SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
No livro de Provérbios encontramos vários conselhos
a respeito do uso apropriado da língua. Se as pessoas atentassem para o que diz
esse texto de sabedoria, evitariam muito males decorrentes do descuido quanto
ao que falam. Na aula de hoje, a fim de orientar os crentes quando aos cuidados
com a língua, destacaremos alguns direcionamentos práticos, a partir de
Provérbios, destacando inicialmente o uso incorreto da língua, e
posteriormente, seu uso correto, e a importância do dominar a língua.
1. O USO ERRADO
DA LÍNGUA
Muitos estão destruindo suas vidas por meio das
palavras, do mau uso da língua. Há os que usam a língua para lisonjear, a fim
de tirarem algum proveito, recorrendo a medidas desiguais (Pv. 20.17; 26;28;
28.23). Devemos ter cuidado com aqueles que se aproximam apenas por interesse,
que destilam palavras de elogio, tão somente para receberem algo em troca. Tão
perigoso quanto está ao redor de pessoas que apenas criticam é também se achar
cercado por aqueles que somente lisonjeiam. Tome cuidado com aquelas pessoas
que se aproximam sempre com palavras elogiosas, desconfie da integridade delas.
A língua também serve para semear intrigas, alimentar contendas. Os néscios
adoram uma briga, vivem procurando situações para debates desnecessários, a fim
de produzir mais uma disputas entre os irmãos (Pv. 18.6). Além disso, essas
pessoas tendem a serem descontroladas, elas se exasperam por qualquer motivo,
não têm controle das emoções (Pv. 29.11). O autor de Provérbios admoesta para
que se mantenha distância dessas pessoas, pois elas além de fazerem o mal para
si, ainda prejudicam os outros (Pv. 22.24,25). O equilíbrio emocional é uma
característica fundamental a ser exercitada. O domínio próprio é uma das virtudes
do fruto do Espírito que precisa ser cultivada (Gl. 5.22). Há aqueles que não
conseguem controlar a língua em relação aos seus irmãos, que não perdem a
oportunidade para fofocarem, e denegrirem a imagem dos outros. O sábio adverte
seus ouvintes quanto àqueles que têm lábios falsos, e que espalham calunias
(Pv. 10.18). Existem pessoas nas igrejas que adoram causar dissenção entre os
irmãos, deixando de atentar para o fato de que essa é uma das obras da carne
(Pv. 16.28; Gl.5.20), tem gente que faz tudo para provocar uma contenda (Pv.
17.19). Isso geralmente acontece recorrendo à mentira, nada pior que lábios
mentirosos, que dão falso testemunho (Pv. 6.16-19; 12.19; 14.25). O livro de
Provérbios critica aqueles que falam demais, na verdade, a quantidade de erros
é proporcional ao da fala. Como se costuma dizer, quem muito fala, muito erra
(Pv. 10.19), por isso ter o controle da língua é uma das marcas do verdadeiro
cristão (Pv. 17.27,28; Tg. 3.7).
2. O USO CORRETO
DA LÍNGUA
Mas a língua pode ser usada para o bem, para dar
conselhos aos mais jovens, a fim de que esses possam adquirir sabedoria (Pv.
10.31), isso porque os lábios do sábio difundem conhecimento (Pv. 15.7). Pois é
ouvindo as pessoas sábias e justas que podemos crescer e adquirir maturidade.
Isso se aplica também à leitura, os jovens que quiserem amadurecer devem ler
bons livros, aprender com aqueles que têm experiências para repassar. A língua
também serve para repreender, e quando a pessoa prudente a ouve, não se
exaspera, antes extrai, das admoestações, procedimentos corretos, o insensato,
por outro lado, as desconsidera (Pv. 17.10). As pessoas sábias não têm receio
de receber conselhos, nem mesmo repreensões, se perceberem nessas a
oportunidade para trilharem um melhor caminho. As pessoas também podem ser
encorajadas através das palavras. Aqueles que são extremamente ansiosos
precisam de palavras de ânimo, e por meio delas encontram motivação para irem
adiante (Pv. 12.25). É intoxicante ficar perto de alguém que apenas destila
palavras venenosas, e às vezes, somente deseja o mal, não tem esperança quanto
ao futuro. Felizmente existem pessoas que têm o poder de curar através das
palavras. Isso acontece porque o que dizem têm poder, não de forma mística,
como defendem alguns adeptos da confissão positiva. A língua, quando bem usada,
estimula e causa efeitos, principalmente se alicerçada na Palavra de Deus (Pv.
