mais natural, essa finalidade, pois Jesus disse que enviaria o Espírito Santo com a missão de anunciar a Cristo, e glorificar ao Senhor: “Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.14). Se um dom não glorifica a Cristo, em sua manifestação, não deve ser considerado proveniente do Espírito Santo. 4) Comunicação sobrenatural da parte de Deus: Gordon Chown relata o caso, ocorrido em 1906, de uma jovem suíça, da área de fala alemã, chamada Maria Gerber, que foi para os Estados Unidos, para estudar num Instituto Bíblico. Seu irmão foi esperá-la, no porto, e, de imediato convidou-a para ir orar por um amigo doente. Ela se recusou de pronto, dizendo que não faria nada no país, antes de aprender a falar inglês. O irmão deixou-a em casa, e foi fazer a visita sozinho. Mas o Espírito de Deus inquietou a jovem Maria, fazendo-a sentir que não consultara a vontade de Deus. Ela de imediato, saiu pelas ruas, com o endereço que fora dado pelo irmão, e, sem saber uma palavra em inglês, perguntava aos guardas como chegar lá. Foi muito difícil, mas conseguiu chegar à casa do doente, onde seu irmão já estava. E começou a orar em alemão pelo enfermo para que Jesus o curasse. Porém, o sobrenatural aconteceu. Ela foi tomada pelo Espírito Santo, e começou a orar em inglês perfeito, e o doente foi curado de imediato. Não só isso, mas Maria recebeu o dom de variedade de línguas, e passou a falar inglês fluentemente, realizando seus estudos sem dificuldades, e orando pelos que precisavam de sua ajuda. Dizer que esse dom foi apenas para a época dos apóstolos é sem dúvida um preconceito contra o próprio poder ilimitado do Espírito Santo. 5) Sinal para os descrentes: Praticamente, todo o capítulo 14 da primeira carta de Paulo aos coríntios se refere ao uso dos dons, nas reuniões da igreja local. Ali, ele orienta quanto à ordem e aos cuidados no uso dos dons. Com relação ao dom de línguas, ou variedade de línguas, ele diz que o falar línguas, na congregação, deve ser acompanhado da interpretação de línguas para que a igreja possa ser edificada (1 Co 14.13-17). As línguas servem para edificação da igreja, desde que sejam interpretadas para toda a congregação. E também servem de “sinal” para os não crentes, da mesma forma, se houver interpretação profética.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

"Natureza Encarnacional dos Dons. Os crentes desempenham um papel vital no ministério dos dons. Romanos 12.1- 3 nos diz para apresentarmos nosso corpo e mente como adoração espiritual e que testemos e aprovemos o que for a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

Semelhantemente, 1 Coríntios 12.1- 3 nos adverte a não perdermos o controle do corpo e a não sermos enganados pela falsa doutrina, mas deixar Jesus ser Senhor. E Efésios 4.1- 3 nos recomenda um viver digno da vocação divina, tomar a atitude correta e manter a unidade do Espírito.

Nosso corpo é o templo do Espírito Santo e, portanto, deve estar envolvido na adoração. Muitas religiões pagãs ensinam um dualismo entre o corpo e o espírito. Para elas, o corpo é mau, uma prisão, ao passo que o espírito é bom e precisa ser liberto. Essa opinião era como no pensamento grego.

Paulo conclama os coríntios a não se deixarem influenciar pelo passado pagão. Antes, perdiam o controle; como consequência, podiam dizer qualquer coisa e alegar que provinha do Espírito de Deus. O contexto bíblico dos dons não indica nenhuma perda de controle. Pelo contrário, à medida que o Espírito opera através de nós, temos mais controle do que nunca. Entregamos nosso corpo e mente a Deus como instrumentos a seu serviço" (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 10.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p.469).

III. INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS (1 Co 12.10)

1. Definição do dom. Thomas Hoover ensina que a interpretação das línguas é “a habilidade de interpretar, no próprio vernáculo, aquilo que foi pronunciado em línguas”. Na igreja de Corinto havia certa desordem no culto com relação aos dons espirituais, por isso, Paulo os advertiu dizendo: “E, se alguém falar língua estranha, faça-se isso por dois ou, quando muito, três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja e fale consigo mesmo e com Deus” (1Co 14.27,28). 

2. Há diferença entre dom de interpretação e o de profecia? Embora haja semelhança são dons distintos. O dom de interpretação de línguas necessita de outra pessoa, também capacitada pelo Espírito Santo, para que interprete a mensagem e a igreja seja edificada. Do contrário, os crentes ficarão sem entender nada. Já no caso da profecia não existe a necessidade de um intérprete. Estêvam Ângelo de Souza definiu bem essa questão quando disse que “não haverá interpretação se não houver quem fale em línguas estranhas, ao passo que a profecia não depende de outro dom”. 

O dom de línguas propicia mensagens de edificação para quem o possui e que, para a edificação da igreja, necessita de interpretação. E isso é possível, através do dom de interpretação de línguas. Essa concomitância, entre os dois dons não havia no Antigo Testamento.

