COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Ao término deste estudo sobre a
raça humana, analisaremos o novo homem em Jesus Cristo.
Jesus Cristo faz nascer um novo
homem
I – O VELHO HOMEM
Ao término deste estudo sobre a
raça humana, falaremos a respeito do novo homem em Jesus Cristo.
Sabemos que o ser humano foi
criado à imagem e semelhança de Deus (Gn.1:26) e, por isso, é distinto de
todas as demais criaturas existentes sobre a face da Terra. Tanto assim é que o
Senhor não usou apenas da Palavra para criar o homem, como fez com os demais
seres, mas, sim, usou de um processo especial, que é denominado de “formar”
(Gn.2:7), a palavra hebraica “yasar” (יצר ,(que, consoante a Bíblia de Estudo Palavra
Chave significa “comprimir numa forma, moldar numa forma, especialmente como um
oleiro” (Dicionário do
Antigo Testamento, n. 3335, p.1689).
Neste “moldar”, o Senhor fez
surgir um ser tricotômico, cuja unidade se constitui de três partes: corpo,
alma e espírito. Corpo, a parte material, saída do pó da terra (Gn.27) e a alma
e o espírito, parte imaterial, resultado do fôlego de vida imprimido por Deus e
tornou o homem uma alma vivente.
Esta estrutura tricotômica do
homem já nos revela a necessidade que tinha o ser humano e manter comunhão com
o seu Criador para que tivesse vida, entendida a vida não como existência, mas,
sim, como esta convivência, esta união com Deus, com quem o homem tinha um
momento diário especial, em toda viração do dia (Gn.3:8).
A vida física do homem dependia,
assim, não apenas da alimentação e do ambiente agradável, que lhe foi criado no
jardim formado para ele pelo Senhor (Gn.2:8,9), como também de uma atitude de
obediência a Deus, cujo referencial era a árvore da ciência do bem e do mal
(Gn.2:16), obediência que lhe dava acesso à árvore da vida e, deste modo, lhe
impedia de sofrer corrupção na sua estrutura física.
No entanto, em virtude da queda,
o homem perdeu este acesso à árvore da vida, foi separado da comunhão com Deus
e teve, como juízo, entre outros, a morte física e a necessidade de ser salvo,
visto que o pecado passou a dominá-lo e escravizá-lo(Gn.4:7; Jo.8:34).
Esta triste situação foi
transmitida pelos nossos pais à sua descendência (Gn.5:3). Passamos a ser gerados
em iniquidade (Sl.51:5), a ser “imagem e semelhança de Adão”, de modo que,
inevitavelmente, ao atingirmos a consciência, a capacidade de discernirmos
entre o bem e o mal, escolhermos sempre o mal, rejeitando o bem, daí a
necessidade que teve o Senhor Jesus de, Se humanizar, ser o “último Adão” (I
Co.15:45), gerado por obra e graça do Espírito Santo (Lc.1:35), para que não
tivesse essa natureza pecaminosa que leva cada ser humano à separação de Deus.
Este homem decaído, que passou a
ter uma natureza pecaminosa que o leva a ser vencido sempre pelo pecado (Gn.4:7; Rm.7), é chamado nas
Escrituras de “homem carnal” (Rm.7:14; I Co.3:1,3,4;); “homem natural” (I
Co.2:14) e “velho homem” (Rm.6:6; Ef.4:22; Cl.3:9).
“Homem carnal” porque se
trata de um homem que possui uma natureza pecaminosa. A “carne” é a natureza
pecaminosa, é a “inclinação para o mal”, ou seja, é a natureza que nos faz
pecar. Portanto, uma característica fundamental da carne é a prática do pecado,
é o domínio do pecado. Como disse o apóstolo Paulo, a carne é a “filha da
servidão”, a “filha da escrava” e a servidão, a escravidão é resultado da
prática do pecado, como disse o Senhor Jesus (Jo.8:34).
O Senhor foi bem explícito a
Caim quando este, ao descair o seu semblante por ter percebido que o seu
sacrifício não havia sido aceito, foi avisado de que o pecado jazia à porta e
que poderia dominá-lo (Gn.4:7), o que, efetivamente, ocorreu, e não só Caim mas
com toda a geração antediluviana, já que o escritor sagrado diz que a
imaginação dos pensamentos do coração da humanidade daquela época era só má
continuamente (Gn.6:5).
Os nascidos da carne formam uma “geração
perversa e corrompida” (At.2:40; Fp.2:15) e a natureza pecaminosa faz com
que prevaleça o pecado, pois é isto de que o coração pecaminoso do homem está
repleto, pois, como ensinou o Senhor Jesus, é do coração maligno do “velho
homem” que provêm os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição,
furtos, falsos testemunhos e blasfêmias (Mt.15:19), não sendo, pois, novidade
alguma que uma sociedade em que se tenha o predomínio da carne tenhamos a
prevalência do perjurar, do mentir, do matar, do furtar, do adulterar, de
homicídios sobre homicídios (Os.4:2).
Quando há o domínio da natureza
pecaminosa, tem-se uma inimizade contra Deus (Rm.8:7). Paulo afirma que “andar
segundo a carne” é “inclinar-se para as coisas da carne” e “a inclinação da
carne é morte” (Rm.8:7) e “os que estão na carne não podem agradar a Deus”
(Rm.8:8).
Há, pois, uma verdadeira
oposição entre a carne e Deus e, por isso mesmo, quem age de acordo com a carne
não está em comunhão com o Senhor, ainda que se diga religioso, ainda que se
afirme ser “filho de Abraão”, como ocorria com os judeus que, neste ponto,
foram contrariados pelo Senhor Jesus.
Quem é nascido da carne é carne
e, portanto, quem vive pecando, quem está sob o domínio do pecado, quem não se
distancia de uma vida de pecados, não pode dizer que é salvo, pois não está a
agradar a Deus, está a revelar a sua verdadeira natureza. O Senhor Jesus disse
que nós conhecemos a árvore pelo fruto e se o fruto é mau, isto é sinal de que
a árvore é má (Mt.7:17,18).
Vemos, portanto, como é
importante sabermos que frutos estamos a produzir, o que revelam as nossas
atitudes diante das pessoas, visto que elas são o resultado do que existe em
nosso interior, são a demonstração da nossa própria natureza. As “obras da
carne”, que Paulo menciona, e de modo não exaustivo, em Gl.5:19-21, indicam
quando a pessoa se encontra sob o domínio do pecado, sendo ainda um servo do
pecado e não, um filho de Deus, pois o filho de Deus, a nova natureza, a nova
criatura, não comete pecado, como afirma o apóstolo João (I Jo.3:9).
Mas o homem decaído é também
chamado de “homem natural”. A expressão, que se encontra, na Versão
Revista e Corrigida apenas uma vez, em I Co.2:14, é a palavra grega “psychikos”
(ψυχικός); “sensível, i.e., animado (…): -natural sensual. (…). Natural,
relativo à natureza natural, em distinção à natureza espiritual ou glorificada
do homem (…). Traduzido como ‘natural” em I Coríntios 2:14; 15:44,46, e animal
(sensual) em Tiago 3:15; Judas 19. A palavra psychikos não é uma palavra
honrosa, da mesma maneira como sarkikos (4559), carnal, também não é.” (Bíblia
de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 5591, p.2471).
Como se pode perceber, a
expressão “natural” como que equipara o homem aos demais seres animais
existentes sobre a Terra, mostra que se trata de um homem que não tem noção das
coisas espirituais, daquilo que está além do sensível, do que se pode sentir
pelos sentidos físicos. Trata-se de um homem que não tem qualquer visão
espiritual, que se deixa levar pelas ilusões deste mundo físico passageiro, que
não se reconhece como um ser que tem uma vida além desta existência física.