15.23). É edificante quando alguém recebe uma palavra no momento oportuno, especialmente
em meio a uma situação adversa (Pv. 16.24). Os estudos psicológicos têm
destacado a importância das palavras no processo curativo. Ouvir palavras
edificantes, e até expressar os sentimentos para pessoas de confiança, tem
função terapêutica. Através da língua podemos também ganhar almas para Jesus,
testemunhar da Sua morte e ressurreição, falar do Seu imenso amor pela
humanidade (Pv. 10.21; At. 1.8), sábio é, no livro de Provérbios, aquele que
conduz pessoas ao caminho correto (Pv.
11.30), que é o próprio Cristo (Jo.14.6).
3. COMO
DOMINAR A LÍNGUA
O verbo dominar, em seu significado dicionarizado,
tem a ver com controlar, mas está relacionado também a domar, domazo em grego,
usado por Tiago (Tg. 3.9). No contexto dessa passagem (Tg. 3.1-10), o apóstolo
destaca os estragos que uma pequena fagulha pode causar, de modo semelhante ao
que a língua pode fazer. A língua tem o poder de consumir não apenas a pessoa
que faz mal uso dela, mas também a todos aqueles que são por ela afetados. A
imprensa de vez em quando noticia um escândalo, alguns deles sem provas cabais,
que causam danos às vidas de muitas vidas. Ela é tão perigosa que pode ser
comparada ao fogo do inferno, que a tudo queima (Pv. 16.27). Os animais, até mesmo os mais selvagens,
podem ser domados, mas nem sempre isso é possível com a língua. Tem gente que
simplesmente não consegue controlá-la, se adianta com facilidade, não tem
domínio do que diz, não pensa antes de falar. Evidentemente qualquer pessoa
pode perder o controle da língua (Tg. 3.8), mas isso não é motivo para deixar
de ter cuidado (Tg. 3.10). Os crentes devem ser comedidos no uso das palavras, para
não destruírem a vida das pessoas, pois uma palavra dita fora do tempo não pode
mais retornar. Somos conhecidos pelos frutos que produzimos, não podemos semear
contendas entre os irmãos, nossas palavras devem ser certeiras, não de engano
(Mt. 5.37). Ao invés de se adiantar, e falar desnecessariamente, o melhor mesmo
é esperar, ouvir mais e falar menos.
Temos dois ouvidos e uma boca, portanto, ouçamos mais e falemos menos (Tg.
1.19). A língua do cristão, diferentemente daqueles que não têm compromisso com
Deus, e muito menos com o próximo, deve ser usada com propósitos úteis, para o
que edifica (I Pe. 3.9,10).
CONCLUSÃO
De acordo com Tiago, da mesma boca pode proceder
tanto bênção quanto maldição (Tg. 3.10). Como constatamos ao longo do livro de
Provérbios, existe a possibilidade de usarmos a língua tanto para o bem quanto
para o mal. O crente que foi salvo por Cristo, no entanto, tem como alvo a
santificação, inclusive no falar (Cl. 3.8; II Tm. 2.15-17). Por esse motivo,
deve ter cuidado com o que diz, lembrando, sobretudo, que todo homem dará conta
no juízo das palavras que disseram (Mt. 12.36). Como cristãos, devemos seguir o
conselho de Paulo a Tito: “a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas
moderados, mostrando toda a mansidão, para com todos os homens” (Tt. 3.2).
