SUBSÍDIO I
“E se alguns dos ramos foram
quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles e feito
participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os
ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a
raiz, mas a raiz a ti” (Rm 11.17,18). Infelizmente não são poucos dentro da
igreja evangélica que esquecem essa advertência e reverberam a ideia equivocada
da Teologia da Substituição. Penso ser importante usar este espaço para falar
um pouco da origem dessa teologia, pois pode haver alguém da sua classe que
desconhece esse tema e lhe faça algumas perguntas.
A questão do papel do povo judeu
hoje no plano de Deus tem despertado sentimentos variados nos cristãos do mundo
atual em relação ao Israel contemporâneo. Tais sentimentos atrelam-se ao método
adotado na interpretação bíblica ao longo da história eclesiástica. Assim, o
método alegórico foi importantíssimo para o surgimento da Teologia da
Substituição.
A destruição de Jerusalém, a
Cidade de Deus, no ano 70 d.C, foi um acontecimento crucial para a eficácia
desse método. No século IV, o clero cristão era constituído por bispos
ocidentais e orientais influenciados pelo método alegórico — ele uniu-se ao
império romano, mediante Constantino, o imperador de Roma. Esses clérigos
consideraram a destruição de Jerusalém um sinal de que Deus havia rejeitado o
povo judeu.
Neste contexto, a Teologia da
Substituição ganhou força dentro do Cristianismo. A igreja romana advogou para
si o título de o “Novo Israel de Deus”. E, a exemplo de outras tradições
cristãs, passou julgar os judeus como o “povo rebelde que matou Jesus” e para
sempre fora rejeitado por Deus. Por isso, o estudioso Arnold Fruchtenkbaum
conceitua a Teologia da Substituição como corrente que rejeita o moderno Estado
de Israel como cumprimento da profecia bíblica. Neste caso, todas as profecias
sobre o povo judeu já fora cumprida e, por isso, não se deve esperar nenhuma
restauração futura de Israel (cf. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica.
CPAD, 2008, pp.372). Ora, algumas respostas sobre a profecia bíblica deveriam
responder a estas questões: Qual o público alvo da profecia bíblica? Cumpriu-se
toda? A quem Deus prometeu uma terra localizada no Oriente Médio?À Igreja ou a
Israel? Tal promessa se cumpriu plenamente? Então, o estudioso sério das
Escrituras pensará muito antes de afirmar que a Igreja substituiu Israel.
Fonte: Revista Ensinador
Cristão, Ano 17 - nº 66 – abr/mai/jun de 2016.
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Em Rm. 11.1 vemos uma pergunta crucial a respeito
de Israel: “Teria Deus rejeitado o Seu povo”? O próprio Paulo nos dá a
resposta: “De modo nenhum”. Nos capítulos 9, 10 e 11 o Apóstolo procura argumentar,
e ao mesmo tempo refutar conceitos errados a respeito do futuro de Israel.
Veremos, nesta lição, que Deus, em sua perfeita justiça e soberania, criou uma
saída para o problema da rejeição de Israel. Ao mesmo tempo, fez um povo, a
quem agraciou, denominando de Igreja, aquela que foi edificada por Cristo,
composta de judeus e gentios (Mt. 16.18).
1. A ALIENAÇÃO
DE ISRAEL
Israel, como
nação institucionalizada, se distanciou de Deus. Essa, porém, não foi a
primeira vez. O apóstolo lembrou dos dias do profeta Elias em que através de
uma apostasia nacional, o povo escolheu Baal, o deus da fertilidade fenícia, ao
invés de Yahweh. Elias, cujo nome significa, “somente o Senhor é Deus”, exerceu
o seu ministério profético em meio ao descaso do povo israelita. Ao longo do
Antigo Testamento, Deus, com o seu amor infindável, busca ser correspondido
pelo seu povo. A alienação de Israel aos desígnios de Deus é um tema recorrente
na Bíblia. No livro de Juízes, por duas vezes, está escrito que o povo de
Israel: “fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Jz. 17.6; 21.25). Esse é o
retrato da rebeldia desse povo, que, ao mesmo tempo, não deixa de ser amado por
Deus. Em tom de tristeza, Ele diz: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento
a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não
entende” (Is. 1.3). Na parábola viva do amor de Oséias por sua esposa, Gomer,
testemunhamos do amor de Deus que não desiste do amor do seu povo (Os. 1.2).
