O conhecido pastor Elienai Cabral notabilizou-se na
Assembleia de Deus como escritor, comentarista de Lições Bíblicas da CPAD,
articulista e um dos mais célebres pregadores e ensinadores da denominação
pentecostal. Mas a sua trajetória remonta aos tempos de sua infância: quando
menino, ele dedicou-se a testemunhar do amor de Deus e também à área musical. O
pastor Elienai Cabral integrou a equipe de evangelistas da Cruzada Boas Novas,
coordenada pelo saudoso evangelista norte-americano Bernhard Johnson. No
período que fez parte da equipe do pastor Bernhard Johnson, ele dirigiu
programas radiofônicos, participou das cruzadas evangelísticas e conduziu a direção
dos cultos. Ele foi o cantor oficial durante todo o tempo em que esteve na
Cruzada. O pastor Elienai Cabral é escritor e membro da Academia Evangélica de
Letras do Brasil e da Casa de Letras Emílio Conde. É formado em Teologia e
pós-graduado em Linguística Bíblica, Psicologia Pastoral, Aconselhamento e
Jornalismo. E autor de vários títulos lançados pela CPAD, dentre eles Cartas
aos Efésios, Cartas aos Romanos, A juventude cristã e o sexo, A síndrome do
canto do galo, O pregador eficaz. Mordomia Cristã e Abraão. O apologista tem
exercido, por vários mandatos, cargos na Convenção Geral das Assembleias de
Deus no Brasil (CGADB), como membro do Conselho Administrativo da CPAD e do
Conselho Fiscal da CGADB e atualmente exerce o cargo de 1° secretário da CGADB.
Foi presidente por vários mandatos da Convenção Evangélica das Assembleias de
Deus do Distrito Federal (CEADDIF). Neste trimestre, o comentarista aborda o Tabernáculo,
seus utensílios e significados. Confira a entrevista.
Qual a real importância do cristão hodierno ter
conhecimento do significado do Tabernáculo, uma vez que este templo portátil é
um dos símbolos da Antiga Aliança?
A despeito da banalização que se tem feito com a
tipologia bíblica, provocando, inclusive uma confusão na mente dos cristãos de nossos
dias, entre o que é literal e o que é figurado, precisamos resgatar os valores
da tipologia bíblica conforme a revelação exposta na Bíblia. O cristão atual precisa
saber que a tipologia do AT é rica, e obedece a princípios hermenêuticos que
resguardam a verdadeira tipologia ao seu significado e aplicação à vida cristã.
O modo especial de Deus revelar-se ao Seu povo era através de tipos e figuras
materiais que ilustrassem as verdades celestiais. O fato de o Tabernáculo ter
existido no período da peregrinação dos hebreus pelo deserto e ter sido um
santuário portátil por causa das constantes mudanças realizadas por Israel, ele
e seus móveis apontavam para o futuro a revelação de um plano salvífico por
intermédio de Cristo.
A vida cristã responde em toda a sua extensão ao
propósito soberano do Criador ter tido a iniciativa para a salvação do homem e
ter estabelecido um destino definitivo para os salvos, a fim de que "sejam
feitos conforme a imagem de seu Filho" (Rm 8.29). O Tabernáculo, portanto,
foi construído para que o homem dos tempos atuais compreenda a sua figura representada
na pessoa de Jesus Cristo, o qual expiou a nossa culpa, fazendo-se "o Cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29). Visto que o Tabernáculo era
o lugar onde Deus escolheu para manifestar a sua presença de glória aos
israelitas, por isso entendemos que tornou-se o lugar de encontro entre Deus e
o seu povo. Conhecer essa tipologia é de vital importância porque não é matéria
para ser relegada ao conhecimento dos cristãos. Nesse estudo em tomo do
Tabernáculo nos deparamos com o sacerdócio levítico o qual serve de modelo para
o sacerdócio cristão. O simbolismo do Tabernáculo está expresso e revelado na
Pessoa de Cristo Jesus.
As ofertas que o povo dedicou para a construção do Tabernáculo
e seus utensílios servem de estímulo na contribuição do povo de Deus para o avanço
de sua obra na terra?