Extraído do blog: subsidioebd
SUBSÍDIO II
O Cuidado
com aquilo que Falamos
De todos os seres criados pelo Todo-Poderoso, o
homem é o único que possuiu um aparelho fonador. Logo, podemos afirmar que a
fala é um dom divino que distingue o ser humano. É algo realmente especial que
pode ser usado para o bem como para o mal. Tiago compara a língua a um fogo
devastador (Tg 3.6). Pois uma pequena fagulha pode queimar e destruir uma
floresta inteira. Ele ainda afirma que "nenhum homem pode domar a
língua" (Tg 3.8). Com a nossa língua podemos bendizer a Deus e maldizer o
próximo. Ter o controle da língua não é fácil, mas não é impossível para o
crente. Quem consegue controlar a língua, controla todo o seu ser.
Nossa maneira de falar nos identifica, revelando o
nosso verdadeiro eu, pois a boca fala do que o coração está cheio (Mt 12.34). É
do coração, ou seja, do íntimo do ser humano que procedem os males. Certa vez,
Pedro foi identificado como alguém que esteve com Jesus somente pelo seu
linguajar (Mt 26.73). Sua fala evidencia que você é um cristão?
Muito se falou a respeito do poder das palavras e
não faltou heresia. Sabemos que nossas palavras não têm poder em si mesmas.
Todavia, não podemos sair por aí falando o que nos vem à cabeça, pois nossas
palavras afetam o nosso próximo de forma positiva ou negativa. Por isso, o
livro de Provérbios dá uma ênfase especial ao modo como empregamos as palavras.
Jesus também ensinou que no Dia do Juízo, todos terão que dar conta diante de
Deus por suas palavras (Mt 12.36).
Quer aprender a guardar sua língua do mal? Então
leia e estude o livro de Provérbios, pois nele podemos encontrar ensinamentos
preciosos a respeito do uso da língua. Um destes ensinos é a respeito do ser
moderado no falar (Pv 21.23). Você fala demais? Então tome cuidado! Quem fala
em demasia prejudica o outro e a si próprio (Pv 13.3). Vários Provérbios tratam
a respeito da língua mentirosa e da calúnia (Pv 6.17). A difamação, em especial
nos blogs e nas redes sociais, tem feito muitas vítimas. A calunia é
devastadora e consegue separar até os amigos mais íntimos (Pv 16.28).
O Diabo é o pai da mentira (Jo 8.44) e toda mentira
e engano procedem dele. Muitos usam sua língua para fazer fofoca, caluniar os
outros ou distorcer a verdade. Saiba que Deus abomina a língua mentirosa (Pv
6.17).
Aprendamos com os conselhos dos sábios a usar nossa
língua de maneira que o nome do Senhor seja glorificado.
(texto extraído da revista Ensinador
Cristã, nº 56, p. 38).
SUBSÍDIO III
Lição 5:
O cuidado com aquilo que falamos
3 de
novembro de 2013
Trimestre comemorativo ao quarto ano do Blog Auxílio ao Mestre
TEXTO ÁUREO
“Favo de mel são as palavras suaves: doces para a
alma e saúde para os ossos” (Pv 16.24).
VERDADE PRÁTICA
As nossas palavras revelam muito do que somos, pois
a boca fala do que o coração está cheio.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Provérbios
6.16-19; 15.1,2,23; 16.21.24.
Provérbios 6
16 - Estas seis coisas aborrece o Senhor, e a sétima
a sua alma abomina:
17 - olhos altivos, e língua mentirosa, e mãos que
derramam sangue inocente,
18 - e coração que maquina pensamentos viciosos, e
pés que se apressam a correr para o mal,
19 - e testemunha falsa que profere mentiras, e o
que semeia contendas entre irmãos.
Provérbios 15
1 - A resposta branda desvia o furor, mas a palavra
dura suscita a ira.
2 - A língua dos sábios adorna a sabedoria, mas a
boca dos tolos derrama a estultícia.
23 - O homem se alegra na resposta da sua boca, e a
palavra, a seu tempo, quão boa é!
