COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Nesta lição
veremos uma das mais belas exposições bíblicas sobre a sabedoria. O capítulo 28
foi propositadamente colocado pelo autor para delimitar o fim dos longos
discursos dos amigos do homem de Uz. O seu propósito é contrastar a sabedoria
meramente humana com a sabedoria revelada, que é de origem divina. Assim, temos
o objetivo de declarar que somente Deus é a fonte da verdadeira sabedoria. Essa
divina sabedoria se manifesta na vida dos homens de forma prática através do
temor do Senhor. – O livro de Jó pertence ao gênero
literário sapiencial, e o seu capítulo 28 é todo dedicado a uma exposição sobre
a verdadeira sabedoria. Alguns autores acreditam que esse capítulo não pertence
aos discursos originais de Jó, e ainda outros acham que ele encontra-se fora de
lugar. Todavia, essa teoria não parece razoável dentro do contexto de Jó. O
mais natural é entender que Jó tenha recebido de Deus iluminação para fazer uma
exposição tão bela e profunda sobre a sabedoria sob diferentes aspectos. É
sobre esse assunto que vamos discorrer no estudo desta maravilhosa lição.
I. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM NATURAL
1. O empenho na busca da
sabedoria. Neste capítulo (28) Jó faz um
contraste entre a busca do homem por minérios naturais e a sabedoria.
Primeiramente, o patriarca descreve a habilidade do homem na exploração dos
minérios naturais (vv.1-11). Então, ele contrasta o trabalho nas minas com a
busca do homem pela sabedoria. Da mesma forma que desde os primórdios o homem
usa diligentemente a tecnologia na busca de metais preciosos, assim também ele
tem empreendido um grande esforço para encontrar a sabedoria. Para ser
encontrado, primeiramente, o minério precisa ser garimpado; a sabedoria
igualmente. O minério existe, mas está enterrado; a sabedoria existe, mas está
oculta.
2. Como quem explora o minério,
assim o homem faz com a sabedoria. No
trabalho de mineração requer-se habilidade, diligência, persistência e muita
técnica na execução; a busca da sabedoria também demanda tais características.
As minas geralmente são locais de difícil acesso e de pouca iluminação, por
isso, há a necessidade de se abrir caminho e colocar luz artificial (vv.3,4).
Assim também ocorre no empreendimento do homem pela busca pela sabedoria, mas
apesar de todo o esforço nessa procura, Jó crê que isso tem sido feito sem
sucesso.
3. De onde vem a
sabedoria? Jó demonstra que o homem tem
sido exitoso no seu trabalho junto às minas, todavia, incapacitado na
“escavação da sabedoria”. Tem procurado, mas não tem encontrado. O homem
descrito por Jó é capaz de desviar o curso das águas, a fim de evitar a
inundação das minas (v.12), mas não é capaz encontrar a sabedoria. A sabedoria
dos sábios e da academia estava disponível para ser alcançada. Todavia, a
sabedoria retratada por Jó não era fruto da tradição nem podia ser obtida pelo
método acadêmico. Embora os metais preciosos pudessem ser encontrados na terra
escavada, a verdadeira sabedoria não podia ser obtida pelo simples esforço
humano. Isso justificava o conflito que havia entre a teoria teológica dos
amigos de Jó e a vivência concreta do patriarca. Portanto, a verdadeira
sabedoria não era propriedade dos sábios, mas uma dádiva de Deus. Tiago nos
lembra de que “se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a
todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada” (1.5). – O tema desse poema
grandioso, uma das grandes obras de arte poéticas do livro, é que a sabedoria é
inalcançável pelo homem. Por “sabedoria” não se entende o tipo de sabedoria prática
inculcada pelo livro de Provérbios, mas a sabedoria como compreensão total e
completa do mundo e de sua ordem. Esse uso do termo “sabedoria” seria muito compreensível
ao autor de Eclesiastes, que ressalta que “ele [o homem] não consegue compreender
