A Bíblia
Sagrada foi escrita majoritariamente em hebraico e grego, em um período
aproximado de 1.600 anos, por cerca de 40 homens, e se estrutura em Antigo e
Novo Testamento. Seus livros são divinamente inspirados e constituem o cânon
bíblico. O conjunto dos 66 livros forma um único livro: a Bíblia Sagrada. Os
critérios para avaliação da canonicidade são a inspiração, o reconhecimento e a
preservação dos livros como Palavra de Deus.
A
comprovação desses critérios revela que as Escrituras foram aceitas e
preservadas como livros autorizados por Deus. O testemunho do próprio autor
divino no coração das pessoas é quem provoca o reconhecimento de que a
Escritura é a Palavra de Deus. Toda ela é nossa única regra de fé e prática.
Neste capítulo, veremos como a Bíblia está organizada, a classificação de seus
livros, a canonicidade e as particularidades dos Testamentos.
I –
COMO A BÍBLIA ESTÁ ORGANIZADA
1.
Definição do Termo Bíblia - A palavra “Bíblia” tem origem tanto no vocábulo grego
como no latim. O termo grego “biblos” significa “livro” e tem conotação de
qualidade sagrada. A palavra “bíblia” no latim é um substantivo feminino
singular que igualmente exprime a ideia de “livro”. Por volta do ano 150 d.C.,
os cristãos passaram a usar o termo em latim “ta bíblia” (os livros) para
referir-se ao conjunto de livros inspirados por Deus. O Dicionário Bíblico
Wycliffe explica que o singular biblia em latim testemunha que os 66 livros (39
no AT e 29 no NT) revelam uma unidade de pensamento e uma pureza. Por isso, a
coleção dos livros sagrados forma um único livro.
O erudito
F. F. Bruce esclarece que o uso da expressão “a Bíblia” entre os cristãos foi
inaugurado por Clemente de Roma. Essa declaração é referendada pela chamada
segunda epístola escrita por Clemente (150 d.C.), em que o bispo redigiu: “os
livros (ta bíblia) e os apóstolos declaram que a igreja existiu desde o
princípio”. Porém, antes disso, o profeta Daniel, por volta do ano 538 a.C., já
havia se referido às Escrituras do Antigo Testamento como sendo “os livros” (Dn
9.2). No Novo Testamento, termos sinônimos são utilizados para identificar “os
livros sagrados”. O vocábulo mais comum e mais conciso empregado pelo Senhor
Jesus é “as Escrituras” (Mt 21.42; Jo 5.39). Paulo também usa as expressões “as
Santas Escrituras” e “as sagradas letras” (Rm 1.2; 2 Tm 3.15).
O
Dicionário Bíblico Wycliffe, também anota que vários outros termos descritivos
são encontrados no Novo Testamento para referir-se aos escritos do Antigo
Testamento, tais como “a Lei” (Mc 5.18; Lc 16.17; Jo 12.34); “Moisés e os
Profetas” (Lc 16.29; 24.27); “a Lei e os Profetas” (Mt 22.40; Lc 16.16); “a Lei
de Moisés, os Profetas e os Salmos” (Lc 24.44). Nesse aspecto, é importante
ressaltar que a designação de uso mais frequente no texto bíblico é o termo “as
Escrituras” (plural) ou “a Escritura” (singular), e refere-se tanto aos livros
inspirados do Antigo como do Novo Testamento (2 Tm 3.16; 2 Pe 3.16). E, pelo
fato de a Bíblia ser a única revelação escrita de Deus dada pelo Espírito
Santo, ela ainda é identificada como a “Palavra de Deus” (Mc 7.13; At 12.24; Ef
6.17).
