INTRODUÇÃO
A partir do capítulo
7 de Mateus, tem-se o começo da última seção do Sermão do Monte.
Ainda que boa parte dos leitores do Novo
Testamento salientem que não há boa coadunação
entre as partes presentes nele,
vendo-o como apotegma, creio particularmente que no seu teor há plena conexão do todo com as partes envolvendo uma temática só: julgamento, por intermédio das palavras do
divino mestre Jesus são sempre reforçadas orbitando em torno desse tema.
Se Jesus tivesse
começado seu sermão
pelo capítulo 7, não ficaria algo desconexo, sem muito
sentido, porém, se analisarmos desde o capítulo 5 até aqui, logo compreenderemos o que realmente
Ele estava buscando propor, que era ensinar princípios valiosos
para se viver como verdadeiro filhos do Reino.
Jesus, em Mateus 5, falou sobre o caráter de seus seguidores, como eles realmente devem ser em essência, ressaltou a importância de cada um ser sal e luz neste mundo, como desenvolver as práticas da vida religiosa sem hipocrisia, pois Deus vê tudo; opôs-se à forma como a Lei era interpretada pelos escribas, esperando que seus novos discípulos expressassem uma justiça melhor daquela que os fariseus tinham (Mt 5.20). Nosso Mestre prossegue mostrando que, em relação aos bens materiais, o cristão precisa saber que seuPai providenciará o necessário para a sua sobrevivência.
Em nossa caminhada para as mansões celestiais, devemos ser conscientes de que estamos constantemente sendo observados, primeiramente, por Deus, em segundo lugar, por outras pessoas. É claro, o mais importante é quanto ao que Deus pensa de nós, por que dEle virá o perfeito julgamento (1Co 4.4). No entanto, Paulo nos lembra que aquilo que as pessoas pensam de nós, como nos julgam, também merece ser levado em consideração: “Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo” (1 Co 3.7, ARA).
NÃO DEVEMOS JULGAR O OUTRO
Aprendendo a se relacionar com os outros – Nós sabemos que mesmo sendo servos de Cristo, vivendo em uma dimensão espiritual, somos seres humanos comuns, de modo que precisamos viver em sociedade nos comunicando e sociabilizando uns com os outros. O salmista disse que é bom vivermos em comunhão (Sl 133.1). Cristo falou que a nossa unidade é uma grande prova de que vivemos a verdadeira fé (Jo 17.21). O mundo tem o seu conceito de socialização, de como as pessoas podem se relacionar umas com as outras, é claro, elas não enfatizam o lado do relacionamento firmado na fé em Cristo Jesus, mesmo assim buscam socializar-se bem uns com os outros.
Para se relacionar bem com todos, a primeira coisa que se faz necessária é o cristão ser dominado pelos ensinos de Cristo e viver segundo a vocação da fé, isto é, o cristão procurar viver a vida como cristão. Quando essa verdade é assente no coração do salvo, ele procura relacionar-se bem com Deus e com o próximo. Paulo sabia muito bem que cada pessoa tem um dom, temperamentos diferentes, porém, quando envolvesse relacionamentos, se cada cristão tivesse consciência de que está vivendo a vocação espiritual e a fé em Jesus, seria o suficiente.
Vivendo a fé em Cristo todo o Corpo, isto é, a Igreja, é bem ajustado, todo o trabalho a ser feito será realizado sem competitividade, desprezo para com o próximo, sem julgamentos precipitados, sem críticas infundadas, porquanto o que se procura é desenvolver cada vez mais a vocação cristã. Os que vivem a fé verdadeira em Cristo Jesus buscam desenvolver os melhores ideais, objetivam na prática a comunhão perfeita com todos, dado que vivem como Jesus Cristo viveu, amando a todos, e o conselho de Paulo é que tenhamos esse mesmo sentimento (Fp 2.5).