inteiramente o que Deus fez” (Ec 3.11; cf. 8.17). Esse poema soaria um pouco
estranho na boca de Jó, pois somente pela força de demorada argumentação de Deus
(caps. 38-41) é que ele é conduzido a esse reconhecimento (cf. 42.3); mais
importante, contudo, do que a pergunta de qual personagem no diálogo vem essa
declaração é o destaque dado ao grande abismo entre a sabedoria humana e a
divina. – O poeta não está interessado em denegrir a sabedoria humana para
engrandecer a sabedoria de Deus. O seu poema começa como um cântico de elogio
da engenhosidade humana (v. 1-11) e só depois prossegue afirmando que mesmo
assim a verdadeira sabedoria escapa à sua com preensão e é conhecida somente
por Deus (v. 12-27); ao homem é dado conhecer não a “sabedoria”, mas a lei de
Deus: para o homem, a sabedoria está no temor do Senhor (v. 28). (a) A
sabedoria do homem (28.1-11). O poeta escolhe som ente um exemplo de sabedoria humana: a
capacidade do homem de fundir o minério extraído da terra (v. 2). Essa é uma
ilustração particularmente adequada da sabedoria humana, pois inclui o tema da busca
por aquilo que é precioso. O hebraico do poema é bastante obscuro, em parte
porque muito pouco se conhece das tecnologias antigas de mineração. Todas as
versões precisam usar um pouco de imaginação para fazer sentido dos detalhes,
mas o retrato geral apresentado pelas versões modernas está claro. Em primeiro
lugar, são registrados quatro metais que o homem extrai na mineração. No v. 3,
parece haver uma referência a lâmpadas usadas debaixo da terra. O v. 4 destaca o
perigo e a solidão em que se trabalha nessa indústria e descreve de forma
pitoresca o minerador na hora de descer no poço da mina: ele se pendura e balança.
Esse
negócio da mineração é um processo paradoxal: na superfície, continuam os
processos pacíficos da agricultura, enquanto abaixo disso talvez tenha de haver
a remoção violenta de obstáculos para se chegar ao metal (v. 5). A
engenhosidade humana criou no subsolo da terra um caminho desconhecido para
aves e animais da terra (v. 7,8). Ao contrário dos animais, o homem é o
dominador da terra (v. 11); ele tem capacidade para atacar as encostas das colinas;
ele “desarraiga as montanhas pela raiz” (v. 9, BJ). Os seus olhos são mais
penetrantes do que os do falcão (v. 10; cf. v. 7), os seus caminhos, mais
secretos e remotos do que os do leão (v. 10; cf. v. 8). (b) Mas onde se poderá
achar a sabedoria? (28.12-28). Evidentemente a “sabedoria” que não pode
ser encontrada pelo exame e pela busca é algo diferente da sabedoria
tecnológica do homem. O poeta não nos conta abertamente o que ele quer dizer,
mas permite que se forme um clímax que mostra de forma crescente a
impossibilidade de se obter essa sabedoria. Não se conhece o seu lugar (v. 12),
tampouco o caminho para ela (v. 13); não pode ser avaliada em termos de ouro ou
prata (v. 15-19). Nem o mundo sabe onde se pode encontrá-la (v. 14). Até mesmo
os poderes sobrenaturais da Destruição (lit. Abadom, i.e., Sheol, o submundo) e da Morte só conhecem um leve rumor dela (v. 22). Mas Deus sabe
tudo a respeito dela (v. 23), pois na verdade foi essa a sua sabedoria que ele
usou para estabelecer a criação (v. 24-27). E inacessível ao homem esse
conhecimento sobrenatural do Universo e o seu propósito e as leis que o regem;
o que foi dado a conhecer ao homem, no entanto, é um outro tipo de sabedoria:
uma sabedoria mais manejável e praticável, uma sabedoria que consiste no fazer:
no temor do Senhor e em evitar o mal (v. 28) está a sabedoria para o
homem. Esse poema pode muito bem subsistir sozinho, mas, deve ser lido como
resposta final e conclusiva de Zofar a Jó, o seu significado está em rejeitar a
reivindicação de Jó ao completo conhecimento dos caminhos do Todo-poderoso
(27.11) e preceituar para Jó não a busca pela sabedoria, mas o esforço de
buscar a retidão como objetivo em si.