2. O
Cânon da Bíblia
- A expressão “cânon” procede do hebraico “qãneh” com o sentido de “vara de
medir”. O Dicionário Vine elucida que “a cana” abalada pelo vento (Mt 11.7; Lc
7.24) e a “cana” quebrada (Mt 12.20) citadas por Jesus são referência a essa
palavra hebraica que representa uma das várias canas do Antigo Testamento (Is
42.3; Jó 40.21; Ez 29.6). O termo correspondente em grego é kanõn, que
significa “régua”. Aparece no Novo Testamento com o sentido de regra moral (Gl
6.16) e também é traduzido como “medida” (2 Co 10.13,15). Quanto ao emprego
entre os cristãos, Esequias Soares esclarece que:
Nos três primeiros
séculos do cristianismo, o termo se referia ao conteúdo normativo, doutrinário
e ético da fé crista. A partir do quarto século, os pais da igreja aplicaram as
palavras “cânon” e “canônico” aos livros sagrados, para reconhecer sua
autoridade como textos inspirados por Deus e instrumentos normativos para a
vida e a conduta dos cristãos, portanto separados de outras literaturas.
Desse
modo, na teologia o vocábulo “cânon” é empregado como “norma” de avaliação para
identificar os livros sagrados. Em vista disso, o termo “canônico” passou a
designar os 66 livros aceitos como divinamente inspirados (39 livros no A.T., e
27 no N.T.). Isso quer dizer que o Espírito Santo guiou o seu povo a reconhecer
a autoridade desses escritos como regra de fé e prática. Nesse sentido, o cânon
bíblico está completo. Nada pode ser acrescentado ou retirado das Escrituras
canônicas (Ap 22.18,19).
Com o
propósito de aprofundar essa compreensão, Norman Geisler enfatiza a diferença entres
os livros canônicos e outros escritos religiosos:
Os livros canônicos
fornecem o critério para a descoberta da verdade, mediante o qual todos os
demais livros (não-canônicos) devem ser avaliados e julgados. Nenhum artigo de
fé deve basear-se em documento não canônico, não importando o valor religioso
desse texto. Os livros divinamente inspirados e autorizados são o único
fundamento para a doutrina.
Nessa
perspectiva, apenas os livros inspirados ou canônicos são os que constituem a
regra e a autoridade final de fé para os cristãos. Isso não significa dizer que
outros textos e literaturas cristãs, tratados, sermões e estudos teológicos não
possuam algum valor devocional ou que não sirvam à edificação espiritual.
Porém, todo e qualquer texto ou ensino não canônico jamais deve ou pode ser
usado para definir ou delimitar as doutrinas cristãs. Assim sendo, nossa
Declaração de Fé ratifica que, no encerramento do cânone divino, o Senhor Jesus
chancelou a integridade e a completude da Bíblia Sagrada (Ap 22.18,19). 7 3.
Os Dois Testamentos Bíblicos - O termo “testamento” vem do latim
“testamentum”, que é tradução da palavra grega “diatheke” e da hebraica
“berith”. Ambos os termos têm o sentido de “aliança”, “pacto” ou “concerto” de
Deus com a humanidade. O Dicionário Bíblico Wycliffe reforça que o substantivo
significa a obrigação autoimposta por Deus à reconciliação dos pecadores
consigo mesmo (Gn 17.7; Dt 7-6-8; Sl 89.3,4). 8 O Dicionário Vine esclarece
que, no ato de “fazer concerto”, era habitual o sacrifício de uma vítima (Gn
15.10; Jr 34.18,19). 9 O autor aos Hebreus revela que “um testamento tem força
onde houve morte” (Hb 9.17); por isso, os dois testamentos bíblicos foram
consagrados com sangue (Hb 9.18); o primeiro com sangue de animais (Hb. 9.19),
e o segundo com o sangue do próprio Cristo (Hb 9.11-22).