2. A ELEIÇÃO
DE ISRAEL
Nos versos
de 17 a 24, no capítulo 11, Paulo, por meio de uma parábola, diz que Israel é a
oliveira (Jr. 11.16, Os. 14.6), cuja raiz são os patriarcas e cujo tronco
representa sua continuidade ao longo dos séculos. Agora, alguns ramos foram
cortados – os judeus incrédulos que foram descartados, enquanto que, os
gentios, sendo oliveira brava, foram enxertados no remanescente dos judeus. Por
isso, os gentios não devem tratar os judeus com descaso, pois foi pela graça de
Deus que ele foram enxertados no Seu povo e feitos “concidadãos dos santos”
(Ef. 2.19). A vida nova que os capacita a produzir frutos para Deus é a vida do
velho tronco de Israel, no qual foram enxertados. Assim, Israel nada deve aos
gentios, mas nós, somos devedores por que, como está escrito, “Vós adorais o
que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus”
(Jo. 4.22). Alguns ramos, de fato, foram cortados, mas o Apóstolo nos lembra de
Elias e os profetas de Baal, que: Reservei para mim sete mil homens, que não
dobraram os joelhos a Baal. “Assim, pois, também agora neste tempo ficou um
remanescente, segundo a eleição da graça” (Rm. 11.4,5). Não pensem, porém, que
essa eleição se dá pelo simples fato daqueles judeus serem judeus. Esse
remanescente, como o fez Abraão, não se fiou no poder da circuncisão, mas no da
fé, e isso, também lhe foi imputado para justiça (Rm. 4.3,9).
3. DEUS NÃO
REJEITOU SEU POVO
A cegueira
de Israel não durará para sempre, é apenas por algum tempo a fim de que viesse
a salvação dos judeus, a riqueza do mundo (Rm. 11.11,12). A restauração de
Israel há muito foi profetizada, por Isaias: “E virá um Redentor a Sião e aos
que em Jacó se converterem da transgressão, diz o Senhor” (Is. 59.20), por
Jeremias: “Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles
dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu
coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (Jr. 31.33). Isso
mostra que, apesar de seu distanciamento temporário, Israel continua sendo
objeto do amor eletivo de Deus. Não podemos esquecer que as promessas de Deus,
uma vez feita aos patriarcas, não podem ser revogadas, por isso, Ele
estabeleceu um momento no qual levará a cabo tudo aquilo que está determinado
para o Seu povo, será o momento em que o Senhor soprará sobre o vale de ossos
secos e eles tornarão a viver (Ez. 37). Isso acontecerá depois dos dias da
grande tribulação (Mt. 24.21; Ap. 7.14), no dia em que todas as nações se
ajuntarão contra Israel (Zc. 12.3; 14.2), até que, nos céus, aparecerá o Senhor
com poder e muita glória (Mt. 24.30; Zc. 14,4,5; Zp. 1.7; 19.11-16).
4. O FUTURO
GLORIOSO DE ISRAEL
Atentemos
para a pergunta profética de Is. 66.8: “Quem jamais ouviu tal coisa? Quem viu
coisas semelhantes? Poder-se-ia fazer nascer uma terra num só dia? Nasceria uma
nação de uma só vez? Mas Sião esteve de parto e já deu à luz seus filhos”. O
futuro de Israel já começou, pois, o que seria improvável, uma nação nascer de
uma só vez, aconteceu em 1948, quando foi criado o Estado de Israel. Esse,
porém, foi apenas o começo, pois o Israel escatológico de Deus virá, de fato, à
tona, por ocasião do Milênio (Ap. 20.1-6). Naquele período Israel ocupará toda
a terra que lhe pertence e será posta como cabeça entre as nações (Gn. 15.18; I
Cr. 16.15-18; Is. 11.10). Então, se cumprirão as profecias a respeito do reino
do Messias (Dn. 9.24; At. 3.20,21). O templo milenar será construído (Za.