O homem natural é alguém que
simplesmente não toma conhecimento de uma realidade espiritual, de uma outra
dimensão além daquilo que ele pode ver e sentir, alguém que se encontra aquém
do sublime propósito divino que é o de, por meio do homem, fazer o contato
entre a dimensão espiritual e a dimensão material.
O homem decaído, por fim, é
chamado de “velho homem” e, quando se fala em velho, como diz o escritor
aos hebreus, estamos a falar de algo que está “perto de acabar” (Hb.8:13). A
palavra grega em foco aqui é “palaios” (παλαιός), “…antigo, i.e., não recente,
desgastado:-antigo. Adjetivo de palai , no passado, há muito tempo. Antigo, não
novo, o que é muito antigo ou existe há muito tempo (…). Palaios não se refere
necessariamente a algo desde o princípio, mas apenas velho ou antigo.” (Bíblia
de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 3820,
pp.2334/5).
O “velho homem” é assim
denominado porque está próximo o seu fim. Com efeito, o próprio Senhor, no dia
mesmo da queda e do surgimento deste homem pecaminoso, disse que a “semente da
mulher” traria uma modificação na situação e faria nascer um “novo homem”, de
modo que este homem decaído seria definitivamente desfeito.
Isto, evidentemente, não
significa afirmar que haverá a aniquilação da existência humana, ou, como
alguns defendem, da existência dos seres que não obedecerem ao Senhor, mas tão
somente que este “velho homem”, este ser que vive pecando contra Deus não mais
permanecerá. Os justos, quando da glorificação, verão desaparecer esta natureza
pecaminosa, o velho homem será revestido da incorruptibilidade (I Co.15:51-54),
enquanto que os ímpios, ao serem lançados no lago de fogo e enxofre para o
tormento eterno, continuarão ali a existir, sofrendo o castigo por sua
desobediência, mas não podendo mais pecar. De um jeito ou de outro, este “velho
homem” não mais existirá da forma como o vemos na atualidade.
Mas, então, um salvo em Cristo
Jesus jamais pecará? Não é isto que estamos a dizer. O que estamos a afirmar é
que o salvo em Cristo Jesus não é dominado pelo pecado, não vive pecando, pois
a “nova criatura” não tem a natureza pecaminosa, é livre do pecado, formada por
corpo, alma e espírito. A velha natureza, a “carne”, não desaparece, continua
no interior do homem, mas está crucificada com o Senhor. Vezes há, porém, que
ela “escapa” dos cravos e faz com que o salvo peque, mas isto é um acidente e,
imediatamente, ante esta vacilação, há o arrependimento e a restauração espiritual,
com a retomada do controle pelo espírito, mediante a ação de Cristo e do
Espírito Santo (I Jo.2:1,2).
No entanto, se alguém vive
pecando, mantém-se num estado de pecado continuado, tem-se que tal pessoa não
nasceu de novo. Tem apenas a carne como seu norte em seu interior, é tão
somente um hipócrita religioso, um homem natural, que ainda não se deixou dominar
pelo espírito, que não recebeu o Espírito Santo ou, tendo sido resgatado,
acabou por negar a Cristo e retornar à vida pecaminosa (Gl.5:1; II Tm.4:10; II
Pe.2:1).
II – O NOVO NASCIMENTO
Entretanto, se falamos em “homem
carnal”, “homem natural” e “velho homem”, é porque, como prometido pelo Senhor
no dia mesmo da queda do primeiro casal, haveria de surgir um “homem
espiritual”, um “novo homem”.
É por isso que Jesus Cristo diz
a Nicodemos que a salvação é um novo nascimento (Jo.3:3-6), um nascimento do
espírito, algo que o apóstolo Paulo denominou de “nova criação” (II Co.5:17;
Gl.6:15). Fazse necessário que surja um “novo homem”, com uma “nova natureza”,
para que se tenha a salvação, uma criatura que esteja livre da natureza
pecaminosa, livre do pecado, livre desta força que, de modo inevitável, nos faz
pecar e ser escravizados pelo pecado, pelo maligno.
Notamos, portanto, que a
salvação é uma “nova criação”, ou seja, quem recebe a Jesus Cristo como seu
único e suficiente Senhor e Salvador é “novamente” criado, moldado, formado. Há
o surgimento de um novo ser, surgimento este que decorre do fato de que, quando
alguém crê em Jesus, arrepende-se de seus pecados, confessa-os e os deixa e,
por causa disto, Jesus o perdoa, removendo, retirando o pecado daquela vida,
pois Cristo é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo.1:29).
Ao retirar os nossos pecados com
o seu perdão, ao nos purificar do pecado por meio de Seu sangue (I Jo.1:7),
voltamos a ter comunhão com o Senhor, pois é o pecado que faz divisão entre nós
e Deus (Is.59:2), de modo que o espírito, que é esta parte do homem que nos faz
entrar em ligação com o Senhor, é vivificado, fazendo com que, uma vez em
comunhão com o Senhor, recebamos o Espírito Santo e o amor de Deus que Ele
derrama sobre nós (Rm.5:5).
Este ato do processo da salvação
é denominado de “regeneração”, ou seja, de “nova geração”, em que surge
um “novo homem”, homem este que é chamado de “filho de Deus” (Jo.1:12), daí
porque o Senhor Jesus ter dito que de “servos do pecado” passamos a ser “filhos
de Deus” (Jo.8:32-36).
Esta “regeneração”, esta “nova
geração” é espiritual, não é biológica, até porque não se está a tratar aqui da
“vida biológica”, representada pela palavra grega “bios” (βίος), mas, sim, da
“vida espiritual”, da “vida eterna”, representada pela palavra grega “dzoé”
(ζωή). Por isso, o Senhor Jesus disse que há o “nascimento da carne” e o
“nascimento do espírito” (Jo.3:6).
O apóstolo Pedro disse que esta
geração é uma geração que vem da Palavra de Deus, da semente incorruptível (I
Pe.1:23), ensino que é repetido pelo apóstolo João, que diz que esta geração é
de Deus (I Jo.5:18). Paulo também diz que esta regeneração se dá pela “lavagem”
e “renovação”, i.e., pelo Espírito Santo que foi derramado sobre nós por Jesus Cristo,
nosso Salvador (Tt.3:5,6).
A Palavra de Deus, portanto,
chegando ao coração do homem, trazendo-lhe a fé em Cristo (Rm.10:17), faz com
que o homem se arrependa dos seus pecados, queira modificar a sua maneira de
viver, pedindo, assim, perdão de seus pecados ao Senhor Jesus, que o perdoa.
Neste perdão, o homem tem o seu espírito vivificado, reativado, pois os pecados
são retirados e volta a ter comunhão com Deus. Neste instante, o Espírito Santo
é derramado em seu coração, recebendo o amor de Deus e fazendo surgir uma “nova
criatura”, esta, sim, feita à imagem e semelhança de Deus, com corpo, alma e
espírito em perfeita comunhão com o Senhor, passando a ter vida, e vida
abundante.
Por isso, M.R. Gordon define
regeneração como “…um ato drástico, operado sobre a natureza humana caída, por
parte do Espírito Santo, que produz uma alteração na atitude inteira do
indivíduo. Agora tal indivíduo pode ser descrito como um homem que busca,
encontra e segue a Deus na pessoa de Cristo.” (Regeneração. In: DOUGLAS, J.D.
(org.). O novo dicionário da Bíblia, v.2, p.1380)
E a natureza pecaminosa, herdada
de Adão? Que fim tem ela? Desaparece? Continua existindo?
