SUBSÍDIO I
SERVIÇOS E CUIDADOS: a mente de Cristo
As atitudes de
qualquer pessoa revelam seu estado mental; por mais que alguém tente disfarçar
o mal, em algum momento ele aparecerá. Ter a mente de Cristo é desenvolver os
mesmos pensamentos e atitudes que Ele teve. Não se trata apenas de uma
aquiescência mental ou desejo esporádico, mas de um estilo de vida, de uma
reordenação dos pensamentos, das vontades, dos desejos e das atitudes, no
sentido de refletirem a pessoa de Cristo: “Porque eu vos dei o exemplo, para
que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15).Organizar a vida em torno
desse modelo de Cristo é desenvolver empatia e compaixão para com todos os que
sofrem e necessitam da misericórdia divina, mesmo para com os inimigos e
opositores. Essa atitude não é fácil, mas Jesus agiu assim com aqueles que se
levantaram contra Ele quando bradou na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não
sabem o que fazem” (Lc 23.34).
Jesus usou sua autoridade para
abençoar as pessoas, não para ser servido (Mt 20.28). Sua autoridade era a
exsousia, no sentido de alargar e ampliar as possibilidades humanas, e era
exercida para beneficiar as pessoas, e não para prevalecer, disputar ou
subjugá-las. Seu poder era exercido a favor das pessoas, alargando suas
possibilidades de ser e de atuar. Essa forma de poder e autoridade é uma das
mais usadas no Novo Testamento e aparece 108 vezes. Já o sentido do verbo
kratós, como poder e dominação exercidos pela força, no sentido físico ou por
imposição moral, nunca é atribuído a Jesus, e Ele argumenta contra o seu uso
(Mc 10.41-43).
A chave hermenêutica para
compreender a mente de Cristo nos evangelhos é aprender a observar
delicadamente as atitudes, palavras e milagres de Jesus como gestos de cura,
perdão e acolhimento, e não somente sob a ótica de moralismos ou
religiosidades; não que isso não esteja presente porque também são necessárias.
No contexto em que Paulo define que devemos ter a mente de Cristo, ele afirma
que “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe
parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é
discernido” (1 Co 2.14-15). Significa que, para ter a mente de Cristo, é
necessária essa hermenêutica do Espírito Santo, que abre os olhos às realidades
antes não percebidas.
Assim, Ele deseja ver as pessoas
livres de regras religiosas que tiram a vida (Mc 2.27); o coração deve estar
livre de ídolos, pois acabamos nos tornando exatamente como os ídolos que
veneramos (Lc 12.34). Jesus é capaz de gestos carinhosos para curar (Lc 4.39).
Ele chamou o homem da mão mirrada para o meio, ensinando que quem quer fugir de
seus problemas precisa aprender a encará-los (Mc 3.4-5). Os sobrecarregados
pelos fardos da vida são chamados a olharem (prosphonein – falar olho no olho)
para Jesus e andarem eretos (Lc 13.10-13). Prova disso foi quando Ele
defrontou-se com o paralítico no tanque de Betesda e perguntou-lhe: “queres
ficar são?”. Cristo quer libertar-nos de comodismos, medos e do aparente
benefício que o sofrimento pode trazer (Jo 5.5-9); o contato com Deus
isenta-nos da contaminação, mesmo quando precisamos tocar nas enfermidades das
pessoas (Mc 1.40-42). Na cura dos dez leprosos, Jesus quer que percebamos o
extraordinário da transformação cotidiana mesmo fazendo o que é ordinário, além
de ensinar-nos a sermos gratos pelo ordinário, ainda que seja difícil cumprir
certas liturgias engessadas e costumes ultrapassados (Lc 17.11-16); descobrir
quem de fato ocupa o coração humano, porque quem não sabe quem é perdeu a sua
identidade, e esta precisa ser restaurada (Mc 5.68). A pergunta de Jesus ao
cego Bartimeu (“que queres que te faça?”) instiga-o a largar o manto, que
servia de máscara na qual se escondia. A pergunta de Jesus fez com que o cego
entrasse em contato consigo mesmo e com o anseio mais profundo da sua alma (Mc
10.49-51). Jesus, em outro momento, separa o surdo-mudo da multidão, num gesto
de respeito à individualidade e intimidade, e dá atenção especial num espaço
protegido dos críticos e censuradores. Jesus, então, cospe e coloca um pouco de
saliva na língua do homem, mas Ele percebe a impossibilidade de aquele
surdo-mudo expressar-se. Jesus dá um suspiro abrindo o seu coração em luta por
ele (Mc 7.32.35). Em outra ocasião, Ele toma outro cego pela mão e leva-o para longe
do povo. Num espaço de confiança e individualidade, toca nos olhos de forma
espantosa (saliva), porém carinhosa; depois lhe impõe as mãos e envia-o para
sua casa — a casa do pai, onde é o nosso lugar, pois a cegueira pode
impedir-nos de ir para casa (Mc 8.23-26). Enfim, nas inúmeras atitudes de
Jesus, vimos seu desejo de servir e cuidar.
