sexta-feira, 20 de maio de 2016

LIÇÃO 8: ISRAEL NO PLANO DA REDENÇÃO


SUBSÍDIO I

“E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti” (Rm 11.17,18). Infelizmente não são poucos dentro da igreja evangélica que esquecem essa advertência e reverberam a ideia equivocada da Teologia da Substituição. Penso ser importante usar este espaço para falar um pouco da origem dessa teologia, pois pode haver alguém da sua classe que desconhece esse tema e lhe faça algumas perguntas.
A questão do papel do povo judeu hoje no plano de Deus tem despertado sentimentos variados nos cristãos do mundo atual em relação ao Israel contemporâneo. Tais sentimentos atrelam-se ao método adotado na interpretação bíblica ao longo da história eclesiástica. Assim, o método alegórico foi importantíssimo para o surgimento da Teologia da Substituição.
A destruição de Jerusalém, a Cidade de Deus, no ano 70 d.C, foi um acontecimento crucial para a eficácia desse método. No século IV, o clero cristão era constituído por bispos ocidentais e orientais influenciados pelo método alegórico — ele uniu-se ao império romano, mediante Constantino, o imperador de Roma. Esses clérigos consideraram a destruição de Jerusalém um sinal de que Deus havia rejeitado o povo judeu.
Neste contexto, a Teologia da Substituição ganhou força dentro do Cristianismo. A igreja romana advogou para si o título de o “Novo Israel de Deus”. E, a exemplo de outras tradições cristãs, passou julgar os judeus como o “povo rebelde que matou Jesus” e para sempre fora rejeitado por Deus. Por isso, o estudioso Arnold Fruchtenkbaum conceitua a Teologia da Substituição como corrente que rejeita o moderno Estado de Israel como cumprimento da profecia bíblica. Neste caso, todas as profecias sobre o povo judeu já fora cumprida e, por isso, não se deve esperar nenhuma restauração futura de Israel (cf. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica. CPAD, 2008, pp.372). Ora, algumas respostas sobre a profecia bíblica deveriam responder a estas questões: Qual o público alvo da profecia bíblica? Cumpriu-se toda? A quem Deus prometeu uma terra localizada no Oriente Médio?À Igreja ou a Israel? Tal promessa se cumpriu plenamente? Então, o estudioso sério das Escrituras pensará muito antes de afirmar que a Igreja substituiu Israel.


Fonte: Revista Ensinador Cristão, Ano 17 - nº 66 – abr/mai/jun de 2016. 

SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Em Rm. 11.1 vemos uma pergunta crucial a respeito de Israel: “Teria Deus rejeitado o Seu povo”? O próprio Paulo nos dá a resposta: “De modo nenhum”. Nos capítulos 9, 10 e 11 o Apóstolo procura argumentar, e ao mesmo tempo refutar conceitos errados a respeito do futuro de Israel. Veremos, nesta lição, que Deus, em sua perfeita justiça e soberania, criou uma saída para o problema da rejeição de Israel. Ao mesmo tempo, fez um povo, a quem agraciou, denominando de Igreja, aquela que foi edificada por Cristo, composta de judeus e gentios (Mt. 16.18).

1. A ALIENAÇÃO DE ISRAEL

Israel, como nação institucionalizada, se distanciou de Deus. Essa, porém, não foi a primeira vez. O apóstolo lembrou dos dias do profeta Elias em que através de uma apostasia nacional, o povo escolheu Baal, o deus da fertilidade fenícia, ao invés de Yahweh. Elias, cujo nome significa, “somente o Senhor é Deus”, exerceu o seu ministério profético em meio ao descaso do povo israelita. Ao longo do Antigo Testamento, Deus, com o seu amor infindável, busca ser correspondido pelo seu povo. A alienação de Israel aos desígnios de Deus é um tema recorrente na Bíblia. No livro de Juízes, por duas vezes, está escrito que o povo de Israel: “fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Jz. 17.6; 21.25). Esse é o retrato da rebeldia desse povo, que, ao mesmo tempo, não deixa de ser amado por Deus. Em tom de tristeza, Ele diz: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende” (Is. 1.3). Na parábola viva do amor de Oséias por sua esposa, Gomer, testemunhamos do amor de Deus que não desiste do amor do seu povo (Os. 1.2).

2. A ELEIÇÃO DE ISRAEL

Nos versos de 17 a 24, no capítulo 11, Paulo, por meio de uma parábola, diz que Israel é a oliveira (Jr. 11.16, Os. 14.6), cuja raiz são os patriarcas e cujo tronco representa sua continuidade ao longo dos séculos. Agora, alguns ramos foram cortados – os judeus incrédulos que foram descartados, enquanto que, os gentios, sendo oliveira brava, foram enxertados no remanescente dos judeus. Por isso, os gentios não devem tratar os judeus com descaso, pois foi pela graça de Deus que ele foram enxertados no Seu povo e feitos “concidadãos dos santos” (Ef. 2.19). A vida nova que os capacita a produzir frutos para Deus é a vida do velho tronco de Israel, no qual foram enxertados. Assim, Israel nada deve aos gentios, mas nós, somos devedores por que, como está escrito, “Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus” (Jo. 4.22). Alguns ramos, de fato, foram cortados, mas o Apóstolo nos lembra de Elias e os profetas de Baal, que: Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal. “Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça” (Rm. 11.4,5). Não pensem, porém, que essa eleição se dá pelo simples fato daqueles judeus serem judeus. Esse remanescente, como o fez Abraão, não se fiou no poder da circuncisão, mas no da fé, e isso, também lhe foi imputado para justiça (Rm. 4.3,9).

3. DEUS NÃO REJEITOU SEU POVO

A cegueira de Israel não durará para sempre, é apenas por algum tempo a fim de que viesse a salvação dos judeus, a riqueza do mundo (Rm. 11.11,12). A restauração de Israel há muito foi profetizada, por Isaias: “E virá um Redentor a Sião e aos que em Jacó se converterem da transgressão, diz o Senhor” (Is. 59.20), por Jeremias: “Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (Jr. 31.33). Isso mostra que, apesar de seu distanciamento temporário, Israel continua sendo objeto do amor eletivo de Deus. Não podemos esquecer que as promessas de Deus, uma vez feita aos patriarcas, não podem ser revogadas, por isso, Ele estabeleceu um momento no qual levará a cabo tudo aquilo que está determinado para o Seu povo, será o momento em que o Senhor soprará sobre o vale de ossos secos e eles tornarão a viver (Ez. 37). Isso acontecerá depois dos dias da grande tribulação (Mt. 24.21; Ap. 7.14), no dia em que todas as nações se ajuntarão contra Israel (Zc. 12.3; 14.2), até que, nos céus, aparecerá o Senhor com poder e muita glória (Mt. 24.30; Zc. 14,4,5; Zp. 1.7; 19.11-16).

4. O FUTURO GLORIOSO DE ISRAEL

Atentemos para a pergunta profética de Is. 66.8: “Quem jamais ouviu tal coisa? Quem viu coisas semelhantes? Poder-se-ia fazer nascer uma terra num só dia? Nasceria uma nação de uma só vez? Mas Sião esteve de parto e já deu à luz seus filhos”. O futuro de Israel já começou, pois, o que seria improvável, uma nação nascer de uma só vez, aconteceu em 1948, quando foi criado o Estado de Israel. Esse, porém, foi apenas o começo, pois o Israel escatológico de Deus virá, de fato, à tona, por ocasião do Milênio (Ap. 20.1-6). Naquele período Israel ocupará toda a terra que lhe pertence e será posta como cabeça entre as nações (Gn. 15.18; I Cr. 16.15-18; Is. 11.10). Então, se cumprirão as profecias a respeito do reino do Messias (Dn. 9.24; At. 3.20,21). O templo milenar será construído (Za. 6.12-13; Ez. 43.4-9), Jerusalém será estabelecida e ampliada (Sl. 102.16; Jr. 31.38-40). Israel, no Milênio, será uma bênção para o mundo (Is. 27.6) e terá Jerusalém como a sede do governo mundial (Is. 2.3; 60.3; 66.20; Jr. 3.17; Zc. 8.3,22,23; 14.16), pois dali sairá tanto a lei como a palavra do Senhor (Is. 2.2; Mq. 4.2). No período milenar não mais haverá guerras (Mq. 4.3; Zc. 9.10; Is. 2.4), nem injustiça social (Is. 11.4). Israel desfrutará de um pleno derramamento do Espírito de Deus (Ez. 39.29; Zc. 12.10).