Quem nos ensina sobre esta
realidade é o apóstolo Paulo. Ao escrever aos gálatas, onde procura impedir o
desvio espiritual daqueles crentes, que estavam sendo levados por judaizantes a
seguir a lei de Moisés, achando que isto era necessário para a salvação, o
apóstolo dos gentios mostra como a salvação independe da observância da lei,
mas é o resultado da graça de Deus, manifestada por intermédio de Cristo e que
basta crermos em Jesus para sermos salvos.
Ao demonstrar que única e
exclusivamente pela fé em Cristo nós somos salvos, o apóstolo revela aos
crentes da Galácia que esta velha natureza, esta natureza pecaminosa, que o
apóstolo denomina de “carne”, que é a palavra grega “sarx” (σάρξ), esta
natureza servil ao pecado, não desaparece do interior do servo de Jesus, mas,
sim, é mantida “crucificada” até que sejamos completamente remidos, o que se
dará quando da glorificação do nosso corpo, o que ocorrerá no dia do
arrebatamento da Igreja.
O apóstolo diz que foi chamado
pela graça de Deus (Gl.1:15) e que teve a revelação do Filho de Deus nele
(Gl.1:16), a nos indicar, portanto, que a salvação exige, de pronto, uma
revelação do Filho de Deus em nós, o que se dá pela Sua graça. A fé em Jesus
advém da Palavra do Senhor e sem esta revelação, algo que é trazido pelo
Espírito Santo, que convence o homem do pecado, da justiça e do juízo
(Jo.16:8), não há como se ter uma real salvação.
Por isso, aliás, o Senhor Jesus
disse aos judeus que, embora eles fossem biologicamente, filhos de Abraão, não
eram filhos de Deus, mas, sim, filhos do diabo, uma vez que a Palavra não
entrava neles (Jo.8:37), a ponto de eles quererem matar o Senhor em vez de
n’Ele crer, rejeitando, assim, a verdade para crerem na mentira (Jo.8:43-47).
Não é por outro motivo, aliás, que este novo homem é chamado de “homem
espiritual” (I Co.2:15), pois é fruto de uma “nova criação” promovida pelo
Espírito Santo, é “nascido do Espírito” (Jo.3:6,8).
Em seu ensino, o apóstolo mostra
que somos justificados, ou seja, tornados justos pela fé em Cristo e que, ao
sermos salvos, passamos a viver para Deus, enquanto o nosso “eu”, a nossa
“carne” tem de estar crucificada com Cristo. Ela não desaparece, não é
aniquilada, mas continua a existir até o final da nossa peregrinação terrena.
Paulo, inclusive, mostra que isto se deu, de modo tipológico, na casa de
Abraão, onde, durante um tempo, houve a convivência entre Ismael, o “filho da
escrava”, e Isaque, o “filho da promessa” (Gl.4:21-31).
Ismael nasceu primeiro, fruto de
uma desobediência de Abrão em relação ao plano divino, mesmo depois de ter o
Senhor feito um pacto com ele (Gn.16). Sarai convenceu Abrão a se deitar com
sua serva Agar porque “havia sido impedida de gerar pelo Senhor”, ou seja,
tratou-se aqui de se buscar o cumprimento da promessa de Deus por forças
exclusivamente humanas, em total incredulidade à Palavra do Senhor. É isto que
representa a “carne”, uma natureza de quem “deixa Deus de lado”, não quer saber
da vontade de Deus, de crença na mentira satânica de que podemos ser como Deus,
sabendo o bem e o mal (Gn.3:5).
Isaque nasceu depois, fruto de
uma intervenção miraculosa do Senhor, que fez uma mulher estéril conceber,
cumprindo, assim, a Sua promessa feita a Abrão. É isto que representa o
“espírito”, uma natureza feita pelo próprio Deus, que cumpre a Sua promessa de
redenção feita ao primeiro casal no dia da queda, algo maravilhoso e que produz
uma completa transformação na vida do homem.
No entanto, Ismael e Isaque não
tiveram convivência pacífica. Ismael passou a perseguir Isaque a ponto de ter
Abraão sido obrigado a mandar embora Ismael da sua casa, pois era impossível
que ambos se mantivessem no mesmo local. De igual maneira, a carne vive
perseguindo o espírito, não podendo com ele conviver, chegando um instante em
que terá de ser despedido, o que ocorrerá na glorificação, no término desta
nova peregrinação terrena. Como diz o apóstolo neste seu ensino: Lança fora a
escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o
filho da livre (Gl.4:30).
Por isso, Paulo diz aos crentes
da Galácia que eles deveriam estar firmes na liberdade com que Cristo os havia
libertado e não tornasse a se meter debaixo do jugo da servidão (Gl.5:1), bem
como que andassem em Espírito para não cumprirem a concupiscência da carne,
porque a carne cobiça contra o Espírito e o Espírito contra a carne, pois um se
opõe ao outro, para que não fizessem o que quisessem (Gl.5:16,17).
Temos, aqui, então, a
revelação de uma verdadeira luta espiritual que se instala no interior do ser
daquele que crê em Cristo Jesus desde o momento mesmo em que recebemos a
salvação. Eis, aliás, a grande diferença entre o que serve a Deus e o que não O
serve: o incrédulo tem apenas uma natureza, a natureza pecaminosa, que o faz
estar distante de Deus, espiritualmente morto em seus delitos e pecados
(Ef.2:1), enquanto que aquele que crê em Jesus, passa a ser uma “nova
criatura”, mas o “velho homem” continua existindo, ainda que crucificado com
Cristo, passando a perseguir o “novo homem”, a querer vencê-lo.
Esta realidade de uma dupla
natureza no interior daqueles que servem a Deus já havia sido percebida pelos
mestres judeus, pelos doutores da lei. Os ensinadores israelitas apontavam a
existência de “uma inclinação para o mal” (Ietzer Ha-Ra) e de uma “inclinação
para o bem” (Ietzer Tov). Ao se depararem com os conceitos dualistas da
religião persa, o zoroastrismo, que acreditava na existência de “dois deuses”,
um “deus do bem” (Ormuzd) e um “deus do mal” (Ahriman), os judeus, que sabiam
haver um único Deus (Dt.6:4), acabaram por divisar que, no interior do ser
humano, haveria “… inclinações naturais dentro dos seres humanos, lutando sem
cessar pela supremacia da mente e da alma, dentro do ‘reino do coração’…”
(AUSUBEL, Nathan. Ietzer Tov e Ietzer Ha-Ra. In: A JUDAICA, v.5, p.364).
No entanto, esta realidade
somente existe naqueles que recebem a Cristo como Senhor e Salvador das suas
vidas, porquanto, nas demais pessoas, como bem nos mostra o apóstolo Paulo,
embora se tenha a noção do que seja bom, este bem jamais pode ser realizado, porque
há u’a maldade ínsita no ser humano (Mt.7:11), de forma que o bem que se quer
fazer, nunca é feito, já que somos completamente dominados pelo pecado
(Rm.7:19). É o homem carnal, o homem sem Deus e sem salvação que Paulo tão bem
descreve no capítulo 7 da epístola aos romanos.
Por isso, muitas vezes, o salvo
na pessoa de Jesus fica admirado com a facilidade com que algumas pessoas pecam
e, ainda, a desfaçatez com que justificam seus atos, sem qualquer rubor ou
vergonha. Ora, isto se dá porque não há qualquer conflito interno na vida
destas pessoas, que estão completamente dominadas pelo pecado e, embora até
saibam que o que fazem não é correto, nem por isso se arrependem, porque são
pessoas dominadas pelo maligno, cuja natureza é tão somente má.
