sexta-feira, 10 de agosto de 2018

LIÇÃO 7: FOGO ESTRANHO DIANTE DE DEUS


SUBSÍDIO I

Fogo Estranho Diante de Deus

Introdução
Seremos advertidos, agora, a ser mais reverentes com as coisas de Deus. Na tragédia de Nadabe e Abiú, talvez estejamos a ver o destino que nos aguarda, caso não nos arrependamos de nossos pecados, insolências e descasos quanto ao ministério que o Senhor Jesus nos confiou.
Embora Nadabe e Abiú fossem candidatos naturais ao sumo sacerdócio de Israel, corrompendo-se em seus privilégios, relaxaram em relação às suas responsabilidades perante Deus e diante do povo de Israel. A pergunta não deve ser evitada: Será que não estamos a agir de igual maneira? Ter privilégios não constitui pecado algum. Mas fazer deles o fim de nosso ministério pode levar-nos à perdição eterna. Zelemos, pois, pelo ofício com que Jesus, por intermédio do Espírito Santo, agraciou-nos.
Não há dúvida de que a desgraça de Nadabe e Abiú poderia ser evitada. A desventura que nos espreita também pode ser evitada; arrependamo-nos. É chegado o momento de os obreiros de Deus julgarmos a nós mesmos para não sermos condenados com o mundo. Acompanhemos a biografia tristemente interrompida de Nadabe e Abiú.   

I. NADABE E ABIÚ, OS FILHOS DO SACERDÓCIO

1. Um nascimento nobre. Nadabe e Abiú pertenciam à tribo de Levi, distinguida com o sacerdócio divino (Nm 3.12). Os homens desse clã eram contados entre as primícias do Senhor, conforme o próprio Deus havia declarado: “Os levitas serão meus” (Nm 3.1-12). Pode haver maior nobreza do que essa?
Os levitas eram benquistos em todo Israel. Nem mesmo a tribo de Judá, designada a reinar sobre a herança divina, desfrutava de semelhante deferência. Os seus privilégios não se limitavam à esfera social; economicamente, também, achavam-se bem-apanhados. 

2. Ascendência araônica. Além de pertencerem à tribo de Levi, Nadabe e Abíu provinham da família de Arão, escolhida por Deus para exercer o sumo sacerdócio (Êx 6.23; 28.1). Era o ofício mais honroso de todo o Israel. Nem mesmo os reis podiam exercê-lo (2 Cr 26.18). De acordo com a genealogia de Arão, eram Nadabe e Abíú os seus sucessores naturais e imediatos nesse glorioso ministério.
Naquele período, por não haver ainda rei em Israel, os sacerdotes eram vistos como a única classe nobre dos hebreus. No caso de Nadabe e Abiú tal honra era centuplicada. Afinal, eram filhos de Arão; os próximos sumos sacerdotes. Às vezes, pergunto-me se tantos privilégios não poderão arruinar-nos eventualmente.
Que honrarias e privilégios são uma bênção, ninguém o nega. Mas, como administrar elogios, louvores, comendas, mimos e presentes? Se nos virmos afogados em tais “bênçãos”, fujamos delas enquanto estamos inteiros. Doutra forma, pereceremos. Certa feita, declarou Agostinho: “Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, pois sempre acabam por me corromper”.
Não sabemos se Nadabe e Abiú foram instruídos por Arão a resistir às glórias profanas que, sem o percebermos, vão nos cercando o ofício divino. Portanto, se o nosso filho tiver um chamado ministerial, preparemo-lo não apenas acadêmica, mas principalmente quanto à espiritualidade, boa conduta e ética. Caso contrário, ele virá a perecer como desgraçadamente pereceram os filhos de Arão.
Não faz muito tempo, o atual presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus, pastor José Wellington da Costa Júnior, realizou um encontro para filhos de pastores, em São Paulo. As palestras ficaram a cargo de três jovens obreiros: José Wellington Costa Neto, filho de nosso presidente; Ailton José Alves Júnior, filho do pastor da Assembleia de Deus, no Recife; e Gunar Berg Doreto de Andrade, responsável pelo núcleo de educação superior da FAETAD, em campinas. Emocionei-me ao ver o meu filho num grupo tão seleto. Mas, ao mesmo tempo, senti um peso muito grande: “Tenho eu, realmente, preparado meu filho ao santo ministério?”. Sempre que posso, aconselho-o a portar-se como autêntico homem de Deus. Todavia, sei que eu mesmo tenho de comportar-me como seu maior referencial.
3. A subsistência do altar. Tendo vista sua ascendência levítica e sacerdotal, Nadabe e Abiú não tinham por que se preocupar com a própria subsistência. Por serem filhos de Arão, sua manutenção era tida como sagrada em Israel: “Isto será a obrigação perpétua dos filhos de Israel, devida a Arão e seus filhos, por ser a porção do sacerdote, oferecida, da parte dos filhos de Israel, dos sacrifícios pacíficos; é a sua oferta ao SENHOR” (Êx 29.28, ARA).
Noutras palavras, Nadabe e Abiú já haviam nascido aposentados. Quer viessem a assumir quer não o sumo sacerdócio, não precisariam se preocupar com o pão cotidiano. Nem todos, porém, estão aptos a receber semelhante privilégio. Alguns lançar-se-ão no ócio; logo perecerão. Outros, entretanto, negando o ócio, buscarão aprimorar seus talentos e dons para melhor servir ao Senhor.
Ainda que tenhamos recursos para sustentar nossos filhos, preparemo-los sabiamente para que garantam o próprio sustento. E mesmo que estejamos convictos de que este ou aquele filho suceder-nos-á à frente do rebanho, não deixemos de formá-los profissionalmente. Já imaginou um pastor que não saiba fazer tendas? O que fará num tempo de crise?
Quanto a mim, comecei a trabalhar aos doze anos. Ali, naquele depósito de madeiras recicladas, na cidade paulista de São Bernardo do Campo, empenhava-me a bater a quota diária. Depois, fui trabalhar como gráfico na Imprensa Metodista. Dois anos depois, fui admitido no Banco Sul Brasileiro. Seguindo minha vocação inicial, passei nove anos na Rádio Diário do Grande ABC. E, ao deixá-la, fui chamado a trabalhar, em 1984, na Casa Publicadora das Assembleias de Deus, onde, pela graça divina, encontro-me até hoje.
Minha experiência profissional enriqueceu-me ministerialmente. Hoje, agradeço aos meus pais por me ensinarem a ganhar o pão cotidiano. O mesmo fiz em relação aos meus filhos, e quero que eles ajam de igual maneira em relação aos seus filhos.  

II. NADABE E ABIÚ, TEÓLOGOS SOBERBOS

Nadabe e Abiú não eram desinformados nem ignorantes com respeito às coisas de Deus. Àquela altura, já podiam ser considerados teólogos maduros e experimentados. Infelizmente, tamanha instrução não foi suficiente para livrá-los do inferno.
1. Nadabe e Abiú eram letrados. A alfabetização, naquele tempo, ainda não era universal nem mesmo em Israel, que já era louvado como o povo do Livro. Todavia, a classe sacerdotal, pelo que inferimos do texto sagrado, era letrada, culta e capaz de fazer exegeses de excelência na Lei de Moisés até então lavrada.
Se os sacerdotes tinham a obrigação de saber ler e escrever, o que não esperar do sumo sacerdote e de seus filhos? Levemos em conta a cultura da família de Anrão e Joquebede; dela saíram três grandes sábios: Miriã, Arão e Moisés.
Quando lemos o cântico de Miriã, deparamo-nos com uma estrofe muito bem redigida: “Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro” (Êx 15.21, ARA). O que evidenciam tais palavras? A expressão de alguém finamente culto. Hoje, ela é louvada como profetisa e poetisa.
À semelhança da irmã, Moisés e Arão possuíam admirável cultura. O primeiro fora instruído em toda a ciência do Egito (At 7.22). Quanto ao segundo, era um orador; expressava-se fluentemente (Êx 4.14).
Depreende-se, pois, que Nadabe e Abiú eram também letrados e instruídos. Nos dias de hoje, estariam metidos nalguma academia. Todavia, a ilustração meramente terrena é insuficiente para levar-nos ao Deus Único e Verdadeiro: fonte de saber.
Como temos lidado com a nossa erudição? Antes de tudo, compreendamos que erudição não é sinônimo de sabedoria. Há muitos eruditos incapazes de diferençar a destra da sinistra. Já me defrontei com acadêmicos que, conquanto cultíssimos, não possuíam a sabedoria mínima para administrar o seu dia a dia. Por isso, ao orar pelos meus descendentes, rogo ao Senhor que, antes da erudição, lhes dê a verdadeira sabedoria. Se nos for possível reunir tanto esta quanto aquela, muito poderemos fazer pela Obra de Deus. O apóstolo Paulo é um perfeito exemplo de sabedoria e erudição. Ele reunia as condições necessárias para transitar desenvoltamente em três culturas distintas: a hebreia, a helena e a latina. Que Deus auxilie nossos acadêmicos a não se perderem nos labirintos e escaninhos da cultura pós-moderna.
2. Nadabe e Abiú eram teólogos. Na religião do Antigo Testamento, os três ministros divinos, encarregados pela condução da comunidade de Israel, eram, via de regra, bons teólogos: o profeta, o sacerdote e o rei. Porque lidavam, diariamente, com as coisas de Deus. Até mesmo reis perversos, como Jeroboão e Manassés, não ignoravam a intervenção de Jeová no cotidiano hebreu. Sendo assim, vejamos Nadabe e Abiú, candidatos ao sumo sacerdócio, como excelentes teólogos. E de fato o eram.
Quando o Senhor outorgou a Lei a Israel, no Sinai, por intermédio de Moisés, ali estavam eles juntamente com os mais destacados anciãos de Israel (Êx 24.1). E, lá, no monte sagrado, presenciaram a manifestação da glória divina (Êx 24.9,10). Ocularmente, testemunharam a aliança que o Senhor firmara com os filhos de Israel (Êx 24.8). Apesar de sua juventude, Nadabe e Abiú tiveram o privilégio de ver o estabelecimento do pacto entre Deus e o seu povo.
Tais experiências são suficientes para fazer do obreiro um teólogo de verdade. Erradamente, consideramos a academia superior ao nosso quarto de oração. Se ali desperdiçamos preciosas semanas, meses e anos em discussões muitas vezes fúteis e tolas, aqui não queremos dedicar uma hora sequer a falar com o Senhor.
A verdadeira teologia só é possível a partir de encontros pessoais e experimentais com Deus. A academia ajuda, sim, mas se estiver submissa à Bíblia Sagrada. Caso contrário, será uma tragédia para o Reino de Deus.
3. Nadabe e Abiú conheciam experimentalmente a Deus. Em termos experimentais, Nadabe e Abiú encontravam-se num patamar superior ao de Jó, antes de o paciente homem de Uz ter sido esmagado por todas aquelas provações. O patriarca mesmo confessa sua inexperiência: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42.5, ARA). Todavia, o que podemos dizer de Nadabe e Abiú? Estiveram pessoalmente no monte sagrado, viram o resplendor da glória divina e não ignoraram a presença do Senhor. Então, como explicar a sua apostasia? Talvez essa pergunta deva ser endereçada ao querubim ungido que, apesar de toda a sua teologia e experiência junto à presença divina, rebelou-se contra o Todo-Poderoso.
 Sejamos cuidadosos. Nossa salvação não se encontra numa teologia bem estruturada, num ministério sólido e elogiável ou em profundas experiências com o Senhor. Se não lhe formos obedientes, corremos o risco de perder a alma. A situação de Nadabe, Abiú e de muitos crentes rebeldes e apóstatas é descrita com fortes e decisivas cores pelo autor da Epístola aos Hebreus:

Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. (Hb 10.26-31, ARA)

Quem assim peca, não peca somente contra o Pai nem apenas contra o Filho, mas contra o Espírito Santa peca. Nessas condições, que esperança haverá para o pecador? Queridos obreiros, teólogo também vai para o inferno. Jesus, tem misericórdia de nossas almas.

III. A Insolência de Nadabe e Abiú

1. Ignoraram a Deus. Ao adentrarem o lugar santo, Nadabe e Abiú ignoraram a presença de Deus, pois o Senhor encontrava-se não somente no Tabernáculo como em todo o arraial de Israel (Êx 25.8; Nm 14.14). O Deus onipresente não se limita ao Santo dos santos, mas se deleita na companhia de seus queridos e amados santos.
Na atitude inconsequência de Nadabe e Abiú, vejo a profissionalização do ministério sagrado. No trato com as coisas santas, enfadamo-nos. Consideramo-las profanas e comuns. E, assim, já não vemos a primeira ordenança como o símbolo da morte e da ressurreição do Senhor, mas como um trabalho enfadonho a ser feito. Quanto à segunda ordenança, o que fazer? Se tiver de ser realizada, que o seja. Nesse descaso, já não distinguimos nem o corpo nem o sangue de Jesus.
Não agiam assim os sacerdotes no tempo de Malaquias? Na liturgia diária, aborreciam-se. Eis como eles tratavam as coisas de Deus: “Que canseira! E me desprezais, diz o SENHOR dos Exércitos; vós ofereceis o dilacerado, e o coxo, e o enfermo; assim fazeis a oferta. Aceitaria eu isso da vossa mão? — diz o SENHOR” (Ml 1.13, ARA).
Aos olhos de Nadabe e Abiú, o Tabernáculo nada era. Então, que seja tido como um afazer qualquer; uma rotina profissional. Já não sentiam comoção alguma entre aquelas colunas, estacas, cortinados e móveis. Lidar com a Casa de Deus ocasionava-lhes enfado, estresse, canseira. Não serviam ao Senhor com alegria.
2. Impaciência profana. De acordo com as instruções que o Senhor transmitira aos filhos de Israel, somente o sumo sacerdote estava autorizado a oferecer o incenso no altar de ouro (Êx 30.7-9). Todavia, observa-se que ambos, desafiando o Senhor, entraram no lugar sagrado como se este não passasse de um mero feudo doméstico. As coisas de Deus não podem ser tratadas como propriedade particular.
Nadabe e Abiú, além de impacientes, revelaram-se profanos e blasfemos. Precipitaram-se na condenação do Diabo; não souberam esperar a sua hora (1 Tm 3.6).
Que eles se achavam geneticamente predestinados a assumir o sumo sacerdócio, todos o sabiam. Na falta de Arão, ascenderia Nadabe. E se este viesse a falecer precocemente, Abiú seria requisitado. Ambos, porém, devido ao seu descaso com a obra de Deus, não se achavam dispostos a aguardar pela morte do pai? Então, por que não variar as lides sacerdotais?
Eles estavam cientes de que apenas o velho Arão estava autorizado a oferecer o incenso no altar de ouro, mas ignoraram a regra sacerdotal. Julgavam-se acima das ordenanças e estatutos do Senhor.
O pecado de ambos não pode ser visto como algo acidental. Não foi um incidente isolado. Nesse gesto, temos a súmula de pequenas e grandes transgressões. Todas estas, já bem racionalizadas, redundaram em sua punição no limiar do lugar santíssimo. Façamos, pois, uma pausa, e indaguemos de nós mesmos: “Como temos nos portado no ministério sagrado?”. Enquanto respondemos a essa pergunta, lembremo-nos de que o Deus que puniu Nadabe e Abiú não mudou; sua justiça continua inalterável. 
3. Apresentaram fogo estranho ao Senhor. Não bastava ter o incenso prescrito pelo Senhor; era imperioso ter igualmente a brasa certa, para que Deus fosse dignamente honrado (Êx 30.9; Lv 16.12). Se o incenso era exclusivo, a brasa também o era (Êx 30.37). Mas, pelo contexto da narrativa sagrada, Nadabe e Abiú não estavam preocupados nem com o incenso, nem com o fogo. Por isso, o Senhor fulminou-os diante do altar. Sim, eles foram mortos devido à sua insolência, blasfêmia e sacrilégio.
Qualquer sacerdote iniciante sabia que o fogo do altar do incenso só poderia ser atiçado com as brasas do altar de bronze. A simbologia era claríssima: antes da adoração, que a expiação fosse observada. Não temos, aqui, nenhum enigma teológico. Um leitor da Bíblia, razoavelmente atento, há de atinar com esse princípio soteriológico. Então, por que ambos os filhos de Arão vieram a desprezar uma recomendação tão comezinha? Não tinham eles teologia suficientes? Talvez nós também estejamos afrontando algum princípio básico do ministério cristão; examinemos o nosso coração. Senhor, ajuda-nos.
Que o incenso e o fogo de nossa adoração sejam os prescritos pelos santos profetas e apóstolos do Senhor.
O que vemos, hoje, nas redes sociais é um festival pirotécnico; fogo estranho aqui, e, ali, fogo estrangeiro. Não me lembro de a Obra Pentecostal ter enfrentado tantas bizarrices como hoje. O espetáculo é deprimente. Nessa postagem, imita-se o batismo com o Espírito Santo. Naquela, arremedam-se os dons espirituais.
Como sobreviver nesse mundo estranho? É chegada a hora de resgatar a Obra Pentecostal conforme no-la transmitiram os pais-fundadores das Assembleias de Deus. Chega de fogo estranho no altar sagrado. Busquemos o cristianismo bíblico, apostólico e autenticamente avivado pelo Espírito Santo.

CONCLUSÃO

Até quando apresentaremos fogo estranho ao Senhor? Chega de liturgias bizarras, cultos mundanos, teologias permissivas e costumes que ferem a Palavra de Deus. Se não atentarmos à santidade e à glória divina, não subsistiremos. Deus, embora seja conhecido pelo amor, é também um fogo devorador (Is 30.27). Portanto, sejamos puros e santos em toda a nossa maneira de ser: o Senhor não se deixa escarnecer.
Ao invés de fogo estranho, busquemos o verdadeiro avivamento espiritual. E, dessa forma, ousemos proclamar com toda a ousadia: “Jesus Cristo salva, batiza com o Espírito Santo, cura as enfermidades, opera sinais e maravilhas e, em breve, haverá de arrebatar-nos às regiões celestiais”.

ANDRADE, Claudionor de. Adoração, Santidade e Serviço: Os Princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018. 

SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

A história de Nadabe e Abiú faz-nos uma séria advertência: Deus não se deixa escarnecer (Gl 6.7). Nesta lição, veremos que esses dois obreiros, apesar de todos os privilégios de que desfrutavam junto à congregação de Israel, não honraram o seu ministério. Antes, ignorando a recomendação de Moisés, ofereceram fogo estranho ao Senhor. E, no mesmo instante, foram exterminados pelo Deus que não se deixa zombar por homem algum. Como temos nos apresentado diante do Senhor? Enquanto avançamos neste estudo, respondamos a esta pergunta com temor e tremor, pois Deus não mudou. Ele está a exigir santidade, pureza e reverência de cada um de seus filhos, principalmente dos que fazem parte do santo ministério da Palavra. 
O homem é transformado e santificado através da revelação da glória de Deus (Êx 29.43). Paulo indica que a vontade de Deus é a nossa santificação (1Ts 4.3), a nossa separação do pecado, do mundo e de tudo o que é mau para vivermos e servirmos exclusivamente a Ele. Portanto, se queremos servir a Deus, não podemos fazê-lo de qualquer maneira, pois assim não o agradamos. Nadabe e Abiú pagaram com a própria vida por terem apresentado ao Senhor "fogo estranho" (“brasas vivas estranhas” no original), em seus incensários. O incensário deveria ser aceso usando-se as brasas tiradas do próprio altar do sacrifício; Nadabe e Abiú ignorando as recomendações de Moisés, acenderam seus incensários com fogo que eles mesmos produziram - o "fogo estranho" era as suas próprias obras - e foram mortos. O acesso à presença de Deus só pode ser através do altar; através do sacrifício de Cristo. Qualquer que tentar ter acesso à presença de Deus com base em suas próprias obras não subsistirá. As brasas tinham que ser tiradas do altar onde o cordeiro havia sido queimado. A adoração e o louvor, e as orações, que hoje oferecemos a Deus como incenso de aroma suave, só podem entrar na Sua presença se forem produzidas em nós pelo sacrifício de Cristo; pelo fogo que um dia consumiu a oferta: o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Veremos nesta lição como é importante a nossa santificação e reverência diante do Senhor quando estamos no seu serviço.

