sábado, 16 de janeiro de 2021

LIÇÃO 3: O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

   INTRODUÇÃO

O pentecostalismo é uma reação contra uma estrutura formal e exageradamente intelectualizada do comportamento cristão. Estudar as Escrituras não precisa ser sinônimo de formalismo. O propósito fundamental do “batizar no Espírito Santo” é a busca de uma aproximação de um Deus pessoal e real. Ser batizado no Espírito Santo é uma linguagem conhecida desde os primitivos cristãos até os dias atuais, é uma expressão bíblica usada por leigos e teólogos, pentecostais e não pentecostais. Todos nós usamos a mesma expressão, mas não falamos a mesma língua. Para nós, o batismo no Espírito Santo é uma coisa; para os não pentecostais, é outra. Para os pentecostais clássicos, a evidência física inicial do batismo é o falar em línguas, a glossolalia, mas os outros pentecostais discordam disso, e os neopentecostais estão mais focados na cura divina e na prosperidade financeira.

   I. O QUE SIGNIFICA “BATISMO NO ESPÍRITO”

O Novo Testamento nos ensina que a salvação é uma coisa e o batismo no Espírito é outra. São duas bênçãos espirituais distintas concedidas por Deus em Cristo.

1. O fenômeno do Pentecostes (vv. 2-4). João Batista anuncia que Jesus é o que batiza no Espírito Santo (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33). Nesse sentido, ser batizado no Espírito Santo é identificado como receber poder do alto e a “promessa de meu Pai” (Lc 24.49). Os discípulos deveriam esperar o seu cumprimento em Jerusalém (At 1.4,5). Não há dúvida de que a descida do Espírito no dia de Pentecostes é uma referência a esse batismo (vv.2-4). Chegamos a essa conclusão também pela explicação do apóstolo Pedro aos demais apóstolos (At 11.15,16). Isso reforça a ideia de que “cheios do Espírito Santo” no presente contexto se refere a ser “batizado no Espírito Santo”, mas em outras partes do Novo Testamento indica uma vida na plenitude e no fervor do Espírito (At 4.8,31; 7.55; 13.52; Ef 5.18).

2. Duas bênçãos distintas. Quem nasceu de novo tem o Espírito Santo (Jo 3.5-8). Essa verdade é ensinada com clareza no Novo Testamento. O Espírito habita em todos os crentes em Jesus, sejam eles pentecostais ou não (1 Co 3.16; 6.19). Quem não tem o Espírito não é cristão (Rm 8.9). Sabemos que a experiência de ser batizado no Espírito Santo é distinta da experiência da conversão porque os discípulos já tinham a vida eterna e o Espírito mesmo antes do dia de Pentecostes (Lc 10.20; Jo 20.22). Todos os presentes no cenáculo por ocasião da descida do Espírito eram crentes, e isso confirma a nossa doutrina pentecostal de que a bênção de ser batizado no Espírito Santo é distinta da conversão (At 8.12-17; 9.17; 19.2-6).

3. Conceito teológico. Ser batizado no Espírito Santo inicia o crente no serviço, e não na salvação. Isso significa ser revestido do poder do alto e diz respeito à capacitação dos crentes em Jesus para a expansão do evangelho e a edificação espiritual (Lc 24.49). Trata-se de uma experiência que ocorre após ou junto à regeneração (At 9.17; 10.44-48). Todas as promessas sobre o batismo no Espírito Santo se cumprem integralmente no derramamento de Pentecostes e continuam até a atualidade. Cremos e ensinamos que tal experiência Deus disponibilizou para todos os crentes, homens e mulheres, jovens e idosos, escravos e livres (At 2.18) em todos os lugares e em todas as épocas (At 2.38, 39). – João Batista disse: “Eu batizo vocês com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de carregar as sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11). Essa promessa reaparece nas passagens paralelas (Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33). O Senhor Jesus se referiu a ela antes de sua ascensão (At 1.4) e acrescentou: “Porque João, na verdade, batizou com água, mas vocês serão batizados com o Espírito Santo, dentro de poucos dias” (At 1.5). Essa declaração vincula Mateus 3.11 com a experiência do dia de Pentecostes (At 2.2-4). A prova disso é que o apóstolo Pedro identificou a experiência de Cornélio (At 10.44-46) com a promessa anunciada por João Batista e reiterada pelo Senhor Jesus (At 11.15-17). – A declaração de Pedro significa que o acontecido em Pentecostes se chama batismo no Espírito Santo, ou melhor, os cerca de 120 discípulos e discípulas foram batizados no Espírito Santo. Há até não pentecostais que aceitam essa interpretação, que não é nossa, vem do próprio Pedro: “Quando comecei a falar, o Espírito Santo caiu sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: ‘João, na verdade, batizou com água, mas vocês serão batizados com o Espírito Santo’” (At 11.15, 16). Não será fácil refutar essa verdade pentecostal. – O que na linguagem de Lucas é identificado como “batizar no Espírito Santo” é descrito de diversas maneiras: “a promessa do Pai” (At 1.4) ou “do meu Pai” e o “revestimento de poder” ou “poder do alto” (Lc 24.49), e ainda “dom do Espírito Santo” (At 2.38; 10.45) e “virtude do Espírito Santo” (At 1.8). A Bíblia descreve essa experiência de diversas maneiras: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo” (At 2.4), “derramarei o meu Espírito” (Jl 2.28) ou “derramarei do meu Espírito” (At 2.17 ARC), “caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra” (At 10.44), “Quando comecei a falar, o Espírito Santo caiu sobre eles” (At 11.15); “o Espírito Santo veio sobre eles, tanto falavam em línguas como profetizavam” (At 19.6). Essas, pois, são as descrições do batismo no Espírito Santo. – São dois pontos fundamentais sobre o conceito do pentecostalismo clássico de batismo no Espírito Santo: a) trata-se de uma experiência espiritual do crente com o Espírito de Deus separada da conversão, na qual ele “entra em uma nova fase em relação ao Espírito”; b) tem o falar em línguas, glossolalia, como evidência física inicial do batismo. Essa é a doutrina das Assembleias de Deus conforme a nossa confissão de fé. Esses pontos doutrinários têm fundamentos sólidos no Novo Testamento que serão apresentados no presente estudo. – Todos os registros no Novo Testamento de pessoas que foram batizadas no Espírito Santo já eram crentes, ou seja, eram discípulos de Jesus. Começando pelo dia de Pentecostes, depois vêm as experiências dos samaritanos, de Saulo de Tarso, de Cornélio e dos 12 discípulos de Éfeso. É possível alguém admitir que nenhum deles era crente quando foram batizados no Espírito? São cinco relatos e três deles com a evidência inicial das línguas. – A começar pelos discípulos no Pentecostes. Jesus havia dito aos doze que seus nomes estavam escritos no céu: “No entanto, alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, e sim porque o nome de cada um de vocês está registrado no céu” (Lc 10.20). Todos os crentes têm o Espírito Santo, esse é o pensamento paulino (Gl 3.1-5). Não existe cristão sem o Espírito Santo: “E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9). Não faz sentido dizer que aquelas quase 120 pessoas reunidas no cenáculo não eram crentes. – A expressão “ser cheio do Espírito Santo” deve ser entendida à luz do seu contexto. Nem sempre significa o batismo no Espírito (At 4.8; 13.9; Ef 5.18), mas, no Pentecostes, “todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” (At 2.4), isso se refere ao batismo, pois o contexto confirma isso, como já foi demonstrado.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Muitos têm dúvidas quanto à natureza do Batismo no Espírito. Há os que a confundem com a da salvação. Você pode aproveitar essa oportunidade para desfazer essa confusão, perguntado a respeito dessa questão.