Entretanto, o servo de Jesus
Cristo tem, dentro de si, uma batalha. O “velho homem”, que ali ainda está,
ainda que crucificado com o Senhor, que persegue e tenta se sobressair, fazendo
com que se volte ao jugo da servidão do pecado, enquanto a “nova criatura”, que
“não peca” (I Jo.3:9), busca agradar a Deus e a fazerLhe a vontade,
aproximando-se do Senhor a cada dia, pela santificação, havendo, então, esta
luta já mencionada.
Saber, portanto, a respeito
desta batalha incessante que se trava no interior de cada salvo, a cada dia,
entre a carne e o espírito é de fundamental importância para que, tendo
consciência disto, possamos crescer e triunfar sobre esta velha natureza,
atingindo, assim, o fim de nossas almas, que é a salvação (I Pe.1:9).
III – O CONTRASTE ENTRE O VELHO
E O NOVO HOMEM
Verificado que o salvo tem,
dentro de si, uma verdadeira batalha espiritual entre a carne e o espírito,
devemos, ainda que em linhas gerais, dentro da proposta introdutória desta
lição, observar quais são as características da carne e as do espírito, a fim
de que saibamos quem está a predominar em nossas vidas e o que fazer para que o
espírito prevaleça e consigamos chegar à glorificação.
A identidade do salvo se tem
precisamente pelas obras que pratica, pelo fruto que produz. Paulo disse aos filipenses que os
sinceros e que não geram escândalo são os que são “cheios de frutos de justiça”
(Fp.1:10,11), frutos estes que não provêm dos próprios salvos, mas que são
resultado de sua comunhão com Jesus Cristo para glória e louvor de Deus.
A “nova criatura” é gerada pela
“semente incorruptível” e, portanto, é algo “bom”, pois tudo o que Deus faz é bom, muito bom
(Gn.1:31; Tg.1:17), pois Deus é bom, o único ser bom (Mt.19:17; Mc.10:18;
Lc.18:19). Por isso, esta “nova criatura” não peca, não faz o que é mau,
estando sempre em Cristo Jesus e, portanto, inclinando-se para as coisas do
espírito, para a vida e paz (Rm.8:5,6).
Quando esta “nova criatura”
predomina no ser humano, temos a produção do fruto do Espírito, pois fomos
gerados para produzir fruto e fruto permanente (Jo.15:16). Ora, este fruto nada
mais é que o desenvolvimento, a manifestação do amor de Deus, que é derramado
no salvo pelo Espírito Santo, que passa a habitar com o servo de Cristo Jesus e
estar nele quando da salvação (Jo.14:17). O Espírito Santo põe no salvo a marca
de Cristo, sela-o para o dia da redenção (Ef.1:13; 4:30).
Por isso, a “nova criatura” é
identificada por ser alguém que tem, em seu DNA, o amor de Deus. O fruto do
Espírito nada mais é que o amor, amor este que é desdobrado em nove qualidades,
como se lê em Gl.5:22: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
mansidão, fé e temperança.
OBS; Assim se manifesta a respeito o príncipe
dos pregadores britânicos, Charles Haddon Spurgeon (1834-1892): “…Como alguns
frutos são facilmente divisíveis em várias partes, assim você percebe que o
fruto do Espírito, embora seja apenas um, é tríplice, não, ele se constitui de
“três vezes três” - "amor, alegria, paz; longanimidade, mansidão, bondade;
fé, mansidão, temperança"- todos! Talvez o "amor" seja posto em
primeiro lugar não só porque é o verdadeiro rei das virtudes, a mais próxima da
perfeição divina, mas porque é uma graça abrangente e que contém todos as
outras” (Alegria – o fruto do Espírito. Sermão pregado na manhã do domingo do
dia 6 de fevereiro de 1881 no Tabernáculo Metropolitano em Newington.
Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols25-27/chs1582.pdf Acesso em 11
nov. 2016) (tradução nossa de texto em inglês).
Estas nove qualidades, que são
os bons frutos da árvore boa, foram também mencionados na descrição que o
Senhor Jesus faz de Seus discípulos no sermão do monte, em seu introito, o
chamado “sermão das bem-aventuranças”, onde também são apontadas nove
características que fazem do servo de Jesus alguém mais do que feliz, um
“bem-aventurado”.
Bem se vê, pois, que não há como
se afirmar que alguém alcançou a salvação na pessoa de Jesus se não ostentar
estas características, se não se comportar como “nova criatura”, pois é isto
que atesta a sua salvação, é isto que indica estarmos diante de um “filho de
Deus” e não de um “servo do pecado”.
Não podemos, por isso, julgar as
pessoas segundo a aparência (Jo.7:24), como, infelizmente, é comum fazermos,
até porque isto é próprio do ser humano, como nos mostra o profeta Samuel, o
homem mais santo de seu tempo, mas que, nem por isso, deixava de ser homem (I
Sm.16:6,7). Como somente Deus pode ver o coração, para que não sejamos
enganados, devemos prestar atenção aos frutos, às obras que são praticadas
pelos nossos semelhantes e por nós mesmos, para que, então, tenhamos a
convicção de se estamos, ou não, diante de um “filho de Deus”, de uma “ovelha
do Senhor Jesus” e não diante de um lobo devorador vestido em pele de cordeiro
(Mt.7:15).
Devemos, também, nos julgar a
nós mesmos, nos examinarmos, à luz da Palavra de Deus, para sabermos se temos
vivido como “novas criaturas” ou se estamos a nos enganar a nós mesmos, não
tendo uma real e sincera vida com Deus. Este autoexame, explicitado por Paulo
ao nos ensinar sobre a ceia do Senhor (I Co.11:28), não é algo a ser feito
apenas na semana da Santa Ceia ou na celebração da morte do Senhor, mas um
exercício contínuo, ininterrupto, para que não venhamos a ser enganados pelo
pecado, pelo mundo e pelo diabo (II Co.13:5; Gl.6:4).
Nessa luta incessante, Paulo diz
que devemos estar “firmes na liberdade com que Cristo nos libertou” (Gl.5:1).
É interessante notar que a
notícia que as Escrituras nos dão de que Ismael começou a perseguir Isaque se
deu precisamente quando do banquete que Abraão deu quando o filho da promessa desmamou
(Gn.21:8).
Temos aqui, portanto, um
primeiro elemento para que venhamos a ter a vitória sobre a carne, que é o
”desmame”, ou seja, o aprendizado dos rudimentos da doutrina de Cristo
(Hb.6:1,2), aprendizado este que nos faz sair do “leite racional não
falsificado” (I Pe.2:2), do “leite” (I Co.3:2; Hb.5:13) para o “manjar” (I
Co.3:2), para o “mantimento sólido” (Hb.5:14).
Quando alguém nasce de novo é,
primeiramente, um recém-nascido, alguém que depende ser alimentado com o
“leite”, com a base doutrinária da Palavra de Deus, a fim de que possa adquirir
maturidade espiritual, a fim de que possa dar os passos com o Senhor Jesus na
sua jornada para o céu.
Este recém-nascido espiritual
tem de ter um tratamento especial na igreja, porque ainda é “carnal” (I
Co.3:3), ou seja, não tem o desenvolvimento necessário para enfrentar a
natureza pecaminosa que acabou de ser crucificada com Cristo e que está ainda
robusta e pode mais facilmente se desvencilhar dos cravos e pôr tudo a perder.