Ninguém deve ser julgado? – Em momento algum, quando lemos Mateus 7.1, emana dos lábios de Jesus que um julgamento não deve ser feito. Na verdade, Ele não quer que sejamos neutros nas questões morais. O que Cristo objetivava era alertar quanto ao julgamento feito por alguém de modo ríspido, um ato de censura firmado na justiça própria. Além disso, sempre quando formos julgar alguém, é bom olharmos para nós mesmos, como bem expressa a Mishnah: “Não julgues ao teu semelhante enquanto não estiveres na posição dele”. O dito popular “Quando tu apontas um dedo para mim, três estão apontando para você” é importante. Por isso é necessário ser misericordioso e generoso ao julgar uma pessoa.
Quando Cristo diz “Não julgueis”, nota-se que o verbo do grego é krino, separar, colocar separadamente, selecionar, escolher, ser de opinião, julgar, pensar, presidir com o poder de emitir decisões judiciais, porque julgar era a prerrogativa dos reis e governadores. É claro que essas palavras não englobam todo tipo de julgamento (1Co 5.12), mas se referem àquele julgamento infundado, injusto, infiel, que não pode em momento algum ser provado.
Jesus não está proibindo os tribunais de julgarem, nem está tolhendo a capacidade crítica do ser humano. No próprio texto de Mateus 7.15-23, Ele fala da importância de seus discípulos julgarem os ensinos dos falsos mestres, inclusive ajudar outros a fazer isso corretamente (Mt 7.18). Como discípulos de Cristo, cada servo seu deve saber discernir bem as coisas para julgar corretamente. Antes, o julgamento deve ser feito com critério, como é bem ensinado por Paulo, em relação à disciplina de um membro (Rm 5.1-5).
O julgamento defendido por Jesus – Assim está escrito em João 7.24 (ARA): “Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça”. Os escribas e os fariseus se prendiam na Lei para fazer seus julgamentos, mas faziam isso de modo totalmente pervertido, sem atentar realmente para o espírito da Lei. Na verdade, suas tradições e ritos religiosos, os sistemas externos, tudo isso falava mais forte do que o sentido espiritual da Lei, portanto, o reto juízo não vem da mera trivialidade de normas exteriores, nem de imposições legalistas, mas origina-se verdadeiramente de um discernimento espiritual, daqueles que realmente têm a mente de Cristo (1Co 2.16), que desenvolvem com Ele uma verdadeira comunhão.
Quando lemos Êxodo 23.6 (ARA), está escrito assim: “Não perverterás o julgamento...”. Aqui estava se falando para não deturpar os direitos do pobre no tribunal. No hebraico, o verbo perverter é natah e tem vários sentidos, mas quero ficar apenas com este: virar para o lado, inclinar, declinar, curvar-se. Quem julga sem base, sem verdade, está procurando virar para o lado, esconder a verdade.
Na Bíblia, encontramos dois tipos de julgamento em que se escondeu a verdade. O primeiro que citaremos foi promovido pela ardilosa e satânica Jezabel. Ela, dissimuladamente, formulou um julgamento contra Nabote para se apossar de sua herança, a qual não negociou com seu marido, Acabe, de modo que o sentenciou à morte injustamente (1Rs 21.2-15).
O segundo julgamento envolveu Davi, que no momento em que o profeta Natã, em parábola, falou do rico que se apossara da ovelhinha do pobre, prontamente disse que o tal deveria morrer, não sabendo que se tratava dele mesmo (2Sm 12.1-7). Nos dois casos, o julgamento foi pervertido. Portanto, amados e queridos irmãos, julguemos segundo a verdade, com provas cabais, sempre buscando o bem, e não segundo a aparência.
DEVEMOS PRIMEIRAMENTE OLHAR PARA NÓS MESMOS
Cuidado com o juízo exagerado sobre os outros - Paulo nos aconselha sempre a examinarmos a nós mesmos para sabermos se estamos de fato vivendo a verdadeira fé (2Co 13.5). Ele ainda diz assim: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo...” (1Co 11.28, ARA). Quando fazia alusão ao autoexame, antes da participação na Ceia, objetivava livrar o participante de um juízo divino, caso não estivesse com sua vida correta. Quem faz seu autoexame constantemente descobre suas falhas, suas doenças, suas fraquezas. Desse modo, antes de querer fazer juízo dos outros, é ciente de todo os seus erros.
