domingo, 16 de dezembro de 2018

UZIAS – APOGEU E QUEDA DE UM REI


 Ao analisarmos o texto bíblico referente ao governo do rei Uzias (ou Azarias, cf 2 Rs 15.1) chegamos a conclusão de que seu próspero governo foi responsável pelo progresso do Reino do Sul. O seu reinado teve início quando ele tinha 16 anos e a sua gestão foi tida como excelente e liderou o seu povo por mais de 50 anos (2RS.26.3). As suas realizações lhe conferiram notoriedade e poder, de modo que seus contemporâneos compararam seu reinado, segundo a crítica judaica, ao do rei Salomão; entretanto, por conta de seu orgulho. Deus o condenou ao ostracismo ao ter o corpo contaminado com a lepra. A enfermidade foi a sua companheira até os últimos dias de sua vida. De acordo com os reclames da Lei de Moisés, o paciente deveria ser isolado da sociedade, seus relacionamentos deveriam ser interrompidos e refugiar-se em algum local a fim de não contaminar os demais membros da comunidade. "Começou pelo caminho da humildade e terminou pelos escabroso e tenebroso caminho da arrogância" (BRITO, 2011), Com certeza seus súditos lamentaram o terrível destino de um monarca cuja principal característica foi o progresso e a sua total dedicação à Casa de Deus, através de sua adoração e gratidão por todas as bênçãos recebidas do Pai das Luzes. Desta vez, Uzias contemplava a sua biografia ser sepultada no lixo da arrogância e prepotência.

Uzias foi humilde e temia a Deus

De forma notável o monarca expandiu o seu reino e obteve diversas conquistas sobre diversas nações. As suas realizações foram bem sucedidas: ele começou a sua trajetória de forma humilde, sendo um homem atencioso aos estatutos prescritos na Lei de Moisés, por este motivo, Uzias foi alvo das bênçãos do Eterno. O rei de Judá começou muito bem seu ministério teocrático, foi um exímio líder, essa característica do início do reinado de Uzias é um exemplo a ser observado pelos líderes cristãos. "Fazendo o que era reto aos olhos do Senhor", isto é, a largada é muito importante para o sucesso ministerial, mas precisa perseverar no desenvolvimento de sua liderança, contudo, terminar bem a sua jornada é tão importante como o seu começo. O exemplo do apóstolo Paulo conduz a reflexão: "Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda" (2Tm.4.6-8).
Ao longo da minha carreira pastoral e como psicoterapeuta, tenho deparado com uma quantidade enorme de pessoas que iniciaram muito bem o seu ministério, com uma liderança promissora e terminaram suas carreiras precocemente; outros terminaram envolvidos em escândalos gerando consequências perante Deus e os demais cristãos; outros começaram humildemente, mas ao longo do percurso adquiriram status, fama e prestigio no que resultou na desconstrução de sua imagem, que foi exatamente o que aconteceu com o rei Uzias.

Comece pelo caminho da oração

O rei Uzias contou com a bênção de Deus no início de sua gestão e isto resultou em grandes vitórias e conquistas espirituais e materiais, inclusive sobre os inimigos de seu reino. Ele edificou cidades dentro das áreas controladas pelo Exército filisteu: "Porque saiu, e guerreou contra os filisteus, e quebrou o muro de Gate, e o muro de Jabné, e o muro de Asdode, e edificou cidades em Asdode e entre os filisteus. E Deus o ajudou contra os filisteus, e contra os arábios que habitavam em Gur-Baal, e contra os meunitas" (2Cr.26.6-7).
O monarca promoveu cursos de aperfeiçoamento para os seus súditos contribuindo com a qualidade de vida dos moradores de sua região; tornou grande empreendedor na construção civil e na engenharia mecânica realizando grandes projetos e construções para o reino de Judá (2Cr. 26.9-10).
A Bíblica de Estudo Pentecostal (CPAD, 2000) divide o reinado de Uzias em duas partes: os anos em que o monarca buscou ao Senhor, e os anos em que ele não perseverou e pecou contra o Senhor; nesta perspectiva não há dúvida de que buscar ao Senhor resulta em bênçãos, ajuda, vitórias e conquistas. A Bíblia registra que no período em que Uzias buscou ao Senhor ele foi contemplado com recursos da parte de Deus para governar o Reino do Judá.
Após as extraordinárias vitórias sobre os filisteus, arábios e meunitas, seu reino ficou ainda mais forte e os demais reinos mobilizaram- se para enviar presentes através de suas delegações como reconhecimento de seus feitos de modo que tornou-se célebre sendo reconhecido até mesmo no Egito (2Cr.26.8). Os historiadores afirmam que Uzias controlou as rotas desde a Arábia, a Filístia e o Egito.
O texto bíblico esclarece que a prioridade de Uzias foi o Reino de Deus buscando-o em oração e fé (Hb.ll.6)."E tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis" (Mt. 21.22); "Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas" (Mt. 6.33). A medida que o rei buscava a Deus, o mesmo Deus o fazia prosperar.