CONCLUSÃO

O povo de Israel rejeitou a Deus, mas como tem aconteceu ao longo do relato do Antigo Testamento, Deus não se esqueceu do seu povo. A rejeição de Israel, na verdade, serviu para benefício dos gentios, haja vista que, agora, fomos enxertados na oliveira. Deus reservou um futuro glorioso para Israel, no qual, o Rei, Jesus, estabelecerá seu trono, em Jerusalém, para reinar sobre todos os povos. Até lá, todos, independentemente da nação, podem ser integrados ao Corpo de Cristo, a Sua Amada Igreja, comprada com Seu precioso sangue.

Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog subsidioebd

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

Paulo discorreu a respeito da Doutrina da Salvação nos capítulos 1 a 8 da Epístola aos Romanos. Veremos nesta lição que nos capítulos 9, 10 e 11, ele abre um parêntese para tratar a respeito da “sorte de Israel” no plano da salvação. Aprendemos com estes capítulos que Deus tem um plano especial para com Israel e que a rejeição deles é apenas temporária até se cumprir a plenitude dos gentios, quando todo o Israel será salvo. [Comentário: Nos capítulo 9 a 11 de Romanos, Paulo trata da eleição de Israel no passado, da sua rejeição do evangelho no presente, e da sua salvação futura. Esses três capítulos foram escritos para responder à pergunta que os crentes judaicos faziam: como as promessas de Deus a Abraão e à nação de Israel poderiam permanecer válidas, quando a nação de Israel, como um todo, não parece ter parte no evangelho? Esta lição resume o argumento de Paulo. Israel, em termos de nação, é o povo escolhido por Deus (Gn 12.1-3, 17.7-8; Êx 19.5-6; Dt 7.6-26; Is 43.5-7; Jr 7.23; 13.11; At 13.17), não por seus atributos mas, muito pelo contrário, pela graça e soberania de Deus. Ele disse que, através desta nação, seriam abençoadas todas as famílias da terra (Gn 12.3).] Dito isto, vamos pensar maduramente a fé cristã?

I. A ELEIÇÃO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO (Rm 9.1-29)

1. O anseio de Paulo e a incredulidade de Israel. O apóstolo deixa explícito a elevada estima que possuía por seus compatriotas. Ele abre o seu coração para expressar seus sentimentos em relação ao seu povo (Rm 9.1-5). Ele desejava que todos, assim como ele, entendessem o plano perfeito da salvação revelado em Jesus Cristo. Esse desejo de Paulo se intensifica quando ele lembra os crentes romanos de que aos judeus foi dada a adoção, a glória, os pactos, a Lei, o culto e as promessas. Paulo também os faz recordar que deles (dos judeus) também descendem os patriarcas e o próprio Cristo! Mas, apesar de todas essas bênçãos, o entendimento do povo judeu continuava, e continua, endurecido. [Comentário:Estamos no capítulo 9, dos versículos 6 a 13, Paulo afirma que a promessa de Deus a Israel não falhou, pois a promessa era só para os fiéis da nação. Visava somente o verdadeiro Israel, aqueles que eram fiéis à promessa (Gn 12.1-3; 17.19). Sempre há um Israel dentro de Israel, que tem recebido a promessa. Nos versículos 14 a 29, Paulo chama a nossa atenção para o fato de que Deus tem o direito de fazer o que Ele quer com os indivíduos e as nações. Tem o direito de rejeitar a Israel, se desobedecerem a Ele e o direito de usar de misericórdia para com os gentios, oferecendo-lhes a salvação, se Ele assim decidir. Embora Paulo seja o apóstolo dos gentios, ele reverbera os sentimentos de Moisés em face da incredulidade dos judeus (Êx 32.30-32). Eles são seus próprios compatriotas, e Paulo agoniza por eles (v. 2). Estar disposto a sofrer a maldição divina, por eles, é uma fortíssima declaração de amor. Paulo destaca que a incredulidade de Israel pode ser vista pelas inúmeras bênçãos por eles experimentadas. Nesses oito privilégios que Paulo alistou nos versículos 4-5, ele confirma sua anterior declaração em 3.1-2.]
2. Os eleitos e as promessas de Deus. O argumento de Paulo em Romanos 9.6-13 revela que as promessas de Deus relativas à nação de Israel não falharam, mesmo que a maioria deles as tenha rejeitado. As promessas terão seu fiel cumprimento através dos judeus remanescentes, dos gentios que abraçaram a fé e do Israel que será restaurado no futuro. Essa porção das Escrituras é uma das mais debatidas entre os teólogos. As posições se polarizam quando o debate é entre determinismo e livre-escolha. Todavia, Paulo não está se referindo a eleição individual, mas coletiva. O exemplo dos irmãos Jacó e Esaú, dado para ilustrar o argumento do apóstolo, deixa isso evidente (Rm 9.10-13). A citação que Paulo faz de Jacó e Esaú, nesse texto, é tirada do livro do profeta Malaquias 1.2-4. Basta uma olhada nessas passagens para ver que o profeta não estava se referindo às pessoas ou aos indivíduos “Jacó” e “Esaú”, que nessa época já haviam morrido há muito tempo, mas a grupos ou povos. Isso é demonstrado em Malaquias 1.4, onde Esaú é identificado com Edom, um povo e não um indivíduo. Fica, portanto, evidente à luz desse contexto que a predestinação é corporativa, isto é, de um grupo, povo, ou nação, e não de pessoas. [Comentário: Deus não escolheu Israel em detrimento das demais nações. Deus ao escolher Israel, não o fez em detrimento, mas, sim, em favor de todas as demais nações da terra. Aqui é importante salientar que a ilustração dos vasos não advoga que Deus cria seres morais objetivamente estruturados e programados para serem incrédulos, mas ilustra que foi Deus quem formou a nação de Israel, porém permitiu que judeus pudessem desonrar o pacto preestabelecido. O ponto distintivo e esclarecedor é que a eleição dos israelitas, a princípio, não objetivava terminantemente a salvação eterna deles, mas era uma eleição e predestinação específica para obra; até porque a Bíblia afirma, tanto quanto Paulo, que os israelitas que não se converteram serão condenados juntamente com os demais incrédulos (Rm 3.20, 28; Mt 11.20-24; Gl 2.15, 16). Deus havia elegido Israel para a tríplice missão: demonstrar o poder de Deus ao mundo, revelar a palavra de Deus ao mundo e revelar o Messias ao mundo.]
3. Eleição, justiça e soberania de Deus. Nos versículos 14 a 29, do mesmo capítulo nove, Paulo responde as indagações sobre a justiça de Deus e sua soberania. Deus não poderia ser acusado de ter sido injusto com Israel por eles se acharem no estado em que se encontravam. Paulo toma Faraó para exemplificar sua argumentação. O apóstolo afirma que o endurecimento do coração de Faraó ocorreu quando este resistiu à vontade de Deus (Êx 7.14,22; 8.15,32; 9.7). Da mesma forma, Israel foi endurecido porque não aceitou a justificação que lhe foi dada através de Jesus Cristo. O exemplo extraído da metáfora do vaso do oleiro serve para fundamentar mais ainda a argumentação em favor da justiça e da misericórdia de Deus. O argumento determinista que vê os “vasos de ira” e “vasos de misericórdia”, como sendo uma referência aos salvos e condenados, cai diante da exposição do próprio texto. Deus suportou os vasos da ira e eles se tornaram, por si mesmos, objetos da ira de Deus; mas os vasos de misericórdia participarão da glória de Deus, através da fé, pela graça de Deus, e não como resultado das suas próprias obras. [Comentário: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia” (9.15) é um texto mal interpretado pelos defensores da eleição incondicional, pois, baseados nele, afirmam que Deus ama e tem misericórdia apenas dos eleitos. Mas isto contrariaria a afirmação do próprio Paulo, que, na conclusão deste assunto, disse que Deus tem misericórdia de todos (11.32). Lembre-se também que, um pouco antes, ele proclamou a rica misericórdia de Deus para com todos os que o invocam (10.11). Tal interpretação também colide com diversas outras passagens bíblicas que falam da bondade e da misericórdia de Deus para com todos os homens, como o Salmo 145.9, que diz: “O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias estão sobre todas as suas obras”. Portanto, as promessas de Deus feitas a Abraão estão, sim, sendo cumpridas no Israel de Deus, que é composto por judeus e gentios que creem em Cristo. Deus tem direito de rejeitar a qualquer povo, mesmo os judeus, por sua incredulidade, e eleger qualquer outro que ele quiser em seu lugar. Deus é livre para estabelecer a fé como a condição para a salvação de judeus e gentios.]