6.12-13; Ez. 43.4-9), Jerusalém será estabelecida e ampliada (Sl. 102.16; Jr.
31.38-40). Israel, no Milênio, será uma bênção para o mundo (Is. 27.6) e terá
Jerusalém como a sede do governo mundial (Is. 2.3; 60.3; 66.20; Jr. 3.17; Zc.
8.3,22,23; 14.16), pois dali sairá tanto a lei como a palavra do Senhor (Is.
2.2; Mq. 4.2). No período milenar não mais haverá guerras (Mq. 4.3; Zc. 9.10;
Is. 2.4), nem injustiça social (Is. 11.4). Israel desfrutará de um pleno
derramamento do Espírito de Deus (Ez. 39.29; Zc. 12.10).
CONCLUSÃO
O povo de Israel rejeitou a Deus, mas como tem
aconteceu ao longo do relato do Antigo Testamento, Deus não se esqueceu do seu
povo. A rejeição de Israel, na verdade, serviu para benefício dos gentios, haja
vista que, agora, fomos enxertados na oliveira. Deus reservou um futuro
glorioso para Israel, no qual, o Rei, Jesus, estabelecerá seu trono, em
Jerusalém, para reinar sobre todos os povos. Até lá, todos, independentemente
da nação, podem ser integrados ao Corpo de Cristo, a Sua Amada Igreja, comprada
com Seu precioso sangue.
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog subsidioebd
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
Paulo discorreu a respeito da Doutrina
da Salvação nos capítulos 1 a 8 da Epístola aos Romanos. Veremos nesta lição
que nos capítulos 9, 10 e 11, ele abre um parêntese para tratar a respeito da
“sorte de Israel” no plano da salvação. Aprendemos com estes capítulos que Deus
tem um plano especial para com Israel e que a rejeição deles é apenas
temporária até se cumprir a plenitude dos gentios, quando todo o Israel será
salvo. [Comentário: Nos capítulo 9 a 11 de Romanos, Paulo
trata da eleição de Israel no passado, da sua rejeição do evangelho no
presente, e da sua salvação futura. Esses três capítulos foram escritos para
responder à pergunta que os crentes judaicos faziam: como as promessas de Deus
a Abraão e à nação de Israel poderiam permanecer válidas, quando a nação de
Israel, como um todo, não parece ter parte no evangelho? Esta lição resume o
argumento de Paulo. Israel, em termos de nação, é o povo escolhido por Deus (Gn
12.1-3, 17.7-8; Êx 19.5-6; Dt 7.6-26; Is 43.5-7; Jr 7.23; 13.11; At 13.17), não
por seus atributos mas, muito pelo contrário, pela graça e soberania de Deus.
Ele disse que, através desta nação, seriam abençoadas todas as famílias da
terra (Gn 12.3).] Dito isto, vamos pensar maduramente a fé cristã?
I. A ELEIÇÃO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO
(Rm 9.1-29)
1. O anseio de Paulo e a incredulidade de Israel. O apóstolo deixa explícito a elevada estima que possuía por seus
compatriotas. Ele abre o seu coração para expressar seus sentimentos em relação
ao seu povo (Rm 9.1-5). Ele desejava que todos, assim como ele, entendessem o
plano perfeito da salvação revelado em Jesus Cristo. Esse desejo de Paulo se
intensifica quando ele lembra os crentes romanos de que aos judeus foi dada a
adoção, a glória, os pactos, a Lei, o culto e as promessas. Paulo também os faz
recordar que deles (dos judeus) também descendem os patriarcas e o próprio
Cristo! Mas, apesar de todas essas bênçãos, o entendimento do povo judeu
continuava, e continua, endurecido. [Comentário:Estamos no capítulo 9, dos versículos 6 a 13, Paulo
afirma que a promessa de Deus a Israel não falhou, pois a promessa era só para
os fiéis da nação. Visava somente o verdadeiro Israel, aqueles que eram fiéis à
promessa (Gn 12.1-3; 17.19). Sempre há um Israel dentro de Israel, que tem recebido
a promessa. Nos versículos 14 a 29, Paulo chama a nossa atenção para o fato de
que Deus tem o direito de fazer o que Ele quer com os indivíduos e as nações.