Não é um método específico que
traz a solução, mas o encontro, o relacionamento, a sensibilidade para com cada
um. Além dos gestos vistos anteriormente, Jesus utilizou-se do poder das
palavras que curam e trazem vida. Através delas, Ele perdoou pecados, trouxe
novas possibilidades de vida, apontou novos rumos e caminhos antes
desconhecidos, consolou os que sofriam as mais terríveis dores da vida, trouxe
esperança aos desalentados e espalhou uma cultura de amor.
Essas atitudes e palavras de
Jesus, que também devem estar presentes na vida do cristão, é o que Paulo chama
de homem espiritual em seu texto, aquele que entende as coisas do Espírito e
sabe discerni-las bem, que não mede a si nem aos outros com as medidas do
mundo, nem cogita das coisas do mundo, porque elas invertem a lógica do Reino
de Deus, “porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e
alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17).
“Ora, o homem natural não
compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não
pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2.14).
Texto extraído do livro “A Obra de Salvação”, Editora
CPAD, 2017.
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
A doutrina da
glorificação dos salvos, estudada na lição anterior, traz esperança à nossa
vida. Ela nos lembra que somos peregrinos e forasteiros neste mundo e, por
isso, devemos sempre ter a consciência da fugacidade da vida. A melhor maneira
de viver com essa consciência é ter a mente de Cristo. [Comentário. Filipos era uma
colônia do Império romano. Os cidadãos viviam como romanos, respeitando as leis
de Roma e pagando impostos a César. Eles gozavam da segurança e dos benefícios
de serem cidadãos romanos, ainda que vivessem a uma grande distância de Roma.
Parte da força de Roma era a união de suas colônias através do mundo antigo:
todas elas estavam se esforçando juntas pelo bem comum. Semelhantemente, os
cristãos filipenses eram uma "colônia" do céu. Quando Paulo escreveu
"vivei de um modo digno" (v. 27), ele estava lhes dizendo para "viverem
como cidadãos" de sua cidade capital: o céu (Fp 3.20). Um cidadão tem que
manter um certo perfil. Como o resto do mundo saberia que os filipenses eram
romanos? Eles viviam como romanos. Como o mundo saberia que eles eram cidadãos
do céu? Eles teriam que viver como santos: em união, amor e serviço. O Império
Romano era forte, mas no fim caiu. A unidade da cidadania cristã é parte de
"um reino inabalável" (Hb 12.28). Para os santos filipenses servirem
bem uns aos outros, deixando seus próprios desejos pelo bem comum de todos os
santos, eles teriam que aprender a ser desprendidos. Muitos reinos tinham caído
por causa do egoísmo e da ganância. Mas o reino do céu estava estabelecido no
serviço desinteressado aos outros. Jesus Cristo -- o próprio Rei -- veio como
um servo (vs. 6-7), e serviu a toda a humanidade vivendo sem pecado e morrendo
numa cruz. Se Jesus pode humilhar-se para descer do céu e servir os homens,
estes podem humilhar-se para descer de seu orgulho e servir os outros. A
salvação é uma dádiva de Deus (Rm 6.23), mas exige uma resposta por parte dos
homens para a receberem. Essa resposta é obediência. Paulo encoraja-os a
continuarem obedecendo, justo como tinham feito quando ele estava com eles (v.