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“A Tristeza de Paulo (9.1-3)
Nestes versículos o apóstolo Paulo declara seu amor por sua gente, os judeus. Ele começa declarando: ‘Em Cristo digo a verdade, não minto’. Visto que era conhecido como judeu zeloso, sua conversão a Cristo o torna antipático para os judeus, que o viam como ‘um traidor de sua gente’. Entretanto, Paulo garante que seus sentimentos são sinceros e que sua consciência tinha o testemunho do Espírito Santo (v.1). Esse texto mostra que sua consciência agia sob a orientação iluminada do Espírito Santo.
No versículo 2, Paulo ainda declara dizendo: ‘Que tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração’. É uma expressão de profundo sentimento de amor e respeito pela sua gente, e não de traição. A despeito da hostilidade dos judeus contra a pregação do Evangelho e contra a sua pessoa, Paulo diz que, se fosse possível ele mesmo ser separado de Cristo, para salvar ‘seus parentes segundo a carne’, ele o faria por amor a eles. Essa linguagem é bem típica de quem ama profundamente e é capaz de dar a sua vida para salvar outras.
Por que essa tristeza de Paulo para com seus irmãos de sangue? A resposta é simples e objetiva: o repúdio do povo judeu para com Jesus Cristo. Sua tristeza tem duas razões específicas: Primeira, Paulo declara que os judeus são seus ‘parentes’ segundo a carne, mas não querem ser seus irmãos segundo o espírito. Segunda, pelo fato de que os judeus, possuindo privilégios especiais como nação, rejeitaram o ‘privilégio maior’, que é a salvação em Cristo” (CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho da Justiça de Deus. 5ª Edição. RJ: CPAD, 2005, p.104).

II. O TROPEÇO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO (Rm 9.30 - 10.21)

1. Tropeçaram em Cristo. Partindo do princípio de que a igreja de Roma era formada em sua maioria por gentios, a parte judaica teria dificuldade de entender porque os gentios haviam sido aceitos por Deus enquanto a maioria dos judeus não. Paulo argumenta que o tropeço de Israel se deve ao fato de não terem crido em Jesus, o Messias prometido (Rm 9.30-33). O que deveria ser solução para eles tornou-se em tropeço. Por outro lado, os gentios, ao crerem na graça de Deus, foram justificados, visto que a sua justificação veio em decorrência da fé e não dos seus méritos. [Comentário: A pedra de tropeço é Jesus Cristo, o Messias (veja 1Pe 2.6-8), que oferece salvação pela fé, não por obras, e, portanto, exige assim que o orgulho humano seja humilhado. “Israel perseguiu a lei da justiça, mas não a alcançou (v. 31). É chamada lei da justiça porque ela mostrava aos israelitas como manter o correto relacionamento com Deus que previamente lhes foi concedido. Por que eles não a alcançaram? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei. A frase “como que” indica seu equívoco. Eles observavam a lei a fim de colocar Deus sob obrigação a eles. Insistindo fazer de seu próprio jeito, eles tropeçaram em Cristo.” http://www.cacp.org.br/romanos-9-1-11-36-a-justica-de-deus-e-israel/.]
2. Tropeçaram na lei. Nesse ponto, o apóstolo realça algo que ele já vinha argumentando desde o capítulo 3. Os judeus, ao buscarem a sua justiça própria através da Lei, acabaram por rejeitar a justiça de Deus que vem através de Jesus Cristo (Rm 10.1-4). Querer agradar a Deus, seguindo os preceitos da Lei, era andar na direção errada, visto que Cristo é o fim da lei (Rm 10.4). [Comentário: “Em 10.1-21 Paulo explica a afirmação resumida em 9.30-33. O zelo de Israel não foi com entendimento. Eles não conheceram a forma de Deus conceder o bom status de um correto relacionamento com ele. Eles buscaram atingi-lo de seu próprio modo e não se sujeitaram ao modo de Deus (10.2-3). Paulo explica isto no v. 4. Cristo é o objetivo, a intenção e o real significado (telos, NVI, fim) da lei. Visto que a lei aponta para Cristo, a justiça está disponível a todos que creem nele”.http://www.cacp.org.br/romanos-9-1-11-36-a-justica-de-deus-e-israel/. Cristo cumpriu a lei e mereceu o status de justiça e vida eterna para si e para aqueles que crerão nele. Nos versículos 6 ao 13 Paulo demonstra que o Evangelho da justiça pela fé está incluída na lei. A citação, “Não digas em teu coração” (v. 6), é de Dt 8.17 e 9.4, que alerta contra a jactância presunçosa em sua própria realização e mérito, e exorta confiança no Senhor. Isto está completamente em harmonia com a justiça pela fé.]
3. Tropeçaram na Palavra. O evangelho de João já havia mostrado que Jesus veio para o que era seu, mas que os seus não o receberam (Jo 1.12). Aqui Paulo mostrará que a rejeição de Israel aconteceu, não por falta de aviso, mas porque não quis ouvir aquilo que Deus havia planejado para ele. Endureceram seus corações e tropeçaram na Palavra (Rm 10.14-21). Por outro lado, os gentios responderam positivamente a essa mesma Palavra e, por isso, foram aceitos. [Comentário: Recapitulando o que já foi falado anteriormente, para os israelitas que procuravam ser justificados pela lei, a justiça ficou fora de seu alcance - “Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça”.(9.31). Mas em Cristo, a justiça chega perto e pode ser alcançada pela fé. Paulo deseja a salvação dos israelitas, mas entende que é possível somente por meio de Jesus e não negou a perdição daqueles que confiavam na lei, mas ele queria que todos fossem salvos. Os israelitas mostraram zelo por Deus, mas não segundo o entendimento do plano do Senhor. Ao invés de aceitar a justiça de Deus, eles procuraram, em vão, estabelecer o seu próprio sistema de justiça (2-3). É bom notar que essa descrição dos judeus se aplica bem a muitas pessoas religiosas e zelosas de hoje que ainda andam conforme doutrinas humanas. Da mesma maneira que os judeus precisavam abrir os seus corações para examinar as suas crenças, todos nós devemos ser abertos para aprender melhor e mudar as nossas convicções para fazer a vontade de Deus. Corações orgulhosos e mentes fechadas impedem a salvação de muitos.]

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

 “A rejeição judaica da justiça pela fé em Deus abriu espaço para um número muito grande de gentios a serem enxertados na árvore enraizada na antiga aliança de Deus com Abraão. Esta não deveria ser objeto de orgulho gentio, mas de advertência. Nunca abandone o princípio de salvação pela graça através da fé” (RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 10ª Edição. RJ: CPAD, 2012, p.747).