Tem o direito de rejeitar a Israel, se desobedecerem a Ele e o direito de usar
de misericórdia para com os gentios, oferecendo-lhes a salvação, se Ele assim
decidir. Embora Paulo seja o apóstolo dos gentios, ele reverbera os sentimentos
de Moisés em face da incredulidade dos judeus (Êx 32.30-32). Eles são seus
próprios compatriotas, e Paulo agoniza por eles (v. 2). Estar disposto a sofrer
a maldição divina, por eles, é uma fortíssima declaração de amor. Paulo destaca
que a incredulidade de Israel pode ser vista pelas inúmeras bênçãos por eles
experimentadas. Nesses oito privilégios que Paulo alistou nos versículos 4-5,
ele confirma sua anterior declaração em 3.1-2.]
2. Os eleitos e as promessas de Deus. O argumento de Paulo em Romanos 9.6-13 revela que as promessas de
Deus relativas à nação de Israel não falharam, mesmo que a maioria deles as
tenha rejeitado. As promessas terão seu fiel cumprimento através dos judeus
remanescentes, dos gentios que abraçaram a fé e do Israel que será restaurado
no futuro. Essa porção das Escrituras é uma das mais debatidas entre os
teólogos. As posições se polarizam quando o debate é entre determinismo e
livre-escolha. Todavia, Paulo não está se referindo a eleição individual, mas
coletiva. O exemplo dos irmãos Jacó e Esaú, dado para ilustrar o argumento do
apóstolo, deixa isso evidente (Rm 9.10-13). A citação que Paulo faz de Jacó e
Esaú, nesse texto, é tirada do livro do profeta Malaquias 1.2-4. Basta uma
olhada nessas passagens para ver que o profeta não estava se referindo às
pessoas ou aos indivíduos “Jacó” e “Esaú”, que nessa época já haviam morrido há
muito tempo, mas a grupos ou povos. Isso é demonstrado em Malaquias 1.4, onde
Esaú é identificado com Edom, um povo e não um indivíduo. Fica, portanto,
evidente à luz desse contexto que a predestinação é corporativa, isto é, de um
grupo, povo, ou nação, e não de pessoas. [Comentário: Deus não escolheu Israel em detrimento das
demais nações. Deus ao escolher Israel, não o fez em detrimento, mas, sim, em
favor de todas as demais nações da terra. Aqui é importante salientar que a
ilustração dos vasos não advoga que Deus cria seres morais objetivamente
estruturados e programados para serem incrédulos, mas ilustra que foi Deus quem
formou a nação de Israel, porém permitiu que judeus pudessem desonrar o pacto
preestabelecido. O ponto distintivo e esclarecedor é que a eleição dos
israelitas, a princípio, não objetivava terminantemente a salvação eterna
deles, mas era uma eleição e predestinação específica para obra; até porque a
Bíblia afirma, tanto quanto Paulo, que os israelitas que não se converteram
serão condenados juntamente com os demais incrédulos (Rm 3.20, 28; Mt 11.20-24;
Gl 2.15, 16). Deus havia elegido Israel para a tríplice missão: demonstrar o
poder de Deus ao mundo, revelar a palavra de Deus ao mundo e revelar o Messias
ao mundo.]
