sábado, 9 de maio de 2020

LIÇÃO 6: A CONDIÇÃO DOS GENTIOS SEM DEUS



COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
A CONDIÇÃO DOS GENTIOS SEM DEUS

Até a graça de Deus se manifestar aos gentios, eles estavam completamente alienados dos grandes pactos divinos: O “pacto abraâmico” (Gn 12.1-3); o “pacto mosaico” (Dt 28.1-14); o “pacto davídico” (2 Sm 7.13-16). Esses pactos traziam a promessa messiânica e os gentios encontravam-se completamente alheios às promessas e separados da comunidade de Israel. Nesse sentido, a presente lição busca esclarecer de que modo os gentios estiveram privados dessa promessa. Em primeiro lugar, para explicar essa condição, explique o conceito espiritual de circuncisão e incircuncisão. Esses dois conceitos são importantíssimos, pois espiritualmente, eles constituem a separação entre judeus e gentios. Em segundo lugar, explicite a antiga condição dos gentios sem Deus e sem Cristo. E, finalmente, no terceiro tópico, afirme que desprovidos de Deus os gentios marchavam para a perdição eterna.
Resumo da lição
O que desfez a situação caótica dos gentios é que em Cristo, pela graça de Deus mediante a fé, eles tornaram-se descendência de Abraão e herdeiros das promessas. Mas até chegar a esse estágio, as Escrituras mostram a condição em que os gentios se encontravam.
Assim, o primeiro tópico da lição conceitua “circuncisão” e “incircuncisão”, mostrando que espiritualmente os gentios eram incircuncisos e, por isso, eles não faziam parte do pacto da circuncisão e, consequentemente, estavam excluídos da aliança com Deus.
O segundo tópico mostra o quanto os gentios estavam estranhos ao Concerto da Promessa. A antiga condição dos gentios era desoladora: viviam sem Cristo e estavam separados de Israel. O que significava que os gentios estavam sem Cristo e não possuíam esperança alguma. Era uma tragédia existencial.
O terceiro tópico aprofunda a desesperança gentílica e sua alienação de Deus. Viver sem esperança revela uma destruição moral e espiritual. Os gentios eram “engolidos” por uma perspectiva sombria, preocupante e incerta do mundo antigo; diferentemente da esperança de um triunfo de justiça e de amor revelada no Evangelho.  
Aplicação
Para concluir a lição, você pode refletir com a classe acerca do que significa viver uma vida sem esperança e sem Deus. Que sentido ela teria sem esses sustentáculos existenciais? Faça essa reflexão a partir do texto bíblico de 1 Coríntios 15.12-19.

Subsídio extraído da Revista Ensinador Cristão - Ano 21 nº 82 (abr/mai/jun)