SUBSÍDIO DIDÁTICO -PEDAGÓGICO
Comece a aula de hoje
indagando aos alunos sobre o conceito de sabedoria. Ao mesmo tempo que você
ouve as respostas, perceba como é comum muitos confundirem sabedoria com
capacidade intelectual. Após ouvi-los, explique que, embora uma pessoa sábia
possa apresentar uma grande capacidade intelectual, a sabedoria não está
associada diretamente a tal capacidade. Procure deixar isso bem claro para os
alunos. E, como veremos nesta lição, afirme que a sabedoria divina está
intimamente ligada ao “temor do Senhor” na vida do crente.
II. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM COMERCIAL
1. O preço da sabedoria. Podemos ver um paralelo entre a sabedoria exposta por Jó neste capítulo
(vv.12-19) com a descrita no livro de Provérbios. Esse livro, por exemplo,
contém várias exortações para se adquirir a sabedoria. Todavia, há uma
diferença entre o que Jó ensina e o que Salomão ensinou sobre a sabedoria em
Provérbios. Em Salomão, a sabedoria tem um custo e pode ser encontrada, se
buscada com diligência e entendimento. Ela tem seu preço e pode ser passada de
pai para filho (Pv 4.5,7,23). Por outro lado, para Jó a sabedoria está em outro
patamar. Ela tem valor, mas não preço. Como bem destacam estudiosos, a
sabedoria em Jó é incomparável, não se pode comprar ou trocar com todos os
outros tesouros. É patrimônio exclusivo de Deus; não é possessão dos mestres,
por isso, não pode ser transmitida (cf. Tg 1.5). – Aqui, Jó fala de sabedoria e inteligência, de conhecer
e desfrutar de Deus e de nós mesmos. Seu valor é infinitamente superior a todas
as riquezas deste mundo. É uma dádiva do Espírito Santo que não pode ser
comprada com dinheiro. Que seja mais precioso aos nossos olhos o mesmo que o é
aos olhos de Deus. Jó pede como quem deseja encontrá-la, e sente-se como
desesperado pela ideia de pensar em encontrá-la em outra parte que não seja em
Deus, e de forma que não seja pela revelação divina. – Observemos que nos
primeiros capítulos, Jó aparece como um homem feliz e extremamente piedoso,
levando a sério as questões relacionadas à vida religiosa. Todavia num segundo
momento, Jó aparece de forma questionadora, não conformado com os infortúnios,
quando, por exemplo, uma tempestade varre a sua casa e família. O Jó paciente
cede o seu lugar para o Jó inquieto. Uma das belezas do livro de Jó está
exatamente na narrativa dos fatos sem a tentativa de mascarar as agruras pelas
quais o velho patriarca passa. Aqui, Jó discute com Deus e demonstra o seu
ressentimento diante da aparente injustiça que estava sofrendo. – É necessário
fazer um contraste entre Jó e Eclesiastes. Por um lado, Jó levanta a voz contra
toda explicação teológica que é simples demais para explicar as contradições da
vida. Por outro lado, o livro de Eclesiastes faz análise filosófica sobre o
lado sombrio da vida que acontece “debaixo do sol”. Nesse aspecto, o
Eclesiastes (Pregador) é um bom observador e um crítico radical da vida. Uma
palavra-chave que ajuda a entender a mensagem de Eclesiastes está na
compreensão do sentido de hebel, que, comumente traduzida por “fumaça,
vapor”, mantém o sentido de “vaidade”. No Eclesiastes, hebel é usada nos
contextos da riqueza, trabalho, prazer e conhecimento. O Pregador (Eclesiastes)
não pode ser visto como um observador frívolo otimista, pois a sua visão da
vida mostra a realidade nua e crua como se apresenta a existência humana. É
nisso que ele é parecido com Jó.