3. Eleição, justiça e soberania de Deus. Nos versículos 14 a 29, do mesmo capítulo nove, Paulo responde as
indagações sobre a justiça de Deus e sua soberania. Deus não poderia ser
acusado de ter sido injusto com Israel por eles se acharem no estado em que se
encontravam. Paulo toma Faraó para exemplificar sua argumentação. O apóstolo
afirma que o endurecimento do coração de Faraó ocorreu quando este resistiu à
vontade de Deus (Êx 7.14,22; 8.15,32; 9.7). Da mesma forma, Israel foi
endurecido porque não aceitou a justificação que lhe foi dada através de Jesus
Cristo. O exemplo extraído da metáfora do vaso do oleiro serve para fundamentar
mais ainda a argumentação em favor da justiça e da misericórdia de Deus. O
argumento determinista que vê os “vasos de ira” e “vasos de misericórdia”, como
sendo uma referência aos salvos e condenados, cai diante da exposição do
próprio texto. Deus suportou os vasos da ira e eles se tornaram, por si mesmos,
objetos da ira de Deus; mas os vasos de misericórdia participarão da glória de
Deus, através da fé, pela graça de Deus, e não como resultado das suas próprias
obras. [Comentário: “Terei misericórdia de quem me aprouver
ter misericórdia” (9.15) é um texto mal interpretado pelos defensores da
eleição incondicional, pois, baseados nele, afirmam que Deus ama e tem
misericórdia apenas dos eleitos. Mas isto contrariaria a afirmação do próprio
Paulo, que, na conclusão deste assunto, disse que Deus tem misericórdia de
todos (11.32). Lembre-se também que, um pouco antes, ele proclamou a rica
misericórdia de Deus para com todos os que o invocam (10.11). Tal interpretação
também colide com diversas outras passagens bíblicas que falam da bondade e da
misericórdia de Deus para com todos os homens, como o Salmo 145.9, que diz: “O
Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias estão sobre todas as suas
obras”. Portanto, as promessas de Deus feitas a Abraão estão, sim, sendo
cumpridas no Israel de Deus, que é composto por judeus e gentios que creem em
Cristo. Deus tem direito de rejeitar a qualquer povo, mesmo os judeus, por sua
incredulidade, e eleger qualquer outro que ele quiser em seu lugar. Deus é
livre para estabelecer a fé como a condição para a salvação de judeus e
gentios.]
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“A Tristeza de Paulo (9.1-3)
Nestes versículos o apóstolo
Paulo declara seu amor por sua gente, os judeus. Ele começa declarando: ‘Em
Cristo digo a verdade, não minto’. Visto que era conhecido como judeu zeloso,
sua conversão a Cristo o torna antipático para os judeus, que o viam como ‘um
traidor de sua gente’. Entretanto, Paulo garante que seus sentimentos são
sinceros e que sua consciência tinha o testemunho do Espírito Santo (v.1). Esse
texto mostra que sua consciência agia sob a orientação iluminada do Espírito
Santo.
No versículo 2, Paulo ainda
declara dizendo: ‘Que tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração’. É
uma expressão de profundo sentimento de amor e respeito pela sua gente, e não
de traição. A despeito da hostilidade dos judeus contra a pregação do Evangelho
e contra a sua pessoa, Paulo diz que, se fosse possível ele mesmo ser separado
de Cristo, para salvar ‘seus parentes segundo a carne’, ele o faria por amor a
eles. Essa linguagem é bem típica de quem ama profundamente e é capaz de dar a
sua vida para salvar outras.
Por que essa tristeza de Paulo
para com seus irmãos de sangue? A resposta é simples e objetiva: o repúdio do
povo judeu para com Jesus Cristo. Sua tristeza tem duas razões específicas:
Primeira, Paulo declara que os judeus são seus ‘parentes’ segundo a carne, mas
não querem ser seus irmãos segundo o espírito. Segunda, pelo fato de que os
judeus, possuindo privilégios especiais como nação, rejeitaram o ‘privilégio
maior’, que é a salvação em Cristo” (CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho da
Justiça de Deus. 5ª Edição. RJ: CPAD, 2005, p.104).
II. O TROPEÇO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO
(Rm 9.30 - 10.21)
1. Tropeçaram em Cristo. Partindo do princípio de que a igreja de Roma era
formada em sua maioria por gentios, a parte judaica teria dificuldade de
entender porque os gentios haviam sido aceitos por Deus enquanto a maioria dos
judeus não. Paulo argumenta que o tropeço de Israel se deve ao fato de não
terem crido em Jesus, o Messias prometido (Rm 9.30-33). O que deveria ser
solução para eles tornou-se em tropeço. Por outro lado, os gentios, ao crerem
na graça de Deus, foram justificados, visto que a sua justificação veio em
decorrência da fé e não dos seus méritos. [Comentário: A pedra de tropeço é Jesus Cristo, o
Messias (veja 1Pe 2.6-8), que oferece salvação pela fé, não por obras, e,
portanto, exige assim que o orgulho humano seja humilhado. “Israel perseguiu a
lei da justiça, mas não a alcançou (v. 31). É chamada lei da justiça porque ela
mostrava aos israelitas como manter o correto relacionamento com Deus que
previamente lhes foi concedido. Por que eles não a alcançaram? Porque não foi
pela fé, mas como que pelas obras da lei. A frase “como que” indica seu
equívoco. Eles observavam a lei a fim de colocar Deus sob obrigação a eles.