A
expressão “Antigo Testamento” foi inaugurada por Paulo (2 Co 3.14). Essa
expressão paulina é traduzida como “Velho Testamento” (ARC); e “Antiga Aliança”
(NAA). Embora outras passagens tenham ideia similar (Gl 4.24; Hb 9.25,26), essa
expressão ocorre somente aqui em todo o Novo Testamento, e refere-se aos 39
livros canônicos dos judeus reconhecidos por Jesus como “as Escrituras” (Mt
22.29), “a Lei, os Profetas e os Salmos” (Lc 24.44). Esses livros revelam que
Deus estabelecera uma aliança com Israel, porém a nação falhou em obedecer aos
termos desse pacto (Jr 31.32). Por essa razão, o profeta Jeremias anunciou que
um dia Deus estabeleceria uma aliança diferente. A promessa era que Deus
realizaria um concerto no lado dentro das pessoas: “porei a minha lei no seu
interior e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus, e eles serão o
meu povo (Jr 31.33).
Nessa
direção, o termo “Novo Testamento” é usado nas Escrituras para se referir ao
cumprimento profético de Jesus como o Mediador da Nova Aliança (1 Co 11.25, 2
Co 3.6; Hb 8.6-13; 12.24). Essa expressão também passou a designar os 27 livros
inspirados dos cristãos igualmente reconhecidos como “as Escrituras” (2 Pe
3.15,16). Como já mencionado, a palavra grega “diatheke” utilizada no texto
bíblico pode significar tanto “aliança” como “testamento”. A preferência pelo
emprego da expressão “testamento” deve-se à versão da Vulgata Latina. Desse
modo, as designações “Antigo e Novo Testamento” como divisões principais da
Bíblia, tal qual a conhecemos em nossos dias, teve início ao tempo de
Tertuliano (150 d.C) e compreende os 66 livros canônicos que integram as
Escrituras Sagradas.
II – O
ANTIGO TESTAMENTO
1. Os
Livros do Antigo Testamento - A classificação dos livros do Antigo Testamento, tal
qual a conhecemos e utilizamos nos dias de hoje, se divide em 39 livros. A
divisão utilizada pelos judeus é diferente da adotada pela Igreja cristã. A
coletânea dos judeus somava 24 livros porque o agrupamento usava critérios distintos.
Observe essa diferença e consequente correspondência nas tabelas abaixo:
Tabela 1. Disposição dos
Livros do Antigo Testamento Hebraico
A Lei (Torá) 5 livros:
1. Gênesis, 2. Êxodo, 3. Levítico, 4. Números, 5. Deuteronômio.
Os
Profetas
(Nebhiim) 8 livros:
A.
Profetas anteriores:
1. Josué, 2. Juízes, 3. Samuel, 4. Reis.
B.
Profetas posteriores:
1. Isaías, 2. Jeremias, 3. Ezequiel, 4. Os Doze.
Os
Escritos
(Kethubhim) 11 livros:
A.
Livros poéticos:
1. Salmos, 2. Provérbios, 3. Jó.
B.
Cinco rolos
(Megilloth): 1. Cantares, 2. Rute, 3. Lamentações, 4. Ester, 5. Eclesiastes.
C.
Livros históricos
1. Daniel 2. Esdras e Neemias, 3. Crônicas - Total: 24 livros
Tabela
2.
Disposição dos Livros do Antigo Testamento Adotado pela Igreja Protestante
Pentateuco:
5
livros = 1. Gênesis, 2. Êxodo, 3. Levítico, 4. Números, 5. Deuteronômio
Históricos: 12 livros 1. Josué, 2.
Juízes, 3. Rute, 4. 1 Samuel, 5. 2 Samuel, 6. 1 Reis, 7. 2 Reis, 8. 1 Crônicas,
9. 2 Crônicas, 10. Esdras, 11. Neemias, 12. Ester.
Poéticos:
5
livros = 1. Jó, 2. Salmos, 3. Provérbios, 4. Eclesiastes, 5. Cantares.
Proféticos
Profetas Maiores:
5 livros: 1. Isaías, 2. Jeremias, 3. Lamentações, 4. Ezequiel 5. Daniel
Profetas
Menores:
12 livros: 1. Oseias 2. Joel 3. Amós 4. Obadias 5. Jonas 6. Miqueias 7. Naum 8.