2. O valor da sabedoria. Sobre o valor da sabedoria vale a pena recordar o que disse certo
pregador londrino: “A sabedoria é o uso correto do conhecimento. Conhecer não é
ser sábio. Muitos homens têm extensos conhecimentos e, justamente por isso, são
os mais tolos. Não há tolo maior do que o tolo instruído. Mas saber como usar o
conhecimento é ter sabedoria”. Assim, em Jó, vemos que o homem ainda não
aprendeu o verdadeiro preço da sabedoria nem onde encontrá-la (Jó 28.13) e que,
por isso, acredita ser fácil adquiri-la. – A exposição de Jó sobre a sabedoria deve ser entendida a
partir do seu contexto imediato. Nos capítulos precedentes, Jó travou um longo
debate com os seus três amigos Elifaz, Bildade e Zofar. Esse ciclo de debates
terminou. O discurso proferido sobre a sabedoria introduz uma pausa no texto
prenunciado o que viria a seguir: outra série de discursos que serão proferidos
por Eliú. Devemos lembrar que os amigos de Jó fizeram uma defesa apaixonada
sobre a sabedoria, ao mesmo tempo em que acusavam Jó de não possuir. Novamente,
Jó porá a sabedoria no centro da discussão. E por que ele fará isso? Porque os
seus amigos alegaram que eram sábios e que com eles estava o entendimento;
todavia, foram incapazes de dar respostas sábias e satisfatórias às questões
levantadas por Jó, que chegou à conclusão de que, sem dúvida, havia uma
sabedoria, mas, com toda certeza, ela não se encontrava com os seus amigos. O
que se vê no capítulo 28 é o argumento do patriarca apresentando a sabedoria
sob três dimensões – natural, comercial e espiritual – demonstrando por que os
homens não a haviam encontrado. – desta forma é visto que a sabedoria visto no
contexto do Antigo Testamento é mais prático do que teórico. Em muitos textos
do Antigo Testamento, é revelado que o Senhor Deus é a fonte dessa sabedoria.
3. A sabedoria não é um bem
comercial. O patriarca não nega que a
sabedoria exista ou que ela pode ser encontrada, mas o que ele diz é que a
sabedoria não é um bem comercial. Ela não pode ser encontrada em toda parte,
nem mesmo nas mais poderosas forças da natureza primitiva – o abismo (hb.
tehon) e o mar (hb. yam). A sabedoria é de valor inestimável e só quem pode
concedê-la é Deus. – Tendo gastado todo o seu esforço e usado todas as técnicas
disponíveis, mesmo assim o homem demonstrou-se incapaz de encontrar a
sabedoria. Ele valeu-se de meios naturais nessa busca. A sabedoria a qual se
refere Jó demonstra ser bem diferente daquela conhecida pelos seus amigos, que
diziam que a sabedoria era um bem herdado que passava de pai para filho. Era,
portanto, um bem que poderia ser encontrado. Por outro lado, Jó mostra que a
sabedoria da qual está falando é de natureza diferente, não podendo ser herdada
ou passada de pai para filho. Não é, portanto, um bem simplesmente cultural.
Mas onde se pode encontrá-la? É exatamente isso que ele mostrará: “Mas onde se
achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência” (28.12). Como ficou
demonstrado, no entendimento de Jó, a sabedoria não é um bem meramente cultural
que poder ser encontrado por meios naturais. Haveria meios ou caminhos para ela
ser adquirida? “O homem não lhe conhece o caminho; nem se acha ela na terra dos
viventes” (28.13). Ela não pode ser encontrada na “terra dos viventes”, não
está no mar e nem tampouco no “abismo”. Da perspectiva natural, não há nada que
possa comprá-la: “Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso
ônix, nem pela safira” (28.16). Onde, pois, está a sabedoria?