12). Ele incita-os a obedecer "porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer
como o realizar, segundo a sua boa vontade" (v. 13). Quando obedecemos a
Deus fielmente, ele trabalha em nós para a salvação. A obediência jubilosa e
unida dos servos de Deus é "luz" num mundo escuro onde as pessoas
vivem com ira e disputa, servindo só a si mesmas. Paulo conclui com três
exemplos de serviço desinteressado. Paulo estava feliz (vs. 17-18) por ser
"oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé".
Timóteo (vs. 19-24) não era como os outros, que "buscam o que é seu
próprio" (v. 21), mas queria fazer as jornadas perigosas de ida e volta a
Filipos para servir a Paulo e seus irmãos. E Epafrodito (vs. 25-30), "por
causa da obra de Cristo chegou às portas da morte e se dispôs a dar a própria
vida". Que Deus ajude todos nós a sermos um exemplo de serviço
desinteressado(1). Vamos pensar maduramente a fé
cristã?] 1. Carl Ballard.
Estudo Textual: Filipenses 1:27-2:30 A Mente de Cristo. Disponível em: https://www.estudosdabiblia.net/fil2.htm.
Acesso em 20 dez, 2017
I. PEREGRINOS
NESTA TERRA
1. Peregrinos na terra. O peregrino está de passagem por uma terra que não
lhe pertence, ele caminha em direção a um país cujo coração almeja. Para isso,
o peregrino se torna nômade, não se apega ao local de estadia porque sabe que
ele é provisório. Por onde caminha não experimenta conforto, pois carrega o
mínimo de bagagem possível a fim de tornar o trajeto mais leve. O patriarca
Abraão é o modelo bíblico dessa imagem peregrina. O nosso pai da fé saiu da sua
terra, deixou sua parentela, foi ao encontro da Terra Prometida e fez da
peregrinação um estilo de vida (Hb 11.9). Da mesma forma, nós os cristãos somos
peregrinos neste mundo. Por isso, não podemos nos embaraçar com as coisas desta
vida nem permitir que ocupem o lugar que pertence ao Senhor em nosso coração
(1Tm 2.4). Isso não significa irresponsabilidades com o trabalho, os estudos e
a família, mas uma motivação correta do coração para priorizar “as coisas que
são de cima” (Cl 3.1). [Comentário:Nas
meditações de Lutero, ele escreve: “... confessando que eram
estrangeiros e peregrinos sobre a terra”. (v. 13) - Assim sendo, o apóstolo
Pedro quer mostrar que devemos encarar esta vida como um estrangeiro e um
peregrino encaram a terra na qual são forasteiros e visitantes. Um estrangeiro
não pode dizer: esta é a minha terra natal, pois não nasceu naquele país. Um
peregrino não pensa em ficar na terra por onde peregrina, tampouco, na
hospedaria onde está pernoitando, mas, seu coração e pensamentos estão voltados
para outra direção. Na hospedaria, ele apenas descansa e faz as refeições e,
então, prossegue viagem a seu lar. Por isso, também vocês devem considerar-se
visitantes e estrangeiros nesta terra ou hospedaria estranha, da qual vocês não
tomam outra coisa senão comida, bebida, roupa, calçado e o que precisam para
passar a noite. Mas o pensamento estará voltado exclusivamente para a terra
natal, onde está a cidade de vocês. Convém ter isso sempre em mente. Devemos
deixar de lado essa ideia de edificar para nós mesmos uma vida eterna neste
mundo; lutando e apegando-nos a isso como se fosse o nosso maior tesouro e
reino dos céus, como se quiséssemos aproveitar-nos de Cristo, o Senhor, e do
evangelho para esta vida, adquirindo riquezas ou poder por meio dele. Ao
contrário, já que temos de viver neste mundo tanto tempo quanto Deus quiser,
devemos, também, comer, beber, namorar, plantar, construir, ter casa e lar e
tudo o mais que Deus dá, ter e usar tudo isso como estrangeiros e peregrinos
numa terra estranha, como pessoas que estão conscientes de que têm de deixar