III. A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO (RM 11.1-32)

1. Israel e o remanescente. Os teólogos chamam a atenção para a importância que a doutrina de um “remanescente” possui dentro da cultura judaica (Rm 11.1-10). De fato, os profetas que se levantaram contra a apostasia e o formalismo religioso acreditavam que Deus tinha uma reserva formada por aqueles que eram fiéis (Am 2.12; 5.3; Is 1.9; 6.9-13; Sf 3.12,13; Jr 23.3). Em Romanos 11.1-10, Paulo, que se considerava um dos remanescentes, cita o exemplo de Elias. Para Paulo, da mesma forma que Elias se manteve fiel no meio do Israel apóstata, assim também havia um remanescente que se mantinha fiel através de Jesus Cristo. [Comentário: No capítulo 11 Paulo continua a sua explicação da posição dos judeus diante de Deus e até o versículo 5 ele afirma que Deus não rejeitou os judeus, porque um resto foi salvo. Os judeus não acharam Deus injusto quando rejeitou a maioria na época do profeta Elias, pois sabiam que os injustos não mereciam estar com Deus. Deus mostrou a sua bondade poupando 7.000 fiéis que não serviam aos ídolos. Aqueles que mostraram a sua fé foram poupados. Em Cristo, os judeus que acreditam em Cristo são salvos. A eleição não foi aleatória, um ato do capricho de Deus. Os eleitos são aqueles que aceitam a palavra de Deus.]
2. Israel e o enxerto gentílico. Israel não conseguira entender que o plano de Deus para a salvação incluía também os gentios (Is 9.6). Tropeçaram ao não aceitarem a justiça de Deus manifestada em Jesus Cristo. Foi graças a esse tropeço, argumenta Paulo, que os gentios entraram como um enxerto no plano da salvação. Os gentios, portanto, não deviam assumir uma posição de orgulho, mas de temor. Eles não eram os ramos naturais, mas faziam parte da “oliveira brava” (Rm 11.11-24). Se Deus não havia poupado os ramos naturais, muito menos pouparia os ramos enxertados. [Comentário: Da mesma forma que Deus usou a lei para conduzir o homem à fé, ele usou a rejeição pelos judeus para conduzir muitos à salvação, ou seja, quando os judeus rejeitaram a palavra, a porta foi aberta aos gentios. Quando os gentios aceitaram o evangelho, os judeus ficaram enciumados (v. 11). No versículo 12 Paulo argumenta que se a rejeição por parte dos judeus abriu uma oportunidade para os gentios, a volta dos judeus mostraria ainda mais a grandeza da graça de Deus. Alguns ramos da oliveira (figura para judeus) foram quebrados, e ramos bravos (figura para gentios) foram enxertados (v. 17). Paulo exorta os novos ramos afirmando que estes não têm direito de se orgulhar, pois eles dependem da raiz (Abraão) (v. 18). O fato de serem enxertados não sugere algum mérito dos gentios e não os coloca acima dos judeus (19). A diferença é questão de fé, não de mérito: alguns judeus foram quebrados por falta de fé e alguns gentios foram enxertados por causa de fé (20). Para ficar na oliveira, os gentios teriam que manter o seu temor de Deus. Ele não poupou os judeus incrédulos e rejeitará os gentios se eles se tornarem incrédulos (21).]
3. Israel e a restauração futura (11.25-32). Embora Paulo se entristecesse com a situação espiritual de seus compatriotas judeus, a sua posição em relação a eles é de esperança e não de desespero (Rm 11.25-32). Paulo estava convencido de que no futuro Israel será salvo. Para ele, isso terá seu cumprimento quando se completar a “plenitude dos gentios”. A rejeição dos judeus trouxe a justificação ao mundo gentílico. Quando Deus cumprir seu propósito para com os gentios cumprirá também suas promessas de restauração para todo o Israel. [Comentário: No versículo 25 Paulo ainda combate ao orgulho dos gentios, mostrando que a incredulidade dos judeus abriu a porta para eles. Assim, “todo o Israel será salvo” (26-27). Não podemos considerar esta frase sem o seu contexto. O contexto não afirma que todos os judeus carnais ainda serão salvos. Paulo já havia dito antes que não é o Israel que é o povo de Deus, mas sim o povo espiritual (2.28-29; 9.6-8; Gl 3.29). A salvação de judeus seria possível somente através da fé deles, como mostram as citações do Velho Testamento (26-27; veja Isaías 59.20-21, que mostra a salvação daqueles que se convertem num contexto que demonstra a culpa dos judeus rebeldes). E os judeus carnais? São inimigos em termos do evangelho, pois o rejeitaram, mas ainda foi através deles que Deus cumpriu as promessas aos patriarcas (28-29). A salvação de judeus seria possível nos mesmos termos da salvação dos gentios: aqueles que deixarem a sua desobediência e confiarem na misericórdia de Deus serão salvos (30-32).]

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

 “Gentios e judeus (11.11-21)
A rejeição judaica da justiça pela fé em Deus abriu espaço para um número muito grande de gentios a serem enxertados na árvore enraizada na antiga aliança de Deus com Abraão. Esta não deveria ser objeto de orgulho gentio, mas de advertência. Nunca abandone o princípio de salvação pela graça através da fé.

Todo o Israel será salvo (11.25,26)
Paulo lança seus olhos ao passado para as promessas feitas a Israel por Isaías (59.20; cf. Jr 31). A conversão em massa de gentios a Cristo não significa que Deus repudiara as palavras dos profetas do Antigo Testamento. Somente quando todos os gentios forem convertidos é que o foco da história voltará a se concentrar em Israel (11.29)” (RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 10ª Edição. RJ: CPAD, 2012, p.747).

CONCLUSÃO

Como vimos, os capítulos 9 a 11 de Romanos demonstram a soberania de Deus na história da redenção. Revela que o propósito de Deus concernente à eleição jamais poderá ser frustrado. Diante disso, a atitude deve ser de temor, não de jactância. A história de Israel, seu antigo povo, bem como a inclusão dos gentios no plano da salvação, mostra que Deus respeita as escolhas, mesmo que estas se revelem danosas para aquele que as fez. Em todo caso, o arrependimento e a fé são os caminhos que darão acesso ao portão da graça de Deus. [Comentário: Em bem poucas palavras, a eleição consiste no ato soberano de Deus em escolher aqueles que entendeu serem necessários para concretizar os seus planos. Os eleitos possuem características próprias de acordo com o propósito para que foram eleitos. É a resposta de Deus aos desastres das Suas criaturas. Pela eleição Deus preveniu-se contra o pecado sendo os eleitos revestidos de características capazes de contrariar o progresso do pecado e da derrocada da criação. Nossa confissão de fé não entende que haja nas escrituras uma eleição de pessoas para salvação em detrimento de outras para a perdição. A Bíblia ensina claramente que Deus é soberano sobre todo o universo (Dn 4.34-35), incluindo a salvação dos homens (Ef 1.3-12). Mas com a soberania de Deus, a Bíblia também ensina que a Sua motivação para salvar os perdidos é amor (Ef 1.4-5, Jo 3.16, 1 Jo 4.9-10) e que o meio de Deus para salvar os perdidos é a proclamação de Sua Palavra (Rm 10.14-15). A Bíblia também declara que o cristão deve ser apaixonado e determinado em compartilhar o Evangelho com os incrédulos; como embaixadores de Cristo, devemos "implorar" as pessoas a se reconciliarem com Deus (2 Co 5.20-21). Diante disso, convido-os a investirem mais tempo e recursos em Missões!
Tudo isso ainda é difícil de compreender? Devemos lembrar que vem de Deus, que é muito superior a nós (33-36). Leia Isaías 55.8-9; 40.13-14.] “NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.

Francisco Barbosa

Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

LIÇÃO 7: A VIDA SEGUNDO O ESPÍRITO


LEITURA BÍBLICA EM CLASSE


Romanos 8.1-17

1- Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito.
2- Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.
3 - Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne,
4- para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.
5- Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito.
6- Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.
7- Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser.
8- Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.
9- Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.
10- E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça.
11- E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo também vivificará o vosso corpo mortal, pelo seu Espírito que em vós habita.
12- De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne,
13- porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.
14- Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.
15- Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai.
16- O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.
17- E, se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados.



INTERAGINDO COM O PROFESSOR

Professor, na lição de hoje estudaremos o capítulo oito da Epístola aos Romanos. Neste capítulo, o apóstolo Paulo apresenta um princípio que deve reger a vida de todos os que foram alcançados pela graça divina: viver segundo o Espírito Santo. A graça de Jesus é maravilhosa, pois transforma o homem pecador em santo. Como novas criaturas, o Consolador passa a morar em nós concedendo-nos recursos para vivermos neste mundo de maneira santa e justa. Aqueles que já experimentaram o novo nascimento já não vivem mais na prática do pecado. Nosso corpo se torna seu templo. Sem o Espírito Santo não poderemos viver de modo a agradar ao Pai. Que possamos nos entregar totalmente a Deus, permitindo que o seu Espírito nos guie.