Habacuque 9. Sofonias 10. Ageu 11. Zacarias 12. Malaquias - Total: 39 livros
Como
observado na tabela 1, a divisão utilizada pelos judeus era tripartida: a) a
Lei, b) os Profetas e c) os Salmos ou Escritos. O Senhor Jesus fez menção da
Bíblia tripartida dos judeus quando disse: “convinha que se cumprisse tudo o
que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos” (Lc
24.44). Conforme visto na tabela 2, a divisão adotada pelos cristãos
protestantes constitui-se de quatro partes e baseia-se na disposição dos livros
por tópicos, com origem na tradução das Escrituras Sagradas para o grego, a
versão da septuaginta iniciada por volta do III século a.C. 11 Apesar de a
cultura judaica fazer uma categorização diferente, o conjunto do Antigo
Testamento soma os mesmos 39 livros divinamente inspirados, tanto para os
judeus como para os cristãos protestantes.
2.
Canonicidade do Antigo Testamento - Muito se discute acerca dos critérios
utilizados para a admissão dos livros sagrados no cânon do Antigo Testamento.
Algumas propostas — como considerar como teste de canonicidade a antiguidade do
livro, se foi escrito na língua hebraica e se havia algum valor de cunho
religioso — foram ideias sugeridas e rejeitadas. A conclusão da erudição
bíblica é de que os livros canônicos foram divinamente revelados e que, na sua
boa providência, Deus fez que seu povo reconhecesse e recebesse sua Palavra. 12
Nessa perspectiva, existem três fatores basilares na avaliação de um livro
canônico, a saber:
(a) a
inspiração divina,
que atesta se o livro é inspirado pelo Espírito Santo (Ne 9.30; Zc 7.12; 2 Pe
1.21). Acerca desse critério, R. T. Beckwit afirma que “o que qualifica um
livro para um lugar no cânon do Antigo ou do Novo Testamento não é simplesmente
o fato de ser antigo, informativo ou útil, e de fazer muito tempo que é lido e
valorizado pelo povo de Deus, mas sim que tenha autoridade de Deus para o que
diz”. Significa dizer que o livro tinha de ser testado como divinamente
inspirado por meio de provas irrefutáveis de sua veracidade. O teólogo Gleason
Archer Jr. assevera que este é o único teste de canonicidade que permanece de
pé, isto é, o testemunho que Deus o Espírito Santo dá à autoridade da sua
própria Palavra.
(b)
reconhecimento do povo de Deus, que atesta se o livro era aceito como
autêntico por seus primeiros leitores (Êx 24.3,7; Dn 9.2). Esse critério está
relacionado com a inspiração divina. Nesse aspecto, Norman Geisler enfatiza que
“Deus dá autoridade divina a um livro, e os homens de Deus o acatam. Deus
revela, e seu povo reconhece o que o Senhor revelou. A canonicidade é
determinada por Deus e descoberta pelos homens de Deus”. Para exemplificar,
citam-se os livros de Moisés (Êx 24.3), os de Josué, sucessor de Moisés (Js
24.26), os livros do profeta Samuel (1 Sm 10.25), dentre outros, que foram
imediatamente reconhecidos pelo povo de Deus. Acrescenta-se a isso o
reconhecimento autenticado pelo próprio Senhor Jesus nos Evangelhos (Lc 24.44).
(c)
preservação pelo povo de Deus, que atesta se o livro era conservado como
Palavra de Deus (Dt 31.24-26; Dn 9.2). Nem todos os escritos de cunho religioso
foram aceitos e conservados como inspirados pelo povo de Deus. Por exemplo,
Tobias, Judite, Baruque, Macabeus I e II, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico e
outros foram rejeitados e considerados apócrifos. Eles foram recusados por seus
erros teológicos e históricos. Não obstante, a lei de Moisés foi preservada na
Arca (Dt 31.26) e dentro do Templo nos dias de Josias (2 Rs 23.24). Os ensinos
de Samuel foram escritos “num livro e [colocados] perante o Senhor” (1 Sm 10.25).
