A educação cristã não pode ser vista dissociada da prática pedagógica.
O professor deve buscar recursos que facilitem o processo de aprendizagem do
aluno. Jesus, durante o seu ministério, ao ensinar, usou recursos pedagógicos e
os aplicou à luz das especialidades humanas. Muitos recursos adotados por ele
são hoje usados pela pedagogia contemporânea.
Existem muitas abordagens possíveis para o exercício do ato educativo.
Dentre elas está a Psicopedagogia. A Psicopedagogia reúne conhecimentos de
várias áreas como a Pedagogia, a Psicologia, a Neurociência, a Fonoaudiologia e
a Psicolinguística, entre outras. Buscar conhecimento nessas áreas é
imprescindível para compreender a Psicopedagogia e os benefícios desta para o processo
da aprendizagem.
O que é
Psicopedagogia
A Psicopedagogia é uma área do conhecimento que estuda e se aprofunda
no processo de aprendizagem humana e está presente no desenvolvimento
intelectual de crianças, adolescentes e adultos.
O uso de elementos da Psicopedagogia na educação contribui para
melhorias no processo de aprendizagem. Por meio da Psicopedagogia é possível a identificação
de dificuldades e falhas no processo de ensino, proporcionando a implementação
de métodos e estratégias eficazes que corrijam os problemas e dificuldades de
aprendizagem.
A psicopedagogia identifica os problemas e as dificuldades de aprendizagem
não somente pelo aspecto cognitivo, mas também emocional e social, podendo
ajudar a escola a lidar melhor com a questão da diversidade e o processo da inclusão.
Ao entender como cada aluno aprende pode realizar meios que previnam o problema
da aprendizagem identificando quais são os elementos facilitadores ou dificultadores
desse processo.
O Desenvolvimento
Cognitivo e a Aprendizagem
O desenvolvimento cognitivo é fundamental para o aprendizado. É a
partir da cognição que somos capazes de assimilar e processar informações,
assim como tomar decisões e interagir com o mundo e as pessoas ao nosso redor.
O desenvolvimento cognitivo é um campo de estudo da Neurociência e da
Psicologia que explora vários aspectos do desenvolvimento humano que envolve a
aquisição de recursos conceituais, habilidades perceptivas, aprimoramento da
linguagem além de outros aspectos do desenvolvimento do cérebro.
O desenvolvimento cognitivo ocorre de forma gradual. À medida que o
cérebro vai amadurecendo o indivíduo gradualmente vai ampliando sua capacidade
de assimilar informações e elaborar novos conhecimentos.
O
desenvolvimento cognitivo depende de dois fatores: A plasticidade do Sistema
Nervoso e a influência do ambiente. Conclui-se que ambas são determinantes para
a maturidade do organismo.
1. A
plasticidade do Sistema Nervoso
A cada novo comportamento aprendido desde o nascimento até a fase
adulta, várias conexões neurais ocorrem e se fixam no SNC, contribuindo para
seu desenvolvimento normal e evolutivo. À medida que a criança recebe mais e
mais estímulos aumentam suas experiências e aprendizado.
2. A
influência do ambiente
A influência do ambiente são aspectos determinantes para o desenvolvimento
cognitivo. É necessário um ambiente favorável para que a criança desenvolva as
suas capacidades e garanta a realização das suas potencialidades de
crescimento.
Uma forma eficaz de estimular a criança e ajudá-la no desenvolvimento
cognitivo é através do brincar. Estudos mostram que a criança manifesta suas potencialidades
numa atmosférica lúdica.
A Utilização de Elementos da Psicopedagogia na Educação Cristã
O professor lida, no dia a dia, com alunos que apresentam os mais
diversos históricos. Para que ele tenha êxito se faz necessário que aplique
metodologias que se encaixem com o perfil de cada um dos alunos, considerando
aqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem, quer seja pela não
adaptação aos métodos pedagógicos, ou por alguns transtornos que apresentem.
Para que alcancemos bons resultados em qualquer área da vida,
precisamos de estratégias e métodos adequados. Se pretendemos fazer algo
bem-feito, precisamos seguir um método que já tenha sido testado e comprovado.
Se seguimos rigorosamente a esse método as chances de alcançarmos êxito são bem
prováveis.
Na aprendizagem isso não é diferente, no entanto, algumas vezes fazemos tudo corretamente e não conseguimos êxito. O método que estamos aplicando funciona,
normalmente, para a maioria, mas não especificamente para os alunos que
apresentam problemas e dificuldades de aprendizagem. Nestes casos esse método
se torna ineficaz.
Um método se torna eficaz quando aplicado de forma correta. Cada faixa
etária exige uma atenção especial. Um método usado para um adulto, por exemplo,
dificilmente servirá para a criança ou o adolescente. Vejamos como usar o
potencial do aluno, de acordo com cada faixa etária.
1. A criança
As atividades propostas às crianças devem ser graduadas conforme o seu
nível mental, de acordo com sua etapa de desenvolvimento. O professor deve
tomar por base o estágio em que se encontra a criança, tendo em vista sempre o
estágio seguinte ao seu desenvolvimento genético. Para Piaget, inteligência é o
mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e como tal, implica a
construção contínua de novas estruturas.
O professor precisa ter cuidado para não subestimar a criança quanto a
suas capacidades. É muito comum esperarmos que elas não sejam capazes de
realizar determinadas tarefas.