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Em continuidade ao estudo da carta de Paulo aos efésios, analisaremos o trecho de Ef 2:11-13.
Os gentios são um povo sem esperança e sem Deus no mundo.
  I – QUEM SÃO OS GENTIOS
O apóstolo acabou de nos mostrar que Deus nos vivificou, por Sua riquíssima misericórdia, salvando-nos pela graça, para que para sempre O glorifiquemos, a partir desta dimensão terrena, fazendo boas obras aqui.
Esta glorificação a Deus não deve apenas se dar pela prática de boas obras nesta dimensão terrena, mas Paulo nos mostra que devemos nos lembrar da nossa condição pecaminosa, pois advirá daí uma imensa gratidão, que nos fará glorificar cada vez mais ao Senhor. É preciso que tenhamos uma “grata memória”.
Como afirma João Crisóstomo (347-407): “…É costume de todos nós, quando fomos levantados de uma profunda humilhação, ou promovidos ainda mais alto, perder até a memória do nosso estado anterior, à medida que nos acostumamos à nossa glória atual. Daí as seguintes palavras: "Portanto, lembrai-vos". - "Portanto", entenda, pois, que fomos criados para boas obras. Não é preciso mais nos convencer a praticar a virtude. "Lembre-se". Basta esta memória para nos inspirar com gratidão a nosso Benfeitor.…” (Sobre Efésios – Homilia 5 – Ef 2:11-16. Cit. Ef 2:11-22, n. 500. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 19 fev. 2020) (tradução pelo Google alterada por nós de texto em francês).
Paulo afirma que, antes, éramos gentios na carne (Ef 2:11). Paulo lembra aqui o fato de que os gentios se distinguiam dos judeus pela circuncisão, este sinal que Deus estabelecera na carne com Abraão, a fim de que todos se lembrassem que os filhos de Abraão, haviam sido formados para ser um povo especial de Deus, para que, por este povo, viesse o Messias que salvaria a humanidade.
Num primeiro instante, parece que Paulo está aqui trazendo a lume algum resquício de seu antigo farisaísmo (At 23:6; 26:5), querendo mostrar uma eventual superioridade dos judeus em relação aos gentios, gentios que compunham a igreja de Éfeso.
Afinal de contas, como afirma o pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes: “…Dois fatos importantes acerca dos gentios são destacados pelo apóstolo Paulo: Em primeiro lugar, os gentios eram objeto de desprezo pelos judeus (2:11) (…) Em segundo lugar, os gentios eram espiritualmente falidos (2:12).…” (Efésios – Igreja, a noiva gloriosa de Cristo, p. 61).
No entanto, não há aqui qualquer resquício farisaico, nem atitude nacionalista. Bem ao contrário, o apóstolo quer aqui mostrar como a gratidão devida ao Senhor pela salvação alcança, entre os gentios, uma intensidade toda especial, porque os gentios haviam sido rebeldes contra o Senhor, mas o Senhor chegou a formar uma nação, de forma sobrenatural, precisamente para alcançar estes gentios.
Para bem entendermos a profundidade desta afirmação do apóstolo, torna-se necessário lembrarmos quem são os gentios, quem são as “nações”, tantas vezes mencionadas nas Escrituras.
Sabemos que, expulsos do jardim do Éden, o primeiro casal passou a lavrar a terra e a cumprir a ordem de multiplicação e enchimento da Terra (Gn 1:28). Entretanto, a natureza pecaminosa do homem levou à destruição de toda aquela geração com o dilúvio, tendo o Senhor poupado apenas Noé e a sua família.
Quando Noé saiu da arca com sua família, o Senhor repetiu aos sobreviventes a mesma ordem dada ao primeiro casal (Gn 9:1). Assim, houve a devida multiplicação, vivendo todos numa mesma comunidade, como, aliás, ocorria antes do dilúvio.
Após o dilúvio, houve uma novidade na organização social. Deus estabeleceu o governo humano, determinando que o homem tomasse medidas para que o mal fosse reprimido, a fim de que não se tivesse a situação anárquica que havia levado à destruição da geração antediluviana (Gn 9:1-6).
Entretanto, a natureza pecaminosa do homem uma vez mais se revelou nesta comunidade única pós-diluviana. Quando já se estava na quarta geração depois de Noé, Ninrode, bisneto de Noé, assumiu o comando desta comunidade (Gn 10:8-12) e os levou a se rebelar contra o Senhor.
O episódio da torre de Babel nada mais é que rebelião contra o Senhor, porquanto a decisão de construir uma torre em Babel era recusa à ordem divina de se espalhar pela Terra, de enchê-la.
É o que deixa bem claro o historiador Flávio Josefo ao comentar esta passagem bíblica, em trecho que vale a pena transcrever: “Deus ordenou que mandassem colônias a outros lugares, a fim de que, multiplicando-se e estendendo-se, pudessem cultivar mais terras, colher frutos com maior abundância e evitar as desinteligências que de outro modo poderiam ser suscitadas entre eles. Mas esses homens rudes e indóceis não obedeceram e foram castigados pelo seu pecado, com os males que lhes sucederam (…). Ninrode, neto de Cão, um dos filhos de Noé, foi quem os levou a desprezar a Deus, desta maneira. Ao mesmo tempo valente e corajosos, ele os persuadiu de que deviam unicamente ao seu valor, e não a Deus, toda a sua boa fortuna. E como ele aspirava ao governo e queria levá-los a escolhê-lo para seu chefe e deixar a Deus, ofereceu-se para protege-los contra Ele (se Ele ameaçasse a terra com outro dilúvio), construindo uma torre para esse fim, tão alta que não somente as águas para esse fim, tão alta que não somente as águas não poderiam chegar-lhe ao cimo, mas que ainda ele vingaria a morte dos seus antepassados. O povo insensato deixou-se dominar por essa estulta persuasão, de que lhe seria vergonhoso ceder a Deus e começou a trabalhar nessa obra, com ardor incrível…” (Antiguidades Judaicas, I, 4. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v. 1, p. 28).
Toda a comunidade, portanto, posicionou-se contra o Senhor e o resultado disto foi a confusão das línguas, medida tomada por Deus para destruir esta comunidade sem que se destruísse o homem. Esta comunidade espalhou-se pela Terra, dando origem às diversas nações, que, a propósito, foram elencadas na chamada “tabela das nações”, que se encontra em Gênesis 10.
São estes integrantes da comunidade única pós-diluviana, que foi desfeita pela confusão das línguas, dando origem às nações mencionadas em Gênesis 10 e que geraram ainda outras nações ao longo da história, que são chamados de “gentios”, porque pertencem às “gentes” ou “nações”.
De pronto, vemos que os gentios constituem um grupo que é rebelde contra o Senhor. Ao contrário do que acontecera antes do dilúvio, em que Noé e sua família acharam graça diante de Deus, no episódio da torre de Babel ninguém agradou ao Senhor, todos se rebelaram, como se diz no Sl 14:1-3, texto que bem ilustra a condição dos gentios.
A rebeldia foi tanta e generalizada que o Senhor teve de criar um povo para que dele viesse o Salvador, ante a rebelião dos gentios. Foi por isso que chamou Abrão e prometeu que dele, de Seu descendente, viria a bênção sobre todas as famílias da Terra (Gn 12:3,7; Gl 3:16).
Esta rebelião só fez aumentar, como, por exemplo, nos povos que viviam primitivamente na terra de Canaã, aludindo o Senhor às “abominações dos gentios” como sendo as práticas horrendas existentes entre eles (II Rs 16:3; 21:2; II Cr 28:3; 33:2; 36:14; Ez 23:30).
Os gentios eram o contramodelo para o povo de Israel, tanto que os israelitas deveriam fazer exatamente o contrário que faziam os gentios para se manterem um povo santo (Lv 18:24).
Eis a razão porque o gentio é tomado, no texto sagrado, como uma figura do impenitente, daquele que não obedece ao Senhor. Por isso, no Sl 10:16, é dito que os gentios serão desarraigados da Terra, expressão que significa que os que desobedeceram a Deus não herdarão a vida eterna, não terão como destino senão o lago de fogo e enxofre.
Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo também usou os gentios como figura daqueles que não servem a Deus, ao dizer que são os gentios que têm como foco na vida apenas a satisfação das necessidades terrenas, como comer, beber e vestir, desprezando o reino de Deus e a sua justiça (Mt 6:31-34; Lc 12:29-31).
Nosso Senhor também considerou aquele que peca contra o seu irmão e que não se arrepende, mesmo depois de admoestado particularmente, por dois ou três e, por fim, pela igreja, como um “gentio e publicano” (Mt 18:17), ou seja, o gentio é a figura daquele que está apartado da comunhão com o povo de Deus, daquele que não pertence ao povo do Senhor.
No entanto, apesar de o gentio ser tomado como figura do rebelde contra Deus, daquele que não O serve, desde o princípio, desde o surgimento dele, vê-se que Deus estava interessado em salvá-lo, vez que, a uma, não os destruiu, mas apenas confundiu suas línguas para que se espalhassem sobre a Terra e, a duas, já no chamado de Abrão, disse que um dos objetivos deste chamado era fazer benditas “todas as famílias da Terra”.
Por isso mesmo, já nas profecias messiânicas, constava que o Messias seria o Salvador também dos gentios, como em passagens como Is 42:1,6; 49:6, que foram confirmadas em o Novo Testamento em textos como Mt 12:18,21 e At 13:47; 26:23 e que foi confirmado quando se iniciou a evangelização, que também se estendeu aos gentios (At 10:45; 11:1,18; 13:46,47; 14:27; 15:3,7,12; 21:19).
Assim, embora os gentios tenham se originado de uma rebelião contra o Senhor, rebelião que os fez serem como que símbolo da impenitência, jamais o Senhor deixou de amá-los e de querer salvá-los, tendo, mesmo, formado uma nação para que este propósito pudesse ser atingido.
  II – A CONDIÇÃO DOS GENTIOS
Paulo começa lembrando os gentios de que eles já ostentavam esta condição na própria carne, visto que não eram circuncidados (Ef 2:11). Eram “incircuncisos”, ou seja, não tinham qualquer aliança ou compromisso com o Senhor, não eram o Seu povo, a Sua propriedade peculiar, condição que era a de Israel (Ex 19:5,6).
 Ao se referir à circuncisão, Paulo alude ao pacto firmado entre Deus e Abraão, pelo qual o patriarca, inclusive, teve a mudança de seu nome, deixando de se chamar “Abrão”, que significava “pai da altura”, para chamar-se “Abraão”, que significa “pai de uma multidão”.
Quando Deus mudou o nome do patriarca, a fim de que ele pudesse ser considerado o pai de uma nação, confirmando assim a formação de um povo novo, do qual viria o Salvador da humanidade, também estabeleceu um pacto com ele, pacto este materializado na circuncisão. Todo macho deveria ser circuncidado no oitavo dia, como sinal do concerto perpétuo que havia entre Deus e Abraão e sua descendência, entre Deus e o povo que se formaria de Abraão, que era o povo de Israel (Gn 17:1-14).
O apóstolo, portanto, começa lembrando os crentes de Éfeso de que eles não faziam parte daquele povo formado por Deus e que tinha como sinal de sua aliança com o Senhor a circuncisão. Os gentios eram “incircuncisos”, ou seja, não havia, da parte de Deus, qualquer pacto, qualquer aliança que comprometesse Deus para com eles.
No pacto da circuncisão, o Senhor havia prometido dar a terra de Canaã à descendência de Abraão, como também ser o Deus dela e que tal pacto seria perpétuo. Ao contrário dos israelitas, não tinham os gentios qualquer promessa da parte de Deus, nem de terem a bênção divina, muito menos de terem um lugar certo neste planeta para viver.
Assim, já num aspecto físico (tanto que Paulo insiste em dizer que a circuncisão era feita pela mão dos homens – Ef 2:11), os gentios estavam em nítida desvantagem com relação aos israelitas, visto que a circuncisão revelava um comprometimento divino para com os israelitas.
Esta incircuncisão da carne revelava que os gentios estavam sem comunhão com Deus, não tinham o Cristo, até porque Israel tinha sido formado precisamente para que, em seu seio, nascesse o Salvador, que, primeiramente pregando a Israel, pudesse ser anunciado aos gentios (Is 49:6,7; Jo 1:12,13; At 18:6; 26:20; Rm 1:16). Como o Cristo vinha dos judeus (Jo 4:22), a incircuncisão é um sinal físico de que os gentios não tinham o Cristo.
A incircuncisão também revelava a separação que havia entre os gentios e os judeus. Desde os tempos patriarcais, como no episódio que envolveu a grande matança dos siquemitas por parte de Simeão e Levi (Gn 34), os israelitas recusavam misturar-se com os outros povos, exigindo que qualquer estrangeiro que com eles quisesse conviver, passasse a pertencer ao povo de Israel, circuncidando-se, o que, inclusive, foi reafirmado quando da entrega da lei, quando, por exemplo, vedou-se a participação de estrangeiro incircunciso na refeição da Páscoa (Ex 12:48).
Os gentios eram separados da comunidade de Israel, não podiam ter comunhão com os filhos de Israel, e esta condição se revelava na incircuncisão dos estrangeiros, no fato de os estrangeiros não serem circuncidados Não havia aliança entre Deus e eles.
A separação da comunidade de Israel representava, ainda, a privação das promessas que o Senhor havia dado aos israelitas, bem como o impedimento para que pudessem os gentios ser “a propriedade peculiar de Deus dentre os povos”, “povo santo” e “nação sacerdotal”. Tudo isto não estava ao alcance do gentio, porque não havia comunhão entre ele e o Senhor Deus de Israel.
O apóstolo assinala, portanto, como era difícil a situação dos gentios, que ficavam completamente à margem de todas as promessas e de todo o cuidado de Deus para com Israel.
Por isso mesmo, o apóstolo afirma que os gentios eram “estranhos aos concertos da promessa”, ou seja, não tinham direito algum a todos os pactos que o Senhor havia feito com Israel ao longo da história.
O primeiro pacto, já mencionado por Paulo, era o pacto abraâmico, que tinha por sinal a circuncisão. Por serem estranhos a este pacto, não gozavam os gentios do direito de possuir a Terra de Canaã, que foi dada aos israelitas. Não foi por outro motivo que os povos que a ocupavam foram dali retirados, salvo aqueles que foram indevidamente poupados pelos próprios israelitas, povos estes, aliás, que não mais existem em nossos dias, exatamente porque estavam estranhos ao pacto abraâmico, que não só prometeu dar esta terra aos israelitas (e seu retorno a esta Terra a partir do início do século XX e a criação do Estado de Israel não a prova de que Deus continua a velar pela Sua Palavra para a cumprir), como também dá-la em caráter perpétuo, o que significa afirmar que a nação de Israel jamais se extinguiria.
O segundo pacto firmado entre Deus e Israel foi o pacto sinaítico, ou seja, o pacto firmado no monte Sinai, pelo qual Israel recebeu a lei com seus 613 mandamentos (Ex 19,20). A lei foi dada a Israel e os gentios, por serem estranhos aos concertos, não estão submetidos a lei, como, aliás, decidiu o Concílio de Jerusalém (At 15). Jesus, por ser israelita, nasceu sob a lei (Gl 4:4) e teve de cumpri-la (Mt 5:17), tendo sido o único que conseguiu cumpri-la.
O terceiro pacto firmado entre Deus e Israel foi o pacto palestiniano, ou seja, o pacto firmado nos montes Gerizim e Ebal, segundo o qual o povo israelita condicionou sua permanência na terra de Canaã à obediência à lei (Dt 27; Js 8:30-35). Por terem quebrado este pacto, os israelitas foram para o cativeiro e que permitiu que os gentios não só pisassem a Terra de Canaã, como a ocupassem e dominassem sobre os israelitas (Ne 9:33-37).
O quarto pacto firmado entre Deus e Israel foi o pacto davídico, segundo o qual o Senhor prometia a Davi que reinaria para sempre sobre Israel e, por conseguinte, o Messias seria seu descendente (II Sm 7:8- 16). Aqui se confirmou o pacto abraâmico de que seria em Israel que viria o Salvador e que a salvação partiria dos judeus para todos os gentios. Os gentios, para obterem a salvação, teriam de se voltar a este Salvador.