Ao expor o primeiro tópico, explique que o Batismo no Espírito Santo não é salvação, pois ele diz respeito à experiência de poder para o serviço; enquanto a salvação é uma experiência de regeneração e justificação do pecador.

Todos que foram regenerados, justificados, ou seja, salvos pela graça de Deus, podem receber o Batismo no Espírito Santo. Essa experiência aprofunda mais a nossa comunhão com Deus, potencializa o nosso serviço no Reino e permite caminhar em fervor na vida cristã. Assim, atue em favor de que a sua classe não confunda Batismo no Espírito Santo com Salvação, pois são experiências distintas na vida do crente.

  II. O PROPÓSITO DO BATISMO NO ESPÍRITO

Considerando que ser batizado no Espírito Santo não é salvação, e ambas as experiências são coisas distintas, como verdade pentecostal fundamentada de maneira robusta no Novo Testamento, então, é necessário saber qual o propósito desse batismo.

1. Finalidade. O propósito central é a capacitação do Espírito para o serviço divino como: a) o poder para uma vida santa e serviço eficaz; b) a pureza ou a santificação simbolizada pelas línguas de fogo (Mt 3.11; At 15.8,9); c) o revestimento pleno do poder de Deus, “todos foram cheios do Espírito Santo”; d) a proclamação ou o testemunho de Cristo (At 1.8) concedido de várias formas pelo Espírito: “segundo o Espírito Santo lhes concedia que falassem”.

2. A capacitação do Espírito. É do conhecimento da maioria que a ideia do termo “batismo” é imersão; ser batizado significa ser mergulhado. As expressões como “derramar” o Espírito sobre os irmãos e as irmãs ou “serem cheios” do Espírito para se referir ao batismo no Espírito Santo podem lançar luz sobre o propósito dessa promessa, pois, ser imerso significa capacitação. Isto é, revelação dos mistérios de Deus (Ef 3.5), poder para testemunhar de Jesus (At 1.8), profetizar (At 11.28), realizar milagres (Rm 15.19).

3. Uma necessidade real e atual. O Espírito Santo veio no dia de Pentecostes porque os discípulos precisavam que a sua mensagem fosse revestida de poder para salvar os pecadores (Lc 24.47-49; At 1.8). Como receber esse batismo? É o Senhor Jesus que batiza (Mt 3.16; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33). Todos os crentes devem buscar essa promessa para a sua edificação e crescimento espiritual. Não existem regras rígidas no Novo Testamento para recebê-lo, pois Deus atende a casos individuais de modos diferentes, mas é necessário arrependimento sincero, fé nas promessas do batismo no Espírito, oração e paciência (At 2.38,39; Lc 11.9-13). – No dia de Pentecostes, “todos foram cheios do Espírito Santo” (At 2.4), que no presente contexto, como já foi explicado, significa ser batizado no Espírito Santo. Esse batismo é a plenitude do Espírito na vida de quem tem Jesus no coração. Isso significa o revestimento do poder de Deus para o serviço divino, a capacitação do Espírito para que todos possam testemunhar de Jesus com liberdade e ousadia (At 1.8). Mas, convém deixar claro que “ser cheio do Espírito” pode indicar outros fenômenos como ministério profético (Lc 1.15), profecia (1.41, 67), testemunho (At 4.8, 31), realização de milagres (Rm 15.19) entre outros. O contexto esclarece o significado da expressão. Esse tema será retomado no capítulo 9, “Vivendo o fervor espiritual”. – O relato do Pentecostes (At 2.1-13) revela três sinais distintivos que mostram a ação divina por ocasião da descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes: “um som, como de um vento impetuoso”, vindo do céu (At 2.2); a visão das línguas “como de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles” (v. 3) e o falar em línguas, “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” (v. 4). Os dois primeiros sinais não se repetem nunca mais. Isso acontece porque foram manifestações anunciando a chegada do Espírito Santo, alguém tão importante quanto o Filho. Assim, o som soava como vento, mas não era vento, e da mesma forma a visão não era fogo, mas lembrava o fogo de Deus (Êx 3.2; 1 Rs 18.38). Foi um acontecimento singular, algo que ocorre só uma vez. Era a manifestação do poder de Deus. – Esse milagre é evidenciado pelo contexto da narrativa. A reação dos peregrinos que estavam em Jerusalém para o dia de Pentecostes corrobora com o pensamento dos pentecostais clássicos. “Todos, atônitos e perplexos, perguntavam uns aos outros: — O que será que isso quer dizer? Outros, porém, zombando, diziam: — Estão bêbados!” (At 2.12, 13). Os peregrinos ficaram admirados com tudo o que viam e ouviam, e alguns deles pensaram até que o grupo de Jesus estava embriagado. A pergunta deles: “O que será que isso quer dizer?” E a resposta dos escarnecedores: “estão bêbados”, são sinais claros de que “as outras línguas” do Pentecostes não eram idiomas humanos reais. Esses detalhes são evidências robustas de que se trata de línguas ininteligíveis ou extáticas. – Os peregrinos de Jerusalém presenciaram as línguas, e o apóstolo Pedro explica: “Mas o que está acontecendo é o que foi dito por meio do profeta Joel” (At 2.16). Isto o quê? O derramamento do Espírito com todos os sinais e, dentre eles, a glossolalia. O apóstolo continua no seu sermão que os últimos dias já começaram e, desde então, homens e mulheres, jovens e anciãos, servos e livres, independentemente do seu status social ou posição na igreja são todos moradas do Espírito: “E acontecerá nos últimos dias, diz Deus, que derramarei o meu Espírito sobre toda a humanidade. Os filhos e as filhas de vocês profetizarão, os seus jovens terão visões, e os seus velhos sonharão. Até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei o meu Espírito naqueles dias, e profetizarão” (At 2.17, 18). Esse discurso de Pedro é uma citação ipsis litteris de Joel 2.28,29, exceto a frase, “nos últimos dias, diz Deus” (v. 17) e a expressão, “e profetizarão” (v. 18). – Ser batizado no Espírito Santo é uma experiência distinta da conversão e que capacita o cristão para testemunhar de Jesus e ter uma vida cristã abundante e vitoriosa. Essa manifestação do Espírito é atual e concedida a quem a buscar com fé, obediência, humildade e persistência (Lc 11.9-13), cujo sinal físico, visível inicial do recebimento é o falar em línguas. A promessa de ser batizado no Espírito Santo é para toda a Igreja. Isso engloba todos os cristãos em todos os lugares e em todas as épocas, de modo que as línguas são inseparáveis. Dos três sinais manifestos no dia de Pentecostes com a descida do Espírito Santo, somente o “falar em outras línguas” veio para ficar, e ele se repete ainda hoje.