tudo isso para trás e seguir viagem, deixando a terra estranha e a hospedaria
ruim e insegura, e rumando para a pátria verdadeira, onde tudo é certeza, paz,
descanso e alegria eterna(2). Dessa forma, não podemos
estar presos às coisas deste mundo. Na luta contra o pecado a perfeição vem
somente por Cristo (Cl 2.1-19). Muitos, porém, insatisfeitos com a simplicidade
disso, criam rígidos regulamentos físicos para "governar os fiéis" e
os mantém "longe do pecado". Os fariseus fizeram isto e Jesus os
reprovou (Mt 15.1-9). Hoje alguns continuam seguindo suas próprias regras
físicas como se fossem um meio de purificar a alma. Mas Paulo mostra aos
Colossenses que a purificação só vem quando morremos com Cristo para uma nova
vida espiritual. Morremos com Cristo (Cl 2.20-23). No batismo somos
"sepultados" com Cristo (Cl 2.12; Rm 6.1-4), morrendo para o pecado e
"para os rudimentos do mundo" (Cl 2.20). Estes "rudimentos do
mundo" incluem:
1. a lei de Moisés, com todas as suas sombras "das
coisas que haviam de vir" (Cl 2.13-17);
2. as coisas baseadas na "mente carnal", como
"culto dos anjos" e "visões", as quais não retêm a
autoridade de Cristo (Cl 2.18-19); e
3. ordenanças "segundo os preceitos e doutrinas dos
homens" (Cl 2.20-22).
Deus nos revelou "todas as coisas que conduzem
à vida e à piedade" para nos livrar "da corrupção das paixões que há
no mundo" (2Pd 1.3-4). Qualquer outra coisa – regras humanas sobre alimentos,
cortes de cabelo, proibições contra TV, etc. – podem ter "aparência de
sabedoria", mas "não têm valor algum contra a sensualidade" (Cl
2.23). Afinal, se um homem não morre com Cristo, ele não vai deixar de pecar
nas coisas sensuais só porque não assiste a televisão. Ressuscitamos com Cristo
(Cl 3.1-4). No batismo, somos "ressuscitados" com Cristo
"mediante a fé no poder de Deus" e recebemos "novidade de
vida" (Cl 2.12; Rm 6.1-5). Sendo que Cristo vive "assentado à direita
de Deus", nós devemos buscar "as coisas lá do alto" e pensar
"nas coisas lá do alto" (Cl 3.1-2). Devemos fazer nossas vidas em
Cristo, não em ordenanças (Cl 3.3-4). Quando aprendemos a amar Cristo e viver
para ele, então guardaremos os mandamentos dele sem regras de homens para nos
"manter fiel" (Jo 14.15,21). Quando somos fiéis a Cristo e não a
regras, seremos "manifestados com ele, em glória" (Cl 3.4). A nova
vida (Cl 3.5-11). A nova vida vem pela mudança de natureza e não pela mudança
de algumas regras externas. "A natureza terrena" com todas as coisas
pertencentes a ela tem que morrer (Cl 3.5). Isto acontece quando obedecemos a
Cristo em amor, sabendo que "a ira de Deus [vem] sobre os filhos da
desobediência" (Cl 3.6). Quando amamos a Deus, não queremos decepcioná-lo.
Assim, deixamos de fazer as coisas erradas que fazíamos antes na velha vida de
pecado (Cl 3.5-9), e aprendemos a nos revestir "do novo homem" (Cl
3.9-10). A vida deste novo homem é uma vida espiritual, refletindo o amor e a
santidade do seu Criador (Cl 1.16, 3.10)(3).
2. Meditações de Lutero. Disponível em: http://www.lutero.com.br/novo/vida_de_lutero_como_pregou2.php?id=337.
Acesso em 20 dez, 2017.
3. Buscai as Coisas Lá do Alto. Disponível em: https://www.estudosdabiblia.net/col4.htm. Acesso em 20 dez, 2017.
2. Cidadãos celestiais. A Bíblia se refere ao fato de que os crentes não são deste
mundo (Jo 17.16) e anseiam por sua pátria celestial (Fp 3.20). Dessa forma, não
podemos nos conformar com este mundo, pois o nosso estilo de vida deve refletir
o exemplo de Jesus revelado nos Evangelhos: uma vida marcada pela prática da
justiça, do acolhimento aos sofredores, da libertação dos oprimidos pelo Diabo
e, especialmente, da prática de amar o próximo, uma virtude eterna (1Co 13.13).