O profeta Daniel e Esdras possuíam uma coletânea com cópias dos livros de
“Moisés e os Profetas” (Dn 9.2,6,13; Ne 9.14,26-30).
Por
conseguinte, a confirmação desses elementos revela algumas verdades cruciais:
(i) não se pode afirmar que é a Igreja que determina a canonicidade de um livro
por meio de regras de reconhecimento; (ii) desde o início, os livros do Antigo
Testamento foram recebidos e guardados como inspirados e autorizados por Deus,
dotados de veracidade e de autoridade (Jz 3.4); (iii) talvez não saibamos
explicar totalmente como Deus implantou essa convicção no coração de seu povo;
e (iv) podemos confiar na autoridade do Antigo Testamento, pois a sua
canonicidade é irrefutavelmente atestada pelo Senhor Jesus e pelos apóstolos
(Mt 5.17,18; Lc 24.27; Rm 5.12, 1 Co 10.1-5).
3.
Particularidades do Antigo Testamento - Quase a totalidade dos livros foi escrita em
hebraico chamado na Bíblia de língua de Canaã (Is 19.18). Algumas porções foram
escritas em aramaico, uma espécie de dialeto que deu origem à língua árabe. Destaca-se
que as descobertas dos rolos do Mar Morto (entre 1947 e 1964 d.C.) confirmam a
preservação e a suficiência dos textos do Antigo Testamento. Esequias Soares
revela que, com exceção ao livro de Ester, todos os demais livros estão
representados e confirmados pelos mais de 800 rolos encontrados nas 11 cavernas
de Qumran, muitos deles vindo da Babilônia e do Egito, e alguns desses
manuscritos ainda eram escritos com a grafia do hebraico arcaico.
Outra
particularidade a destacar é que os judeus e os cristãos protestantes jamais
aceitaram a inserção dos livros apócrifos no Antigo Testamento. Porém, o
catolicismo romano os declarou canônicos no Concílio de Trento (1546). Desse
modo, o Antigo Testamento católico possui os sete livros apócrifos acima
citados, perfazendo um total de 46 livros. Além disso, a Bíblia católica
inseriu acréscimos em Ester (Et 10.4ss), oração de Azarias (Dn 3.34-90); Suzana
(Dn 13), e Bel e o Dragão (Dn 14).
Reitera-se
que tais livros e acréscimos não são divinamente inspirados; eles são
desprovidos de autoridade tanto espiritual como doutrinária. O último livro
canônico foi o do profeta Malaquias, que o concluiu antes do ano 430 a.C.;
desde então, nada mais pode ser acrescido ao cânon do Antigo Testamento. E,
conforme o teólogo Norman Geisler, para facilitar a tarefa de citar a Bíblia,
em 1.227 d.C. o texto foi dividido em capítulos e, por volta de 1.445 d.C., o
Antigo Testamento foi dividido em versículos.
III –
O NOVO TESTAMENTO
1. Os
Livros do Novo Testamento - Esses livros foram reconhecidos pela Igreja após a morte
e ressurreição do Senhor Jesus Cristo e estão classificados em quatro grupos
principais: a) Evangelhos, que são os quatro livros de Mateus, Marcos,
Lucas e João; b) Histórico, formado pelo livro de Atos dos Apóstolos; c)
Epístolas, que se subdividem em Epístolas Paulinas, com 13 cartas de
Romanos a Filemom; as Epístolas Gerais, com 8 cartas de Hebreus a Judas; e d)
Revelação, constituído pelo livro de Apocalipse. O conjunto totaliza 27
livros inspirados e autorizados que são chamados de canônicos (1 Co 2.4,13).
Observe essa categorização na tabela abaixo.
Tabela
3.
Descrição dos Livros do Novo Testamento
Evangelhos - 5 livros: 1. Mateus,
2. Marcos 3. Lucas 4. João.
História – 1 livro: Atos dos
Apóstolos
Revelação –1 livro: Apocalipse
Epístolas
Paulinas
– 13 livros: 1. Romanos 2. 1 Coríntios 3. 2 Coríntios 4. Gálatas 5. Efésios 6.