SUBSÍDIO PEDAGÓGICO-TEOLÓGICO

Ao finalizar este tópico, pergunte se ser “batizado no Espírito Santo” é o mesmo que ser “cheio do Espírito”. Ouça as respostas. É corriqueiro muitos acharem que é a mesma coisa, mas sem atentarem para a complexidade dessas expressões de acordo com Lucas, em Atos, e Paulo, em Efésios.

Responda à pergunta mostrando que a expressão “cheio do Espírito Santo” tem conotações distintas. Em Lucas (Atos), ela revela uma capacitação para o serviço; em Paulo (Efésios), a questões de caráter, vida santa. Para fundamentar melhor essa resposta, leve em conta a seguinte explicação do professor Gutierres Siqueira: “A terminologia ‘cheio do Espírito Santo’ tem o significado nos escritos de Lucas e de Paulo? Os teólogos pentecostais respondem que não, pois ser ‘cheio do Espírito Santo’ em Lucas está relacionado ao serviço e à mordomia cristã, enquanto que ser ‘cheio do Espírito Santo’ em Paulo está implicitamente ligado a questões de caráter e santidade. Longe de ser uma contradição, há um verdadeiro complemento, pois como servir sem o caráter cristão? Como manifestar os traços de Cristo e ainda permanecer inerte diante do serviço para o Reino de Deus? O que deve ficar claro na mente dos leitores da Bíblia é que ‘Batismo no Espírito Santo’ pode ser associado a ‘ser cheio do Espírito’ em Lucas, mas não nas epístolas paulinas. Sem dúvida, o contexto ministerial de ambos determinou a ênfase diferenciada” (SIQUEIRA, Gutierres Fernandes. Revestidos de Poder: Uma Introdução à Teologia Pentecostal. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 83).

  III. O RECEBIMENTO E A EVIDÊNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

Nem todos os crentes em Jesus são batizados no Espírito Santo, apesar de a promessa divina ser para todas as pessoas que se convertem ao Senhor Jesus em todos os lugares e em todas as épocas; mas todas elas têm o Espírito Santo (Rm. 5.5).

1. As “outras línguas”. As “outras línguas”, a glossolalia, são ininteligíveis, e evidência externa, física e inicialmente o batismo no Espírito Santo (vv.3,4). Mas, não só isso. Note que a nossa Declaração de Fé das Assembleias de Deus acrescenta: “mas somente a evidência inicial, pois há evidência contínua da presença especial do Espírito como o ‘fruto do Espírito’ (Gl 5.22) e a manifestação dos dons (1 Co 14.1)”. Sua fonte é o próprio Espírito Santo (vv.8, 11). Em línguas os discípulos falavam “das grandezas de Deus” (v.11) e, na casa de Cornélio, todos “os ouviam falar em línguas e magnificar a Deus” (At 10.46).

2. Função das línguas. Elas sinalizam a presença do Espírito. O dom de línguas, pelo que se vê nos capítulos 12 a 14 de 1 Coríntios, está associado à oração pessoal (1 Co 14.13-23). As línguas, em Atos, indicam o recebimento do poder profético (2.4,17; 19.6). As línguas nas cartas paulinas são também importantes, pois o apóstolo as descreve como língua do Espírito, por meio dais quais conversamos com Deus em mistério; por meio delas oramos em espírito e louvamos a Deus (1 Co 14.14,16,17). Esse dom, sem dúvida, é muito útil para a oração, as devoções pessoais e o desenvolvimento de nossa sensibilidade ao Espírito (1 Co 14.2). Foram as línguas que sinalizaram o batismo de Cornélio (At 10.47). Que sinal tangível levou Simão Samaritano a desejar esse dom? (At 8.18).