Provérbios 16
21 - O sábio de coração será chamado prudente, e a
doçura dos lábios aumentará o ensino.
24 - Favo de mel são as palavras suaves: doces para
a alma e saúde para os ossos.
OBJETIVOS
Após esta
aula, o aluno deverá estar apto a:
• Conhecer as
consequências das palavras;
• Explicar os símbolos usados por Salomão e Tiago, e
• Ter cuidado com
o bom uso da língua.
PALAVRA-CHAVE
Língua: Órgão muscular, situado na boca e na
faringe, responsável pelo paladar e auxilia na mastigação e na deglutição, e
também na produção de sons, fala.
COMENTÁRIO
introdução
Provérbios e Tiago contêm
as mais belas exposições sobre uma capacidade que apenas os seres humanos
possuem: a fala. Na lição de hoje, analisaremos o que as Escrituras revelam
sobre esse fascinante dom. Num primeiro momento, estudaremos como o falar é
tratado pelos autores sagrados. Em seguida, veremos os conselhos que Salomão e
Tiago dão àqueles que verbalizam pensamentos, princípios e preceitos. O
objetivo é mostrar como a literatura sapiencial bíblica toca num ponto sensível
da vida humana, muitas vezes esquecido pelos cristãos: a devida e correta
utilização das palavras. [Comentário: Palavras sábias trazem saúde. Provérbios
revela o que a sabedoria de Deus (sua Palavra) ensina ao nosso coração: as
verdades e promessas devem influenciar o nosso discurso, e esse ensinamento
deve ser transmitido aos nossos lábios. A Palavra em nosso coração deve ensinar
ou controlar o nosso falar e a nossa conduta. A “doçura” e a “saúde” promovidas
por tal modo de falar são desejáveis, quer em nossos relacionamentos humanos,
quer no derramamento da graça divina em nossa vida diária. Isso leva o crente a
uma vida vitoriosa, através de um reconhecimento constante da força e do poder
de Deus pela língua e a conduta]. Tenhamos todos uma excelente e abençoada
aula!
I. O PODER DAS PALAVRAS
1. Palavras que matam. É
evidente que, dependendo do contexto em que são faladas e por quem são
pronunciadas, podem ferir ou até mesmo matar (Pv 18.21a). Este exemplo pode ser
observado na vida conjugal, quando uma palavra ofensiva, ou injuriosa, dita por
um cônjuge, ofende e magoa o outro. Se não houver perdão de ambas as partes, o
relacionamento poderá deteriorar-se (Pv 15.1). [Comentário: O Rei
Salomão disse que as palavras detém o poder da vida e da morte. Isto é,
palavras vivificam. Palavras matam. Matam aos poucos. Palavras matam aos poucos
quando causam constrangimento: quem ouve quer se esconder ou desaparecer de
vez, deixando claro que melhor seria se as tais palavras não tivessem sido
pronunciadas. Palavras matam aos poucos quando ferem: quem ouve sente uma dor como
se alguém tivesse arrancado um pedaço seu, um pedaço da esperança, da
confiança, da beleza. Palavras matam aos poucos quando ofendem: quem ouve tem
seu caráter questionado. Palavras matam aos poucos quando geram distanciamento:
quem ouve vai perdendo o prazer de estar perto de quem fala. Palavras matam aos
poucos quando desestimulam: quem ouve vai perdendo o pique, vai deixando de
acreditar que vale a pena continuar lutando. Palavras matam aos poucos quando
desestabilizam processos: quem ouve começa a duvidar se está fazendo a coisa a
certa, se vai chegar a algum lugar, se os outros estão igualmente comprometidos.
Palavras matam aos poucos quando impedem ou fazem morrer processos: quem ouve
abandona tudo. Palavras matam aos poucos quando promovem discórdias: quem ouve
começa a se afastar de um e de outro, até ficar ilhado].