I. OS PRIVILÉGIOS DE NADABE E ABIÚ
                                
Não basta pertencer a uma família tradicional de obreiros para usufruir da graça divina. É necessário, antes de comunhão tudo, ter uma vida de íntima com Deus. Vejamos, pois, a ascendência de Nadabe e Abiú, e o seu conhecimento da glória divina.
Depois de livrar os israelitas da escravidão no Egito, Moisés (mandado por Deus) trouxe-os ao Monte Sinai. Aqui, Deus falou da montanha ao povo todo, e deu os dez mandamentos, que ele mais tarde inscreveu em duas tábuas de pedra (Dt 5.1-22). Esta, também, é a montanha em que Moisés subiu para receber o resto da lei de Deus para Israel. Incluídas nesta lei havia provisões para um sacerdócio: “Faze também vir para junto de ti Arão, teu irmão, e seus filhos com ele, dentre os filhos de Israel, para me oficiarem como sacerdotes, a saber, Arão e seus filhos Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar” (Êx 28.1). De acordo com a aliança que Deus fez com os israelitas, e a lei que ele lhes entregou, Arão e seus descendentes masculinos seriam sacerdotes de Deus enquanto durasse aquela aliança (Êx 29.9). O trabalho do sacerdote incluía tais coisas como oferecer sacrifícios, manutenção das lâmpadas, pão e incenso no santuário, e ensinar a lei de Deus ao resto do povo.

1. Ascendência levítica. Nadabe e Abiú pertenciam à tribo de Levi, que fora honrada com o sacerdócio divino (Nm 3.1-12). Os homens dessa tribo eram contados entre as primícias do Senhor. O próprio Deus havia dito: “Os levitas serão meus” (Nm 3.12). Por conseguinte, os descendentes de Levi eram vistos como os nobres entre os nobres de Israel. 
“Deus concedeu, a essa família estendida, a vocação sacerdotal, sem o direito de possuir propriedade de terra. Os levitas eram vistos como grupos de pessoas ou famílias que se dedicaram exclusivamente à expansão e realização do culto de Javé. O material bíblico, a respeito dos levitas, é amplo e diversificado. Cada grupo ligado a uma tradição de Israel trata o levita de modo diferenciado” (SIQUEIRA, 2007, p. 87). Conforme Números 8.14, Deus reservou a Levi e sua descendência por estatuto perpétuo, o exercício das funções do templo e a condução espiritual do povo de Deus. Deus escolheu os levitas para serem Seus, por isso a tribo de Levi não é contada entre as tribos de Israel.

2. Ascendência araônica. Além de pertencerem à tribo de Levi, Nadabe e Abiú provinham da família de Arão, escolhida por Deus para exercer o sumo sacerdócio (Êx 6.23; 28.1). Era o ofício mais honroso de todo o Israel. Nem os reis podiam exercê-lo (2 Cr 26.18). De acordo com a genealogia de Arão, Nadabe e Abiú eram os sucessores imediatos do pai nesse glorioso ministério.
Durante a escravatura dos israelitas no Egito, nasceram os levitas mais famosos de Israel: Moisés e seus irmãos Arão e Miriã. Debaixo da liderança de Moisés, os israelitas se libertaram e saíram do Egito, rumo à terra prometida. Miriã era profetisa e Arão foi escolhido por Deus para ser Seu sacerdote, a ponte entre o povo e Deus (Êx 28.1). Apesar da dureza de coração daqueles homens, a escolha de Deus não foi mudada, como está escrito: "Deus não é homem, para que minta; Nem filho do homem, para que se arrependa" (Nm 23.19). A escolha de Levi nos mostra o quanto Deus é gracioso e que as Suas escolhas não dependem da conduta de homens! Notemos que uma vez determinado algo sobre a vida de alguém, nada pode fazer a Sua poderosa mão tornar atrás! "Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?" (Is 43.13). Os Levitas foram escolhidos para herdar ao próprio Deus como herança! O próprio Deus incorruptível, Todo Poderoso, Santíssimo e Imaculado como Herança para Sempre!
O trabalho destes sacerdotes é resumido em Hebreus 5:1-2. Eles deviam ser descendentes de Arão e tinham de preencher qualificações rígidas (Levítico 21). O traje deles é descrito em Êxodo. Todo serviço do Tabernáculo estava sob os cuidados deles. Eles ofereciam sacrifícios, aspergiam sangue, queimavam incenso, trocavam os pães da proposição e transportavam o Tabernáculo quando necessário. Muitos dos deveres ligados à pureza cerimonial de Israel estavam também nas mãos deles (Levítico 12-15 nos dá um exemplo disto). E por fim, os sacerdotes deveriam instruir a nação na lei de Deus (Dt 33.10)” (O Sacerdócio. Disponível em: https://www.palavraprudente.com.br/estudos/ron_c/guiaexodo/cap35.html. Acesso em: 10 Jul, 2018)

3. Participantes da glória de Deus. Quando o Senhor outorgou a Lei a Israel, por intermédio de Moisés, lá estavam Nadabe e Abiú juntamente com os mais destacados anciãos de Israel (Êx 24.1). E, ali, no monte sagrado, presenciaram a manifestação da glória divina (Êx 24.9,10). Além disso, foram testemunhas oculares da aliança que o Senhor firmara com os filhos de Israel (Êx 24.8). Enfim, Nadabe e Abiú tiveram o privilégio de testemunhar o estabelecimento do pacto entre Deus e o seu povo.  
Os dois filhos mais velhos de Arão, Nadabe e Abiú, tiveram o grande privilégio de um dia subir ao monte de Sinai e ver o Deus de Israel (Êx 24.9-11) e receberam uma grande responsabilidade: servir ao SENHOR como sacerdotes em estatuto perpétuo (Êx 28.1, 29.9), logo, era de se esperar que, tendo visto a majestade de Deus, eles iriam servi-Lo fielmente com temor, tremor e santidade. O ministério sacerdotal israelita era de alta responsabilidade, importando que os sacerdotes cumprissem rigorosamente as determinações dadas por Deus, sendo algumas vezes mencionada a pena de morte para as infrações.
Arão e seus filhos eram sacerdotes ungidos por Deus e por isso o trabalho de Deus deveria estar em primeiro lugar e mesmo em caso de morte não poderiam interromper e nem deixar o serviço a eles confiado. Mateus capítulo 8 e versículos 21 e 22 deixa bem claro que aquele que é chamado para o ministério tem que muitas vezes se sacrificar, pois quem põe a mão no arado não deve olhar mais para trás (Lc 9.62). Devemos ter confiança no Senhor e aceitar quaisquer que sejam as consequências. Quando Jesus chamou este discípulo (Mt 8.21) ele disse: “Permite-me primeiramente....” para o verdadeiro cristão, Cristo deve ser o primeiro em tudo. A chamada divina para o ministério deve estar acima das relações humanas mais íntimas. No caso de Arão e seus outros filhos deveriam deixar todo o sinal de luto, e demonstrar sua lealdade a Deus. Devemos buscar primeiro o reino de Deus (Mt 6.33a). Talvez você ache que isso seja difícil mas as consolações de Deus para as nossas vidas com certeza são bem maiores que tudo, e Ele nos diz em Dt 31.6, “Sede fortes e corajosos: não temais, nem vos atemorizeis diante deles, porque o Senhor, vosso Deus, é quem vai convosco; não vos deixará, nem vos desamparará.” (Pr. José Antônio Corrêa. O SERVIÇO A DEUS – NADABE E ABIU. Disponível em:http://revistadominical.sites.uol.com.br/santific6.htm. Acesso em: 6 Ago, 2018)

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
                               
“Nadabe/Abiú Alguns irmãos, como Caim e Abel ou Jacó e Esaú, colocaram uns aos outros em apuros. Os irmãos Nadabe e Abiú tiveram problemas juntos. Embora pouco se saiba sobre seus primeiros anos, a Bíblia nos dá uma abundância de informações sobre o ambiente em que eles cresceram. Nascido no Egito, foram testemunhas oculares dos atos poderosos de Deus no Êxodo. Eles viram seu pai Arão, seu tio Moisés, e sua tia Miriã em ação muitas vezes. Eles tinham conhecimento em primeira mão sobre a santidade de Deus como poucos homens já tiveram, e pelo menos por um tempo, seguiram a Deus de todo o coração (Lv 8.36). Mas em um momento crucial, eles decidiram tratar as claras instruções de Deus com indiferença. A consequência de seu pecado foi ardente, imediata e chocante para todos” Bíblia de Estudo Cronológica Aplicação Pessoal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 215).
II. FOGO ESTRANHO NO ALTAR

Três atitudes marcaram o ato leviano e inconsequente de Nadabe e Abiú: ignoraram a Deus, impacientaram-se e, sem qualquer temor, apresentaram fogo estranho no altar sagrado.
Quando tratamos das coisas de Deus, toda reverência que nós mortais lhe mostramos ainda é insuficiente, por toda a sua santidade e grandeza. É por esta razão que devemos ‘guardar nossos pés’ quando entrarmos em Sua presença (Pv 5.1). Veremos alguns dos erros cometidos por Nadabe e Abiú.

1. Ignoraram a Deus. Ao adentrarem o lugar santo, Nadabe e Abiú ignoraram a presença de Deus, pois o Senhor encontrava-se não somente no Tabernáculo como em todo o arraial de Israel (Êx 25.8; Nm 14.14). O Deus onipresente não se limita ao Santo dos santos, mas se deleita com a presença de seus queridos e amados santos.  
“Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal” (Pv 5.1). Deus se regozija quando obedecemos a Sua palavra, dar ouvidos à palavra de Deus é o que Ele requer de todo homem. Dessa assertiva conclui-se que, qualquer que se apresenta diante de Deus com sacrifícios não ‘guardou o seu pé’. Quando o homem não pondera a vereda dos seus pés, observa o seu proceder segundo a palavra de Deus, procede mal. O incenso tinha que ser queimado todas as manhãs, quando as lâmpadas fossem preparadas (apagadas e enchidas para serem usadas novamente ao anoitecer) e no final da tarde. Mas Nadabe e abiu não seguiram essa ordem de Deus e puseram fogo em seus incensários quando o povo estava prostrado diante da glória do Senhor (9.23-24).