É mister que os “pais na fé”
destas pessoas estejam sempre ajudando e alimentando este novo convertido, a
fim de que ele possa adquirir a necessária maturidade, a fim de que ele alcance
o “desmame”. Por isso, o Senhor Jesus mandou que fizéssemos discípulos de todas
as nações, que ensinássemos aqueles que ganhássemos para Ele na pregação do
Evangelho (Mt.28:19). Este é o trabalho do discipulado, importantíssimo para
que o salvo possa enfrentar a batalha espiritual e ser vitorioso.
As estatísticas são fartas ao
mostrar que, em todos os conflitos e guerras, as maiores vítimas são as
crianças. Na guerra civil da Síria, o mais terrível conflito armado atualmente
em curso, pesquisas indicam que 27% (vinte e sete por cento) das vítimas em
bombardeios são de crianças. Na luta espiritual não é diferente. As “crianças
espirituais” sempre são as principais vítimas e, por isso, devemos ter todo o
cuidado com os “bebês espirituais”, levando-os até o “desmame”, para que,
devidamente alimentados, tenham condições de, por si sós, enfrentarem a árdua e
ininterrupta batalha interna vivida por todo crente.
OBS: “Os civis são o principal alvo dos
armamentos e sofrem uma parte desproporcional do ônus dos bombardeios. Se
estamos procurando as causas profundas da crise de migrantes e refugiados na
Europa de hoje, este é sem dúvida um fator principal.” Com estas palavras os
autores de um estudo que analisa as mortes de civis na guerra da Síria resumem
seu trabalho, dissecando as causas, a situação e outros dados demográficos.
Entre seus dados, um se destaca: os bombardeios golpeiam crianças e mulheres
com maior crueldade. De cada 100 mortes causadas por um ataque, 27 são de
menores de idade.…” (SALAS, Javier. El País. Crianças são 27% dos mortos em
bombardeios em guerra na Síria. 01 out,. 2015. Disponível em:
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/29/internacional/1443551966_191417.html
Acesso em 01 nov. 2016).
Superada esta fase, porém, é o
exato instante em que se inicia a “perseguição” da carne contra a “nova
criatura”. O “desmame” se, por um lado, traz a autonomia do servo de Deus, por
outro, fá-lo entrar na luta aberta, na “perseguição”, na “zombaria” da velha
natureza contra o “novo ser”, que terá de “se virar sozinho” nesta batalha.
É aí que temos a lição do
apóstolo no sentido de estarmos firmes na liberdade com que Cristo nos
libertou. Quando cremos em Jesus, somos libertos do pecado, o pecado não passa
a ter mais domínio sobre nós. Esta é a liberdade que Jesus nos trouxe, a
liberdade do pecado. Quando cremos em Cristo, nascemos de novo, e, assim,
ficamos libertos da natureza pecaminosa. Agora, no dia-a-dia, temos de nos
manter firmes nesta liberdade de natureza para que nos mantenhamos livres do
poder do pecado, não “tornando a nos meter no jugo da servidão”.
Quando nos mantemos firmes na
liberdade com que Cristo nos libertou, não vivemos a pecar. Pelo contrário,
passamos a viver separados do pecado, em santidade, nos aproximando a cada dia
do Senhor, e isto nada mais nada menos é o que chamamos de santificação.
Viver em santificação é viver
separado do pecado, é nos aproximar
a cada dia do Senhor, distanciando-nos do pecado cada vez mais. Isto é o que
Paulo denomina de “andar em Espírito (Rm.8:1)”, de “não cumprir a
concupiscência da carne” (Gl.5:16), de “estar no espírito” (Rm.8:9).
“Estar firmes na liberdade com
que Cristo nos libertou” é manter o Espírito Santo habitando em nós. Quando
cremos em Cristo, o Espírito Santo vem habitar em nós (Jo.14:17), tornamo-nos
“templo do Espírito Santo” (I Co.6:19) e, em virtude disso, vivemos única e exclusivamente
para Deus (Rm.6:10; Gl.2:20).
Se o Espírito Santo habita em
nós e não mais vivemos a não ser para Deus, o nosso corpo deve ser instrumento
de justiça (Rm.6:13) e não podemos mais querer satisfazer os desejos
incontrolados da natureza pecaminosa, ou seja, a “concupiscência da carne”.
Devemos, pois, moldar os nossos pensamentos, as nossas palavras e as nossas
ações de modo que tudo seja feito segundo o querer de Deus, segundo a Sua
vontade.
As “obras da carne” são atitudes
que visam satisfazer estes desejos incontrolados da natureza pecaminosa, que
buscam fazer sobrepujar o “eu”, aquele “velho homem” que quer “ser como Deus,
sabendo o bem e o mal”. Na lista meramente exemplificativa trazida pelo
apóstolo Paulo, vemos atitudes que revelam bem este descontrole dos desejos
carnais, como a prostituição, impureza, lascívia, inimizades, porfias,
emulações, iras, pelejas, dissensões, invejas, homicídios, bebedices e
glutonarias, como também ações que revelam a rebeldia contra a soberania
divina, como a idolatria, feitiçarias e heresias. Todas estas práticas
escravizam os seus agentes, que ficam sob o domínio do pecado, sob o tacão do
maligno.
“Estar firmes na liberdade com
que Cristo nos libertou” é crescer espiritualmente. Não basta se afastar do
pecado, mas é preciso ir em direção a Deus. Precisamos ser mais justos e mais
santos a cada momento (Ap.22:11), aproximarmo-nos continuadamente de Deus
(Sl.73:28). Precisamos “andar em novidade de vida” (Rm.6:4) e isto exige de nós
que cresçamos na graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo (II Pe.3:18).
Este crescimento exige de nós
que estejamos em contínuo desfrute dos meios de santificação, ou seja, da meditação diária
da Palavra de Deus (Sl.1:1,2; Jo.17:17; I Tm.4:4,5), da oração (Lc.18:1;
Ef.6:18; I Tm.4:4,5), reforçada pelo jejum (Mt.9:15; Mc.2:20; Lc.5:35;
Mt.17:21; Mc.9:29; At.13:2), do temor de Deus (II Co.7:1) e da participação
digna na ceia do Senhor (II Co.11:27-30).
Quando tanto mais nos
aproximamos do Senhor, da fonte das águas vivas, mais força teremos para
produzir frutos, mais vida teremos, mais frutificaremos, pois o segredo para
produzirmos o fruto do Espírito é estarmos em Cristo, a videira verdadeira
(Jo.15:1-5).
Nada disso ocorrerá, porém, se
não formos gerados pela “semente incorruptível” e se, quando do semear, nos
mantivermos em terrenos que não permitam a frutificação. Torna-se necessário
que a semente não caia nem à beira do caminho, onde nem chegará a germinar; nem
no terreno pedregoso, onde não se desenvolverá; nem no terreno pedregoso, onde
será sufocada. É mister que esteja na boa terra, onde terá condições de
produzir o devido fruto, como nos ensinou o Senhor Jesus na parábola do
semeador (Mt.13:1- 23; Mc.4:1-20; Lc.8:4-15).
O que estamos a produzir? Obras
da carne ou o fruto do Espírito? Qual é a nossa verdadeira identidade
espiritual? Somos “novas criaturas”? O apóstolo diz que isto é o que realmente
importa em nossa peregrinação terrena (Gl.6:15). Temos pensado nisto?
Ev. Caramuru
Afonso Francisco. Disponível em: https://www.portalebd.org.br
COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
É possível
alcançar a perfeição espiritual nesta vida? Do ponto de vista humano, não. Mas,
quando abrimos a Bíblia Sagrada, constatamos que tal perfeição não somente é
possível, como também desejável e requerida de todo aquele que professa o nome
de Deus.