É interessante observar que o apóstolo fala em “concertos da promessa”, ou seja, a uma, havia mais de um pacto (quatro como pudemos observar); a duas, todos estes pactos estavam relacionados com uma só promessa, que é a promessa de redenção da humanidade, tornada pública no dia mesmo da queda ao primeiro casal e que se referia a todos os homens, tanto judeus quanto gentios.
Os gentios, porém, eram estranhos a tudo isto, ante a sua rebelião e recusa a glorificação do Senhor e, por conseguinte, não tinham esperança nem Deus no mundo.
Paulo já falara desta distinção entre judeus e gentios na epístola aos romanos. Ali, o apóstolo afirmou que dos israelitas era a adoção de filhos, a glória, os concertos, a lei, o culto e as promessas (Rm 9:4).
Os israelitas receberam a adoção de filhos, porquanto descendiam de patriarcas que foram miraculosamente concebidos. Isaque e Jacó eram resultado de milagres de Deus, porquanto suas mães eram estéreis (Gn 11:30; 21:1,2; 25:21), a demonstrar que esta nação foi formada pelo Senhor, por Sua vontade, sem qualquer concurso humano.
Os israelitas eram filhos de Deus por adoção porque voluntariamente Deus os quis ter como filhos e eles, também, aceitaram se submeter ao senhorio divino. Verdade é que quebraram tal concerto, mas os gentios haviam se rebelado contra o Senhor, desobedeceram-Lhe e se aprofundaram na sua vida pecaminosa, de modo que não poderiam ser senão filhos por criação e nada mais.
Os israelitas haviam contemplado a manifestação da glória de Deus. No Sinai, Deus desceu ao monte mostrando toda a Sua glória (Ex 20:18-21), glória esta que se manifestou ainda outras vezes ao longo da história, como reflexo no rosto de Moisés quando ele retorna da sua segunda quarentena sobre o monte Sinai (Ex 34:29-35), na inauguração do tabernáculo (Ex 40:34,35; Lv 9:23), na repreensão aos espias incrédulos (Nm 14:10), na rebelião de Datã, Abirão e Coré (Nm 16:19), nas águas de Meribá (Nm 20:6) e na inauguração do templo (I Rs 8:11; II Cr 5:14; 7:1-3).
Quanto aos concertos, a lei, o culto e as promessas, já mencionamos tais dádivas que Deus reservou a Israel.
Os gentios de nada disso participaram, não tinham direito a qualquer destes compartilhamentos feitos entre Deus e o Seu povo, que, como “propriedade peculiar dentre os povos”, tinha um tratamento especial da parte do Senhor; como “povo santo”, era separado dos demais povos precisamente para ter tais compartilhamentos e, por fim, era “nação sacerdotal”, porque tinha como se apresentar diante de Deus, até para interceder pelas demais nações, o que, aliás, nunca fizeram já que, pelo episódio do bezerro de ouro, ficaram privados do exercício sacerdotal pela sua incredulidade.
João Crisóstomo entende que o apóstolo, ao se utilizar das expressões “separados da comunidade de Israel” e “estranhos aos concertos da promessa”, empregou “expressões muitos fortes”, para indicar que os gentios sofriam de uma “separação completa” das coisas do céu.
Por isso mesmo, os gentios não podiam ter esperança. Haviam se rebelado contra Deus e se mantiveram d’Ele separados. Não havia como reatarem tal comunhão e não podiam esperar a salvação. A salvação vinha dos judeus e é este o motivo porque a esperança messiânica era particular aos israelitas e, nos dias do nascimento de Nosso Senhor e Salvador, estava sobremaneira aguçada.
Não devemos esquecer que a promessa da redenção fora dada a toda a humanidade e que, sem dúvida alguma, os gentios também a tinham e que, vez por outra, alguns dentre eles realçavam tal esperança, como é o caso de Jó (Jó 13:15; 19:25-27), mas é inegável que, enquanto em Israel, o ensino da lei mantinha viva tal esperança, entre os gentios tal esperança empalidecia cada vez mais, obscurecida que estava pela insensatez decorrente da recusa em glorificar a Deus, da rebeldia, que havia criado a idolatria, primeiro passo para a degradação generalizada da humanidade, muito bem descrita por Paulo em Rm 1:18-32.
A falta de esperança era consequência da falta de Deus. Os gentios haviam se rebelado contra o Senhor, haviam se recusado a servi-lO e, deste modo, construído, a exemplo de Caim, uma civilização sem a presença do Senhor (Gn 4:16-24).
Este é o sistema gentílico até os dias hodiernos, sistema que, por ter origem em Babel, é chamado de Babilônia pelo apóstolo João no livro do Apocalipse, cujas duas vertentes, a mística ou religiosa e a comercial, têm seu fim descrito nos capítulos 17 e 18 do livro profético do Novo Testamento.
Trata-se de um sistema secularista, ou seja, que não admite qualquer dimensão além da terrena, que procura construir um mundo sem Deus, que tenta, de todas as maneiras, tornar realidade a mentira satânica de que podemos ser iguais a Deus, sabendo o bem e o mal, e, portanto, podendo ter uma vida independente de Deus.
Esta recusa em glorificar a Deus, em considerá-lO existente e de se submeter a Ele é que faz com que todo o sistema seja dominado por Satanás e que o homem se veja escravizado pelo pecado, sem condição alguma de se libertar deste “império da morte” (Hb 2:14).
Simultaneamente, este secularismo, por mais paradoxal que seja, acaba por fomentar uma falsa religiosidade, uma adoração a falsos deuses, pois o homem, por mais que tente, não consegue fugir da realidade de que existe algo além do material, algo além do terreno.
Eis porque, ao mesmo tempo que se recusa a glorificar a Deus, acaba criando “deuses” a quem possa adorar e servir, criando um sem-número de religiões e de crenças e superstições, aprofundando o estado de desobediência.
Não é de se admirar, por exemplo, que, nos países comunistas, que defendem o ateísmo e a antirreligião como princípios norteadores da vida social, haja uma explícita adoração das lideranças, a quem constroem estátuas e, inclusive, mantêm seus corpos embalsamados para visitação…
Tomás de Aquino diz que, na descrição desta condição, Paulo nos remete a três males da condição gentílica e a três privações de benefícios decorrentes deste estado. Eis o que afirma o Aquinate: “…Atualiza-os primeiro a memória de sua condição no estado passado e depois contrapõe os benefícios que eles receberam no estado atual. Quanto ao primeiro, após uma exortação, declara-lhes a condição de seu estado passado. Ele diz: "Portanto", isto é, para que você possa perceber que Deus nos deu toda a sua bela graça "lembre-se" (Dt 9,16); "de que em outro tempo" lembra a condição de seu estado anterior: a) quanto aos males que eles tinham; b) quanto aos bens de que foram privados. Os males foram três: 1) o crime de gentilidade, pelo qual eles adoravam ídolos: "vocês, que eram gentios de origem" (1Co 12); 2) sua vida carnal: "in carne", isto é, vivendo na jurisdição da carne, pela qual eles não podiam agradar a Deus (Rm 8); 3) a difamação e desprezo com que os judeus os colocaram debaixo dos pés: "o chamado prepúcio", isto é, a incircuncisão "por aquele, a saber, circuncisão, feita na carne pela mão do homem ", isto é, pelos judeus circuncidados por tal circuncisão. E diz "pela mão do homem", para distingui-la da circuncisão espiritual, que é dita em Cl. 2:11: "na qual você também foi circuncidado com circuncisão não carnal ou feita à mão que corta a carne do corpo, mas com a circuncisão de Cristo; sendo sepultado com Ele pelo batismo "; e logo depois:" de fato, quando você estava morto por seus pecados e pela incircuncisão de sua carne, então Ele fez você reviver com Ele, perdoando todos os pecados". Em seguida, os bens dos quais eles foram privados: "você que não teve parte com Jesus Cristo"; e 1 de participar dos sacramentos; 2 do conhecimento de Deus: "sem Deus neste mundo". Os sacramentos, cuja participação foi impedida, eram três: 1) a dignidade de Cristo; onde ele diz: "você que não teve parte com Jesus Cristo então", isto é, sem a promessa de Cristo feita aos judeus (Jr. 23; Zc 9); 2) a companhia dos santos, que se viram privados enquanto permaneceram na gentilidade, diz: "separados da comunidade de Israel", pois não era lícito aos judeus lidar com os gentios (Dt 7), como São João diz que samaritanos e judeus não se comunicam; 3) Quanto aos que foram recebidos no judaísmo, tornando-se prosélitos, foram tratados com desprezo. É por isso que ele acrescenta: "estrangeiros em relação a alianças", como se dissesse: esses prosélitos, ao se converterem ao judaísmo e se tornarem prosélitos, eram recebidos não como cidadãos, mas como convidados, para participar das alianças divinas. Diz "de alianças" no plural, porque se deu aos judeus o Antigo Testamento e se lhes prometeu o Novo (…). Ele o deu àqueles "de quem é a adoção dos filhos de Deus, e a glória, e a aliança, e a legislação, e a adoração, e as promessas", como se diz em Romanos 9,4.39; a esperança de bens futuros: "sem esperança de promessa"; porque, como declarado em Gálatas 3, as promessas foram feitas a Abraão e sua descendência. Para piorar a situação, o pior de tudo, devido à ignorância de Deus, é: "sem Deus neste mundo", isto é, sem conhecimento de Deus. "Deus se fez conhecido em Judá" (Sl 76.1), não tanto para os gentios, conforme alude I Ts 4: "não com paixão libidinosa, como fazem os gentios, que não conhecem a Deus"; texto, no entanto, que pode ser entendido a partir do conhecimento pela fé; por causa do conhecimento natural, é dito em Rm 1:21: "porque, tendo conhecido a Deus, eles não o glorificaram como Deus".…” (Lição 4 – Efésios 2:11-13. Cit. Ef 2:11-22, n. 13. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 19 fev. 2020) (traduzido do Google com alterações nossas de texto em espanhol).
Era esta a triste condição que estavam os gentios antes de serem alcançados pela salvação em Cristo Jesus, condição que deve ser, sim, lembrada para que demos o devido valor ao que Deus, em Cristo, fez por nós.
  III – A GRATA MEMÓRIA
Retomando o que Paulo dissera na epístola aos romanos, os gentios são o zambujeiro, que, por causa da quebra dos ramos da oliveira, foram enxertados (Rm 11:17-21).
Ao lembrar os efésios a respeito de sua condição, o apóstolo tem, como propósito, gerar neles uma “grata memória”, ou seja, fazer-lhes conscientes da imensa graça e misericórdia que Deus lhes proporcionou ao salvá-los na pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, cuja obra irá ele descrever no trecho seguinte da epístola.
Esta “grata memória”, por primeiro, quer nos mostrar que não tínhamos qualquer participação nas promessas e dádivas divinas, mas que, apesar de todas as nossas imperfeições, Cristo nos deu acesso a tudo isto.
Éramos o zambujeiro, ou seja, a oliveira-brava, também conhecida como “oliveira-da-rocha”. “…O zambujeiro é uma oliveira, uma variedade silvestre desta árvore, que cresceu na natureza sem nenhum controlo humano. É uma espécie selvagem que não tem sido cultivada para nenhum fim concreto. Na atualidade, esta oliveira silvestre forma parte da nossa paisagem, sobretudo nas regiões mediterrânicas. É habitual encontrá-lo ao abrigo de azinheiras, alfarrobeiras ou sobreiros. Selvagem, mas uma oliveira, ao fim e ao cabo. É habitual confundi-lo com a “Oliveira comum” pois tem características similares. No entanto, têm frutos, folhas e portes diferentes. O zambujeiro é uma espécie de crescimento lento com porte arbustivo. Tem ramos intrincados e um tronco pouco definido. Pode chegar a alcançar vários metros de altura se se desenvolver longe de animais (serve de alimento para o gado). Na atualidade, foi popularizado o seu uso como bonsai, mas disto falaremos mais à frente. Uma das partes mais características do zambujeiro são as suas folhas. Ao contrário das da oliveira, estas são pequenas e delgadas, de cor verde muito escura. Mantêm-se no arbusto durante todo o amo, mesmo na época de seca (são perenes, portanto). As flores carecem de qualquer interesse, pois são pequenas, crescem em cachos axilares e têm uma tonalidade verde-amarelada. Os frutos do zambujeiro, como os da oliveira, são conhecidos como azeitonas. São de menor tamanho, pouco carnosas e não têm tanto óleo como as variedades que são cultivadas (de maior tamanho). O zambujeiro frutifica no verão.…” (Conheça o zambujeiro. Disponível em: https://tudohusqvarna.com/blog/fichas/zambujeiro/ Acesso em 19 fev. 2020).
Como se pode perceber, ao nos comparar com o zambujeiro, o apóstolo Paulo mostra que éramos marginais ao plano de Deus, estávamos, como o zambujeiro, ao largo do cultivo controlado, da qualidade e da quantidade de frutos e do crescimento rápido. Assim, devemos sempre ser gratos ao Senhor por nos ter inserido na oliveira, por nos ter inserido no Seu povo.
Paulo, porém, deixa claro, no texto de Romanos, que o fato de ramos da oliveira terem sido quebrados, o que representava a rejeição dos israelitas ao Senhor Jesus, era também uma advertência a todos nós, para que tomemos cuidado para sermos obedientes ao Senhor, para que não venhamos, nós também, a ser quebrados e lançados fora.
O Senhor Jesus, em Suas últimas instruções, disse claramente que, como ramos da videira, que é Ele próprio, não podemos, de modo algum, deixar de dar fruto, para que não venhamos a ser cortados, lançados fora, secados e, por fim, queimados (Jo 15:6).
Mas como evitar de ser cortado? Diz o Nosso Salvador: mantendo-nos unidos a Ele, estando n’Ele e Ele em nós, ou seja, fazendo a Sua vontade, pois quem quer servir ao Senhor, segui-l’O, indispensável que negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga ao Senhor. Foi para construir esta comunhão, esta unidade que o Senhor veio a este mundo (Jo 17:21) e é preciso mantermos esta unidade para que usufruamos plenamente da vida eterna que já nos é dada pelo Senhor Jesus.
Nesta “grata memória”, Paulo dá-nos uma grande lição, qual seja, a de mostra a nossa condição antes da salvação, mas sem descrever ou se lembrar dos pecados, mas apenas mostrar a situação de miséria espiritual em que nos encontrávamos. O apóstolo limita-se a dizer que éramos incircuncisos, sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.
Não houve uma apologia do que fazíamos nesta condição, como observamos em muitos “tristemunhos”, em que as pessoas descrevem minuciosamente seus pecados anteriormente cometidos, como tendo prazer em tal recordação, pouco valor dando a seu atual estado de graça, a sua condição após a redenção, como que fazendo propaganda do velho homem que está crucificado com Cristo.
O apóstolo também nos ensina que a separação que começava já no físico, com a incircuncisão, é coisa do passado e, como tal, não pode, de forma alguma, voltar a existir. Estamos lembrando do nosso estado anterior à salvação e, deste modo, não se trata de algo que possa ser verificado, observado no presente.
Agora temos esperança e temos Deus, embora ainda estejamos no mundo e, portanto, não só não pode haver nostalgia do estado pecaminoso anterior, como também não pode este estado reaparecer como algo presente e constante em nossa existência, sob pena de termos perdido a salvação e não mais podermos, de modo algum, gozar das bênçãos divinas.
É interessante ver que o apóstolo fala que não tínhamos esperança nem Deus no mundo, ou seja, faz questão de mostrar que, antes da salvação, éramos do mundo, mas agora, estamos nos “lugares celestiais em Cristo” (Ef 1:3).
Quem está “em Cristo” é nova criatura, as coisas velhas passaram, eis que tudo se fez novo (II Co 5:17) e, desta forma, não podemos ser como éramos, temos de ter mudado, temos de ter nos transformado. É esta a nossa condição? Pensemos nisto! Colaboração para o Portal Escola Dominical