Nesse sentido, podemos viver um pouco do Reino de Deus nesta Terra (Mt 6.33),
embora haja uma tensão entre o tempo presente e a esperança da glória futura a
ser manifestada brevemente (Rm 8.18,19,25). [Comentário: O ver Hernandes
Dias Lopes escreve: “O apóstolo Paulo diz: “E não vos conformeis com o
presente século…” (Rm 12.2). O crente não vive numa bolha espiritual, mas no
mundo. Ele foi salvo do mundo, está no mundo, mas não pertence ao mundo. Os
valores do mundo não são mais os seus valores. A ética do mundo não é mais a
sua ética. O crente tem, agora, a mente de Cristo. Conformar-se com o mundo é
adaptar-se ao seu sistema. É se com o mundo é adaptar-se ao seu sistema. É
abraçar seu relativismo. É entrar no seu esquema. O mundo tem uma fôrma que
está sempre mudando de acordo com suas conveniências. O mundo não tem um padrão
absoluto de conduta. Ele está entregue ao relativismo moral e à decadência dos
costumes. A lei da vantagem prevalece nos acordos comerciais e nos
relacionamentos. As pessoas existem para serem exploradas e não para serem
servidas. Os desejos da carne existem para serem atendidos e não controlados. O
prazer carnal deve ser consumado sem levar em conta a verdade de Deus ou o amor
ao próximo. A ética do mundo é egoísta, é imoral, é atentatória contra Deus e
contra o homem. Se quisermos, portanto, experimentar em nossa vida a vontade de
Deus não podemos nos conformar com esse sistema corrompido de valores. O crente
é uma pessoa inconformada com a filosofia prevalecente no mundo. Ele não ama o
mundo nem é amigo do mundo. Ao contrário, ele é luz do mundo; tão oposto a ele
como a luz é das trevas; tão necessário a ele, como a luz é para trazer
claridade na escuridão. Agora, o apóstolo complementa: “… mas, transformai-vos
pela renovação da vossa mente…” (Rm 12.2). A ética do mundo está em constante
mudança. Aquilo que era vergonhoso ontem é aplaudido hoje. Os princípios de
Deus, porém, são imutáveis. Temos um padrão absoluto. Não precisamos ficar
confusos e perdidos nos labirintos da dúvida. Jesus Cristo é o nosso modelo.
Quando olhamos para ele e estudamos sua Palavra, somos transformados
progressivamente em sua própria imagem. Avançamos para o alvo rumo à estatura
do varão perfeito. Somos, então, transformados de glória em glória, avançamos
de fé em fé e caminhamos de força em força até entrarmos na glória, onde
teremos um corpo semelhante ao corpo da glória de Cristo. A vontade de Deus não
é conhecida por meios místicos, mas através de uma vida de consagração, onde
nos apresentamos a Deus, nos inconformamos com o mundo e somos transformados
pela renovação da nossa mente.”(4). Como cidadãos dos
Céus, devemos representar nossa pátria, o Reino de Deus. O domínio do Rei Jesus
Cristo chegou às mentes e corações do povo de Deus durante o primeiro século. E
lhes disse: “Em verdade vos afirmo que, dos que aqui se encontram, alguns há
que, de maneira nenhuma, passarão pela morte até que vejam ter chegado com
poder o reino de Deus” (Mc 9.1). Homens e mulheres ouviram a mensagem do
reino e se tornaram cidadãos do reino do Senhor. “Ele nos libertou do
império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl
1.13). O reino dos céus na terra não é um reino terrestre. Jesus disse: “O
meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus
ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus;
mas agora o meu reino não é daqui” (Jo 18.36). O que significa “não é deste
mundo”? “Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus,
Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão:
Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós” (Lc
17.20-21). “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e
paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). O que é o reino? Reino,
basileia, significa monarquia, império, poder real, domínio. Portanto, o
governo do céu chegou à terra. Mas o reino celestial não é como os reinos
mundanos. O governo de Deus se dirige ao coração (espírito) do homem. Deus
governa seu povo em seu Filho pela persuasão moral que é dada através de escritos
sagrados, a Bíblia. Os cidadãos do reino são aqueles que renasceram. “A
isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer
de novo, não pode ver o reino de Deus...Em verdade, em verdade te digo: Quem