2. Palavras que vivificam. A palavra hebraica dabar significa palavra, fala, declaração, discurso,
dito, promessa, ordem. Os temas contemplados pelo uso desses termos são, na
maioria das vezes, valores morais e éticos. Salomão tem consciência da
importância das palavras e, por isso, afirma: “O sábio de coração será chamado
prudente, e a doçura dos lábios aumentará o ensino” (Pv 16.21). [Comentário: Quando
estamos diante de alguém irado, uma resposta branda facilitará a reconciliação
e a paz (cf. 1 Sm 25.21-34), ao passo que palavras duras despertam ainda mais a
ira e a hostilidade (ver Cl 4.5,6). Os conselheiros se alegrariam em dar
respostas adequadas, porque uma palavra dita a seu tempo é boa (v. 23). Um bom
conselho, quem o menospreza? Só o tolo o enfatuado. O soberbo e o presunçoso
também são visados nesta série de conselhos, como vemos no verso 24, onde o
entendido acha o seu caminho para cima, porque para baixo está o Sheol. Olhe
para cima e viva. Porque em cima está o Senhor.].
SINOPSE DO TÓPICO (I)
Segundo a Bíblia, dependendo da motivação de
quem pronuncia, as palavras podem matar ou vivificar
II. CUIDADOS COM A LÍNGUA
1. Evitando a tagarelice. Há
um provérbio muito popular que diz: “Quem fala o que quer, ouve o que não
quer”. Este ditado revela a maneira imprudente de se falar, algo bem próprio do
tagarela. Este personagem está presente na tradução do hebraico batah: pessoa
que fala irrefletida e impensadamente. Não basta dizer: “Pronto, falei!”. É
preciso medir as consequências do que se fala. E a melhor forma de fazer isso é
compreender que na “multidão de palavras não falta transgressão, mas o que
modera os seus lábios é prudente” (Pv 10.19). Salomão tinha essa consciência
(Pv 13.3). [Comentário: "O
que guarda a sua boca e sua língua, guarda das angústias a sua alma".
(Pv 21.19). Com razão disse Tiago: "Todos tropeçamos em muitas coisas.
Se alguém não tropeça em palavra, esse homem é perfeito, e capaz de refrear
todo o corpo". Quem nunca fez uma fofoca? Quem nunca disse mal de
alguém? Quem nunca praguejou, ainda que de forma clássica? Quem nunca murmurou?
Quem nunca proferiu uma mentira, ainda que comercial ou emergencial? Quem nunca
discutiu e na discussão feriu com palavras? Quem nunca disse algo que não
deveria ter dito? Estes são os pecados sociais da língua. Domar a língua é um
processo diário e que exige muito auto controle, disciplina e compromisso com a
prática dos princípios bíblicos que devem nortear nossa vida. Quando o cristão
mostra equilíbrio no falar, significa que o Espírito Santo está construindo
nele o caráter de Cristo. Pedro disse que Jesus nos deixou o exemplo, para que
seguíssemos as sua pegadas. Ter a mente de Cristo (1Co 2.16) também é falar
como Cristo falou e agir como Ele agiu. Nós falamos aquilo que pensamos. "A
boca fala do que está cheio o coração" (Mt 12.34). Quem afirmou isto foi
o Mestre por excelência, Jesus.].
2. Evitando a maledicência. O livro de Provérbios também apresenta conselhos sobre a maledicência.
Ali, a palavra aparece como sendo a sétima abominação, isto é, o ponto máximo
de uma lista de atitudes que o Senhor odeia (Pv 6.16-19). O Senhor “abomina”
(do hebraico to’ebah) a maledicência ou a contenda entre irmãos. No original,
“abominar” significa “sentir nojo de” e pode se referir a coisas de natureza
física, ritual ou ética. Deus se enoja de intrigas entre irmãos. É a mesma
palavra usada para descrever coisas abomináveis ao Senhor, tais como a
idolatria (Dt 7.25), o homossexualismo (Lv 18.22-30) e os sacrifícios humanos
(Lv 18.21)! [Comentário: Do
latim maledicentia.ae: característica ou particularidade da
pessoa maledicente; seus sinônimos são: difamação, fuxico, mexerico e
mordacidade. Ato ou aptidão para falar mal dos outros; cuja intenção é
denegrir; difamação. Fala injuriosa ou maldosa: comentário cheio de maledicência.