Ev. Caramuru Afonso Francisco. Disponível em: https://www.portalebd.org.br

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

   INTRODUÇÃO
Na presente lição, veremos que o autor de Efésios lembra aos gentios de que, antes da regeneração, eles eram incircuncisos e haviam experimentado cinco formas de privação: estavam sem Cristo, separados de Israel, alienados quanto à promessa, sem esperança e sem Deus no mundo (2.11,12). Logo, estudaremos cada um desses aspectos. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
O mundo vive em constante beligerância, muitos tem tentado firmar um pacto de paz, no entanto, essa paz não é duradoura ou apenas é usada como meio de esconder reais planos de conflito. O único pacto de paz verdadeiro e eficaz foi o que Deus fez em Jesus. Essa é a maior missão de paz da história. Deus reconciliou judeus e gentios num único corpo e reconciliou o mundo consigo mesmo por meio de Jesus (2Co 5.18).
   I. CHAMADOS INCIRCUNCISÃO
Na era antes de Cristo, além de mortos espiritualmente, os gentios eram desprezados pelos judeus e identificados como incircuncisos (2.11).
1. O conceito de circuncisão. Circuncisão é a remoção cirúrgica do prepúcio do órgão sexual masculino. Era prescrito na lei como o sinal externo de quem pertencia ao povo da aliança com Deus (Gn 17.10,11). O procedimento era realizado no oitavo dia de vida dos nascidos em Israel ou estrangeiros comprados a dinheiro (Gn 17.12). Quem não era circuncidado era tido como “incircunciso” e, portanto, excluído da aliança (Gn 17.14). A circuncisão tornou-se um sinal que distinguia os judeus dos demais povos gentílicos. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
Os gentios (a "incircuncisão") experimentaram dois tipos de separação. A primeira era social, resultando da animosidade que havia existido entre judeus e gentios por milhares de anos. Os judeus consideravam os gentios como excluídos, objetos de escárnio e repreensão. O segundo e mais significativo tipo de separação era a espiritual porque os gentios, como um povo, estavam separados de Deus de cinco maneiras diferentes:
1) eles estavam "sem Cristo", o Messias não tendo um salvador e libertador, e sem propósito ou destino divino;
2) Eles estavam "separados da comunidade de Israel". O povo escolhido de Deus, os judeus, era uma nação cujo supremo Rei e Senhor era o próprio Deus, e de cuja bênção exclusiva e proteção eles se beneficiavam;
3) Os gentios eram "estranhos às alianças da promessa"; não podiam partilhar das alianças divinas de Deus nas quais ele prometeu dar ao seu povo uma terra, um sacerdócio, um povo, uma nação e um rei — e para aqueles que cressem nele a vida eterna e o céu;
4) Eles não tinham "esperança" porque não haviam recebido nenhuma promessa divina, e
5) Eles estavam "sem Deus no mundo". Embora os gentios tivessem muitos deuses, não reconheciam o verdadeiro Deus porque não o queriam (Rm 1.18-26).
O desprezo que os judeus sentiam pelos gentios era tão grande que não era lícito a um judeu assistir a uma mulher gentia dar à luz. O casamento de um judeu com uma gentia correspondia à morte dele, e, imediatamente, celebrava-se o ritual do enterro do moço ou da moça. Entrar numa casa gentia tornava um judeu impuro e o deixava inapto para participar do culto público. Para os judeus, os gentios eram apenas combustível para o fogo do inferno. Quando Deus chamou a Abraão e lhe deu um sinal na carne (a circuncisão), não era para que os judeus se gloriassem disso, mas para que fossem uma bênção para os gentios. Mas Israel falhou em testemunhar para os gentios. Israel corrompeu-se como e com as nações gentílicas. p. 62.
2. O significado religioso da circuncisão. Seu significado religioso apontava para a santificação (Êx 19.5,6). Como a corrupção e as práticas idólatras estavam fortemente relacionadas com a sexualidade depravada, a circuncisão simbolizava a aliança de purificação requerida ao povo escolhido (Jr 5.7; Os 4.14; Gl 5.19). Era algo tão sério que os judeus recusavam-se até mesmo a comer com os incircuncisos (At 11.3). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
- A circuncisão era uma pequena cirurgia feita em todos os meninos judeus, que representava sua pertença ao povo judeu e à aliança de Deus. Quem não fosse circuncidado não era considerado judeu. A circuncisão foi um sinal estabelecido por Deus para o povo judeu. Não era algo totalmente novo naquele período da História, quando Deus o instituiu como sinal da aliança com Abraão (Gn 17.11), mas o significado religioso teocrático especial então aplicado a ela foi inteiramente novo, desse modo identificando os circuncisos como pertencentes à linhagem física e étnica de Abraão (At 7.8; Rm 4.11). Sem divina revelação, o rito não teria tido esse significado distintivo. Porém, a partir de então ficou como distintivo teocrático de Israel (leia Gn 17.13).
- Também havia um benefício à saúde com essa prática porque doenças poderiam ficar depositadas nas dobras do prepúcio. Retirando-o, isso era evitado. Historicamente, as mulheres judias tiveram menor índice de câncer cervical. Mas o simbolismo tinha a ver com a necessidade de eliminar o pecado e ser purificado. O órgão masculino é que mais claramente demonstrava a profundidade da depravação porque carregava a semente que produzia pecadores depravados. Assim, a circuncisão simbolizava a necessidade de profunda purificação a fim de reverter os efeitos da depravação. Leia mais sobre acessando este linkGOSPELPRIME)
3. A circuncisão do coração. O apóstolo reconhece que os gentios não faziam parte da circuncisão, mas com uma ressalva: o sinal dos judeus era apenas físico e realizado por mãos humanas (2.11b). A boa nova que Paulo traz é a de que a verdadeira circuncisão não se tratava de uma operação externa na carne realizada pelos homens, mas a que foi feita “no interior, a que é do coração [...] cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm 2.29). Assim, em Cristo, o sinal de quem pertence a Deus não é a circuncisão nem a incircuncisão, mas sim “o ser uma nova criatura” (Gl 6.15). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
No verso 11, Paulo explica que um verdadeiro filho de Deus, e que a verdadeira semente espiritual de Abraão é aquela que circuncidou o coração. O rito exterior só tem valor quando reflete a realidade interior de um coração separado do pecado para Deus (Dt 10.16; 30.6). Fica muito claro que, para Paulo, a salvação é o resultado da atuação do Espírito de Deus no coração, e não, meramente, dos esforços exteriores para se conformar a essa lei. justiça completa e perfeita que virá na glorificação (Rm 8.18,21). Nada que se faz ou se deixa de fazer na carne, nem mesmo a cerimônia religiosa, faz qualquer diferença no relacionamento de uma pessoa com Deus. O que é externo é irrelevante e sem valor, a menos que reflita uma justiça interior genuína (Rm 2.25-29). É exatamente isso que o apóstolo escreve em Gálatas 5.6, afirmando que ‘nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum’, mas sim, a ‘fé que atua pelo amor’; A fé salvadora prova o seu caráter genuíno pelas obras do amor. Aquele que vive pela fé é motivado, no seu interior, pelo amor por Deus e por Cristo (Mt 22.37-40), o qual se revela, de modo sobrenatural, na adoração reverente, na obediência genuína e o amor altruísta pelos outros. Assim, circuncisos de coração são aqueles que experimentaram o novo nascimento, à luz de Gálatas 6.15!
4. A circuncisão na Nova Aliança. O assunto da circuncisão gerou discussões acaloradas entre judeus e gentios (Gl 5.2,3; Fp 3.2). Em Antioquia a questão ganhou muita dimensão, provocou intensos debates e culminou na convocação do Primeiro Concílio da Igreja em Jerusalém (At 15.1,2,5,6). A deliberação dos apóstolos sobre o assunto, sob a orientação do Espírito Santo (At 15.28,29), passou a enfatizar que na nova aliança “a circuncisão somos nós, que servimos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne” (Fp 3.3). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
O maior álibi dos opositores de Paulo era justamente o fato de Paulo não ensinar a circuncisão. O tema central de Gálatas é a justificação pela fé, onde aparece uma forte defesa dessa doutrina, tanto teológica (caps. 3-4) quanto prática (caps. 5-6). Os falsos mestres – os judaizantes que Paulo chama de ‘maus obreiros’ - ensinavam que era necessário ao convertido passar por alguns ritos e observar preceitos da Lei, e como Paulo não pregava esse evangelho falso, foi duramente perseguido e caluniado.
Aqueles judaizantes orgulhavam-se de ser obreiros da justiça. Não obstante, Paulo descreveu suas obras como más, visto que o pior tipo de iniquidade é qualquer tentativa de agradar a Deus por meio de esforços próprios e desviar a atenção da redenção consumada de Cristo. Eles, de fato, eram portadores de uma falsa circuncisão. Ironicamente, a circuncisão dos judaizantes não era um símbolo espiritual; tratava-se, meramente, de uma mutilação física (Cl 5.12). O verdadeiro povo de Deus não possui, meramente, um símbolo da necessidade de um coração limpo (Gn 17.11); eles, na verdade, foram purificados do pecado por Deus (Rm 2.25-29).
A primeira característica usada por Paulo para definir um verdadeiro cristão é que nós ‘adoramos a Deus no Espírito’ (Fp 3.3). O verdadeiro cristão confere todo crédito pelo que ele é a Cristo (Rm 15.17; ICo 1.31; 2Co 10.17), e não confia na carne; Por "carne", Paulo está se referindo à humanidade não redimida do ser humano, às suas próprias habilidades e realizações à parte de Deus (Rm 7.5). Os judeus colocavam a sua confiança no fato de serem circuncidados, em serem descendentes de Abraão e na realização de cerimônias exteriores e obrigações da lei mosaica – coisas que não poderiam salvá-los (Rm 3.20; Cl 5.1-12). O verdadeiro cristão vê sua carne (natureza) como pecaminosa, sem qualquer capacidade de merecer a salvação ou de agradar a Deus.
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
O primeiro tópico deve atingir o objetivo didático básico de deixar bem embasado dois conceitos que aparecem na Epístola: “Circuncisão” e “Incircuncisão”. A ideia aqui é explicar o conceito espiritual que tais termos apresentam na Epístola. Nesse sentido, ao explicá-lo, atente para o seguinte texto: “No verso 11, Paulo lembra aos seus leitores gentios a condição desvantajosa de seu estado anterior ao evangelho. Gênesis 1–2 revela a unidade fundamental da raça humana em seu início. Após a queda (Gn 3) e o grande dilúvio (Gn 6–8), ocorreu a desintegração e a humanidade foi dividida em diferentes nações, Deus escolheu Abraão e seus descendentes judeus para serem o povo do pacto divino (Gn 12–50). A circuncisão dos homens judeus tornou-se um sinal exterior para lembrá-los de sua identidade e das responsabilidades que tinham neste pacto” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol.2. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 414).
  II. ESTRANHOS AO CONCERTO DA PROMESSA
Nessa parte, o apóstolo Paulo aponta a situação dos gentios: “Naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa” (2.12).
1. Uma vida sem Cristo. Ao descrever a história passada dos gentios, o apóstolo traz à memória que “naquele tempo”, isto é, antes da regeneração, eles viviam imersos no paganismo e, portanto, “sem Cristo”. Isso indica que a religiosidade dos gentios era incapaz de inseri-los na promessa messiânica de salvação (Jo 4.22). Também significa que eles desconheciam a Cristo, como também eram indiferentes às promessas acerca dEle e de sua obra (Hb 8.8-10). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
Ao comentar esse subtópico, faz-se necessário esclarecer ‘a história passada dos gentios’ se refere aos gentios convertidos, como está escrito, pode induzir ao entendimento de que se refira aos gentios em geral. Essa ainda é a situação daqueles que não foram alcançados pela salvação por meio da fé em Cristo Jesus.
Dos dois tipos de separação que os gentios experimentaram, a primeira era social, e a outra, a mais significativa separação, era a espiritual porque os gentios, como um povo, estavam separados de Deus.
“Agora, Paulo resume essa falência espiritual dos gentios em cinco frases descritivas e negativas.
Eles estavam sem Cristo. Eles estavam separados de Cristo, sem nenhuma relação com o Messias. Enquanto os judeus aguardavam o Messias, eles não o aguardavam nem sabiam nada sobre ele. Os efésios adoravam a Diana em vez de adorar a Cristo. Eles viviam imersos numa imensa escuridão espiritual.” (LOPES. Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. São Paulo: Hagnos, 2009. p. 63)
2. Separados da comunidade de Israel. Ainda no versículo 12 o apóstolo salienta a desvantagem de os gentios não pertencerem à comunidade de Israel (2.12). Eles estavam excluídos não só dos símbolos externos, mas também não faziam parte do povo escolhido, e, consequentemente, não podiam usufruir dos privilégios da aliança de Abraão (Rm 9.4). A constatação cruel era a de que Deus não havia se revelado aos gentios, pois a chamada divina fora feita somente a Abraão e a sua descendência (Gn 17.17). Nessa perspectiva, a lei e as promessas pertenciam somente aos judeus e, desse modo, os gentios estavam fora do alcance das bênçãos prometidas a Abraão, a Isaque e a Jacó (Mt 22.32). Entretanto, o que os gentios precisavam saber era que por meio de Cristo, eles também se tornariam descendência de Abraão (Gl 3.29). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
Eles estavam separados da comunidade de Israel. Os gentios permaneciam fora do círculo daqueles que adoravam o Deus verdadeiro. Deus havia chamado a Israel e lhe dado sua lei e suas bênçãos. O que deve ficar claro aqui é que as promessas de Deus não eram exclusivas de Israel somente, mas todos poderiam se achegar ao Deus único e verdadeiro que se autorrevelou a Israel. Então, havia uma maneira pela qual os gentios poderiam experimentar as promessas da Aliança: se fazer um prosélito. Os gentios eram estranhos às alianças da promessa por que essas alianças foram os acordos relativos à promessa do Messias feitas a Abraão e aos seus descendentes. Os gentios eram estranhos e estrangeiros. Não havia alianças com eles.
3. Alienados aos pactos das promessas. Uma vez separados da comunidade de Israel, os gentios desconheciam totalmente os vários pactos que Deus estabelecera com os patriarcas israelitas. Esses pactos giravam em torno da grande promessa do advento do Messias (At 13.32-37). Dentre eles: o “pacto abraâmico” (Gn 12.1-3), o “pacto mosaico” (Dt 28.1-14) e o “pacto davídico” (2 Sm 7.13-16). Esses pactos eram reiterações da promessa messiânica. Os gentios não tinham noção deles e, por conseguinte, estavam alienados de qualquer promessa ou esperança messiânica. Agora, uma vez regenerados em Cristo, é revelada a grandeza do amor divino. De alienados da promessa, por meio do sangue de Jesus, os gentios tornaram-se herdeiros da maravilhosa promessa (Gl 3.29). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
Este gentios estavam sem os privilégios e promessas que Deus tinha revelado a Israel (Is 55.11; Jr 32.42). No entanto, é bom frisar que, como Paulo explicou em Romanos 9.6, ‘nem todos os de Israel são... israelitas’, isto é, nem todos os descendentes naturais de Abraão são verdadeiros, herdeiros da promessa. Para ilustrar esta verdade, Paulo lembra a seus leitores que até mesmo as promessas de raça e nação feitas a Abraão não foram feitas a todos os descendentes naturais dele, mas apenas para aqueles vindos por intermédio de Isaque (Gn 21.12). Somente os descendentes de Isaque podem, verdadeiramente, ser chamados de filhos de Abraão, herdeiros das promessas de raça e nação (Gn 17,19-21). O que Paulo está ensinando é que assim como nem todos os descendentes de Abraão pertenciam ao povo natural de Deus — ou ao Israel nacional — nem todos aqueles que são filhos verdadeiros de Abraão, por intermédio de Isaque, são o povo espiritual de Deus e desfrutam das promessas feitas aos filhos espirituais de Abraão (Rm 4.6,11; 11.3-4). A exemplo disso, os outros filhos de Abraão com Agar e Quetura não foram escolhidos para receber as promessas quanto à nação feitas a ele (Gn 17.19-21).
“Os gentios não tinham esperança de uma vitória sobre a morte (ITs 4.13-18). O futuro dos gentios era como uma noite sem estrelas. O mundo gentio entregava-se ao prazer desbragado, ora por não crer na eternidade (Epicureus), ora por viver esmagado pelo fatalismo (estoicos). Os gentios viviam sem Deus no mundo. Quem não tem Deus não tem esperança. Embora Paulo tenha usado a palavra grega atheoi, não devemos concluir que os gentios eram ateus. Eles tinham muitos deuses (Atos 17.16-23; ICo 8.5), mas não conheciam o Deus verdadeiro nem tinham relação alguma com ele (ICo 8.4-6).127 Seus deuses eram vingativos e caprichosos. Eles viviam sob o tacão das ameaças e debaixo da ditadura do medo. Eles não conheciam o Deus criador, sustentador, redentor e consolador. Curtis Vaughan diz corretamente que olhar para o futuro sem esperança já é algo terrível; mas não ter no coração a fé em Deus é inexprimivelmente trágico.” (LOPES. Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009. P. 64)
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Falando mais especificamente sobre a alienação dos gentios, o apóstolo enumera as tragédias espirituais envolvidas neste estado. Primeiramente, estes efésios estavam sem Cristo (12; ‘separados de Cristo’, NTLH). Antes de ouvirem e responderem à palavra da graça, eles não tinham ‘parte ou parcela no povo messiânico’, fato que significava que eles não possuíam a esperança do Messias ou qualquer benefício que viesse junto com isto. Sua história era sem Cristo. Não há tragédia maior para o ser humano. Em segundo lugar, eles estavam separados da comunidade de Israel (12). A alienação é expressa aqui por apallotrousthai, que significa essencialmente ‘excluído da’ (BJ) e não mero afastamento temporário de uma agregação anterior. Comunidade (politeia) tem dois sentidos: 1) estado ou nação; e, 2) ‘cidadania’, ou direitos de cidadão. O primeiro significado está de acordo com a exclusividade nacional dos judeus. Os gentios estavam fora da comunidade do povo de Deus, com exceção de alguns prosélitos” (HOWARD, R. E.; TAYLOR, Willard H.; KNIGHT, John A. (et al). Comentário Bíblico Bacon: Gálatas a Filemom. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 139).