2. Impaciência profana. De acordo com as instruções que o Senhor, através de Moisés, transmitira aos filhos de Israel, somente o sumo sacerdote estava autorizado a oferecer o incenso no altar de ouro (Êx 30.7-9). Todavia, observa-se que ambos, ignorando tal preceito, entraram no lugar sagrado e trouxeram um fogo que Deus não ordenara. As coisas de Deus não podem ser tratadas profanamente. Nadabe e Abiú precipitaram-se e não souberam esperar a hora de se colocarem no altar. 
Em Levítico 16.12 e 13 temos uma indicação clara de que o fogo usado para acender o incenso deveria vir do próprio altar do incenso, que ficava dentro do lugar santo: “Tomará também, de sobre o altar, o incensário cheio de brasas de fogo, diante do SENHOR, e dois punhados de incenso aromático bem moído e o trará para dentro do véu. Porá o incenso sobre o fogo, perante o SENHOR, para que a nuvem do incenso cubra o propiciatório, que está sobre o Testemunho, para que não morra” (Lv 16.12-13). A punição sofrida foi conseqüência do trabalho feito de qualquer jeito, sem observar as ordens de Deus. Levítico 10.8 e 9 talvez nos ajude a entender um pouco mais esse fato: “Falou também o SENHOR a Arão, dizendo: Vinho ou bebida forte tu e teus filhos não bebereis quando entrardes na tenda da congregação, para que não morrais; estatuto perpétuo será isso entre as vossas gerações” (Lv 10.8-9). Isso pode indicar que Nadabe e Abiú poderiam ter cometido todos aqueles erros na forma de culto a Deus porque estavam embriagados. Essa possibilidade é muito provável, e explica a atitude (quase que infantil) deles diante das coisas sagradas de Deus. Nada há nos preceitos pormenorizados do sacrifício que declarasse que qualquer pessoa senão o próprio sumo-sacerdote devesse colocar incenso num incensário de brasas e apresentá-lo a Deus. Até mesmo aquela cerimônia era restrita ao dia da expiação quando, uma vez por ano, o sumo-sacerdote entrava no Santo dos Santos do santuário para cobrir o propiciatório com uma nuvem de incenso.

3. Apresentaram fogo estranho ao Senhor. Não bastava ter o incenso prescrito pelo Senhor; era imperioso ter igualmente a brasa certa, para que Deus fosse dignamente adorado (Êx 30.9; Lv 16.12). Se o incenso era exclusivo, a brasa também o era (Êx 30.37). Mas, pelo contexto da narrativa sagrada, Nadabe e Abiú não estavam preocupados nem com o incenso, nem com o fogo. Por isso, o Senhor veio a fulminá-los diante do altar. 
O seu pecado, sem dúvida, foi pouco-caso e desobediência, pois fizeram “o que o SENHOR não lhes ordenara”, e morreram “por haverem se aproximado do SENHOR”. Deus é um Deus zeloso e santo portanto exige que os Seus servos O sirvam à Sua maneira. Obediência é melhor que sacrifício (Hb 10.5-10).
Um dos erros de Nadabe e Abiú foi o de colocar em seus incensários fogo estranho. O certo seria que o fogo usado no tabernáculo fosse o do altar do holocausto, pois era o de Deus, e não estranho. Deus assim o havia instituído e este fogo arderia continuamente sobre o altar, nunca se apagaria (Lv 6.13). Nos dias de hoje também trazemos fogo estranho à presença de Deus através de doutrinas e ensinamentos que vão totalmente de encontro a Palavra de Deus, e que aos olhos de Deus são também “fogo estranho”. Quantas vezes nós que somos hoje o templo de Deus, nos misturamos com coisas que não agradam a Deus, nos contaminamos com o mundo e não fazemos diferença entre o santo e o profano (Lv 10.10). Essa mistura leva a corrupção destrói espiritualmente (Mq 2.10). Não agiram conforme a Palavra de Deus (v.1). Outro erro de Nadabe e Abiú foi o de agir por vontade própria, sem se importar com a vontade de Deus. Não podemos nos apresentar a Deus de qualquer maneira, de acordo com o nosso querer, devemos estar de acordo sua vontade. Não se sabe ao certo, mas há indícios de que Nadabe e Abiú tenha entrado no santuário embriagados, perdendo a sobriedade, e oficiando fora dos parâmetros estabelecidos por Deus. (Lv. 10.9,10)” (Pr. José Antônio Corrêa. O SERVIÇO A DEUS – NADABE E ABIU. Disponível em: http://revistadominical.sites.uol.com.br/santific6.htm. Acesso em: 6 Ago, 2018)
A punição pela desobediência vem ainda hoje, e é por isso “que há entre nós muitos fracos e doentes, e não poucos que dormem” (1Co 11.30), embora nem sempre imediata como no caso de Nadabe e Abiú, e Ananias e Safira.

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

Fogo estranho 1.“Qual foi o ‘fogo estranho’ que Nadabe e Abiú ofereceram diante do Senhor? O fogo sobre o altar de holocausto nunca se extinguia (Lv 6.12,13), o que implica que este altar era santo. É possível que Nadabe e Abiú tenham levado ao altar brasas de fogo de uma outra fonte, fazendo com que o sacrifício se tornasse profano. Também tem sido sugerido que os dois sacerdotes fizeram uma oferta em um momento não prescrito. Seja qual for a explicação correta, o ponto é que Nadabe e Abiú abusaram da sua posição como sacerdotes em um ato de flagrante desrespeito a Deus, que tinha acabado de revisar precisamente com eles como deveriam conduzir a adoração. Como líderes, eles tinham uma responsabilidade especial de obedecer a Deus. Em sua posição, eles poderiam facilmente conduzir muitas pessoas ao erro. Se Deus comissionou você para liderar ou ensinar outras pessoas, nunca considere este papel como garantido nem abuse dele. Permaneça fiel a Deus e siga as instruções dEle” (Bíblia de Estudo Cronológica Aplicação Pessoal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 214). 2. “O texto não registra a natureza do pecado de Nadabe e Abiú. Os comentaristas têm algumas sugestões: o incenso não foi feito de acordo com as instruções de Moisés (Êx 30.34-38); o fogo não era proveniente do fogo que estava queimando no altar (16.12); a oferta foi feita no momento errado (Êx 30.7,8); os infratores usaram incensários inadequados (os deles mesmos); Nadabe e Abiú assumiram uma função devida exclusivamente ao sumo sacerdote; ou eles estavam sob influência alcoólica (cf. 8-11). É possível falar com certeza sobre este aspecto. O ponto essencial é que os dois sacerdotes exerceram funções sacerdotais de maneira oposta às ordens do Senhor. Moisés deixou claro que o Senhor deve ser santificado naqueles que se aproximam dele, a fim de que Ele seja glorificado diante de todo o povo. Esta é uma ilustração de que, no Antigo Testamento, a obediência era muito mais importante do que o sacrifício (1 Sm 15.22)” (Comentário Bíblico Beacon. Vol 1. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 277).

III. LUTO NO SANTO MINISTÉRIO

A morte de Nadabe e Abiú abalou profundamente a casa de Arão. Apesar de haver perdido, num único dia, dois de seus filhos, ele foi proibido pelo Senhor de observar qualquer luto pelos mortos.
Nadabe e Abiú estavam usurpando de maneira espalhafatosa e imperdoável as responsabilidades da pessoa principal da hierarquia sacerdotal.  Suas ações podem ter sido o resultado do orgulho, da ambição, dos ciúmes, ou da impaciência, e, se for assim, sua motivação estava muito longe da intenção de quem procurava viver uma vida de santidade ao Senhor.

1. A morte de Nadabe e Abiú. Ao se apresentarem com fogo estranho diante do Senhor, os filhos de Arão, que também eram ministros do altar, foram consumidos no lugar santo (Lv 10.2). Pelo que observamos do texto sagrado, Deus os matou pelo fato de eles não terem levado em conta a santidade divina (Lv 10.3). A obrigação deles era glorificar o nome do Senhor, mas preferiram buscar a própria glória. Diante do fato, o sumo sacerdote de Israel calou-se. Não poderia haver momento mais trágico para a sua família.
A presunção de Nadabe e Abiú é assustadora em vista das instruções categóricas que o SENHOR lhes havia dado: ... os sacerdotes, que se chegam ao SENHOR, se hão de consagrar, para que o SENHOR não os fira (Êx 19.22). Deus é um Deus zeloso e santo portanto exige que os Seus servos O sirvam à Sua maneira. Obediência é melhor que sacrifício. Isto é algo de que deveríamos nos lembrar hoje, “pois conhecendo o temor do SENHOR, persuadimos aos homens...” (2Co 5.11), “e tende cuidado, não recuseis ao que fala. Pois, se não escaparam aqueles que recusaram ouvir quem divinamente os advertia sobre a terra, muito menos nós, os que nos desviamos daquele que dos céus nos adverte” (Hb 12.25). Este é o grande pecado nas igrejas de hoje: seus membros, todos consagrados sacerdotes de Cristo, não estão ouvindo o que Deus diz em Sua Palavra.