Filipenses 7. Colossenses 8. 1 Tessalonicences 9. 2 Tessalonicenses 10. 1
Timóteo 11. 2 Timóteo 12. Tito 13. Filemom
Epístolas
Gerais
– 8 livros: 1. Hebreus, 2. Tiago, 3. 1 Pedro, 4. 2 Pedro, 5. 1 João, 6. 2 João,
7. 3 João, 8. Judas Total: 27 livros
Nos
primórdios do cristianismo, ainda no século I d.C., surgiram muitos falsos
ensinos e falsos profetas conforme Cristo já tinha alertado a Igreja (Mt 7.15;
Mc 13.22). Durante os séculos II e III, diversos livros heréticos foram
escritos e receberam o nome de livros espúrios (pseudepígrafos e apócrifos). O
conteúdo desses livros se resume em falsos ensinos permeados de erros
gnósticos, docéticos e ascéticos acompanhados de desmedida fantasia religiosa.
19 Faz-se ainda menção de livros que desfrutavam de algum prestígio histórico e
devocional, tais como “o Pastor de Hermas” (c. 15-140 d.C) e “o didaquê” (c.
100-120 d.C). Contudo, os livros espúrios e não canônicos jamais foram
reconhecidos como inspirados. Somente os 27 livros acima listados é que são
aceitos como autênticos e fidedignos de integrar o cânon do Novo Testamento.
2.
Canonicidade do Novo Testamento - O princípio básico adotado para a canonicidade
do Novo Testamento é similar ao do Antigo Testamento, ou seja, a questão da
autoridade atestada pela inspiração divina. Milton Fischer sublinha que o
reconhecimento de que os apóstolos e seus companheiros eram autênticos
porta-vozes de Deus é o que determina a canonicidade de seus escritos. Assim
sendo, os critérios de avaliação do Novo Testamento são iguais aos que
determinam o cânon do Antigo, isto é, a inspiração, o reconhecimento e a
preservação dos livros como Palavra de Deus.
Nesse
sentido, a Bíblia oferece indiscutíveis provas de inspiração do Novo
Testamento. Os apóstolos sempre reivindicaram que as palavras que escreviam não
eram suas, mas as recebiam diretamente da parte de Deus (1 Ts 2.13; 2 Tm 3.16;
2 Pe 1.21). Wayne Grudem observa que, uma vez que estabelecemos que um escrito
do Novo Testamento pertence à categoria especial de “Escritura” (2 Tm 3.16),
implica dizer que ele possui igualmente a característica que Paulo atribui a
“toda a escritura”, isto é, “inspirada por Deus” e assim todas as suas palavras
são verdadeiras palavras de Deus.
Quanto ao
reconhecimento dos livros como fidedignos, desde o início os escritos falsos
foram refutados pela Igreja. Paulo exorta a Igreja a permanecer firme na fé e
nos ensinos inspirados, entre eles os preceitos de Moisés e dos profetas, bem
como as instruções das epístolas (2 Ts 2.15). Pedro alertou para que a Igreja
não desse ouvidos às heresias de perdição que seriam propaladas por falsos
profetas e falsos mestres (2 Pe 2.1). João advertiu os irmãos a não derem
crédito a todo espírito, mas colocar a prova toda e qualquer revelação (1 Jo
4.1). O Comentário Bíblico Beacon assinala que os crentes deveriam
desconsiderar as opiniões de teoristas e fanáticos, e aderir-se a “palavra”.
Em
relação à conservação das Escrituras, os primeiros cristãos adotaram a prática
de leitura dos livros autorizados em suas reuniões e cultos. Essa tradição de
leitura pública das Escrituras era um costume antigo entre os judeus. Moisés e
Josué eram adeptos dessa conduta (Êx 24.7; Js 8.34); Josias, Esdras e os
levitas fizeram o mesmo (2 Rs 23.2; Ne 8.8). Essa cultura foi incorporada na
liturgia cristã. Essa ação de leitura pública dos livros do Novo Testamento
auxiliou no processo de canonicidade dos escritos divinamente inspirados (1 Ts
5.27; Cl 4.16; Ap 1.3).