  III. SEM ESPERANÇA E SEM DEUS
Agora Paulo passa a descrever a situação dos gentios que viviam “não tendo esperança e sem Deus no mundo” (2.12).
1. Desprovidos de esperança. A palavra esperança traz a ideia de “confiança” e, nas Escrituras, o seu principal uso está ligado à confiança nas promessas divinas (Sl 130.5; Jr 17.7). Podemos afirmar que os gentios eram desprovidos dessa esperança por causa de parte da filosofia grega, que descartava a possibilidade de uma vida além-túmulo (At 17.18,32), e que, consequentemente, pudesse ser ditosa. Além dessa questão, embora Deus tivesse decretado incluir os gentios no plano da salvação, eles mesmos ignoravam essa promessa, e, por isso, não tinham em que sustentar qualquer esperança (1 Co 9.10). Como a esperança é a âncora para a alma, os gentios desprovidos dela padeciam de medo e incertezas (Hb 6.18,19; 2 Co 7.10). Por conseguinte, a falta de esperança e de paz revelava a ausência de Deus. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
Eles não tinham "esperança" porque não haviam recebido nenhuma promessa divina. Eles estavam "sem Deus no mundo". Embora os gentios tivessem muitos deuses, não reconheciam o verdadeiro Deus porque não o queriam (Rm 1.18-26).
“Os gentios estavam sem esperança e sem Deus no mundo. A gente fala frequentemente dos gregos como do povo mais esplendoroso da história; mas no fundo de tudo havia uma melancolia grega e se vivia uma espécie de desespero essencial. Isto era assim dos longínquos tempos do Homero. Na Ilíada (6:146-143) quando Glauco e Diomedes se enfrentam em combate singular, antes de trançar-se em luta Diomedes quer conhecer a linhagem de Glauco, quem responde: "Por que me pergunta sobre minha geração? Tal como as gerações das folhas são as gerações humanas; as folhas que foram arrastadas sobre a terra pelos ventos e os bosques voltem a brotar ao aproximar-se a primavera. Assim são as gerações humanas: uma nasce e outra termina". É verdade que os gentios viviam sem esperança porque estavam sem Deus. Israel pelo contrário manteve sempre uma esperança luminosa e radiante em Deus, que brilhou com claridade e em forma inextinguível até nos dias mais terríveis e escuros. O gentio enquanto isso experimentava em seu coração o desespero antes que Cristo viesse para dar-lhe esperança em sua desesperança.” Efésios (William Barclay), p. 59, 60.
2. Sem Deus no mundo. A expressão “sem Deus” não significa que os gentios não serviam ou não acreditavam numa divindade (1 Co 8.4; Gl 4.8). Ao contrário, eles eram politeístas e idólatras, pois acreditavam e adoravam a muitos “deuses”. Assim, por meio de seu paganismo, estavam alienados do Deus que havia se revelado a Israel (Êx 19.1-16). Isso significa dizer que suas vidas eram regidas pela falsa ideia de divindades pagãs que as mantinham escravizadas em densas trevas espirituais. Trata-se de uma descrição de um quadro calamitoso. Entretanto, e felizmente, esse quadro foi alterado pela intervenção dos desígnios eternos do verdadeiro Deus (Jo 17.3). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
“Os gentios viviam sem Deus no mundo. Quem não tem Deus não tem esperança. Embora Paulo tenha usado a palavra grega atheoi, não devemos concluir que os gentios eram ateus. Eles tinham muitos deuses (Atos 17.16-23; ICo 8.5), mas não conheciam o Deus verdadeiro nem tinham relação alguma com ele (ICo 8.4-6). Seus deuses eram vingativos e caprichosos. Eles viviam sob o tacão das ameaças e debaixo da ditadura do medo. Eles não conheciam o Deus criador, sustentador, redentor e consolador. Curtis Vaughan diz corretamente que olhar para o futuro sem esperança já é algo terrível; mas não ter no coração a fé em Deus é inexprimivelmente trágico” (LOPES. Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009. p. 63 e 64)
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“A quarta tragédia espiritual, em consequência da anterior, é que estes efésios não possuíam esperança e estavam sem Deus (12). A ruína moral e espiritual de tais gentios era completa. Eles não tinham esperança do ‘triunfo final da justiça e amor divino; para eles, as questões finais da história do mundo eram sombrias, preocupantes e incertas. A época de ouro deles estava no passado e irremediavelmente perdida, ao passo que a época de ouro do povo judeu estava no futuro’. Alguém observou que precisamos de uma esperança infinita, que só a fé em Deus pode dar. Westcott repara no patético da estranha combinação sem Deus (atheoi, ‘ateus’) e sem esperança. Eles enfrentavam a natureza e a vida sem esperança, porque não tinham relação com o Intérprete da natureza e da vida. Wescott afirma que ‘os gentios tinham ‘muitos deuses’ e ‘muitos senhores’, e um Deus como ‘causa primeira’ nas teorias filosóficas, mas nenhum Deus que amasse os homens e a quem os homens pudessem amar” (HOWARD, R. E.; TAYLOR, Willard H.; KNIGHT, John A. (et al). Comentário Bíblico Bacon: Gálatas a Filemom. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 139).
  CONCLUSÃO
Noutro tempo éramos incircuncisos e estávamos excluídos da aliança com Deus. Separados de Cristo e de Israel vivíamos alienados ao concerto da promessa, desesperançados e longe de Deus. Um dia, porém, a magnitude do amor divino circuncidou os nossos corações, aproximou-nos de Cristo e de Israel, incluiu-nos na esperança da promessa e revelou a nós o único e verdadeiro Deus. Bendito seja o seu santo nome para sempre! [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 6, 10 Maio, 2020]
Em Efésios Paulo ensina sobre a graciosa intervenção de Deus em favor de pecadores perdidos. Somos redimidos por quatro atividades que Deus realizou em nosso favor, salvando-nos das consequências dos nossos pecados. Deus oferece vida aos mortos, libertação aos cativos e perdão aos condenados. Paulo, agora, contrasta o que somos por natureza com o que somos pela graça, a condição humana com a compaixão divina, a ira de Deus com o amor de Deus.
  
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br

sábado, 2 de maio de 2020

LIÇÃO 5: LIBERTOS DO PECADO PARA UMA NOVA VIDA EM CRISTO


  

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
LIBERTOS DO PECADO PARA UMA NOVA VIDA EM CRISTO

O capítulo 2 de Efésios mostra o processo de libertação do pecador para uma nova vida em Cristo. Assim, a presente lição procura revelar a graça salvadora de Jesus Cristo que nos garante a vida eterna. A libertação do pecado só foi possível por causa dessa graça. 
Para mostrar esse processo de libertação do pecado, reflita com a classe sobre a natureza pecaminosa do homem, morta em delitos e pecados; em seguida, explique que a graça de Deus vivificou-nos, transformando a nossa natureza para agora sermos inclinados às coisas celestiais; e, finalmente, afirme que a nossa salvação não vem de obras, mas de Deus pela sua graça salvadora. 

Resumo da lição

A graça salvadora de Cristo nos garante a vida eterna. Esse ponto é central em nossa lição. Por esse motivo, o primeiro tópico faz uma reflexão acerca da antiga natureza humana morta em delitos e pecados. Ele mostra que a nossa condição diante de Deus era caótica, éramos escravos e estávamos condenados à perdição e morte eterna. Isso significa que o pecado não consiste apenas em atos isolados, mas numa realidade que se revela na natureza má dentro da pessoa.
Entretanto, Deus não ficou passivo diante de morte do ser humano em ofensas e pecados. O segundo tópico explica que fomos vivificados pela graça divina. O pecador passou da morte para a vida por meio da graça de Deus, que nos foi concedida por obra da misericórdia e do grande amor de Deus. Tudo isso foi possível pela graça mediante a fé (Ef 2.8). Nesse caso, não há salvação se o homem não crer no Filho de Deus (Jo 3.16), pois sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11.6).
Assim, se a salvação é pela graça por meio da fé, o terceiro tópico afirmará que ela não vem pelas obras, pois estas não são o meio, mas o resultado da salvação pela graça. 

Aplicação

Deixe claro para a classe que não há qualquer esforço próprio ou ritual que nos garanta a salvação. Somos salvos pela graça mediante a fé somente (Ef 2.8). Essa graça se revelou em Cristo Jesus, conforme a sua obra completa. Na ação da graça de Deus leva-se em conta o chamado ao arrependimento e à fé. Quem torna possível a resposta a esse chamado é a obra do Espírito Santo que convence o mundo do pecado, e da justiça e do juízo (Jo 16.8). Assim, regenerados pelo Espírito Santo, estamos habilitados a produzir boas obras (Ef 2.10).

Subsídio extraído da Revista Ensinador Cristão - Ano 21 nº81 (Jan/Fev/Mar)