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“A Excelência da
Sabedoria – vv.14-19. Tendo falado sobre a riqueza do mundo, que os homens
valorizam tanto, e que se esforçam tanto por obter, Jó aqui fala de outra joia
mais valiosa, que é a sabedoria e o entendimento, conhecer e ter prazer, em
Deus e em nós mesmos. Os que descobriam todos os caminhos e meios para
enriquecer se julgam muito sábios; mas Jó não considera que tenham sabedoria.
Ele supõe que eles conseguiram o seu objetivo, e trouxeram à luz aquilo que
buscavam (v.11), mas pergunta: ‘Mas onde se achará a sabedoria?’ pois ela não
está aqui. Este seu caminho é a sua loucura. Devemos, portanto, buscá-la em
outro lugar; e ela não será encontrada em outra parte, senão nos princípios e
nas práticas da religião. Há mais conhecimento verdadeiro, satisfação e
felicidade na divindade genuína, que nos mostra o caminho para as alegrias do
céu, do que na filosofia natural ou na matemática, e que podem nos ajudar a
encontrar o caminho para as entranhas da terra” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento:
Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.136).
III. A SABEDORIA VISTA COMO UM
BEM ESPIRITUAL
1. Uma verdade revelada. No versículo 20, Jó faz a importante pergunta: “De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?”. Anteriormente, Jó fez um contraste entre o trabalho de um minerador e o de quem procura a sabedoria. Nele, os homens, semelhante a um mineiro, têm garimpado à procura da sabedoria, mas, mesmo assim, não têm achado. Toda diligência, técnica e determinação não têm sido suficientes para que ele a encontre. A sabedoria não está no centro da terra, nem com os sábios, de forma que possa ser passada pela simples via da tradição. Ela está oculta. Todos os esforços humanos revelam-se inúteis na sua aquisição. A sabedoria está em Deus e somente Ele pode outorgá-la. Deus é a fonte da sabedoria e somente Ele pode revelá-la.
2. Uma verdade prática. A sabedoria vem de Deus. Ela está em Deus e é Ele quem a revela. A
sabedoria divina não é uma verdade a ser apenas contemplada, mas a ser vivida.
Ela é prática. Jó diz que a sabedoria está no “temor do Senhor” (Jó 28.28). O
temor do Senhor aproxima o homem de Deus e o afasta do mal. A sabedoria,
portanto, é relacional. Esse foi um testemunho que o próprio Deus já havia dado
sobre Jó. Ao contrário de seus amigos, ele vivia a sabedoria divina. Não apenas
a sabedoria contemplativa, tradicional, transmitida pela tradição. A sua
sabedoria era uma verdade revelada, por isso, convertia-se em ação prática e
relacionamento duradouro. – A pergunta do versículo 12 é repetida no 20. Jó está
caminhando para a conclusão do seu argumento. Jó está caminhando para a conclusão do seu
argumento. Como ele mostra no primeiro ciclo de seu argumento (28.1-11), não é
possível obter a sabedoria simplesmente a sabedoria pelo esforço humano, mesmo
que os homens sejam dirigentes e aguerridos nesse projeto. Ela também não tem
preço. Não é um bem comercial e, por isso, não pode ser comprada. Não tem
preço, mas possui valor. Ela é um bem imaterial, na verdade espiritual. Não
pode ser adquirida por meio da tradição, mas por revelação. Não é um produto
humano, mas divino. "Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a
sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência" – Existe uma sabedoria dobrada; uma oculta em Deus, que
é secreta e não nos pertence; e outra que é dada a conhecer por Ele, a qual é
revelada ao homem. Os sucessos de um dia, e os assuntos de um homem, estão
relacionados entre si, e dependem um do outro, de modo que somente Ele, diante
de quem tudo está patente e vê o todo de uma só vez, pode julgar retamente cada
parte. Porém, o conhecimento da vontade revelada de Deus está ao nosso alcance,
e nos faz bem. – Que o homem considere isto como sabedoria sua: Temer ao Senhor
e afastar-se do mal. Que aprenda isto e terá aprendido bastante. Onde encontrar
esta sabedoria? seus tesouros estão escondidos em Cristo, revelados pela
Palavra, recebidos por fé através do Espírito santo. Não alimenta o orgulho,
nem as atitudes e pensamentos vãos, nem entreterá a nossa vã curiosidade. Ensina
aos pecadores, para que temam ao Senhor e se afastem do mal, no exercício do
arrependimento e da fé, sem desejar a solução de todas as dificuldades acerca
das situações da vida.