O pastor Antônio Gilberto ensina que o Dom de Intepretação de Línguas “É um dom de manifestação de mensagem verbal, sobrenatural, pelo Espírito Santo. Não se trata de “tradução de línguas”, mas de “interpretação de línguas”. O dom de línguas prescinde do dom de interpretação de línguas, para que seja útil para a edificação da igreja. Paulo deu precioso ensino à igreja de Corinto sobre o uso dos dons. Ao que parece, o dom de línguas era muito usado, mas sem o necessário equilíbrio espiritual e emocional.

Esse dom deve andar lado a lado com o dom de línguas, no seio da igreja cristã. São “dons geminados”. Gordon Chown diz que “A interpretação é tão milagrosa quanto a própria Língua – e isto quer dizer que quem possui o Dom de Línguas não vai procurar decifrá-la com a mente, mas sim, pede e recebe a Interpretação da mesma fonte divina de onde surgiu a Língua”. Isso não quer dizer que o dom de interpretação de línguas é outro tipo de dom de profecia. A profecia é autossuficiente em sua ação para quem a ouve. O dom de interpretação de línguas depende da mensagem em línguas, para que tenha eficácia.

A finalidade do dom de interpretação de línguas, como é óbvio o que o nome diz, a finalidade principal é a interpretação da mensagem, transmitida à igreja, através do dom de línguas. No culto pentecostal, deve haver sabedoria e humildade no uso dos dons. Não é comum haver quem tenha os nove tipos de dons. Normalmente, o Espírito distribui “a cada um como quer”. Quanto mais dons houver numa igreja local, maior será sua edificação espiritual. A Palavra de Deus é a fonte primária e mais importante para a edificação do crente. Mas, como vimos, os demais dons também contribuem para a edificação da igreja.

A interpretação é, portanto, inspirada, extática e espontânea. Assim como o falar em línguas não é concebido na mente, da mesma maneira, a interpretação emana do espírito antes que do intelecto do homem. Nota-se que as línguas em conjunto com a interpretação tomam o mesmo valor de profecia (1Co 14.5). Por que, então, não nos contentarmos com a profecia? Porque as línguas são um “sinal” para os incrédulos (1 Co 14.22). Pelo fato de haver interpretação das línguas é que declaramos anteriormente que tais se referem a “línguas públicas”, uma vez que são reveladas através de um dom específico de interpretação.

  SUBSÍDIO TEOLÓGICO

"Paulo era grato a Deus por falar em línguas, e mais do que todos os coríntios. Na igreja, porém, diz que preferiria falar cinco palavras com seu entendimento, a fim de que pudesse, pela sua voz ensinar aos outros, do que dez mil palavras em línguas (1 Co 14.18,19). Mas não deseja com isso excluir as línguas. É parte legítima de sua adoração (1 Co 14.26).

Paulo lhes adverte para que cessem de proibir o falar em línguas. Segundo parece, alguns não gostavam da confusão causada pelo uso exagerado das línguas. Procuravam solucionar o problema por meio da proibição total do falar em línguas. Mas a experiência era preciosa, e a bênção excelente, para a maioria dos coríntios aceitar essa proibição. Alguns dizem hoje: 'Há problemas envolvidos no falar em línguas; vamos evitá-las, portanto'. Mas não foi essa a solução de Paulo para si, nem para a Igreja. Até mesmo os limites que Paulo impõe não tinham a intenção de impedir as línguas. Tratava-se, apenas, de dar mais oportunidade, para maior edificação a outros dons" (HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 242).

CONCLUSÃO

Ainda que haja muitas pessoas em diversas igrejas que não aceitem a atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais – os chamados “cessacionistas” – Deus continua abençoando os crentes com suas dádivas. Portanto, não podemos desprezar o dom de profecia, o de falar em línguas estranhas e o de interpretá-las. Porém, façamos tudo conforme a Bíblia: com sabedoria, decência e ordem (1Co 14.39,40). Agindo dessa forma, Deus usará os seus filhos para que sejam portadores das manifestações gloriosas dos céus. – Os dons de elocução têm grande efeito na transmissão da mensagem da parte de Deus para os crentes nas igrejas locais. Paulo diz que os dons devem ser procurados, pois ele sabia o valor das manifestações espirituais para a vida dos crentes de sua época. Ainda que haja pessoas, em diversas igrejas, que não aceitam a atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais, graças a Deus, a realidade dos dons, nas igrejas cristãs que aceitam o Pentecostes hoje, têm sido beneficiadas pela presença do poder do Espírito Santo em seu meio. Historicamente, são as que mais crescem, numericamente, em graça e unção de Deus. Oremos para que o avivamento não se apague, no meio das igrejas cristãs, até a Volta de Jesus.

REFERÊNCIAS

DICIONÁRIO VINE - W. E. Vine, Merril F. Unger & William White Jr. CPAD, Rio de Janeiro, 2002, p. 648.

GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal: Pneumatologia – a doutrina do Espírito Santo, p. 198,199.

LIÇÕES BÍBLICAS. 2º Trimestre 2021 - Lição 5. Rio de Janeiro: CPAD, 02, mai. 2021.

LIMA, Elinaldo Renovado de. Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.