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Nesta lição iremos estudar sobre a natureza pecaminosa que passou a existir na humanidade após a queda de Adão, no Éden. Veremos também o poder regenerador da Graça de Deus para o homem caído. Por fim, elencaremos as bençãos da nova vida em Cristo para todo aquele que aceita Jesus como Salvador.
I – A NATUREZA PECAMINOSA DO HOMEM
A queda do primeiro homem no Éden legou uma natureza pecaminosa que escravizou não somente Adão, mas toda humanidade. O ser humano passou a ser escravo e precisa de libertação da parte de Deus. Mesmo nessa terrível condição, a palavra do Senhor demonstra que se o homem responder positivamente a Deus, alcança libertação e uma nova vida em Cristo. Notemos:
1.1 A natureza pecaminosa foi herdada. Quando Adão pecou toda humanidade pecou nele (Rm 5.12), pois ele era o representante de toda raça humana (Rm 3.23; 5.12-19). Logo, a herança que recebemos de nossos primeiros pais foi a natureza pecaminosa, de forma que todos somos pecadores e culpados diante de Deus (Sl 51.5; Rm 6.6,12, 19; 7.5,18; 2Co 1.17; Gl 5.13; Ef 2.3; Cl 2.11,18). O que se entende por natureza no contexto desse estudo? É aquilo que é inato em cada pessoa, isto é, nasce com ela [...]. Portanto, não há criatura humana neste mundo que não tenha nascido com uma “natureza corrompida”. Por isso, toda criatura constitui-se pecadora diante de Deus, visto que o pecado em si é herança comum de todas as criaturas sobre a terra (GILBERTO, 2008, p. 319). Até um bebê recém-nascido (Sl 51.5), antes mesmo de cometer o seu primeiro pecado, já é pecador (Sl 58.3; Pv 22.15); no entanto, as crianças apesar de nascerem com natureza pecaminosa ainda não conhecem experimentalmente o pecado. Elas não são responsabilizadas por seus atos antes de terem condições morais e intelectuais para discernir entre o bem e o mal, o certo e o errado (Is 7.15; Jn 4.11; Rm 9.11). O sacrifício de Jesus proveu salvação a todas as pessoas, até mesmo às crianças que falecerem na fase da inocência (SOARES, 2017, p. 92 – grifo nosso).
1.2 O estado pecaminoso do homem. O homem foi criado reto (Ec. 7.29), porém o pecado maculou essa natureza criada por Deus de maneira que a “corrupção do gênero humano atingiu o homem em toda a sua composição: corpo (Rm 8.10), alma (Rm 2.9) e espírito (2Co 7.1). Isso prejudicou todas as suas faculdades, quais sejam: intelecto (Is 1.3), emoção (Jr 17.9), vontade (Ef 4.18), consciência (1Co 8.7), razão (Tt 1.15) e liberdade (Tt 3.3)” (SOARES, 2017, p. 101). Por isso, a Bíblia descreve o estado do ser humano como: (a) mortos em ofensas e pecados (Ef.2.1); (b) andando segundo o curso perverso de mundo (Ef. 2.2); (c) entenebrecidos no entendimento (Ef. 4.18); (d) cegos (2 Co 4.4); (e) preso pelos laços do Diabo (2Tm 2.26); e, (f) impossibilitado de salva-se pelos seus próprios esforços (Jo 8.34; Rm 6.16), pois tornou-se escravo do pecado. Esse triste estado espiritual é retratado pelo profeta Isaías como um corpo todo ferido (Is.1.6) e reafirmado pelo apóstolo Paulo quando escreveu aos Romanos (Rm 3.11 -18). Essa é a razão da palavra do Senhor dizer que não há nenhum justo sobre a Terra (Sl 14.2,3), e que todas as nossas justiças humanas são consideradas como trapos de imundícias (Is 64.6). Somente o Senhor Jesus pode retirar o homem desse estado caído e degradante (Mt 18.11; Mt 20.28; Lc 19.10; 26.26-28; Jo 3.16,17; 15.13).
1.3 A natureza pecaminosa não exclui o livre arbítrio. Mesmo afastado de Deus (Rm 3.23), com uma natureza humana maculada pelo pecado, e escravo do pecado (Rm 6.20; Gl 5.19 -21) o homem não é impedido de ouvir a voz de Deus. Quando Adão pecou Deus teve a iniciativa de procurá-lo (Gn 3.9), de interrogá-lo e oferecer vestes novas (Gn 3.21). O Senhor disse a Caim: “...o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”. (Gn 4:7; 8-14). Isso demonstra que mesmo o homem tendo sua volição (vontade) afetada pelo pecado, não foi anulada (Dt 30.19; Js 24.15; Rm 1.18-20; 2.14,15). O texto bíblico deixa muito claro que o homem ainda tem livre-arbítrio para rejeitar esta graça, quando diz: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1.11). Podemos encontrar várias referências que demonstra-nos a existência do livre-arbítrio após a queda de Adão (Dt 30.15,19; Mt 3.2; 4.17; 16.24; 23.37; Mc 8.35; Lc 7.30; Jo 5.40; 6.37; 7.17; 15.7; At 3.19; 17.30; Rm 10.13; 1Tm 1.19; 1Co 10.12; 2Co 8.3,4; 1Jo 3.23; Ap 3.20). Cabe ao homem, portanto, cooperar com Deus, cooperar com esta graça, uma vez que o primeiro passo já foi dado: “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós” (Tg 4.8). Por pior que seja o estado do pecador ele pode responder, por seu livre-arbítrio, positiva ou negativamente ao chamado de Deus.
II – O PODER REGENERADOR DA GRAÇA DE DEUS
Deus é a fonte da graça, um favor imerecido concedido ao homem, por isso que somente o Senhor tem poder de regenerar o ser humano caído dando-lhe uma nova vida em Cristo Jesus (2Co 5.17). Notemos então:
2.1 Deus a fonte da graça. A graça procede soberanamente de Deus, isto porque o favor lhe pertence e vem dEle, como sua fonte originária (1Co 15.10; Tt 2.11; 1Pd 5.10). A graça de Deus brilhou sobre os que estavam nas trevas e na sombra da morte (Mt 4.2; Lc 1.79; At 27.20; Tt 3.4). “A graça divina é, então, Deus mesmo renunciando ao exercício do justo castigo por sua livre e soberana decisão” (ALMEIDA, 1996, p. 28).
2.2 A salvação é pela graça. O Homem pelos próprios méritos não pode obter jamais o perdão de seus pecados e por conseguinte a salvação. Somente Deus tem esse poder de perdoar (Is 1.18; 43.25; 55.7; Mq 7.18-19; Mc 2.10). Por isso, que no ato da salvação a iniciativa primeira é sempre a Deus: “Por que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho...” (Jo 3.16). Disto resulta a Graça, um favor imerecido ao pecador (Rm 3.24; 11.6; Ef 2.5.7-8). O apóstolo Paulo argumenta aos romanos que a salvação é concedida sem o homem merecer (Rm 4.4,5). Na epístola aos efésios o Apóstolo declara: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef.2.8). Não há nada que o homem faça para o tornar digno de ser salvo, pois a graça aniquila qualquer obra que visa receber a salvação por mérito (Ef 2.9). Porém, mesmo assim, o homem não estar isento de responsabilidade perante Deus, pois a graça pode ser resistida pelo pecador (Mt 23.37; At 7.51; 13.46; 17,4; 18.5,6; Hb 3.7,8; 4.7).
2.3 A regeneração é um ato da graça. A regeneração é um dos aspectos da salvação (Tt 3.5) e consiste em ser “um ato divino que concede ao pecador que se arrepende e que crê uma vida nova e mais elevada, mediante a união pessoal com Cristo” (PEARLMAN, 2009, p. 242). E por ser um ato divino, se constitui em um ato resultante da graça de Deus. A regeneração é o milagre que se dá na vida de quem aceita a Cristo, tornando-o participante da vida e natureza divina (1Pd 1.3,23; 2Pd 1.4; 1Jo 3.9; 5.18). Através da regeneração, conhecida também como conversão e novo nascimento, o homem passa a desfrutar de uma nova realidade espiritual” (ANDRADE, 2006, p. 317). Dessa forma, somente Deus pode gerar uma nova vida espiritual no homem; porém, a fé (Mc 16.16; Jo 3.16; Jo 5.14; At 16.31; Rm 1.16; 10.9) e o arrependimento (Mt 3.2; Mc 1.15; Lc 24.47; At 2.38; 3.19; 17.30) são elementos essenciais e que precedem, vem antes, do novo nascimento, e não o contrário.
III – AS BENÇÃOS DA NOVA VIDA EM CRISTO
Quando um homem é transformado pelo poder do Evangelho (Rm 1.16) aquela vida velha fica para traz e tudo se faz novo (2Co 5.17). É uma nova realidade diante de Deus e dos homens. E as bençãos espirituais que acompanham essa nova vida são:
3.1 Paz com Deus. Em pecado o homem encontra-se na condição de inimigo de Deus: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus [...]” (Rm 8.7); mas através da fé na morte de Cristo, temos paz com Deus, como resultado da justificação: “[...] justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1; ver Ef 2.14-17).
3.2 Acesso ao Pai. O homem caído em pecado encontra-se distante de Deus (Ef 2.13-a), devido a parede de separação que é resultado da transgressão humana: “Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça” (Is 59.2). Mas Cristo, ao se oferecer como sacrífico expiatório, nos garante acesso a presença de Deus (Jo 14.6; Ef 2.18; Hb 10.19-22).
3.3 Filiação divina. Após a queda, todos por natureza são filhos da ira (Ef 2.3), sob a influência do mundo e escravos dos desejos da carne (Ef 2.2), tendo como pai o diabo (Jo 8.40,41,44). No entanto, no momento em que cremos no Evangelho e confessamos a Cristo como Senhor das nossas vidas, fomos selados com o Espírito Santo (Ef 1.13,14), e esse nos introduziu à família de Deus (Ef 2.19), testificando com nosso espírito que somos filhos de Deus e co herdeiro com Cristo (Rm 8.14-17).
3.4 Glorificação. É o ato ou efeito de glorificar. No plano da salvação, a glorificação é a etapa final a ser atingida por aquele que recebe a Cristo como salvador e Senhor de sua alma (Rm 8.17). No plano da salvação, a glorificação é a etapa final a ser atingida por aquele que recebe a Cristo como Salvador e Senhor de sua alma. O texto de ouro de nossa glorificação encontra-se em I Jo 3.2, que diz: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos”.
CONCLUSÃO
Nesta lição, aprendemos que o homem tem uma natureza pecaminosa que foi recebida por herança do pecado dos nossos primeiros pais. Porém, mesmo afastado de Deus o ser humano pode ouvir a voz do Criador, e atender positivamente. Se assim o fizer, o Senhor gera no pecador arrependido uma nova vida em Cristo Jesus.

Ev. Caramuru Afonso Francisco. Disponível em: https://www.portalebd.org.br
COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