não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (Jo
3.3,5). “Tendo purificado a vossa alma pela vossa obediência à verdade,
tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração uns aos
outros ardentemente, pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de
incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1Pd
1.22-23). Os cidadãos do reino de Deus deixam que a palavra dele tenha domínio
sobre suas vidas. Eles seguem a Bíblia e formam hoje, coletivamente, o
território da nação de Deus. Assim, nesse sentido, eles são o território que
Deus governa. Eles não têm autoridade, pois todo o governo e domínio pertencem
a Cristo. “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me
foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18). Assim, quando se olha para a
palavra reino, deve-se primeiro estar se lembrando do rei que governa. A igreja
forma o território do governo espiritual de Cristo. O que significa igreja? A
assembleia de cristãos que foram libertados das trevas do pecado pelo sangue de
Cristo. A igreja e o reino são intimamente ligados, mas não são palavras
sinônimas. Reino destaca o governo do Rei. Igreja salienta o povo de Deus que
está sob o governo de seu Senhor e Rei, Jesus Cristo.(5)
4. LOPES. Hernandes Dias. Como experimentar a vontade de
Deus. Disponível em: http://hernandesdiaslopes.com.br/portal/como-experimentar-a-vontade-de-deus/.
Acesso em 20 dez, 2017.
5. POARCH Tommy. ‘O Reino dos Céus na Terra’. Disponível em: https://www.estudosdabiblia.net/a15_23.htm.
Acesso em 20 dez, 2017..
SUBSÍDIO LEXICOGRÁFICO
“Parepidemos, adjetivo
que significa ‘peregrinar num lugar estranho, longe do próprio povo’ (formado
de para, ‘de’, expressando uma condição contrária, e epidemeõ, ‘peregrinar’;
cognato de demos, ‘povo’), é usado acerca dos santos do Antigo Testamento (Hb
11.13, ‘peregrinos’, tanto com o termo xenos, ‘estrangeiro’); dos cristãos (1
Pe 1.1, ‘estrangeiros [dispersos]’; 1 Pe 2.11, ‘peregrinos’, junto com o termo
paroikos, ‘estrangeiro, forasteiro, hóspede’); a palavra é usada
metaforicamente acerca daqueles a quem o céu é a sua pátria, e que são
peregrinos na terra’” (Dicionário Vine. 14.ed.Rio de Janeiro: CPAD, 2011, p.
869).
II. VIVENDO
EM ESPERANÇA COM A MENTE DE CRISTO
1. Passando pelas provações com
a mente de Cristo. Enquanto vivermos
neste mundo, seremos afetados pelas fraquezas e circunstâncias difíceis. Por
isso devemos aprender a viver com a sabedoria do alto (Tg 3.17; Fp 4.8). Nesse
aspecto, o apóstolo Paulo exorta a igreja de Filipos a ter o mesmo sentimento
de humildade de Cristo, esvaziando-se da prepotência, do orgulho, do apego aos
títulos e posições, para cumprir o celestial propósito de servir (Fp 2.5-8).
Ora, se temos a mente de Cristo, como ensina o apóstolo dos gentios, logo,
sabemos discernir bem as coisas espirituais das materiais; por isso, escolhemos
priorizar o Reino de Deus e a sua justiça na esperança de que Deus cuidará de
nossas vidas (Mt 6.33). [Comentário: Em
tempos que o orgulho deixou de ser um vício para se tornar uma “virtude”. Na
cultura dos winners (vencedores) versus loosers (derrotados), a lição da vida
de Jesus compreendida pelo apóstolo Paulo soa como uma ofensa aos valores
Pós-Modernos. O texto de Filipenses 2.3-5 nos leva a refletir o tipo de
cristianismo que estamos vivendo cuja mensagem central abandonou o evangelho da
graça para uma busca por realização pessoal. Como uma fórmula mágica, as
pessoas têm procurado o segredo do sucesso, ou seja, como ter prosperidade,
como ser uma pessoa que vive seu potencial no máximo, etc. Na contramão dessa
corrente, ter o sentimento de Jesus implica em não apegar-se na sua condição,
não se fiar no seu ego, na sua autoimagem, mas é se despir de seu status e
viver para servir os outros. Sucesso na vida com Jesus não está relacionado na
quantidade de seus bens ou no seu bem estar, mas no quanto você se entrega, em
amor, pelos outros(6). O grande desafio nos nossos dias é
REMIR O TEMPO, é nos conduzirmos com aproveitamento máximo, gerando atos que
redundem em glória para Deus e satisfação diária para nossas almas. Paulo, em
Efésios 5.15,16, recomendou: “Portanto,vede prudentemente como andais, não como
néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus".