  
SUBSÍDIO I

O tema do capítulo oito

Caro professor, a lição sete abordará o último capítulo da primeira seção da Carta aos Romanos. Lembra de que a epístola está estruturada em três grandes seções: 1?8; 9?11; 12?16? Na presente lição, analisaremos o capítulo 8, que conclui o argumento da justificação, apresentado pelo apóstolo Paulo ao longo dos sete capítulos anteriores: a vida no Espírito. 
Ora, se ao longo dos sete capítulos o apóstolo argumenta que Cristo nos justificou e nos libertou, arrancando-nos das garras do império do pecado, agora ele pretende mostrar como é a vida no Espírito de quem foi justificado por Cristo. Para isso, é importante o professor voltar-se para algumas referências dos capítulos anteriores: Romanos 5.1-5; 7.4-6.

A nova vida no Espírito

“Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que nãoandam segundo a carne, mas segundo o espírito” (8.1). É significativo que este primeiro versículo seja uma consequência natural e prolongada de Romanos 7.6: “Mas, agora, estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra”. Portanto, nenhuma condenação há para quem está em Cristo!
O apóstolo passa a demonstrar o fato de que a libertação do pecado produzida pelo Espírito resultou em nosso livramento da culpa e da morte, fruto da obra expiatória de Cristo no Calvário. Se no capítulo cinco esta nova realidade de vida traz a esperança, pois é uma nova realidade como produto do derramamento do amor de Deus por intermédio do seu Espírito (v.5), no oitavo o apóstolo trata o crente como que vivendo e estando imerso nesta esperança, isto é, a vida plena no Espírito Santo (8.1,6b).
A realidade de quem “anda” no Espírito vislumbra no apóstolo uma perspectiva escatológica? “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (8.18)? arraigada na realidade da existência: “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (v.26). Convide a sua classe a viver no Espírito. Nossa esperança deve estar no céu, mas não podemos perder de vista a realidade das coisas. Precisamos reproduzir o vislumbre da gloriosa esperança onde habitamos

Fonte: Revista Ensinador Cristão, Ano 17 - nº 66 – abr/mai/jun de 2016. 

SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Em Gl. 5.17 Paulo nos dá um vislumbre do tema da santificação, que é abordado nos capítulos 7 e 8 de sua carta aos Romanos. Diz ele: “Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis”. Na lição de hoje, trataremos a respeito da luta entre a carne e o Espírito, e mais especificamente, da santificação como resultado da atuação do Espírito na vida do crente.

1. A NATUREZA DA CARNE

1.1 Definição do termo
A palavra carne (sarx, em grego) apresenta diferentes significados dependendo dos contextos em que é utilizada. Nos escritos paulinos o termo carne se refere: 1) ao corpo físico/personalidade: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl. 2.20); 2) a natureza humana pecaminosa: “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne (Gl. 5.16). Equivocadamente, alguns cristãos confundem esses dois significados e pensam que, o corpo, por si mesmo, é mal. Essa é, na verdade, uma deturpação do doutrina cristã proveniente do platonismo. Nesse sentido é preciso considerar o que escreveu o apóstolo aos crentes de Corinto: “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?”. Portanto, não se pode confundir “carne”, no sentido de corpo de “carne” no sentido de natureza pecaminosa.

1.2 Andar segundo a carne
Não é normal que o cristão continue andando segundo a carne. Em I Jo. 5.18, está escrito que “todo aquele que é nascido de Deus não peca” (I Jo.18). Uma tradução mais aproximada ao texto grego diria que “todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando”, ou, parafraseando: “não se alegra em continuar na prática do pecado”. As obras da carne, conforme vemos em Gl. 5.19-21, são: “adultério, prostituição, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias”. Os que estão na carne, diz Paulo em Rm. 8.8, “não podem agradar a Deus”.

1.3 Andar segundo o Espírito
Essa verdade está muito bem explicitada em Rm. 8.5: “Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito”. O homem carnal, distanciado de Deus, não consegue pensar em outra coisa, senão em satisfazer seus desejos carnais, sua propensão é para a carne, enquanto que o homem espiritual tende para as coisas espirituais, sua satisfação está em Deus, isto é, ele se alegra na produção do fruto do Espírito em sua vida (Gl. 5.22). Como filhos da luz, estamos decididos a fazer o que “é agradável ao Senhor” (Ef. 5.10). Essa é uma obra do Espírito, não do homem, pois é Ele, não nós, quem nos vivifica (Rm. 8.11).

2. A VERDADE SOBRE A SANTIFICAÇÃO

2.1 Definição de santificação
Santificação vem, literalmente, de ‘fazer santo’ ou ‘consagrar’, que, basicamente, vem de ‘separar’. Trata-se, assim, da separação daquilo que é profano e mundano. Por isso, o conceito bíblico de santificação implica em uma dedicação total a Deus a fim de cumprir os propósitos santos para os quais foi separado ao mesmo tempo em que reconhece o próprio Deus como o autor do processo de santificação. A meta para a santificação se encontra bem explicitada em I Ts. 5.23: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”

2.2 Aspectos da santificação
A santificação, conforme depreendemos de diversas passagens bíblicas, tem dois aspectos: posicional e experimental. Isto quer dizer que ela é tanto uma posição que o crente ocupa em relação a Deus e é também uma experiência constante na sua vida. A santificação posicional é uma mudança de posição pela qual um pecador é imputado como santo diante de Deus. A esse respeito vejamos o que escreveu Paulo em I Co. 1.30: “Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”. Em acréscimo a esse aspecto posicional da santificação podemos também ler I Co. 6.11: “E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus”. No que tange ao aspecto progressivo ou experimental, temos vários textos, um dos mais conhecidos é Hb. 12.14: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” e Rm. 12.2: “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”. No aspecto posicional somos chamados de ‘santos’ enquanto que no aspecto progressivo somos chamados a ‘sermos santos’.

2.3 O meio para a santificação
A santificação, como já estudamos em lições anteriores, não é algo que se obtêm a partir da observância de um conjunto de regras exteriores previamente estabelecidas. A santificação é uma obra do Espírito Santo, considerando que: “se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis” (Rm. 8.13). Isso acontece quando o Espírito produz em nós o Seu fruto: “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei”. (Gl. 5.22,23). O propósito da santificação é, nesse sentido, fazer com que o crente continue a crescer e a progredir, tornando-o, cada vez mais, semelhante a Cristo. Como diz Paulo em II Co. 3.18: “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”.

CONCLUSÃO

O viver cristão é um andar contínuo no Espírito em total consagração (separação) para Deus. Essa é uma obra que não é por força nem por violência, mas pelo Espírito do Senhor (Zc. 4.6). A menos que nos deixemos guiar pelo Espírito, dificilmente seremos capazes de vencer a natureza adâmica. Uma motivação para viver essa santidade espiritual, diferente daquela proposta pelo legalismo, é o amor a Deus, primeiramente o amor de Deus, provado em Sua entrega a nós, mesmo que não mereçamos (Rm. 8.38,39).
  