   INTRODUÇÃO
A presente seção da Epístola aos Efésios apresenta relevantes aspectos doutrinários da salvação (2.1-10). Nela, o apóstolo descreve a libertação dos pecados como um favor imerecido dado por Deus aos salvos, a fim de que eles desfrutassem de uma nova vida em Cristo. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
O primeiro capítulo de Efésios acentua o amplo alcance do plano de Deus, o qual inclui o Universo todo e se estende de eternidade a eternidade. O capítulo dois mostra a historificação desse plano na vida de seu povo, por meio da ressurreição espiritual dos crentes. Tendo descrito nossa possessão espiritual em Cristo, Paulo volta-se, agora, para nossa posição em Cristo. Fomos tirados da sepultura e conduzidos ao trono. São quatro grandes obras realizadas na vida do homem que saiu da sepultura para o trono: a obra do pecado contra nós, a obra de Deus por nós, a obra de Deus em nós e a obra de Deus por nosso intermédio. O texto de Efésios em apreço é esclarecedor de quem nós éramos e de quem nós somos depois de Cristo e sua obra redentora em nós!
   I. A ANTIGA NATUREZA MORTA EM OFENSAS E PECADOS
No início da Epístola, o apóstolo Paulo lembra que antes da regeneração estávamos mortos em ofensas, pecados e éramos por natureza “filhos da ira” (2.1-3).
Aqui, Paulo afirma que a Igreja é o povo de Deus chamado da sepultura para o trono!
1. Nossa condição anterior. “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados” diz o primeiro versículo. A palavra “ofensa”, do grego paraptoma, tem o sentido de “passo em falso de forma deliberada”. O termo para pecado é hamartia, o qual descreve como “aquele que erra o alvo”. Em vista disso, o homem em sua natureza decaída é diagnosticado como “morto” (2.1), ou seja, uma declaração da real condição das pessoas sem Deus. O conceito é de morte moral e espiritual provocada pelo pecado, que inevitavelmente separa o homem de Deus (Is 59.2; Tg 1.15). Tal qual um corpo inerte, a natureza pecaminosa impede o homem de ouvir e obedecer à voz de Deus. Quem assim vive está morto enquanto “vive” (1Tm 5.6). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
A palavra grega paraptoma, “transgressão”, quer dizer queda, dar um passo em falso que envolve ultrapassar uma fronteira conhecida ou desviar do caminho certo.
Hamartia, “pecado”, quer dizer errar o alvo, ou seja, ficar aquém de um padrão.
William Barclay afirma que, no Novo Testamento, hamartia não descreve um ato definido de pecado, mas um estado de pecado, do qual dimanam as ações pecaminosas. (Barclay, William. Palabras Griegas Del Nuevo Testamento, p. 91). Diante de Deus somos tanto rebeldes como fracassados. Como resultado disso, estamos mortos.
A afirmativa Tal qual um corpo inerte, a natureza pecaminosa impede o homem de ouvir e obedecer à voz de Deus. Quem assim vive está morto enquanto “vive” (1Tm 5.6) se aproxima da definição calvinista da Depravação Total, a primeira doutrina dos cinco pontos calvinistas e uma das principais doutrinas da graça. Ela afirma que o homem caído é totalmente depravado, ou seja, que o pecado afetou o homem em sua totalidade. Isso significa que cada parte do homem está contaminado pelo pecado (mente, emoção e vontade). Depravação Total não significa que o homem é tão mal quanto poderia ser, mas que o homem não regenerado é incapaz de buscar a Deus ou de praticar qualquer bem espiritual, isto é o que afirma Paulo em Efésios 2.1 com o termo ‘mortos nos vossos delitos e pecados, um lembrete a respeito da total pecaminosidade e perdição das quais os crentes tanto de Éfeso quanto os demais, foram redimidos. "Nos" indica o domínio ou a esfera onde vivem os pecadores não regenerados. Eles não estão mortos por causa dos atos pecaminosos que foram cometidos, mas por causa da natureza pecaminosa deles (Mt 12.35; 15.18-19). A condição do homem é desesperadora sem Deus.
O diagnóstico que Paulo faz se refere ao homem caído em uma sociedade caída em todos os tempos e em todos os lugares. Esse é um retrato da condição humana universal.
Essa morte espiritual não quer dizer que o homem que está morto em seus pecados não possa fazer coisas boas; o homem sem Deus pode levar uma vida moralmente aprovada, civilmente decente e familiarmente responsável, pode ser um bom cidadão, um bom pai, uma boa mãe, um bom filho. Os pecadores podem fazer o bem àqueles que lhes fazem bem (Lc 6.33). Às vezes, os bárbaros revelam “muita bondade” (At 28.2). Paulo está falando de uma morte espiritual. Antes de Cristo, o homem está vivo para as atrações do pecado, mas morto para Deus. O homem é incapaz de entender e apreciar as coisas espirituais. Ele não possui vida espiritual nem pode fazer nada que possa agradar a Deus. Da mesma maneira que a pessoa morta fisicamente não responde a estímulos físicos, também a pessoa morta espiritualmente é incapaz de responder a estímulos espirituais.
2. Nossas ofensas e pecados. A má conduta “em que, noutro tempo, andastes” é descrita por Paulo por meio da metáfora do ato de “andar” (2.2a). Refere-se às atitudes erradas adotadas na vida passada do salvo antes da regeneração:
2.1. “Andastes, segundo o curso deste mundo” (2.2b). Os costumes eram praticados conforme o sistema mundano da época, tais como: a imoralidade, o furto e a mentira (4.22-32). Uma constatação de que o salvo não deve tomar a forma do mundo, relativizar o pecado e muito menos ajustar-se à maneira de viver de seu tempo (Rm 12.2).
2.2. “Andastes, […] segundo o príncipe da potestade do ar” (2.2c). Uma alusão a Satanás que exerce autoridade sobre os poderes do mal (Jo 12.31). Indica que os agentes malignos têm a capacidade de influenciar os homens desobedientes e incrédulos (2Co 4.4). Mais adiante na Carta, Paulo alerta que a nossa luta é contra tais seres do mal (6.12). Contudo, não é necessário temer, pois Deus exaltou Cristo acima de todos eles (1.21).
2.3. “Andávamos fazendo a vontade da carne e dos pensamentos” (2.3). Refere-se à inclinação para fazer o mal, algo inerente à natureza humana (Gn 6.5). Estão incluídos aqui os pensamentos pervertidos e a prática de todos os desejos desordenados da carne. Como resultado, éramos “filhos da ira”, isto é, condenados e desprovidos do favor divino. Paulo sublinha que essa era a nossa condição (4.18). Entretanto, aprouve ao Pai nos eleger e nos predestinar para “filhos de adoção” (1.5). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
Nos quais andastes no passado, no caminho deste mundo, segundo o príncipe do poderio do ar, do espírito que agora age nos filhos da desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamosHá três forças que cada pessoa para se conformar aos seus valores (Rm 12.2). O apóstolo João é enfático ao dizer que quem ama o mundo não pode amar a Deus (IJo 2.15-17). Tiago declara com a mesma ênfase que quem é amigo do mundo é inimigo de Deus (Tg 4.4). Sempre que os homens são de- sumanizados – pela opressão política, econômica, moral e social, vemos a ação do mundo. Trata-se de uma escravidão cultural. As pessoas são escravas desse sistema do mesmo modo que os súditos eram arrastados pelos generais romanos por grossas correntes amarradas no pescoço depois de uma conquista. John Stott esclarece esse ponto com as seguintes palavras:
Sempre que os seres humanos são desumanizados – pela opressão política ou pela tirania burocrática, por um ponto de vista secular (repudiando a Deus), ou amoral (repudiando absolutos), ou materiaJista (glorificando o mercado consumidor), pela pobreza, pela fome ou pelo desemprego, pela discriminação racial ou por qualquer forma de injustiça – aí podemos detectar os valores subumanos do “presente século” e “deste mundo”.
Vejamos acerca do diabo. Trata-se do espírito que atua nos filhos da desobediência. O diabo é o patrono dos desobedientes. Ele rebelou-se contra Deus e deseja que os homens também desobedeçam a Deus. Ele tentou Eva no Éden com a mentira e levou nossos pais à desobediência. O diabo é um inimigo invisível, porém real. Ele não dorme nem tira férias. Ele é violento como um dragão e venenoso como uma serpente. Ele ruge como leão e se apresenta travestido até de anjo de luz. Não podemos subestimar seus desígnios; antes, devemos nos acautelar, sabendo que esse arqui-inimigo veio para roubar, matar e destruir.
Vejamos a respeito da carne. A carne não é o nosso corpo, mas a nossa natureza caída com a qual nascemos (SI 51.5; 58.3) e que deseja controlar a nossa mente e o nosso corpo, levando-nos a desobedecer a Deus. Há um impulso em nosso interior para fazer o mal. O mal não está apenas nas estruturas exteriores a nós, mas, sobretudo, procede do interior do nosso próprio coração. A inclinação da nossa natureza é a inimizade contra Deus. Praticamos o mal porque a inclinação do nosso coração é toda para o mal. O homem não pode mudar sua natureza. O profeta Jeremias pergunta: “Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas pintas? Poderíeis vós fazer o bem, estando treinados para fazer o mal?” (Jr 13.23).
Em terceiro lugar, o homem é depravado (2:3b). “Seguindo os desejos carnais, fazendo a vontade da carne e da mente.” O homem não convertido vive para agradar a vontade da carne e os desejos do pensamento. Suas ações são pecaminosas porque seus desejos são pecaminosos. O homem é escravo do pecado. Ele anda com o pescoço na coleira do diabo e no cabresto do pecado. O homem está em estado de depravação total. Todas as áreas da sua vida foram afetadas pelo pecado: razão, emoção e volição. Isso não quer dizer que o incrédulo não possa fazer o bem natural, social e moral. Ele sensibiliza-se com as causas sociais. Ele compadece-se. Ele ajuda as pessoas. Mas ele não pratica obras com o reconhecimento de que são para a glória de Deus nem com gratidão pela salvação.
John Stott conclui esse ponto dizendo que, antes de Jesus Cristo nos libertar, estávamos sujeitos a influências opressoras tanto internas como externas. No exterior, estava o mundo (a cultura secular prevalecente); no interior, estava a carne (nossa natureza caída); e, além desses dois, operando ativamente por meio dessas influências, havia aquele espírito maligno, o diabo, o príncipe do reino das trevas, que nos mantinha em cativeiro.
Em quarto lugar, o homem está condenado (2.3c). “E éramos por natureza filhos da ira, assim como os demais.” O homem não convertido, por natureza, é filho da ira e, pelas obras, é filho da desobediência. A pessoa incrédula, não salva, já está condenada (Jo 3.18). À parte de Cristo, o homem está morto por causa do pecado, escravizado pelo mundo, pela carne e pelo diabo, além de condenado sob a ira de Deus.112 A ira de Deus é sua reação pessoal frente a qualquer pecado, qualquer rebelião contra ele.113 É sua santa repulsa a tudo aquilo que conspira contra sua santidade. A ira de Deus não é apenas para esta vida, mas também para a era vindoura. Aqueles que vivem debaixo da ira de Deus são entregues a si mesmos pela escolha deliberada que fizeram de rejeitar o conhecimento de Deus e de se entregar a toda sorte de idolatria e devassidão; além disso, terão de suportar por toda a eternidade a manifestação plena do furor do Deus Todo-Poderoso”. (LOPES. Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009. p. 52)
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Ao expor este tópico, faça uma reflexão a respeito da necessidade do novo nascimento como substituição à velha natureza. Para isso, tome por base o seguinte fragmento textual: “O pecado não consiste apenas de ações isoladas, mas também é uma realidade, ou natureza, dentro da pessoa (ver Ef 2.3). O pecado, como natureza, indica a ‘sede’ ou a sua ‘localização’ no interior da pessoa, como a origem imediata dos pecados. Inversamente, é visto na necessidade do novo nascimento, de uma nova natureza a substituir a velha, pecaminosa (Jo 3.3-7; At 3.19; 1 Pe 1.23). Esse fato é revelado na ideia de que regeneração só pode acontecer de fora para dentro da pessoa (Jr 24.7; Ez 11.19; 36.26,27; 37.1-14; 1 Pe 1.3)” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p.286).
  II. VIVIFICADOS PELA GRAÇA
Por ato de bondade e misericórdia, estando nós ainda mortos em pecados, Deus imensamente nos amou e, por isso, nos vivificou por meio de sua graça.
1. Alcançados pela misericórdia e pelo amor divino. Após constatar a situação da humanidade “sob a ira de Deus” (2.3), Paulo passa a descrever os atos divinos de amor e de misericórdia que alteraram o quadro caótico da raça humana. Começando com uma conjunção adversativa, o apóstolo declara exultante: “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou” (2.4). O ato de misericórdia implica compaixão e simpatia para com os indignos (Rm 11.30-32). A Carta aos Efésios ensina que, ao prover à humanidade o meio de escape da merecida ira (cf. 1.7), Deus não se mostra apenas misericordioso, mas “abundante em misericórdia”. E essa riquíssima misericórdia procede do “seu muito amor com que nos amou”. A Bíblia enfatiza que foi a magnitude desse amor que motivou a nossa salvação (Jo 3.16; 1Jo 4.9). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
Na afirmativa “Paulo passa a descrever os atos divinos de amor e de misericórdia que alteraram o quadro caótico da raça humana”, há necessidade de se esclarecer o ponto de que Deus altera o quadro caótico da raça humana. Isso porque o homem irregenerado permanece debaixo da ira de Deus! Se permanece, seu quadro não mudou! A mudança de estado ocorre somente na vida daquele que crê, os demais, permanecem sujeitos a danação eterna se não depositarem fé em Cristo Jesus - “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem. Do céu olha o Senhor para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.” Salmo 14.1-3.
Somos redimidos por quatro atividades que Deus realizou em nosso favor, salvando-nos das consequências dos nossos pecados. Deus oferece vida aos mortos, libertação aos cativos e perdão aos condenados. Paulo, agora, contrasta o que somos por natureza com o que somos pela graça, a condição humana com a compaixão divina, a ira de Deus com o amor de Deus. Curtis Vaughan afirma com acerto que, nesse parágrafo, Paulo, admiravelmente, mostra-nos o contraste entre a condição atual dos crentes e sua condição anterior. Antes, eles eram objeto da ira de Deus; agora, são beneficiários de sua misericórdia (2.4). Antes, eles estavam presos pelas garras da morte espiritual; agora, ressuscitaram para uma vida nova (2.5,6). Antes, eles eram escravos do pecado; agora, são salvos pela graça de Deus (2.5). Antes, eles caminhavam pela estrada dos desobedientes; agora, usufruem da companhia de Deus (2.5,6)” (LOPES. Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009. p. 53)