3. Atualidade das línguas. A promessa de ser batizado no Espírito Santo é para toda a Igreja. Isso engloba todos os cristãos em todos os lugares e em todas as eras (Jl 2.28-32; At 2.16-21), de modo que as línguas são inseparáveis do batismo no Espírito. Dos três sinais sobrenaturais manifestos no dia de Pentecostes com a descida do Espírito Santo, somente o “falar em outras línguas” (v. 4) veio para ficar, ele se repete (At 10.44-47; 19.6). Mas, os outros dois: “um som, como de um vento veemente e impetuoso” (v.2) e “línguas repartidas, como que de fogo” (v.3) ocorreram uma só vez, e eles não se repetem nunca mais. – São duas as marcas distintivas do pentecostalismo clássico, “batizar ou ser batizado no Espírito Santo” como algo distinto da conversão, trata-se de uma experiência subsequente à salvação, como capacitação para o serviço, e a identificação do falar em línguas como evidência física inicial do batismo no Espírito. – O falar línguas é a evidência física inicial que indica que o irmão ou a irmã foi batizado no Espírito Santo, “mas somente a evidência inicial, pois há evidência contínua da presença especial do Espírito como o “fruto do Espírito” (Gl 5.22) e a manifestação dos dons (1 Co 14.1)”. Esse é o resultado de muitos debates desde os pioneiros do pentecostalismo moderno como Charles Fox Pahram e William J. Seymour, esse último liderou o movimento da Rua Azusa. Outros líderes surgiram não somente em Los Angeles, na Califórnia, como também no estado do Texas, em Topeka e Houston, em Chicago, no estado de Illinois, em Nova Iorque e também em diversas regiões da Europa, como Alemanha, Inglaterra e Suíça. Mas, foi na primeira Conferência Mundial Pentecostal, organizada em Zurique, Suíça, 1947, que afirmou a doutrina da evidência inicial. – Charles Fox Pahram, um itinerante metodista convertido ao movimento Holiness e pregador de curas pela fé, é tido por muitos como o fundador do pentecostalismo. Ele influenciou o movimento com o pensamento único do falar em línguas como evidência do batismo no Espírito Santo. Mas, isso já havia sido ensinado na Grã-Bretanha. Cerca de 75 anos antes do avivamento da Rua Azusa, Edward Irving (1792-1834), teólogo presbiteriano escocês, que, segundo o Dicionário do Movimento Pentecostal, foi o precursor do movimento pentecostal, fundou em Londres a Igreja Apostólica Católica, que não sobreviveu tempo o suficiente para se juntar aos pentecostais do século 20. Um discípulo de Pahram, William J. Seymour, liderou o movimento da Rua Azusa a partir de 1906. Houve divergências entre os pioneiros do pentecostalismo clássico, cuja posição nunca foi monolítica. Vamos às Escrituras. O fenômeno, “falar em outras línguas”, aparece explicitamente três vezes associado diretamente a ação divina de batizar no Espírito Santo (At 2.4; 10.44-48; 19.1-7). – A narrativa de Atos 2.1-13 mostra que as línguas do Pentecostes são ininteligíveis, a glossolalia, que se distinguem das línguas humanas reais. Lucas emprega dois termos gregos para “línguas” na narrativa do dia de Pentecostes: glo¯ssa (vv. 3, 4, 11) e dialektos (vv. 6, 8). Glo¯ ssa significa “língua”, como fala, linguagem, “idioma” e também membro ou órgão físico da boca (Tg 3.5), que aparece metaforicamente no relato de Lucas: “E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles” (v. 3). Ao serem cheios do Espírito Santo, os discípulos e as discípulas “começaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” (v. 4). A exegese das línguas permite os pentecostais clássicos interpretarem o falar em línguas como um dom do Espírito e de natureza ininteligível. – A palavra “outras” em grego é heteros, assim: lalein heterais glo¯ ssais significa “falar em outras línguas”. Segundo o Dicionário Vine, o adjetivo heteros “expressa uma diferença qualitativa e denota ‘outro’ de tipo diferente”. Lucas está falando de uma língua que só pode ser compreendida por um milagre. – O falar em línguas revela as grandezas de Deus: “todos os temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus” (v. 11). E quando Cornélio com sua família e amigos foram batizados no Espírito Santo, o apóstolo Pedro e a sua comitiva: “os ouviam falar em línguas e magnificar a Deus” (At 10.46). Nessas línguas, glo¯ ssai, plural de glo¯ ssa, eles magnificam a Deus como em Pentecostes, eles falavam das grandezas de Deus. Mais adiante, o apóstolo Paulo revela que o dom de línguas é a linguagem do Espírito (1 Co 14.15). O termo grego para “línguas”, no derramamento do Espírito em Pentecostes, na casa de Cornélio e nos discípulos de Éfeso, é glo¯ ssa (At 10.46; 19.6).

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“Falar em Línguas É bom para Você

Dos nove dons espirituais mencionados em 1 Coríntios 12.8-10, somente a um atribui-se a força da edificação pessoal. ‘O que fala língua estranha edifica-se a si mesmo’ (1 Co 14.4). E acrescentou Paulo: ‘Quero que todos vós faleis línguas estranhas’ (1 Co 14.5), e ‘Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos’ (1 Co 14.18). Certamente não há autoridade maior que Paulo neste assunto. Ele não poderia ser chamado de ‘teórico’. Seus ensinos vieram de experiências pessoais na escola do Espírito. E o Espírito dirigiu-o em suas instruções aos coríntios.

O termo grego oikodom, empregado por Paulo e traduzido como ‘edificar’ ou ‘edificação’, significa formar ou ser formado. A aplicação deste termo ao homem espiritual conduz a ideia de crescimento e desenvolvimento do espírito. Que belo! O homem que demonstra evidência de grande crescimento e desenvolvimento espiritual é o mesmo que testemunha: ‘falo mais línguas do que vós todos’. Neste ponto, há uma lição para todos nós” (BRANDT, R. L. Falar em Línguas o Maior Dom: Pentecostais, falta-nos algo? 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2011, p. 46).

  CONCLUSÃO

O que todo o povo pentecostal precisa saber sobre o tema da lição? Que ser batizado no Espírito Santo é uma experiência distinta da conversão e que capacita o cristão para testemunhar de Jesus e ter uma vida cristã abundante e vitoriosa. Que essa manifestação do Espírito é atual e concedida a quem a buscar com fé, obediência, humildade e persistência; cujo sinal físico, visível inicial do recebimento é o falar em línguas. – As línguas do batismo no Espírito Santo e as do dom de variedade de línguas são as mesmas. Elas procedem de uma mesma fonte, o Espírito, e são ininteligíveis. Elas se tornam compreensíveis por meio do dom de interpretação (1Co 14.27, 28). O apóstolo Paulo nos ensina sobre a natureza do dom de línguas, elas são espirituais: “Porque o que fala língua estranha não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala de mistérios” (1 Co 14.2). O falar em línguas é a linguagem do Espírito, da edificação, da adoração e do louvor (1 Co 14.15). O apóstolo afirma ainda que fala mais línguas que todos os coríntios (1 Co 14.18), e ele estava longe de ser um mero teórico, era homem de experiências profundas com o Espírito Santo (1 Co 2.12; 7.40).