Quando lemos Gênesis 38.1-30, o narrador que vinha abordando a história de José faz um parêntese e introduz um acontecimento envolvendo uma figura importante, Judá, líder da família de Jacó. Ele seria aquele por meio de quem as promessas e as bênçãos feitas ao patriarca Abraão seriam cumpridas. Na verdade, seu nome iria se destacar na linhagem divina do Messias, inclusive Davi seria um de seus respeitáveis descendentes. Judá envolveu-se com os cananeus casando-se com Sua, e é a partir desse momento que se sucederão diversos acontecimentos não somente imorais, mas pecaminosos. O mais sério aqui é que iria envolver alguém do povo escolhido por Deus. Judá teve dois filhos, Er e Onã. O primeiro tornou-se o esposo de Tamar, mas como era perverso diante do Senhor, Ele o matou. O segundo, que deveria dar descendência ao seu irmão, também procedia contrário ao Senhor, por isso foi morto. O terceiro filho, Selá, seria dado a Tamar para que pudesse gerar descendência. Passou-se muito tempo, e Tamar percebeu que o sogro não iria cumprir a promessa que lhe fora feita. Ela então fingiu-se de uma prostitua sagrada (kedishot), de modo que o próprio Judá sem saber envolveu-se em uma relação amorosa e ilícita com a própria nora. Antes que entrassem na relação, como forma de segurança, ela que era inteligente, pediu ao sogro o seu selo, seu cordão e o cajado, esses itens delineavam um homem de posição entre os hebreus. Terminada a relação, ela saiu, e não demorou para que a notícia chegasse aos ouvidos de Judá de que sua nora estava grávida. A reação do sogro foi autoritária: “...Então, disse Judá: Tirai-a fora para que seja queimada” (Gn 38.24, ARA), mas como ela tinha nas mãos alguns objetos que provavam com quem havia estado, que eram do sogro, ao mostrá-los sua fúria logo se esfriou e passou a julgá-la de outro modo dizendo: “Reconheceu-os Judá e disse: Mais justa é ela do que eu, porquanto não a dei a Selá, meu filho. E nunca mais a possuiu” (Gn 38.26, ARA).
Essa história mostra que Judá não estava sendo fiel com sua Palavra, ao passo que a nora sim, por isso ela se lança a tal missão a fim de que o seu sogro cumprisse a lei do levirato, a qual vem antes de Moisés. Judá viu o quanto Tamar era justa, e ele não. Judá olhou para si mesmo — ele tinha poder e condições de sair daquela situação, poderia ter usado da sua influência ou de qualquer ardil, mas não o fez, pois viu que o erro dele tinha sido maior do que o dela. Tudo isso nos ensina que, quando formos julgar os outros, sempre é bom dar uma olhadinha no nosso passado, nas ações feitas, e ver se a pessoa que estamos tentando condenar não é mais justa do que nós.
A inconsistência dos que possuem espírito de crítica – Negar o julgamento correto é contrariar o próprio texto bíblico, mas ao fazê-lo é preciso que sejamos firmes, que haja lógica, coerência, consistência. Isso está bem claro quando Jesus diz para não dar as coisas santas aos cães (Mt 7.6) e quando fala para termos cautela quanto aos falsos profetas (Mt 7.15). Para determinarmos o que é certo e errado, precisamos fazer uso correto do nosso juízo discriminador.
No Novo Testamento, há grandes exemplos de homens de Deus que fizeram julgamento de modo firme, consistente. Citaremos dois exemplos: Paulo foi o primeiro — certa vez disse a Tito para evitar o homem faccioso, isso depois de tê-lo advertido duas vezes (Tt 3.10). É claro, quando Paulo chamou esse homem de faccioso não o fez simplesmente por fazer, sem base, mas com conhecimento verdadeiro.
Outro exemplo é o de João, o apóstolo do amor. Ele dizia que aquele que não trazia a verdadeira doutrina não poderia ser recebido e gozar da comunhão com os irmãos (2Jo 10). O julgamento desses dois homens de Deus não estava alicerçado em crítica que visasse exibir a sua justiça pessoal, como procediam os escribas e os fariseus (Lc 16.15), nem buscava uma ação condenatória alicerçada no ego, como fazia o fariseu quando orava (Lc 18.9-14). Quando se age assim, o ar de superioridade vem em primeiro lugar e condenar os outros como não tendo razão é muito fácil.