2. A remoção dos cadáveres. Moisés, então, ordena a dois primos de Arão, Misael e Elzafã, a removerem os cadáveres da Casa de Deus (Lv 10.4). No episódio de Ananias e Safira, os corpos de ambos foram levados para fora por alguns jovens da igreja recém-inaugurada pelo Espírito Santo (At 5.1-11).
Para a tarefa de remover os cadáveres da área do tabernáculo, Moisés chamou dois primos em primeiro grau de Arão; Misael e elzafã, acerca dos quais nada mais se sabe senão que não eram sacerdotes. Nenhuma pessoa consagrada poderia ter tocado nos mortos sem ficar contaminada, e este fato proibiu o pai desolado de entrar em contato físico com seus filhos mortos. Presumivelmente os primos de Arão eram os parentes mais próximos, e, portanto, podiam tratar dos ritos do enterro. Os cadáveres deveriam ser enterrados nalgum local além do arraial israelita propriamente dito, porque assim seria evitada a contaminação cerimonial de qualquer pessoa que acidentalmente chegasse ao local do enterro. Em terreno rochoso o sepulcro seria marcado por um monte de pedras empilhado sobre os corpos para evitar que estes fossem mutilados por animais ou aves predatórias. Os mortos estavam sendo aparentemente enterrados envoltos nas suas túnicas sacerdotais de linho (Heb. ktonet) tecidos com obra bordada (Ex 28:39), o que indica que, qualquer que fosse o dano feito a eles pelo fogo na ocasião da morte, não tinha queimado suas roupas externas até consumi-las. (Expositivo.com)

3. O luto é proibido. Apesar da tragédia que se abateu sobre a sua família, Arão é proibido pelo Senhor de guardar luto ou demonstrar tristeza (Lv 10.6,7). Ele e seus filhos deveriam suportar, com santa discrição, aquela hora tão difícil. Afinal, era seu dever zelar pela santidade e glória do nome do Senhor dos Exércitos. Certos tipos de “luto” servem apenas para enfraquecer o povo de Deus e levá-lo à dispersão (2 Sm 19.1-7). Às vezes, temos de suportar o insuportável, a fim de preservar a Igreja de Cristo. Ela está acima de nossa dor. 
Moisés proibiu Arão e seus dois filhos sobreviventes, Eleazar e Itamar, de lamentarem a morte súbita de Nadabe e Abiú. Deixar os cabelos desgrenhados e rasgar as vestes eram indicações comuns de grande pesar entre os israelitas (cf. Gn 37:29-30; 44:13). Outros membros da congregação poderiam lamentar a calamidade desta maneira se assim desejassem, mas se os sacerdotes consagrados sobreviventes fizessem assim, dariam a entender que não estavam dando prioridade às suas responsabilidades sacerdotais. Tal atitude traria sobre eles o mesmo tipo de castigo da parte de Deus, porque pareceria que estavam disputando ou desafiando, de alguma maneira, o julgamento que fora executado. Esta proibição deve ter colocado uma pressão tremenda sobre o controle-próprio de Arão e dos seus dois filhos sobreviventes, especialmente porque os israelitas respondiam de modo muito emotivo à incidência da morte. Os demais aronitas também foram proibidos de deixar a área do santuário, porque estavam num estado de consagração ritual. Violar esta condição santa traria a morte sobre eles, e a ira punitiva sobre o povo de Israel. Mesmo num tempo de grande calamidade, os sacerdotes do Senhor deviam dar um exemplo à nação, de rigorosa obediência à vontade de Deus, e da fidelidade sem desvios às leis que regiam os rituais do tabernáculo. Fossem quais fossem seus sentimentos pessoais, não deviam permitir que coisa alguma interferisse com a obra do ministério. Ao cumprir a vontade do Seu Pai, Jesus Cristo não permitiu que considerações pessoais de qualquer tipo se pusessem no caminho da Sua obra redentora do Calvário. Como tal. Ele fica sendo um modelo da dedicação e devoção que se espera que o cristão exemplifique. (Expositivo.com)

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“O luto 1. O povo de Israel teve a permissão de lamentar esta grande tragédia, mas Arão e seus dois filhos restantes foram proibidos de mostrar as marcas normais de luto: descobrir a cabeça e soltar os cabelos ou rasgar as roupas. Não deviam dar a Israel a aparência de questionamento ou lamentação por causa do julgamento de Deus. Moisés os lembrou de que o azeite da unção do Senhor estava sobre eles. O serviço de Deus não pode ser detido por questões pessoais. O incêndio seria ‘o fogo que o Senhor Deus acendeu. 2. Privação pessoal, negação ou insultos a si próprio muitas vezes caracterizavam os ritos de luto. Os ornamentos eram tirados (Êx 33.4-6); os enlutados rasgavam suas vestes como símbolo de pesar (Gn 37.34). Frequentemente, o rasgar as roupas e vestir-se com sacos representavam pesar e humildade (1 Rs 21.27; Et 4.1; Jr 4.8). Pó ou cinzas eram colocados sobre a cabeça. A barba e os cabelos da cabeça eram arrancados (Ed 9.3) ou cortados (Is 15.2; Jr 7.29). Observava-se o jejum (2 Sm 1.12; Ne 1.4; Zc 7.5). Algumas práticas de luto eram expressamente proibidas a Israel, provavelmente por serem ritos pagãos. Os israelitas não se cortavam nem podiam fazer ‘marca alguma’ em suas testas em homenagem aos mortos (Lv 19.28; Dt 14.1). As regras para os sacerdotes eram particularmente mais severas (Lv 21.1- 5, 10-12)” (Dicionário Bíblico Beacon. 7.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 277) e (Dicionário Bíblico Wycliffe. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 1129).

CONCLUSÃO

Devemos ter cuidado com a forma como nos apresentamos diante de Deus. O culto ao Senhor deve ser santo, reverente e verdadeiro. Portanto, chega de liturgias bizarras, cultos mundanos, teologias permissivas e costumes que ferem a Palavra de Deus. Se não atentarmos à santidade e à glória divinas, não subsistiremos, pois o nosso Deus, embora seja conhecido pelo amor e bondade, é também um fogo devorador (Is 30.27). Portanto, sejamos puros e santos em toda a nossa maneira de ser, pois o Senhor não se deixa escarnecer. 
Vimos nesta lição o perigo para aqueles que trabalham na obra de Deus e não agem conforme as instruções divinas. Devemos estar sempre prontos a obedecer a Deus em primeiro lugar e estarmos sempre atentos à Palavra de Deus para não nos contaminarmos com coisas impuras, não nos esquecendo que Deus é santo e que ele deseja a nossa santificação a cada dia. “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4.3). O expositor Scofield sugere que nestes trechos existem duas coisas “estranhas”: incenso comum e fogo não procedente do altar. O incenso comum nos fala da adoração simulada ou formal. O fogo que não é do altar corresponde à animação apenas por meio da excitação dos sentidos, e à substituição da devoção a Cristo por outra devoção qualquer, como a empreendimentos religiosos ou seitas (1Co 1.11-13; Cl 2.8, 16-19).
Cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo, como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: ‘Sede santos, porque eu sou santo'” (1Pe 1.13-16)

“Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos”. (Jeremias 15.16).


Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

LIÇÃO 6: A DOUTRINA DO CULTO LEVÍTICO


SUBSÍDIO I

A doutrina do Culto Levítico

Todo livro da Bíblia tem uma teologia. O que isso quer dizer? Cada livro bíblico apresenta Deus e seu modo de agir sob certo aspecto específico à conjuntura em que parte da Escritura Sagrada foi escrita. Por exemplo, é notório que o Evangelho de João apresenta a pessoa de Jesus de maneira bem distinta dos demais Evangelhos. Logo, dizemos que a Cristologia do apóstolo João, sob certo ponto de vista, é diferente em objetivo da Cristologia dos outros Evangelhos. A isso chamamos Teologia Bíblica. A partir do estudo desta disciplina teológica é que se sistematiza as grandes doutrinas, organização esta, que denominamos Teologia Sistemática.

Como o Levítico apresenta Deus?

O livro de Levítico tem uma maneira peculiar de apresentar a Deus. Ali se encontra o estabelecimento do culto que perpassaria toda a história do povo judeu. A instituição do culto por meio de sacrifícios de animais, posição de mediação do ministério sacerdotal, o sentimento de reverência: tudo isso traduz símbolos à natureza de Deus.

Aspectos da natureza divina apresentados em Levítico

Podemos, por isso, e sob muitos outros aspectos, afirmar que o culto levítico apresenta traços da natureza divina que aparecem perfeitamente no livro de Gênesis. Por exemplo, (1) “tudo que existe foi criado por Deus”, ora, desde a exigência de primogênitos animais, dos primogênitos do povo figurados na tribo de Levi, de uma família específica para o exercício do ministério do sumo sacerdote, o tempo todo Deus está dizendo: “tudo é meu”; (2) os animais, os vegetais, ou seja, toda criatura inferior ao ser humano pertence a Deus; (3) o ser humano todo, a imagem e semelhança de Deus, é do Senhor, onde tal verdade está representada pela exigência divina à sacralidade da vida, no convite ao ser humano para ser um adorador a Deus, no serviço voluntário e amoroso das pessoas a Deus. O tempo todo o livro do Levítico, por intermédio do culto, está mostrando que Deus é quem governa tudo.

Aspectos que devem ser ressaltados hoje

É de suma importância esclarecer ao aluno que, como no Levítico, o nosso culto a Deus representa o que Ele é. Por Ele ser o absoluto, o Criador de tudo, rendemos-lhe um culto reverente. Mas num sentido, outrora inexistente no tempo do Levítico: por meio de Seu Filho, Deus nos justificou, regenerou e santificou de uma só vez. Ele nos vivificou enquanto éramos ainda pecadores (Ef 2.1).


REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ano 19, n. 75, p. 39, jul-set. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

O culto levítico estava fundamento na doutrina divina, o próprio Deus deu orientações expressas em relação à adoração. Na lição de hoje estudaremos a respeito da necessidade humana de adorar a Deus, também nos voltaremos para o culto genuinamente cristão, com destaque para a devoção pessoal e coletiva do crente. Ao final, enfatizaremos que a adoração a Deus, consoante aos ensinamentos de Jesus, deve ser centrada na Palavra e no Espírito.
                                                                                                                                                                                                              
1. O CULTO LEVÍTICO

O culto levítico tinha por objetivo central lembrar que Deus é o Criador de todas as coisas, do céu e da terra (Gn. 1.1). Também tinha um objetivo memorial, a lembrança de que Deus foi o libertador de Israel, Aquele que retirou o povo da escravidão do Egito (Ex. 23.25). Esse povo foi separado por Deus para ser uma teocracia, seria governado não por homens, mas pelo Senhor que orientaria a nação (Lv. 20.26). O sacrifício de animais fazia parte do culto levítico, esses eram entregue como libação (Lv. 1.2). Os animais deveriam ser escolhidos com critérios, os melhores separados para o culto, como uma demonstração do valor que o culto deveria ter a Deus. Não apenas animais, também os frutos da terra serviam para louvor e adoração a Deus (Lv. 23.10). O próprio ser humano deveria lembrar que foi criado por Deus, conforme Sua imagem e semelhança, portanto, o corpo seria dedicado ao Senhor, tendo o cuidado devido (Lv. 20.7). Essa cosmovisão israelita ressaltava a dignidade do corpo, e a dignidade da vida humana, que seria responsável pela natureza, expressão da beleza de Deus (Lv. 23.4). O culto a Deus, no contexto do livro de Levítico, deveria ser voluntário, fundamentado no amor a Deus (Sl. 100.2), uma demonstração de genuína gratidão pelos feitos de Deus (Lv. 7.11-17).