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog subsidioebd

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

No capítulo sete da Epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo apresenta um pequeno esboço do que ele iria tratar no capítulo seguinte. Por todo o capítulo oito, o apóstolo faz um contraste entre a velha vida, marcada pelo pecado e sem condições de se libertar, com a nova vida no poder do Espírito Santo, que Cristo nos proporcionou. O que fora impossível à antiga aliança, regida pela Lei, agora se tornou possível graças a uma nova lei - a lei do Espírito de Vida em Cristo Jesus. Por intermédio do Espírito Santo já temos uma visão prévia da alegria que, um dia, viveremos ao lado do Senhor no céu. Temos também a garantia de que, no futuro, desfrutaremos da plenitude da salvação. [Comentário: Paulo inicia o capítulo oito, dizendo que nenhuma condenação há para os que são de Cristo Jesus, ou seja, aqueles que receberam ao Senhor Jesus, como único e suficiente salvador, e se arrependeram de seus pecados, estão justificados com Cristo, por isso estão livre da condenação do juízo final (Rm 5.1,2). O capítulo 8 nos fala de libertação do pecado e da morte (8.1-11), estamos livres, diz o apóstolo Paulo. A lei do Espírito da vida passou a atuar em nós, uma lei mais forte do que a lei do pecado e da morte, que denunciava nossa impotência. A lei do Espírito e da vida fala do poder que agora atua em nós como resultado do sacrifício de Jesus Cristo. Esse sacrifício não só nos livrou da condenação, porque pagou os nossos débitos, que a lei denunciava na vida de cada um de nós, mas, mais do que isso, tirou-nos da lei do pecado e da morte, ou seja, livrou-nos daquilo que nos mantinha constantemente sob débito. Agora uma nova força atua em nós, a força do Espírito de Deus. Agora, aquilo que a lei exigia, que era a justiça e santidade se tornou possível, por causa do Espírito que habita nessas pessoas. No capítulo 7, a força do pecado em nós era o que nos causava impotência absoluta; no capítulo seis, a marca daqueles que foram afetados pela Graça é buscar cada vez mais crescer na Graça, ou na linguagem do capítulo oito, inclinar-se para as coisas do Espírito. Neste capítulo, é destacada a diferença entre aquele que ainda vive preso a uma vida de pecado, com aquele que pela fé creu no Senhor Jesus e teve seus pecados justificados. Aquele que se mantém rebelde contra Deus e vive no pecado, ele também esta obedecendo a sua carne, se inclina para os desejos dela e vive para satisfazê-la, mas aquele que ouviu a vontade de Deus, crendo que ele mandou seu Filho para que através de sua morte e ressurreição fosse salvo (Jo 3.16), este recebeu o Espírito de Deus e por isso é inclinado a obedecer ao que o Espírito lhe conduz a fazer. E isso não é algo que o Espírito nos obriga a fazer, muito pelo contrário, ele age mansamente, nos convencendo de que aquilo é o melhor para nossa vida e gera em nós um desejo de agradar a Deus, por isso obedecemos, porque o amamos.]

I. A VIDA NO ESPÍRITO PRESSUPÕE OPOSIÇÃO À LEI DO PECADO (Rm 8.1-4)

1. A enfermidade da lei. Como pudemos observar no capítulo sete, Paulo exclamou em tom desesperador quando vê diante de si (e de todos os cristãos) o impiedoso jugo do pecado (Rm 7.24). Esse grito pertence a todos nós. Mas qual era a razão desse desespero? É necessário entendermos a argumentação do apóstolo em torno desse assunto. Ele havia dito que todos os homens, quer gentios quer gregos, estavam debaixo da condenação do pecado. Mesmo os judeus, a quem foi confiada à Lei Mosaica, não conseguiram escapar desse cativeiro. E por que não? Porque a Lei, que fora dada para alertar os homens sobre a malignidade do pecado, acabou servindo de instrumento para aguçar o desejo de pecar. Dessa forma, a Lei, que era uma coisa boa, acabou por se tornar inoperante diante de outra lei - a lei do pecado e da morte. Assim, a Lei ficou doente. [Comentário: A lei do pecado e da morte não se refere à lei de Moisés (veja 7.7,13); Refere-se ao domínio do pecado e da morte sobre nós enquanto estávamos por nossa conta, fora de Cristo (7.23). O papel da lei, determinado por Deus, em um mundo caído, é revelar a natureza do pecado humano. Em Rm 7.24, a figura de linguagem é sobre uma pessoa acorrentada a um cadáver do qual ela não pode ser libertada, desesperançada de libertação. Mas o desespero cede lugar a uma declaração de vitória, não porque a batalha para, mas porque a força humana é superada pelo poder do Espírito Santo. Paulo não está criticando a lei moral, mas observa uma vez mais que, por causa da pecaminosidade da humanidade, a lei não pode dar a salvação ao ser humano (v.3). Em si mesma, a lei, a qual nos leva a reconhecer a realidade do pecado em nosso sistema moral e espiritual (3.20;5.13,20), é santa, boa e justa (v. 12). A lei é uma revelação fiel do que é certo e do que é errado e nunca perde a sua validade para aquilatar e dirigir o nosso comportamento moral. A lei foi usada por Deus para cumprir Seu propósito. Sem a lei, a promessa de Deus não teria sido cumprida. A inadequação da lei não é devida a alguma falha de sua parte, mas é por causa das condições em que ela tem de operar. Nosso pecado impossibilita a libertação pela lei. O comentário ‘Assim, a Lei ficou doente’, deve ser entendido à luz de 7.11-13: o pecado, não a lei, deve ser censurado. A lei de Deus, refletindo seu princípios morais justos, é santa. Ela simplesmente não tem o poder de nos tornar justos.]
2. A cura da cruz. Ainda no mesmo capítulo sete, já chegando ao seu final, Paulo dá outro grito, agora não mais de desespero, mas de vitória pela graça de Deus revelada na pessoa de Jesus Cristo. O seu grito de vitória também é nosso grito (Rm 7.25). A mesma argumentação, agora em sentido oposto pode ser feita. Em vez do grito de desespero, Paulo dá um brado de vitória. Mas o que ocasionou esse grito de vitória? A resposta está na vida segundo o Espírito relatada em Romanos capitulo oito. [Comentário: Paulo aprovava totalmente a boa lei de Deus e, no entanto, na carne ele ainda servia ao pecado. A lei é boa, mas não pode nos dar poder para obedecer, ele não dia que a lei em si mesma é má, mas enfatiza várias vezes que ela é boa e ainda descreve vividamente a impossibilidade de obedecer-lhe com a própria força de alguém. A nova vida no Espírito é experimentada por indivíduos, na mente, no corpo e no espírito, os quais continuam a estampar os sinais do pecado.]
3. A lei do pecado é revogada. A lei do pecado e da morte, que havia neutralizado ou tornado ineficaz a Lei, agora foram revogadas pela lei do Espírito da vida. Essa nova lei, muito mais poderosa, porque não operava baseado nas obras da carne, mas no sacrifício de Jesus, o imaculado Cordeiro de Deus, tornou possível quebrar o jugo da escravidão que a lei do pecado produzia. Agora todos os filhos de Deus podem gozar da liberdade que vem da vida segundo o Espírito. [Comentário: Na lição anterior comentei que algumas vezes o que é proibido automaticamente se torna mais atraente (Pv 9.17) - a Lei aguçou esse desejo de transgredir, não porque ela fosse má, mas por causa da malignidade da humanidade caída. O abuso da lei pelo pecado mostra a malignidade do pecado causando a morte pelo que é bom; mostra a necessidade da salvação. A inclinação da carne, ou seja, a obediência a nossa natureza caída, que é a inclinação para o pecado nos levará para a morte, mas os que se inclinam em obedecer ao Espírito, serão guiados para a vida e paz para com Deus. E é por isso que aqueles que se inclinam para obedecer a carne, ao pecado, acaba se tornando inimigos de Deus, porque rejeitam a vontade de Deus. Todos aqueles que creram no evangelho, já não estão mais presos aos desejos da sua carne, isso se realmente creram e receberam o Espírito de Deus. Porque aquele que não têm o Espírito de Deus, esse não pertence à Deus, ou seja, não foi salvo e justificado pela fé em Cristo Jesus. Deus nos libertou enviando seu Filho, nEle, o pecado foi condenado e o julgamento foi executado. Cristo venceu o pecado em seu próprio reino e a exigência da lei é cumprida em nós. Esta bênção é para aqueles que andam segundo o Espírito, e não a carne.]

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

"O capítulo 8 é o ponto alto, o clímax, a conquista da vitória pelo Espírito Santo. O ápice espiritual deste capítulo, portanto, está na vitória do Espírito.
'Portanto, nenhuma condenação  há para os que estão em Cristo Jesus' (v. 1). A palavra portanto no início da declaração vitoriosa refere-se ao capítulo 7, na qual, Paulo argumentou a batalha entre a carne e o espírito. Uma luta que parece infindável, se depara com a conquista da vitória no Espírito. A palavra portanto levanta a bandeira do Espírito para o início da nova vida. A declaração de que 'nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus' indica que a Lei (toda ela), que condenava os pecados, foi cumprida por Jesus. Ele tomou sobre si essa condenação justificando-nos perante Deus Pai (Rm 5.1) e nos colocando sob a lei do Espírito. Portanto, o pecador justificado está debaixo de uma nova lei espiritual que domina e rege a nova vida em Cristo.
'Porque a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte' (8.2). Paulo fala nesta Carta de várias leis e as trata como: 'lei do pecado', 'lei do entendimento', 'lei de Moisés', 'lei de Deus'. Porém, no capítulo 8, ele fala da 'lei do espírito de vida' que opera no interior do crente e o liberta do domínio da lei do pecado, da carne e da morte. Há uma ligação profunda entre o Espírito Santo e Jesus, pois a  nova lei é chamada 'lei do espírito de vida em Cristo Jesus'. É a lei da vida de Jesus que opera no íntimo do crente e o habilita a ter comunhão com Ele" (CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho da Justiça de Deus. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.88).