Se nos valermos de
nossas forças, jamais a alcançaremos. Mas, em Jesus Cristo, nossa velha
natureza renasce para a vida eterna. Dessa forma, o ideal que Deus estabelecera
para o primeiro Adão torna-se possível, em seu Filho, o Último Adão.
Nesta última lição
do trimestre, estudaremos o nascimento, a justificação, a santificação e a
glorificação do novo homem em Cristo.
Que o Espírito
Santo nos ilumine nesta aula. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º Trimestre 2020.
Lição 13, 29 Março, 2020]
A introdução inicia com
um questionamento e uma resposta que, a luz das Escrituras, está equivocada: “É
possível alcançar a perfeição espiritual nesta vida? Do ponto de vista
humano, não. Mas, quando abrimos a Bíblia Sagrada, constatamos que tal
perfeição não somente é possível, como também desejável e requerida
de todo aquele que professa o nome de Deus.”. Efésios 4.13 diz que os dons
espirituais são dados para a edificação do corpo de Cristo "até que
todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à
perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo."
Algumas traduções dizem que nos tornaremos "perfeitos" (em vez
de alcançar a "varonilidade" ou maduros), e a partir daí
algumas pessoas equivocadamente acham que podemos alcançar a perfeição completa
nesta vida. A Bíblia ensina que, enquanto estivermos na carne, vamos sempre
lutar com uma natureza pecaminosa (Rm 7.14-24). Ninguém será
"perfeito" (sem pecado), até chegarmos ao céu. É certo que, enquanto
salvos, Deus quer que cada cristão manifeste as qualidades de seu Filho, o qual
é ele mesmo o padrão para a maturidade espiritual e perfeição (Rm 8.29; 2Co
3.18; Cl 1.28-29).
Há outro equívoco: “Mas,
em Jesus Cristo, nossa velha natureza renasce para a vida eterna.”.
O nosso velho homem é o eu do homem não regenerado. É interessante notar que a
palavra grega para "velho" não diz respeito a algo velho em anos, mas
a algo gasto e inútil. O nosso velho ser morreu com Cristo, e a vida que
desfrutamos agora é uma vida dada de maneira divina, a vida do próprio Cristo
(Gl 2.20). Por tanto, está errada a colocação de que a nossa velha natureza
renasce para a vida eterna.
I. O NASCIMENTO DO NOVO HOMEM
Jesus ensinou a
Nicodemos, renomado mestre da Lei, que o novo homem não é gerado nem da carne
nem do sangue, mas de Deus, da água e do Espírito.
1. Nascido não do
sangue nem da carne. No prólogo
de seu evangelho, o apóstolo João afiança que o novo homem, em Cristo, é, antes
de tudo, uma criação espiritual; não é gerado nem do sangue nem da carne, mas
de Deus (Jo 1.12,13). Apesar do pecado do primeiro Adão, nós podemos renascer
para Deus, através dos méritos de Jesus, o Último Adão.
A atuação do
Espírito Santo, no interior do ser humano, é o milagre mais expressivo que Deus
pode operar em nossa vida. Ao nascer de novo, o homem experimenta um novo
gênesis – a comunhão plena com o Pai Celeste (Rm 8.16). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º
Trimestre 2020. Lição 13, 29 Março, 2020]
O texto de João 1.12,13
1.12 afirma que todos quantos o receberam... aos que creem no seu nome,
isto é, todo aquele que receber o Verbo de Deus reconhece nele aquilo que ele
afirmou ser, coloca a fé nele e, assim, submete-se com fidelidade a ele. Fica
muito claro nesse texto que a graça de Deus está envolvida no dom da salvação
(Ef 2.8-10). Os que recebem Jesus, o Verbo, recebem plena autoridade de
ostentar o glorioso título de "filhos de Deus". Assim, em última
análise, não é a vontade humana que produz salvação, mas a vontade de Deus! (Jo
3.6-8; Tt 3.5; 1Jo 2.29).
2. Nascido de
Deus. O nascimento do novo homem
é descrito, pelo Evangelista, como o ato de nascer de Deus (Jo 1.12). Isso
implica a aceitação, pela fé, do plano de Salvação que o Pai Celeste elaborou
bem antes da fundação do mundo (Ap 13.8). Tornar-se nova criatura, em Cristo, é
o auge da bem-aventurança humana (2Co 5.17; Gl 6.15). Logo, nascer de Deus é
tornar-se filho de Deus pela fé (Jo 1.12). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º Trimestre 2020.
Lição 13, 29 Março, 2020]
O novo nascimento é um
ato de Deus pelo qual vida eterna é concedida ao crente (2Co 5.17; Tt 3.5; 1 Pe
1.3; 1Jo 2.29; 3.9; 4.7; 5.1,4,18). O nascido de Deus é nova criatura. Descreve
algo criado num nível qualitativamente novo de excelência. Diz respeito à
regeneração ou novo nascimento (Jo 3.3; Ef 2.1-3; Tt 3.5; 1Pe 1.23; 1Jo 2.29;
3.9; 5.4). Essa expressão abrange o perdão dos pecados do cristão pagos pela
morte substitutiva de Cristo (Gl 6.15; Ef 4.24).
3. Nascido da água. O batismo em águas só tem efeito salvador quando
recebido pela fé (Mc 16.16). Se devidamente observado, simboliza não
apenas a morte e a ressurreição de Cristo, como também o renascimento
espiritual daquele que o recebe como Salvador e Senhor (Rm 6.1-12). Dessa
forma, cumpre-se o que Paulo escreveu, asseverando que Jesus nos salvou
mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (Tt 3.5). Dessa
experiência ressurge o novo homem em Jesus Cristo. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º
Trimestre 2020. Lição 13, 29 Março, 2020]
O texto de Marcos 16.16
não ensina que o batismo salva, uma vez que os perdidos são condenados pela
descrença, e não por não terem sido batizados. a Bíblia é clara que a salvação
é pela graça mediante a fé em Jesus Cristo, não pelas obras de qualquer tipo,
nem mesmo o batismo (Ef 2.8-9). A cerimônia do batismo, que é uma das duas Ordenanças
do Senhor Jesus, identifica o crente, mediante as águas, com sua morte,
sepultamento e ressurreição (Rm 6.3-4; 1Co 12.1.3). O batismo não produz perdão
ou purificação do pecado. A realidade do perdão antecede o rito do batismo. O
arrependimento genuíno traz de Deus perdão (remissão) dos pecados (Ef 1.7), e,
por causa disso, o novo crente deve ser batizado. Portanto, entender Mc 16.16 como O
batismo em águas só tem efeito salvador quando recebido pela fé é uma
interpretação defeituosa. Acertadamente ele afirma que se trata de um
simbolismo, mas a partir daí dizer que ele salva é um equívoco.
Outra aplicação
equivocada é feita a partir do texto de Tito 3.5, onde o lavar
regenerador e renovador não se aplica ao batismo, mas à obra do
Espírito Santo! A salvação traz-nos a purificação divina do pecado e a dádiva
de uma vida nova, gerada pelo Espírito, investida de poder pelo Espírito e
protegida pelo Espírito. Esse é o novo nascimento (Jo 3.5; 1Jo 2.29; 3.9; 4.7;
5.1). O Espírito Santo é o agente dessa "obra regeneradora".
Portanto, Jesus fez referência à lavagem espiritual ou purificação da alma
realizada pelo Espírito Santo por meio da palavra de Deus no momento da
salvação (Ef 5.26; Tt 3.5), requerida para poder pertencer ao reino de Deus!