Veja também em salmo 90.12: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira
que alcancemos coração sábio”. Remir neste contexto significa aproveitar o
tempo e todas as oportunidades com a qual deparamos. Temos que nos disciplinar
para não esbanjarmos o tempo com conversas fúteis, leituras que não edificam,
programas de TV inadequados (novelas, filmes...). Ao invés de gastar, devemos
investir, com sabedoria, o tempo que Deus nos coloca ao dispor. Queridos, amem
e priorizem a Deus, honrando-o com amor, com o modo de ser e agir, com a nossa
oferta a Ele das primícias de nosso tempo, com nossos dons, talentos e nossos
bens materiais, amem o seu próximo como a vocês mesmos, cooperando com o
Senhor, a fim de que Seu plano de salvação seja conhecido por todos, e Seu
reino seja estabelecido em cada coração. “não ter tempo para Deus é viver a
vida perdendo tempo!”(7).
6. DELPHINO Juliano Henrique. ‘Humildade: o mesmo
sentimento de Cristo Jesus!’. Disponível em: http://estudosbiblicos.blogspot.com.br/2015/11/humildade-o-mesmo-sentimento-de-cristo.html. Acesso em 20 dez, 2017.
7. Sem. Fábio e Suzana. ‘Tenham tempo para Deus. Priorizem o
seu reino’. Disponível em: http://www.igrejabatistagenesis.com.br/mensagens/tenham-tempo-para-deus-priorizem-o-seu-reino-0. Acesso em 20 dez, 2017.
2. Um olhar para além das
circunstâncias. Neste tempo
presente, com os olhos focados em Cristo, podemos viver em esperança (Hb 11.1).
Quando o nosso pensamento está de acordo com os ensinos do nosso mestre,
podemos voltar os nossos olhos para além das circunstâncias difíceis. Isso não
significa escapismo ou fantasia, mas uma alegre motivação e encorajamento para
enfrentarmos as batalhas com a convicção de que Deus nos fortalecerá. Quando
temos esperança em Cristo, e por intermédio dEle aprendemos a viver melhor,
buscamos uma vida mais simples parecida com Jesus (Mt 6.19-21) e nos lançamos
aos seus pés na certeza de que Ele tem cuidado de nós (1Pe 5.7). Assim, a vida
fica mais leve (Mt 11.28-30). [Comentário: Jesus
nos adverte solenemente contra a ansiedade que a vida cria no homem. Em sua
interpretação da parábola do semeador (Lc 8.11-15), as preocupações foram
comparadas aos abrolhos e espinhos que sufocam a vida nova em Cristo (v. 14). É
somente como crianças que ingressamos no reino (Mc 10.15), e toda criança bem
cuidada sabe que não tem motivo algum para se preocupar. Os bons pais inculcam
confiança tal que o medo do futuro mantém-se desconhecido. Isso também ocorre
com os filhos de Deus que confiam suas vidas aos cuidados do Pai. Mas Deus é
invisível. O mundo está presente e é palpável a toda hora, trazendo-nos a
tentação de abandonar a vida alicerçada na fé, para buscar a segurança no
mundo. Deus acalma os corações daqueles que lhe pertencem, como Jesus, enquanto
caminhava em cima das vagas do mar da Galiléia. Os discípulos imaginavam que o
desastre brevemente os alcançaria. As palavras de Jesus: “Sou eu, não temais”
(Jo 6.20), ainda valem para todos os discípulos do século XX, que veem no mundo
uma incontável hoste de ameaças. Se pudermos crer na promessa de Jesus Cristo:
“Eis que estou convosco até o fim do século” (Mt 28.20),
experimentaremos a paz que ultrapassa todo entendimento: “E a paz de Deus,
que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em
Cristo Jesus”. (Fp 4.7). Toda preocupação suscitada pelas condições do
mundo é pecado. A ansiedade nos é proibida pelo mandamento inspirado: “Não
andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de
Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças”
(Fp 4.6)(8). O imperador Nero incendiou Roma em 64 d.C. Para
aplacar as massas enfurecidas, ele culpou um pequeno grupo religioso, os
cristãos. Aos poucos, mas de forma constante, os não-cristãos começaram a
perseguir os seguidores de Cristo por todo o império. O apóstolo Pedro viu a
crescente angústia da igreja. Em 1 Pedro, ele instrui os fiéis a permanecerem
alegres e satisfeitos, mesmo quando sofressem perseguições por um tempo. O
poder supremo de Deus os sustentaria (1 Pe 1.3-6). Como escreveu o professor de
Bíblia Warren Wiersbe: “Deus não prometeu proteger-nos dos problemas, mas
proteger-nos nos problemas”. Pedro queria que seus irmãos percebessem que Deus
era o único refúgio verdadeiro, como já testemunhou o salmista: “Deus é nosso
refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações” (Sl 46.1)(9).
Leia mais aqui.
8. Daniel Dutra. ‘Deixe a ansiedade, ele tem cuidado de você’.
Disponível em:http://www.ipirondonopolis.com.br/2014/12/mensagem-deixe-ansiedade-ele-tem.html.
Acesso
em 20 dez, 2017.
9.
Peter Colón citando Warren W. Wiersbe, The Bumps Are What You Climb On (Grand
Rapids: Baker Books, 2002), 57. Disponível
em:http://www.chamada.com.br/mensagens/deus_tem_cuidado.html.
Acesso em 20 dez, 2017.
SUBSÍDIO BIBLIOGRÁFICO
“Como ovelhas para o matadouro (Rm 8.36) As
adversidades alistadas pelo apóstolo nos versículos 35,36 de Romanos 8, têm
sido experimentadas pelo povo de Deus através dos tempos. Nenhum crente deve
estranhar o fato de experimentar adversidades, perseguição, fome, pobreza ou
perigo. Aflições e calamidades não significam, decerto, que Deus nos abandonou,
nem que Ele deixou de nos amar. Pelo contrário, nosso sofrimento como crentes,
abrir-nos-á o caminho pelo qual experimentaremos mais do amor e do consolo de
Deus (2 Co 1.4,5). Paulo nos garante que venceremos em todas essas adversidades
e que seremos mais que vencedores por meio de Cristo” (Bíblia de Estudo
Pentecostal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p. 1714).
CONCLUSÃO
Somos peregrinos em terra
estranha. Sentimos saudades de uma terra que ainda não conhecemos, como
canta o poeta: “Oh! que saudosa lembrança / tenho de ti, ó Sião” (Harpa Cristã,
nº 2). Portanto, vivamos sabiamente com a mente de Cristo até o nosso Salvador
voltar para nos buscar. Maranata! [Comentário: Eclesiastes 3.11 diz: "Também pôs no coração
do homem o anseio pela eternidade". Deus nos criou com este
sentimento! E, por causa disso, nunca estaremos plenamente satisfeitos nesta
vida. Nada chega à altura do céu. Aquele dito popular "vazio do tamanho
de Deus" que o homem carrega dentro de si, nada mais é do que
‘Saudades da Pátria Eterna’, ‘Saudades do Céu’, ‘Saudades de Deus’. C. S. Lewis
em seu livro Cristianismo Puro e Simples, escreve na página 179: “foi quando
os cristãos deixaram de pensar no outro mundo que se tornaram tão incompetentes
nesse aqui. Se você aspirar ao Céu, ganhará a terra “de lambuja”: se aspirar a
Terra, perderá ambos”. Fomos criados para conhecer a Deus. Fomos criados
para irmos ao céu. Deus pôs em cada homem esse instinto de voltar ao lar e
somente estaremos completos quando O virmos face a face.] “...
corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando
firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus ...” (Hebreus 12.1-2).
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br