2. O CULTO CRISTÃO

O culto cristão, ainda nos primórdios da Igreja, tinha suas bases divinas. Em At. 2.42-47, compreendemos que o culto estava fundamentado na koinonia, e se alicerçava na doutrina dos apóstolos, no partir do pão e nas orações. A partilha, que também era manifestada na celebração da Ceia do Senhor (I Co. 11.20-22), é uma demonstração do espírito comunitária da igreja do primeiro século. Os cultos eram realizados tantos nas casas como no templo (At. 2.46; 5.42; 20.7), era importante que os cristãos estivessem unidos, e não deixassem de se congregar (Hb. 10.24,25). Não podemos desconsiderar o aspecto comunitária do culto cristão, é por meio deles que ressaltamos nossa unidade, e reforçamos nossa dependência mutua. É nesse espírito comunitário que podemos ler a pregar a Palavra de Deus (Cl. 3.16; II Tm. 4.2), explicando e aplicando as verdades da fé; também nos dirigimos a Deus em oração (Ef. 5.20; I Tm. 2.8; At. 2.42), pois a oração é uma demonstração de dependência divina, também podemos interceder pelos irmãos e agradecer pelas dádivas do Senhor. Há espaço para hinos e cânticos espirituais (Cl. 3.16; Hb. 13.15), mas esses devem glorificar a Deus, e não aos homens, devem servir para expressar nossa relação com Deus, e contribuir para a proclamação do evangelho (Ef. 5.19).

3. O CULTO ESPIRITUAL

Em Rm. 12.1,2 Paulo não ordena, apenas “roga”, isto é, “admoesta, solicita, encoraja”, que é o sentido de parakaleo, em grego aos irmãos. O apelo do apóstolo tem como base a grande misericórdia de Deus, não os princípios legalistas dos judaizantes. O amor de Deus por nós nos motiva a viver em total consagração a Ele, esse é o sacrifício que O agrada, não mais o sangue de animais, como no Antigo Pacto (Hb. 13.15-19), esses sacrifícios diferentes são denominados por Pedro de “espirituais” (I Pe. 2.5), equivaleria ao que Paulo denominou de “culto racional”. Para que isso se efetive, não mais podemos nos conformar, ou seja, “entrar na fôrma” desse mundo. O mundo, aqui, é perverso ou mal (Gl. 1.4) e dominado por Satanás, o seu príncipe, que cega a mente dos incrédulos (II Co. 4.4). Não podemos mais compactuar com esse sistema anti-Deus que prevalece no presente século, pois “as coisas antigas se passaram e eis que tudo se fez novo” (II Co. 5.17). Somos instruídos, portanto, a sermos transformados, literalmente, transfigurados (ver Mt. 17.2; II Co. 3.18), pela renovação da nossa mente. Essa renovação somente pode acontecer na medida em que passamos a pensar com a mente de Cristo, e não com a nossa natureza pecaminosa (II Co. 11.3; Ef. 1.18; I Co. 2.16). Assim, experimentaremos quão boa, agradável e perfeita é a vontade de Deus, não apenas para Ele, mas também para nós, assim, reconheceremos que não vale a pena pecar. O culto, consoante a expressão paulina, deve ser espiritual, e como Jesus ensinou, não depende de um lugar específico, mas da adoração espiritual a Deus, fundamentada na Palavra (Jo. 4.24).

CONCLUSÃO

Deus busca adoradores e esses devem adorá-LO em Espírito e em Verdade (jo. 4.23,24). O culto cristão, diferentemente daquele israelita, não está alicerçado no lugar, mas na disposição espiritual, alicerçada no relacionamento com Deus, tendo a liberdade de chamá-lo de Pai (Mt. 6.9-13), de modo que temos ousadia para nos achegar ao trono da graça (Hb. 4.16). Por outro lado, não podemos desprezar a vida comunitária da igreja, deixando de se congregar como é costume de alguns (Hb. 10.25), pois Jesus se faz presente sempre que pessoas se reúnem em Seu nome (Mt. 18.20).

Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog subsidioebd

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

No livro de Levítico, há uma teologia sublime e altamente devocional, cujo objetivo é levar o crente israelita a reconhecer três verdades:
1) tudo quanto existe foi criado por Deus;
2) sendo Ele o Criador de todas as coisas, somente Ele deve ser adorado; e
3) tudo quanto há deve ser consagrado ao Deus Único e Verdadeiro.
Se observasse esse princípio, o povo de Israel ver-se-ia livre dos resquícios da idolatria do Egito, prevenindo-se didaticamente quanto às abominações de Canaã.
Nesta lição, veremos que a essência do culto levítico é conduzir o crente a adorar a Deus e a consagrar-lhe tudo quanto tem. Porque tudo pertence ao Senhor, pois Ele tudo criou e tudo preserva. Essa consagração, porém, só terá eficácia se começar pelo nosso próprio ser (Rm 12.1-3). 
Estamos estudando o culto no Antigo Testamento aplicado ao nosso tempo, e aqui devemos indagar: “Como posso adorar a Deus segundo os princípios do Antigo Testamento?” Em Levíticos ficamos sabendo que nem toda adoração agrada a Deus. Há o perigo de trazermos “fogo estranho” diante do altar e do trono do Senhor (Lv 10.1-2). Talvez estejamos oferecendo esse “fogo estranho” contrariando os mandamentos divinos quanto à adoração! Não apenas a adoração a falsos deuses é proibida nas Escrituras, mas também a adoração ao verdadeiro Deus de maneira errada e fora dos padrões bíblicos (Ml 1.7-10; Os 6.4-6; Am 5.21). É interessante notar que quando a Bíblia descreve a adoração, não usa termos similares aos que se referiam ao culto em outras religiões, mas descreve como serviço (liturgia); no Antigo Testamento, a adoração era prescrita e controlada, era litúrgica. Os sacrifícios, os sacerdotes e o Dia da Expiação abriram caminho para os israelitas se chegarem a Deus e estas instruções dizem respeito a um caminhar santo com Deus e a padrões de vida espiritual que ainda se aplicam aos dias de hoje. A verdadeira adoração e unidade com Deus começa quando nos arrependemos, confessamos os nosso pecados e aceitamos o Senhor Jesus Cristo como o único que pode remir-nos do pecado e aproximar-nos de Deus. 

I. A TERRA É DO SENHOR
                                                                 
O livro de Levítico reafirma, através de suas ações litúrgicas, as mensagens do Gênesis e do Êxodo. Ele mostra que Deus, sendo o Criador dos Céus e da Terra, tem de ser adorado por tudo quanto existe e por tudo que temos.
1. Deus é o Criador dos Céus e da Terra. Se o Gênesis mostra que Deus criou tudo quanto existe, o Levítico reivindica dos israelitas que consagrem tudo ao Senhor (Gn 1.1; Lv 1.17). Ao mesmo tempo, exorta-os didaticamente, por meios das ofertas e dos sacrifícios, que nenhum ídolo pode ser honrado como o nosso Deus (Lv 19.4; Is 42.8). 
O povo deveria imitar Deus na santidade, praticando vários deveres que reflitam seu comportamento. O capítulo 19 de Levítico enfatiza vários mandamentos dados ao povo a respeito da vida religiosa, bondade com o próximo, respeito pelos mais velhos e estrangeiros, e negociações.

2. Deus é o libertador de Israel. O livro de Levítico patenteia aos filhos de Israel que Deus é o libertador de seu povo. Por esse motivo, nenhum israelita poderia comparecer diante do Senhor de mãos vazias (Êx 23.15; 2 Co 9.7). 
Todo homem judeu deveria peregrinar até Jerusalém, três vezes ao ano (Êx 23.14), a fim de se apresentarem diante do Senhor. Estas festas tinham a duração de uma semana cada uma. A Festa dos Pães Asmos, que começava com a Páscoa; a Festa das Colheitas, que era chamada de a Festa de Pentecostes, pois tinha o seu início cinquenta dias após a Páscoa; e por último, a Festa da Colheita, ou a Festa dos Tabernáculos, assim chamada pelo fato de Israel se mudar para tendas durante esta a festa (Lv 23.39-44). O propósito destas festas era:
a) manter as tribos de Israel unificadas como nação: e
b) perpetuar a memória dos grandes eventos da história de Israel. Nestas ocasiões, exortava-se a que cada participante desse o que pudesse em proporção ao que Deus lhe tinha dado (Dt 16.16,17).

3. Israel é o templo de Deus. A teologia de Levítico tinha por objetivo também conscientizar Israel de sua vocação divina (Lv 20.26). Logo, toda a nação israelita era (e no futuro o será) um templo de adoração ao Senhor (Lv.10.3). Isso significa que o povo hebreu não se limitava a ser uma mera teocracia, mas a comunidade de adoração por excelência ao Senhor (Lv 9.23).
Qadosh, separado, dedicado à propósitos sagrados, limpo, moral ou cerimonialmente puro. A santidade é a separação de tudo o que é profano e que corrompe, e ao mesmo tempo, dedicação a tudo o que é santo e puro. Assim, a comunhão desejada (ou melhor ordenada) pelo Senhor dependia da assimilação de Seu conceito de santidade pelos israelitas. Esse conceito era radicalmente oposto ao uso do termo santidade pelos cananeus, para quem ser santo significava envolver-se com as formas mais degradantes de imoralidade, como ser prostituto ou prostituta cultual. Desta forma, o propósito primário do livro foi instruir os israelitas sobre como eles deveriam ser uma nação santa diante da presença do Senhor. Sendo o povo escolhido de Deus, Israel deveria viver de forma separada do mundo; a fim de que pudessem receber as bênçãos resultantes da Aliança ao invés de julgamentos.