Não devemos fazer pela criança aquilo que ela pode fazer sozinha, mas
sempre propor que ela resolva por si mesma. Quando muito, dar uma pequena
ajuda, mas nunca substituir a ação da criança pela nossa.
É imprescindível o envolvimento da criança em atividades que a levem a
uma experiência com a Palavra de Deus. Os conteúdos são fundamentais, mas não existem
sem a atividade. Ensinar falando pressupõe o esquecimento, ao passo que tudo
que se aprende com a ação, pela experiência, fica para sempre.
2. O adolescente
Quando se trata do adolescente, devem ser levados em consideração os
seguintes aspectos: Primeiro: a capacidade intelectual. O professor deve levar
em conta o desenvolvimento mental do adolescente e sua faculdade para
estabelecer relações e para resolver problemas de complexidade cada vez maior.
A mente do adolescente é um poderoso instrumento que, muitas vezes, se
torna para ele uma fonte de alegria, através da excitação da curiosidade, da
sensação da descoberta, da sensação de triunfo decorrente de ter solucionado um
quebra-cabeça de ter resolvido um problema desafiante. O professor precisa
aproveitar esse potencial e levar o seu aluno a adquirir uma visão significativa
de suas experiências subjetivas.
O segundo aspecto importante que não pode ser esquecido pelo professor,
é a capacidade que o adolescente tem, para lidar com abstrações. O adolescente
é capaz de dominar uma proporção maior do saber, relacionado a símbolos e artes
do que às coisas concretas. O professor deve desenvolver métodos e técnicas
adequados para ensinar a Bíblia e os valores cristãos.
3. Jovens e adultos
Cada etapa da vida exige aprendizagens peculiares a fase em que o
indivíduo vive. Isto é perceptível na infância, adolescência e nas diferentes
etapas adultas.
O jovem adulto, além de conquistar sua identidade profissional e
alcançar sua independência pessoal tão sonhada, na infância e adolescência,
atinge também seu desenvolvimento cognitivo máximo e o pleno vigor físico.
O professor ou líder de jovens e adultos não pode esquecer que os
adultos continuam adquirindo novos conhecimentos e estão aptos para aprender. A
diferença entre a educação de adultos e a infantil está na motivação de ambas
as fases. A criança e o adolescente muitas vezes veem a escola secular e/ou a
EBD como uma obrigação, enquanto o adulto está motivado para aprender. O
preparo do professor desta faixa etária é fundamental, para que o aluno se
mantenha sempre motivado.
Para facilitar o processo de aprendizagem adulta, é fundamental
levarmos em consideração as experiências, conhecimentos e habilidades trazidos
pelo aluno. O professor precisa ter um preparo intelectual que corresponda com
o desenvolvimento cognitivo que o aluno possui. A inserção de novos
conhecimentos e habilidades deve estar vinculada à realidade dessas pessoas.
A metodologia de ensino aplicada para jovens e adultos precisa
integrar, quanto mais possível, as atividades de ver, ouvir, pensar, falar e
fazer (atividades perceptivas, motoras e cognitivas). O professor deve usar
estratégias de ensino adequadas aos adultos. Quanto mais estas atividades são
introduzidas, maior e mais estável é a aprendizagem do aluno. Esta dinâmica
pode ser descrita como eminentemente participativa, favorecendo a permanência
do processo de aprendizagem.
4. O idoso
Ensinar pessoas da terceira idade é um grande desafio. Esta fase exige
alguns cuidados especiais. O professor precisa ter consciência de que está
lidando com uma faixa etária de pessoas que têm algumas limitações como:
enfraquecimento da memória, retardo do pensamento, acentuação dos traços de caráter,
tendência à rigidez mental e afetiva, dificuldade de mudar de hábitos,
egocentrismo etc.
A prática educativa envolvendo pessoas da terceira idade deve
considerar, além das limitações descritas, o contexto de vida do idoso e seu desenvolvimento
pessoal e social. A aprendizagem adulta tende a ser influenciada pelas
condições nutricionais infantis e pela fadiga. Por esta razão, há necessidade
de adequar as estratégias de ensino à realidade destes sujeitos.
O ensino na terceira idade é facilitado, quando oferecemos um ambiente
que propicie ao indivíduo segurança pessoal e possibilite a prática de conhecimentos
e habilidades significativas. A estratégia mais adequada à aprendizagem adulta
é a dinâmica participativa, que consiste em integrar atividades perceptivas,
motoras e cognitivas.
CONCLUSÃO
É importante compreendermos como se dá a aprendizagem, para que
saibamos usar elementos da Psicopedagogia nas salas da EBD; de igual modo, é
fundamental entendermos também o porquê do não aprender, mesmo quando o aluno
não apresenta nenhum comprometimento mental que explique tal dificuldade.
Jamiel de Oliveira Lopes é pastor; articulista; comentarista das
revistas juvenis da CPAD; mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Campinas (SP); psicopedagogo;
professor universitário; psicólogo clínico; atuando profissionalmente com
adolescentes; adultos e casais; autor dos livros “Psicologia Pastoral"; “Psicologia
Aplicada a Educação Cristã"; “E Agora o que fazer?”, todos editados pela CPAD.
Extraído da Revista Ensinador Cristão, ano 24,
nº 92, p. 6. Rio de Janeiro: CPAD 2023.