O que faria uma igreja local sem recursos financeiros
para as suas obras de construção, sustento de obreiros, obra missionária e
obras sociais? Sem dúvida, o dinheiro é indispensável no funcionamento das
engrenagens da economia internacional e a Igreja não está fora deste contexto. Como
sobreviver sem ofertas e dízimos? Seria impossível concretizar qualquer projeto
que fosse! A grande lição que aprendemos com a construção do Tabernáculo foi o
envolvimento dos israelitas naquela construção. Quando Moisés apelou para a
generosidade daquelas pessoas a fim de contribuir com o que tivesse de melhor
para construir a casa de Deus, o povo alegrou-se em extremo (Èx 25.1,2). Nós
devemos atentar para a ideia de que a oferta teve orientação divina. Foi o
próprio Deus quem pediu ao povo que contribuísse para o grande projeto do
Tabernáculo. O avivalista inglês John Wesley registrou: "Ganhe tudo o que você
puder; economize tudo o que você puder; dê tudo o que você puder". O ato
de ofertar na casa de Deus deve ser espontâneo e voluntário, jamais compelido. O
apóstolo Paulo escreveu aos coríntios: "Deus ama ao que dá com
alegria" (2 Co 9.7).
Quais as Lições que devemos aplicar para a nossa vida
espiritual acerca da importância do Tabernáculo para Israel?
Aprendemos que o Tabernáculo é um dos maiores tipos
de Cristo no Antigo Testamento. Seu mobiliário, sacerdócio e culto, apontam em
cada detalhe para o Senhor Jesus. A tipologia nos leva para a grande revelação que
o Espírito Santo revelou ao apóstolo João quanto a especificação de que Jesus
era o Verbo divino que se fez carne e fixou seu tabernáculo entre nós, ou seja,
"habitou entre nós" ( Jo 1.1,14). O Senhor se fez carne, indicando
que sua pré-existência como o Verbo divino foi declarada pelo apóstolo ao
registrar: "No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo
era Deus" (Jo 1.1). Gramaticalmente, o verbo "habitou" aparece
no grego do Novo Testamento como "eskenosen" que, literalmente, significa:
"levantou sua tenda" ou "acampou sob a tenda", em outras
palavras significa: "o Verbo divino se fez homem entre nós". Quando
Ele cobriu sua divindade com a natureza humana, entendemos que fez de seu corpo
a tenda santa da divindade (2 Co 5.1,4; 2Pe 1.13,14). Assim como na Arca da Aliança
repousava a shekinah divina, ou seja, a presença de Deus, da mesma forma. Deus
revelou o seu Filho Jesus como "Emanuel", isto é, "Deus
conosco", o qual estabeleceu sua Tenda entre nós. O Santuário de Deus foi
levantado no deserto e, depois no Templo de Jerusalém, e Deus manifestou sua
glória neles, assim também, o Criador manifestou-se em carne para habitar com
Seu novo povo, a Igreja. Por esse modo, a manifestação da presença de Deus veio
a ser no meio do Seu povo (1 Tm 3.16}. A Igreja como um todo é o Tabernáculo de
Deus na nova Dispensação da Graça de nosso.
O que devemos considerar acerca da interpretação dos utensílios
e do significado do Tabernáculo?
Toda e qualquer interpretação relacionada com o
Tabernáculo tem valor histórico e tipológico. A abrangência da tipologia dos utensílios
não pode ultrapassar o seu valor histórico, porque o Tabernáculo do A T não
existe mais. Resta para nós, tão somente, o seu valor espiritual e tipológico e
o que compreendemos nessa área aponta para a pessoa de Cristo e Sua Igreja. Não
podemos esquecer que os acontecimentos históricos narrados no AT possui um caráter
exemplar. Eles não se repetem em nossos tempos. O apóstolo Paulo ensinou que essas
informações foram escritas para aviso nosso (1 Co 10.11). A utilização de
figuras semelhantes fabricadas em nossos tempos dos utensílios serve apenas
para ilustrar, não para servir como objeto de veneração. Algumas igrejas fazem figuras
do judaísmo para servirem de base para os cultos cristãos. Ora, ainda que não
fabriquemos figuras materiais com finalidades de veneração em nossas igrejas, o
que tem que prevalecer é o modo cristão de cultuar, quando se cultua em
"espírito e em verdade". Os únicos materiais utilizados no culto
cristão são os ingredientes da Santa Ceia: o pão e o vinho. Esses elementos têm
valor simbólico para nós, e não sofrem qualquer alteração. Não são
transformados literalmente na carne e no sangue de Jesus, como ensina a Igreja Romana,
através da sua crença na transubstanciação do pão e do vinho. A utilização de
qualquer objeto do Tabernáculo na Igreja não passa de decoração e estética. A
Arca da Aliança como se vê representada em alguns púlpitos utilizada como forma
de afirmar que Deus está naquele objeto é desvio doutrinário. Nossa Arca é o Senhor
Jesus, e Ele mesmo, como Sacerdote e Cordeiro se apresentou diante do Pai para
mostrar o fruto da expiação que fez por todos.
CABRAL, Elienai. O tabernáculo e suas lições para a atualidade. In: Ensinador Cristão, ano 20, nº 78, p. 25, abr/jun. Rio de Janeiro: CPAD, 2019
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