Seis coisas Deus aborrece e a sétima ele abomina. O que semeia contendas entre
os irmãos aparece aqui como o pior de todos. Não é apenas um clímax de
Provérbios, em que a escala vai aumentando. Todavia, o que semeia contendas
entre irmãos, a que desune a família hebraica ou cristã, deve ser mesmo um
abominável, porque da intriga ou contenda nasce tudo que há de pior. Começa por
separar o que deveria estar unido e junto; cria o mal-estar onde deveria haver
amor; prepara para outros desenvolvimentos, que podem levar muito longe, ao
crime até, se Deus não intervir. Quantas contendas entre irmãos nas igrejas,
por causa de um semeador de intrigas! Este provérbio devia ser, em Israel, uma
espécie de cartilha, um manual que todo israelita saberia de cor, transpondo
para o grupo dos provérbios, como o encontramos aqui. Seria uma espécie de trocadilho,
que se proferiria ocasionalmente. Pensa-se, seria uma forma didática para uso
nas escolas, onde o mestre perguntaria ao aluno: Quais são os sete pecados
mortais? O aluno responderia na ponta da língua. Para nós são bastante claros,
pois todos temos ciência dos seus efeitos, de um modo ou de outro.].
SINOPSE
DO TÓPICO (II)
O conselho bíblico para cuidarmos da nossa
língua começa por evitarmos a tagarelice e a maledicência.
III. O BOM USO DA LÍNGUA
1. Quando a língua edifica o próximo. Como servos de Deus, somos desafiados a usar nossas
palavras como um meio para ajudar nossos irmãos, através de exortações, bons
conselhos e também através do ensino da Palavra de Deus e de seus princípios
(1Co 14.26). [Comentário: A
sabedoria aqui preconizada é mais de natureza moral do que intelectual; é a
sabedoria para viver honestamente, pois esta é a verdadeira. Sabedoria que não
ajuda a viver não é sabedoria. Esta sabedoria é melhor do que o ouro, o mais
excelente que a prata (v. 16). Os dois metais mais valiosos na antiguidade não
se comparavam com o saber viver, por isso é que o caminho dos retos é
desviar-se do mal (v. 17). Esta é a sabedoria.].
2. Nossa língua adorando a Deus. O melhor uso que se pode fazer da palavra é quando a
empregamos para dirigir-nos a Deus em adoração. Todo crente fiel sabe disso, ou
deveria saber (Pv 10.32). O Senhor se agrada dos sacrifícios de louvor (Hb
13.15). Esse é o segredo para uma vida frutífera e agradável ao Senhor (Ef
5.19,20). Não nos esqueçamos, pois, da maior vocação de nossa língua: louvar e
exaltar a Deus. [Comentário: A
língua não é inerentemente má. Lembremos que ela apenas exterioriza o que
procede do coração. Na verdade, é o coração mesmo que deve ser guardado mesmo
antes de controlarmos a língua. Há algumas coisas que podemos e devemos colocar
em prática, exercitar a língua: Devemos louvar e adorar a Deus. "Por
meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o
fruto de lábios que confessam o seu nome" (Hb 13.15). Devemos orar.
"Orai sem cessar" (1Ts 5.17). Devemos confessar Cristo na
presença dos incrédulos. "Porque qualquer que, nesta geração adúltera e
pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem
se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos"
(Mc 8.38). Devemos confessar nossos pecados e buscar o perdão. "Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel, e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça" (1Jo 1.9). Devemos edificar nossos
irmãos. "Assim, pois, seguimos as cousas da paz e também as da
edificação de uns para com os outros" (Rm 14.19). Devemos abençoar os
outros, até mesmo nossos inimigos. "Abençoai os que vos perseguem,
abençoai e não amaldiçoeis" (Rm 12.14). Devemos sempre falar a
verdade. " seja o vosso sim sim e o vosso não não, para não cairdes em
juízo" (Tg 5.12). Lembremo-nos sempre que nossas línguas são dons de
Deus para serem usadas em sua honra e glória.].