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Não podemos alcançar a verdadeira sabedoria, senão pela
revelação divina. ‘O Senhor dá a sabedoria’ (Pv 2.6). Entretanto, ela não é
encontrada nos segredos da natureza ou da providência, mas nas regras para o
nosso próprio proceder. Ao homem, Ele não disse, ‘Suba ao céu, para encontrar
ali a felicidade’, nem ‘Desça às profundezas, para encontrá-la ali’. Não, a
‘palavra está mui perto de ti’ (Dt 30.14). Ele te mostrou, ó homem, não o que é
grande, mas o que é bom; não o que o Senhor teu Deus deseja fazer contigo, mas
o que Ele pede de ti (Mq 6.8). ‘A vós, ó homens, clamo’ (Pv 8.4). Senhor, o que
é o homem, para que seja assim visitado! Veja, perceba isto, aquele que tem
ouvidos, que ouça o que o Deus do céu diz aos filhos dos homens: O temor do
Senhor, isto é a sabedoria. Aqui temos: 1. A descrição da verdadeira religião,
a religião pura e imaculada; é temer o Senhor e afastar-se do mal, o que está
de acordo com a descrição que Deus faz de Jó (1.1). O temor do Senhor é a fonte
e o resumo de toda a religião” (HENRY,
Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.138).
CONCLUSÃO
Vimos que mesmo
com empenho na busca da sabedoria, os resultados não são satisfatórios. A
sabedoria não é alcançada. A sabedoria é um bem valioso e caro; ela não tem
apenas preço, mas, sobretudo, valor. Ela não pode ser comprada ou
comercializada, nem mesmo pode ser herdada. Ela é uma verdade revelada. Somente
Deus é a fonte legitima da sabedoria. Ela se materializa no temor do Senhor.
Quem teme ao Senhor é um sábio. – Jó
sustenta que as dispensações da providência são reguladas pela sabedoria
suprema. Para confirmar isto, demonstra a grande quantidade de conhecimento e
riqueza de que os homens podem se assenhorear. As cavernas da terra podem ser
descobertas, mas não os conselhos do céu. Os que são preguiçosos quanto à
religião devem observar os trabalhadores das minas, considerar os seus caminhos
e serem sábios. Que a coragem e a diligência deles – em buscar riquezas que
perecem – nos envergonhe por nossa preguiça e fraqueza de coração para labutar
pelas autênticas riquezas. Quão melhor é adquirir a sabedoria que o ouro! Quão
mais fácil e seguro! Porém, busca-se o ouro e despreza-se a graça. A esperança
de coisas preciosas da terra, como as chamam os homens, ainda que sem valor e
perecíveis, são um grande incentivo para o trabalho; e não será muito maior a
perspectiva certa de coisas verdadeiramente preciosas no céu?
REFERÊNCIAS
BRUCE, F. F. Comentário
Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento - Jó. p. 750, São Paulo: Vida, 2009.
GONÇALVES, José. A
fragilidade humana e a soberania divina: o sofrimento e a restauração de
Jó. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
HENRY, Matthew. Comentário
Bíblico Antigo Testamento: Jó p. 43.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
LIÇÕES BÍBLICAS.
4º Trimestre 2020 - Lição 9. Rio de Janeiro: CPAD, 29, nov. 2020.