4. Nascido do
Espírito Santo. A
regeneração só é possível através da atuação do Espírito Santo na vida do
pecador arrependido; é Ele quem opera o novo nascimento (Jo 3.6). Esse ato
regenerador não pode ser explicado em linguagem humana (Jo 3.8). Somente a
partir dessa ação sobrenatural, em nossa alma, é que o novo homem, em Cristo,
torna-se possível (Gl 6.15). Temos, aí, a genuína conversão. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º
Trimestre 2020. Lição 13, 29 Março, 2020]
Note a ordem elencada:
“A regeneração só é possível através da atuação do Espírito Santo na vida
do pecador arrependido”. Dá a entender que após o
arrependimento acontece a regeneração. Esta ordem precisa ser pensada melhor, à
luz de tudo o que já foi discutido anteriormente. Leia Atos 16.14: “Uma das
que ouviam era uma mulher temente a Deus chamada Lídia, vendedora de tecido de
púrpura, da cidade de Tiatira. O Senhor abriu seu coração para
atender à mensagem de Paulo”. Primeiro Deus abre o coração de Lídia e a
consequência é que ela passa a prestar atenção e crê na mensagem proclamada por
Paulo. Semelhantemente, ninguém pode ir a Jesus em fé a não ser que Deus
trabalhe em seu coração e o atraia à fé em Cristo (Jo 6.44). Mas todos esses
que o Pai atraiu e deu ao Filho irão certamente colocar sua fé em Jesus (Jo
6.37).
Quando Jesus disse ‘O
vento sopra onde quer’ em Jo 3.6, ele quis dizer que, assim como vento não pode
ser controlado ou compreendido pelos seres humanos, mas os seus efeitos podem
ser testemunhados, assim também acontece com o Espírito Santo. Ele não pode ser
controlado ou compreendido, mas a prova de sua obra é aparente. Onde o Espírito
atua, ali há evidência inegável e certa.
SUBSÍDIO
DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
“O Novo Nascimento é uma das mais gloriosas bênçãos
dos que foram regenerados pelo Espírito Santo. É o Espírito Santo que opera o
novo nascimento (Jo 3.6). Por isso, neste tópico, é a oportunidade de você
reafirmar essa tão bela doutrina do Novo Testamento. Faça uma recapitulação da
realidade da Queda humana. E mostre que o Novo Nascimento é a garantia de Deus
acerca da restauração do ser humano tragado pelo pecado. Assim, mostre que
Deus, por meio da cruz de Cristo, e por intermédio do Espírito Santo, garantiu
a salvação a todos os que se arrependem de seus pecados e creem no Filho de
Deus. Em Cristo, está firmada a nossa eterna salvação.
II. A JUSTIFICAÇÃO DO NOVO HOMEM
O novo homem
nasce, através da fé em Jesus Cristo, num contexto de injustiça e pecado. Por
isso, precisa de um novo status diante do tribunal de Deus — a
justificação pela fé.
1. A inutilidade
da justiça humana. Nossas
obras, ainda que boas e aparentemente meritórias, não nos salvam nem nos
justificam diante de Deus (Ef 2.8,9). Aliás, são elas consideradas trapos de
imundície (Is 64.6). Só existe um meio de obtermos a salvação e de nos
justificarmos perante o Justo Juiz: a fé nos méritos perfeitíssimos de Jesus
Cristo (Rm 5.1).
A partir desse
processo, o novo homem passa a ter um novo status jurídico perante
Deus (Rm 5.9). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 1º Trimestre 2020. Lição 13, 29 Março, 2020]
A "Justificação pela
fé", também conhecida como sola fide, é um dos
conceitos basilares da Reforma Protestante. Ao utilizar o termo Justificado,
aplica-se uma declaração legal única com resultados permanentes, e
não um processo em andamento, e essa declaração jurídica nos proporciona paz
com Deus. Não é uma sensação interior e subjetiva de calma e serenidade, mas
uma realidade objetiva e exterior. Deus declarou-se em guerra com todo o ser
humano devido a rebeldia pecaminosa do ser humano contra ele e suas leis (Jo
3.36; Ef 5.6). Entretanto, o primeiro resultado importante da justificação é
que a batalha do pecador contra Deus terminou para sempre (Cl 1.21-22). A
Escritura refere-se ao fim desse conflito como uma pessoa estando reconciliada
com Deus (2Co 5.18-20). É importante frisar que essa reconciliação não depende
de nossas obras ou qualquer atitude, por melhor que sejam as intenções; isso
por que, embora o homem tenha de crer para que seja salvo, até mesmo essa fé é
parte do dom de Deus, a qual salva e não pode ser exercita pelo poder da
própria pessoa. A graça de Deus é preeminente em todos os aspectos da salvação
(Rm 3.20; Cl 2.16).
2. A maravilhosa
doutrina da justificação. Ao pecador
que, pela fé, recebe a Jesus, Deus lhe concede mais que um mero perdão e muito
mais que uma anistia; concede-lhe o status de justo, pois a justiça
de Cristo muda por completo a “situação jurídica” do réu (1Co 6.11). Este é
completamente perdoado; e seus pecados, inteiramente apagados (Hb 10.17). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º
Trimestre 2020. Lição 13, 29 Março, 2020]
A clara noção bíblica
da justificação é o perdão de pecados. É o ato de Deus Pai, pelo qual, em
atenção ao sacrifício de Jesus por nós, mostra sua justiça (ou misericórdia),
perdoando-nos os pecados. Estes pecados são cancelados. Cristo tomou sobre si
as nossas culpas, sofreu, imerecidamente, em nosso lugar. Assim, estamos
reconciliados com Deus mediante o sangue de Cristo. Justificados diz respeito a
uma nova postura diante de Deus, na qual o cristão é revestido da justiça de
Cristo. Na morte de Cristo, os pecados do cristão foram imputados a ele e ele
sofreu por causa desses pecados para que a sua justiça pudesse ser imputada a
nós, e assim, fôssemos abençoados por ela (Rm 3.26; 4.22-25; 2Co 5.21; Fp
3.8-9; 1Pe 3.18).
3. O novo homem é
justo. A partir de sua conversão,
o pecador passa a ser visto por Deus como se jamais tivesse cometido qualquer
injustiça; de agora em diante, é um justo aos olhos de Deus (1Jo 3.7). Haja
vista o que houve com o ladrão que, na cruz, creu no sacrifício de Jesus Cristo
(Lc 23.42,43). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 1º Trimestre 2020. Lição 13, 29 Março, 2020]
Aqueles que realmente
nasceram de novo refletem a natureza divina do Filho. Comportam-se como ele,
manifestando na sua vida o poder da vida dele (Gl 2.20). A velha
natureza do cristão está morta, tendo sido crucificada
com Cristo (Rm 6.3,5). O novo ser do cristão tem o privilégio da habitação de
Cristo, fortalecendo-o e vivendo por meio dele! O novo homem é justo, por causa
da justiça de Cristo aplicada a ele; pela fé naquele que justifica o pecador,
pois “aquele que crer não é condenado” pois já “passou da morte para
a vida”.
SUBSÍDIO
TEOLÓGICO
“Assim como a regeneração leva a efeito
uma mudança em nossa natureza, a justificação modifica a nossa situação diante
de Deus. O termo ‘justificação’ refere-se ao ato mediante o qual, com base na
obra infinitamente justa e satisfatória de Cristo na cruz, Deus declara os
pecadores condenados livres de toda a culpa do pecado e de suas consequências
eternas, declarando-os plenamente justos aos seus olhos. O Deus que detesta ‘o
que justifica o ímpio’ (Pv 17.15) mantém sua própria justiça ao justificá-lo,
porque Cristo já pagou a penalidade integral do pecado (Rm 3.21-26). Constamos,
portanto, diante de Deus como plenamente absolvidos” (HORTON, Stanley
(Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de
Janeiro: CPAD, p.372).