SINOPSE
DO TÓPICO (III)
A língua deve ser usada para edificar o
próximo com bons conselhos, exortações e ensino da Palavra de Deus; e exaltar
ao Altíssimo adorando-O em Espírito e em Verdade.
IV. SALOMÃO E TIAGO
1. Uma palavra ao aluno.
Abundante no livro de Provérbios, a expressão hebraica shama Beni ocorre 21
vezes com o sentido de “ouvi filho meu”. Não há dúvida de que o emprego de tal
linguagem revela o amor de uma pessoa mais experiente, dirigindo-se a outra
ainda imatura. É alguém sábio e experimentado na vida, passando tudo o que sabe
e o que vivenciou ao seu aprendiz (Pv 1.8,10,15; 3.1,21; 5.1,20; 7.1). São mais
de trezentos conselhos como regra do bom viver. Segui-los significa achar o
bem, e não segui-los é encontrar-se com o mal. [Comentário: Provérbios
é um livro destinado a quem deseja ser sábio nas coisas mais práticas e básicas
da vida. Nossa maneira de falar nos identifica, revelando o nosso verdadeiro
eu, pois a boca fala do que o coração está cheio (Mt 12.34). É do coração, ou
seja, do íntimo do ser humano que procedem os males. Certa vez, Pedro foi
identificado como alguém que esteve com Jesus somente pelo seu linguajar (Mt
26.73). Sua fala evidencia que você é um cristão?].
2. Uma palavra aos mestres. Se por um lado Salomão se dirigiu ao discípulo (do hebraico: filho,
aluno), por outro lado Tiago falou àqueles que querem ser mestres. Os que
pregam e ensinam a Palavra de Deus têm de falar somente o que convém à sã
doutrina (Tt 2.1). Em sua epístola, Tiago utiliza símbolos extraídos do
cotidiano, mas carregados de significado: a) Freios: Assim como o freio
controla o animal, deve o crente refrear e controlar a sua língua; b) Leme: Se
o leme conduz o navio ao porto desejado, deve o crente dirigir o seu falar para
enaltecer a Deus; c) Fogo: Uma língua sem freios e fora de controle queima como
fogo. Por isso, mantenhamos a nossa língua sob o domínio do Espírito Santo; d)
Mundo: A língua pode se tornar um universo de coisas ruins. Então, o que fazer?
Transformá-la num manancial de coisas boas; e) Veneno: O perigo reside em
alguém possuir uma língua grande e ferina e, portanto, venenosa. f) Fonte: Como
fonte, a língua deve jorrar coisas próprias à edificação; g) Árvore: A boca do
crente, por conseguinte, deve produzir bons frutos. Portanto, usemos as nossas
palavras para a glória de Deus (Tg 3.1-12). [Comentário: Tiago aconselha:
o controle dos maus impulsos é bom (e Paulo concorda com Tiago, 1Co 9.24-27),
mas os impulsos mais difíceis de controlar são os da língua. Mantenha pura a
fala, e o resto será fácil; eis a marca do cristão maduro (Tg 3.3-4). Tiago
ilustra sua tese, “controle sua língua e você será capaz de controlar todo o
seu ser”, mediante uma série de analogias. Primeiro ele pensa em cavalos,
que são maiores e mais velozes do que os seres humanos. No entanto, quando
pomos freios na boca dos cavalos nós os controlamos: não só a cabeça, mas o
animal inteiro é forçado a ir para onde o cavaleiro desejar. Uma segunda analogia
é tirada dos navios. Os navios constituíam uma das maiores estruturas que os
primitivos cristãos conheceram. Se até um barquinho de pesca impressionava,
quanto mais um navio mercante em pleno oceano? Mais impressionantes, todavia,
eram as forças que o compelem, os ventos capazes de vergar árvores e espalhar
as nuvens. Entretanto, a despeito de todo seu tamanho e peso, um leme
pequenino, do formato de uma língua (pequenino pelo menos quando comparado ao
tamanho do navio, ou ao poder do vento), movimentado pelo piloto, podia mudar a
direção do navio. São dois exemplos impressionantes, ou analogias do adágio:
“controle a língua e você controlará tudo”. De certo modo, Tiago mudou um pouco
sua argumentação, enquanto elaborava suas ilustrações. Ele havia começado dizendo:
“Se você puder controlar a língua, você será um gigante espiritual capaz de
controlar o resto do corpo”].