II. A VIDA NO ESPÍRITO PRESSUPÕE OPOSIÇÃO A NATUREZA ADÂMICA (Rm 8.5-17)

1. A velha inclinação. Paulo usa o verbo grego phroneo, traduzido aqui como inclinar, com o sentido de colocar a mente em algo. A natureza adâmica, mesmo destronada continua requerendo seu antigo lugar. Na carta aos gálatas, Paulo mostra que a carne milita, ou guerreia, contra o Espírito (Gl 5.17). Essa guerra acontece na esfera da mente, quando esta deseja (gr. epithymeo) contra o Espírito. Ainda na epístola aos crentes da Galácia, o apóstolo explica que a carne e o Espírito são duas forças opostas entre si (Gl 5.16,17). Todos os crentes salvos, quer sejam novos convertidos quer não, são objetos dessa inclinação da antiga natureza. Ceder a essa inclinação é ceder à morte (Rm 8.6). Nessa inclinação interna da velha natureza, a carne está no comando.  Quando a carne assume o controle o Espírito fica de fora. [Comentário: É interessante ressaltar que Paulo usa o termo ‘carne’ em pelo menos, três sentidos: em um sentido mais geral, refere-se ao que é humano. Em um outro sentido, refere-se ao corpo físico. Em um sentido mais específico, principalmente quando aparece em oposição a ‘espírito’, refere-se à natureza Adâmica, que envolve também mente e alma. No caso de Gl 5.17, se os gálatas abandonam a Cristo e põem sua confiança na lei, estarão voltando à confiança na carne. Há uma guerra sendo travada na psique humana, isto é, a carne, as vontades pessoais, a razão humana lutam incansavelmente contra o Espírito. São duas vontades lutando em uma só mente. Por isso, o apóstolo Paulo escreveu: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7.18-19). Paulo afirma: “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” – isto é a guerra entre a natureza pecaminosa e a natureza Santa do Espírito. É guerra da vontade própria e contra a vontade de Deus. Na verdade, existe uma resistência involuntária da parte humana, e é esta resistência que cria este atrito espiritual, ou seja, é a nossa carne resistindo à vontade de Deus. Para vencer esta batalha contra a velha inclinação, o crente deve viver no Espírito. Mas o que é viver no Espírito? Paulo responde: “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20).]
2. A nova inclinação. Em oposição à velha natureza adâmica, também denominada de natureza pecaminosa, ou ainda, de "velho homem", Paulo mostra a inclinação do Espírito. Ele afirma que a inclinação do Espírito produz vida (Rm 8. 6). A palavra grega inclinação, usada aqui por Paulo é phrónma, cuja raiz vem de phroneo, inclinar. Fica bastante evidente a participação do crente no processo da salvação. Ele precisa andar na esfera do Espírito afim de que não ceda aos desejos da carne. Assim como o crente tem seu papel no processo da salvação, escolhendo, ou não, receber a graça de Deus, da mesma forma ele, agora como regenerado em Cristo, também tem a escolha para andar, ou não, no Espírito. Assim como respondemos ao chamado de Deus para a salvação, devemos da mesma forma responder ao chamado de Deus para a santificação. Nessa inclinação da nova criatura em Cristo, o Espírito está por dentro, isto é, no comando, e a carne está por fora. Não está mais no comando, pois foi destronada. [Comentário: O Espírito Santo que agora passa a fazer morada no coração humano quando este aceita a Jesus Cristo como seu Salvador, é o agente responsável em conduzir o crente a fazer a vontade de Deus. A descida do Espírito Santo não foi para que simplesmente falássemos em línguas estranhas. Também foi para auxiliar o cristão a subjugar o próprio eu, para fazer guerra contra a natureza carnal. Por isso, para que o crente ande no Espírito, o apóstolo Paulo recomendou: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18). Ele docemente constrange o crente a fazer a vontade de Deus. Mas para que obtenha total êxito sobre a carne, é preciso que o crente aprenda a viver na dependência de Deus, que reconheça que o seu querer está contaminado pelo pecado, que assuma, de forma cabal, que é da sua natureza carnal que fluem os desejos pecaminosos (Mt 15.19).]
3. A nova filiação. Essa nova inclinação a qual o apóstolo se referiu só se tornou possível porque os justificados em Cristo Jesus passaram a ser guiados pelo Espírito de Deus: "Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus" (Rm 8.14). Esse privilégio, que tornou possível ao crente ser orientado ou guiado pelo Espírito aconteceu porque Deus nos deu a adoção de filhos: "Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai" (Rm 8.15). Como filhos, agora somos habitação do Espírito Santo, que em nosso interior dá testemunho dessa nova filiação recebida (Rm 8.16). [Comentário: A vida diferente que nos é dada é a vida de comunhão. Agora somos guiados pelo Espírito de Deus, e a vida que nos é dada, é a vida de filho. Somos filhos de Deus e quem testifica em nós é o Espírito de Deus, Ele mesmo revela isso em nós. Todos aqueles que têm o Espírito Santo foram adotados como filhos de Deus, essa é a marca. E aqueles os que têm o Espírito Santo têm comunhão com o Pai. Como você sabe que é filho de Deus? Por causa da intimidade com o Pai que o Espírito Santo concede, esse é o nosso maior privilégio, maior prêmio, de poder conviver plenamente com o Senhor, em profunda amizade e companheirismo, resultado da obra do Espírito de Deus em nós, e à medida que podemos clamar a Deus, como se clama ‘Paizinho’, o próprio Espírito de Deus que testifica que somos filhos de Deus. É nesse ato de intimidade que essa filiação se manifesta. Também, se somos filhos, somos herdeiros de Deus. Tudo o que Deus propôs a Cristo, propôs a nós. Paulo desenvolve este tema em Efésios, quando fala da igreja como plenitude de Cristo. Portanto, essa comunhão com Deus e essa consciência que vamos herdar as mesmas coisas que Cristo herdou, há de nos dar a coragem necessária para continuarmos firmes em meio ao sofrimento, porque teremos sempre a consciência de que se com Cristo sofremos, também com Ele seremos glorificados.]

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

"Para que a justiça da Lei se cumprisse em nós' (8.4). Quando Cristo se fez o representante do homem pecador, o poder condenatório do pecado foi desfeito, e, então a justiça foi cumprida por Cristo. Agora, uma vez libertos da lei do pecado, e vivendo segundo o Espírito, a carne  não tem mais direitos sobre nós. Ainda que a inclinação da carne é para as coisas da carne, se vivemos em Espírito, a carne estará sob domínio.
No versículo 4, temos a descrição daqueles que vivem segundo a carne ou segundo o Espírito. No versículo 5, Paulo mostra os que são conforme a carne e conforme o Espírito. De um lado temos aqueles que se ocupam na prática do pecado. Por outro lado, temos aqueles que se ocupam em fazer a vontade do Espírito e estar sob sua direção.
A vitória do Espírito (8.6-13)
Nestes versículos é destacada a operação do Espírito Santo na vida do crente. É a obra santificadora do Espírito Santo, na mente, no espírito e no corpo do crente (1 Ts 5.23,24). O crente anda e vive no Espírito, pois não está mais sob o domínio da carne. Sua vida é regida e regulada pelo Espírito Santo, que mora nele e governa o seu interior" (CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho da Justiça de Deus. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.89).