III. A SANTIFICAÇÃO DO NOVO HOMEM
Ao contrário da
regeneração, que é um ato instantâneo, a santificação é um processo que demanda
toda a nossa vida até alcançarmos a estatura de varões perfeitos.
1. A santificação
como posicionamento. No exato
instante de sua conversão, o pecador arrependido passa a ser visto não apenas
como justo, mas também como santo por Deus e pela Igreja (Lc 23.42; 1Co 1.2).
Já separado do mundo, torna-se propriedade exclusiva do Senhor (Êx 19.5; 1Pe
2.9). Posicionalmente é santo, embora esteja ainda em processo de santificação.
[Lições Bíblicas CPAD, Revista
Adultos, 1º Trimestre 2020. Lição 13, 29 Março, 2020]
"Mas vós sois
dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e
justiça, e santificação, e redenção" (1Co 1.30). As palavras
"santificar", "sagrado" e "santo" são traduções
da mesma palavra grega. Elas significam estar separado para um serviço
especial. A santificação é a dedicação a Deus, se separando do pecado. A partir
do momento em que ocorre o novo nascimento, o homem é santificado, sua vida é
dedicada a Deus, não mais ao pecado. Isso implica dizer que o homem agora é
santo (1Co 1.2; 6.11).
2. A santificação
como processo. O novo
homem, em Cristo, ainda que seja visto como santo, e realmente o é, terá de
submeter-se a um longo e disciplinado processo de santificação, até que venha a
alcançar a estatura do Filho de Deus (Pv 4.18; Ef 4.13).
Na santificação do
novo homem, a Palavra de Deus é imprescindível, pois nos conduz ao ideal
cristão: perfeição e santidade, para que em tudo sejamos imagem e semelhança de
Deus (Gn 17.1; Mt 5.48; 1Pe 1.16). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º Trimestre 2020.
Lição 13, 29 Março, 2020]
A santificação também
se refere à experiência prática dessa separação para Deus, sendo o efeito da
obediência à Palavra de Deus na vida de alguém e deve ser ardentemente buscada
pelo crente (1Pd 1.15, Hb 12.14). Esta é a santificação prática. Trata-se do
crescimento cristão, deixando o pecado do lado e vestindo dedicação a Deus (Rm
6.19,22; 1Tm 4.3,4; 1Pd 1.14-16).
Na santificação do novo
homem, a Palavra de Deus é imprescindível, ao meu ver, a construção da frase está errada, isso por que,
em João 17.19 “para que também eles sejam santificados pela verdade”, a
Palavra de Deus é o meio pelo qual ela acontece. Por isso mesmo a santificação
é progressiva na vida do crente, transformando o seu caráter para ser mais e
mais como Jesus.
3. A santificação
é a vontade de Deus no novo homem. O novo homem
é impossível sem o processo de santificação (Hb 12.14). Quanto mais nos
santificamos, mas parecidos nos tornamos com o Senhor Jesus; somos seus
imitadores (1Co 11.1). Logo, devemos ver a santificação como a vontade suprema
de Deus para a nossa vida (1Ts 4.3). Mas, se pecarmos, o sangue de Jesus Cristo
nos purifica de toda a injustiça e impureza (Jo 1.7).
Que a Igreja de
Cristo volte a pregar, com mais instância e urgência, a doutrina da
santificação. Nenhum impuro ou profano entrará na Jerusalém Celeste (Ap 21.8). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º
Trimestre 2020. Lição 13, 29 Março, 2020]
“Como posso ser
santificado?
Se você aceitou Jesus
como seu salvador, você já foi salvo e santificado. Para crescer em
santificação, você precisa deixar Deus trabalhar em sua vida, mesmo
nas áreas mais secretas e doloridas. É Deus quem santifica você, pela ação do
Espírito Santo (2 Tessalonicenses 2:13). O Espírito nos ajuda a resistir à
tentação e a vencer o pecado. Sem a ajuda do Espírito Santo, sua vida não vai
mudar.
Se você quer ser cada
vez mais santificado, você precisa estudar a Bíblia. Não é só ler,
é procurar entender e aplicar à sua vida. A Bíblia é a palavra de Deus e nos
santifica (João 17:17). Você precisa aprender da Bíblia. Você também
precisa obedecer. Se você obedece a Deus, você coopera com Ele para
a santificação; se você desobedece, você resiste contra a santificação.” (respostas)
SUBSÍDIO
TEOLÓGICO
“Atualmente, há urgente necessidade de renovada ênfase à doutrina da santificação
nos círculos pentecostais. Em primeiro lugar porque são raros os pentecostais
que hoje aceitariam a ideia de estar precisando de renovação espiritual. A
despeito de muitíssimos crentes terem sido batizados no Espírito Santo, são
muitas as igrejas pentecostais que não possuem a vitalidade e a eficácia que nelas
se evidenciavam em anos anteriores. Em segundo lugar, a ênfase pentecostal ao
batismo no Espírito e aos dons sobrenaturais do Espírito tem resultado numa falta
de ênfase ao restante da obra do Espírito, inclusive a santificação. Em
terceiro lugar, a aceitação mais generalizada dos pentecostais e dos
carismáticos parece ter ameaçado a distinção tradicional entre a Igreja e o
mundo, lançando dúvidas sobre muitos dos antigos padrões de santidade. E,
finalmente, os pentecostais de hoje dão muito valor à popularidade que acabaram
de conquistar e, no afã de preservá-la, zelam por evitar qualquer aparência de elitismo
espiritual” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal.
Rio de Janeiro: CPAD, p. 412).
CONCLUSÃO
Quem recebeu Jesus
como o seu Salvador e Senhor, tomou a melhor decisão, pois os seus pecados
foram apagados por Cristo. A nova vida em Jesus é um presente de Deus.
E, quando do
arrebatamento da Igreja, você será semelhante ao Senhor Jesus, porque esta é a
promessa que Ele nos fez por intermédio do apóstolo João: “Amados, agora somos
filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que,
quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o
veremos” (1Jo 3.2).
Sim, nós os
redimidos do Cordeiro, seremos glorificados. E, nessa bem-aventurança,
estaremos para sempre com o Senhor.
Que o Cordeiro de
Deus seja eternamente louvado! [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º Trimestre 2020.
Lição 13, 29 Março, 2020]
Todo aquele que exerce
a Fe salvadora genuína torna-se um filho de Deus no momento em que crê (Jo
1.12; Rm 8.16; 2Pe 1.4), embora a verdadeira vida divina e celestial nessa
pessoa não será revelada até que Jesus apareça (Rm 8.19). Enquanto
isso, o Espírito Santo está operando para que sejamos segundo a imagem de
Cristo (2Co 3.18). O Crente tem uma esperança: Quando
Cristo voltar, ele conformará todo crente à sua imagem, ou seja, sua natureza.
A natureza gloriosa dessa conformidade é indescritível, mas os cristãos serão
semelhantes a divindade encarnada tanto quanto a humanidade glorificada, sem se
tornarem deuses. Por causa dessa esperança, resta-nos buscar a purificação,
assim mesmo com Ele é puro, isto é, devemos viver na realidade da volta de
Cristo; isso faz diferença na conduta de um cristão. Uma vez que um dia os
cristãos serão semelhantes a ele, deveria crescer neles um desejo de se
tornarem como ele agora. Essa era a paixão de Paulo, expressa em Fp 3.12-14,
essa deve ser a nossa paixão. Para isso, é preciso purificar-se do pecado, uma
atitude na qual desempenhamos um papel (2Co 7.1; 1Tm 5.22; 1Pe 1.22).
Francisco Barbosa
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