REFERÊNCIAS

LIÇÕES BÍBLICAS. 1º Trimestre 2020 - Lição 3. Rio de Janeiro: CPAD, 16, jan. 2021.

SOARES, Esequias. O verdadeiro pentecostalismo: a atualidade da doutrina bíblica sobre a atuação do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Novo Testamento, v. I, p. 454. Santo André: Geográfica, 2007.

 

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

LIÇÃO 2: A ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NO PLANO DA REDENÇÃO

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

   INTRODUÇÃO

Aprendemos na lição passada quem é o Espírito Santo e agora vamos estudar sobre a ação dele no processo da salvação da humanidade e na edificação dos crentes. Jesus disse que não nos deixaria órfãos quando se referiu ao Consolador que está nos crentes. Vivemos essa experiência do Espírito no dia a dia. – A salvação é obra da Trindade, e a Declaração de fé das Assembleias de Deus no Brasil apresenta uma amostragem da vastidão da obra soteriológica do Espírito Santo. Ele possui o papel de regenerar, purificar e santificar o homem e a mulher. Ele é quem convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Ele é quem concede a segurança da redenção e capacita o salvo para o serviço cristão que guia, dirige e conduz o povo de Deus; quem inspirou os profetas e os apóstolos bíblicos; quem reparte os dons espirituais e produz nas pessoas as virtudes que refletem o caráter de Deus, denominado fruto do Espírito. O Espírito Santo dá prosseguimento ao plano de salvação idealizado pelo Deus Pai e executado pelo Deus Filho. As três Pessoas estão presentes, agindo cada uma na sua esfera de atuação, em perfeita harmonia e perfeita unidade.

   I. O ESPÍRITO SANTO COMO PROMESSA

A salvação da humanidade foi um projeto do Deus Trino e Uno, planejado antes da fundação do mundo. Cada Pessoa da Trindade exerce função específica no plano da salvação, e o Espírito é parte dessa história salvífica juntamente com o Pai e o Filho.

1. A promessa messiânica. A promessa existe porque existe um plano, e não é um plano qualquer. Isso envolve as três Pessoas da Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (1 Pe 1.2). Deus anunciou diversas vezes e de diversas maneiras, pelos profetas, a vinda de seu Filho como Salvador do mundo (Rm 1.2). Isso significa a participação do Espírito Santo de modo que a promessa messiânica é acompanhada da promessa do Espírito (Is 32.15; 42.1,2; Is 61.1), confirmada no Novo Testamento (Mt 12.18; Lc 4.18-21). A salvação e a plenitude do Espírito são anunciadas de antemão no Antigo Testamento para todo o povo (Is 44.3; Jl 2.28-32).

2. Na antiga aliança. Há uma diferença da atuação do Espírito Santo antes e depois do Pentecostes. As múltiplas manifestações do Espírito são conhecidas desde o Antigo Testamento, e uma delas era a capacitação de pessoas para obras específicas, como a de profeta (Nm 12.6) ou a de liderança (Jz 6.34; 1 Sm 16.13). Essas habilitações eram espirituais: profecias (Nm 11.25), revelações (Ez 8.3) e milagres (1 Rs 18.12); também aptidões individuais, artísticas (Êx 31.3) e habilidades para liderança militar e política (Jz 3.10; Zc 4.6,7).

3. A promessa do Consolador. A vinda do Consolador estava associada à volta de Jesus ao céu: “convém que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós” (v. 7). Isso porque o cumprimento dessa promessa estava vinculado à obra expiatória do Calvário (At 2.32,33). Jesus disse também que tinha muita coisa para ensinar aos seus discípulos, mas eles ainda não estavam preparados para ouvir, não poderiam suportar a mensagem sem a ação do Espírito (v.12). Jesus precisava voltar ao Pai para possibilitar a vinda do Consolador.

– Jesus disse que precisava voltar ao Pai para a vinda do Consolador: “é melhor para vocês que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vocês” (Jo 16.7). A vinda do Espírito Santo está vinculada à obra expiatória do Calvário (At 2.33). Jesus deixa claro que precisava voltar ao Pai para o que o Consolador pudesse vir. Essas palavras dizem respeito à morte, à ressurreição e ao retorno de Cristo ao Pai. Era essa a condição para a vinda do Consolador. Quando Jesus disse, antes, na Festa dos Tabernáculos: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo 7.38), o evangelista João esclarece que Jesus estava falando do Espírito Santo: “Isso ele disse a respeito do Espírito que os que nele cressem haviam de receber; pois o Espírito até aquele momento não tinha sido dado, porque Jesus ainda não havia sido glorificado” (v. 39). João está dizendo que está chegando o momento, e o Espírito virá como resultado, ou consequência completa do Calvário, por isso o Espírito ainda não havia sido dado (At 2.33). O que Jesus tinha ainda para ensinar aos seus discípulos, eles não poderiam suportar sem o Espírito (Jo 16.12). – A vinda do Espírito Santo seria uma vantagem inexprimível para os discípulos. O Espírito Santo é o nosso guia, não somente para mostrar-nos o caminho, mas para ir conosco com auxílio e influências de modo contínuo. Ser dirigidos a uma verdade é mais do que apenas conhecê-la. Não é temermos a sua noção somente em nossa mente, mas o seu deleite, o seu trabalho, o seu sabor e o seu poder em nossos corações. Ele ensinará toda a verdade sem reter nada que seja proveitoso, porque mostrará coisas vindouras. Todos os dons e a graça do Espírito Santo, toda a pregação e todos os escritos dos apóstolos sob a influência do Espírito Santo, todas as línguas e milagres, tinham o objetivo de glorificar a Cristo. Cada um de nós tem o dever de perguntar a si mesmo se o Espírito Santo começou a boa obra em seu coração. Sem a clara revelação de nossa culpa e do perigo que corremos, jamais compreenderíamos o valor da salvação dada por Cristo, e quando a conhecemos de modo correto, compreenderemos o valor do Redentor. Teríamos uma visão mais plena a respeito dEle, e um amor mais vivo por Ele, se orássemos mais para que tivéssemos o Espírito Santo e se dependêssemos mais dEle.