Uzias Foi Grandemente Abençoado Por Deus

Como resultado de sua obediência e fé, e em reposta as suas orações, o Senhor o fez prosperar em tudo "e, nos dias em que buscou o SENHOR, Deus o fez prosperar" (2Cr.26.5).
Toda essa gigantesca melhoria nas construções da capital Jerusalém que ofereceu segurança aos seus habitantes (construção de torres em Jerusalém e no deserto) indicou uma reviravolta econômica no Reino de Judá de modo que a pujança econômica foi uma característica desse reino: os servos de Uzias construíram poços em uma região desértica de Judá, devido ao crescimento dos rebanhos que abasteciam a economia regional (2Cr.26.10).
Tal prosperidade resultou na confecção de equipamentos bélicos, com militares bem treinados e devidamente equipados para oferecer total segurança ao reino de Judá e garantir a soberania do país cercado de inimigos (2Cr.26.15).
A fama e o prestígio do rei espalharam-se por todo mundo conhecido, e conquistou respeito de amigos e inimigos. Uzias foi um homem notável. Ele era reconhecido pelos avanços econômicos, técnicos e militares e o povo de Deus era grandemente abençoado. "Quando os justos se engrandecem, o povo se alegra, mas, quando o ímpio domina, o povo suspira" (Pv29.2).

Uzias venceu e conquistou os inimigos


Se Uzias foi vitorioso em suas campanhas militares, com certeza absoluta, isto foi possível porque Deus estava no controle. "E Deus o ajudou contra os filisteus, e contra os arábios que habitavam em Gur-Baal, e contra os meunitas" (2Cr.26.7; 2Cr.26.6). Aprendemos que o líder precisa ter habilidade para lidar com os inimigos, jamais um líder cristão deve causar inimizades, mas procurar de maneira sábia conquistá-los e levá-los a Cristo. O Senhor abençoou Uzias de tal modo que até seus ferrenhos inimigos lhe deram presentes. "E os amonitas deram presentes a Uzias, e o seu renome foi espalhado até à entrada do Egito, porque se fortificou altamente (2 Cr 26.8). Geralmente  líder cristão, principalmente o que está em evidência, receba presente de amigos e conhecidos.

Deus o fez prosperar financeira e espiritualmente

Na verdade, Uzias experimentou uma fase de prosperidade material e espiritual, mas devemos lembrar que a prosperidade financeira para o cristão não está desvinculada da vida espiritual: "Honra ao SENHOR com a tua fazenda e com as primícias de toda a tua renda e se encherão os teus celeiros abundantemente, e trasbordarão de mosto os teus lagares" (Pv.3.9-10).  O líder precisa alertar aos demais cristãos acerca dos erros da Teologia da Prosperidade, mas com fundamentação bíblica sem as utopias teóricas dos "teólogos da prosperidade". Quando o povo é prospero a igreja também segue o mesmo caminho. Deus não tem prazer no sofrimento de seus filhos (Mc 10.46.52); a prosperidade de Uzias era proveniente de Deus: "Também Uzias edificou torres em Jerusalém, à Porta da Esquina, à Porta do Vale e aos ângulos e as fortificou. Também edificou torres no deserto e cavou muitos poços, porque tinha muito gado, tanto nos vales como nas campinas, lavradores e vinhateiros, nos montes e nos campos férteis, porque era amigo da agricultura " (2Cr.26.9-10), a base bíblica ortodoxa da Teologia da Prosperidade está na obediência a Deus "fazer o que é reto aos olhos de Deus" "buscar a Deus em oração" e "trazei todos os dízimos a casa do tesouro" e por fim entender a vontade de Deus em relação a prosperidade (Ml. 3.10; Ec.7.14).

Uzias contou com ajuda de pessoal especializado

Uma liderança sem companheirismo está fadada ao fracasso. Líder que centraliza de forma absoluta a sua liderança provavelmente terá problemas na área psicológica como ansiedade, esgotamento físico e mental e até depressão. Ninguém faz a obra de Deus sozinho (Êx.18.18). Uzias foi um excelente líder: Tinha também Uzias um exército de homens destros nas armas, que saíam à guerra, em tropas, segundo o número da lista feita por mão de Jeiel, chanceler, e Maaséias, oficial, debaixo das mãos de Hananias, um dos príncipes dorei. Todo o número dos chefes dos pais, varões valentes, era de dois mil e seiscentos. E, debaixo das suas ordens, havia um exército guerreiro de trezentos e sete mil e quinhentos homens, que faziam a guerra com força belicosa, para ajudar o rei contra os inimigos" (2Cr.26.11-13).

Uzias adquiriu poder e notoriedade


Ficar famoso não é pecado, mas pode levar ao pecado, a pessoa que não souber administrá-la ou gerenciá-la, poderá vir a cair em ruína. Há diversas passagens bíblicas que indica a notoriedade alcançada por Jesus (Mt. 23.24; Lc.1.28; Lc.4.37; Lc.5.15), do ponto de vista cristão a fama não deve ser procurada por aqueles que a adquiriu, mas deve ser entendida como uma ação de Deus na vida das pessoas que Ele deseja que tornem-se conhecidas. O Senhor não buscou a fama, mas, as pessoas divulgavam os seus feitos e caráter. Uzias tronou-se um líder famoso. "Também fez em Jerusalém máquinas da invenção de engenheiros, que estivessem nas torres e nos cantos, para atirarem flechas e grandes pedras; e voou a sua fama até muito longe, porque foi maravilhosamente ajudado até que se tornou forte" (2Cr.26.15).