III. A VIDA NO ESPÍRITO PRESSUPÕE OPOSIÇÃO ENTRE A NOVA ORDEM E A ANTIGA (Rm 8.18-39)

1. A manifestação dos filhos de Deus. Os versículos 18 a 30 de Romanos 8 mostram a certeza dos crentes quanto ao futuro: "Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada" (Rm 8.18). Fica evidente que quando o apóstolo falava do futuro, ele também contemplava o passado. O atual estado de coisas mostra os sinais da velha ordem. São marcas que fazem com que a criação tenha gemidos por não poder por si mesma removê-las. Por isso ela geme: "Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora" (Rm 8.22). Mas não só ela, nós também que temos as primícias do Espírito também gememos (Rm 8.23). A criação quer voltar ao seu estado original e nós também. O Espírito Santo sente o nosso drama, sente a nossa angústia e também geme por nós (Rm 8.26,27). O melhor é saber que em todas as coisas Deus opera para o bem dos que o amam (Rm 8.28). A palavra grega sünergei (de onde vem sinergismo) traduzida em Romanos 8.28 como coopera, mostra que Deus trabalha, com os que o amam, em direção a seu propósito. [Comentário: Já que falamos em sofrimento, é bom lembrar que a vitória do cristão não é não sofrer. A vitória do cristão é não ser derrotado pelo sofrimento. Nesse período, que ainda temos aqui, enquanto aguardamos a volta de Jesus Cristo, vamos sofrer sim, principalmente porque vamos nos levantar contra tudo que se opõe a Deus, portanto vamos estar em confronto direto com as forças das trevas, vamos estar em confronto direto com a rebelião humana, vamos entrar em confronto direto com a injustiça, vamos estar em confronto direto com a maldade, vamos entrar em contato direto com a miséria, e é óbvio que vamos sofrer. É impossível enfrentar batalhas dessa monta, sem experimentar algo de sofrimento ainda que pequeno. Vamos sofrer pelo simples fato de sermos diferentes. Não tem como escapar disso, mas é preciso lembrar que o sofrimento que vamos enfrentar enquanto pregamos o Reino de Deus, e por pregarmos o Reino de Deus, enquanto lutamos pela implantação do Reino de Deus, pela evidenciação dos sinais do Reino, esse sofrimento não se pode comparar com a glória que há de ser revelada a nós, ou seja, não se pode comparar com aquilo que Deus vai fazer no final do processo, dando-nos plenamente aquilo que nos prometeu em Cristo Jesus, dando-nos uma glória  que só será inferior ao do próprio Cristo. Essa glória não é apenas particular, nossa, de cada um de nós, mas é a glória da Igreja, e é também a glória do Planeta, porque com a nossa glorificação, haverá a restauração de todas as coisas, e o Apóstolo Paulo diz que a própria natureza está esperando esse dia, em que a nossa glorificação representará a  restauração da própria natureza. Então não somos só nós que estamos sofrendo, todos os seres vivos estão sofrendo de alguma maneira aguardando o dia da redenção. Aguardando quando o projeto de Deus se cumprir em nós. Então nos deixemos amedrontar, não desfaleçamos diante do sofrimento, da angústia porque são inevitáveis, pelo contrário, nutramo-nos de esperança na certeza de que esse sofrimento, fruto natural da postura que tomamos na vida em relação a Deus, há de ser consolado e vai gerar, em nós, eterno peso de glória e, portanto, não pode ser comparado ao que nos aguarda em Cristo Jesus.]
2. Provas do grande amor de Deus. Os versículos 31 a 39 de Romanos 8, são na verdade o fechamento de tudo aquilo que o apóstolo argumentou desde o capítulo cinco. De pecadores perdidos e sem esperança passamos a filhos de Deus através da justificação pela fé. De escravos do pecado passamos ao estado de filhos libertos através da obra do Espírito Santo. De membros de uma velha ordem passamos a ser participantes de uma nova ordem no Espírito. [Comentário: Fechando a questão do sofrimento, o apóstolo Paulo diz: “olha, não tenha medo de viver, não tenha medo do aparente sofrimento,  porque  nada  pode  nos  derrotar. Deus  é  por  nós;  quem  pode  ser  contra  nós?  Quem  pode  nos  derrotar?  Ninguém! Quem pode  nos separar do amor de Cristo? Nada!” O que quer dizer que não importa o que aconteça, Cristo nos ama. E, aliás, esta  é  a  certeza  que  nós  temos  de  ter  diante  de  qualquer  sofrimento,  diante  de qualquer  tribulação.  Estarmos  passando  por tribulação, estarmos passando por dificuldades, estarmos passando por  lutas não significa  que Jesus Cristo deixou  de nos amar, não significa que Deus está chateado conosco e por isso estamos sendo punidos; nada disso! Paulo está dizendo: “olha, por amor de Cristo  nós  somos  mesmo  entregues à morte todo dia”, ou seja, ser cristão é tomar uma posição contra as trevas, contra a morte, contra a injustiça, contra o desespero humano.]
3. Deus é conosco. Deus nos ama, nos redimiu em Jesus Cristo do jugo do pecado e está ao nosso lado. Paulo afirma que "diremos pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8.31). Paulo demonstra que nesta vida, enquanto permanecermos em Cristo, nada poderá nos separar do amor de Deus. Somos o objeto de seu grande amor. [Comentário: Certamente alguém se oporá a nós, mas Paulo salienta que a essa oposição faltará a capacidade de destituir a fé. Visto que Deus é por nós, é-nos assegurada a sobrevivência espiritual vitoriosa. As palavras ‘por nós’ exprimem o eterno compromisso assumido pelo grande amor que é expresso nos versículos 38-39. Isso é uma profunda garantia de segurança espiritual.]

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

"A trindade divina na obra da santificação (8.26-34)
Nestes versículos, Paulo apresenta a Trindade divina empenhada em ajudar o crente na sua esperança. O capítulo 8 conduz o crente no caminho da santificação pela operação  do Espírito Santo. Apresenta todos os obstáculos que se deparam com o crente. Coloca o crente no campo de luta espiritual e dá-lhe as armas espirituais para lutar, e  finalmente, apresentar-lhe a razão dessa luta, aconselhando e orientando-o em toda a sua jornada cristã.
O Espírito intercede em nós (8.26,27). Esses dois versículos mostram a missão do Espírito dentro do crente, trabalhando a seu favor. Ele 'ajuda as nossas fraquezas' (v.26). A que se referem as 'nossas fraquezas'? Referem-se às nossas limitações temporais neste corpo mortal, sujeito à natureza pecaminosa. Enquanto estivermos enclausurados dentro deste 'tabernáculo' (corpo) terrenal, somos sujeitos às fraquezas da carne. Por isso, o Espírito Santo habita dentro do crente para ajudá-lo nas suas fraquezas. A ajuda do Espírito dentro de nós é representada pela sua intercessão. A quem Ele intercede? A Deus Pai, e a seu Filho Jesus Cristo" (CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho da Justiça de Deus. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.94).

CONCLUSÃO

A lição de hoje ajuda-nos a compreender que a graça de Deus é realmente surpreendente. Ela transformou ímpios em santos e nos colocou em um nível de relacionamento com Deus jamais imaginado pelo seu antigo povo, e a graça de ter o Espírito Santo habitando em nosso interior e o privilégio de ser guiado por Ele. Mas não é só isso, agora também somos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo. Isso tudo se chama graça [Comentário: A graça de Deus faz com se seja possível sermos salvos. A Bíblia diz em Efésios 1.7-8 “Que ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudência, fazendo-nos conhecer o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que nele propôs.” John Wesley discorrendo sobre ‘A Salvação pela Fé’, escreve: “Pela graça sois salvos, mediante a fé (Ef 2.8) - Todas as bênçãos que Deus tem dado ao homem provêm da sua mera graça, generosidade ou favor; favor totalmente imerecido: o homem não tem nenhum direito à menor misericórdia divina. Foi a graça livre que formou o homem do pó da terra e lhe soprou nas suas narinas o fôlego da vida e imprimiu na alma a imagem de Deus e “pôs tudo sob seus pés”. (Gn 2,7; Sl 8,6). Agora podemos ter plena confiança no sangue de Cristo, uma confiança nos méritos de sua vida, morte e ressurreição, um descansar nele como nossa propiciação e nossa vida, como dado por nós e vivendo em nós. A segura confiança que temos em Deus e que, através dos méritos de Cristo, nossos pecados estão perdoados, estamos reconciliados ao favor de Deus e, como consequência, próximos e apegados a Ele, como nossa “sabedoria, justiça, santificação redenção” ou, numa palavra, nossa salvação] “NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.

Francisco Barbosa

Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.