Mediante
tais fatos, atesta-se que, desde o começo, a Igreja Primitiva reconheceu e
preservou os livros canônicos, alicerçada sobre o fundamento dos Apóstolos e
dos Profetas (Ef 2.20). Norman Geisler afirma que os primeiros cristãos, apesar
de terem sido bombardeados por muitos escritos falsos, pelo final do século I,
já tinham concluído o cânon do Novo Testamento. Os debates prosseguiram em
virtude de várias desinformações e falha de comunicação, mas desde o século V a
Igreja cristã tem reconhecido esses 27 livros como o cânon do Novo Testamento.
3.
Particularidades do Novo Testamento - Como particularidade, destaca-se que sete
livros do Novo Testamento foram classificados como “antilegomena”. Essa
designação significa que, em algum momento e por alguma razão, a autenticidade
desses livros foi questionada por alguns dos Pais da Igreja e, por causa disso,
por volta do século IV, esses livros ainda estavam desprovidos do
reconhecimento universal. De acordo com o historiador Eusébio de Cesareia, tais
livros são os seguintes:
Não se deve esconder,
porém, que alguns põem de lado a Epístola aos Hebreus, dizendo ser contestada,
alegando não ser uma das epístolas de Paulo [...] Entre os livros questionados,
ainda que sejam bem conhecidos e aprovados por muitos, são reputados aquele
chamado Epístola de Tiago e de Judas. Também a Segunda Epístola de Pedro e os
chamados a Segunda e a Terceira de João [...] além disso, como já afirmei, caso
pareça correto, o Apocalipse de João, que alguns como já se disse, rejeitam,
mas outros colocam entre os genuínos.
Norman
Geisler pondera que isso não significa que não haviam tido aceitação inicial
por parte das comunidades cristãs primitivas. O próprio Eusébio assegura que
não eram espúrios, mas que, embora reconhecidos por muitos, estavam sendo
contestados por outros. Geisler anota que “o problema básico a respeito da
aceitação da maioria desses livros não era sua inspiração, ou falta de
inspiração, mas a falta de comunicação entre o Oriente e o Ocidente a respeito
de sua autoridade divina”. Desse modo, assim que tais dúvidas foram dirimidas,
a partir do século V, esses livros deixaram de ser questionados.
Uma
especificidade do Novo Testamento repousa no fato de que todos os seus livros
foram escritos em grego koiné, um dialeto comum e presente por toda a cultura
de fala grega e que muito auxiliou na propagação do Evangelho nos primórdios do
cristianismo (At 19.10). Algumas expressões, mesmo redigidas no vernáculo
grego, possuem significado em aramaico. Dentre elas, citamos: Talitá cumi —
“Menina, levanta-te” (Mc 5.41); Aba Pai — “Lit.: Pai, pai; ‘Meu Pai’” (Mc
14.36); Eloí, Eloí, lemá sabactâni? — “Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?” (Mc 15.34).
O
conjunto dos livros canônicos do Novo Testamento foi escrito antes do término
do século I. O último livro é o Apocalipse de João, datado por volta do ano 96
d.C.; e ratificamos que, desde o encerramento do cânon, os cristãos reconhecem
apenas os 27 livros como inspirados. Como já visto, em 1.227 d.C., o texto foi
separado em capítulos. Em torno de 1.555 d.C., o Novo Testamento também foi
dividido em versículos. A divisão em capítulos e versículos facilitou a leitura
e a memorização, além de possibilitar o estudo sistemático da inspirada Palavra
de Deus.
(Extraído
do livro A supremacia das Escrituras: a inspirada, inerrante e infalível
Palavra de Deus. Douglas Baptista p.68-84)
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