SINOPSE
DO TÓPICO (IV)
Ao ensinar os provérbios, Salomão tem em
mente ensinar os discípulos, enquanto Tiago aconselha os mestres.
CONCLUSÃO
Vimos nesta lição os
conselhos dos sábios sobre o bom uso da língua. A linguagem, como algo peculiar
ao ser humano, é muito preciosa para ser usada iniquamente. Não permitamos,
pois, que a nossa língua seja instrumento de um dos pecados que Deus mais
abomina: a disseminação de contendas entre os irmãos. À luz da Palavra de Deus,
somos encorajados a andar em união, harmonia e paz. Portanto, com a nossa
língua abençoemos o nosso semelhante, pois assim fazendo, bendiremos também ao
Senhor nosso Deus.
[Comentário: Salomão
tem muito a dizer sobre a língua! Convém dizer as palavras não tem vida
própria. Uma tendência bíblica, que é o de dar vida às abstrações e personificá-las
tem levado muitos ao equívoco de pensar que as palavras tem existência
independente de Deus e do homem. Não, não tem! A Palavra de Deus é poderosa
porque foi Deus quem a disse ou que mandou falar, mas não porque tenham vida
independente do próprio Deus (Sl 107.20; Is 9.8). Da mesma forma as palavras
humanas não tem poder em si mesmas (Sl 85.11; 107.42; Jó 5.16; 11.14;
19.10). Por outro lado, dependendo do
contexto onde são faladas e por quem são faladas e ainda por quem as ouve, as
palavras podem machucar, ferir ou até mesmo matar.].
NaquEle que me garante: "Pela graça sois
salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8),
Graça e Paz a todos
que estão em Cristo!
Francisco de Assis
Barbosa
Cor mio tibi offero, Domine, prompte et
sincere
Meu coração te
ofereço, Senhor, pronto e sincero (Calvino)
Recife-PE
Outubro de 2013.
VOCABULÁRIO
Nau: Designação genérica que
até o século XV se aplicava a navios de grande porte.
Leme: Peça plana, localizada
na parte submersa da popa de uma embarcação, gira em um eixo e determina a
direção em que aponta a proa do navio.
Personificá-las: Expressar, tornar viva
e concreta uma ideia através de pessoas.
Ápice: Extremo superior; ponto
máximo, culminância, apogeu.
Desvelo: Ato ou efeito de
desvelar-se. Isto é, agir com diligência; zelar, cuidar, empenhar-se.
EXERCÍCIOS
1. Dependendo do contexto em
que são faladas, e por quem são pronunciadas, o que as palavras podem fazer? Dê
um exemplo.
R. Podem
matar uma pessoa. Por exemplo, na vida conjugal quando o cônjuge ofende e magoa
o outro através das palavras.
2. Segundo a tradução do termo
hebraico batah, o que significa tagarela?
R. Pessoa
que fala irrefletida e impensadamente.
3. Qual atitude o Senhor
abomina segundo o livro de Provérbios?
R. A
maledicência ou a contenda entre irmãos.
4. Como servos de Deus, o que
somos desafiados a fazer com nossas palavras?
R. Usá-las
como um meio para ajudar nossos irmãos.
5. Se por um lado, em
Provérbios, Salomão se referiu aos discípulos, a quem Tiago se dirigiu?
R. Aos
mestres, aqueles que labutam no ensino.