Uzias foi dominado pelo sentimento de orgulho

"Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper; e transgrediu contra o SENHOR, seu Deus, porque entrou no templo do SENHOR para queimar incenso no altar do incenso" (2Cr.26.16). E muito difícil quando uma pessoa ou um líder cristão não compreende que tudo o que ele possui e realiza provem da ajuda de Deus, lamentavelmente o monarca não percebeu e não entendeu que sua prosperidade provinha da bondosa mão de Deus e abriu as portas ao sentimento de orgulho no que resultou em rebeldia contra o Senhor, logo a presunção e infidelidade fizeram parte de sua agenda; na verdade, ele desprezou tudo o que Deus tinha lhe dado no decorrer dos anos e enveredou-se pelo caminho do orgulho.

Orgulho gera ingratidão

O rei foi ingrato a Deus que havia lhe concedido recursos e competência para governar, contemplando-o com saúde emocional, espiritual, física e mental e muita sabedoria para se conduzir diante do povo e expandir o reino (2C. 26.5-13), no entanto, ele desprezou tudo o que Deus lhe presenteou.

O orgulho gera petulância

O rei teve a audácia de entrar no templo e queimar incenso, ou seja, a sua petulância conduziu-o a exercer uma atividade delegada pelo Senhor apenas ao sacerdote ungido para a realização desta função. O seu insulto ao Senhor Deus custou-Lhe muito caro. O rei de Judá foi imediatamente ferido com lepra, uma das mais temidas doenças daquela época, e teve que ser retirado de circulação e conviver com a moléstia para o resto da vida. Petulância é sinônimo de atrevimento, irreverência, desaforo, descaramento, insulto, arrogância. A Lei Mosaica previa que somente os sacerdotes podiam realizar rituais do sacrifício (Nm. 3.5-10), o rei Uzias não era sacerdote, portanto não gozava de autorização do colégio sacerdotal para adentrar o templo e oferecer sacrifício.

O orgulho gera usurpação de poder

O rei usurpou o poder sacerdotal, isto significa que ele autoproclamou-se sacerdote e manifestou hostilidade contra os oitenta e um sacerdotes liderado por Azarias (2Cr.26.17), ao tentar exercer o sacerdócio indevidamente, ele evidenciou ato de rebeldia e desprezo  ao Senhor de modo que o monarca foi alvo da justa sentença.O rei estava convencido pelo sentimento de orgulho de que teria de exercer a função de sacerdote, pois afinal era o rei mais célebre da história de Judá; "Afama subiu pra cabeça e resultou em uma queda drástica" (BRITO, 2011).  

Orgulho destrói a espiritualidade

Se houvesse arrependimento no coração de Uzias e ele suplicasse o perdão divino, certamente o Senhor teria perdoado o seu pecado, mas o rei manteve-se inabalável em sua afronta e perseverou no pecado, ademais mostrou indignação contra o conselho dos sacerdotes (2Cr,26.19), neste momento o rei preparou-se para queimar o incenso, e foi neste momento que "a lepra lhe saiu na testa". O pecado consumado gera a morte. Quando os religiosos observaram a contaminação na pele do monarca, eles tiraram-no imediatamente do templo, e ele mesmo percebeu que tinha sido ferido por Deus. "Então, o sumo sacerdote Azarias olhou para ele, como também todos os sacerdotes, e eis que já estava leproso na sua testa, e apressuradamente o lançaram fora; e até ele mesmo se deu pressa a sair, visto que o SENHOR o ferira" (2Cr.26.20). A partir deste momento, Uzias deixava de ser rei, uma vez que a doença o impedia de exercer as suas atividades administrativas. Ele deveria ser afastado da sociedade e até de suas relações pessoais no palácio ( L v 13.45-46;. "De Deus não se zomba, aquilo que o homem semear isso também ceifará" (Gl. 6.7). O fruto da semeadura é livre, mas o da colheita é obrigatório. Uzias perdeu seu lugar de honra diante de Deus e dos homens. A fama e poder ficaram para trás e acabou excluído da Casa do Senhor. "Assim ficou leproso o rei Uzias até ao dia da sua morte; e morou, por ser leproso, numa casa separada, porque foi excluído da Casa do SENHOR; e Jotão, seu filho, tinha a seu cargo a casa do rei, julgando o povo da terra" (2Cr.26.21). Dessa forma encerrou o seu próspero reinado e liderança no Reino de Judá.

BRITO, Maurício. In: Revista O Obreiro Aprovado. Rio de Janeiro: CPAD, Ano 41 – n. 83, p. 32-36, out./dez. 2018.

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