Insistindo fazer de seu próprio jeito, eles tropeçaram em Cristo.” http://www.cacp.org.br/romanos-9-1-11-36-a-justica-de-deus-e-israel/.]
2. Tropeçaram na lei. Nesse ponto, o apóstolo realça algo que ele já
vinha argumentando desde o capítulo 3. Os judeus, ao buscarem a sua justiça
própria através da Lei, acabaram por rejeitar a justiça de Deus que vem através
de Jesus Cristo (Rm 10.1-4). Querer agradar a Deus, seguindo os preceitos da
Lei, era andar na direção errada, visto que Cristo é o fim da lei (Rm 10.4). [Comentário: “Em 10.1-21 Paulo explica a afirmação
resumida em 9.30-33. O zelo de Israel não foi com entendimento. Eles não
conheceram a forma de Deus conceder o bom status de um correto relacionamento
com ele. Eles buscaram atingi-lo de seu próprio modo e não se sujeitaram ao
modo de Deus (10.2-3). Paulo explica isto no v. 4. Cristo é o objetivo, a
intenção e o real significado (telos, NVI, fim) da lei. Visto que a lei aponta
para Cristo, a justiça está disponível a todos que creem nele”.http://www.cacp.org.br/romanos-9-1-11-36-a-justica-de-deus-e-israel/.
Cristo cumpriu a lei e mereceu o status de justiça e vida eterna para si e para
aqueles que crerão nele. Nos versículos 6 ao 13 Paulo demonstra que o Evangelho
da justiça pela fé está incluída na lei. A citação, “Não digas em teu
coração” (v. 6), é de Dt 8.17 e 9.4, que alerta contra a jactância
presunçosa em sua própria realização e mérito, e exorta confiança no Senhor.
Isto está completamente em harmonia com a justiça pela fé.]
3. Tropeçaram na Palavra. O evangelho de João já havia mostrado que Jesus
veio para o que era seu, mas que os seus não o receberam (Jo 1.12). Aqui Paulo
mostrará que a rejeição de Israel aconteceu, não por falta de aviso, mas porque
não quis ouvir aquilo que Deus havia planejado para ele. Endureceram seus
corações e tropeçaram na Palavra (Rm 10.14-21). Por outro lado, os gentios
responderam positivamente a essa mesma Palavra e, por isso, foram aceitos. [Comentário: Recapitulando o que já foi falado
anteriormente, para os israelitas que procuravam ser justificados pela lei, a
justiça ficou fora de seu alcance - “Mas Israel, que buscava a lei da
justiça, não chegou à lei da justiça”.(9.31). Mas em Cristo, a justiça
chega perto e pode ser alcançada pela fé. Paulo deseja a salvação dos
israelitas, mas entende que é possível somente por meio de Jesus e não negou a
perdição daqueles que confiavam na lei, mas ele queria que todos fossem salvos.
Os israelitas mostraram zelo por Deus, mas não segundo o entendimento do plano
do Senhor. Ao invés de aceitar a justiça de Deus, eles procuraram, em vão,
estabelecer o seu próprio sistema de justiça (2-3). É bom notar que essa
descrição dos judeus se aplica bem a muitas pessoas religiosas e zelosas de
hoje que ainda andam conforme doutrinas humanas. Da mesma maneira que os judeus
precisavam abrir os seus corações para examinar as suas crenças, todos nós
devemos ser abertos para aprender melhor e mudar as nossas convicções para
fazer a vontade de Deus. Corações orgulhosos e mentes fechadas impedem a
salvação de muitos.]
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“A rejeição judaica da justiça pela fé em Deus abriu espaço
para um número muito grande de gentios a serem enxertados na árvore enraizada
na antiga aliança de Deus com Abraão. Esta não deveria ser objeto de orgulho
gentio, mas de advertência. Nunca abandone o princípio de salvação pela graça
através da fé” (RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de
Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 10ª Edição. RJ: CPAD, 2012, p.747).