– O Espírito Santo habita em todos os crentes, somos moradas dele (1 Co 3.17; 6.19). Quem não tem o Espírito não é cristão (Rm 8.9). Mas isso não funcionava assim nos tempos do Antigo Testamento, a atuação dele era restrita às pessoas vocacionadas e escolhidas por Deus para uma obra específica como Gideão, Sansão, Davi (Jz 6.34; 14.6; 1 Sm 16.13). Mas, na dispensação da graça, o Espírito Santo está em todos os crentes, e isso foi prometido por Deus por meio dos profetas do Antigo Testamento (Is 44.3; Jl 2.28-30). Segundo o comentário Expositivo do NT Wiersbe é evidente que o Espírito de Deus já havia estado na Terra antes. Foi esse Espírito que deu poder aos homens e mulheres do Antigo Testamento para realizar a obra de Deus. Todavia, nesse tempo, o Espírito de Deus vinha sobre essas pessoas e podia se retirar delas. O Espírito de Deus deixou o rei Saul (1 Sm 16:14; 18:12); e, ao confessar seu pecado, Davi pediu que o Espírito não lhe fosse retirado (SI 51:11). Em Pentecostes, o Espírito Santo foi concedido ao povo de Deus, a fim de permanecer conosco para sempre. Podemos entristecer o Espírito, mas ainda assim ele não nos deixa.

– A promessa da vinda do Espírito Santo vem desde o Antigo Testamento e dela falou João Batista e foi com certa frequência reiterada pelo Senhor Jesus. O discurso sobre a vinda do Consolador em João 16.8-11 fala do relacionamento do Espírito Santo com o mundo, ou seja, as pessoas em geral. Há diversas profecias messiânicas diretas no Antigo Testamento como Isaías 55 e o salmo 22, entre outras; no entanto, a ideia cristológica não se restringe a esses vaticínios e ocupa todo o pensamento das Escrituras Hebraicas. Os escritores do Novo Testamento reconhecem a presença e a obra de Cristo na história da redenção (Os 11.1; Mt 2.15), nas suas instituições e festas de Israel (Êx 25.8; Jo 1.14; Hb 5.4-5; Êx 12.3-13; Lc 22.15; 1Co 5.7). As profecias messiânicas incluem também a promessa do Espírito Santo. – A tríplice função, criar, salvar e julgar, é atividade exclusiva de Deus, e os primitivos escritores cristãos não se cansavam de enfatizar essas obras em Cristo. Essas atividades divinas são reveladas também na Pessoa do Espírito na criação do céu e da terra (Gn 1.2; Sl 104.30) e do ser humano (Jó 33.4). O Espírito exerce a função de juiz (Jo 16.8-11) e inspira os profetas (2 Pe 1.19-21). As obras do Espírito continuam na atualidade na igreja, na experiência conhecida dos pentecostais pela manifestação dos dons espirituais miraculosos (1 Co 12.4-11) bem como na vida individual com o fruto do Espírito (Gl 5.22). É por meio dele que glorificamos a Jesus. A missão central do Espírito é revelar o Cristo ao pecador, seu ministério traz glória ao Filho. Jesus disse a seu respeito: “Ele me glorificará, porque há de receber o que é meu” (Jo 16.14).

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Uma das mais belas definições acerca da palavra “promessa” é “esperança que se fundamenta em algo concreto e aparente” [Caudas Aulete Online). A promessa do Espírito Santo foi concretizada nas Escrituras e ao longo da história da Igreja. Ainda hoje, milhares de pessoas experimentam dia após dia a doce presença do Santo Espírito.

  Há razões de sobra para que o crente deposite a sua inteira confiança na promessa do Espírito Santo. Por isso, ao final da exposição deste tópico, auxiliado pelas informações acima, ou nas que o Espírito Santo lhe impulsionar, faça uma aplicação no sentido de que seus alunos se conscientizem de que a promessa do Espírito Santo ainda é real e está disponível a quem crer e buscá-la. Talvez haja alguém na sua classe que ainda não experimentou o batismo no Espírito Santo. Quem sabe não chegou a hora de Jesus batizar? Você é o instrumento disponível para conscientizar seu aluno, e aluna, acerca dessa preciosa promessa.

  II. O ESPÍRITO SANTO CONSOLA E ENSINA

O Consolador é enviado pelo Pai em nome de Jesus para ensinar os discípulos e fazê-los lembrar de tudo o que o Filho ensinou e para testificar dEle.

1. O Consolador (v.7). Vimos na lição passada a base bíblica da consubstancialidade do Consolador, o Espírito Santo, com o Filho. O termo grego parákletos vem da preposição pará, “ao lado de, próximo”; e do verbo kaléo, “chamar, convocar”, de modo que essa palavra significa “defensor, advogado, intercessor, auxiliador, ajudador, paracleto”. Esse vocábulo só aparece cinco vezes no Novo Testamento, quatro vezes se refere ao Espírito Santo (Jo 14.16,26; 15.26; 16.7) e uma ao Senhor Jesus, traduzido por “Advogado” (1 Jo 2.1). A ideia de parákletos é de alguém chamado para estar ao lado para ajudar. A tradução, “consolador”, é mais apropriada no contexto da promessa anunciada por Jesus no Evangelho de João.

2. O Ensinador. O Espírito Santo é alguém como Jesus, da mesma substância, glória, poder e majestade, razão pela qual o Senhor se refere a Ele como “outro Consolador” (Jo 14.16). Alguém com as mesmas prerrogativas do Filho. Jesus disse que o Pai ensina (Jo 6.45). O ensino era parte do ministério de Jesus (Mt 4.23; 7.29). De modo que essa tarefa é parte também da atuação do Espírito Santo: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (Jo 14.26). O Espírito nos ensina a compreender as Escrituras para a evangelização (1 Co 2.13).