O verdadeiro julgamento é feito com total desprendimento, pois o inconsistente aproveita a falha, o erro daquele com quem se manifesta um sentimento de inveja, ciúmes, que ao tomar conhecimento de alguma falha ou erro que cometeu em sua vida, vale-se disso imediatamente para condenar. O julgamento inconsistente gosta das mesas redondas para falar de pessoas que, por vezes, não conhece de verdade; isso gera preconceitos, impedindo que se enxergue as boas qualidades que elas possuem.
Não somos Deus; somente Ele pode dar a palavra final. Cabe a nós fazermos julgamentos firmados no amor e sempre atentando para nós mesmos. É lamentável, mas muitos líderes e cristãos estão vivendo no meio do povo de Deus na mesma atitude dos discípulos de Jesus, que quando não foram recebidos pelos samaritanos, logo queriam que fogo viesse do céu e os consumissem, desejavam destruí-los por um fato isolado. A resposta de Jesus foi: “Jesus, porém, voltando-se os repreendeu [e disse: Vós não sabeis de que espírito sois]” (Lc 9.55, ARA).
O que fazer para não julgarmos precipitadamente os outros? – Para não julgarmos os outros de modo precipitado, basta que atentemos para as palavras de Cristo em Mateus 7.3-5. Se as colocarmos em prática, não julgaremos os outros precipitadamente. Nessa seção, de modo metafórico, Jesus nos leva à conscientização de que temos em nossas vidas muitos pecados. Alguns são como argueiros (kárphos, um talo ou ramo seco, palha, palhiço, resíduos dos cereais) ou estilhaços, outros como trave (dokós, viga) ou tábua. A primeira coisa a fazer com eles é tratá-los antes de tratarmos os outros.
Precisamos entender que em momento algum, como antes falamos, Jesus está dizendo que não devemos nos preocupar em corrigir ninguém, pois em Tiago 5.19,20 somos incentivados a corrigir os faltosos. Porém Ele nos lembra de que não devemos nos precipitar em nosso julgamento em relação a outras pessoas, condenando-as; devemos estar cientes dos nossos pecados e, como espirituais que somos, o tratamento deve ser criterioso e com amor (Gl 6.1).
E SE FÔSSEMOS JULGADOS PELA SEVERIDADE DE DEUS?
Deus é severo? – No segundo século, encontramos a história de um homem chamado Marcião, que foi fundador de igrejas que entraram em debate com o cristianismo ortodoxo. Ele veio de Sinope, no Ponto, para Roma, e ofereceu à igreja uma soma em dinheiro. Em 144 d.C., foi afastado da comunhão porque seus ensinos eram errados, e seu dinheiro foi devolvido. Com as riquezas e capacidade intelectual que possuía, procurou criar uma igreja rival e passou a espalhar sua doutrina por diversas partes.
Marcião proferia muitas heresias nos seus ensinos, mas a que queremos destacar aqui é quanto ao ponto de vista que ele tinha sobre o Deus do Antigo Testamento. Em sua concepção, o Antigo Testamento foi feito por Demiurgo, um tipo de deus justo e iracundo, o qual colocou seu povo para viver debaixo de uma lei muito severa. Era impossível que esse deus fosse o real poder divino; era apenas o deus do Antigo Testamento, e não o Deus mais alto, sublime, desconhecido da revelação do Novo Testamento.
Por causa desse seu entendimento, Marcião deixou de lado o Antigo Testamento e publicou o seu próprio Novo Testamento, composto do Evangelho de Lucas e de dez epístolas paulinas, com exceção das pastorais. Esse homem falava de um deus criador e de um deus redentor. O deus criador julgava, o deus redentor, que era Pai e desconhecido, era mais amoroso. No Antigo Testamento, encontra-se o deus dos judeus que julga, comete males, é contraditório e severo.