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
                               
“Levítico 9.1-24
Para preparar o aparecimento de Deus, Arão ofereceu por si e seus filhos uma expiação de pecado e um holocausto (7,8). A oferta pelo pecado de Arão era um bezerro (2,8), e seu holocausto, um carneiro. Esta é a única ocasião na qual a legislação sacrificial exigia um bezerro. Rashi comenta a respeito do bezerro: ‘Este animal foi escolhido como oferta pelo pecado para anunciar ao sacerdote [Arão] que o santo, bendito seja Ele, lhe concedeu expiação por meio deste bezerro por causa do incidente do bezerro de ouro anteriormente feito’.
O pensamento judaico tradicional sempre vê significação em cada detalhe deste processo. Snaith ressalta que o carneiro era lembrança da obediência de Abraão em amar Isaque. Cita também a significação relacionada a estas ofertas que o Targum de Jerusalém menciona: o bode é visto como lembrança do bode que os irmãos de José mataram (Gn 37.31, ARA); o bezerro lembra o bezerro de ouro; e o cordeiro recorda o fato de Isaque ter sido amarrado como cordeiro para   o sacrifício. A própria sofreguidão em ver significado em cada detalhe sugere a importância que estes eventos representavam para antigo Israel. Segundo o rito significa ‘de modo regular’ ou ‘de acordo com as prescrições’.
O fato de Arão apresentar a oferta pelo pecado e o holocausto a favor de si mesmo e de seus filhos mostra o autoentendimento que o Antigo Testamento tinha das limitações de seu próprio sistema sacrificatório. Ninguém, nem mesmo o sumo sacerdote Arão, estava preparado para servir a Deus ou adorar a Deus sem que primeiro fosse feita expiação por ele. O escritor aos Hebreus (Hb 7.27) aceita esta realidade como prova da superioridade do novo concerto e de Cristo, o verdadeiro Sumo Sacerdote.
As ofertas de Arão pelo povo formavam um padrão para o culto de Israel ao Senhor. Arão ofereceu a expiação do pecado, o holocausto, o sacrifício pacífico e a oferta de manjares. A omissão da oferta pela transgressão (culpa) confirma o fato de que esta oferta era primariamente para ocasiões em que ocorresse o dano e a reparação estivesse sendo feita. A ordem dos sacrifícios revela o entendimento levítico acerca da aproximação apropriada a Deus na adoração” (Comentário Bíblico Beacon. Vol. 1. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, pp. 275, 276).


II. OS ANIMAIS E OS VEGETAIS SÃO DO SENHOR

A teologia do Levítico mostra a criação como serva do Criador. Por essa razão, os animais e os vegetais, em Israel, não eram adorados, mas serviam para adorar a Deus.
1. No Egito, os animais eram deuses. Os egípcios não faziam distinção entre o Criador e a criação, nem estavam preocupados em distinguir os animais limpos dos impuros. Por isso, adoravam o boi, o crocodilo, o falcão, o gato, etc (Rm 1.25). Eis porque Deus, ao punir o Egito com as dez pragas, mostrou quão inúteis eram aqueles deuses. 
A religião no Egito Antigo era marcada por várias crenças, mitos e simbolismos. A prática religiosa era muito valorizada na sociedade egípcia, sendo que os rituais e cerimônias ocorriam em diversas cidades, cada uma com o seu deus. O culto de tais animais era um aspecto importante da religião popular dos egípcios e remonta a épocas pré-históricas. É importante que se diga que nem todos os animais tinham alguma relação com os deuses. Alguns animais que simbolizavam deuses são:
- Babuíno deus Thoth
- Boi deuses Osíris e Ptá
- Cachorro ou Bode deus Seth
- Carneiro deus Knum
- Chacal deus Anúbis
- Crocrodilo deus Sebek
- Escaravelho deus Khepra
- Falcão deus Rá ou Deus Hórus
- Gata deusa Bastet
- Hipopótamo deusa Tueris
- Íbis deus Thoth
- Leoa deusa Sekhmet
- Serpentes demônio Apófis
- Vaca deusa Hathor. (Leia mais sobre o assunto aqui)
As dez pragas derramadas pelo Senhor sobre o Egito tinham por objetivo conduzir Faraó ao arrependimento e revelar que o Senhor é o único verdadeiro Deus, o Rei soberano no universo. Faraó significa ‘Filho de Rá’, o ‘embate’ era entre o filho de Deus, Moisés, e o filho de Rá, o deus do Sol do antigo Egito, representado pelo falcão. Cada uma das dez pragas foi dolorosamente literal e dirigida contra algum aspecto da falsa religião:

2. Os animais e a adoração a Deus. Ao contrário dos egípcios, os israelitas não se davam ao culto dos animais, mas entregava-os em sacrifício ao Senhor (Lv 1.2). Além disso, faziam distinção entre os animais limpos e impuros (Lv cap. 11). Nesse sentido, o povo de Israel sabia que os animais não são deuses, e, sim, criaturas do Deus, que, bondosamente, o sustenta (Sl 104.14). 
Deus nos revela em Levítico 11 e Deuteronômio 14 quais os animais - incluindo aves e peixe - são puros e impuros. As ofertas lembravam a Ele a futura morte de Cristo, pela qual, a misericórdia seria demonstrada aos pecadores (Ef 5.2).
A separação de animais em categorias limpos e impuros veio pelo desejo soberano de Deus. Ele quer que Seu povo esteja diferente dos outros povos no mundo. Ele fez isso nessa maneira dando-lhes regras de vestimenta, agricultura, e adoração diferente. A ciência revelou depois que os animais permitidos são animais mais saudáveis para o corpo humano do que os impuros. Creio que, além de querer mostrar o Seu povo diferente que os outros povos no mundo, quis prevenir Seu povo de doenças e praticas destrutivas ao homem. Deus quer sempre ter o Seu povo separado em amor para com Ele. Isso se vê hoje no povo DELE não seguindo os costumes do mundo hoje, comendo e bebendo substancias diferentes, se vestindo de forma modesta e adorando em espírito e em verdade, por Cristo Jesus.” (Perguntas e respostas no livro de Gênesis. Disponível em:https://www.palavraprudente.com.br/estudos/sergio_f/genesis/cap05.html. Acesso em: 30 Jul, 2018)

3. Os vegetais e a adoração a Deus. Se por um lado, a Lei de Deus preconiza a preservação da natureza, por outro, condena a idolatria da natureza como acontecia em algumas antigas culturas cananeias e no período de apostasia dos judeus (1 Rs 14.23). Em Israel, os frutos da terra serviam para louvar e enaltecer a Deus (Lv 23.10). 
Em Levítico 23.10, a Festa das Primícias deveria ser comemorada quando eles estivessem em Canaã. Um molho das primícias da colheita deveria ser trazido ao Senhor e dessa maneira eles seriam aceitos diante de Deus (Lv 23.11). um molho das primícias da vossa sega era uma parte da primeira colheita de cereais, que pertencia a Deus como oferta especial, reconhecendo que a safra foi uma provisão divina. Essa festa é o símbolo da ressurreição de Jesus Cristo que, após morrer e ressuscitar, nos tornou aceitos diante do Senhor Deus. Com a Sua morte e ressurreição Jesus Cristo torna o homem, que crê na obra que Ele realizou, agradável perante Deus. Paulo chamou Cristo de as primícias dos que dormem - o primeiro dos mortos a ser ressuscitado (1Co 15.20).

SUBSÍDIO DIDÁTICO

Professor(a), inicie o segundo tópico fazendo a seguinte indagação: “Por que os animais e os vegetais são do Senhor? Incentive a participação de todos os alunos. Eles são do Senhor porque Ele os criou. Mas como saber a verdade a respeito do relato da criação? Explique que o relato da criação não é uma alegoria. A narrativa da criação é um fato histórico, ou seja, algo que aconteceu exatamente como a Palavra de Deus narra. Quando o assunto é a criação do universo, sabemos que existem várias teorias que tentam explicar a origem da vida, como por exemplo, a teoria do Big Bang e a teoria da Evolução. Porém, como crentes, sabemos que o universo e a vida não são produtos de uma evolução como alguns cientistas tentam afirmar ou o resultado da explosão de uma partícula. Deus é o grande Criador. Ele Criou os animais e vegetais, por isso pertencem a Ele. Os israelitas precisavam ter a consciência de que o Deus que eles adoravam no Tabernáculo era o único e que tudo foi criado por Ele. Enfatize também que os sacrifícios de animais apontavam para o sacrifício vicário de Jesus e que segundo a Bíblia de Estudo Pentecostal, “quando um sacrifício era oferecido com fé e obediência a Deus, Deus se aprazia no ato do adorador e, deste modo, outorgava ao penitente a graça e o perdão almejados”.