3. O Ajudador. A Versão Revisada de Almeida traduz parákletos por “Ajudador”. De fato, o Espírito nos ajuda na vida diária, Ele imprime em nós o caráter de Cristo e nos conduzirá até ao final de nossa jornada. Ele nos ajuda em nossa fraqueza (Rm 8.26). Jesus disse que o Ajudador “vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (Jo 14.26b). Ninguém vai se lembrar de algo que não viu, ouviu, leu ou aprendeu antes. Lembrança é algo que vem da memória, que já está nela. Essa ajuda do Espirito não nos desobriga de estudar a Bíblia. É bom ressaltar essa verdade porque ainda há os que defendem a ideia de que não é preciso estudar e nem se preparar para fazer a obra de Deus.

– Segundo o Dicionário Vine, o termo parákletos “era usado num tribunal para denotar o assistente legal, conselheiro para a defesa, defensor, advogado. Mas a ideia de “advogado” parece não combinar bem com o papel do Espírito Santo como alguém enviado no lugar do próprio Jesus. A palavra “consolador” é mais apropriada para as passagens alusivas ao Espírito Santo. Como disse Stanley M. Horton, o Espírito Santo não é advogado ou consultor jurídico de defesa e nem promotor: “Ele é Aquele que lhes ensina o que dizer, de modo que glorifiquem a Cristo e testifiquem dele.- “E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Consolador, a fim de que esteja com vocês para sempre” (Jo 14.16). O Espírito Santo, portanto, é alguém como Jesus, da mesma substância, glória e poder. Em outras palavras, Jesus dizia aos seus discípulos que estava voltando para o Pai, mas que continuaria cuidando da igreja, pelo seu Espírito Santo, seu Paracleto, um como ele, que teria o mesmo poder para preservar o seu povo. – A palavra grega para o “outro” nesse versículo é, no original grego, allos, que significa “outro”, mas da mesma natureza, da mesma espécie e da mesma qualidade. Isso se confirma nos principais dicionários e léxicos de grego. Segundo o Dicionário Vine: “O termo allos expressa uma diferença numérica e denota ‘outro do mesmo tipo’; o termo heteros expressa uma diferença qualitativa e denota ‘outro de tipo diferente’. Cristo prometeu enviar “outro Consolador” – allos, ‘outro como Ele’, não heteros.” Segundo A. T. Robertson: “Outro da mesma classe (allon, não heteron)”. Se o Espírito não fosse da mesma substância do Filho, a palavra correta para “outro” seria heteros, que, de acordo com o Léxico Grego Inglês de Liddell & Scott, significa: “o outro, um de dois...; um outro...; outro do usual, diferente.

– Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse ensinará a vocês todas as coisas e fará com que se lembrem de tudo o que eu lhes disse” (Jo 14.26). Essa é a segunda ocorrência de parákletos no Novo Testamento. Desde o Antigo Testamento que o Espírito atua como Mestre (Sl 143.10). Ele ensinou os filhos de Israel durante a peregrinação no deserto: “E lhes concedeste o teu bom Espírito, para os ensinar. Não lhes negaste o teu maná, para poderem comer, e lhes deste água quando tiveram sede” (Ne 9.20). Agora, uma das principais tarefas do Espírito, depois da glorificação de Jesus, é lembrar os discípulos do ensino de Jesus e ajudá-los a entender o significado de tudo o que Ele fez, disse e ensinou; ensiná-los e fazer lembrar de tudo o que o Filho ensinou e para testificar dele.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“Uma das verdades ensinadas pelo Espirito Santo é que não podemos recitar uma fórmula mágica do tipo: ‘Amarro Satanás; amarro minha mente; amarro minha carne. Agora, Espirito Santo, creio que os pensamentos e as palavras que se seguem vêm todos de til’ Não nos é lícito usar encantamento para submeter Deus à nossa vontade. João admoesta a Igreja: ‘Provai se os espíritos são de Deus’ (1 Jo 4.1). Significa que devemos permitir ao Espírito Santo da Verdade orientar-nos na tarefa de interpretar a Palavra de Deus e a testar, pelas Escrituras, os nossos pensamentos e os de outras pessoas.

  Há perigos genuínos neste assunto. Certo autor reivindicou, na capa do seu livro: ‘Predições cem por cento corretas das coisas do porvir’. A tarefa do leitor, com a ajuda do Espírito Santo, é seguir o exemplo dos bereanos, que o próprio Espírito recomenda através das palavras de Lucas. Eles persistiam ‘examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim’ (At 17.11). Cada crente deve ler, testar e compreender a Palavra de Deus e os ensinos a respeito dela. O crente pode fazer assim confiadamente, na certeza de que o Espírito Santo, que habita em cada um de nós, irá levar-nos a toda verdade” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 10.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, pp. 398-99).

  III. O ESPÍRITO SANTO REPROVA E CONVENCE O MUNDO

Uma vez realizada a obra da redenção, o Espírito veio para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo. A salvação está à disposição de todos, mas há a necessidade de alguém persuadir a humanidade. Esse alguém é o Espírito Santo.

   1. O Espírito Santo convence o mundo do pecado (v.9). A ideia do verbo “convencer” é persuadir. Isso é observado em outras passagens do Novo Testamento (Jo 8.46; 16.8; 1 Co 14.24; Tt 1.9). É o Espírito Santo que convence ou persuade o mundo do pecado. Jesus disse pecado e não pecados, isso porque Ele não está falando de alguns pecados ou transgressões específicas (Rm 3.23), mas da incredulidade, isso é o pecado: “do pecado, porque não creem em mim”. Antes mesmo que alguém cometa alguma coisa, Jesus havia dito que tal pessoa já estava condenada (Jo 3.18). É o Espírito que torna as pessoas conscientes do seu estado de miséria espiritual e as leva a reconhecerem o Senhor Jesus Cristo como seu Salvador (Tt 3.5)

2. O Espírito Santo convence o mundo da justiça (v.10). A justiça a que o Espírito Santo convence o mundo é a justiça impecável de Cristo (Jo 8.46). Isso porque Jesus morreu e ressuscitou dentre os mortos e está a destra de Deus intercedendo por nós (Rm 1.4; Hb 7.25). Ele voltou para o Pai, e o mundo não o vê, mas o Consolador continua persuadindo as pessoas da justiça de Cristo. É por meio do Espírito que todos nós chegamos à convicção de que necessitamos da salvação. O Consolador nos leva a Jesus, o nosso Advogado: “temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2.1,2).