Podemos dizer que Marcião não entendeu bem o verdadeiro Deus descrito nas páginas do Antigo Testamento, o qual não é injusto, maléfico, severo e nem contraditório, mas, sim, amoroso e justo. A bondade divina pode ser descrita no ato de sua criação, pois providenciou o melhor para o homem, inclusive colocando-o em um jardim (Gn 2.15). Toda a criação divina foi um ato de bondade com o homem (Gn 1.31), contudo, a severidade e a rigidez de Deus só acontecia quando o homem desprezava suas leis e seus ensinos.
Como Deus nos julga – Não precisamos recorrer às diversas e belíssimas definições sobre Deus e sua justiça para entendermos como Ele procede no julgamento. Basta atentarmos para as palavras de Paulo: “Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam tais coisas” (Rm 2.2, ARA).
No geral, em se tratando da bondade e severidade de Deus, pelo contexto bíblico, é sempre bom analisar as palavras de Paulo em Romanos 11.22 (ARA): “Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado”.
Compreendemos a citação anterior à luz da soberania do Senhor – Por certo tempo resolveu Ele colocar Israel de lado para oportunizar a salvação ao mundo inteiro por meio da fé em seu Filho Jesus. Deus tomou essa atitude vista como severa como castigo para aqueles que caíram (Rm 9.32,33), todavia, tem sido bondoso para com os gentios, em especial com aqueles que aceitaram a fé, porém, eles devem permanecer firmes na sua benignidade, isto é, uma fé perseverante, uma constante dependência de Cristo. Caso não procedam assim, semelhantemente serão cortados como os judeus.
O exemplo da justiça de Deus na vida de Davi – Em 2 Samuel 12.10 (ARA), encontramos o seguinte texto: “Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher”. Ao lermos essa passagem, podemos nos questionar se Deus estaria sendo severo demais com o rei Davi. Respondemos que não, pois, diante dos dois crimes que ele cometeu, adultério e homicídio, pela Lei ele teria que morrer, mas assim Deus não o fez. Porém, como o Senhor não é injusto, mas julga conforme a verdade, não deixará que a espada se afaste da casa do monarca por causa de tudo o que ele fez.
Frente a tudo que o rei Davi fez, sua sentença era a morte, mas como se arrependeu, Deus o perdoou. Deve-se entender que Deus trata o pecado como pecado, e quem o comete pagará pelo erro. Quando alguém peca, logo de imediato fica separado da comunhão com Deus, mas quando se volta com arrependimento sincero Deus o perdoa, como fez com Davi. Ainda assim, o pecado cometido tem suas consequências.
Como Deus é justo, não poderia deixar passar impune o pecado cometido por Davi. Por isso, por meio do profeta Natã, disse: “E pela cordeirinha restituirá quatro vezes, porque fez tal coisa e porque não se compadeceu” (2Sm 12.6, ARA). Por intermédio da restituição quádrupla estaria se atendendo o que estava preconizado na Lei (Êx 22.1).
Há pontos a serem considerados nessa severidade de Deus com Davi. O primeiro deles é que para Deus não importa qual a posição ou destaque que uma pessoa exerça, se peca, pagará por suas consequências, inclusive aqueles que são escolhidos para preservar a Lei e a justiça terão sentenças mais duras, pois ninguém pode estar acima da Lei e, como disse Moisés, Deus não faz acepção de pessoas (Dt 10.17).
O segundo que devemos levar em consideração é que Deus perdoou o pecado de Davi, porém, ele teria que passar pela disciplina divina. Não iria morrer, mas “a espada não se afastaria de sua casa”. Como diz Goodman: “Deus tem em vista não somente a salvação do pecador, mas também a disciplina da ‘família da fé’. O pecador perdoado precisa ser o santo disciplinado”.
Meus irmãos, sejamos sinceros e verdadeiros diante de Deus, pois seus olhos a tudo contemplam, e jamais tem o culpado como inocente (Êx 34.7), mas julga com severidade aqueles que cometem pecado, que desobedecem a suas ordenanças. Por esse motivo, Paulo nos alerta: “Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus” (Rm 11.22). (GOMES, Osiel. Os valores do reino de Deus: a relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Rio de Janeiro: CPAD, 2022. p. 125-135.)
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