III. O SER HUMANO É DO SENHOR

A teologia do Levítico preconiza a sacralidade da vida humana como imagem e semelhança de Deus. Em Israel, ao contrário das culturas cananeias, estava proibido o sacrifício humano, pois o verdadeiro sacrifício a Deus é um coração humilde e contrito (Is 57.15).
1. O ser humano é a imagem de Deus. O livro de Levítico corrobora a teologia do Gênesis, ao mostrar que o ser humano foi criado por Deus (Gn 1.26). Portanto, há vários dispositivos, visando promover o ser humano como a obra prima das mãos divinas. Por esse motivo, o crente israelita era intimado a cuidar de seu corpo tanto exterior quanto interiormente (Lv 20.7). Nem marcas nem tatuagens eram admitidas (Lv 19.28). Ou seja, o ser humano só agradará a Deus se buscar a excelência divina em toda a sua maneira de ser, existir e pensar. 
A Imago Dei é a doutrina de que o Homem foi criado à Imagem Divina. É a resposta bíblica a como surgiu o Homem, Criatura singular entre as existentes. O Reformador Lutero afirmou: “De posse desta imagem, o Homem era como os anjos e, após havê-la perdido inteiramente, tornou-se como os animais e o que o distingue deles tem pouca significação”. Os luteranos, com isso, aceitam o traducianismo [doutrina que postula que os filhos recebem a alma dos pais no momento de sua geração (Há um traducianismo materialista (linha de Tertuliano) e um espiritualista (de santo Agostinho), este também dito generacionismo)]. A Imago Dei abrange toda a pessoa do Homem – corpo, alma e espírito.
Em relação ao texto de Lv 19.28 e afirmação ‘nem marcas nem tatuagens eram permitidas’ não traduz corretamente o hebraico, já que não há aqui (e em nenhum outro texto bíblico) referência à tatuagem. A Bíblia de Estudo Defesa da Fé trás a seguinte nota de rodapé: "Lacerações e ferimentos físicos estavam incluídos nos ritos da adoração de fertilidade de Baal (cf. I Rs 18.28)" e a Bíblia Shedd diz (sobre os vv.27 e 28): "Os pagãos cortavam os cabelos da cabeça ou da barba de certas maneiras, para honrar seus ídolos ou para os ritos fúnebres pagãos, Dt 18.10. Cortar o corpo era praticado para mostrar arrependimento extremo ou desespero. Condenam-se estas práticas entre o povo de Deus. Estas proibições eram para guardar o povo de Israel de seguir as práticas supersticiosas e idólatras dos pagãos que viviam ao seu redor." Afirmar que tatuagem está incluso neste texto é falta de sinceridade teológica e um abuso. Todo teólogo honesto e bem instruído sabe bem disso. Assim, é perigoso usar esse versículo para condenar o uso de tatuagem. Se estiver disposto a usar este versículo para condenar a prática do uso de tatuagens (ainda que não se refira à), também deverá estar disposto a usar os outros versículos de Levítico, tais como a declaração de que toda mulher se torna imunda ao chegar o tempo da menstruação (Lv 15.19-28), ou quando dá a luz a um filho (Lv 12.2,5); pessoas que cortam os seus cabelos em redondo e os homens que fazem o canto das barbas estão em pecado (Lv 19.27), bem como qualquer que comer animal que rumina e não possui unhas fendidas (Lv 11.6). Percebe o perigo? Com isto não defendo a prática nem condeno. O ponto é ser sincero com o que o texto diz e julgando pelo que analisamos deste texto de Levítico, sabemos que não se trata de tatuagens e sim de culto aos mortos - que continua sendo um pecado, pois sabemos que os mortos não se comunicam com os vivos (Ec 9.5-6) e que isto é um ato de feitiçaria (1Sm 28.7-11; Ap 21.8).

2. A vida humana é sagrada. O crente israelita é exortado a ver a vida humana como sagrada. Por isso mesmo, não poderia, sob hipótese alguma, consagrar sua descendência aos ídolos (Lv 18.21). Portanto, toda a nação de Israel, como propriedade exclusiva do Senhor, ao Senhor tem de ser consagrada.
A Bíblia King James Atualizada traz assim o texto de Levítico 18.21: “Não entregarás teus filhos para serem sacrificados no fogo ao deus Moloque. Ora, isso seria profanar o santo Nome do SENHOR Deus. Eu Sou Yahweh!”. Moloque era um deus criado e especialmente adorado pelo povo amonita. Esses amonitas eram um povo pagão que foram descendentes de uma das filhas de Ló que se deitou com o próprio pai (Gn 19.38).
Tal como acontece com grande parte da história antiga, a origem exata da adoração a Moloque não é clara. Acredita-se que o termo Moloque tenha originado com o mlk fenício, que se refere a um tipo de sacrifício feito para confirmar ou absolver um voto. Melekh é a palavra hebraica para “rei.” Era comum para os israelitas combinarem o nome de deuses pagãos com as vogais na palavra hebraica para ‘vergonha’: "bosheth". Foi assim que a deusa da fertilidade e da guerra, Astarte, tornou-se Ashtoreth. A combinação de mlk, melekh e bosheth resultou em "Moloque", que poderia ser interpretado como "o governante personificado de um sacrifício vergonhoso". Ele também foi grafado como Milcom, Milkim, Malik e Moloch. Ashtoreth era sua consorte, e a prostituição ritual era considerada uma importante forma de adoração”. (Quem era Moloque? Disponível em: https://www.gotquestions.org/Portugues/Moloque.html. Acesso em: 30 Jul, 2018)

3. O ser humano é servo e adorador a Deus. Sendo Israel o povo do Senhor, deve, por conseguinte, dedicar-se totalmente ao serviço divino, oferecendo-lhe sacrifícios, celebrando seus grandes feitos e adorando-o na beleza de sua santidade (Lv 1.2; 23.2). (LB CPAD, 3º Trim 2018, Lição 6, 5 Ago 18)
É interessante observar que o relacionamento correto com Deus passa pelo conhecimento sobre quem Ele é. Diante da santidade de Deus se exige um modelo organizacional de culto. Outro foco importante na teologia de Levítico é que o culto ritualístico prestado a Deus é uma forma prática de santidade. O tema principal de Levítico é a santidade. A exigência de Deus pela santidade do Seu povo baseia-se na Sua própria natureza santa. Um tema correspondente é o de expiação. A santidade deve ser mantida diante de Deus, e ela só pode ser alcançada através de uma adequada expiação. Comunhão é o propósito de Deus para os Seus filhos, e essa comunhão só será possível mediante uma vida santa.
A teologia de Levítico fala bastante na tensão entre pureza e impureza. A santidade, como lembra Henry Blackaby, é ver o pecado sob a pespectiva de Deus[8]. Embora Jesus tenha quebrado tabus sobre até onde poderia se envolver com pessoas impuras e lugares impuros, o Novo Testamento continua a ensinar que essa divisão existe. O apóstolo Paulo escreve: “Porque Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade” (1 Tessalonicenses 4.7 NVI). Jesus em nenhum momento ensinou que não existe limite entre o puro e o impuro, mas combateu fortemente o orgulho religioso pela “posição de puro” e, também, o desprezo pelo próximo lembrando sempre que a pecaminosidade é uma condição universal na vida do homem.” (Levítico, Adoração e Serviço ao Senhor. Disponível em: https://teologiapentecostal.blog/2018/06/30/levitico-adoracao-e-servico-ao-senhor/. Acesso em: 30 Jul, 2018)

4. O sacrifício pacífico. A teologia do livro de Levítico tinha por objetivo, antes de tudo, levar o israelita a servir voluntária e amorosamente a Deus. Esse ideal é realçado pelo salmista (Sl 100.2). A síntese desse ensinamento está no sacrifício pacífico com que Israel mostrava a sua gratidão ao Senhor (Lv 7.11-17). Quanto a nós, somos exortados a oferecer a Deus, na pessoa de Jesus Cristo, por mediação do Espírito Santo, sacrifícios de louvores (Hb 13.15). 
Uma oferta de paz, a oferta pacífica, assim que o sangue era derramado, Deus e o adorador podiam estar em feliz e pacífica comunhão. O que Jesus veio trazer se encontra apenas no Reino de Deus (Rm 14.17). O mundo tenta promover essa paz, mas todos os meios empregados para que isso aconteça têm se mostrado completamente inúteis e frustrantes. No entanto, em Jesus, isso é alcançável para o homem. Em Jesus Cristo temos nossa oferta pacífica, nEle a paz da consciência é estabelecida e satisfaz todas as necessidades da alma. No sacrifício pacífico os sacerdotes viam que podiam oferecer um cheiro suave para Deus e também render uma porção substancial para si mesmos, da qual podiam alimentar-se em comunhão.

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“Sobre o homem
Cremos, professamos e ensinamos que o homem é uma criação de Deus: ‘E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente’ (Gn 2.7). A palavra ‘homem’ no relato da criação em Gênesis 1 e 2 é Adam, que aparece depois como nome próprio do primeiro homem. O ser humano foi criado macho e fêmea: ‘E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou’ (Gn 1.27). Trata-se de um ser inteligente e que foi capaz de dar nome aos animais; feito à semelhança de Deus: ‘os homens, feitos à semelhança de Deus’ (Tg 3.9); um pouco menor do que os anjos; coroado de honra e de glória e dotado por Deus de livre-arbítrio, ou seja, com liberdade de escolher entre o bem e o mal. Mediante a graça, essa escolha continua mesmo depois da Queda no Éden: ‘Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se falo de mim mesmo’ (Jo 7.17). Mais de uma vez, Israel teve a liberdade de escolha quando foi chamado por Deus. Podemos afirmar que nenhuma criatura foi feita como o homem, que é considerado a coroa da criação. Adão é o primeiro homem, e dele e Eva veio toda a geração dos seres humanos que vivem sobre o planeta terra” (SILVA, Esequias Soares da (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. 3.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, pp. 77,78).

CONCLUSÃO

Nós somos o templo do Espírito Santo (1 Co 6.19). E, como tais, somos intimados a andar em novidade de vida, consagrando tudo ao Senhor, a começar por nós mesmos (1 Ts 5.23). Se não nos ofertarmos amorosa e incondicionalmente a Deus, e usarmos o nosso corpo para o pecado, como estaremos diante de Deus? Seremos réus diante dEle (1 Co 6.18-20). A essência da teologia do Levítico continua válida ainda hoje. O Deus que exortou Israel à santidade requer, de igual modo, a nossa santificação (Lv 19.2; 1 Ts 4.3). 
Finalizando, é importante afirmar que um desejo interior por vida santa é a prova de que estamos em Cristo. Ser santo não significa ser perfeito. Quem é salvo ainda peca mas já não é dominado pelo pecado (1Jo 1.8-9). Deus trabalha progressivamente em sua vida para a santificação. "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 Jo 1:9). Confissão é a maneira de manter a consciência livre. João não diz, "se orarmos por perdão, ele é benigno e misericordioso para nos perdoar". Sem dúvida, é sempre um alívio para qualquer filho fazer chegar aos ouvidos do pai as suas necessidades - contar-lhe as suas fraquezas, confessar-lhe a sua loucura, defeitos e faltas.
“Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos”. (Jeremias 15.16)


Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br