  3. O Espirito Santo convence o mundo do Juízo (v. 11). Jesus disse ainda: “e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado”. O “príncipe deste mundo” é uma referência a Satanás, derrotado com a vitória de Cristo no Calvário (Jo 12.31-33; 14.30). O Espírito Santo convence o mundo do juízo, ou seja, trata-se de julgamento.

  Que julgamento? Nossos pecados foram julgados em Cristo na cruz, e Satanás perdeu as multidões do mundo que vieram a Jesus pela ação do Espírito Santo. Mas, esse julgamento se refere ao mesmo tempo ao julgamento de Satanás, que já começou e será concluído na consumação dos séculos (Mt 25.41; Ap 12.7-10; 20.10). O Diabo ainda luta numa batalha que já foi perdida. Esse “juízo” é uma referência ao julgamento de nossos pecados na cruz do Calvário e ao mesmo tempo ao julgamento de Satanás, que já foi vencido por Jesus da sua morte e ressurreição.

– O ministério de juiz do Espírito é o de convencer o mundo, ou seja, tanto reprová-lo como persuadi-lo para conduzir as pessoas a Cristo e quanto aos crentes, guiar e revelar a verdade, além de capacitá-los para testemunhar de Jesus. Nessa missão, o Espírito confronta o mundo e dá continuidade ao que Jesus já vinha fazendo (Jo 3.19, 20; 5.22, 27, 30; 8.46). O Espírito torna as pessoas conscientes do seu estado de miséria espiritual e as leva a reconhecerem o Senhor Jesus Cristo como seu Salvador (Tt 3.5). Então, é Ele quem convence o mundo do pecado. O pecado nessa passagem é uma referência à incredulidade, como Jesus mesmo disse: “do pecado, porque eles não creem em mim” (Jo 16.9). Essa incredulidade é que traz condenação (Jo 3.18, 36) e impede ainda que as pessoas recebam vida ou que pelo menos sintam necessidade dela e por isso não conseguem perceber que estão em estado de morte. A obra do Espírito é convencer essas pessoas do seu estado de miséria espiritual para que elas creiam em Jesus. – O Espírito convence o mundo da justiça: “da justiça, porque vou para o Pai, e vocês não me verão mais” (v. 10). Jesus, a luz do mundo (Jo 8.12), mostrava quão densas são as trevas em que as pessoas estavam mergulhadas (Jo 3.19-21; 7.7; 15.22, 24). A justiça nessa passagem se refere à justiça impecável de Cristo (Jo 8.46), e, indo Ele para o Pai, o mundo não pode vê-lo. Assim, essa obra de convencer os pecadores continua com o Espírito, e isso porque Jesus não está mais na terra para realizar essa tarefa, mas sim seus discípulos. É isso que significa do mundo e da justiça. – Jesus disse ainda que o Espírito Santo convencerá as pessoas “do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado” (Jo 16.11). O “príncipe deste mundo” é uma referência a Satanás, derrotado pela a vitória de Cristo no Calvário (Jo 12.31-33; 14.30). O Espírito convence o mundo do juízo, ou seja, trata-se de julgamento. Que julgamento? Nossos pecados foram julgados em Cristo na cruz, e Satanás perdeu as multidões que vieram a Jesus pela ação do Espírito Santo. Mas, esse julgamento se refere ao mesmo tempo ao julgamento de Satanás que já começou e será concluído na consumação dos séculos (Mt 25.41; Ap 12.7-10; 20.10). O diabo ainda luta numa batalha que já foi perdida. Esse “juízo” é uma referência tanto ao julgamento de nossos pecados na cruz do Calvário e como ao julgamento de Satanás, que já foi vencido por Jesus na sua morte e ressurreição. – As Escrituras revelam no ministério do Espírito Santo a ação de alguém que reprova o erro, pois ele é santo, essa santidade é própria dele, ela não vem de ninguém externo a ele, pois é ele que santifica (Rm 15.16) além de convencer o mundo “do pecado, e da justiça, e do juízo”

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“Paulo nos revela que, se confessarmos com a nossa boca que Jesus é Senhor e realmente crermos que Deus o ressuscitou dentre os mortos, seremos salvos. Porque, quando cremos no coração, somos justificados. E, quando confessamos que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos, somos salvos (Rm 10.9,10). Paulo nos garante que ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’, a não ser pelo Espírito Santo (1 Co 12.3). Paulo não está afirmando ser impossível aos hipócritas ou falsos mestres falarem, da boca para fora, as palavras ‘Jesus é Senhor’. Mas dizer que Jesus é verdadeiramente Senhor (que envolve o compromisso de segui-lo e de cumprir sua vontade, ao invés de os nossos próprios planos e desejos) exige a presença do Espírito Santo dentro de nós e o coração e espírito novos, conforme conclama Ezequiel 18.31. Nosso próprio ser confessa que Jesus é Senhor à medida que o Espírito Santo começa a transformar-nos segundo a imagem de Deus” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 10. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 396).

  CONCLUSÃO

Diante do exposto ficamos sabendo que o sentido de Consolador aplicado ao Espírito é inerente à sua natureza e obra. O Espírito Santo atua na igreja para guiar o povo de Deus de forma coletiva como as ovelhas individualmente e age também no mundo no processo da salvação.Espírito toma o que é de Cristo e o revela ao crente. Isto quer dizer que Ele lança mão da presença, amor, perdão, redenção, santificação, vida, poder, dons espirituais, cura e de tudo o mais que nos pertence pelo nosso relacionamento com Cristo mediante a fé e torna reais estas bênçãos em nossa vida. Por meio do Espírito, Jesus volta a nós para nos revelar seu amor, graça e comunhão pessoal (cf. 14.16-23). O Espírito opera em nós para despertar e aprofundar nossa consciência da presença de Jesus em nossa vida e atrai nosso coração a Ele em fé, amor, obediência, comunhão, adoração e louvor.

REFERÊNCIAS

LIÇÕES BÍBLICAS. 1º Trimestre 2020 - Lição 1. Rio de Janeiro: CPAD, 03, jan. 2021.

SOARES, Esequias. O verdadeiro pentecostalismo: a atualidade da doutrina bíblica sobre a atuação do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Novo Testamento, v. I, p. 454. Santo André: Geográfica, 2007.