III. A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO (RM 11.1-32)
1. Israel e o remanescente. Os teólogos chamam a atenção para a importância que a doutrina de
um “remanescente” possui dentro da cultura judaica (Rm 11.1-10). De fato, os
profetas que se levantaram contra a apostasia e o formalismo religioso
acreditavam que Deus tinha uma reserva formada por aqueles que eram fiéis (Am
2.12; 5.3; Is 1.9; 6.9-13; Sf 3.12,13; Jr 23.3). Em Romanos 11.1-10, Paulo, que
se considerava um dos remanescentes, cita o exemplo de Elias. Para Paulo, da
mesma forma que Elias se manteve fiel no meio do Israel apóstata, assim também
havia um remanescente que se mantinha fiel através de Jesus Cristo. [Comentário: No capítulo 11 Paulo continua a sua
explicação da posição dos judeus diante de Deus e até o versículo 5 ele afirma
que Deus não rejeitou os judeus, porque um resto foi salvo. Os judeus não
acharam Deus injusto quando rejeitou a maioria na época do profeta Elias, pois
sabiam que os injustos não mereciam estar com Deus. Deus mostrou a sua bondade
poupando 7.000 fiéis que não serviam aos ídolos. Aqueles que mostraram a sua fé
foram poupados. Em Cristo, os judeus que acreditam em Cristo são salvos. A
eleição não foi aleatória, um ato do capricho de Deus. Os eleitos são aqueles
que aceitam a palavra de Deus.]
2. Israel e o enxerto gentílico. Israel não conseguira entender que o plano de Deus para a salvação
incluía também os gentios (Is 9.6). Tropeçaram ao não aceitarem a justiça de
Deus manifestada em Jesus Cristo. Foi graças a esse tropeço, argumenta Paulo,
que os gentios entraram como um enxerto no plano da salvação. Os gentios,
portanto, não deviam assumir uma posição de orgulho, mas de temor. Eles não
eram os ramos naturais, mas faziam parte da “oliveira brava” (Rm 11.11-24). Se
Deus não havia poupado os ramos naturais, muito menos pouparia os ramos enxertados. [Comentário: Da mesma forma que Deus usou a lei para
conduzir o homem à fé, ele usou a rejeição pelos judeus para conduzir muitos à
salvação, ou seja, quando os judeus rejeitaram a palavra, a porta foi aberta
aos gentios. Quando os gentios aceitaram o evangelho, os judeus ficaram
enciumados (v. 11). No versículo 12 Paulo argumenta que se a rejeição por parte
dos judeus abriu uma oportunidade para os gentios, a volta dos judeus mostraria
ainda mais a grandeza da graça de Deus. Alguns ramos da oliveira (figura para
judeus) foram quebrados, e ramos bravos (figura para gentios) foram enxertados
(v. 17). Paulo exorta os novos ramos afirmando que estes não têm direito de se
orgulhar, pois eles dependem da raiz (Abraão) (v. 18). O fato de serem enxertados
não sugere algum mérito dos gentios e não os coloca acima dos judeus (19). A
diferença é questão de fé, não de mérito: alguns judeus foram quebrados por
falta de fé e alguns gentios foram enxertados por causa de fé (20). Para ficar
na oliveira, os gentios teriam que manter o seu temor de Deus. Ele não poupou
os judeus incrédulos e rejeitará os gentios se eles se tornarem incrédulos
(21).]
3. Israel e a restauração futura (11.25-32). Embora Paulo se entristecesse com a situação espiritual de seus
compatriotas judeus, a sua posição em relação a eles é de esperança e não de
desespero (Rm 11.25-32). Paulo estava convencido de que no futuro Israel será
salvo. Para ele, isso terá seu cumprimento quando se completar a “plenitude dos
gentios”. A rejeição dos judeus trouxe a justificação ao mundo gentílico.