2. Vivificados por sua graça. Descrevendo as dádivas divinamente concedidas aos salvos, o apóstolo enfatiza que o amor de Deus nos alcançou “estando nós ainda mortos em nossas ofensas” (2.5a). Isso significa que não éramos merecedores desse amor, mas que, mesmo assim, Deus “nos vivificou juntamente com Cristo” (2.5b). Essa frase quer dizer que nascemos de novo (Jo 3.3). Não estamos mais mortos, pois Cristo nos deu vida outra vez. Fomos vivificados sem mérito algum, tudo foi efetivado por meio da sua graça, o favor imerecido (2.8,9). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
Mais do que qualquer outra coisa, uma pessoa morta espiritualmente precisa ser vivificada por Deus. A salvação traz vida espiritual ao morto, O poder que ressuscita os cristãos da morte e os vivifica (Rm 6.1-7) é o mesmo poder que energiza todos os aspectos da vida cristã (Rm 6.11-13). Deus tirou-nos da sepultura espiritual em que o pecado nos havia posto. Deus realizou uma poderosa ressurreição espiritual em nós por meio do poder do Espírito Santo. Quando cremos em Cristo, passamos da morte para a vida (Jo 5.24). Recebemos vida nova: a vida de Deus em nós.
3. Exaltados por sua graça. O apóstolo dos gentios ainda destaca que o poder de Deus “nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo” (2.6). Observe que a palavra “juntamente” indica que Deus concede ao homem os mesmos benefícios alcançados por Cristo: a ressurreição, a vida eterna e o galardão nos céus (1Co 15.3-8,20-25). Assim, ao conceder tais bênçãos aos homens, Deus mostrou as “abundantes riquezas da sua graça” (2.7). Desse modo, ratificamos que a salvação e seus privilégios são conferidos pela imensurável graça de Deus, o favor divino imerecido. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
O tempo verbal de "ressuscitou" e "fez" indica serem esses os resultados imediatos e diretos da salvação. O cristão não só está morto para o pecado e vivo para a justiça por meio da ressurreição de Cristo, mas ele também desfruta da exaltação do Senhor e compartilha de sua glória preeminente. Não só saímos da sepultura e fomos ressuscitados, mas também fomos exaltados. Porque estamos unidos a Cristo, somos exaltados com ele. Agora, assentamo-nos com ele nas regiões celestiais, acima de todo principado e potestade. As três fases da exaltação de Cristo — ressurreição, ascensão e assentar-se no trono — agora são repetidas na vida dos salvos — em Cristo, Deus deu-nos vida (2.5), ressuscitou-nos (2.6a) e fez-nos assentar nas regiões celestiais (2.6b). Esses três eventos históricos — “deu-nos vida”, “ressuscitou-nos” e “fez-nos assentar” — são os degraus da exaltação!
O último propósito de Deus em nossa salvação é que por toda a eternidade a igreja possa glorificar sua graça (Ef 1.6,12,14). A meta principal de Deus na nossa salvação é sua própria glória. O Pr Americano John Stott em seu livro “A mensagem de Efésios”, diz que “não podemos empertigar-nos no céu como pavões. O céu está cheio das façanhas de Cristo e dos louvores de Deus. Realmente, haverá uma demonstração no céu. Não uma demonstração de nós mesmos, mas, sim, uma demonstração da incomparável riqueza da graça, da misericórdia e da bondade de Deus por meio de Jesus Cristo” (Stott, John. A mensagem de Efésios, p. 56).
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Somos salvos pela graça mediante a fé (Ef 2.8). Crer no Filho de Deus leva à vida eterna (Jo 3.16). Sem fé, não poderemos agradar a Deus (Hb 11.6). A fé, portanto, é a atitude da nossa dependência confiante e obediente em Deus e na sua fidelidade. Essa fé caracteriza todo filho de Deus fiel. É o nosso sangue espiritual (Gl 2.20).
Pode-se argumentar que a fé salvífica é um dom de Deus, até mesmo dizer que a presença de anseios religiosos, inclusive entre os pagãos, nada tem a ver com a presença ou exercício da fé. A maioria dos evangélicos, no entanto, afirma semelhantes anseios, universalmente presentes, constituem-se evidências favoráveis à existência de um Deus, a quem se dirigem. Seriam tais anseios inválidos em si mesmos, à parte da atividade divina direta?” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p.370).
  III. A SALVAÇÃO NÃO VEM DAS OBRAS
Em Efésios 2.8-10, Paulo revela que a salvação não depende de obras humanas, “porque pela graça sois salvos, por meio da fé” (2.8a). Porém, uma vez salvo, o crente deve praticar as boas obras.
As boas obras não podem gerar a salvação, mas são subsequentes e resultam dos frutos concedidos por Deus e evidências deles (Jo 15.8; Fp 2.12-13; 2Tm 3.17; Tt 2.14; Tg 2.16-26).
1. Graça como meio de salvação. A “salvação” inclui a libertação da morte, da escravidão do pecado e da ira vindoura; ao mesmo tempo permite ao salvo desfrutar de todas as bênçãos espirituais descritas em Efésios 2.1-7. Portanto, a salvação é o livramento do poder da maldição do pecado e da morte; e a restituição do homem à comunhão com Deus, uma bênção concedida a todos que recebem Cristo como Salvador (Hb 2.15; 2Co 5.19). A palavra “graça” é a tradução do grego charis, que significa “favor imerecido” (Rm 3.24). Ela mostra que a iniciativa para tornar possível a salvação veio da parte Deus. É por meio da graça que Deus ativa o livre-arbítrio e capacita o pecador para que responda com fé ao chamado do Evangelho (Rm 11.6). Todavia, ainda assim o ser humano é livre para escolher entre dois caminhos (salvação e perdição); sua liberdade não foi eliminada e a graça pode ser resistida (Jo 7.17). A “fé” deve ser considerada como a aceitação da obra realizada por Cristo em nosso favor. Ela é a resposta à graça de Deus através da qual recebemos a salvação. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
O Artigo IV da Remonstrância repudia o conceito calvinista de graça irresistível, alegando que a humanidade tem livre-arbítrio para resistir à graça de Deus.
A salvação é um presente, não uma recompensa. Ela é pela graça, mas também “por meio da fé”. É a graça que nos salva pela instrumentalidade da fé. É muito importante ressaltar que Paulo não está falando de qualquer tipo de fé. A questão não é a fé, mas o objeto da fé. Não é fé na fé. Não é fé nos ídolos. Não é fé nos ancestrais. Não é fé na confissão positiva. Não é fé nos méritos. E fé em Cristo, o Salvador!
2. Obras como evidência de salvação. Aqui Paulo usa duas negações para endossar a origem da salvação: a primeira expressão “isso não vem de vós” (2.8b) trata da salvação pela graça que provém de Deus; a segunda ratifica que a salvação “não vem das obras”, o que indica não se tratar de recompensa de algum ato humano. Essas afirmações excluem a possibilidade de alguém ser salvo por esforço pessoal. Como a salvação é uma realização divina, agora “somos feitura sua, criados em Cristo para as boas obras” (2.10). Uma transformação ocorreu: Agora em Cristo somos uma nova criatura e as coisas velhas passaram (2Co 5.17). Por isso, se antes o apóstolo usou a metáfora do andar numa perspectiva negativa — “outrora andávamos fazendo obras más” (2.2-3) — agora, por meio de uma perspectiva positiva, somos instados a “andar fazendo boas obras”, não como meio para ser salvo, mas como a evidência da salvação (2.10c). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
A salvação não pode ser pelas obras, porque a obra da salvação já foi plenamente realizada por Cristo na cruz (Jo 19.30). Não podemos acrescentar mais nada à obra completa de Cristo. Agora não existe mais necessidade de sacrifícios e rituais. Fomos reconciliados com Deus. O véu do templo foi rasgado. Pela graça, somos salvos. Tanto a fé como a salvação são dádivas de Deus.
Segundo os ensinos de Paulo, ini­cialmente quem justifica o homem é Deus, através de seus meios, a sa­ber: a graça, o sangue e a ressurrei­ção de Cristo. Portanto, o pecador é justificado pela fé na obra redentora de Cristo (Rm 3.23,24). Na aborda­gem de Tiago, as obras, consequências da fé, servem para evidenciar o processo de justificação do homem. Ou seja, destacar o aspecto visível. A fé coopera com as obras e estas aperfeiçoam a fé (v.24):
Há quem veja, nas Escrituras, um provável conflito entre os escritos de Paulo e os de Tiago, com relação à justificação - se somente pela fé ou também pelas obras. Como veremos no estudo desta lição, a Bíblia não tem discrepâncias. As possíveis divergên­cias são aparentes, e se desfazem sob o estudo cuidadoso dos textos.” (Extraído de: http://www.ebdareiabranca.com/EpistolaTiago/tlicao06Ajuda02.htm).
3. Cristo exaltado sobremaneira. Nesse ponto, Paulo ensina que o poder de Deus exaltou Cristo “acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia” (1.21). Significa que Ele foi exaltado acima de toda eminência do bem e do mal e de todo título que se possa conferir nessa era e também no porvir. O resultado desse triunfo traz duplo benefício para a Igreja: primeiro, que Deus fez Cristo o cabeça da Igreja (1.22); e, segundo, que Deus designou a Igreja para ser a expressão plena de Cristo (1.23). Isso significa que nenhum poder pode prevalecer contra a Igreja do Senhor (Mt 16.18). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
No texto que se inicia em 1.15 e se estende até o verso 23, Paulo ora pelos crentes, chegando no verso 21 ele expressa seu desejo de que os crentes entendessem a grandeza de Deus comparada a outros seres celestiais. "Principado, potestade, poder e domínio" eram os termos tradicionais judaicos para designar seres angelicais que tinham uma alta posição no exército de Deus. Deus está acima deles todos (Ap 20.10-15). No verso 22, Paulo faz uma citação do SI 8.6, indicando que Deus exaltou a Cristo sobre todas as coisas (Hb 2.8), incluindo a sua igreja (Cl 1.18). Cristo é, claramente, o cabeça dominante (não a "fonte") porque todas as coisas foram colocadas sob seus pés.
O poder que atua nos crentes é o poder da ressurreição. E o poder que ressuscitou a Cristo dentre os mortos, assentou-o à direita de Deus e lhe deu a soberania sobre o Universo inteiro. Esse poder é como um caudal impetuoso que arrasta com sua força os obstáculos que encontra pelo caminho. A “direita” de Deus é uma figura de linguagem indicando o lugar de supremo privilégio e autoridade. A mais alta honra e autoridade no Universo foi tributada a Cristo (Mt 28.18). Ele foi entronizado acima de todo principado e autoridade. (1.21). Cristo domina sobre todos os seres inteligentes, bons e maus, angelicais e demoníacos. Em segundo lugar, o domínio universal de Cristo (1.22). A exaltação de Cristo abrange o soberano domínio sobre toda a criação. A cabeça que um dia foi coroada com espinhos leva agora o diadema da soberania universal.90 Todas as coisas estão sujeitas a Cristo. Todo o joelho se dobra diante dele no céu, na terra e debaixo da terra (Fp 2.9-11). Tanto a igreja como o Universo têm em Cristo o mesmo Cabeça. Todas as coisas estão debaixo dos seus pés. Isso significa que tudo está sujeito e subordinado a ele. As palavras implicam absoluta sujeição. A mais alta honra e autoridade no Universo foi tributada a Cristo (Mt 28.18).91” (LOPES. Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009. P. 43 e 44)
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Nenhuma medida de esforço próprio ou de devoção religiosa pode realizar o que está descrito acima. Pelo contrário, ‘pela graça sois salvos por meio da fé – e isso não vem de vós; é dom de Deus’ (2.8). A ação da graça de Deus está centrada em seu Filho – sua morte, ressurreição e entronização no céu como Senhor. Em relação à demonstração de sua graça, primeiramente vem o chamado ao arrependimento e à fé (At 2.38). Através dessa convocação, o Espírito Santo torna a pessoa capaz de responder à graça de Deus através da fé. Aqueles que por meio da fé respondem ao Senhor Jesus Cristo ‘são vivificados juntamente com Cristo’ (2.5). São regenerados ou nascidos de novo por obra do Espírito Santo (Jo 3.3-8). São ressuscitados e assentados com Cristo no reino celestial e continuam a receber a graça por sua união com Ele, que é a fonte do poder. Isso os torna capazes de resistir ao pecado e de viver de acordo com o Espírito Santo (Rm 8.13,14). Os crentes, então, passam a servir a Deus e praticar ‘boas obras’ (Ef 2.10; cf. 2 Co 9.8) por causa da graça que opera em cada um (1 Co 15.10)” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol.2. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.413).
  CONCLUSÃO
Antes da regeneração éramos “filhos da ira” e condenados à perdição eterna. Por ato do amor divino, por meio de sua maravilhosa graça, nos tornamos “filhos por adoção”. Essa gloriosa salvação nos foi concedida independente de nossas obras. A partir da salvação passamos a praticar boas obras que glorificam a Deus nosso Pai (Mt 5.16). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 5, 3 Maio, 2020]
A Graça de Deus que nos foi ofertada envolve amor, bondade, sabedoria, misericórdia, perdão e justiça. Alcançamos Graça quando cremos, por meio da pregação do Evangelho, que Jesus é o Senhor. Ou seja, a salvação chegou pela fé e não pelos esforços humanos. Não foi por boas obras que por ventura tenhamos praticado. No entanto, Paulo afirma que, a evidência de que realmente fomos alcançados pela graça salvadora, é a produção de boas obras, colocar em prática o exercício das verdades bíblicas.
No sentido comum, obras são realizações, execuções, ações, procedimentos, atuações, hu­manas. No sentido bíblico, temos acepções como "as obras de Deus", que indicam aquilo que foi e continua sendo feito por Deus (Jo 1.3; 5.17;C11.16; Hb 1.2); "obras da carne", (Gl 5.19-21); e "obras da lei" (Rm 3.20), as quais, no sentido da lição em estudo, tratam-se de obras humanas como meio de salvação, como práticas religiosas, orações, penitência, sacrifícios, flagelações, privações, enclausuramento, filantropia, doações, etc. Tiago afirma categoricamente que "a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma" (Tg 2.17). Paulo, toma o exemplo de Abraão, destacando o aspecto visível da fé do patriarca, quando ofereceu seu filho para ser imolado (v.21), acentuando que a fé cooperou com as obras e estas aperfeiçoaram a fé, concluindo que "o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé" (Tg 2.24).

Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br