Quando Deus cumprir seu propósito para com os gentios cumprirá também suas
promessas de restauração para todo o Israel. [Comentário: No versículo 25 Paulo ainda combate ao
orgulho dos gentios, mostrando que a incredulidade dos judeus abriu a porta
para eles. Assim, “todo o Israel será salvo” (26-27). Não podemos considerar
esta frase sem o seu contexto. O contexto não afirma que todos os judeus
carnais ainda serão salvos. Paulo já havia dito antes que não é o Israel que é
o povo de Deus, mas sim o povo espiritual (2.28-29; 9.6-8; Gl 3.29). A salvação
de judeus seria possível somente através da fé deles, como mostram as citações
do Velho Testamento (26-27; veja Isaías 59.20-21, que mostra a salvação
daqueles que se convertem num contexto que demonstra a culpa dos judeus
rebeldes). E os judeus carnais? São inimigos em termos do evangelho, pois o
rejeitaram, mas ainda foi através deles que Deus cumpriu as promessas aos
patriarcas (28-29). A salvação de judeus seria possível nos mesmos termos da
salvação dos gentios: aqueles que deixarem a sua desobediência e confiarem na
misericórdia de Deus serão salvos (30-32).]
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“Gentios e
judeus (11.11-21)
A rejeição judaica da justiça
pela fé em Deus abriu espaço para um número muito grande de gentios a serem
enxertados na árvore enraizada na antiga aliança de Deus com Abraão. Esta não
deveria ser objeto de orgulho gentio, mas de advertência. Nunca abandone o
princípio de salvação pela graça através da fé.
Todo o Israel será salvo (11.25,26)
Paulo lança seus olhos ao passado
para as promessas feitas a Israel por Isaías (59.20; cf. Jr 31). A conversão em
massa de gentios a Cristo não significa que Deus repudiara as palavras dos
profetas do Antigo Testamento. Somente quando todos os gentios forem
convertidos é que o foco da história voltará a se concentrar em Israel (11.29)”
(RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a
Apocalipse capítulo por capítulo. 10ª Edição. RJ: CPAD, 2012, p.747).
CONCLUSÃO
Como vimos, os capítulos 9 a 11 de Romanos demonstram a soberania de
Deus na história da redenção. Revela que o propósito de Deus concernente à
eleição jamais poderá ser frustrado. Diante disso, a atitude deve ser de temor,
não de jactância. A história de Israel, seu antigo povo, bem como a inclusão
dos gentios no plano da salvação, mostra que Deus respeita as escolhas, mesmo
que estas se revelem danosas para aquele que as fez. Em todo caso, o
arrependimento e a fé são os caminhos que darão acesso ao portão da graça de
Deus. [Comentário: Em bem poucas palavras, a eleição consiste no
ato soberano de Deus em escolher aqueles que entendeu serem necessários para
concretizar os seus planos. Os eleitos possuem características próprias de
acordo com o propósito para que foram eleitos. É a resposta de Deus aos
desastres das Suas criaturas. Pela eleição Deus preveniu-se contra o pecado
sendo os eleitos revestidos de características capazes de contrariar o
progresso do pecado e da derrocada da criação. Nossa confissão de fé não
entende que haja nas escrituras uma eleição de pessoas para salvação em
detrimento de outras para a perdição. A Bíblia ensina claramente que Deus é
soberano sobre todo o universo (Dn 4.34-35), incluindo a salvação dos homens
(Ef 1.3-12). Mas com a soberania de Deus, a Bíblia também ensina que a Sua
motivação para salvar os perdidos é amor (Ef 1.4-5, Jo 3.16, 1 Jo 4.9-10) e que
o meio de Deus para salvar os perdidos é a proclamação de Sua Palavra (Rm
10.14-15). A Bíblia também declara que o cristão deve ser apaixonado e determinado
em compartilhar o Evangelho com os incrédulos; como embaixadores de Cristo,
devemos "implorar" as pessoas a se reconciliarem com Deus (2 Co
5.20-21). Diante disso, convido-os a investirem mais tempo e recursos em
Missões!
Tudo isso ainda é difícil de compreender? Devemos lembrar que vem de Deus, que é muito superior a nós (33-36). Leia Isaías 55.8-9; 40.13-14.] “NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.
Tudo isso ainda é difícil de compreender? Devemos lembrar que vem de Deus, que é muito superior a nós (33-36). Leia Isaías 55.8-9; 40.13-14.] “NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.
Francisco Barbosa
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